(IN) EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DA COTONICULTURA NA REGIÃO DE CAMPO NOVO DO PARECIS

July 27, 2017 | Autor: Alexandre Faria | Categoria: Cotton Industry, Cotton, Mato Grosso, Energy and Material Flow Analysis, Energetic Efficiency
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anos 1976 - 2014

13 ISSN: 2176-5804 - Vol. 13 - N. 1 - Dez/2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR www.ufmt.br/ndihr/revista

(IN) EFICIÊNCIA ENERGÉTICA DA COTONICULTURA NA REGIÃO DE CAMPO NOVO DO PARECIS Álex Luna Prates Economista (UFMT) Mestrando em Agronegócios e Desenvolvimento Regional (UFMT) [email protected] Alexandre Magno de Melo Faria Economista (UFMT), Doutor em Desenvolvimento Socioambiental (NAEA/UFPA) Professor Adjunto IV da Faculdade de Economia da UFMT [email protected]

RESUMO

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anos 1976 - 2014

O nosso papel principal é Preservar a Memória Histórica Regional

13 ISSN: 2176-5804 - Vol. 13 - N. 1 - Dez/2014 UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO NÚCLEO DE DOCUMENTAÇÃO E INFORMAÇÃO HISTÓRICA REGIONAL - NDIHR www.ufmt.br/ndihr/revista

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O objetivo do artigo foi realizar a estimativa da eficiência energética da cotonicultura na região de Campo Novo do Parecis no período 2007-2011. O trabalho compreende os municípios mato-grossenses de Campo Novo do Parecis, Sapezal, Campos de Júlio, Brasnorte, São José do Rio Claro, Diamantino e Tangará da Serra. O referencial teórico utilizado se sustenta nas abordagens de Georgescu-Roegen e seus desdobramentos na linha da economia ecológica, argumentando que o processo econômico atrelado à revolução industrial é um grande gerador de entropia. A metodologia do trabalho se fundamentou nos fluxos de entrada e saída de energia, buscando estimar o balanço energético. A inserção de práticas de uso intensivo do solo, irrigação, monocultura, mutação genética de sementes e agroquímicos (fertilizantes e agrotóxicos), foram feitas sem observância de possíveis consequências. Os inputs e outputs são respectivamente, as entradas de energia responsáveis pelos insumos utilizados na análise, e o algodão colhido na forma de capulho. Com a divisão dos outputs pelos inputs obtêm-se o índice de eficiência energética. Em média nos quatro períodos analisados o índice de eficiência foi de 1,21. Os fatores observados indicam a dimensão de participação de cada insumo do sistema. O maior fornecedor de energia nesse sistema fica a cargo dos fertilizantes (54,5%) seguido pelos agrotóxicos (36,3%), juntos formando em torno de 90% de todos os inputs observados. Outros itens compõem os inputs, sendo os mais representativos o óleo diesel (5,3%), as sementes (2,3%), o maquinário (1%) e a mão de obra (0,4%). Pode-se observar o nível de entropia se elevando no agroecossistema cotonícola devido à tendência decrescente do índice de eficiência energética obtido. O sistema se mostra altamente dependente de energia oriunda de fonte industrial exógena e tendência de não se sustentar no médiolongo prazo. Palavras-chave: cotonicultura, Campo Novo do Parecis, eficiência energética.

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ABSTRACT The objective was to achieve the estimated energetic efficiency of cotton crop in Campo Novo do Parecis region at 20072011. The work comprises data from the municipalities of Campo Novo do Parecis, Sapezal, Campos de Júlio Campos, Brasnorte, São José do Rio Claro, Diamantino and Tangara da Serra. The theoretical framework is based on the approaches of GeorgescuRoegen and its implications on the line of ecological economics, arguing that the economic process linked to the industrial revolution is a major generator of entropy. The methodology was based on the flows of energy, trying to estimate the energy balance. Entering practices intensive use of land, irrigation, monoculture, genetic mutation of seeds and agrochemicals (fertilizers and pesticides), were made without regard for possible consequences for environment. The inputs and outputs are respectively the energy inputs responsible for inputs used in the analysis, and the harvested cotton. By dividing outputs by the inputs we obtain the energy efficiency index. On average in the four periods analyzed the efficiency ratio was 1.21. The factors observed indicate the extent of participation of each input system. The largest supplier of energy in the system is the responsibility of fertilizers (54.5%) followed by pesticides (36.3%), together forming about 90% of all observed inputs. Other items composing the inputs being the most representative diesel oil (5.3%), seeds (2.3%), machinery (1%) and labor (0.4%). It can be observed the rising level of entropy in cotton crop due to a downward trend in energy efficiency index obtained. The system shows highly dependent on energy from exogenous industrial sources and tendency not sustain itself in the medium to long term. Keywords: cotton crop, Campo Novo do Parecis, energetic efficiency.

