INSCRIÇÃO DO CANTE NA LISTA DO PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE PELA UNESCO

June 24, 2017 | Autor: Alexandre Weffort | Categoria: Música Popular, UNESCO world heritage, Cante - Alentejo
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INSCRIÇÃO DO CANTE NA LISTA DO PATRIMÓNIO IMATERIAL DA HUMANIDADE PELA UNESCO ANÁLISE ATRAVÉS DO PROCESSO MEDIÁTICO Alexandre Branco Weffort1

Introdução A pesquisa aqui relatada inscreve-se no âmbito do estudo de caso, assumindo uma dimensão exploratória, e seguiu, pela antevisão da sua potencialidade heurística, uma orientação de base fenomenológica. Procurou-se um conhecimento do modo como os media portugueses trataram o evento da inscrição do Cante na lista do património imaterial da humanidade pela UNESCO, sinalizando, a par da manifestação de contentamento pelo sucesso da candidatura apresentadas na superfície das notícias, as tensões patentes no comportamento dos diversos actores intervenientes. Pretende-se, com tal procedimento, o reconhecimento do evento social em que se transformou o acto de reconhecimento do Cante enquanto património imaterial da humanidade, bem como das contradições que escapam à manifestação expressa do pensamento contida em cada texto individualmente considerado. Da fenomenologia, recorri sobretudo ao seu âmbito técnico, em busca da definição do objeto em termos científicos e da fixação dos seus traços essenciais. Não acompanhei a sua dimensão filosófica transcendental, atendendo dessa forma às reservas enunciadas em meados do século passado por Trần-Ðức-Thảo, que apontava: “A vivência não é mais do que um aspeto abstracto da vida efetivamente real. Exprime o ritmo do devir em que se engendram as formas. O mérito da fenomenologia consiste em o submeter a uma descrição metódica extremamente precisa, que assume o sensível como o fundamento do sentido do verdadeiro, mas a abstração do seu ponto de vista não lhe permitiu ver o conteúdo material de essa vida essa vida sensível” (Thảo, 1959: 196-197)2.

O objeto da pesquisa relatada neste texto centrou-se no processo de inscrição do Cante na lista do património imaterial da humanidade pela UNESCO, questionado através da sua repercussão mediática em Portugal, incidindo sobre o conhecimento que se faz daquele género e prática musical. Enquanto problema nuclear, surge formulado na seguinte questão: agora que foi assumido como património imaterial da humanidade pela UNESCO, para onde irá o Cante?

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O presente texto resultou da concatenação e adaptação de três trabalhos realizados em fevereiro de 2015, no âmbito do Curso de Doutoramento (FCT) em Estudos de Comunicação: Tecnologia, Cultura e Sociedade. 2 O autor citado procurou estabelecer uma combinação entre o método materialista dialético e a fenomenologia, como nota Roland Barthes (Barthes, 1951), valorizando nela o que aporta enquanto maneira de descrever a experiência e acrescentando à descrição fenomenológica um horizonte e um enquadramento.

