Inovação e design de experiência do usuário para a web: apontamentos preliminares de uma discussão necessária

June 7, 2017 | Autor: A. Jardim Filho | Categoria: Web Design, User Experience (UX), Design Innovation, User Interface
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Inovação e design de experiência do usuário para a web: Apontamentos preliminares de uma discussão necessária Airton Jordani Jardim Filho1, Cristiane Schifelbein de Menezes2, Adreson Vilson Vita de Sá3 1Universidade

do Estado de Santa Catarina (UDESC), [email protected] de Aveiro (UA), [email protected] 3Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), [email protected] 2Universidade

RESUMO Dois termos em evidência nos dias de hoje são inovação e design de experiência do usuário. Este artigo busca, através da análise de conceitos e classificações presentes na literatura consagrada do design, abordar questões relativas a estes assuntos com o intuito de estabelecer relações entre estes conceitos que suscitem e fomentem discussões relevantes futuras. Definições, percurso histórico e processo criativo, por exemplo, servem de fio condutor para as considerações a respeito de como estes termos se cruzam no cenário contemporâneo do design visual para a web e se tornam, além de indissociáveis, importantes não apenas para a produção propriamente dita, mas também para a teoria e pesquisa na área. Palavras-chave: inovação, design, user experience, web, interface.

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INTRODUÇÃO Muito tem se falado, nos dias de hoje, em inovação. É bastante comum, inclusive, encontrar a palavra inovação como sinônimo de criatividade, por exemplo. Mas qual, de fato, é o conceito de inovação? E onde a inovação se insere no chamado design centrado no usuário? E afinal, criatividade e inovação são sinônimos? Essas e algumas outras perguntas são dúvidas recorrentes no dia-a-dia daqueles que trabalham não apenas com design, mas em praticamente todas as áreas de conhecimento. Isto porque inovação é um daqueles conceitos que, mesmo que as pessoas tenham dificuldade em verbaliza-lo, conhecem e sabem que é prérequisito básico nos projetos do dia-a-dia. É importante ressaltar, antes de mais nada, que o propósito deste artigo não é, de maneira alguma, elucidar ou dar uma resposta definitiva a estes questionamentos. Seu propósito, na verdade, é apresentar argumentos e referências para enriquecer ainda mais esta saudável e relevante discussão. Para tanto, esta publicação abordará alguns temas que emolduram a relação entre inovação e design de experiência do usuário para web, começando com a definição de cada uma dessas disciplinas.

DEFINIÇÃO DE INOVAÇÃO Baxter (2000, p. 1) afirma que “a inovação é um ingrediente vital para o sucesso dos negócios”. Possivelmente a maioria das pessoas não discorde desta afirmação. Pelo contrário, afirmará que ela está correta. No entanto, será que a maioria das pessoas sabe o que é efetivamente, inovação? A relação entre criatividade e inovação é bastante próxima, são processos diferentes que ainda são entendidos como sinônimos. Para distinguir os conceitos, é preciso lembrar que criar é um processo, de gerar e desenvolver ideias, resultado da combinação entre a percepção sensorial – os cinco sentidos humanos - e as sinapses - as conexões produzidas pelo cérebro, os fluxos entre um neurônio e outro (Priberam, 2015). Conforme Amabile (1996), criatividade é a produção de ideias novas e úteis em qualquer domínio. A inovação, ou invenção, está relacionada à criação. Por buscar novas formas e soluções, “a 240

