Influências das Compreensões de Pesquisadores sobre Sustentabilidade Ambiental e Possíveis Implicações na Formação Inicial de Professores de Química

July 22, 2017 | Autor: Leonardo Marcelino | Categoria: Clustering and Classification Methods, Desenvolvimento sustentavel, Termodinamica
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Divisão de Ensino de Química da Sociedade Brasileira de Química (ED/SBQ) Departamento de Química da Universidade Federal de Ouro Preto (DEQUI/UFOP)

Formação de professores (FP)

Influências das Compreensões de Pesquisadores sobre Sustentabilidade Ambiental e Possíveis Implicações na Formação Inicial de Professores de Química Leonardo Victor Marcelino1⌘* (PG), Leila Cristina Aoyama Barbosa1⌘ (PG), Aniara Ribeiro Machado1⌘ (PG), Franciani Becker Roloff1⌘ (PG), Gustavo Gaciba da Silva1⌘ (PG), Raphael Rodrigues Costa1⌘ (PG), Carlos Alberto Marques1 (PQ). 1



Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-graduação em Educação Científica e Tecnológica, Departamento de Metodologia de Ensino, 88040-910 - Florianópolis (SC), Brasil. [email protected] Palavras-Chave: Termodinâmica, Desenvolvimento Sustentável, Análise de Cluster.

RESUMO: O trabalho apresenta uma análise qualitativa dos resultados de uma pesquisa realizada com 81 pesquisadores do CNPq, Área Química, nível 1 (A, B, C, D) no âmbito de suas compreensões envolvendo o desenvolvimento sustentável e a sustentabilidade ambiental, e possibilidade de alcance destes. Na pesquisa empregou-se um questionário fechado – contendo afirmações em grau de concordância – e a técnica metodológica de Análise de Cluster a qual indicou a formação de subgrupos por semelhança nas respostas. Identificou-se que a maioria dos pesquisadores químicos concordam com a definição-conceito de desenvolvimento sustentável presente no Relatório Brundtland, apresentam uma visão de meio ambiente como sendo um recurso e pouco consideram os limites termodinâmicos ao alcance da sustentabilidade ambiental, em suas respostas. Muitos destes pesquisadores atuam diretamente na formação inicial de novos químicos, portanto contribuindo para a manutenção de compreensões ainda pouco reflexivas sobre sustentabilidade ambiental.

INTRODUÇÃO Desde a segunda metade do século XX, a comunidade científica vem discutindo sobre a existência de uma crise ambiental no planeta por conta das atividades antrópicas (PINHEIRO, 2013). A bióloga Rachel Carson se destacou como uma das primeiras pesquisadoras a se atentar aos grandes impactos ao meio ambiente ocasionados pelo intenso uso de produtos químicos (agrotóxicos) nas plantações americanas e divulgar tal fato no livro Silent Spring (1962). Dez anos depois foi publicado o relatório The Limits to Growth (MEADOWS, 1972), encomendado pelo Clube de Roma, que fazia previsões de possíveis cenários para a humanidade a partir dos crescimentos demográfico e econômico e do uso dos recursos naturais e fontes de energia. A partir de então muitas conferências ocorreram com a finalidade de traçar metas para a conservação do meio ambiente, considerando as atividades antrópicas e parâmetros ao crescimento econômico. Em 1987, no Relatório Our Future Commom (WCED, 1987), também conhecido como Relatório Brundtland, foi utilizado pela primeira vez o termo desenvolvimento sustentável (DS) consagrado como algo que poderia ser alcançado a partir do equilíbrio na relação entre economia e meio ambiente, por meio do uso racional e parcimonioso dos recursos naturais como modo a garantir desenvolvimento sem comprometer as necessidades das gerações futuras. Desde então o termo é empregado mundialmente nos meios políticos, empresariais, pela mídia e tornou-se senso comum como modo de assegurar a tutela ambiental. No entanto, autores tem criticado a compreensão do conceito de DS divulgado no Relatório Brundtland (LAYRARGUES, 1998; LOUREIRO, 2012) e outros questionam a possibilidade física deste alcance, quando vislumbrado pela Segunda Lei da Termodinâmica (MARQUES; MACHADO, 2013), neste caso baseado nos escritos de XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014.

