Indicações preliminares sobre a influência da fragmentação florestal e da qualidade da matriz de monocultura de eucalipto sobre a Herpetofauna da Mata Atlântica no extremo sul da Bahia.

July 13, 2017 | Autor: Moacir Tinoco | Categoria: Herpetofauna, Eucalyptus, Brazilian Atlantic forest
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Indicações preliminares sobre a influência da fragmentação florestal e da qualidade da matriz de monocultura de eucalipto sobre a Herpetofauna da Mata Atlântica no extremosul da Bahia. Moacir Santos Tinoco 1 ; Tatiana Bichara Dantas 2, Henrique Colombini Browne Ribeiro 3 ; Tasso Meneses Lima 4 & Pedro Bernardo da Rocha 5. 1

Centro de Ecologia e Conservação Animal ECOA/ICB/UFBA [email protected] ; 1,2 Mestrado em Ecologia e Biomonitoramento – IB - Universidade Federal da Bahia 3,4 Graduando em Ciências Biológicas – ICB - Universidade Católica de Salvador, Centro ECOA/ICB/UCSal, bolsista FAPESB; 5 Laboratório de Vertebrados Terrestres, Coordenador Projeto de Ecologia de Paisagem – IB Universidade Federal da Bahia. 1.Introdução O bioma Mata Atlântica é reconhecido internacionalmente como uma das áreas prioritárias do globo para a conservação da biodiversidade e a principal prioridade no continente americano (Fonseca 1997, 1985; INPE 1993; Mittermeier et al. 1999; Myers et al., 2000). A Sub-região da Mata Atlântica no sul da Bahia, em especial a do extremo sul, constitui-se em um dos mais importantes centros de endemismos de todo o bioma, alvo de intensa pressão antrópica, atualmente reduzida a menos de 5% de sua extensão original (Araújo, 1991; Consorcio Mata Atlântica, 1992; Abe & Haddad, 2001; Laurance & Bierregard, 1997). Um dos resultados desse processo de alteração ambiental foi à formação de uma paisagem complexa composta por: fragmentos florestais de diferentes tamanhos, formatos e graus de alteração; e uma matriz de formações abertas (pastos) e florestadas (capoeiras em estágios diferentes estágios sucessionais e eucaliptais). Com base em dados obtidos a partir de análises georeferenciadas detectou-se que a maioria dos remanescentes da região do extremo sul da Bahia estão distribuídos em fragmentos com área superficial variando entre 50 a 4000 ha, 30% dos quais representando florestas primárias, 16% de florestas em estágio avançado de sucessão e 50% em estágio intermediário, encontrando-se imersos em uma matriz formada majoritariamente por plantações de eucalipto. Os anfíbios e répteis são os habitantes de maior tamanho da fauna de serrapilheira de Florestas Tropicais; são ectotérmicos, de biologia generalista, apresentam pouca capacidade de dispersão e são particularmente sensíveis ao efeito da fragmentação e alterações do ambiente por mostrarem grande fidelidade aos locais que habitam (Dixo, 2001). As comunidades de anfíbios e répteis respondem de forma especial a perturbações no ambiente, isto se dá a partir das variações na incidência de luz solar, aumento ou diminuição de folhiço, isolamento, alterações no microclima, etc. (Ávila-Pires, 1995; Vitt et al 1999). Dada a ampla gama de processos associados à alteração da Paisagem, cujos efeitos são extremamente variáveis a depender da situação (Pardini 2000), e da importância no desenvolvimento de estudos sobre a qualidade dos ambientes formados pela monocultura de eucalipto do ponto de vista da fauna da Mata Atlântica na Bahia, esse estudo objetivou-se avaliar: (a) quais as principais diferenças na estrutura numérica da fauna herpetológica presente nos fragmentos do tipo mais comum na região (fragmentos florestais em estágio intermediário de sucessão: entre 100 e 250ha) e a mata original (estimada com base no fragmento de 6.000 ha); (b) se o eucaliptal pode ser considerado uma matriz adequada para conectar pequenos fragmentos de floresta em estágio intermediário de sucessão servindo como tamponador; e (c) se as diferenças na estrutura das comunidades de anfíbios e répteis se associam com as variações de microclima e de microhábitat mensurados nos diversos componentes da paisagem. 2. Métodos O estudo foi realizado em propriedades da empresa Veracel Celulose, localizadas no extremo sul da Bahia, onde foram implantadas armadilhas de queda do tipo pitfall traps, (Heyer et al., 1993; Duellman, 1978) nos principais componentes da Paisagem na região: Floresta contínua (Estação Veracruz) - uma RPPN localizada nos municípios de Porto Seguro e de Santa Cruz Cabrália, que apresenta 6.069 ha de floresta, em sua maior parte primária; 4 fragmentos em estágio intermediário de sucessão, com área entre 100 e 250 ha; e 4 áreas de eucaliptais em estágio avançado de crescimento (plantados há pelo menos 6 anos. Foram estabelecidas quatro unidades amostrais (4 réplicas espaciais) em