I

Fenomenologia da celebração do Cante

A dinâmica da investigação científica não deixa de estar sujeita a matrizes de pensamento histórico-filosófico enquanto “quadro de constrangimentos histórico-sociais impostos” (Martins, 2011:63). Como todo facto cultural, está sujeita aos mesmos critérios que a generalidade das práticas humanas: “têm também um tempo contextual, o tempo de um campo social, com relações de força que correspondem a posições sociais assimétricas dos actores sociais” (Martins, 2011:56). As notícias recolhidas cobrem várias facetas do evento e revelam o tema numa diversidade de perspetivas e sensibilidades, mas fazem-no parcelar e fragmentariamente. E ao fazê-lo, remetem o leitor para um ponto de vista circunstancial, na medida em que cada um percebe “o mundo e as coisas dentro do mundo desde o particular ponto de vista em que está colocado em cada momento, e também desde determinados aspetos e perspetivas que variam na dependência do ponto de vista” (Gurswitsch, 1975). No entanto, cada notícia é, não importa qual a sua orientação ou dimensão, a manifestação de um acto comunicacional onde a sua significação se realiza não apenas no âmbito estrito do texto, mas pelo facto de se integrar, enquanto acto comunicativo, num comportamento mediático coletivo, sensível a modas, tendências e agendas. Assim, seja ela considerada individualmente ou inserida numa dinâmica social mais abrangente, a notícia é simultaneamente parte, testemunho e resíduo de um evento. É um “acontecimento que se debruça sobre outro acontecimento, sendo acontecimento por ser notável, singular e potencial fonte de acontecimentos notáveis” (Sousa, 2006:212). As indagações realizadas anteriormente sobre o Cante evidenciaram o papel do conhecimento construído em senso comum3 acerca daquela prática cultural enquanto gerador de constrangimentos para a pesquisa, questão que colocou a necessidade do recurso a uma metodologia onde a pesquisa decorra de forma liberta em relação aos preconceitos existentes (e que, necessariamente, informam o primeiro contacto com o tema). 1) Dos dados considerados e seu tratamento Neste trabalho, os dados são obtidos através do discurso noticioso em torno de um evento pontual: as manifestações em torno da candidatura do Cante à inscrição na lista do património imaterial da humanidade pela UNESCO. O acervo noticioso foi obtido em pesquisas realizadas em dois momentos: no dia 12 de dezembro de 2014, uma pesquisa primeira com base nas expressões “Cante” e “UNESCO”, publicadas entre 1 de dezembro de 2010 e 12 de dezembro de 2014, e no dia 14 do mesmo mês, após uma leitura exploratória do corpus referido, foi realizada uma segunda pesquisa com base nas expressões “Alentejo” e “Património”, publicadas entre 1 de dezembro de 2001 e 1 de dezembro de 2011, sendo sinalizados um total de 220 objetos. Obteve-se assim um repositório equivalendo a 855 páginas, correspondendo ao conteúdo dos sites acedidos. 3

Dando corpo a um nível doxológico que domina o discurso dominante, tanto dos praticantes como daqueles que refletem sobre o tema, mesmo na área académica.

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Ao estabelecer critérios de análise, considerei os seguintes parâmetros: a) Sentido 4 (consagração, aceitação, processo); b) Âmbito (local, regional, nacional); c) Tipo (notícia, artigo, opinião, entrevista); d) Tom (aprovação, questionamento, reprovação); e) Dimensão (pequeno, médio, grande)5; f) Actor (praticante, ativista, pesquisador, político, personalidade). Identificaram-se assim referenciais de conteúdo que deram lugar à fixação de unidades de significado obtidas pela apreciação da relação entre os referenciais de conteúdo e os actores que os produzem. As unidades de significado obtidas foram as seguintes: “Alentejo”, “alentejano”, “ativo cultural”, “ativo económico”, “casa de cante”, “casa do cante”, “identidade”, “matriz”, “património”, “renovação”, “tradição” e “turismo”. Os actores foram categorizados em função da sua ação (político, técnico ou de protagonismo) e do seu âmbito de actuação (nacional, regional e local). Por sua vez, as unidades de significado foram agrupadas em pares dicotómicos, em função da tensão encontrada na relação entre: a) “património” / “turismo”; b) “ativo cultural” / “ativo económico”; c) “casa do cante” / “casa de cante” 6 ; d) “tradição” / “renovação”; e) ”alentejano” / “Alentejo”; e f) “identidade” / “matriz”. 2) Constatações iniciais Uma conclusão foi desde logo alcançada em relação à internet enquanto medium informativo: a tendência à superficialidade e a proliferação de publicações de conteúdo iterado são condicionantes que alteram o modo como se processa a comunicação, deixando de haver uma relação de identificação tácita entre o emissor e o receptor. E, na medida em que se amplia o recurso informativo, é transferida ao receptor a tarefa de descortinar os níveis mais profundos de conteúdo e organizar os dados, seguindo um critério pessoal de linearidade que lhe dê coerência. A cobertura fixada no corpus noticioso pouco revelou em relação ao Cante propriamente dito, à sua caracterização enquanto género performativo (na estratégia da candidatura, esse conteúdo foi tratado sobretudo através do recurso a registos fotográficos e cinematográficos), à sua história ou ao conhecimento científico resultante do trabalho realizado pelo meio académico. A tensão referida não assume uma expressão visível nos discursos individualmente considerados, estando neles presente por vezes em forma latente, pois o espaço mediático virtual não promove a interação direta entre os diversos actores, nem implica no