inovação é até identificada com a própria criação. Mas, se é da natureza do ato criador inovar, a recíproca não é verdadeira; a inovação nem sempre é criação” (Ostrower, 1987, p. 134). Quando as ideias criativas são aplicadas com sucesso, ocorre a inovação. Inovar pode ser o aprimoramento de um produto ou serviço já existente. O invento como inovação ou novidade pode concretizar-se em formas mais independentes e aparentemente até ‘mais originais’ do que a as formas da criação, mais arbitrariamente livres porque desvinculadas da presença de delimitações interiores e de valorações íntimas. (Ostrower, 1987, p. 135) A palavra inovação caiu no que se pode chamar de “senso comum” e tem sido demasiadamente utilizada nos mais diversos âmbitos, mas sempre como uma característica extremamente positiva. Pode-se afirmar inclusive, que inovação virou um adjetivo e é um dos mais utilizados quando se quer elogiar ou promover uma iniciativa ou ação. Anunciar que determinada iniciativa é «inovadora», acrescenta ao discurso um aspecto de atualidade e/ou visão de futuro. Há uma certa expectativa de que a inovação é feita por pessoas iluminadas com ideias brilhantes, mas na prática este processo ocorre de maneira gradual em lugar de súbita e coletiva em vez de individual (Burke, 2009). É importante lembrar que o senso comum muitas vezes induz ao erro aqueles menos atentos. Quando se fala de inovação, a indução ao erro é muito grande, auxiliada, sobretudo, pelo que poderíamos chamar de registro visual do senso comum. Como se já não bastasse o conceito equivocado de que inovar é ter novas ideias, o símbolo muitas vezes atrelado à inovação remete, ou presentifica uma lâmpada. Ao longo de muito tempo, a lâmpada, ou sua presentificação gera efeitos de sentido, ou está associada ao momento em que se tem uma nova ideia. E o pior: uma lâmpada incandescente, com filamentos, dentro do tradicional bulbo transparente – uma tecnologia que, além de ultrapassada, foi banida das linhas de produção e da nossa sociedade. Além da mensagem passada estar equivocada, pois ter a ideia não implica, necessariamente, em transformá-la em inovação podemos ver que, conceitualmente, esta mensagem é transmitida de forma incompleta. Inovar está longe de ser apenas o ato de ‘ter uma ideia’. O Dicionário Eletrônico 241

Houaiss da Língua Portuguesa (2009) afirma que inovar é “introduzir novidade em; fazer algo como não era feito antes”. Importante ressaltar a palavra ‘fazer’, pois em inovação por melhor que seja uma ideia, se ela não for colocada em prática, se aquilo não sair do campo das ideias para ser posto em prática, não haverá inovação alguma. Na contínua mudança dos tempos, as empresas deveriam buscar a inovação, sob pena de que sua estagnação se transforme em uma âncora que não permite que ela se movimente e, pior ainda, a puxe para baixo.

DEFINIÇÃO DE USER EXPERIENCE DESIGN Desde a década de 1990, o chamado design de experiência do usuário (em inglês: user experience design ou UX Design) começou a ganhar importância nas discussões e estudos de metodologia para design e, mais especificamente, na área de design de interfaces computacionais. Oriundo de disciplinas como ergonomia, fatores humanos e design centrado no usuário, o UX Design reforça a preocupação projetual do design no que tange ao sua principal razão de ser, o usuário de determinado produto. Já em 1998, Jennifer Fleming publicou seu livro Web navigation: designing the user experience, onde ela propunha uma abordagem em que a usabilidade na web deveria ser qualificada, através de um projeto mais eficaz para a navegação. Ainda segundo a autora, o projeto deveria ser capaz de responder a perguntas básicas de navegação do usuário, como, por exemplo, “Onde estou?”, “Onde posso ir?”, “Como eu vou chegar lá?” e “Como eu posso voltar para onde eu estava antes?”. Mais de uma década depois, ainda nos deparamos com websites e interfaces de controle de produtos eletrônicos que não conseguem, minimamente, responder a esta pergunta.

INOVAÇÃO NO DESIGN Se o design “é o equacionamento simultâneo de fatores ergonômicos, perceptivos, antropológicos, tecnológicos, econômicos e ecológicos, no projeto dos elementos e estruturas físicas necessárias à vida, ao bem estar e/ou a cultura do homem” (Redig, 2005, p. 32), nada mais óbvio do que imaginar que a 242

