Inovação no Trabalho Docente e a Educação a Distância

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Inovação no Trabalho Docente e a Educação a Distância Marta de Campos Maia Processo de Ensino e Aprendizagem “A educação é, antes de tudo, desenvolvimento de potencialidades e a apropriação do “saber social” (conjunto de conhecimentos e habilidades, atitudes e valores que são produzidos pelas classes, em uma situação histórica dada de relações para dar conta de seus interesses e necessidades). Trata-se de buscar, na educação, conhecimentos e habilidades que permitam uma melhor compreensão da realidade e envolvam a capacidade de fazer valer os próprios interesses econômicos, políticos e culturais” (GRYZYBOWSKI, 1986).

Novas metodologias de ensino e aprendizagem, como a preconizada na Nova Escola (aprender a aprender), se contrapõem à prática docente tradicional, que é centrada na figura do professor, que atua como transmissor de conhecimentos prontos a serem assimilados passivamente pelos alunos (PINHEIRO E GONÇALVES, 2001). O processo de ensino centrado no professor caracteriza-se pela forma verbal de transmissão dos conteúdos, sendo o professor quem detém todo o conhecimento e autoridade. Nesta situação o aluno é predominantemente passivo, cabendo a este somente ouvir, repetir e aplicar os conteúdos. E o objetivo principal da prática pedagógica, neste caso, é a assimilação do conteúdo. No ensino ativo, segundo PINHEIRO E GONÇALVES (2001), o professor atua como incentivador e orientador da aprendizagem, favorecendo a participação dos alunos. O aluno é estimulado a trabalhar de modo autônomo e independente. É estimulado a observar, experimentar, criar e executar, desenvolvendo desta forma capacidade crítica e reflexiva. Nesta modalidade de ensino a prática pedagógica tem metas definidas e expressam diferentes níveis de desempenho: capacidade de análise, síntese, relação, comparação e avaliação. O resumo das principais diferenças entre as duas formas de ensino é apresentado no quadro abaixo: Quadro 1: Principais diferenças entre o Ensino centrado no Professor e o Ensino Ativo Ensino centrado no Professor Ensino Ativo Professor: Professor:  O professor é o centro do processo  O professor atua como incentivador da ensino-aprendizagem aprendizagem  Não estimula a participação ativa do  Adapta o ensino às capacidades e limitações aluno dos alunos  Impõe a disciplina pela autoridade  Promove a cooperação e iniciativa dos alunos em sala de aula Aluno: Aluno:  O aluno é predominantemente passivo  O aluno é essencialmente ativo  Não é estimulado a desenvolver  Tem autonomia para criar seus próprios iniciativas esquemas de investigação e resolução de problemas Prática pedagógica: Prática pedagógica:  Objetivo de ensino: assimilação dos  Objetivo de ensino: capacidade de análise, conteúdos síntese, relação, comparação e avaliação

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Conteúdos: seqüência lógica, exposição predominantemente verbal Procedimentos: execução passiva das instruções/informações do professor por parte do aluno Avaliação: destina-se a averiguar quanto os estudantes aprenderam do que lhes foi ensinado para que possa atribuir notas no final do processo

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Conteúdos: atividades diversificadas variando conforme o interesse dos alunos Procedimentos: aluno incentivado a refletir sobre as informações recebidas Avaliação: finalidade de contribuir para a formação do aluno

Fonte: baseado em PINHEIRO E GONÇALVES, 2001 No ambiente Ensino Ativo, ora identificado também, como metodologia de ensino da Nova Escola, ou ainda, como ensino centrado no aluno, os professores elaborarão cursos menos baseados no conteúdo, e o aluno poderá controlar sua própria educação, aprendendo o que for mais apropriado para suas necessidades. O professor será um facilitador do aprendizado, indicando ao aluno o caminho a ser percorrido. Assim, nessa abordagem, o aluno assume o papel ativo no aprender, a influência de suas experiências atuais e prévias, o papel da colaboração na construção do conhecimento e sua contextualização, a partir das experiências dos que aprendem, seja em nível consciente, seja em nível inconsciente (FIORENTINI, 2002). Neste contexto, professores e alunos poderão ter facilidade em compartilhar materiais, como artigos, livros, revistas, criando as chamadas comunidades de aprendizagem em rede. Mas ainda hoje, o ensino, em muitas escolas, e em diversos níveis, ainda apresenta três problemas centrais básicos, cuja solução está longe de ser alcançada, de acordo com Piaget (1975): o