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O “sentido” temático foi obtido pela subdivisão do acervo em textos produzidos em função do evento da celebração da consagração do cante pela UNESCO; de textos produzidos antes desse evento, mas depois da aceitação da candidatura, permeados por uma expectativa de certa forma segura; e de textos anteriores àquela aceitação e relacionados com as circunstâncias do processo de candidatura. 5 Correspondendo a pequeno (1 a 3 parágrafos); médio (4 parágrafos a página inteira); grande (mais que uma página de texto). 6 Observada no confronto entre o modelo proposto da “casa de fado”, que correspondeu à adequação do “fado” a uma lógica de economia urbana, ou em recuperação modernizada de modos de intervenção administrativa na esfera cultural praticados em meados do século XX no mundo rural, como foi o caso da “casa do povo”.

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reconhecimento mútuo destes, embora torne do conhecimento público os comportamentos que protagonizam. Por indução dos discursos políticos ou por critério editorial, os media cumpriram sobretudo uma função de reforço de imagem dos projetos institucionais. Tal é patente no modo iterado em que alguns protagonistas específicos foram citados e as suas intervenções transformadas em doxa, indiciando um certo grau de agendamento no processo noticioso, onde a relevância do assunto é assinalada pela repetição do tema, das referências aos actores e às fórmulas discursivas por eles produzidas (cf. McCombs, 2006). No entanto, o acesso on-line a esta fonte de informações permitiu, ultrapassada a fronteira do acontecimento efémero e a superficialidade da comunicação individualmente considerada, proceder a uma leitura do corpus como um todo e, dessa forma, aceder a um universo de problemas subjacentes de forma a alcançar a sua significação na relação entre comunicação, cultura e sociedade. II

Discursos mediáticos em torno do Cante 1)

Análise do reportório de reações

No corpus noticioso recolhido no âmbito da pesquisa, ficou patente o empenho da sociedade portuguesa na capitalização do evento (“Portugal, além do fado, vai passar a ser conhecido pelo cante alentejano” 7 ; “mais uma vez, a cultura portuguesa é colocada em destaque no panorama internacional” 8), empenho esse registado desde o nível institucional (órgãos de soberania, partidos políticos, autarquias locais, igreja), ao de diversas entidades culturais e empresariais, bem como de individualidades de diversos quadrantes (estudiosos, praticantes, ativistas, técnicos, artistas, etc.). Os media registaram e propagaram discursos onde a manifestação de orgulho pelo reconhecimento havido foi o traço mais marcante, tendo a bem sucedida candidatura do Cante sido guindada a exemplo da capacidade de empreendimento nacional. Mas a unanimidade quase absoluta registada nas reações de regozijo não significa ausência de tensões e antagonismos mais ou menos assumidos ou revelados onde, segundo um dos protagonistas, “mal se passa a frágil superfície do que pontualmente nos une logo se descobre a profunda imensidão do que realmente nos separa”9. O discurso dominante é de celebração, mas são detectadas algumas diferenças no modo como se expressa a própria congratulação. A ERT (Entidade Regional de Turismo do Alentejo) coloca a tónica do seu discurso no conceito de vitória, referindo sistematicamente o