inovação deva ser parte natural não apenas do método de trabalho do designer, mas de tudo o que é englobado por sua atividade enquanto profissional. Segundo Moraes (2008, p. 12), “hoje, com o cenário cada vez mais complexo (fluido e dinâmico), é necessário (como nunca) estimular e alimentar constantemente o mercado pela via da inovação e diferenciação do design”. Ou seja, no contexto profissional do design hoje, inserido em um mercado em constante mudança e evolução, inovação em design não pode sequer ser considerada uma diferenciação, pois pressupõe-se sua incorporação na base do processo produtivo. Até mesmo porque, segundo Baxter (2000, p. 1), “a pressão inovadora cresceu muito”. Gui Bonsiepe, em seu livro Design, Cultura e Sociedade (2011, p. 264) afirma que “inovação – pelo menos o conceito – goza hoje de uma reputação muito alta e indiscutível. Porém, pouco se fala sobre os conteúdos da inovação. Com relação ao design, ela vai das pequenas mudanças formais até a inovação radical”. A inovação nas ideias, por exemplo em disciplinas acadêmicas, parece acontecer de maneira semelhante, pela proposição de analogias e adaptação daquilo que já existe a novos propósitos.

INOVAR É CORRER RISCOS, MAS LUCRAR ALTO O segredo para uma inovação bem sucedida, segundo Baxter (2000, p. 2) “é a gerência de risco. [...] Os métodos de inovação devem considerar todos esses fatores e minimizar os riscos de fracasso do novo produto”. É importante notar que o autor fala em “minimizar” e não anulá-los. Isso porque a prática da inovação é indissociável do risco, pois toda vez que se parte para a busca do novo, do desconhecido e do incerto, se aceita uma determinada carga de risco. Faz-se necessário, então, gerenciar esse risco, da melhor forma possível. O próprio Baxter (2000, p. 2) lembra que “de cada 10 idéias sobre novos produtos, 3 serão desenvolvidas, 1,3 serão lançadas no mercado e apenas uma será lucrativa”. O que ocorre, no entanto, é que muitas empresas não sabem fazer tal gerenciamento e acabam, consequentemente, colocando a culpa de todo o seu insucesso, na tentativa de inovar. Nigel Cross, em seu livro Engineering design methods: strategies for product design (2000, p. 202) afirma que “a inovação 243

em produtos é, acima de tudo, um negócio arriscado, e não é nenhuma surpresa que a maioria das empresas prefira seguir pelo caminho seguro da evolução gradual de seus produtos. Entretanto, as recompensas das inovações bem sucedidas podem ser substanciais, o que faz com que muitas empresas sintamse atraídas, ou achem necessário aventurar-se dessa maneira”. Assim sendo, além da necessária gerência de risco, é preciso que se entenda que a inovação não pode ser vista como uma parte isolada do processo, ou até mesmo um setor da empresa Se analisarmos as empresas mais inovadoras do mercado, constataremos que não há semelhante setor ou área específica. Uma empresa realmente inovadora é aquela que consegue inserir a inovação em seu próprio dia a dia. A inovação precisar perpassar todas as instâncias da empresa, seus processos e sua política.

INOVAÇÃO E DESIGN DE EXPERIÊNCIA DO USUÁRIO PARA A WEB Bonsiepe (2011, p. 258) nos apresenta doze vetores para inovação no design. Segundo ele, uma taxonomia da inovação em design mostra que ela pode ser baseada em: tecnologia, no usuário, na forma, na invenção, no valor simbólico ou status, na tradição, na engenharia mecânica, na ecologia, no branding, nas tendências, na arte e na crítica. No caso específico deste artigo, nos deteremos na inovação baseada no usuário. Em se tratando de método de projeto para desenvolvimento de produtos para web, um dos mais utilizados como referência, entre profissionais e teóricos, atualmente, é o do norte-americano Jesse James Garrett. Em seu livro The Elements of User Experience: user-centered design for web em beyond, ele apresenta de forma simples e direta os elementos projetuais relevantes para qualquer projeto. O design de experiência do usuário frequentemente lida com questões do contexto. O design estético assegura-se de que o botão da cafeteira é feito com textura e forma atraentes. O design funcional assegura-se que este botão desencadeará a ação esperada no aparelho. O design de experiência do usuário assegura-se de que os aspectos estético e funcional do botão trabalhem no contexto do resto do produto, 244

questionando-se sobre se o botão é pequeno demais para tão importante função. (Garrett, 2011, p. 8) Ainda conforme Garrett (2011, p. 17), a prática da criação engajada, de eficientes experiências do usuário é chamada de design centrada no usuário. O conceito de design centrado no usuário é muito simples: cada passo do caminho, leva o usuário em conta, a medida que você desenvolve seu produto. As implicações deste conceito simples, no entanto, são surpreendentemente complexas.

