INFLUÊNCIA DO INTERROGADOR IFF PARA A TOMADA DE DECISÃO EM MISSÕES DE COMBATE BVR

June 30, 2017 | Autor: D. Pamplona | Categoria: Strategy (Military Science), Defense and National Security, Fighter Pilot
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26 INFLUÊNCIA DO INTERROGADOR IFF PARA A TOMADA DE DECISÃO EM MISSÕES DE COMBATE BVR Cap Av André Navarro de Lima Guimarães Comando-Geral de Operações Aéreas (COMGAR) Cap Av Daniel Alberto Pamplona Comando-Geral de Operações Aéreas (COMGAR)

RESUMO: O objetivo do presente artigo é analisar a influência da utilização do interrogador IFF (Identification Friend or Foe) no tempo da tomada de decisão dos pilotos de defesa aérea durante as missões de combate além do alcance visual (BVR). Os dados analisados foram coletados através da utilização do simulador da aeronave F-5. Em missões de combate BVR, o tempo é fator crítico, influenciando na formação da consciência situacional e, por conseguinte, na tomada de decisão do piloto que, em virtude da complexidade do cenário, não busca a melhor decisão possível, mas sim a primeira opção viável, sem comparar todas as possibilidades. Os resultados mostram que o Interrogador IFF influenciou na formação da consciência situacional e na tomada de decisão, sendo esta, em média, 53,07% mais rápida, exercendo influencia no tempo de tomada de decisão, permitindo a correta identificação das aeronaves como aliadas ou inimigas e o aumento da segurança das operações militares. Palavras Chave: Interrogador IFF, Consciência Situacional, Tomada de Decisão e Combate BVR.

cation Friend or Foe) interrogator at the decision making time of the air defense pilots during combat missions beyond visual range (BVR). Data were collected through the use of the F-5 aircraft simulator. In BVR combat, time is a critical factor, influencing the formation of situational awareness and therefore the pilot’s decision-making that, due to the complexity of the scenario, does not seek the best possible decision, but the first viable option, without comparing all the possibilities. The results show that the IFF Interrogator influenced the formation of situational awareness and decision-making, which is, on average, 53.07% faster, exerting influence on decision-making time. It allowed the correct identification of the aircraft engaged as allied or enemy aircraft and increased the safety of military operations. Keywords: IFF Interrogator, Situation Awareness, Decision Making and BVR Combat.

I - INTRODUÇÃO

ABSTRACT: The aim of this paper is to analyze the influence of the use of the IFF (Identifi-

A missão-síntese da Aeronáutica é “manter a soberania do espaço aéreo nacional com vistas à defesa da pátria” [1]. A fim de cumprir esta missão, uma das Tarefas Básicas da Força Aérea Brasileira (FAB) é o Controle do Ar, que é a realizada com os propósitos de dominar o espaço aéreo e espacial de interesse, e de impedir que o inimigo faça o mesmo [1]. Nesse contexto, estão inseridos os Esquadrões de Caça da FAB focados em Defesa Aérea.

O Cap Av NAVARRO concluiu o CFO em 2003. É piloto de caça tendo sido instrutor no 2º/5º GAV e piloto de F-5M no 1º/14º GAV. Possui ainda graduação em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2012), especialização em Direito Público pela Universidade Anhanguera - Uniderp (2013), especialização em Gestão Pública pela Universidade da Força Aérea (2014). Atualmente, é assistente do Comandante-Geral de Operações Aéreas. Contato: e-mail [email protected], telefone (61) 3364-8054.

O Cap Av PAMPLONA concluiu o CFO em 2003. É piloto de transporte tendo voado as aeronaves C-95, C-97, C-105A e C-115. Possui especialização em Comércio Exterior pela Universidade Federal do Amazonas (2006), em Logística Empresarial pela Universidade Nilton Lins (2008), mestrado em Análise Operacional pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (2014). Atualmente, é chefe da Subseção de Análise Operacional do COMGAR. Contato: e-mail pamplonadap@comgar. intraer, telefone (61) 3364-8971.