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INTRODUÇÃO O consumo energético em sistemas de produção agrícola tem sido estudado como uma forma de identificar padrões de sustentabilidade (ALBUQUERQUE et. al., 2007; BELTRÃO et. al., 1993; CARVALHO et.al., 2012; GAZZONI, FELICI e CORONATO, 2006; PIMENTEL et.al., 1973; PIMENTEL e PATZEK, 2005; RAO et.al., 1992; ROMERO, BUENO e ESPERANCINI, 2011; URQUIAGA, ALVES e BODDEY, 2004). Em geral, os sistemas produtivos muito intensivos apresentam altos inputs de energia conjugados com alta produtividade física e balanço energético negativo, enquanto que os sistemas de produção de subsistência ou menos intensivos tendem a ser mais positivos, com maior saída (output) do que entrada de energia (BOWMAN, 1980; HEITSCHMIDT, SHORT e GRINGS, 1996). O balanço energético tem como objetivo identificar os fluxos de energia, registrando a entrada total, saída total e eficiência energética. Quantificam-se os insumos inseridos no processo produtivo que são transformados em unidades de energia. A estimativa dos balanços energéticos é uma importante ferramenta no monitoramento da agricultura, principalmente as fontes exauríveis de energia (BUENO, CAMPOS e CAMPOS, 2000; CAMPOS e CAMPOS, 2004), buscando perceber a capacidade de reprodução do sistema no longo prazo. A avaliação da energia gerada nos processos agrícolas, independentemente se a produção seria utilizada para alimentação humana ou insumo industrial, permite verificar se o setor agrícola precisa de ajustamentos (CASTANHO FILHO e CHABARIBERY, 1983). A importância da análise do balanço energético é fornecer parâmetros necessários para mensurar, interpretar e subsidiar a tomada de decisões (COMITRE, 1993). Em uma investigação seminal na produção de milho nos Estados Unidos, avaliando a relação (kcal produzida)/(kcal consumida), Pimentel et.al. (1973) verificaram um saldo de 3,7 na safra de 1945 contra 2,8 na safra de 1970. Embora a produtividade física da milhocultura tenha se expandido em aproximadamente 2,4 vezes,

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entre as safras de 1945 e 1970, a média dos insumos energéticos utilizados elevou-se de 0,9 para 2,9 milhões de kcal por hectare (3,1 vezes). A região de Campo Novo do Parecis se tornou estratégica no cenário mato-grossense pela força da agricultura presente naquele espaço. O predomínio de cultivos de soja, milho, algodão, arroz, cana-de-açúcar e pecuária, compõem a força motriz do cenário produtivo de Mato Grosso, bem como em Campo Novo do Parecis e região. A estrutura produtiva do estado é marcada pela existência de formas tradicionais e modernas de produção, prosperando a industrialização da agricultura1. Devido ao reordenamento do espaço agrícola, se encontram disseminadas no estado tanto a expansão das monoculturas, as quais são produzidas por grupos empresariais, quanto pequena produção familiar (DASSOW, 2010; MORENO, 2005). A procura de soluções tecnológicas para a agricultura por produtores em busca de maior produtividade/lucratividade exclui etapas de análises de impactos ambientais que possam vir a ocorrer em detrimento às práticas adotadas no campo. A análise do balanço energético da cotonicultura na região de Campo Novo do Parecis pode identificar os pontos da estrutura a serem discutidos. Desta forma, o objetivo geral do trabalho é estimar a eficiência energética da cotonicultura da região de Campo Novo do Parecis. O trabalho contém três objetivos específicos, sendo o primeiro a caracterização da região em análise, dentro do cenário agrícola de Mato Grosso voltado para o cultivo do algodão. O segundo objetivo específico é realizar a estimativa do fluxo energético do sistema utilizado para o cultivo, outputs/inputs (saídas e entradas) e por fim, o terceiro é analisar os resultados encontrados, e comparar com outros resultados disponíveis na literatura.

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assim uma remodelagem do sistema tradicional de cultivo da terra (PEREIRA, 2007). A inserção de práticas de uso intensivo do solo, irrigação, monocultura, mutação genética de sementes e agroquímicos, foram feitas sem observância de possíveis consequências ao meio ambiente. Com a “revolução verde” se obteve um grande avanço na produtividade do campo, tornando o Brasil um grande ator no cenário agrícola mundial (FARIA 2003; FARIA 2012). Na década de 1990 a cotonicultura inicia um processo de transformação estrutural, passando de uma escala baseada no minifúndio familiar para grandes propriedades rurais, processo facilitado pela crescente mecanização da produção. O apoio ao desenvolvimento do modelo era realizado por bancos e subsídios governamentais, dando impulsão à modernização da agricultura e trazendo consigo variadas mudanças no setor, dando destaque ao uso do agrotóxico e do fertilizante, com considerável aumento de sua utilização. Em Mato Grosso, a soja havia se estabelecido como cultura principal, mas buscava-se uma opção de rotação de cultura. A empresa Itamarati Norte, sediada em Campo Novo do Parecis, na figura de seu maior acionista Olacyr de Moraes, optou pelo cultivo do algodão por acreditar que a cultivar tinha grande potencial de acumulação de capital. Firmou-se em 1990 uma parceria da Itamarati Norte e a Embrapa, buscando selecionar cultivares de algodão adaptáveis às condições edafoclimáticas locais e à mecanização (FARIA 2012). A partir da segunda metade da década de 1990, houve uma forte reestruturação e a entrada de “empresários rurais” (capitalistas agrários) alterou o espaço produtivo deste ramo. Os pequenos e médios produtores da região tradicional (São Paulo, Paraná e alguns estados do Nordeste) abandonaram o setor e houve uma forte expansão da área de produção cotonícola por grandes e mega produtores, notadamente em regiões onde o relevo permitisse a disseminação do sistema de produção mecanizado em todas as fases do cultivo (FARIA 2012, p.21-22).