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Qual o objetivo do ensino? Acumular conhecimentos úteis? Aprender a aprender? Aprender a inovar, a produzir o novo em qualquer campo tanto quanto no saber? Aprender a controlar, a verificar ou simplesmente repetir? Escolhidos os objetivos acima, resta determinar quais são os ramos necessários, indiferentes ou contra-indicados para atingi-los: os da cultura, os do raciocínio e sobretudo os ramos da experimentação, formadores de espírito de descoberta e de controle ativo? Escolhidos os ramos, resta afinal conhecer suficientemente as leis do desenvolvimento mental para encontrar os métodos mais adequados ao tipo de formação educativa desejada.

Hutchins (1970) declara que o objetivo principal do ensino é desenvolver a própria inteligência e, sobretudo aprender a desenvolvê-la “o mais longamente possível” (Piaget, 1975, p.28). Ainda segundo Piaget (1975) a linguagem não basta para transmitir uma lógica, que só é compreendida graças a instrumentos de assimilação lógicos de origem mais profunda, visto que precedem da coordenação geral das ações e das operações.

Interação e o Processo de Aprendizagem A relação entre educador e educando deve ser de cooperação, principalmente por parte do Professor, esta postura torna os alunos mais ativos, inventivos, críticos: tomam iniciativas, assumem responsabilidades, se tornam mais autônomos e responsáveis. (PEDROSA; SANTOS, 2003). A função do Educador, segundo Vygostky não é a de um facilitador no sentido de que possibilita um nível de desenvolvimento que aconteceria independentemente da aprendizagem, ele deve intervir, provocando avanços que de forma espontânea não correriam. (CARRARA, 2004). Isso porque o aluno só tem condições de aprender a fazer num futuro próximo, aquilo que ele consegue fazer hoje com a colaboração de alguém mais experiente. Percebemos, portanto, que o processo de aprendizagem é sempre colaborativo, ou seja, resulta da ação conjunta entre o educador ou parceiro mais experiente e aquele que aprende. (CARRARA, 2004). Dessa forma, fica claro que o papel da escola é dirigir o trabalho educativo para estágios de desenvolvimento ainda não alcançados. Ou seja, o trabalho educativo deve impulsionar novos conhecimentos e novas conquistas, a partir do nível real de desenvolvimento – de seu desenvolvimento consolidado, daquilo que o educando já sabe. Por isso, de acordo com Carrara (2004), Vygotsky conclui que o bom ensino não é aquele que incide sobre o que já se sabe ou já é capaz de fazer (nível de desenvolvimento real), mas é aquele que faz avançar o que já sabe, ou seja, que desafia o aluno para o que ele ainda não sabe, ou só é capaz de fazer com a ajuda de outros (nível de desenvolvimento próximo). O fazer compartilhado entre o educador e o educando é a garantia para que se mantenha uma atitude ativa em relação ao conhecimento e que, ao mesmo tempo, o educando conheça o novo. Ao coordenar e dirigir esse processo para o desenvolvimento das qualidades humanas, o educador compartilha os passos dos procedimentos didáticos, os objetivos das tarefas propostas, a divisão de tarefas possíveis e provoca a iniciativa e a atividade do educando no processo de execução das tarefas assim como sua participação na avaliação da atividade desenvolvida. (CARRARA, 2004). Nas atividades interativas os alunos tendem a aprender mais, com mais rapidez e prazer, demonstram maior aceitação e respeito à idéia do colega. É necessário dar ênfase à auto-aprendizagem: incentivo a estudar e pesquisar de forma independente, extraclasse, fortalecendo o aprendizado e dinamizando a comunicação e a troca de informações entre os colegas. A participação, ou intervenção, feita pelo Professor poderá modificar a mensagem, da mesma forma que as participações e intervenções dos alunos. Desenvolve-se uma ação interativa através da proposição de exercícios e provocações. Interatividade está relacionada a troca de influências, idéias e permanente atualização do material a partir das contribuições dos alunos (BELISÁRIO, 2003). É necessário que os alunos se exercitem no sentido de reagir ao que é apresentado, que situações de ensino preparadas pelo professor sejam suficientemente estimulantes para provocar reações nos alunos (GIL, 1997). Diversas questões devem ser respondidas para que de fato estes novos papéis possam ser assumidos e praticados tanto por professores, como pelos alunos, e entre elas pode-se destacar:

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Quais são as teorias e tecnologias de informação e comunicação disponíveis para modificar a realidade educacional? o Que tipo de treinamento tecnológico é requerido dos participantes neste novo modelo pedagógico? o Quais os benefícios ou prejuízos decorrentes da adoção de uma ou de outra tecnologia? Resumidamente, pode-se dizer que a escola tradicional não desenvolve a dimensão do aprender a aprender, e esta é uma dimensão da Nova Escola, que se caracteriza por não temer a inovação. A Nova Escola, munida das novas práticas educacionais desafia as estruturas rígidas e obsoletas das escolas tradicionais, e propicia uma nova luz no que se refere à pratica docente, ao uso das novas tecnologias e na conduta do aluno. Tecnologia aplicada à Educação Em 1999, Peter Drucker previu que, nos próximos 50 anos, “...as escolas e as universidades mudarão mais drasticamente do que o fizeram desde que assumiram a forma atual, há mais de trezentos anos, quando se reorganizaram em torno do livro impresso. (Drucker, 1999). Mas será que esta mudança já aconteceu? Será que a mudança ocorrerá com a introdução dos computadores no processo de ensino e aprendizagem? Será que a falta de computadores na sala de aula é a explicação da dificuldade para as escolas melhorarem seus processos pedagógicos? Como fazer para atender a demanda das múltiplas inteligências e seus diferentes modos de aprendizagem em uma sala de aula? Qual é a melhor metodologia a ser utilizada para maximizar o potencial de aprendizagem dos alunos? Muitas destas questões continuam sem respostas, mas sabe-se que é necessário fazer uma grande mudança no modelo atual de ensino para atender à demanda dos novos alunos, os nativos digitais. Mas basta inserir computadores nas salas de aula para que tudo este processo seja alterado? Não, e por esta razão, os bilhões de dólares que o governo americano investiu em computadores tiveram pouco efeito sobre como professores ensinam e estudantes aprendem, segundo Christensen et al (2009). Christensen et al (2009) defendem que o computador emerge como uma força de ruptura e uma oportunidade promissora para atender a demanda das escolas em atender aos alunos e suas múltiplas inteligências, aos modelos e estilos de aprendizagem distintos, já que com a utilização de tecnologias centradas no aluno pode se customizar aquilo que os estudantes aprendem. Destaca o que está errado nos dias atuais nas salas de aula: ênfase em distribuir informação, ao invés de facilitar a aprendizagem através de atividades adequadas às necessidades e preferências dos alunos. E, para que estes objetivos sejam alcançados, é necessário que a relação pedagógica seja elaborada com base metodológica e planejamento para cada curso. Ao professor cabe o esforço reconstrutivo agrupando todas as teorias modernas de aprendizagem. Cabe destacar que o trabalho do professor não se realiza arbitrária ou casualmente. A ação do professor deve estar sempre comprometida com uma certa visão do homem e da sociedade, com certos valores, que condicionem as relações estabelecidas no processo ensino-aprendizagem (Pinheiro e Gonçalves, 2001; Wolff, 2001).