INFLUENCE OF IFF INTERROGATOR FOR DECISION MAKING IN BVR COMBAT MISSIONS

Nos primeiros anos do século XXI, por meio da aquisição das aeronaves F-2000 e da modernização das aeronaves F-5M, a Força Aérea Brasileira vivenciou um grande salto doutrinário e tecnológico em relação à ação de Defesa Aérea (DA)1, tendo incorporado equipamentos que proporcionam a realização de combates aéreos em arenas mais distantes, conhecidos como combates além do alcance visual ou Beyond Visual Range (BVR). Os combates BVR são realizados a distâncias superiores a 20 milhas náuticas, e a identificação da ameaça é feita por diversos outros meios que não pela visão do piloto, conforme Figura 1.

Figura 1 - Identificação de ameaça em combate BVR

A localização do alvo normalmente é feita por meio das informações do controlador de voo em solo ou ar, que passa a posição aproximada do alvo ao piloto e, este, inicia suas buscas com o radar embarcado, a fim de adquirir o contato radar2 da aeronave inimiga. Somente após estes procedimentos é que o piloto poderá empregar seus mísseis BVR com a finalidade de abater seu oponente. Nesta situação, percebe-se a dependência do piloto de informações precisas transmitidas via fonia por parte do controlador. Estas serão utilizadas para classificar a aeronave engajada como amiga ou inimiga a fim de, em seguida, serem tomadas as providências pertinentes. A identificação deve ser feita corretamente, pois caso uma aeronave amiga seja classificada como inimiga, poderá ocorrer um fratricídio3. A aeronave F-5M, após a modernização, incorporou diversos equipamentos e armamentos que a permitem realizar missões complexas de combate BVR. Dentre esses equipamentos, têm-se como principais: o radar de bordo Grifo F, que permite a busca de alvos e o monitoramento de seus movimentos; o Radar Warning Receiver (RWR), que alerta o piloto quando sua aeronave está recebendo sinais emitidos pelo radar de outra aeronave e; o Datalink, que permite a transmissão e recepção dos dados de todas as aeronaves amigas inseridas na rede, através do Tactical Situation Display (TSD). Todos esses equipamentos auxiliam o piloto a compreender o que ocorre no Teatro de Operações.

Apesar da importância dos equipamentos citados anteriormente, há um outro instrumento que tem papel destacado em missões de defesa aérea, pois permite a identificação eletrônica à distância e sem a utilização das informações do controlador: o interrogador IFF. O interrogador IFF (Identification Friend or Foe) permite a identificação do alvo como amigo ou inimigo, funcionando como um sistema de radar secundário, por meio da emissão de um pulso e da comparação da resposta da aeronave alvo com o código definido anteriormente para as aeronaves amigas. O objetivo do artigo é analisar a influência da utilização do interrogador IFF no tempo da tomada de decisão dos pilotos de F-5M, durante as missões de combate BVR. Por meio do estudo, será possível mensurar a influência do equipamento no tempo da tomada de decisão em missões de combate BVR, diminuindo o tempo de reação, com a correta identificação da aeronave engajada, assim como, na tomada de decisão quanto ao emprego do armamento e aumento da segurança das operações com a correta identificação das aeronaves aliadas e inimigas, minimizando ao máximo a ocorrência de eventuais fratricídios.

II - REVISÃO DE LITERATURA A introdução do IFF está associada ao início do emprego do radar na Segunda Guerra Mundial. O primeiro sistema operacional foi patenteado por Watson-Watt em 1939. Apesar da inovação, o modelo contava com muitos problemas de ajuste. Mas foi com a introdução do sistema Mark III, em 1940, que foi introduzido um sistema universal de interrogação. Os Aliados lutaram a guerra utilizando o sistema Mark III [3]. O IFF utilizado atualmente é um sistema de dois canais, que utiliza uma frequência (1030 megahertz) para os sinais de interrogar e uma outra (1090 megahertz) para os de responder, conforme Figura 2.