ALGODÃO DE CAMPO NOVO DO PARECIS E REGIÃO Em meados da década de 1960, chega ao Brasil um modelo de produção agrícola denominado “moderno” para atender os novos patamares de consumo que surgiam, forçando

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No cerrado mato-grossense, foi implantada a fase moderna do algodão com o desenvolvimento da primeira semente adaptada às condições regionais, a cultivar CNPA-ITA 90, através de pesquisas e experimentos. A produtividade apresentou-se satisfatória em relação aos elevados custos iniciais (ABRAPA, 2011; FARIA, 2012). Portanto, desde meados da década de 1990, em Campo Novo do Parecis e região o plantio de algodão é realizado totalmente de forma mecanizada adotando a forma semidireta. A estrutura do terreno é propícia à mecanização total do processo, desde o preparo do solo até a destruição de soqueiras. Esperava-se que a nova cultivar resolvesse o problema da produtividade da terra, elevando a produção de pluma por hectare a níveis compatíveis com a produtividade vigente nos principais espaços produtores. Substituindo trabalhadores por máquinas, a produtividade do trabalho poderia alcançar patamares compatíveis com a redução do valor por unidade de mercadoria produzida, garantindo capacidade de competir na esfera de circulação (FARIA, 2012, p.105).

plantios numa mesma área, gerando num médio/longo prazo perda de resistência do solo e da planta, diminuição da produtividade, tornando o custo de manutenção da lavoura mais oneroso. A necessidade da destruição das soqueiras do algodoeiro de forma mecanizada faz com que seja dificultado o plantio de forma direta, devido uma maior compactação do solo, dificultando assim a capacidade de absorção de água, abrindo o processo de erosão do solo (FACUAL, 2006). Quanto maior a perda de solo, maior a necessidade de recomposição de nutrientes com aplicação de fertilizantes, elevando os custos e a energia de entrada no sistema. A Tabela 1 mostra a proporção entre as três culturas que ocupam a maior parte da área de lavoura de Mato Grosso. Observa-se o domínio da área utilizada para o plantio de soja com participação em média de 72% da área relacionada entre 2007 e 2011, contra média de 22% da área utilizada com plantação de milho e apenas 6% da área ocupada com algodão no mesmo período. No plantio de segunda safra, o milho e o algodão são concorrentes como opção de rotação com a soja. No período, somente a sojicultura apresentou ganhos expressivos em áreas de plantio, em aproximadamente um milhão de hectares entre 2007/2008 e 2010/2011.

Tabela 1. Comparativo de áreas plantadas (ha) e participação (%) das três principais culturas no estado de Mato Grosso entre 2007 e 2011.

A participação da região no cenário cotonícola matogrossense ressalta a importância dos cuidados referentes às pragas que são recorrentes a cultura na região. A rotação de lavouras é uma das prática adotadas principalmente pela cultura da soja, de forma que são aproveitados nutrientes residuais do cultivo do algodão na área e redução de problemas fitossanitários. Ainda assim, algumas pragas que migram de uma cultura para outra, podem passar por um processo de mutação e se tornarem resistentes a alguns tipos de agrotóxicos em uso (FACUAL, 2006). Quanto mais esse processo se aprofunda, maior utilização de agroquímicos é necessária, elevando os custos e o aporte de energia ao sistema. Como o cultivo do algodão por grandes empresário agrícolas em Mato Grosso ainda é considerado recente, a rentabilidade tem estimulado os agentes econômicos a fazer sucessivos

Algodão

Milho

Soja

Total

Safra (ha)

%

(ha)

%

(ha)

%

(ha)

2007/08

541.800

6,7

1.834.600

22,8

5.675.000

70,5

8.051.400

2008/09

387.400

4,9

1.640.600

20,9

5.828.200

74,2

7.856.200

2009/10

428.100

5,0

1.990.100

23,0

6.224.500

72,0

8.642.700

2010/11

723.500

8,0

1.898.400

21,0

6.398.800

70,9

9.020.700

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de dados da CONAB (2012) e AMPA (2012).