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Georgescu-Roegen (2012). Este matemático romeno analisa as teorias econômicas a partir de fundamentos básicos das ciências naturais, principalmente dos da física termodinâmica e afirma que "o processo econômico, do ponto de vista puramente físico, não faz mais do que transformar recursos naturais de valor (baixa entropia) em resíduos (alta entropia)" (p. 62). Desse modo, reconhecendo a finitude dos recursos naturais e energéticos não temos como alcançar uma sustentabilidade física para as gerações futuras nos moldes de consumo atuais, pois cada vez mais estamos esgotando estas fontes de recursos. Acrescenta-se que, por tal inexorável motivo, não é possível acreditar que as inovações tecnológicas (ecoeficiência1) defendida pela economia verde – vertente que busca articular as questões econômicas com o desenvolvimento sustentável – sejam capazes de solucionar o problema da crise ambiental. Concordando com tais pressupostos, defendemos aqui a ideia sobre a dimensão intertemporal da sustentabilidade ambiental (SA) (MARQUES; MACHADO, 2013), que a situa enquanto uma construção sócio-histórica, orientada por uma busca incessante, inalcançável e inevitável que a humanidade terá que trilhar em um planeta finito, caso a opção seja de fato a vida da espécie e não somente a do individuo atual. Aspectos que implicam numa revisão profunda do modelo atual de desenvolvimento socioeconômico. Neste cenário de desafios, há de se considerar o papel da ciência Química, afinal ela é reconhecida como uma área que manipula a transformação da matéria, e dessa forma se relaciona diretamente com as questões ambientais e industriais. Karpudewan, Ismail e Roth (2012) consideram de suma importância que os futuros professores de Química tenham uma base sólida de conhecimentos químicos capazes de se articular e discutir questões ambientais em sala de aula. E Geiger e Donohoe (2012) acreditam que buscar por processos químicos mais limpos (como a redução de uso de solventes orgânicos ou reagentes tóxicos ao meio ambiente), conforme propõe a Química Verde (QV), é um excelente modo de abordar questões ambientais no curso de Química e favorecer a ampliação da consciência dos futuros químicos, considerando-se aqui também os futuros professores de Química, sobre os efeitos nocivos dos reagentes químicos ao ambiente. Desse modo, com vistas a identificar possíveis interligações entre DS, SA – incluindo a possibilidade de alcance destes -, argumenta-se o quanto as ciências da natureza, dentre elas a Química (Verde), podem atuar nesse importante e urgente tema, além de discutir o seu reflexo na formação de professores de Química, o presente trabalho apresenta resultados de uma pesquisa realizada com pesquisadores químicos que responderam a um questionário sobre o tema da sustentabilidade ambiental. O grupo é representado por pesquisadores do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), Área Química, nível 1 (A, B, C, D). As compreensões relativas ao significado e ao alcance dos termos SA e DS destes pesquisadores podem influenciar diretamente nas compreensões desenvolvidas pelos profissionais químicos em formação, sejam eles licenciandos ou bacharelandos, pois os entendimentos dos pesquisadores do CNPq estão presentes em seus artigos, de

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A ecoeficiência é um conceito oriundo da gestão empresarial e em prol do desenvolvimento econômico que visa “fazer mais com menos” (WEIZSACHER et al, 2009 apud LÉNA, 2012). A aplicação desse conceito pelas empresas visa a utilização de recursos naturais de maneira parcimoniosa e com pouca geração de impactos ambientais, porém alcançando os objetivos de produção e de qualidade de produtos. Para atingir tal objetivo existe a forte crença no poder da ciência e da tecnologia para a geração de inovações tecnológicas. XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014.