Figura 2 - Modo de operação IFF

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O equipamento IFF pode ser utilizado de duas maneiras [3]: • Prover uma cobertura de 360° com o objetivo de ser capaz de responder as interrogações e receber as informações das aeronaves amigas. • Ser utilizado em conjunto com um sensor radar primário para ser capaz de identificar alvos no escaneamento radar. O sistema geralmente possui quatro modos de operação, sendo dois para utilização em aeronaves civis e militares e dois para utilização militar apenas. O Modo 1 é utilizado em operações militares e serve para determinar qual o modelo de aeronave e qual a missão executada. O Modo 2 mostra a matrícula (tail number) da aeronave. O Modo 3/A é o modo padrão dos serviços de controle aéreo. Sua utilização é mundial e é utilizado em conjunto com o Modo C que emite a altimetria da aeronave. O modo 4 provê identificação criptografada das aeronaves amigas [4]. Para efeito de interrogação, com o intuito de identificar uma aeronave, são utilizados principalmente os modos 1 e 4. O modo 1 é um código de 2 dígitos, combinado previamente à missão e inserido pelo piloto, e o modo 4 é utilizado em tempo de guerra, que assegura uma maior confiabilidade ao processo de identificação e classificação de alvos. Apesar de utilizarem as mesmas frequências, os diferentes modos utilizam diferentes espaçamentos (Intervalo de Repetição de Pulsos - IRP), conforme Figura 3.

Figura 3 - Frequência Modos IFF [3]

A utilização deste equipamento permite que, instantaneamente, seja realizada a Identificação Eletrônica (Electronic Identification - EID), e que o vetor de defesa aérea verifique se o alvo iluminado pelo seu radar aeroembarcado é amigo ou inimigo.

III - METODOLOGIA A pesquisa experimental foi realizada por meio de uma missão no simulador de voo da aeronave

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F-5M. O voo simulado teve como participantes, 12 pilotos operacionais em missões de combate BVR na aeronave F-5M, e utilizou como cenário tático uma missão de Defesa Aérea, conforme figura abaixo:

Figura 4 - Posicionamento das aeronaves no experimento

Preliminarmente, percebeu-se que, em virtude do experimento averiguar uma tarefa simples e cotidiana do piloto em missões de combate BVR, no caso a identificação positiva do alvo, não houve relação perceptível entre o nível de experiência dos pilotos (quantidade de horas de voo de F-5M, qualificação operacional em missões de combate BVR e quantidade de missões realizadas nesse tipo de missão) e o desempenho para identificar a aeronave inimiga, realizar as Threat Reactions e efetuar o lançamento do míssil ativo. Após adquirir o contato radar da aeronave, o piloto analisa a matriz de identificação de duas formas: se a aeronave for amiga, o lançamento será abortado; se for inimiga, será efetuado o disparo do míssil. Os pilotos, quando realizando uma missão de combate BVR, devem possuir total consciência de que o alvo adquirido no radar é realmente inimigo, sob pena de efetuar um lançamento de um míssil em aeronave amiga ou deixar de lançar o armamento no oponente por não ter certeza dessa classificação. Para comparar o tempo gasto na identificação positiva de uma aeronave, durante uma missão de combate BVR, com e sem a utilização do interrogador IFF, foram coletados os tempos de cada piloto nas duas situações acima citadas.

IV - RESULTADOS Para comparar o tempo gasto na identificação positiva de uma aeronave, durante uma missão de combate BVR, com e sem a utilização do interrogador IFF, foram coletados os tempos de cada piloto nas duas situações acima citadas. A Figura 4 mostra o tempo com e sem a utilização do IFF. A letras A até L representam os 12 pilotos que participaram do experimento.

Figura 4 - Tempo das interceptações

A Figura 5 mostra o Box-Plot dos tempos das interceptações.

mísseis ativos, foram desconsiderados os lançamentos abaixo de 15NM, pois a essa distância, conforme definido nas orientações do voo simulado, o piloto deveria realizar uma manobra defensiva, que impossibilitaria o lançamento do míssil pelo piloto. Dos doze pilotos que participaram do experimento, cinco não conseguiram realizar o lançamento do míssil, o que corresponde a 41,67% do total. Isso ocorreu em virtude da necessidade de utilização do tempo para realizar a identificação positiva do alvo sem a utilização do interrogador IFF, dependendo das informações do controlador. Percebe-se ainda que foram gastos, nesses cinco lançamentos, mais de 10 NM para a correta identificação do alvo, uma vez que inicialmente, as aeronaves estavam separadas a uma distância de 25 NM. Ao fazer um paralelo entre o tempo de resposta dos pilotos, percebe-se que o equipamento traz celeridade à identificação dos alvos em uma atividade em que o tempo é fator crítico.

