Iniciação Esportiva x Especialização precoce: métodos e implicações

May 28, 2017 | Autor: Jefferson Lopes | Categoria: Educação Física
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Iniciação Esportiva x Especialização precoce: métodos e implicações

Jefferson Campos Lopes - [email protected] – Brasil - Faculdade de São Vicente, UNIBR Pedro Henrique Magalhães do Nascimento - [email protected] – Brasil – Faculdade de São Vicente, UNIBR

São Vicente 2016

Introdução O movimento percorre todas as fases da vida, desde o nascimento, até sua morte. Todavia, há um aumento na complexidade de execução, deixando evidente o aprendizado motor. (Tani, 2005) O esporte não pode ser algo mecânico, onde o rendimento deva ser o ponto principal, mas a interação, a aquisição de habilidade, e entendimento que deve fazer parte da cultura esportiva a qual será inserido. Assim, as práticas esportivas quando bem direcionadas contribuem de forma significativa em grandes proporções no desenvolvimento. (Betti, 1991 & Nunomura; Tsukamoto, 2005) Objetivos O objetivo deste trabalho é, a partir de uma revisão bibliográfica, analisar as terminologias: iniciação esportiva e especialização precoce, mediante a opinião de autores. Metodologia Foi utilizada uma revisão bibliográfica através do método comparativo para analisar o seguinte estudo. Para Lakatos e Marconi (1991) é feito para comparar de forma estrutural, divergências e semelhanças de autores determinados, “o método comparativo permite analisar o dado concreto, deduzindo do mesmo, os elementos constantes, abstratos e gerais. Constitui uma verdadeira ‘experimentação indireta’.” (Lakatos e Marconi, 1991, p.107)

Desenvolvimento Motor “O desenvolvimento motor é entendido como as “alterações progressivas do comportamento motor, no decorrer do ciclo da vida, realizadas pela interação entre as exigências da tarefa, a biologia do indivíduo e as condições do ambiente” (Gallahue; Ozmun, 2005, p.25). A infância é compreendida como um momento a qual é importante para o desenvolvimento motor, pois nesta fase ocorre o desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais que servirá, para utilização de atividades diárias e de especialização. (Gallahue; Ozmun, 2005). A maturação ocorre de forma sólida através de transformações qualitativas que procede em âmbitos diferentes, sendo: o biológico e comportamental. (Gallahue; Ozmum, 2005) Iniciação Esportiva Pode-se dizer que a infância é o estágio mais alegrador e intenso da vida de uma pessoa. Entretanto, devido a isso, há o interesse e o desejo pelo brincar e pelo entretenimento, que assim promove diversas formas de aprender. Na infância a necessidade e a importância de se movimentar são significativas, pois devem ser introduzidas cedo, porém sempre de acordo com as fases a qual a criança está inserida. (Farinatti, 1995) Com isso, as crianças devem explorar sua espontaneidade, mas para isso, os pais precisam abdicar do seu excesso de proteção para que as crianças sintam-se livres para se descobrirem e com isso auxiliando no seu desenvolvimento motor. (Sullivan; Anderson, 2004) A iniciação esportiva é o primeiro contato a qual a criança tem com o esporte, sejam eles quaisquer. Com isso, marca-se o momento a qual se dá a introdução da prática de diversas modalidades esportivas atuando com a criança em sua totalidade, contribuindo para o seu desenvolvimento e não fazendo a colocação de competições regulares (Santana, 1998 & Ferreira, 2001), podendo ser compreendido geralmente como sua chegada a uma escolinha até sua atuação competitiva (Vargas Neto, 1999), recebendo as primeiras noções daquilo que não se conhece (Voser, 1999), agregando capacidades que façam com que possibilite um complemento em sua estrutura funcional (Moreno, 2000) Para Vidal (2006) mudanças no âmbito social, através da competitividade, afetam na iniciação esportiva. Ainda conceitua que a iniciação esportiva utilizada como atividade física proporciona habilidades motoras e situações de experiência através de jogos e modalidades esportivas, atuando no âmbito motor, social, afetivo e cognitivo. Acrescentando ainda, diz que quando sua iniciação se dá de forma ruim, provavelmente não se terá sucesso como atleta. De acordo com Barbanti (1979) iniciação esportiva, considera-se a fase a qual inicia-se um treinamento esportivo, colhendo experiências motoras em diversas atividades, tendo em vista a proposta do início entre oito e nove anos, possibilitando atingir resultados expressivos na fase adulta. Corroborando ainda, Nunomura & Tsukamoto (2005) afirma