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Diretora do Museu da Música à RTP (N056). Mensagem do Presidente da República, replicada reiteradamente pelos órgãos de informação (N080, N106). 9 Texto de opinião publicado no órgão central do PCP. Nele são enumerados argumentos de âmbito ideológico, reivindicando a relação do cante com a identidade política do PCP: a “marca de classe, tão profundamente marcada no Cante Alentejano que faz parte da sua essência, não pode ser diluída no efémero sucesso mediático...”. Acedido em 16/01/2015, em http://www.avante.pt/pt/2140/opiniao/133240/. 8

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interesse potencial do reconhecimento do Cante em termos turísticos10, enquanto a MODA (Associação do Canto Alentejano), foca o acontecimento no orgulho expresso na perspetiva do movimento coral: o reconhecimento internacional “engrandece e orgulha a comunidade do Cante e constitui um marco histórico na vida dos Grupos Corais e dos cantadores, que são por excelência os fiéis detentores e transmissores deste património” (N141). No plano político-partidário, a par da sintonia verificada em relação à manifestação de satisfação (de âmbito nacional) e do assinalar unânime da potencialidade económica do Cante por via da indústria turística, registam-se polarizações a nível parlamentar (governo/oposição) que refletem os posicionamentos das diversas forças políticas em termos de identidade ideológica11. 2)

Processos de transformação

O processo de patrimonialização da cultura local que agora se opera no Alentejo, centrada no Cante enquanto género musical, poético e performativo, insere-se numa estratégia onde se afirma o vetor dominante da promoção do turismo cultural, sendo este entendido enquanto uma das prioridades da União Europeia (Perez, 2009, p. 127). Este processo conduz, no caso do Cante, ao incremento da necessidade de mudanças a vários níveis. Seguindo os discursos patentes no corpus noticioso em apreço, encontramos referências explícitas à necessidade de mudança geracional, seja pelo apelo à renovação etária dos grupos existentes, seja pela criação de grupos compostos especificamente por jovens, seja ainda pela implementação do Cante no currículo escolar básico 12 . É esse o sentido das declarações valorizadas pelos media em relação aos grupos surgidos nos últimos anos, interesse crescente que será uma consequência do processo de construção da candidatura, com especial relevo para o filme promocional enviado à UNESCO e a longa-metragem Alentejo, Alentejo 13 ,

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Diz o presidente da ERT, em entrevista publicada no site da Rádio Renascença que “a preocupação é criar um destino e excelência em que as referências sejam todas de qualidade” (N007). 11 O PCP promove a visita de um grupo de cantadores à Assembleia da República (N016) e outro ao Parlamento Europeu (N106), enquanto o PS convida um outro grupo a exibir-se no palco do seu último Congresso (N044) e, por outro lado, os partidos da oposição BE e PS interpelam o governo sobre as políticas de salvaguarda do património agora consagrado (N032, N034). Por seu turno o governo manifesta a sua disponibilidade para projetar o Cante enquanto prática cultural (N128) e o aparelho do estado se mobilize na potenciação desta no âmbito das estratégias promocionais do turismo. 12 O presidente da Câmara Municipal de Serpa afirma o propósito de “continuar no apoio da nossa identidade cultural, através dos nossos jovens, através das nossas crianças” (N043). 13 A par das qualidades cinematográficas evidenciadas no plano estético e técnico, o filme Alentejo, Alentejo, construído no processo (e dessa forma, parte integrante) da candidatura, representa em minha opinião um claro momento de agendamento do produto cultural. Apresenta, em planos discursivos sobrepostos, uma perspetiva que oscila entre o documentário e a ficção com recurso ao registo documental. Remetendo o espectador para uma apreensão de tipo fenomenológico, pela ausência de complementos informativos em relação aos eventos registados (apenas surgindo essa informação no genérico), as escolhas de planos e a montagem realizam no entanto um discurso que alterna entre critérios émicos* (não há narrador, sendo apresentada exclusivamente a palavra dos praticantes) e éticos* (a montagem cumpre, no essencial, os objetivos da candidatura). Alguns discursos patentes no filme encontram-se reproduzidos ipsis verbis nos media enquanto produto de entrevistas, o que indicia um tipo de construção teórica auto-reflexiva em processo de fixação ou mesmo cristalização, o que, pela sua iteração em circustâncias dialógicas diversas, leva ao questionamento do seu grau de espontaneidade. A aura ilusória de autenticidade, proporcionada pela câmara (no sentido benjaminiano), conduz a uma leitura que