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modo a circular entre a comunidade científica e acadêmica da área, além destes sujeitos também serem os professores formadores destes futuros profissionais. METODOLOGIA Essa pesquisa caracteriza-se como qualitativa visto que busca enfatizar mais o processo do que o produto. Temos o ambiente natural como fonte de informação, de modo que os dados coletados são analisados utilizando-se o pesquisador como instrumento e o significado que os pesquisados atribuem ao tema como foco principal de nossa pesquisa (LUDKE; ANDRÉ, 1986). Esta investigação refere-se e dialoga com os resultados quantitativos de uma pesquisa anterior reportada por Marques e colaboradores (MARQUES et al, 2013), que teve como universo amostral 456 pesquisadores nível 1 (A, B, C, D) do CNPq, como referido anteriormente. Por meio de uma carta-convite e de um link de acesso, a pesquisa obteve a resposta de 81 pesquisadores ao questionário2 de pesquisa (18% de retorno) com nove questões de múltipla escolha (em escala Likert – grau de concordância) divididas em quatro blocos: 1) definição conceitual de desenvolvimento sustentável (conforme o Relatório Brundtland); 2) definição conceitual de sustentabilidade ambiental quanto à sua amplitude; 3) relação entre os fenômenos químicos e a sustentabilidade ambiental; e 4) compreensões sobre os paradigmas clássicos da Química (risco e diluição) e a sinalização de um “paradigma ecológico” (THORNTON, 2000). ANÁLISE DE CLUSTER Em busca de agrupar os pesquisadores com base em suas respostas ao questionário, aplicou-se uma técnica de Análise Multivariada de Agrupamento Hierárquico (conglomerados ou Cluster), de forma exploratória e semiqualitativa, objetivando classificar sujeitos o mais próximo possível entre si dentro de um grupo, e este o mais distante possível de outros agrupamentos, sendo útil para detectar a percepção de conjuntos de sujeitos sobre temáticas educativas (COUTINHO, 2008; COHEN et al, 2003; STEVENS, 2009), bem como da área ambiental (SCATENA, 2005). Usou-se o programa Statistical Pack for Social Science (SPSS, 21ª versão) da IBM para a análise de agrupamentos hierárquicos, a programação de aglomeração e o método de Ward em conjunto com distância euclidiana quadrada. Buscando validar os resultados iniciais obtidos. Repetiu-se a análise dos dados com outro programa (Action, versão 2.4.163.322) e obtiveram-se os mesmos resultados. Por outro lado, para uma adequação das respostas do questionário à escala Likert, fizeram-se as seguintes relações: 1 = muito em desacordo; 2 = em desacordo; 3 = indiferente; 4 = de acordo; e 5 = muito de acordo. Entretanto, para as questões 5A e 5B, assim se relacionou: 5 = muito; 4 = pouco; 3 = indiferente; 2 = nenhuma; e 1 = não se relaciona (as razões para isto, ver mais abaixo em Resultados). Esse tipo de análise gera um gráfico chamado dendrograma, plotando os casos (pesquisados) versus a distância euclidiana relativa entre suas respostas. Quanto mais próximo de zero, menor a distância entre os casos e, portanto, maior a similaridade entre suas compreensões. Quanto maior a distância, maior o afastamento entre os grupos. Convenciona-se que a uma mudança abrupta de distâncias deva ser o fator decisivo para a separação de agrupamento, com o auxílio de teorias que possam 2

O questionário utilizado se encontra no material suplementar do artigo de MARQUES et al. Sustentabilidade Ambiental: Um Estudo com Pesquisadores Químicos no Brasil. Química Nova, v. 36, n. 6, p. 914-920, 2013. XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014.

