incursões vikings na Península Ibérica

August 10, 2017 | Autor: J. Pique Castanheira | Categoria: Vikings, Historia Medieval
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Este trabalho realizado no âmbito da cadeira de História Medieval (Política e Cultura) tem como objectivo a análise de um documento relacionado com as incursões vikings na Península Ibérica, mais concretamente em Sevilha, durante o século IX que se pode encontrar nos anexos deste trabalho. Antes de se iniciar uma análise sobre o documento em questão é pertinente abordar o porquê da entrada destes povos normandos no continente europeu que teve início nos princípios do século IX. É de indicar que até ao período do final do século VIII estes povos, que durante o século IX irão ser conhecidos pelos povos do continente Europeu como os terríveis Vikings, apresentavam-se como uma sociedade maioritariamente constituída por camponeses, em que o cariz guerreiro que se iria verificar no século seguinte era praticamente inexistente até aos finais do século VIII. Este facto continua a constituir uma problemática que não possui uma resposta concreta e final para justificar esta mudança de uma sociedade camponesa para uma guerreira.1 São apresentadas duas teorias que se destacam como possíveis explicações para a alteração nestes povos e a sua saída para o continente europeu. A primeira refere-se a uma possível existência de sobrepopulação nos territórios destes povos normandos o que naturalmente os levaria a procurar novos territórios para se expandirem. Esta teoria, no entanto veio a verificar-se errada devido a se provar que no seu próprio território existiam ainda diversos locais que estes povos ainda tinham por explorar, levando assim a se descartar a teoria de uma sobrepopulação. Assim a explicação em geral mais aceite para o início destas invasões levadas a cabo pelos normandos, será que estes avançaram no continente europeu devido ao simples facto de possuírem tecnologia para tal, pois estes povos na passagem do século VIII para o IX apresentavam um avanço tecnológico bastante avançado na área da navegação devido à criação das suas embarcações conhecidas como os “Drakkars”, em que possuíam a capacidade de navegar em alto mar tanto com o uso de vela (de forma quadrangular) ou de remos.2 Verifica-se assim que este tema continua em aberto sem que se possa dar uma

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Vide, RICHÉ, Pierre, Grandes Invasões e Impérios: séculos v a x, Lisboa, Publicações Dom Quixote,1980, pp. 200-211. 2 idem.ibidem. pp. 202-203

resposta definitiva sobre o porquê desta alteração de comportamentos dos povos normandos. Já no contexto das invasões pode-se verificar-se o primeiro contacto dos povos normandos (provenientes da actual Dinamarca, Suécia e Noruega) em 793, num mosteiro situado na costa da Nortúmbria inserido no reino anglo-saxão.3 Neste período inicial de contacto com o continente europeu durante a primeira metade do século IX4, observa-se que estes povos normandos optam por realizar razias periódicas (sendo principalmente constituídas por dinamarqueses) na Europa do norte. 5 Só na segunda metade é que se verifica um avanço para o interior do continente, algo que foi possível devido a estes povos utilizarem regiões conhecidas pelas razias no início do século para “hibernarem” e a partir destas avançarem subindo o rio Sena com as suas embarcações ou trocando as mesmas por cavalos continuando assim o seu avanço por terra.6 No caso mais particular da Península Ibérica, local em que incide este texto que vai ser analisado, é possível verificar-se a presença de duas forças que se opõem uma à outra, o Reino das Astúrias que se encontra sobre o domínio de Ramiro I, responsável pelo início do avanço sobre a região da Bacia do Douro, e o Emirado de Córdova (Omíada) liderado por Emir Abd al-Raham II. É com este rei, Ramiro I, que se verifica o lento processo de “reconquista” cristã na península Ibérica em que será feita pelo ponto de vista do ermamento e da presúrias destas terras dando assim o direito de tomar pela força os territórios que até ao momento eram controlados pelos muçulmanos. Passando assim há análise do texto, referente aos ataques vikings à cidade de Sevilha, verifica-se a partir das descrições que nele são apresentadas, que diferem muito sobre a maneira como o povo muçulmano via os normandos em relação ao cenário presente no resto do continente europeu.

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Vide, BLOCH, Marc, A Sociedade Feudal, trad. Liz Silva, Lisboa, Edições 70, 2014 Vide, RICHÉ, Pierre, Grandes Invasões e Impérios: séculos v a x, Lisboa, Publicações Dom Quixote,1980, pp. 203-205. 5 Vide, HEERS, Jacques, História Universal, O Mundo Medieval, [s.l], Circulo de Leitores, 1977, pp.5089. 4

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Vide, RICHÉ, Pierre, Grandes Invasões e Impérios: séculos v a x, Lisboa, Publicações Dom Quixote,1980, pp. 200-211.