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A área de cotonicultura na região de Campo Novo do Parecis representou cerca de 32% da área total plantada de algodão em Mato Grosso no período entre 2007 e 2011, conforme Tabela 2. A importância da região no cultivo do algodão em Mato Grosso influencia o mercado nacional, já que o estado representa cerca de 50% da produção de algodão em todo o país. Desta forma, a área de produção de algodão da região de Campo Novo representa 16% da cotonicultura brasileira. A área plantada de algodão em Mato Grosso ocupou em média 520.217 hectares no período, cerca de 1% da área total do estado, de 90.345.457 hectares e aproximadamente 5% da área total utilizadas para lavoura em Mato Grosso, de 10.514.269 hectares (CONAB, 2012). Percebe-se que mesmo ocupando uma área relativamente reduzida de Mato Grosso, a manutenção de longo prazo desta cultura agrícola tem impactos econômicos relevantes ao nível local e nacional, visto a importância da produção de algodão naquele espaço. Tabela 2. Área de algodão de Campo Novo dos Parecis e região e Mato Grosso: 2007 a 2011. Campo Novo do Parecis e região

Mato Grosso

Participação da região no estado

(ha)

(ha)

(%)

2007/08

171.323,10

541.800,40

31,62

2008/09

123.091,99

387.470,22

31,77

2009/10

141.696,68

428.100,23

33,10

2010/11

226.764,48

723.500,34

31,34

Safra

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de CONAB (2012) e AMPA (2012).

EFICIÊNCIA ENERGÉTICA Os conceitos de energia inseridos na economia foram feitos por Nicholas Georgescu-Roegen, considerado precursor da

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economia ecológica. A publicação de 1971 “The Entropy Law and the Economic Process” ligava a teoria econômica diretamente com a termodinâmica através da lei da entropia (segunda lei da termodinâmica). A abordagem que é realizada traz a ecologia para dentro do sistema econômico (CECHIN e VEIGA, 2010). A energia que é utilizada para a produção dentro da economia é parte de um sistema fechado de energia presente no meio ambiente, energia esta que é organizada em diferentes níveis, de acordo com a sua utilização (GEORGESCU-ROEGEN, 2012). O papel da industrialização está em organizar esses níveis de energia, com a finalidade se obter um produto resultante da combinação de diversos insumos. A produção gera resíduos, estes resíduos constituem a perda de energia gerada pela cadeia (ou entropia), e para que haja nova produção nos mesmos patamares anteriores, é preciso a reparação da quantidade de energia presente na cadeia. A energia pode ser parcialmente reciclada pelo próprio sistema que gerou a entropia ou pode importar energia organizada de outros sistemas (CECHIN e VEIGA, 2010). A questão é que a Terra é um sistema fechado e o quantum de energia disponível é limitado, indicando que se há um balanço negativo em um sistema ele deve ser compensando com um balanço positivo de outro. No limite, se os balanços negativos se acumulam, não haveria sistema com balanço positivo para equilibrar toda a Biosfera. Desta forma, deve-se buscar minimizar a formação de entropia e de potencializar sistemas produtivos com balanço positivo. Esses aspectos não eram considerados na abordagem convencional do processo produtivo. A economia era considerada sem a adição de efeitos causados pela ecologia e a deficiência gerada seria reparada pelo desenvolvimento tecnológico. Esse cenário segundo Cechin e Veiga (2010), traz consequências previsíveis, pois no momento em que se fizer necessário aumentar a produção, aumenta-se o capital, mas não se tem um número maior de fatores básicos de produção (elementos naturais), forma-se então uma barreira ao desenvolvimento, pois ignora os limites dos fatores naturais, em especial os energéticos.

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A abordagem convencional da teoria econômica traz como substituível o recurso natural por semelhante manufaturado, tornando o bem ilimitado para uso. Para Georgescu-Roegen (2012), o único fator limitante do processo econômico é a natureza, considerando que o planeta Terra é um sistema fechado, e os recursos que são retirados do meio ambiente e transformados não podem ser reciclados totalmente, ou seja, parte da energia desprendida é dispersa de forma irreversível no meio ambiente. No ponto de escassez de tais recursos necessários para o sistema de produção, a economia passará por um processo necessariamente declinante por não se obter tais recursos necessários à manutenção dos patamares de produção. Antes de alcançar este ponto, poder-se-ia identificar os sistemas que precisam de ajustes e alterar o seu funcionamento considerando os limites biofísicos do planeta.