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auxiliar na divisão. Embora a técnica de Cluster recomende um número mínimo de 25 casos para se considerar uma análise mais segura, operou-se com o número de 15, o que não diminui a confiabilidade dos agrupamentos, já que essa foi comparada com análises das respostas dos questionários e com a produção científica dos pesquisados, ou seja, apoiou-se numa teoria que embasasse os agrupamentos formados, conforme recomenda essa metodologia analítica (COHEN et al, 2003; STEVENS, 2009). O foco da análise corresponde às respostas às questões de 1 a 5 do questionário (configuradas como blocos 1, 2 e 3, em sua totalidade), por se referirem mais diretamente às compreensões de SA e DS, bem como suas relações com a termodinâmica. As demais questões não foram analisadas neste momento, pois tratavam de aspectos ligados às implicações à Química dos paradigmas de risco e da diluição. RESULTADOS Pela análise do dendrograma (Fig. 1) e a comparação com as respostas ao questionário, foi possível separar os 81 pesquisadores em oito grupos (G), cuja constituição se encontra no Quadro 1. A formação destes agrupamentos é demonstrada pelas “ramificações” à esquerda da linha tracejada próxima a distância relativa cinco (Fig. 1): G1: Está de acordo com a definição-conceito de Brundtland ser suficiente e eficiente e em desacordo que seja vaga e contraditória. Está de acordo que o DS abarca as dimensões biológica, econômica, sociológica, de planejamento, social e de ética ambiental (todas apresentadas no questionário). Indiferente quanto ao estado de equilíbrio dinâmico em que as mudanças se cancelam mutuamente, mas está de acordo com o uso condicional de recursos para mantê-lo, estando indiferentes quanto a limitação temporal, local e pela taxa de renovabilidade, mas de acordo com a limitação dinâmica pelo nível de retroalimentação. Indiferente quanto a possibilidade de ultrapassar as limitações pelo desenvolvimento tecnológico e a transformação das causas de problemas ambientais em riquezas. Considera que há muita relação entre SA e limitação termodinâmica, como também entre os efeitos da degradação energética para a SA. G2: Está em desacordo com a suficiência e eficiência da definição-conceito apresentada e indiferente quanto a ser vaga ou contraditória. Está de acordo com todas as dimensões de DS apresentadas. Indiferente quanto ao equilíbrio dinâmico com mudanças mutuamente canceláveis, mas de acordo com o uso condicional, delimitado temporalmente, localmente e pela renovabilidade, para a manutenção desse equilíbrio, bem como de acordo com uma limitação pela retroalimentação. Estão indiferentes quanto a superação das limitações pela tecnologia, mas de acordo com a possibilidade de transformar causas de problemas ambientais em riquezas. Considera pouca relação entre SA e limitação termodinâmica, bem como pouco efeito da degradação energética na SA. G3: Está muito de acordo com a definição-conceito de Brundtland ser suficiente, de acordo que seja eficiente e em desacordo que seja vaga e contraditória. Está muito de acordo com todas as dimensões de DS apresentadas. Indiferente quanto ao equilíbrio dinâmico com mudanças mutuamente canceláveis, mas de acordo com o uso condicional, delimitado temporalmente, localmente e pela renovabilidade, para a manutenção desse equilíbrio, bem como de acordo com uma limitação pela retroalimentação. Está de acordo com a possibilidade de usar a tecnologia para superar essas limitações e com o uso do princípio de conservação de massa para XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014.

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transformar causas de problemas em riquezas. Vê pouca relação entre SA e termodinâmica, considerando pouco os efeitos que esta tem sobre a SA.

G1

G2

GA

G3

G4

G5 G6

GB G7

G8

Figura 1: Dendrograma de agrupamento dos pesquisadores conforme entendimento sobre sustentabilidade. XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014.

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G4: De acordo que a definição-conceito seja suficiente e eficiente e em desacordo que seja vaga e contraditória. Muito de acordo com as dimensões biológica, sociológica e ética ambiental, sendo indiferentes econômica, de planejamento e social. Está de acordo quanto: ao equilíbrio dinâmico com mudanças mutuamente canceláveis; com o uso condicional, delimitado temporalmente, localmente e pela renovabilidade, para a manutenção desse equilíbrio; e com a existência de uma limitação na retroalimentação. Está de acordo com a possibilidade de usar a tecnologia para superar essas limitações e com o uso do princípio de conservação de massa para transformar causas de problemas em riquezas. Vê pouca relação entre SA e termodinâmica, considerando pouco os efeitos que esta tem sobre a SA. Quadro 1: Agrupamento dos pesquisadores conforme os grupos de análise. Fonte: os autores.