Algo que contrasta de imediato em relação aos textos provenientes dos reinos cristãos da europa, é o modo como os vikings eram encarados, pois enquanto estes eram vistos como “castigos divinos” enviados por deus para as populações cristãs e tinham a capacidade de causar pânico nelas, no caso dos muçulmanos este pânico e medo tremendo não se encontra presente nas fontes que sobreviveram até aos dias de hoje. Verifica-se assim no texto em análise que o relato dos avanços vikings até chegarem à cidade de Sevilha são feitos de forma objectiva e directa, simplesmente relatando as perdas e vitórias sem nunca dar uma conotação emocional de como estes povos normandos afectavam psicologicamente a população muçulmana, embora se verifique no fim uma certa reacção emocional, após o sucesso de expulsão dos vikings do seu território ao incendiarem os barcos dos normandos. Embora não existindo uma transmissão de um cenário devastador e quase sem esperança, presente nas fontes cristãs, algo que se verifica comum é a descrição da força militar que estes povos apresentavam perante os diversos conflitos7, em que se observa no texto em análise bastantes derrotas militares muçulmanas contra os vikings, sendo uma desta a perda da cidade de Lisboa em 844 (relatada no texto em análise), em que é dito que os normandos permaneceram treze dias até ao seu avanço para sul com o intuito de tomar Sevilha. É de indicar, que referente à conquista de Lisboa por parte dos vikings subsistem algumas dúvidas sobre se existiu mesmo uma entrada na cidade ou se apenas os arredores é que foram vítimas dos normandos. Esta dúvida está presente devido há falta de fontes fiáveis ou directas sobre qual o estado das muralhas no período em questão sendo assim bastante difícil afirmar que existiu uma tomada da cidade.8 Para além da conquista de Lisboa ir-se-ão verificar ao longo do texto, diversas tentativas por parte dos muçulmanos com o intuito de parar o avanço normando, o que se mostrará ineficaz, pois estes conseguem chegar a Sevilha. É só após a entrada dos normandos em Sevilha, em que “(…) permaneceram nela um dia e uma noite (…)”, que

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Sendo de indicar que os normandos ao conquistarem vitórias contra os exércitos muçulmanos demonstravam só por esse facto a sua capacidade militar, pois é de referir que neste período a força militar muçulmana era considerada uma das melhores da Península Ibérica. 8 Vide, PIRES, Hélio Fernando Vitorino, “Incursões Nórdicas no Ocidente Ibérico (844-1147): Fontes, História e Vestígios”, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa, 2012, Tese de Doutoramento em História Medieval.

é relatado, por parte do autor, confrontos vitoriosos para os muçulmanos sendo-lhes assim possível forçar o recuo viking dos seu territórios. Conclui-se assim que a presença dos povos normandos obteve um impacto bastante negativo pelos variados territórios por onde passaram a diversos níveis. Uma explicação lógica para a presença viking nos territórios muçulmanos estará naturalmente ligada à atracção que estes povos tinham pelas riquezas das regiões, e tendo em conta que a sociedade muçulmana apresentava-se urbanizada e com um grande foco no sector comercial naturalmente teria atraído os povos normandos para estes locais de grandes concentrações de riqueza.9 Ligado aos saques ocorridos nestes períodos verificava-se uma grande destruição do território onde estes eventos ocorriam, pois os normandos tinham por norma destruir e incendiar os locais por onde passavam o que naturalmente iria resultar numa enorme instabilidade económica, pois muitos perdiam tudo o que possuíam, os campos de cultivo encontravam-se dizimados, baixando assim a produção o que naturalmente iria resultar numa inflação dos preços. Como resultado deste contacto violento com os vikings verifica-se que durante o século IX existe um constante aumento das fortificações nos territórios por onde estes passaram, mesmo em pequenas localidades10, como resposta a estes ataques e com o intuito de proteger as populações levou, por exemplo, a que por volta dos finais do século IX toda a França do Norte e dos Países-Baixos se tenham coberto de fortalezas11. Como consequências mais tardias da presença viking nos territórios onde estes tiveram contacto, foram as suas rotas comerciais marítimas, estabelecidas por estes povos após o fim das incursões, em que os povos normandos usaram os seus conhecimentos das costas atlânticas e mediterrâneas adquiridos durantes as invasões para melhorar a rotas comerciais existentes por todo o continente europeu.12

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Vide, ARBMAN, Holger, Os Vikings, Lisboa, Verbo, 1967. Sendo de referir que nestas pequenas localidades as fortificações podiam apenas consistir em pequenas e bastante simples muralhas em seu redor. 11 Vide, HEERS, Jacques, História Universal, O Mundo Medieval, [s.l], Circulo de Leitores, 1977, pp.5758. 12 Vide, BLOCH, Marc, A Sociedade Feudal, trad. Liz Silva, Lisboa, Edições 70, 2014 10

Bibliografia:

ARBMAN, Holger, Os Vikings, Lisboa, Verbo, 1967. BRONDSTED, Johannes, Os Vikings, trad. Horta, H. Silva, Lisboa, Ulisseia, 1963.

BLOCH, Marc, A Sociedade Feudal, trad. Liz Silva, Lisboa, Edições 70, 2014 BALLARD, Michel, GENET, Jean-Philippe, ROUCHE, Michel, A Idade Média no Ocidente, dos Bárbaros ao Renascimento, Lisboa, Edições Dom Quixote, 1994. HEERS, Jacques, História Universal, O Mundo Medieval, [s.l], Circulo de Leitores, 1977. PIRES, Hélio Fernando Vitorino, “Incursões Nórdicas no Ocidente Ibérico (8441147): Fontes, História e Vestígios”, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa, 2012, Tese de Doutoramento em História Medieval. RICHÉ, Pierre, Grandes Invasões e Impérios: séculos v a x, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1968.

Universidade de Lisboa/Faculdade de Letras. Cadeira: História Medieval (Política e Cultura) Curso: História. Ano Lectivo: 2014/2015.

Ataques de Vikings: Os Vikings junto a Sevilha (a 844)

Docente: Professora Doutora Margarida Garcez Ventura

Trabalho Elaborado por: João Castanheira N.º 49118;

Anexos:

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