Quatro fatores deverão apressar as mudanças no ensino-aprendizagem: o aprendizado pelo computador continuará sendo aperfeiçoado; a transição da tecnologia baseada em computador para a centrada no aluno; uma perceptível escassez de professores, pesquisas indicam insuficiência de docentes (em 2007, 42% dos professores nos EUA tinham mais de 50 anos) e os custos terão significativa redução à medida que a escala do mercado crescer (Christensen et al, 2009. Os autores afirmam e demonstram através de um gráfico uma previsão de que em 2024 cerca de 80% dos cursos existentes nos EUA serão ministrados online. A pedagogia moderna afirma que o aluno deve ser estimulado a buscar soluções em grupo, por meio dos recursos de interação a fim de estimular competências como as capacidades cognitivas de avaliação, análise, síntese, e não mais a simples memorização do conteúdo. Esta idéia foi proposta anteriormente por diversos autores, entre eles Piaget, Vygotsky, Freire, que afirmam que o que caracteriza a aprendizagem é o movimento de um saber fazer a um saber, o que não ocorre naturalmente, mas por uma abstração reflexiva, processo pelo qual o indivíduo pensa o processo que executa e constrói algum tipo de teoria que justifique os resultados obtidos (Maia, 2010). Para promover as mudanças, os esforços devem ser concentrados nas pessoaschave: os professores. Estes devem ser capacitados para a promoção das mudanças, tornando-se agentes. Capacitar os professores não significa simplesmente promover treinamentos de uso das novas ferramentas de informática, mas sim, conduzir um processo articulado de mudança de mentalidade perante a educação, uma mudança do currículo e dos conteúdos das disciplinas, além de uma mudança dos materiais a serem trabalhados. Uma nova proposta deve ser analisada para as instituições de ensino: uma alteração dos processos de ensino visando alcançar transformações na educação e, para tanto se deve reformular toda a relação existente atualmente entre professores, alunos e currículo, visando uma educação mais dinâmica, através do uso, de forma apropriada, das tecnologias educacionais disponíveis. Objetivos da Investigação e Metodologia da Investigação

A capacitação contínua e permanente dos professores tem enfoque em duas áreas: metodologia de ensino que visa o ensino presencial e a distância, e o uso prático dos recursos tecnológicos que mediarão o processo de aprendizagem. Com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre uso de recursos tecnológicos e analisar as suas implicações na metodologia e na didática do processo do ensino-aprendizado, será apresentada a evolução de um programa de capacitação de professores em duas Instituições de Ensino Superior (IES) particulares, situadas na cidade de São Paulo, intituladas como IES A e IES B. Por este motivo, a metodologia de pesquisa escolhida para este trabalho é a exploratória, pois pode prover novas idéias e descobertas sobre o tema. Vergara (1998) propõe uma taxonomia para classificar os tipos de pesquisa segundo dois critérios básicos: quanto aos fins e quanto aos meios de investigação. Essa pesquisa é classificada quanto aos fins, como sendo exploratória e quanto aos meios de investigação, como pesquisa de campo - por meio do método de estudo de caso (Yin, 2001) e bibliográfica.

As questões da pesquisa mostram que a estratégia mais adequada para este projeto é um estudo de caso, que trata de questões do tipo “como” e “por quê”. Yin (2001) define o estudo de caso como o método que examina o fenômeno de interesse em seu ambiente natural, pela aplicação de diversas metodologias de coleta de dados, visando obter informações de múltiplas entidades. Além disso, a pesquisa será bibliográfica, já que os seguintes assuntos serão investigados: tecnologia educacional, metodologia de ensino, Internet através de estudos de artigos, livros que tratem do assunto em bibliotecas, sites, instituições e etc. A análise do caso foi feita através da observação direta no processo de capacitação dos professores, mais especificamente na elaboração dos temas abordados nos workshops, no acompanhamento do desenvolvimento do professor e na implementação do trabalho do professor nas plataformas de ensino adotadas pelas instituições. Evidencia-se que a tecnologia sozinha não é capaz de tornar a educação mais eficiente, deve-se fazer uma reengenharia da educação acadêmica, voltada para ensino superior e principalmente para a especialização e atualização profissional. O problema central da pesquisa é: “Como desenvolver um programa de capacitação para facilitar a adoção de tecnologia de ensino por professores que possuam experiência com o formato de curso presencial? ”