PESQUISADORES

Grupos:

G1

G2

G3

G4

G5

G6

G7

G8

P08

P20

P01

P13

P02

P16

P23

P04

P09

P32

P03

P26

P24

P58

P44

P05

P10

P35

P07

P27

P66

P65

P11

P46

P14

P28

P15

P12

P62

P19

P30

P17

P36

P70

P21

P34

P17

P37

P82

P29

P51

P22

P38

P31

P53

P25

P39

P40

P61

P33

P42

P45

P74

P41

P47

P67

P43

P50

P78

P48

P06

P56

P49

P57

P52

P63

P54

P68

P55

P69

P59

P72

P60

P75

P64

P76

P71 P73 P77 P79 P80 P81

G5: De acordo que a definição-conceito seja suficiente e eficiente e indiferente quanto ela ser vaga e contraditória. Em desacordo com todas as dimensões apresentadas. Indiferente quanto ao equilíbrio dinâmico com mudanças mutuamente canceláveis, mas de acordo com o uso condicional e indiferente a limitação a esse uso temporalmente, localmente e pela renovabilidade, para a manutenção desse equilíbrio; XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014.

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e indiferente quanto a uma limitação pela retroalimentação. Em desacordo com a possibilidade de usar a tecnologia para superar essas limitações e indiferente com o uso do princípio de conservação de massa para transformar causas de problemas em riquezas. É indiferente: quanto à limitação termodinâmica à sustentabilidade e à extensão da degradação imposta. G6: De acordo que a definição-conceito seja suficiente e eficiente e indiferente quanto ela ser vaga e contraditória. Em desacordo com todas as dimensões apresentadas. Em desacordo com a possibilidade de equilíbrio dinâmico com mudanças mutuamente canceláveis, mas de acordo com o uso condicional, delimitado temporalmente, localmente e pela renovabilidade, para a manutenção desse equilíbrio; e de acordo com a existência de uma limitação pela retroalimentação. Em desacordo com a possibilidade de usar a tecnologia para superar essas limitações e indiferente com o uso do princípio de conservação de massa para transformar causas de problemas em riquezas. Vê muita relação entre SA e termodinâmica, considerando que são muitos os efeitos que esta tem sobre a SA. G7: Muito em desacordo que a definição-conceito seja suficiente e eficiente e muito de acordo que ela seja vaga e contraditória. Muito de acordo com as dimensões biológica, sociológica e ética ambiental, muito em desacordo com a dimensão econômica e em desacordo com as de planejamento e social. Indiferente com a possibilidade de equilíbrio dinâmico com mudanças mutuamente canceláveis; em desacordo com o uso condicional de recursos para manter o equilíbrio, mas muito de acordo com delimitação do uso condicional temporalmente, localmente e pela renovabilidade; mas muito de acordo com a existência de uma limitação pela retroalimentação. Em desacordo com a possibilidade de usar a tecnologia para superar essas limitações e muito em desacordo com o uso do princípio de conservação de massa para transformar causas de problemas em riquezas. Crê que não exista nenhuma relação entre SA e termodinâmica, considerando que não há nenhuma relação entre os efeitos desta sobre a SA. G8: De acordo que a definição-conceito seja suficiente e eficiente e indiferente quanto ela ser vaga e contraditória. Indiferente quanto à dimensão social, mas de acordo com todas as outras. Em desacordo com a possibilidade de equilíbrio dinâmico com mudanças mutuamente canceláveis, mas de acordo com o uso condicional, delimitado temporalmente, localmente e pela renovabilidade, para a manutenção desse equilíbrio; e indiferente quanto à existência de uma limitação pela retroalimentação. De acordo com a possibilidade de usar a tecnologia para superar essas limitações e indiferente quanto ao uso do princípio de conservação de massa para transformar causas de problemas em riquezas. Também acredita que não exista nenhuma relação entre SA e termodinâmica, considerando que não há nenhuma relação entre os efeitos desta sobre a SA. Ao analisar na Fig. 1 as “ramificações” à esquerda da linha tracejada na distância 15, percebe-se a formação de dois grandes grupos (GA e GB), que só se juntam em uma distância máxima de 25 – indicando grande afastamento. A constituição destes dois grandes grupos encontra-se descrita no Quadro 2. No geral, ambos, concordam com a eficiência e suficiência do conceito de Brundtland. Enquanto GA beira a discordância quanto ao caráter vago e contraditório dessa definição-conceito, GB é indiferente a essa questão. Sobre a superação da limitação do uso dos recursos naturais por desenvolvimento tecnológico, GA se divide entre a indiferença ou concordância com essa possibilidade, aproximando-se de uma visão salvacionista pela ciência e tecnologia. Essa visão é corroborada pela concordância de GA com a possibilidade ofertada pela Lei da Conservação da Matéria XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014.