que a iniciação esportva deve atuar de forma geral, ampliando o repertório motor e dando prazer a prática. Já para Kunz (2001) a iniciação esportiva promove o desenvolvimento de vários aspectos como corporal e psíco-social, possibilitam ações individuais que visam melhorar a autoestima e valorização. Acrescentando ainda, a criança adquire a capacidade de exercer técnicas básicas, iniciando uma expectativa ao esporte. (Kunz, 2001 & Ferreira, 2008) Ainda, Balbino (2001) diz que, a iniciação esportiva prepara a criança para ter um potencial no alto rendimento na fase adulta. Em contraponto, Paes (2006) diz que além de formar atletas, o importante é contribuir para formação do cidadão. Acrescentando ainda, afirma que deve ocorrer a iniciação esportiva o mais cedo possível proporcionando muitos benefícios. Compreende-se também como uma forma de socialização interpessoal, onde se ocasiona um momento de integração, agregando valores, conhecimentos e condutas. (Contreras; La Torre; Velasquez, 2001) Fases da Iniciação Esportiva Almeida (2005) defende a iniciação esportiva proposta em três estágios: Primeiro estágio: se dá entre os oito e nove anos, onde nesta fase é a aquisição das habilidades motora e destreza específica e global sendo realizados com movimentos básicos e jogos. Nesta fase a criança encontra em processo de aprendizado dos esportes. Segundo estágio: se dá entre dez e onze anos, e nesta fase a criança já participa de ações de cooperação, onde o aperfeiçoamento desportivo se dá, e ocorre à introdução de fundamentos, regras e táticas, através de jogos, atividades esportivas. Nesta fase há um objetivo a ser cumprido. Terceiro estágio: ocorre entre doze e treze anos, onde seu desenvolvimento intelectual e físico está bem compacto. Nesta fase há o aperfeiçoamento técnico, tático, e aquisição de habilidades físicas para o desporto. Para Bompa (2002) e com acréscimo de Sullivan e Anderson (2004) De forma sequencial, aos 10 anos de idade, é importante a introdução do brincar e do jogar de maneira lúdica, onde haja participação e momentos alegradores, dando mais destaque nas habilidades em geral através das práticas de atividades. [...] Nesta fase as crianças não podem receber cobranças em sua participação e seu rendimento não podem ter grandes exigências. As regras não podem ser levadas em forma de cobranças, pois deve ser em tom de divertimento e de forma alegre. Entretanto, nesta idade, os meninos e meninas podem participar juntos das atividades, pois as valências físicas se assemelham.

Dos 10 a 14 anos, as crianças já compreendem as regras a qual estará inserida no âmbito esportivo e durante o processo de treinamento. Nesta idade sua eficiência pode abaixar devido ao processo de puberdade, não significando falta de capacidade. Neste estágio é importante alertar sobre ética e valores, e suas atividades devem ser distribuídas de forma moderada, oportunizando melhoras nas habilidades motoras e não ao desempenho. Já entre 15 e 18 anos, os atletas construíram uma condição a qual já suporte um nível de carga maior nos exercícios, se comparado as fases anteriores. Entretanto, como sua iniciação se deu de forma progressiva e respeitando os estágios, o risco de lesão acaba sendo menor. Sendo assim, necessita de todo aspecto motor adquirido anteriormente para desempenhar nesta fase, e aplicar no esporte a qual se direcionará. Especialização precoce De acordo com Kunz (2001) A especialização precoce ocorre mediante a um processo onde as crianças são submetidas a um treinamento sistemático e organizadas antes da fase pubertária em longo prazo, tendo em média três dias da semana sua realização, aumentando seu rendimento gradualmente, participando em competições esportivas. Acrescentando ainda, diz que é o momento onde as crianças se engajam em um determinado esporte, onde sua idade ainda não é considerada para tal. A especialização precoce, quando não trabalhadas as habilidades motoras, possivelmente, por consequencia ocorre o abandono de forma prematura do esporte. (kunz, 1994) A especialização esportiva é, por conseguinte direto a exigência específica ao esporte, onde seu rendimento é alavancado para atender o sistema do esporte. (Cavalcanti, 1984) Piaget (1980) diz que a criança vive em um ambiente competitivo de forma precoce, confundindo regras através de seu ego e realismo. “crianças não são, na sua natureza, especialistas: elas são generalistas. A especialização precoce com cargas unilaterais (um só tipo de esporte), como a dos adultos, é copiada neste modelo em relação às exigências das cargas em geral, e isto não tem sido adequado. Pelo contrário, apresentam desarmonias no desenvolvimento, acompanhadas de um abandono precoce do esporte, antes de se ter chegado ao alto nível 34 de rendimento.” (Kröger; Roth, 2002, p.9) Kunz (2006) afirma que quando o treinamento torna-se precocemente especializado, a geração de problemas pode ocorrer na criança, em especial na carreira esportiva, tais como: Formação escolar deficiente, devido à grande exigência em acompanhar com sucesso a carreira esportiva, a unilaterização de um desenvolvimento que deveria ser plural, participação reduzida em atividades, brincadeiras e jogos do mundo infantil, indispensáveis para o desenvolvimento da personalidade na infância.