Caso Instituição de Ensino Superior A

Até 2001, a adaptação do corpo docente às tecnologias educacionais da IES A- era feita de modo informal, ao sabor das iniciativas individuais e sem um projeto. Por esta razão foi elaborado o projeto Pioneiros, que tinha como intuito selecionar e instrumentalizar um grupo de professores voluntários para desenvolvimento de conteúdo on-line para algumas das disciplinas da IES. Os professores receberam uma bolsa do Núcleo de Pesquisas e Publicações, pois foi entendido que a correta remuneração deste esforço era um requisito fundamental para seu sucesso. O objetivo do projeto era apenas a produção de conteúdos on-line, sem preocupação com a sua efetiva implementação e posterior avaliação de resultados. A plataforma então adotada na escola era o WebCT. Foi organizada uma série de palestras para os professores selecionados, constituídas de: apresentação do projeto Pioneiros; apresentação dos princípios de Desenho Instrucional e treinamento na utilização do WebCT. O projeto foi desenvolvido por cerca de oito meses, entre 2001 e 2002, durante os quais os professores contaram com apoio técnico no uso do WebCT e no desenho instrucional, caso achassem necessário. O resultado do projeto foi considerado um sucesso relativo, pois apenas 61% dos professores selecionados concluíram suas disciplinas, e elas foram utilizadas em níveis diferenciados pelos alunos, uma vez que constituíam, em sua maioria, matérias complementares às disciplinas presenciais, não sendo obrigatória sua utilização pelos alunos. O melhor resultado do projeto foi a motivação dos professores envolvidos: aqueles que concluíram com sucesso a implementação de suas disciplinas tornaram-se evangelizadores da utilização do novo ferramental, e passaram a adotá-lo em outras disciplinas, atraindo outros professores e multiplicando os efeitos do projeto.

Foram realizadas entrevistas com os professores envolvidos, visando reunir elementos que justificassem um eventual prosseguimento do projeto. Esta avaliação revelou as seguintes conclusões: (a) que o conteúdo desenvolvido era, na maioria dos casos, uma mera transcrição do conteúdo presencial para o novo ambiente; (b) que o WebCT foi considerado uma ferramenta de difícil utilização, tanto por professores quanto pelos alunos, comprometendo os resultados do projeto; (c) que a plataforma tecnológica (servidor) utilizada era deficiente, apresentando muita instabilidade (indisponibilidade) e dificultando a utilização dos conteúdos pelos alunos. Com base no resultado desta avaliação, e percebendo um promissor interesse e crescente adoção das novas tecnologias pelos professores, a IES A decidiu investir numa nova plataforma tecnológica, integrada por servidores de alta capacidade, redundantes, hospedados num data center com capacidade de acesso (largura de banda) escalonável, e selecionando uma nova ferramenta de ensino mediado por computador, o Blackboard. Neste momento, foi desenvolvida uma segunda versão do projeto Pioneiros, chamada Pioneiros II, para testar uma nova metodologia de capacitação de professores para desenvolvimento de professores elaborada pelos desenhistas instrucionais em resposta às deficiências diagnosticadas no primeiro projeto. Este projeto foi implementado entre 2003 e 2004. Para elaboração desta nova abordagem, teve-se como tema principal o desenvolvimento de uma metodologia pedagógica que tivesse como objetivo repensar o papel do professor e do aluno no processo de ensino e aprendizagem. Foi levado em consideração o processo de reflexão sobre as experiências individuais de cada professor juntamente com a abordagem teórica das metodologias pedagógicas, as quais conduziriam ao desenvolvimento de uma nova estruturação das disciplinas que, apenas após concebidas e adequadamente estruturadas, utilizar-se-iam dos recursos tecnológicos educacionais disponíveis. O projeto Pioneiros II baseava-se nos mesmos objetivos gerais e prática de remuneração do projeto Pioneiros, mas incorporava agora a necessidade de implementar e aplicar as disciplinas desenvolvidas e contemplava uma etapa de avaliação para determinar a efetividade da nova abordagem metodológica. Esta abordagem metodológica determinou substancialmente a estruturação do projeto em quatro fases que refletiam as etapas da metodologia adotada, e conduziam os professores a desenvolver suas disciplinas progressivamente através das fases do desenho instrucional, utilizando templates pré-definidos pela equipe de desenhistas instrucionais, vinculando sua remuneração à apresentação dos produtos especificados em cada fase da metodologia. A principal diferença no resultado da capacitação dos docentes é que, no Projeto Pioneiros II, os professores ao final dos três workshops tinham um site da disciplina implementado na plataforma, contendo não apenas o programa detalhado, mas atividades didáticas que foram elaboradas a partir da sua análise baseada numa metodologia de ensino centrada no aluno. Em termos de resultados estatísticos 93% dos professores do projeto Pioneiros II implementaram as suas disciplinas, demonstrando que a adoção da metodologia e dos recursos tecnológicos foram mais altas que no projeto Pioneiros I que contou com apenas 61% de adesão. Outros elementos citados pelos professores avaliados que contribuíram para uma maior adoção da metodologia e recursos tecnológicos, foram a plataforma adotada e as melhorias na infraestrutura.