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(proposta por Lavoisier) de transformar causas de problemas ambientais em riqueza e bem-estar social. Por outro lado, GB tende a discordar da visão salvacionista – de que o desenvolvimento tecnológico propiciará romper com as limitações à disponibilidade de recursos – e tendem à indiferença quanto a possibilidade de transformar causas de problemas ambientais em riquezas. Quadro 2: Composição dos grandes grupos formados com base na consideração dos aspectos termodinâmicos. Fonte: os autores.

Grupo GA

GB

Pesquisadores P01, P03, P07, P08, P09, P10, P11, P12, P13, P14, P19, P20, P21, P28, P29, P30, P31, P32, P34, P35, P36, P37, P38, P39, P40, P42, P47, P50, P51, P53, P56, P57, P61, P62, P63, P67, P68, P69, P70, P75, P76, P78, P82 P23, P02, P04, P05, P06, P15, P16, P17, P17, P22, P24, P25, P33, P44, P48, P49, P52, P54, P55, P58, P59, P60, P64, P65, P66, P71, P79, P80, P81

P26, P27, P45, P46, P72, P74, P41, P43, P73, P77,

Entretanto, entende-se que a diferença primordial entre os dois grupos é a visualização da limitação termodinâmica para o alcance da sustentabilidade. GA foi o que mais se aproximou dessa visão crítica da SA, ainda que só tenha vislumbrado pouca relação entre termodinâmica e sustentabilidade. GB apresentou posições contrárias a essas relações, negando-as, e considerando que não há interferência termodinâmica na sustentabilidade. Há uma contradição nos perfis dos dois grupos. GA concorda com a definiçãoconceito de Brundtland e é mais enfático em rechaçar as críticas ao “Relatório”, entretanto, é o grupo que também concorda com a existência de uma limitação termodinâmica para o alcance da sustentabilidade (uma crítica à própria definição que tinham aceito no início). Não obstante, apresentam uma visão que tende ao salvacionismo tecnológico, um olhar para a realidade que calca o otimismo na imagem positivista e linear da ciência e tecnologia. Já GB se apresenta mais cauteloso. Aceita a definição-conceito do “Relatório”; é indiferente às suas críticas. Esse grupo não enxerga a limitação da “Segunda Lei” à SA, portanto, sua definição-conceito é possível. Mas eles discordam que a eficiência tecnológica seja responsável por romper com as limitações ao alcance de um equilíbrio (sustentável) e também da possibilidade de transformar os problemas ambientais em riquezas, ainda que concordem que o uso condicional de recursos deva ser feito. Para GB, falta entender quais os fatores que possibilitam a emergência da sustentabilidade. GA se aproxima de um posicionamento quase ufanista sobre a tecnologia, baseando-se em mitos sobre a atividade científico-tecnológica, como o salvacionismo (AULER, 2002). GB parece corroborar para uma visão mais cautelosa, talvez até pessimista: há dificuldades, condicionantes para a sustentabilidade, mas não existem alternativas (além daquelas científicas, ou melhor, disponibilizadas pela abordagem descontextualizada e materialista da metodologia científica) para solucionar os problemas. Essa posição de “nenhuma alternativa” está também baseada em uma consideração deturpada dos valores da ciência, considerações irreais da neutralidade, objetividade e imparcialidade da atividade científico-tecnológica (LACEY, 2006). CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Os resultados da pesquisa apontam que, com exceção de G2 e G7, todos os grupos de pesquisadores apresentam algum grau de concordância com a definiçãoconceito