V - CONCLUSÕES

Figura 5 - Box-Plot do tempo das interceptações

Após análise, percebe-se que a média do tempo gasto para realizar a identificação positiva do alvo sem a utilização do interrogador IFF foi de aproximadamente 42 segundos, com um desvio padrão de 9,87 segundos, ao passo que, com a utilização do interrogador IFF, a média foi de 19,75 segundos, com um desvio padrão de 7,5 segundos. Portanto, a identificação da aeronave com a utilização do interrogador IFF se deu, em média, 53,07% mais rápida do que sem a utilização do equipamento. A fim de verificar como a influência do tempo, na identificação positiva de uma aeronave, durante uma missão de combate BVR, com e sem a utilização do interrogador IFF, pode afetar os lançamentos de mísseis ativos, foram analisados os dados dos lançamentos de mísseis realizados no simulador de voo, verificando se seria possível realizar o lançamento após a identificação positiva da aeronave inimiga, cumprindo as threat reaction. Foi utilizado como pressuposto durante o experimento que o piloto não poderia se expor ao armamento inimigo. Desta forma, como todos os pilotos estavam voando a aeronave carregada com

A aeronave F-5M, após a sua modernização, incorporou diversos equipamentos e armamentos que a permitem realizar missões complexas de combate BVR, aumentando a consciência situacional dos pilotos, como o radar de bordo, o RWR e o Datalink. Além desses sistemas, o interrogador IFF tem importância primordial em missões de combate BVR, aumentando bastante a capacidade do piloto de compreender o que ocorre ao seu redor, a fim de subsidiar sua decisão. O presente trabalho buscou analisar em que medida a utilização do interrogador IFF influencia no tempo da tomada de decisão dos pilotos de F-5M, durante missões de combate BVR. Os dados coletados no experimento demonstraram que a média de tempo gasta pelos pilotos para realizar a identificação positiva do alvo sem a utilização do interrogador IFF foi de aproximadamente 42 segundos, ao passo que, com a utilização do interrogador IFF, a média foi de pouco menos de 20 segundos. Portanto, a identificação da aeronave com a utilização do interrogador IFF se deu, em média, 53,07% mais rápido do que sem a utilização do equipamento. Além disso, os dados coletados demonstraram que 41,67% dos pilotos não conseguiram realizar o lançamento do míssil. A impossibilidade de lançamento de mísseis ativos no experimento deu-se em virtude da necessidade de utilização do tempo para realizar a identificação positiva do alvo sem a utilização do interrogador IFF, dependendo das informações do controlador.

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Os dados supracitados mensuram a influência do interrogador IFF no tempo para a identificação positiva da aeronave alvo, além da influência que o tempo na identificação do alvo tem nos lançamentos de mísseis ativos. Os resultados mostraram que o Interrogador IFF influencia no tempo de tomada de decisão. As ações tomadas pelos pilotos, em uma missão de combate BVR, dependem de uma correta e rápida construção da consciência situacional, que dará suporte a tomada de decisão do piloto. Por fim, o Interrogador IFF demonstrou trazer celeridade à construção da consciência situacional pelo piloto, influenciando no tempo da tomada de decisão, se mostrando ferramenta fundamental para o cumprimento das missões de Defesa Aérea e, consequentemente, contribuindo como a missão-síntese da

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Força Aérea Brasileira, de “manter a soberania do espaço aéreo nacional com vistas à defesa da pátria”.

REFERÊNCIAS [1] BRASIL. Comando da Aeronáutica. Doutrina Básica da Força Aérea. DCA 1-1. Brasília, DF, 2012. [2] BOWDEWN, L. The story of IFF (identification friend or foe). Physical Science, Measurement and Instrumentation, Management and Education-Reviews. IEE Proceedings A, v.132, n.6, p.435-437, 1985. [3] MOIR, I. SEABRIDGE, A. Military Avionics Systems. Wiley. 2006. [4] OTAN. Organização do Tratado do Atlântico Norte. IFF Operacional Procedures. 2014.

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