Industrialização tardia e economia desregulada: comentário sobre o caso brasileiro

May 23, 2017 | Autor: César Brandão | Categoria: Financial Economics, Economic Growth, Brazil, Industrialization
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O
modelo econômico que o Brasil adotou a partir dos anos 50 agrega o capital estatal, o capital privado nacional e o capital estrangeiro. Estas três fontes de crescimento e desenvolvimento se delineiam por um contexto capitalista que hoje, atende à maior parte dos países.
No entanto, o processo de industrialização foi conturbado no Brasil, pois a indústria (ou Segundo Setor) não comportava a demanda nem possuía uma autonomia para desempenhar seu papel produtivo, dependendo do setor extrativista via Estado e suas regulamentações e também oscilando entre diretrizes que oferecessem subsídios para o seu fortalecimento.
A partir dos anos 90, o governo brasileiro acompanhou as mudanças no contexto mundial e permitiu que o país se integrasse aos mercados mundiais, especificamente os de bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, automobilísticos etc.)
Esta abertura ao mercado internacional fez com que modificassem a maior parte das estruturas produtivas do país, afinal, o mercado nacional teve que concorrer com a qualidade e os preços dos produtos importados. Algumas empresas venderam seus meios de produção, outras se incorporaram a grupos mais fortes. Sendo assim, os novos "empregos emergentes" exigiram um alto grau de profissionalização, inclusive a variedade de idiomas. Hoje, empresas coreanas e chinesas entram no Brasil aguardando mão-de-obra qualificada e voltada para gestão das novas tecnologias.
Seguindo esta análise, podemos dizer que o país ainda caminha para o crescimento industrial, pois se adapta constantemente às novas tecnologias—que possuem dinâmica acelerada— enfrentando concorrência e pressão internacional. Não bastando o fato das grandes corporações empurrarem a produção "goela a baixo", os brasileiros controlados pela inflação, e seguindo o modelo norte americano (american way of life), alteram os padrões de consumo constantemente.
Para complicar ainda mais, o mercado financeiro entra em cena, aumentando seu potencial de intervenção e por meio dos estudos de Friedman e Hayek apontando o crescimento econômico como dependente desta vertente que engloba financistas, acionistas, o mercado de títulos e câmbio etc. Houve uma transferência de responsabilidades que circulou, portanto, entre o Estado, o setor privado e o capital estrangeiro. Desta forma, o desmonte do tripé da economia (capital estatal, capital privado e capital estrangeiro) gerou rupturas graves no desenvolvimento do estado de bem-estar social, de financiamento, pois o interesse do capital internacional, principalmente, proporcionou a aparição dos grandes monopólios, do enriquecimento do setor bancário e da concentração de renda.
Claro que isto não ocorreu de uma hora para outra, no entanto apresenta-se, em pleno ano de 2017 um problema que se encara como problema somente do Estado: o desemprego. Mesmo com políticas públicas criadas no período de 2003 a 2014, o Estado brasileiro não foi acompanhado pelo Segundo Setor. Em 2016, no estágio em Brasília, perguntei ao Deputado Federal, Espiridião Amin (PP-SC), quais as dificuldades de investimento da Indústria brasileira. A resposta foi simples: "o Brasil não tem vertentes empreendedoras de longo prazo". Isto é visto no contexto econômico atual trabalhado por alguns autores, como Paulo Haddad, que em 2015 com o livro: "A Economia de uma sociedade desigual" aponta que as políticas prevalecem com funções macroeconômicas de curto prazo e com prioridades do Governo Federal. Sendo assim, o contexto municipal é negligenciado, o desenvolvimento local é deixado à deriva de seus governantes despreparados. O exemplo atual escancara esta afirmação. São medidas provisórias (MPs) que não avaliam a demanda, não programam protótipos e não reajustam problemas estruturais, mas sempre conjunturais.
Neste caso, o brasileiro tem que arrumar "desfechos", baseados em perspectivas de futuros criativos e de empreendedorismos incertos, somente quando as circunstâncias da economia nacional forem favoráveis. Outro problema deste setor é a função filantrópica. Enquanto nos Estados Unidos existe uma cultura de doações, no Brasil a sonegação permeia grandes empresas, assim como o corporativismo, que atrela o Estado a grandes escândalos de corrupção como vemos no caso Odebrecht.
As perguntas que nos cabem são: Quais as alternativas futuras para a industrialização? A que ponto as empresas privadas participam dos problemas de financiamento das políticas e dos problemas econômicos? Quais as projeções de longo prazo que os projetos econômicos devem manter?
Não só a pressão popular e o reajuste dos partidos políticos são responsáveis pelo crescimento. As circunstâncias político-institucionais mobilizam parte dos recursos, enquanto o setor bancário e as multinacionais arrecadam os recursos latentes se beneficiando também de políticas compensatórias.
Enquanto o país busca cultivar um novo crescimento econômico, enfrentando espetáculos de corrupção e abrindo mão da gestão de suas estatais, o mercado internacional visa adentrar no país em busca de recursos naturais e mão-de-obra barata. Claro que uma mão-de-obra operária (daí a ascensão dos cursos técnicos e o recuo dos incentivos para a pós-graduação).
São conflitos atuais que deixam as reivindicações populares—saúde, educação, cultura e lazer—a parte, dissolvendo aquilo que foi construído após anos de ditadura e problemas econômicos relacionados ao controle da inflação. Afinal, qual será o projeto governamental que faz jogos políticos às pressas e promete que dentre poucos anos irá fazer o país crescer? Se medidas de austeridade e pagamento da dívida são a melhor forma de caminhar para o futuro, então os neoliberais podem se orgulhar do país em que estão vivendo.

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