INCLUSÃO, DIVERSIDADE E DESIGUALDADE NO ENSINO SUPERIOR

June 4, 2017 | Autor: Mônica P.Santos | Categoria: Higher Education, Equality, Diversity & Inclusion
Share Embed


Descrição do Produto

Apresentado  no  Seminário  Internacional  de  Inclusão  em  Educação  –  Universidade  e  Participação II. NO PRELO.  INCLUSÃO, DIVERSIDADE E DESIGUALDADE NO ENSINO SUPERIOR Mônica Pereira dos Santos 1 INTRODUÇÃO: O presente artigo tem por objetivo lançar as bases para nossas reflexões ao longo deste evento. Tarefa nada pequena, e de imensa responsabilidade. Não tem sido poucas as vezes em que venho discutindo a questão da exclusão no Ensino Superior, e argumentando que quanto mais alto o nível do ensino, piores ficam as exclusões. Assim sendo, organizei este artigo da seguinte maneira. Iniciarei com um modo antiprotocolar (para os padrões da Academia), em que, coloquialmente, falarei sobre a experiência educacional em si. Na sequência, tentarei retomar as reflexões suscitadas na parte anterior de modo a discuti-las em relação aos conceitos de desigualdade e diversidade, defendendo a ideia de que ambas, mais do que serem, precisam mesmo estar presentes na vida escolar, e serem consideradas na nossa formação desde o início, sob pena de eternamente continuarmos repetindo a triste trajetória contada na primeira parte, em que nosso prazer, alegria e amor pela escola simplesmente acaba por morrer. A ESCOLA EM NOSSA VIDA. Costumo me utilizar de um exemplo facilmente visível e memorável em nossas vidas, porque muito provavelmente aconteceram conosco ou com nossas crianças. Refiro-me à maneira como costumamos iniciar o percurso escolar, e como este se desenvolve ao longo dos anos de nossas vidas. Tenho certeza de que muitos de nós, se não todos os que tivemos a oportunidade de iniciar nossa trajetória educacional ainda na pré-escola, lembramo-nos daquele momento mágico em que fomos para a escola pela primeira vez. Nossa alegria, nossa expectativa, nossa ansiedade, nosso imenso orgulho por passar a ter em nosso cotidiano aquilo que “gente grande” fez e alguns ainda fazem: ir para a escola. O dia anterior, repleto de marcações, de nossos pais e nossas mesmo, lembrando-nos a todo momento o quão especial será o dia seguinte. As compras de material escolar e o verdadeiro sentimento de natal que todo aquele mundo de papéis de várias cores, tamanhos e texturas, crayons, tesouras, lápis coloridos, pincéis, tintas, e tantos outros, incitaram dentro de nós. A noite sem dormir, ou repleta de sonhos antecipatórios do que será nossa vida dali por diante. O orgulho imbatível de colocarmos a merendeira em nossos ombros após vestirmos aquela roupa                                                              Doutorado em Psychology And Special Needs Education pela University of London, Inglaterra (1995); atuação em Culturas, Políticas e Práticas de Inclusão Em Educação; Professora Adjunta da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Fundadora e Coordenadora do LaPEADE-FE/UFRJ.