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o entendimento da composição e inserção dos adjuvantes na mistura da calda de herbicidas, inseticidas e fungicidas. Para a obtenção dos outputs de energia do cultivo, foi considerado o índice calórico do algodão colhido (composição do capulho do algodão com 36% de pluma, 58% caroço e 6% resíduos) de 2.436 kcal/Tonelada (CASTANHO FILHO e CHABARIBERY, 1983), desconsiderando a palhada, talos e folhas por não serem comercializáveis. Para o cálculo da eficiência energética foi utilizada a seguinte fórmula:

METODOLOGIA Os dados de aplicação de insumos da cotonicultura da região de Campo Novo do Parecis foram fornecidos pela CONAB (2012) e AMPA (2012). Os dados de produção de algodão por município foram coletados no IBGE (2012). Os trabalhos de Rao et.al. (1992), Beltrão et.al. (1993), Romero, Bueno e Esperancini (2011), Albuquerque et. al. (2007a), Albuquerque et. al. (2007b) e Carvalho et.al. (2012) foram utilizados em comparação com os resultados do presente trabalho. Para obtenção dos inputs de energia foram considerados os índices calóricos constantes em Albuquerque et.al. (2007) das sementes de algodão, fertilizantes, inseticidas, herbicidas, fungicidas, mão de obra humana, consumo de diesel, dispêndio das máquinas movidas a motor (potência dividida em 100cv, 150cv, 160cv, 180cv e 225cv), abrangendo a totalidade das entradas de energia no sistema de cultivo. Em 20 de fevereiro de 2013 foi realizada uma entrevista com o Engenheiro Agrônomo Emílio Araújo Pereira, Técnico do IMA/MT (Instituto Mato-grossense de Algodão, braço técnico da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão). As informações do agrônomo nortearam

Os inputs (IN) são as entradas de energia responsáveis pelos insumos utilizados na análise e os outputs (OUT) representam o algodão produzido, entre as safras de 2007/2008 e 2010/2011. A metodologia de análise da eficiência energética baseou-se nos trabalhos de Rao et.al. (1992), Schroll (1994), Romero, Bueno e Esperancini (2011), Facual (2006), Albuquerque et. al. (2007a), Albuquerque et. al. (2007b), Odum e Barrett (2008), Cechin e Veiga (2010) e Abrapa (2011). Os dados para a elaboração do balanço energético advêm de fontes secundárias, com o incremento de entrevista realizada com a finalidade de refinar o método de tratamento dos dados obtidos para a análise. O coeficiente energético é uma importante ferramenta utilizada por vários pesquisadores como instrumento para estudos dos modelos que são adotados para a produção agrícola. A unidade de medida utilizada no trabalho foi quilocaloria (kcal) para se normalizar a mesma base de medida. Foi realizado somatório dos

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valores energéticos de cada insumo utilizado no cultivo do algodão, que formam o coeficiente de entrada de energia no sistema. A distinção de cada insumo proporcionou que se observasse a participação de cada item e a possibilidade de destacar os fatores que causam maior impacto no contexto da cotonicultura. O índice energético considerado como patamar de sustentabilidade da produção agrícola é dado por Schroll (1994). Schroll afirma que para cada unidade energética (kcal) que é inserida no sistema, é necessário que saiam duas unidades energéticas (kcal) para que o sistema produtivo seja considerado sustentável. A abordagem de Schroll indica uma relação de (EE) de no mínimo 2,00 para ser considerado um sistema sustentável do ponto de vista energético.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados da Tabela 3 demonstram o quantum de energia inserida no sistema cotonícola a partir da estrutura de aplicação de insumos. Foram necessários 7,5 milhões de kcal de energia por hectare para se produzir algodão dentro do paradigma tecnológico implantado na região. Como comparativo, Rao et.al. (1992) estimaram a necessidade de 10,4 milhões de kcal/hectare na cotonicultura de Hisar, no estado indiano de Haryana. Na cotonicultura de Nioaque/MS foram necessários 4,9 milhões de kcal/hectare e em Itaquiraí/MS foram 5,5 milhões de kcal/hectare, conforme Albuquerque et.al. (2007a). Albuquerque et.al. (2007b) identificaram a necessidade de 13,4 milhões de kcal/hectare na cotonicultura de Naviraí/MS e de 19,0 milhões de kcal/hectare em Maracaju/MS. Romero, Bueno e Esperancini (2011) encontraram aporte de 12,3 milhões de kcal/hectare na cotonicultura de Leme/SP, além de uma inserção de 1,7 milhão de kcal/hectare na cotonicultura de San Juan, no Paraguai. Percebe-se que a maior inserção de energia na cotonicultura da região de Campo Novo do Parecis encontra-se justamente na aplicação de fertilizantes e de inseticidas. O uso de fertilizantes está atrelado tanto à baixa composição de matéria orgânica no

solo do Cerrado quanto a exaustão do solo pelas sucessivas safras. O uso de inseticidas refere-se à forte homogeneização do ambiente, com perda de complexidade biológica que favorece a proliferação de espécies que predam o algodoeiro. Em ambos os casos, os custos se elevam pela perda da força produtiva da natureza, que tencionam, mais ainda pela inserção crescente de energia exógena para equilibrar as contradições endógenas (FARIA e CAMPOS, 2012) Além disso, percebe-se a reduzida necessidade de energia objetivada em trabalho humano, que apresenta a menor contribuição ao processo produtivo. Destaca-se que a cotonicultura se baseia mais em processos industriais e de fontes exógenas de energia do que em fontes endógenas à região, como o trabalho humano. No limite, a organização interna do processo de trabalho está mais atrelado a agentes econômicos forâneos do que ligações com o tecido social local. Tabela 3. Inputs de energia da cotonicultura na região de Campo Novo do Parecis: 2007 a 2011. Entrada de energia Insumos