Os resultados foram muito positivos e podem ser observados no gráfico 1 abaixo. Após mais de quatro anos, mantendo uma média de 20 disciplinas com uso do LMS até o final de 2002, atingiu-se o patamar de 79 disciplinas ativas (em utilização corrente pelos alunos) ao final de 2003. No início de 2004 já eram 128 disciplinas ativas, e este número caminha rapidamente para a marca de 200 disciplinas e 1800 alunos ainda no primeiro semestre de 2004. Em 2008, estes números eram os seguintes: 1092 disciplinas utilizando o LMS e um número total de 12.200 alunos. Desde a sua aplicação, o processo de capacitação de professores vem sendo aprimorado, adaptado a diferentes necessidades, e utilizado por professores de outras escolas da IES. Nas entrevistas com os participantes do projeto Pioneiros II foi unânime a constatação sobre a importância da metodologia de ensino e de como ela contribuiu para desenvolverem aulas de melhor qualidade. 70% dos professores disseram que se sentiam mais preparados para desenvolverem atividades de aprendizagem elaboradas com recursos de tecnologia educacional. 95% dos professores aprovaram o formato e temas do workshop, sendo que 80% solicitaram mais workshops sobre metodologia de ensino e didática. Todos, sem exceção, aprovaram a plataforma de ensino adotada pela instituição (Blackboard) e não tiveram dificuldades em utilizá-la. Gráfico 1: Evolução do uso de Tecnologia Educacional na IES A

Caso Instituição de Ensino Superior B

O caso a seguir relata a experiência de capacitação de docentes para implementação de tecnologias educacionais e redesenho instrucional de disciplinas, em cursos de graduação presenciais, na IES B, em São Paulo. O projeto trata da disseminação e inserção uso de tecnologia educacional aplicada à educação através do desenvolvimento e implementação de projetos específicos à realidade de cada Faculdade e de cada curso. Os resultados observados restringem-se à incorporação de novas tecnologias educacionais nos cursos de Graduação da IES estudada. Mas, já podemos destacar uma grande e crescente adoção das novas tecnologias, tanto por professores, como por alunos que passaram a interagir também por meio de um ambiente virtual de ensino e aprendizagem. Um importante destaque é o desenvolvimento de Objetos de Aprendizagem (Learning Objects – LOs) para 30 (trinta) diferentes disciplinas de primeiro (1º) semestre dos cursos das Faculdades de Administração e Comunicação. Em cada disciplina foram desenvolvidos 6 diferentes LOs, totalizando o desenvolvimento inicial de 180 diferentes objetos. O Projeto previu a criação de uma Coordenadoria de Tecnologia aplicada à Educação. Esta tem por objetivo investigar, desenvolver, capacitar e encorajar o corpo docente em novas práticas e métodos de ensino e aprendizagem utilizando as novas tecnologias educacionais. Tecnologia A IES B, até agosto de 2008, oferecia aos seus alunos e professores sistemas de gestão acadêmicos, financeiros e administrativos. Os laboratórios de Informática são atualizados constantemente, e todos os softwares necessários para os cursos são disponibizados aos alunos. No que se refere especificamente à infraestrutura para o eLearning a IES possui equipamentos de Videoconferência, Studio de TV e de rádio, ilhas de edição de imagem, transmissão via Internet. Mas, apesar de toda esta tecnologia disponível, a IES não possuía nenhum LMS (Learning Management System), tendo sido este implantado em dezembro de 2008. O LMS adotado pela IES foi o Blackboard. O principal objetivo de um LMS é simplificar a administração dos cursos. Este sistema auxilia os alunos no planejamento individual de seus processos de aprendizagem, e permite que os mesmos colaborem entre si através da troca de informações e conhecimentos. Em linhas gerais, são utilizados no Blackboard as ferramentas de chat, fóruns de discussão, pré-testes on-line, podcasts, pós-testes on-line, provas on-line, avaliações de disciplina, avaliações de curso, avaliações de LOs (Learning Objects), dropbox digital, avisos, calendários, ferramenta anti plágio SafeAssign, ferramentas de avaliações em pares, entre outras. Os LOs são disponibilizados no Blackboard no padrão SCORM. O Blackboard na IES foi comprado na versão “full”, que engloba as ferramentas Learning Management System, Community System e o Content System, no qual a IES hospeda a biblioteca de todos os LOs disponíveis.