1

1   

Apresentado  no  Seminário  Internacional  de  Inclusão  em  Educação  –  Universidade  e  Participação II. NO PRELO.  especialíssima, o uniforme, que nos coloca, simbolicamente, em um degrau a mais na escala de nosso processo civilizatório e de socialização. Que nos torna mais “importantes”, porque, doravante, mais “responsáveis”. O primeiro encontro com a professora. Aquela que, muito provavelmente, tornar-se-á nossa musa... Ou nosso desespero. Já a achamos linda, sem mesmo conhecê-la. E insistimos em achá-la linda, mesmo se por azar, ao conhecê-la, sofremos uma atrapalhada experiência que mais fica marcada como um desencontro do que um encontro entre duas almas, entre dois espíritos, entre duas pessoas. Porque como criança, persistimos. Como criança, acreditamos. Como criança, não vemos, e não podemos crer, na maldade ou no tratamento injusto. E o primeiro dever de casa? Ah! O primeiro dever de casa... que coisa maravilhosa! Que sensação de importância ímpar como seres humanos uma simples tarefa pode nos fazer sentir! Maravilhosos anos... E aí entramos na alfabetização e no ensino fundamental. O encanto de aprender a ler, a fazer sentido daqueles símbolos tão bonitos, as letras, e tão mágicos, que quando combinados formam palavras tão incrivelmente diferentes! A maneira certa de pronunciá-las e suas curiosas variações quando acompanhadas de outras letrinhas... Os deveres de casa vão se tornando mais frequentes, e com eles, a cobrança. Mas não só. Uma coisa estranha acontece desta fase em diante. Aquilo tudo que fazíamos, e que sempre foi tão lindo e valorizado na pré-escola, começa a não ser mais tão bem visto assim. Bem, na verdade, começa a ser comparado. Ora com o que nossos coleguinhas fizeram, ora com o que a professora pensou que íamos fazer e não fizemos, ora com tudo isso ao mesmo tempo e mais. Pouco a pouco, começamos a ter medo de que aquilo que fazemos não agrade mais como agradara um dia. Começamos a perder a confiança em nossa capacidade de aprender. Os anos avançam, e a multiplicação de professores que começam a adentrar nossas vidas vai tornando tudo isso mais complexo. Como agradar a tantos professores ao mesmo tempo, cada um falando sobre uma coisa diferente e tendo estilos totalmente diferentes (e, consequentemente, expectativas totalmente diferentes em relação à gente)? Os deveres de casa são acrescidos de dois importantes dados extras: aumentam em número e em cobrança. Xi!... Levei bilhete para casa: não lembrei de levar este dever de casa... Fiquei tão preocupado com o outro! Cobranças, cobranças, cobranças... onde estavam aqueles elogios do começo? Ou os teremos imaginado? Ensino médio: correria total. Vestibular. ENEM. Faculdade. Escolha de profissão. 15 matérias para estudar. 50 minutinhos de aula. Trabalhos, redações, seminários, pesquisas de campo... E aquela festinha? Não vai dar, tenho que estudar para as provas... Semana inteira de provas (fora a de testes). Simulados. Vestibular. ENEM. Faculdade. Escolha de profissão. O que escolher? Dinheiro. 2   

Apresentado  no  Seminário  Internacional  de  Inclusão  em  Educação  –  Universidade  e  Participação II. NO PRELO.  Preciso ganhar dinheiro. Preciso tirar a família do sufoco. Preciso “ser alguém na vida”. Preciso “dar certo” na vida. Será que ser artista dá dinheiro? _ “Tá maluco, menino? Artista morre é de fome! Não, não. Escolha medicina, engenharia, direito...” – “Mas pai, eu queria tanto pintar...” _ “Que pintar o quê! Vai fazer é medicina.”. Os deveres de casa já são trabalhos de casa. _ “Professor, não deu para fazer este trabalho em tempo, poderia dar uma esticadinha no prazo?” _ “Não! tá pensando que o mundo do trabalho é assim? Vai se preparando, meu filho. SE VIRA!!!”. Muito provavelmente os exemplos acima apliquem-se mais a um jovem de classe média e a uma escola da rede privada. De todo modo, a “moral da história” não muda: os compromissos e cobranças crescem, e as relações humanas perdem-se neste nevoeiro. A solidariedade, o respeito, a preocupação com o outro (o aluno, a família, o professor) desaparecem para dar espaço à correria, à competição, ao “eu não sou pago para isso”, ao “mas eu tenho que passar o conteúdo, pois o vestibular, os concursos, as provas padronizadas estão aí!”, ao “que se dane, eu não gosto de estudar mesmo...”, ao “meu filho, o que houve com você? Você gostava tanto da escola!...” Até que chega o ensino superior (quando chega, pois a esta altura a maioria já desistiu e foi direto para o mercado, majoritariamente o mercado informal de trabalho). Mais provas, trabalhos, pesquisas, ensaios, fotocópias, passagem, livros, Encontros Nacionais, bandejão, movimento estudantil, representações... Os professores já não sabem nossos nomes, e nem a gente se preocupa de saber os deles. Qualquer pergunta pode ser uma arma de ridicularização de você mesmo. Melhor apenas ouvir e ficar calado. E os trabalhos e avaliações? Poxa, esta matéria só tem seminário o semestre inteiro. O cara não deu uma aula! E nesta? Só prova! Que coisa mais antiga! Pior é que eu continuo não entendendo o que estas matérias têm a ver com o que vamos fazer na vida... E a monografia? _”O professor nem lê o que eu estou escrevendo!” Ou, pior: _”O professor não aprova nada do que eu escrevo, nunca!”. Pós-graduação? _ “Só se você se encaixar na linha de pesquisa do Programa e nos projetos do professor que vai te orientar. De outra forma, vá fazer uma especializaçãozinha, que é melhor. Você não tem mesmo o “perfil acadêmico”. Nem sabe escrever! Como chegou até aqui?”. NOSSA VIDA: APESAR DA ESCOLA E POR CAUSA DA ESCOLA. O intuito que tive ao escrever a primeira seção deste artigo foi o de chamar a atenção do leitor a uma reflexão sobre o que fomos e em que nos transformamos após um longo processo de escolarização marcada por experiências de inclusão e de exclusão. A questão que procuro levantar é: este “após” seria no sentido de “apesar da escola” ou no sentido de “por causa da escola”? Acredito que de ambos. Reforço aqui uma ideia com a qual venho trabalhando já há algum tempo. A ideia de que não existe instituição que seja total e constantemente inclusiva, nem excludente. Toda instituição é, ao mesmo tempo, tanto inclusiva quanto excludente. Os exemplos acima, em que pese refletirem o argumento de que ao longo do tempo a tendência seja de que a exclusão aumente em 3   