Unidade de medida

Quantidade utilizada

Kcal (kcal)

Mão-de-obra

dias/homem

64,8

500

32.400

Sementes

Quilo

42,0

4.200

176.400

Diesel

Litro

53,7

7.571

406.752

hora/máquina

7,7

4.322,7

82.149

Herbicida

Quilo

7,8

83.090

649.764

Inseticida

Quilo

27,9

74.300

2.069.924

Fungicida

Quilo

1,5

22.017

33.972

Fertilizante

Quilo

950,9

4.349

4.135.027

-

7.586.387

Maquinário

Total

-

-

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de CONAB (2012).

Na Tabela 4 estão apresentadas as participações relativas

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de cada insumo na composição energética dos inputs da cotonicultura. As fontes renováveis de origem biológica representam apenas 2,76% do total das entradas de energia. Em destaque, as sementes compõem 2,33% e a força de trabalho humano apenas 0,43% do total. Chega a ser uma contradição que um sistema baseado na natureza utilize apenas 2,76% de suas fontes energéticas baseadas em fontes biológicas renováveis. Em contraste, a cotonicultura depende mais de fontes fósseis, como o óleo diesel. Este ítem de insumo representa 5,36% das entradas de energia. Quanto mais se aprofunda os processos de mecanização, maior tende a ser a demanda deste insumo, que representa doze vezes mais inputs de energia do que a força de trabalho humana. Por fim, foi identificada uma grande dependência de insumos industriais, que representam 91,89% das fontes energéticas. Os fertilizantes representam 54,51%, os inseticidas 27,28% e os herbicidas outros 8,56%. Estes insumos representam o ápice da industrialização da agricultura (PEREIRA, 1995), pois buscam anular a formação de entropia no sistema. Os fertilizantes tentando contrarrestar a exaustão do solo e os inseticidas/herbicidas buscando controlar espécies predadoras ou competitivas. Quanto mais se desorganiza o sistema biofísico circundante, maiores serão os aportes externos de energia e maiores os custos de produção² (FARIA e CAMPOS, 2012).

Tabela 4. Participação dos inputs da cotonicultura na região de Campo Novo do Parecis: 2007-2011. Insumos, Fonte Fonte Biológica Mão-de-obra Sementes Fonte Fóssil Diesel

%

208.800

2,76%

32.400

0,43%

176.400

2,33%

406.752

5,36%

406.752

5,36%

6.970.835

91,89%

82.149

1,08%

Herbicida

649.764

8,56%

Inseticida

2.069.924

27,28%

Fungicida

33.972

0,45%

4.135.027

54,51%

7.586.387

100%

Fonte Industrial Maquinário

Fertilizante Total

Entrada de energia (kcal)

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de CONAB (2012).

Os dados da Tabela 5 demonstram o quantum de energia presente no sistema cotonícola após o processo de trabalho. A produtividade da cultura oscilou nas quatro safras analisadas, partindo de um output de 9,5 milhões de kcal/hectare em 2007/2008, passando por 9,9 milhões de kcal/hectare em 2008/2009, caindo a 8,5 milhões de kcal/hectare em 2009/2010 e chegando em 8,6 milhões de kcal/hectare na safra de 2010/2011. Como comparativo, Rao et.al. (1992) estimaram uma formação energética de 9,3 milhões de kcal/hectare na cotonicultura de Hisar, no estado indiano de Haryana. Na cotonicultura de Nioaque/MS foram gerados 5,4 milhões de kcal/hectare e em Itaquiraí/MS também foram 5,4 milhões de kcal/hectare, conforme Albuquerque et.al. (2007a). Albuquerque et.al. (2007b) identificaram a geração de 8,4 milhões de kcal/hectare na produção cotonícola de Naviraí/MS e de 8,0

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milhões de kcal/hectare em Maracaju/MS. Romero, Bueno e Esperancini (2011) encontraram formação de 8,8 milhões de kcal/hectare na cotonicultura de Leme/SP, além de 5,2 milhões de kcal/hectare na cotonicultura de San Juan, no Paraguai.

Tabela 6. Eficiência energética do sistema de cultivo em Campo Novo do Parecis: 2007 a 2011.

Tabela 5. Produção de algodão e outputs de energia em Campo Novo do Parecis. Safra

Produtividade (quilos)/hectare

Algodão (kcal)/quilo

Saída de energia (kcal)

2007/08

3.930

2.436

9.573.480

2008/09

4.065

2.436

9.902.340

2009/10

3.495

2.436

8.513.820

2010/11

3.540

2.436

8.623.440

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de CONAB (2012).