Silva et al. (2001) destacam a crescente importância social do fenômeno esportivo com a influência da mídia e do acentuado aumento na oferta de competições num quadro esportivo cada vez mais especializado, o que consequentemente, passou a definir novas exigências no domínio da preparação, de modo a estimular especializações cada vez mais precoces. Resultados É notório que a iniciação esportiva tem uma alta complexidade, visto que, pode ser analisado de diferentes formas, sendo sua relação com a especialização precoce, algo inevitável. Segue adiante os dizeres de alguns autores: Arena e Böhme (2000) fizeram uma pesquisa sobre iniciação esportiva em clubes do Estado de São Paulo, e verificou que: Quanto aos esportes coletivos, verificou-se que 53% das entidades esportivas iniciam a prática específica do basquetebol, handebol e voleibol, por volta dos 9-10 anos; isso indica, aproximadamente, dois anos antes da idade da primeira categoria federada de competição, que ocorre nas três modalidades por volta dos 12 anos de idade; o mesmo ocorreu com o futsal, apenas em idades diferentes (7-8 anos), onde 53% das entidades esportivas iniciam a prática específica por volta dos 6-8 anos. (Arena e Böhme, 2000, p.189) Conclusão É importante ressaltar que praticar atividades físicas agrega para o desenvolvimento de forma geral da criança, porém deve-se ter um olhar mais sutil e minucioso na condução das atividades, para não ser prejudicial quando orientado de forma indevida. Assim, de acordo com a literatura, pôde-se perceber a introdução da especialização antes da idade recomendada, sabendo que, isso se dá em forma de processo ou etapa. Entretanto, mostra-se também que uma fase é antecedente a outra, levando em consideração que a iniciação esportiva seja realizada primeiramente, sendo passível de questionamento. Com isso, o profissional da área, há de ter um olhar parcimonioso acerca destas terminologias, para iniciar em um momento adequado, promovendo uma formação que agregue valores positivos, não se engajando apenas no alto nível.

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Acesso

em

Silva, F. M., Fernander, L. e Celani, F. O. Desporto de crianças e jovens – um estudo sobre as idades de iniciação. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto. Vol. 1. nº 2 (p. 45-55). 2001. Sullivan, J. Andy. Anderson, Steven J. Cuidados com o Jovem Atleta: enfoque interdisciplinar na iniciação e no treinamento esportivo. Traduzido por: E. Carvalho Freire e Cláudio Flausino de Oliveira. Bruerí: Manole, 2004. Tani, Go et al. Educação Física Escolar: Fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU, 1988. Vargas Neto, F. X. A iniciação nos esportes e os riscos de uma especialização precoce. Revista Perfil – Publicação do Curso de Mestrado em Ciências do Movimento Humano/ Esef/ Ufrgs, Porto Alegre, ano III, n.3, p.70 – 76, 1999 Vidal, Iremeyre Rojas. A "iniciação esportiva" a quem compete? Um estudo sobre a formação profissional no campo da educação física. Rio Claro, 2006. 273f. (Dissertação de Mestrado), Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Rio Claro, 2006 Voser, R. C. Iniciação ao Futsal. 2ed. Canoas: ULBRA, 1999.

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