Apresentado  no  Seminário  Internacional  de  Inclusão  em  Educação  –  Universidade  e  Participação II. NO PRELO.  detrimento de práticas mais acolhedoras, também mostram que nem tudo é somente exclusão, ainda que esta seja aparentemente majoritária. Mais do que isso: quero defender a ideia de que se por um lado as exclusões parecem aumentar proporcionalmente ao aumento do nível de escolaridade, por outro lado a situação pode ser diferente, se desenvolvemos, ao alcançarmos níveis mais avançados de estudos e reflexões, a consciência a respeito das dimensões culturais, políticas e práticas dos processos de inclusão e exclusão em educação, e em particular, na universidade. Para tanto, penso ser necessário falar um pouco da relação entre universidade, desigualdade e diversidade, e de como as mesmas são apropriadas no contexto escolar, em particular o universitário, que é, aqui, foco de nosso interesse. Segundo o Dicionário Aurélio (HOLANDA, 2004), universidade tem um significado muito interessante. Esta palavra provém do latim universitate, e quer dizer universalidade. Faz referência, ainda, aos seguintes sentidos: (a) Instituição de ensino superior que compreende um conjunto de faculdades ou escolas para a especialização profissional e científica, e tem por função precípua garantir a conservação e o progresso nos diversos ramos do conhecimento, pelo ensino e pela pesquisa; (b) Edificação ou conjunto de edificações onde funciona essa instituição; e (c) O pessoal docente, discente e administrativo da universidade. Outro detalhe interessante (ainda em HOLANDA, 2004) é que universalidade, por sua vez, advém do latim eclesiástico catholicu, que por sua vez advém do grego katholikós, e está definida como universal no sentido de pertencente ao universo, ao cosmos, relativo a toda a Terra ou extensivo a todo o Mundo; de que advenha de todos e que não se atenha a uma especialidade, abrangendo quase por inteiro um campo de conhecimentos, de ideias, de aptidões, etc. No que tange à Igreja Católica, podemos inferir que ela assim se chama para dizer que não se identifica com grupos nacionais, étnicos, sociais, etc. em particular, conforme descrito em sua definição no mesmo dicionário, estando, portanto, acessível a todos. Lamentavelmente, entretanto, a história nos mostrou que esta acessibilidade não se deu, necessariamente, por opção do cidadão, mas muito mais por coerção. De todo modo, fica no ar a questão da laicidade da instituição educacional, em especial a universitária. Até porque, quando olhamos historicamente para a instituição escolar ocidental, vemos que suas origens estão intimamente vinculadas à Igreja Católica e ao Clero. Vemos, ainda, que a separação entre ambas começou a se dar com a fundação do Estado, após a Revolução Francesa, da separação deste da Igreja e da promulgação das cartas de direitos humanos, cujos conteúdos atribuíam (e atribuem) ao Estado a responsabilidade daquilo que é reconhecido como direito universal, sendo um deles a educação. 4   