Com base na Tabela 6, observa-se o balanço energético da cotonicultura na região de Campo Novo do Parecis entre as safras de 2007/2008 e 2010/2011, com média de 1,21 no período³. O maior saldo ocorreu na safra 2008/2009, com uma eficiência energética positiva de 1,31, contra uma eficiência de 1,26 na safra 2007/2008. Percebe-se uma redução no balanço positivo nas safras seguintes, que reduziram a 1,12 em 2009/2010 e de 1,14 na safra de 2010/2011. Apesar de apresentar balanço decrescente em relação a 2008/2009 nas duas safras seguintes, não se pode afirmar estatisticamente em uma tendência de queda da eficiência energética. O que se pode afirmar é que os resultados estão abaixo do índice considerado sustentável (2,0 kcal de saída/entrada) por Schroll (1994). Com os inputs constantes nas quatro safras, o fator que está contribuindo com a redução do balanço energético é a contenção nas saídas de energia, em função da produtividade decrescente (conforme Tabela 5).

Safra

Inputs

Outputs

Eficiência energética (Kcal)

2007/08

7.586.387,18

9.573.480,00

1,26

2008/09

7.586.387,18

9.902.340,00

1,31

2009/10

7.586.387,18

8.513.820,00

1,12

2010/11

7.586.387,18

8.623.440,00

1,14

Fonte: Elaborada pelos autores a partir de CONAB (2012).

A eficiência média da cotonicultura obtida nos quatro períodos analisados em Campo Novo do Parecis se assemelha com os resultados de Rao et.al. (1992), que analisaram a eficiência da produção de algodão em Hisar, no estado indiano de Haryana, com resultados de 0,89 de eficiência energética, descontando a formação de palhada. A irrigação consumiu cerca de 30% da energia de entrada, sendo que a mão de obra inseriu apenas 6% da energia no sistema produtivo indiano. Beltrão et.al. (1993) constataram que a cotonicultura arbórea no Nordeste, com base em empreendimentos familiares, alcançou balanço energético positivo de 10,96. Tanto no algodoeiro arbóreo tradicional quanto no precoce, a eficiência energética é menor no primeiro ano do ciclo, com valores de 5,02 e 5,13 respectivamente. No algodoeiro arbóreo precoce a eficiência energética máxima ocorre no segundo e terceiro anos do ciclo, com média de 14,74. No algodoeiro arbóreo tradicional, de ciclo médio-longo, o balanço energético atingia 20,0 no quinto ano do ciclo, um dos maiores valores registrados na agricultura mundial à época. Percebe-se que o sistema cotonícola mato-grossense está em um patamar bastante baixo em relação à cotonicultura nordestina familiar da década de 1990. Albuquerque et.al. (2007a) estimaram a eficiência energética da cotonicultura em sistema familiar nos municípios de Nioaque e

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Itaquiraí, em Mato Grosso do Sul. Em Nioaque a eficiência foi de 1,10 e em Itaquiraí de 0,99, sendo a inserção de fertilizantes o principal insumo energético verificado. Albuquerque et. al. (2007b) avaliaram a eficiência energética da cotonicultura em Naviraí em Mato Grosso do Sul, com resultado negativo de 0,63. Os mesmos autores chegaram em uma eficiência energética de 0,42 na cotonicultura de Maracaju, em Mato Grosso do Sul. Para os autores, o uso intensivo de fertilizantes químicos comprometeu significativamente o saldo energético dos dois sistemas produtivos. A ctonicultura da região de Campo Novo do Parecis assemelha-se aos resultados encontrados em Mato Grosso do Sul. Segundo o trabalho de Romero, Bueno e Esperancini (2011) em Leme, São Paulo, foi obtida uma eficiência energética de 0,71 na cotonicultura. No mesmo trabalho, os autores encontraram eficiência energética de 3,04 na cotonicultura de San Juan (Paraguai). A cotonicultura em Leme utiliza ampla mecanização, com maior utilização de óleo-diesel, inseticidas e fertilizantes. Na cotonicultura de San Juan, os insumos mais energéticos também são óleo-diesel e fertilizantes. Contudo, pode-se verificar grandes diferenças. O processo produtivo no Paraguai está mais próximo de um sistema familiar, enquanto no Brasil o processo produtivo se assemelha a um sistema típico de industrialização da agricultura. A participação energética da mão de obra em San Juan alcançou 4,88%, enquanto em leme foi de 0,25%. Os resultados apresentados indicam sistemas heterogêneos em relação à eficiência energética. De acordo com o limite mínimo proposto por Scrholl (1994), apenas a cotonicultura nordestina da década de 1990 e a produção de algodão en San Juan no Paraguai apresentam-se patamar de sustentabilidade. Os demais sistemas precisariam de ajustes estruturais para manutenção de longo prazo. O maior responsável dos inputs de energia na cotonicultura na região de Campo Novo do Parecis fica a cargo dos agroquímicos utilizados. Esse quadro indica a necessidade de refletir sobre o modelo produtivo estabelecido em Mato Grosso, com baixa alocação