cada um dos componentes da paisagem, distribuídas aleatoriamente, sendo que cada unidade amostral corresponde a uma área interna com dimensões de cerca 0,6ha, onde foram implantadas 36 armadilhas de queda. No total foram montadas 432 armadilhas, onde cada uma corresponde a um balde de 20 litros, enterrado no solo associado a duas cercas de direcionamento com 1,5 m de comprimento por 0,4 metros de altura. Foram realizadas duas campanhas de 10 dias de coleta por componente da paisagem, nos meses de fevereiro e março, e de junho de 2003, respectivamente. Em cada réplica foram tomadas as seguintes variáveis de microclima e de microhábitat: Temperadura do solo (A_Tsol); Umidade do Solo (A_Usol); Temperatura Ambiente (A_Tar); Umidade Relativa do Ar(A_Urar); Luminosidade (A_Lum); Cobertura da serrapilheira (A_Seden); Cobertura de Herbáceas (A_Hecob) e Cobertura de Troncos Caídos (A_Trcob); Após eutanásia com éter e álcool a 20%, os animais coletados foram fixados com formalina a 10%, mantidos em álcool a 70%. Com base nas coletas, foram calculadas as abundâncias e riquezas das espécies de anfíbios e répteis, onde foram testadas as significâncias com o auxílio do Programa Instat , através do teste de hipóteses ANOVA - Kruskal-Wallis e teste de comparação múltipla de Dunn. 2. Resultados e Discussão Foram coletados 105 lagartos e 42 anfíbios, correspondentes a 10 e 9 espécies distintas respectivamente. As espécies Gymnodactylus darwinii, Enyalius calcarata e Leposoma scincoides foram as mais abundantes para Lacertilia, enquanto que as espécies Chiasmocleis schubarti, Physalaemus signifer e Eleutherodactylus binotatus para os Anura. Os valores encontrados não foram estatisticamente significativos para a abundância e riqueza dos lagartos, porém revelaram-se marginalmente significativos para a espécie Chiasmocleis schubarti (p = 0,0864, KW = 4.851) e para a abundância e riqueza total dos anfíbios (p = 0,0636, KW = 5.510 e p = 0,0535, KW = 5.855, respectivamente). Apesar de preliminares, esses resultados aparentemente evidenciaram que os eucaliptais apresentam uma menor abundância e riqueza de anfíbios em relação aos fragmentos e a mata contínua, principalmente para Chiasmocleis schubarti, cujos valores indicaram ser uma espécie típica de ambientes mais florestados. Das variações de microclima e de microhábitat, não foi possível detectar variação nos diversos componentes da paisagem avaliados, com exceção da luminosidade (p = 0,0024, KW = 8.346) e da cobertura de troncos caídos (p = 0,0048, KW = 8.000). Em relação a esse último parâmetro, parece haver uma diminuição da cobertura de troncos caídos nos eucaliptais em relação à mata, enquanto que para a luminosidade, os resultados indicaram a existência de um gradiente da mata para os eucaliptais, cuja intensidade de luminosidade é menor na mata. 4. Conclusões Em virtude da ampla gama de processos associados à alteração de uma paisagem e da importância no desenvolvimento de estudos sobre a qualidade dos ambientes formados pela monocultura de eucalipto do ponto de vista da fauna da Mata Atlântica na Bahia, a partir dos dados preliminares desse estudo podese sugerir que a fragmentação e seus efeitos associados não afetam a estrutura numérica da fauna herpetológica. Não foram detectadas evidências de que a matriz de eucalipto afete a estrutura numérica dos lagartos em relação à mata, porém, como grupo, os anfíbios revelaram uma maior tendência á essa redução, especialmente para a espécie Chiasmocleis schubarti, que apresentou menor abundância no eucaliptal. Das variáveis de microclima e de micorhábitat analisadas, as únicas que diferiram nos diversos componentes da paisagem foram cobertura de troncos caídos, menores nos eucaliptos e maiores nos fragmentos; e de luminosidade, que é menor na mata e maior no eucalipto. Se essas variáveis têm relação direta ou indireta com as variações de abundância e riqueza total detectadas para os anfíbios, então menores quantidades de troncos caídos e maiores níveis de luminosidade teriam maior efeito negativo sobre esse grupo. 5. Referências Bibliográficas Abe A. S.; Haddad C. F. B., (2001). Workshop Mata Atlântica e Campos Sulinos – Anfíbios e Répteis. Departamento de Zoologia. UNESP. Cx Postal. 199. Rio Claro. SP.