A aplicação das Tecnologias Educacionais não se restringe meramente ao uso do computador em sala de aula. Engloba também o uso de outros diversos recursos, como webradio, fotografia, livros e ambientes de conferência web (webcasting) para suportar aulas enriquecidas por vídeo, som, imagem e aplicativos diversos, tudo isto de forma simultânea, criando ambientes de colaboração virtual, síncronos e assíncronos. Desenho Instrucional O design instrucional é compreendido como o planejamento do ensinoaprendizagem, incluindo atividades, estratégias, sistemas de avaliação, métodos e materiais instrucionais. Tradicionalmente, tem sido vinculado à produção de materiais didáticos, mais especificamente à produção de materiais analógicos. Com a incorporação das tecnologias de informação e comunicação, em especial a Internet, ao processo de ensino-aprendizagem, faz-se necessária uma ação sistemática de planejamento e a implementação de novas estratégias didáticas e metodologias de ensino-aprendizagem. Ao lado das TICs, transformações socioeconômicas, políticas e culturais das últimas duas décadas colocam em xeque currículos e prioridades educacionais (o que ensinar), estilos de pedagogia e andragogia (como ensinar) e a própria institucionalização do ensino (quem detém o poder de ensinar e validar a aprendizagem), impelindo-nos a uma nova lógica de ensino (LITTO, 1997; KENSKI, 1998). Define-se Objeto de Aprendizagem como todo o conteúdo de caráter instrucional que tem um, e apenas um, objetivo de aprendizagem explícito; é composto por uma série de Objetos de Informação (conceitos e/ou exemplos e/ou etc) que por sua vez são compostos por assets (textos e/ou animações e/ou ilustrações etc); e tem pelo menos um exercício verificador da retenção do conhecimento por parte do aluno, quanto ao objetivo de aprendizagem referido. Já os Objetos de Informação são definidos como todo o conteúdo de caráter informacional. Pode ser um conceito, um case etc. Por exemplo, um texto em PDF. Amplitude A IES B possuía em 2009 cerca de 12.000 alunos, entre alunos dos cursos de Graduação e Pós-Graduação. Como o projeto teve por objetivo atender os alunos de Graduação foram considerados então apenas cerca de 6.000 alunos. O número total de Professores é igual a 1.536. A fase inicial do Projeto completou em julho de 2009 o desenvolvimento de 180 Objetos de Aprendizagem, e finalizou o redesenho das 30 disciplinas envolvidas no projeto. Ou seja, todas as disciplinas e os professores envolvidos no Projeto já haviam sido capacitados e todas as suas disciplinas já estavam disponíveis no Blackboard. Gráfico 2: Utilização do Blackboard na IES B entre março e setembro de 2009