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de trabalho e dependência exógena de energia, podendo potencializar tensões de médio e longo prazo que inviabilizem a produção regional em bases competitivas. O caos criativo (CASTELLS, 2000) que estruturou a cotonicultura atual em Mato Grosso, substituindo a antiga produção familiar pela atual baseada em empreendimentos capitalistas, precisa de ajustamentos e um novo caos criativo em direção a um processo mais próximo da sustentabilidade energética.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Os resultados obtidos em relação à cotonicultura na região de Campo Novo do Parecis apresentam uma eficiência energética em média de 1,21 no período 2007-2011, abaixo do que Schroll (1994) considera como índice tendencialmente sustentável de sistemas agrícolas de 2,00 kcal de saldo energético. Assim como a cotonicultura Mato Grosso do Sul apresentada por Albuquerque et.al. (2007a) e Albuquerque et.al. (2007b) se apresentam com índices abaixo da sustentabilidade. O trabalho apresentado por Romero, Bueno e Esperancini (2011) indica uma cotonicultura com balanço energético negativo em Leme, mas positivo em San Juan no Paraguai. Trabalhos mais antigos indicam produção com balanço positivo no Nordeste do Brasil (BELTRÃO et.al., 1993) e negativo na Índia (RAO et.al., 1992). Esse contraponto revela problemas estruturais no cultivo do algodão na região de Campo Novo do Parecis, que traz consigo uma grande dependência de insumos exógenos à região. Com o índice médio de 1,21 apresentado, caracteriza-se na cotonicultura local um nível de entropia que deve ser considerado nas decisões empresariais e de planejamento regional. Esse nível de desorganização endógena crescente pode impactar nos custos de produção da cotonicultura, conforme analisado por Faria e Campos (2012). Os resultados obtidos mostram um sistema de cultivo insustentável e com necessidades de intervenção dos órgãos de plane-

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jamento regional e do setor produtivo para que seja viabilizada a sua produção. A análise permite também a identificação da dependência de fertilizantes importados, sendo os maiores responsáveis pelos inputs energéticos do modelo cotonícola. Com a identificação dos principais fatores que causam a baixa eficiência energética do cultivo, permite-se a adoção de medidas de ajuste para manutenção de longo prazo das estruturas produtivas locais.

ALBUQUERQUE F.A.; BELTRÃO, N.E.M.; OLIVEIRA, J.M.C.; VALE, D.G.; SILVA, J.C.A.; CARTAXO, W.V. Balanço energético da cultura do algodão na pequena propriedade rural no cerrado de Mato Grosso do Sul. Uberlândia, ABRAPA, VI Congresso Brasileiro de Algodão, 2007a.

NOTAS

_____. Balanço energético de sistemas de produção de algodão no cerrado do Mato Grosso do Sul. Uberlândia, ABRAPA, VI Congresso Brasileiro de Algodão, 2007b.

¹ Para detalhes do processo de industrialização da agricultura de Mato Grosso, ver Pereira (1995). ² A intensidade do uso do solo em culturas sequenciais como o algodão se mostra altamente dependente do uso de fertilizantes (NPK – nitrogênio, fósforo e potássio), e estes por sua vez são em grande parte importados de países como a Rússia, Israel, Marrocos e Ucrânia. Os dados do Ministério da Fazenda (2011) mostram que cerca de 62% dos fertilizantes utilizados no país são de origem exterior e apenas 38% são produzidos no Brasil. Mato Grosso é responsável pela maior parcela do consumo desses fertilizantes com aproximadamente 19% do que é comercializado do país. Este indicador mostra a fragilidade em que se encontra a cotonicultura na região de Campo Novo do Parecis pela dependência internacional em que se encontra. Uma variação brusca no mercado deste produto pode ocasionar baixa disponibilidade no mercado, uma vez que a exploração destes insumos exauríveis é restrita a alguns países.

ABRAPA (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS PRODUTORES DE ALGODÃO). Algodão no cerrado do Brasil. FREIRE, E.C. (editor). Aparecida de Goiânia, Mundial Gráfica, 2011. AMPA (ASSOCIAÇÃO MATO-GROSSENSE DOS PRODUTORES DE ALGODÃO). Informações referente a área de plantio de algodão em Campo Novo dos Parecis e região, safras 2007-2011. Cuiabá, AMPA, 2012. BELTRÃO, N.E. de M., AZEVEDO, D.M.P., NÓBREGA, L.B. da ; LACERDA, M.R.B. Estimativa da energia cultural na cotonicultura arbórea no nordeste brasileiro, comparando-se o mocó tradicional com o precoce. Campina Grande: Embrapa Algodão, 1993. (Boletim de Pesquisa, 29). BOWMAN, J.C. Animais úteis ao homem. São Paulo: USP, 1980. (Coleção Temas de Biologia, 20).

³O cultivo da soja em Primavera do Leste, na região Sudeste de Mato Grosso, apresentou uma eficiência energética média de 1,01 no período de 2000 a 2010, conforme Carvalho et.al. (2012).

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REFERÊNCIAS

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