Apresentado  no  Seminário  Internacional  de  Inclusão  em  Educação  –  Universidade  e  Participação II. NO PRELO.  Este detalhe é importante porque aponta para uma origem da escola – básica ou universitária – como sendo voltada para as elites – o Clero, a nobreza ou os burgueses; e isto nos traz de volta à reflexão sobre desigualdade e diversidade. Isto porque se desde seu nascimento a escola não tivesse misturado a ideia de universalidade com a de credo católico, sendo efetivamente – e não supostamente – acessível a todos, talvez o quadro atual fosse bem diferente em termos da constituição e progresso – ou fracasso – de nossas escolas de todos os níveis de ensino. Ao manter em sua raiz uma história inicial elitista (ser apenas para alguns), a escola consagrou a ideia de um alunado uniforme em termos do projeto político ao qual serviria, alunado este a quem ela se dirigiria. NOSSAS VIDAS E O PAPEL DA GRANDE ESCOLA: A UNIVERSIDADE. Desta maneira, os que naquele perfil não se enquadrassem (diga-se de passagem, a vasta maioria da população), não poderiam estar na escola. É somente mais tarde, no início do Século XX, com o movimento pela universalização da escola, e a consequente entrada de um alunado jamais imaginado em seu cotidiano, que a noção de diversidade passa a ser contemplada dentro do universo escolar. Ainda assim, as práticas pedagógicas continuam organizando-se para um alunado ideal, supostamente homogêneo. Mudou a realidade estudantil da escola, mas ela mesma, em si, não se adequou a esta mudança. Pelas décadas seguintes a escola não apenas manterá sua tradição de escola de elite, como alimentará a ilusão de que seu alunado seja um só. Com o evidente aumento do fracasso escolar, da pressão pela garantia da colocação em prática de direitos humanos, e de pesquisas apontando as variadas desigualdades de desempenho (sucesso e fracasso) dentro da escola, atribuídas a práticas discriminatórias (já em meados do Século XX), é que começa-se a desconfiar da ideia de que talvez alunado algum jamais tenha sido homogêneo em seu perfil; nem mesmo o das elites. Assim, diversidade e desigualdade começam a ser considerados características “comuns” da população escolar. Uma vez mais, entretanto, estas considerações são mais predominantemente feitas no papel e nas palavras, do que nas práticas sociais. As relações pedagógicas continuavam, e continuam, a se estabelecer com base no mito de que todos seriam homogêneos, iguais, e assim o sendo, uma aula, de apenas um estilo, planejada para apenas um tipo de aluno, o ideal, deveria ser suficiente para todo e qualquer aluno. Estas práticas, estes mitos, e nossa teimosia em neles permanecer, têm contribuído para nos separar como seres humanos. E quando nos separamos com base na ilusão do mérito, na suposição de que uns tenham mais “direito” do que outros, seja lá por que motivo for, estabelecemos uma diferença que se torna desigualdade. É certo que a desigualdade não se resume aos mitos ou a uma atitude “teimosa”. Reconheço que o fenômeno é muito mais complexo do que aparenta ser. Mas o que quero argumentar é que é necessário partirmos do princípio de que nossa diferença é o que temos 5   