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ambos realizados pelo cineasta Sérgio Tréfaut, que diz: “nos últimos três anos têm surgido muitos jovens a cantar e novos grupos que prometem garantir o futuro” (N109). Mas a mudança geracional surge também relacionada com a mudança nos modos de actuação, enquanto necessidade manifesta pelos novos praticantes em relação ao repertório, aos trajes e às formas de actuação tradicionais14. Noutro âmbito, observam-se processos de hibridação pela junção ou sobreposição de géneros musicais (do Cante com o Fado ou com o Jazz)15. A prática performativa do Cante regista, na sua história, vários espaços de realização: as ruas e caminhos rurais, as praças, as tabernas e, mais recentemente, o palco. Cabe, no entanto, questionar em que medida os modos de actuação actuais, tidos como expressão da tradição popular, não serão na verdade produtos de uma fase tardia e historicamente ultrapassada da existência dessas manifestações, correspondente ao período do folclorismo encetado pelo Estado Novo. A questão não será despicienda, se atendermos ao modo como hoje se realiza a validação do conhecimento nas instâncias internacionais (como é o caso da UNESCO16). Mas, como assinala João Leal, “nada seria mais desanimador para o Património Cultural Imaterial do que ser a mera continuação – por outros meios – das etnografias locais mais ou menos “costumbristas” (…). Segundo este antropólogo, o importante é construir o Património Cultural Imaterial não como lugar de reprodução acrítica (…) sobre o que a cultura deveria ser, mas (…) sobre o que a cultura realmente é” (Leal, 2013: 14). João Leal enfatiza uma linha de pensamento característica da antropologia – do modo como esta encara o seu objeto – que marca a sensibilidade, se não o posicionamento dominante, na avaliação do processo de mudança operada nesta inscrição do Cante a património imaterial. Diz este antropólogo, em jeito assumidamente provocador, que “os bailes de terceira idade que se realizam em coletividades populares em Lisboa são tão Património Imaterial como as Festas do Espírito Santo [nos Açores], da mesma forma que, no caso do património material, as casas – recentes e ruidosas – construídas pelos emigrantes colide com o distanciamento (no sentido brechtiano) enquanto critério deontológico do documentário (que visa proporcionar uma apropriação crítica do conteúdo ideológico subjacente às escolhas da montagem). * “Émico e ético são dois termos em uso na antropologia e outros ramos das ciências sociais, como a etnomusicologia. Segundo Jean-Jacques Nattiez, émico consiste na análise que reflecte o ponto de vista dos informantes locais, enquanto ético consiste na análise realizada com ferramentas metodológicas e categorias do investigador” (Weffort, 2013). 14 Noticia o jornal Público que em Cabeça Gorda, nos arredores de Beja, “é criado o grupo coral Moças do Cante (...) Elas querem transmitir o cante mais virado para os dias de hoje. Vestir calça de ganga e camisa. “Não temos que ter aqueles lenços na cabeça e aquelas saias. (…) Meu amor abalou para a vida militar. Ai que saudades…, não é tema para nós (…) As modas do antigo cancioneiro já estão muito cantadas. Não queremos mais do mesmo” (N156). 15 Enquanto processo de reinvenção, o compositor Amílcar Vasques Dias “experimentou intrometer o seu piano jazz no canto de dois cantadores do Grupo Cantares de Évora. Nasceram os CantePiano, que se apresentaram pela primeira vez no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, em Fevereiro de 2013” (N151). 16 E à questão recentemente suscitada pela pesquisadora Ayala Joncheere sobre a dança Kalbelia, inscrita na lista do património cultural imaterial em 2010 e que será, na realidade, um produto cultural recente, “uma dança inventada em 1980” (cf. artigo de Katleen Gomes, Público, 31/out/2014, p. 33).