CONSIDERAÇÕES Uma das grandes criticas que se faz ao UX Design é de que projetos baseados em uma metodologia minimamente estruturada deveriam, como pressuposto básico, eleger o usuário como foco principal. Porém, a história do design nos mostra que, ao longo dos anos, embora estivesse subentendido que, por se tratar de uma disciplina que produz artefatos para o homem, este seria seu foco primário. Isso, no entanto, nem sempre é relevante em projetos de design. Ressalte-se o exemplo de Garrett (2011), mencionando o botão da cafeteira e de que maneira. Exemplos como esse são muitos, no dia-a-dia. Nestas situações, existe um claro indício de que restrições técnicas e financeiras no processo projetivo-produtivo são fator deveras determinante e, por que não dizer, limitantes. Em se tratando de design para a web, isso fica ainda mais claro. A internet comercial, como conhecemos hoje, ainda não tem vinte anos de atividade. Em função disso, o chamado webdesign é, dentro do design, uma das suas especialidades mais recentes. A world wide web foi estruturada, em seus primórdios, a partir de tecnologias pregressas adaptadas. Ainda hoje, muitas das limitações da web baseiam-se em limitações tecnológicas – como, por exemplo, o fato de não ser possível a utilização de acentos em endereços de páginas na web, problemas de banda ou conexão, entre outros – e necessitariam uma total reformulação da maneira como a web se estrutura. Ainda que existam limitações como as citadas anteriormente, ao longo dessas duas décadas de internet comercial, a evolução das tecnologias da informação e comunicação – 245

de maneira geral - aconteceu a passos largos, levando o design de interface junto consigo. Este é o principal motivo para que, somente depois da web como conhecemos hoje estar minimamente estruturada, é que o user experience design voltou a chamar a atenção dos pesquisadores, suscitando a reflexão e pesquisa e sobre método de projeto em design para web. Daí a justificativa para o crescimento do design de experiência do usuário ou centrado no usuário como diferencial inovador na teoria de projeto nos dias de hoje, chegando a ser, inclusive, considerado uma inovação. E é justamente ai que este paper se apresenta: convidando à reflexão e pesquisa, principalmente nos assuntos limítrofes entre tais conceitos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Amabile, T. M. (1996). Creativity and innovation in organizations. Harvard Business School. Baxter, M. R. (2000). Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos. 2.ed.rev. São Paulo, SP: Blucher. Bonsiepe, G. (2011). Design, cultura e sociedade. São Paulo, SP: Blucher. Burke, P. (2009, May 24). Reciclando ideias. São Paulo, SP: Jornal Folha de São Paulo. Retrieved from http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mais/fs2405200912.htm . Cross, N. (2000). Engineering design methods: strategies for product design. 3rd.ed. West Sussex: John Wiley & Sons, Ltd. Fleming, J. (1998). Web navigation: designing the user experience. Ann Arbor: O'Reilly. Garrett, J. J. (2011). The Elements of User Experience: User-Centered Design for the Web and Beyond. 2nd Ed. Berkeley: New Riders. Houaiss, A. (2009). Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva. Versão 3.0. 1. Moraes, D. de (2008). Design e complexidade. Design e transversalidade. Caderno 2. p. 7-19. Belo Horizonte, MG: Centro de Estudos Teoria, Cultura e Pesquisa em Design – UEMG. Ostrower, F. (1987). Criatividade e processos de criação. Petrópolis, RJ: Vozes. Redig, J. (2005). Sobre desenho industrial. Porto Alegre: Editora UniRitter. Priberam. (2015, October 7) Dicionário Online da Língua Portuguesa. Retrieved from http://www.priberam.pt/DLPO/sinapse.

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