Apresentado  no  Seminário  Internacional  de  Inclusão  em  Educação  –  Universidade  e  Participação II. NO PRELO.  em comum, assim como nossa humanidade. Somos todos humanos, e por isso temos os mesmos direitos que todo e qualquer outro. Somos, também, todos diferentes (diversos), e nisto, somos iguais. Em outras palavras, a citação de Boaventura de Sousa Santos me parece perfeita para resumir o que pretendo deixar claro: Temos o direito de ser iguais quando a nossa diferença nos inferioriza; e temos o direito de ser diferentes quando a nossa igualdade nos descaracteriza. Daí a necessidade de uma igualdade que reconheça as diferenças e de uma diferença que não produza, alimente ou reproduza as desigualdades. (2003, p.56). Diversidade, portanto, para efeito do que aqui discutimos, é sinônimo de diferença. E desigualdade, também. Refiro-me a esta última como aquilo que seja da ordem do diverso, do variado, da diferença. Refiro-me a ela como algo que faz parte de nossa condição humana, a de não sermos iguais em nossa maneira de existir e de nos manifestarmos. Neste sentido, não podemos julgá-la, atribuir-lhe valor (para mais ou para menos), tampouco utilizá-la como justificativa para um tratamento injusto ou discriminatório para com o outro, decorrente do valor (ou desvalor) que lhe tenha sido preconceituosamente atribuído. Apenas reconhecê-la e respeitá-la. Não podemos confundi-la com a injustiça. Devemos, sim, defendê-la de injustiças. Ocorre que a desigualdade que vemos e sofremos em nosso dia a dia não é a que acima defendo, mas o seu contrário. É aquela oriunda das relações preconceituosas e discriminatórias que a sociedade estabelece com as diferenças. É aquela que estabelece valores diferenciados entre seres humanos, em geral fundamentados pelo que têm. É aquela, fruto de uma relação hierarquizada entre pessoas, que as classificam, conforme suas posses e suas forças políticas, como “valendo e merecendo mais”, ou “valendo e merecendo menos”. Esta é, lamentavelmente, a desigualdade presente com mais força em nossas relações e instituições. E a Universidade está repleta delas. Operamos com esta desigualdade quando instituímos o mérito como critério de seleção de vários benefícios à população estudantil e carente de nossas Unidades. Operamos com ela quando avaliamos nossos alunos com base em um sistema de média, comparando-os aos outros, ao invés de compará-los a si mesmos em sua trajetória educacional conosco e nossa disciplina. Operamos com ela quando emitimos comentários jocosos sobre certas formas de existência na vida, desconsiderando que entre nossos alunos estas existências possam estar presentes. Operamos com esta desigualdade quando estabelecemos e orgulhosamente alimentamos um sistema educacional fundamentado em padrões de cátedra que separa os saberes entre si e das práticas. Operamos com ela, ainda, quando fechamos nossos olhos e nos omitimos de tomar partido em situações de injustiça, criminalidade ou erro. Operamos com ela quando “esquecemos”, convenientemente, em nome do imediatismo, que a existência de nosso mundo

6   

Apresentado  no  Seminário  Internacional  de  Inclusão  em  Educação  –  Universidade  e  Participação II. NO PRELO.  depende de um comportamento perseverantemente ético, solidário, voltado para o coletivo e para a preservação ambiental, abrigando o respeito a todas as formas de vida. Operamos com ela, ainda, quando planejamos aulas monolíticas, cujos assuntos encerram-se em si mesmos e não parecem ter conexão alguma com quaisquer outros assuntos do mundo, do cotidiano na Terra. Operamos com esta desigualdade quando pensamos que a violência, a fome, a miséria, está somente nos outros, e nunca em nós. Porque de tão cristalizados que estamos em nós mesmos e em nosso individualismo, simplesmente não mais nos reconhecemos no outro. Na Universidade, em especial, operamos e alimentamos esta desigualdade quando exercemos nosso poder (e o poder oriundo do simples fato de se ser parte da Universidade é grande!) hegemonicamente e de modo velado, ou conchavado, sem transparência pública, sem debate, sem discussão, ou com debate e discussão manipulados, como bem acontece nos Colegiados. Fazemos isso também quando insistimos no eterno exercício do poder, recandidatando-nos ad nauseum... Este Seminário tem uma proposta muito clara: ao mesmo tempo em que reconhece esta instituição chamada Universidade como de fundamental importância para a manutenção da vida na Terra, da humanidade no mundo, e do Mundo em si, enfim, chama a transformação à sua responsabilidade. Pois se somos, como Universidade, como instituição escolar, capazes de repetir a história e suas exclusões, também somos, como toda escola, o lócus de possibilidade da invenção, da mudança e da transformação. É neste papel de Universidade que apostamos. É este papel de Universidade que desejamos, é por ele que ansiamos e é para fazer parte dele que convidamos cada um dos inscritos neste evento a se juntar e compartilhar conosco as dores e as delícias da luta por um mundo melhor. REFERÊNCIAS: HOLANDA, Aurélio Buarque de. Novo Dicionário Eletrônico Aurélio versão 5.11. São Paulo: Editora Positivo, 2004. SANTOS, Boaventura de Sousa. Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

7   

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.