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portugueses são tão património como as casas de granito com varanda exterior – sóbrias e «arcaicas» do norte do país” (Leal, 2013: 14). No mesmo sentido situa-se (o também antropólogo) Paulo Lima em relação ao Cante, dizendo: “não me interessa se cantam bem ou se cantam mal, se vestem de acordo com a região ou não, se estão ou não a cantar o reportório tradicional. O que me interessa fundamentalmente é a questão social” (N169). Diametralmente contrária era a perspetiva do folclorismo estético seguida por Fernando Lopes-Graça, que dizia: “nem todo o documento etno-musical, só porque o é, possui qualidade ou virtude artística impositiva, nem todo ele oferece presa a um tratamento que queira aliar a autenticidade étnica à exigência estética” 17 . O compositor, assumindo a circunstância particular do criador musical, reivindicava assim a defesa de uma qualidade estética inerente à música popular, critério que, no seu ponto de vista, informa o conceito desta enquanto património18. A moderna etnomusicologia afastou aquele critério, por considerar que representava uma dimensão de ordem subjetiva, não mensurável 19 . No entanto, o critério estético é algo efetivamente assumido pelos praticantes do Cante, o que ficou documentado no filme Alentejo, Alentejo, por exemplo, pelo ensaiador do coro, ao elucidar sobre o processo de escolha dos elementos chamados a realizar as funções solísticas (“a voz escolhida para ponto tem que ser feita assim (…), é preciso uma voz que seja, vá (…) dar o balanço à moda, que alguns não têm…”) 20. Uma outra mudança é preconizada no processo de patrimonialização em curso, nomeadamente, nos discursos que mais empenhadamente procuram a valorização do património enquanto ativo económico e o colocam na órbita do turismo, preconizando a criação de “casas de cante” 21 (no modelo das “casas de fado”), designação que estabelece uma diferenciação subtil em relação à designação “casa do cante” (criada a nível autárquico e num modelo que pode concretizar-se sob a forma de uma estrutura de tipo académico ou

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Lopes-Graça, F. (1959), “Sobre o actual cultivo da canção folclórica portuguesa”, apud Weffort (2006: 88). Acrescentava o compositor tomarense: “Por que amamos nós a nossa canção popular e por que entendemos que a devem amar os Portugueses? Em primeiro lugar, porque ela é bela. No entanto, forçoso é reconhecê-lo, a sua beleza, a sua indiscutível qualidade estética, está ainda a bem dizer por descobrir, e não é nos espécimes correntemente tidos e apreciados na cidade como típicos e representativos do nosso folclore que podemos descobrir essa beleza, essa qualidade estética”. 19 Todavia, segundo o sociólogo Florestan Fernandes, “o critério estético permite conhecer aspectos da realidade que são inacessíveis à indagação histórica e à investigação experimental. No estudo do folclore, esse critério abre perspectivas para a descrição de conexões psicoculturais (…)”, onde “o excepcional é excluído da esfera do contingente e passa a servir como fonte de reconstrução e de explicação das condições ou das situações em que pode ocorrer.” (Fernandes, 1978: 77). 20 No filme em referência, entre 1:01:45 e 1:02:30. O critério estético surge formulado enquanto modo de realizar, de um dever ser na forma de cantar expresso em termos de sensibilidade e equilíbrio musical; de um dever ser que também não pode deixar de ser considerado em termos antropológicos. 21 Diz o presidente do TAR (Turismo do Alentejo e Ribatejo): “Queremos que sejam casas em que, além da gastronomia e da cultura alentejana que podem oferecer, o turista possa também usufruir de cante alentejano, tal como funciona uma casa de fados”, explicou. Para Ceia da Silva, o cante alentejano, “uma homenagem ao caráter, à alma e à essência da cultura alentejana”, é a base da “estratégia global” do TAR para os próximos anos, pelo que este “reconhecimento de uma expressão única” e da “forma de estar” da região terá “repercussões incalculáveis” (N039, N083, N101). 18