O LMS, até janeiro de 2009, estava disponível somente pela equipe da Coordenadoria de tecnologia aplicada a educação. O acesso ao sistema foi disponibilizado aos professores e alunos em fevereiro de 2009. Observa-se no período analisado que, os números de acessos ao LMS e as taxas de crescimento de acesso são muito grandes. Por exemplo, se considerarmos os meses de março a setembro, constatamos um crescimento de 39 alunos, para 3.653 diferentes alunos, ou seja, um crescimento de 9.267% no número de alunos. Quanto ao número de professores o aumento no mesmo período foi de 2.542%, e o número de turmas utilizando o sistema cresceu 18.043%. Considerações Finais Os próximos passos indicam a necessidade do desenvolvimento de um processo de avaliação da efetividade do aprendizado no novo ambiente, com as disciplinas desenvolvidas com a metodologia adotada. Novos estudos teóricos são necessários para o desenvolvimento de métricas comparativas que permitam qualificar e quantificar o aprendizado, relacionando-o com a metodologia instrucional empregada. Com a incorporação das tecnologias de informação e comunicação, em especial a Internet, ao processo de ensino e aprendizagem, faz-se necessária uma ação sistemática de planejamento e a implementação de novas estratégias didáticas e metodologias de ensino e aprendizagem. Em muitos casos, a maioria das aplicações das tecnologias educacionais são usadas para facilitar a organização do processo de aprendizagem centrada no professor, mas a quebra de paradigma, a ruptura no modelo educacional vigente reside na aplicação destas tecnologias na aprendizagem centrada no aluno. Uma nova proposta deve ser ponderada pelas instituições de ensino: uma alteração dos processos de ensino visando alcançar

transformações na educação e, para tanto se deve reformular toda a relação existente atualmente entre professores, alunos e currículo, visando uma educação mais dinâmica, através do uso, de forma apropriada, das tecnologias educacionais disponíveis. Destaca-se que o sucesso dos projetos apresentados neste texto estão intimamente relacionados à capitação dos professores no que se refere à utilização de novas metodologias no processo de ensino e aprendizagem, e não no enfoque no aspecto tecnológico. Os workshops desenvolvidos tinham por objetivo incentivar e motivar os professores em novos métodos, utilizando tecnologias educacionais como ferramentas para a interação, troca e motivação dos alunos em novas tarefas desafiadoras, instigantes, relacionadas às disciplinas. E o redesenho instrucional as disciplinas foi realizado para atingir este objetivo. Os principais resultados obtidos nos dois projetos apresentados são os seguintes: a) Metodologia de Desenho Instrucional desenvolvida e aprovada b) Redesenho das atividades de aprendizagem das disciplinas envolvidas nos projetos c) Treinamento e capacitação do grupo de professores d) Todas as atividades de aprendizagem detalhadas e desenvolvidas utilizando as respectivas tecnologias. O foco no projeto pedagógico deve ser forte o suficiente para que o desenvolvimento de novas tecnologias e metodologias seja por ele permeado. As salas de aula e as escolas, assim como as conhecemos hoje, terão que mudar a maneira de se fazer educação, em todos os seus tempos e espaços, seja na modalidade presencial ou a distância. E, para que as tecnologias sejam efetivamente utilizadas como um recurso no processo de ensino e aprendizagem, para que ocorra uma autêntica transformação nas formas de ensinar e aprender, é preciso que a IES esteja preparada sob todos esses aspectos. Referências Bibliográficas BELISÁRIO, A. O material didático na educação a distância e a constituição de propostas interativas. In: SILVA, M. A. da (Org.). Educação online. São Paulo: Loyola, 2003. (p. 135-146). CARRARA, K (Org.). Introdução a Psicologia da Educação: seis abordagens. São Paulo: Avercamp, 2003. CHRISTENSEN, C.; HORN, M. e JOHNSON, C. Inovação na sala de aula: Como a Inovação de Ruptura muda a forma de aprender. Porto Alegre: Artmed, 2009. DRUCKER, P. Knowledge-Worker Productivity: The Biggest Challenge. California Management Review; Winter 1999, Vol. 41 Issue 2, p79, 16p. FIORENTINI, L. M. R. Materiais didáticos escritos nos processos formativos a distância. In: CONGRESSO DE ENSINO SUPERIOR A DISTÂNCIA, I, 2002. Petrópolis. Anais. Petrópolis: EsuD, 2002. FREIRE, P. Sobre educação: diálogos: Volume II/ Paulo Freire (e) Sérgio Guimarães. - Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1984. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1996. GRYZYBOWSKI, Cândido (1986), apud. Informática Educativa - Razões e Objetivo do Núcleo de Tecnologia Educacional e suas Funções - Primeiro Momento,

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