Araujo, A.F.B. (1991). Structure of a white sand-dune lizard community of coastal Brazil. Rev. Brasil. Biol., v.51, n.4, p.857-865. Avila-Pires T.C.S. (1995). Lizards of Brazilian Amazonia (Reptilia: Squamata. Zool. Verh. Leiden 299, 20 i.v.: 1-706, figs. 1-315. Consórcio Mata Atlântica (1992). Projeto Corredores Ecológicos. Referência Bibliográficas. V.01.Ed. UNICAMP.São Paulo. 101p. Dixo, M.B.O. (2001). Efeito da fragmentação da floresta sobre a comunidade de sapos e lagartos de serapilheira no sul da Bahia. Dissertação de Mestrado, USP. 87p. Duellman, W. E. (1978). The biology of anequatorial herpetofauna in amazonian equador. Misc. Publ. Univ. kansas mus. Nat. Hist. 65: 352. Fonseca, G.A.B. da (1985). The vanishing Brazilian Atlantic Forest. Biol. Conserv. 34: 17-34. Fonseca, G.A.B., Pinto, L.P.S. E Rylands, A.B. (1997). Biodiversidade e unidades de conservação. Anais do Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, Vol. I - Conferências e Palestras. pp. 189209. Curitiba, 15 a 23 de novembro de 1997. Universidade Livre do Meio Ambiente, Rede Pró-Unidades de Conservação e Instituto Ambiental do Paraná, Curitiba. Heyer et al, (1993). Mensuring and monitoring biological diversity. Standand methods for anfibians. Smith sonian Inst. Press, Washngton. INPE. (1993). Evolução dos Remanescentes Florestais e Ecossistemas Associados do Domínio da Mata Atlântica- no período de 1985-1990. Ed. Fundação Mata Atlântica. 46p. Laurance, W.F., Bierregaard, R.O. [Eds] (1997). Tropical forest remnants: ecology, management, and conservation of fragmented communities. The University of Chicago Press, Chicago. 616p. Myers, N., Mittermeier, R.A., Mittermeier, C.G., Gustavo A.B. da Fonseca & Kent J. (2000). Biodiversity hotspots for conservation priorities. Nature, Vol.403:853-858. Mittermeier, R.A. et al (1999). Hotspots: earth's biologically richest and most endangered terrestrial ecoregions. Conservation International, CEMEX. 430p. Vitt, L.J.; Sartorius S.S.; Colli G.R.. (1999). Use of naturally and anthropogenically disturbed habitats in Amazonian rainforest by the teiid lizard Ameiva ameiva. Biological Conservation 90 (1999) 91 – 101. (Agradecimentos: à coordenação do mestrado em Ecologia e Meio Ambiente da UFBA e toda a equipe da Empresa Veracel Celulose).

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