de DS presente no Relatório Brundtland. Menos de um quarto dos entrevistados (representados por G4, G5, G6 e G7) manifestam indiferença ou discordam que o DS abarque a dimensão econômica, sendo, assim, contraditórios em suas respostas, uma vez que a definição-conceito de DS oriunda do Relatório Brundtland intenciona a conciliação entre questões econômicas e meio ambiente. Em relação ao uso condicional de recursos renováveis, todos os pesquisadores entrevistados, com exceção de G7, manifestam-se favoráveis a tal fato, comprovando, conforme aponta Zuin (2008), que os membros da comunidade química ainda se encontram muito ligados a uma visão preservacionista/recursionista do ambiente. Além disso, talvez pela função do profissional químico na transformação da matéria, é possível notar que grande parte dos pesquisadores entrevistados, inclusive os pertencentes ao G8 (maior agrupamento dentre todos), também parecem expressar certa crença de que, por si só, a ciência e tecnologia poderá solucionar problemas ambientais causados pelo avanço tecnológico, o que pode estar relacionado à formação que esses tiveram. Ainda observando os resultados encontrados na investigação, verifica-se que alguns pesquisadores químicos parecem desconsiderar, em suas respostas, aspectos relacionados aos limites da sustentabilidade ambiental e da termodinâmica, principalmente os pertencentes aos grupos G5, G7 e G8. A "ausência" de um olhar mais crítico sobre os limites (físicos ou termodinâmicos) ao alcance da SA é algo que não surpreende, como evidenciaram Marques e Machado (2013) ao analisar as produções científicas dos chamados precursores da QV. Vale ressaltar que as respostas ao questionário expressaram uma visão individual, mas que é influenciada pelo contexto histórico-social nos quais os pesquisadores estão inseridos. Dessa maneira, questiona-se sobre quais as concepções de sustentabilidade ambiental e de interações sociedade-ambiente estes pesquisadores ao atuarem como formadores de profissionais químicos podem estar disseminando? Julgamos que tais discussões que concernem à SA e aos limites termodinâmicos são importantes de serem consideradas nas pesquisas e práticas desenvolvidas pelos pesquisadores químicos, tendo em vista os princípios que regem o desenvolvimento de uma química (mais) verde, em que esta é "desafiada a rever muito de seus modelos teórico-práticos, com o fito de produzir alternativas científicas e tecnológicas que tenham em consideração a prevenção ambiental" (MARQUES et al, 2013, p.914). Esses modelos teórico-práticos dos pesquisadores-bolsistas podem refletir na maneira como os formadores compreendem os licenciandos. Desvelar essas compreensões tem o sentido de problematizar a formação e as ações futuras do professor. Busca-se, com isso, a formação de professores mais críticos e comprometidos com o desenvolvimento de uma sociedade mais igualitária e democrática, que está inserida num sistema em que Ciência e Tecnologia desenvolvem-se cada vez mais rápido. Também acreditamos que as discussões e resultados de pesquisas que envolvem SA, DS e QV, podem ser mais bem trabalhados em disciplinas do currículo de cursos de licenciatura e bacharelado em química. Tal abordagem não deve ser somente de forma conceitual, mas também de modo a incitar reflexões e questionamentos sobre os problemas que envolvem a crise ambiental no planeta por conta das atividades antrópicas. Nesse sentido, os alunos de graduação podem tornar-

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se mais críticos em relação ao tema e consequentemente educar cidadãos com atitudes/reflexões mais elaboradas sobre os assuntos aqui discutidos. A análise do dendrograma e respostas dos pesquisadores-bolsistas possibilitou uma análise de posicionamentos, de certa forma, compartilhados entre os pesquisadores. Entretanto, restam ainda questionamentos sobre o entendimento desses sujeitos sobre a sustentabilidade, principalmente decorrentes da contradição notada nas falas dos grupos GA e GB. Assim, faz-se necessária uma investigação mais aprofundada sobre as compreensões desses sujeitos sobre sustentabilidade ambiental, buscando as bases e os referenciais teóricos de seus posicionamentos, bem como o que se tem concretizado na sua produção acadêmica (o que permite um vislumbrar do espalhamento de suas ideias pelo meio científico). Essas são indicações de pesquisas em andamento no Grupo de Investigação no Ensino da Química, pertencente à Universidade Federal de Santa Catarina (GIEQ/UFSC) e que serão compartilhadas em publicações futuras. REFERÊNCIAS AULER, D. Interações entre Ciência-Tecnologia-Sociedade no Contexto da Formação de Professores de Ciências.Tese de Doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil, 2002. Doutorado em Educação. CARSON, R. Silent Spring. Boston: Houghton Mifflin, 1962. COHEN, J.; COHEN, P.; WEST, S. G.; AIKEN, L. S. Applied Multiple Regression/Correlation Analysis for the Behavioural Sciences, 3th ed., Lawrence Erlbaum Associates: Mahwah, NJ, 2003. COUTINHO, C.P. Estudos correlacionais em educação: potencialidades e limitações. Psicologia Educação e Cultura, v.12, n. 1, 143-169, 2008. GEIGER, H. C.; DONOHOE, J. S. Green oxidation of menthol enantiomers and analysis by circular dichroism spectroscopy: an advanced organic chemistry laboratory. J. Chem. Educ, v. 89, p. 1572−1574, 2012. GEORGESCU-ROEGEN, N. O decrescimento: entropia, ecologia, economia. São Paulo: Editora Senac, 2012. KARPUDEWAN, M.; ISMAIL, Z.; ROTH, W.M. Fostering pre-service teachers’ selfdetermined environmental motivation through green chemistry experiments. J Sci Teacher Educ, v. 23, p. 673–696. 2012. LACEY, H. O princípio de precaução e a autonomia da ciência. Scientiæ Studia, v. 4, p. 373-392. 2006. LAYRARGUES, P. P. A cortina de fumaça: o discurso empresarial verde e a ideologia da racionalidade econômica. São Paulo: Annablume, 1998. LÉNA, P. Os limites do crescimento econômico e a busca pela sustentabilidade: uma introdução ao debate. In: LÉNA, P.; NASCIMENTO, E. P. do (Orgs). Enfrentando os

XVII Encontro Nacional de Ensino de Química (XVII ENEQ) Ouro Preto, MG, Brasil – 19 a 22 de agosto de 2014.

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limites do crescimento: sustentabilidade, decrescimento e prosperidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2012, p. 23-44. LOUREIRO, C. F. B. Sustentabilidade e Educação: um olhar da ecologia política. São Paulo: Cortez, 2012. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986. MARQUES, C. A.; GONÇALVES, F. P.; YUNES, S. F.; MACHADO, A. S. C. Sustentabilidade Ambiental: Um Estudo com Pesquisadores Químicos no Brasil. Química Nova, v. 36, n. 6, p. 914-920, 2013. MARQUES, C. A.; MACHADO, A. S. C. Environmental sustainability: implications and limitations to green chemistry. Foundations of Chemistry. 2013. Disponível em: . Acesso em: 15 fev. 2014. MEADOWS, D.; MEADOWS, D.; RANDERS; J.; BEHRENS III, W. W. The Limits to Growth. A report for The Club of Roma. Project on the Predicament of Mankind. London: Patomac Associate Book, 1972. PINHEIRO, E. P. do. Crise civilizacional e democracia: os novos desafios da modernidade. Acta Científica XXIX Congreso de la Asociación Latinoamericana de Sociología 2013. Chile. Disponível em: . Acesso em: 04 mai. 2014. SCATENA, L. M. Ações em Educação Ambiental; Análise Multivariada da Percepção Ambiental de diferentes grupos sociais como Instrumentos de Apoio à Gestão de Pequenas Bacias - Estudo de Caso da Microbacia do Córrego da Capituva. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, Brasil, 2005. Doutorado em Engenharia Hidráulica e Saneamento. STEVENS, J. Applied Multivariate Statistics for the Social Science, Routledge: New York, 2009. THORNTON, J. Beyond Risk: An Ecological Paradigm to Prevent Global Chemical Pollution. Int. J. Occup. Environ. Health, v.6, n. 3, p. 318, 2000. WCED (World Commission on Environmental and Development): Our common future. Oxford University Press: Oxford, 1987. ZUIN, V. G. Trajetórias em Formação Docente: da Química Verde à Ambientalização Curricular. In: 31a. Reunião Anual da Associação Nacional de PósGraduação e Pesquisa em Educação, 2008, Caxambu. 31a. Reunião Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação - ANPED, 2008.

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