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museológico mas que, pela sua vinculação institucional à administração local, poderá também representar uma versão modernizada das antigas casas do povo). A perspetiva de um espaço gastronómico e simultaneamente de turismo cultural baseado no Cante altera radicalmente a circunstância do canto tradicional no Alentejo, mesmo quando este era realizado na taberna. Nesse novo espaço (a “casa de cante”), o cantador será tendencialmente profissionalizado22. A diferenciação entre casas do ou de cante exprime a clivagem em relação a dois modos extremos de equacionar a patrimonialização do Cante, entre uma concepção filiada numa perspetiva tradicionalista ou folclorista e uma concepção filiada numa perspetiva produtivista ou mercantilista (Perez, 2009: 142-144). 3)

Ativo cultural e ativo económico

A clivagem assinalada em relação aos espaços de realização do Cante remetem-nos para a dimensão do património cultural enquanto capital simbólico, no sentido em que a “economia dos bens simbólicos apoia-se no recalque ou na censura do interesse económico (no sentido restrito do termo)” (Bourdieu, 2008: 193). São conjugados os conceitos de ativo cultural e ativo económico 23 e é preconizada a transformação do primeiro no segundo. O antropólogo Paulo Lima, responsável pela candidatura e diretor da “Casa do Cante” de Serpa, aponta no seu discurso os “projetos fora de Portugal” que, segundo ele, mostram “que existem caminhos muito interessantes de gestão, ou de co-gestão, entre os detentores e, por exemplo, os operadores turísticos” na perspetiva da concretização de “formas éticas de turismo cultural”, baseadas num “associativismo forte, dialogante com o mundo económico”. A transformação do Cante “Património Cultural Imaterial” num ativo económico regional passaria pela “disponibilizando para os criadores de produtos regionais (vinho, azeite…), imagens e marcas, que em articulação com outro património poderão, a médio prazo, contribuir para uma necessária sustentabilidade do movimento” (cf. N002). A potencialidade assinalada ao Cante no plano económico faz parte de uma estratégia assumida para uma diversidade de produtos culturais pela entidade governamental que regula o turismo no Alentejo. Em 2009, a Direção Regional de Cultura do Alentejo (DRCA) noticiava o programa Identidades – Salvaguarda do Património Imaterial do Alentejo onde, em parcerias firmadas com diversas instituições, apresentava cerca de uma dezena de projetos de “tendo como objectivo implementar na região o espírito da Convenção para a salvaguarda do património

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No entanto, como diz Perez: O turista procura lazer, mas o anfitrião encontra-se a trabalhar. (...) O que faz o turismo é transformar as culturas locais em bens de consumo, [e, acrescenta ainda este autor,] a mercantilização turística da cultura provoca uma distribuição desigual dos benefícios do turismo (Perez, 2009: 131). 23 Segundo o Presidente da Câmara Municipal de Serpa, “ao objetivo de salvaguardar e transmitir o cante, é preciso também “começar a pensar em tornar este ativo cultural numa ativo económico, para ajudar a sustentabilidade do cante e o desenvolvimento da nossa região” (N155).

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cultural imaterial, adoptada pela UNESCO”24. Em 2011, foi noticiado o abandono do projeto por parte da DGCA (N225) e nesse mesmo ano dá-se início ao projeto de candidatura do Cante no âmbito da UNESCO. Este pequeno historial dos antecedentes ilustra o abandono de uma linha de trabalho que visava a valorização de diversas expressões culturais locais em prol de uma expressão única, considerada mais abrangente em termos regionais. Embora haja factores de descontinuidade a nível institucional que dificultam a percepção das políticas seguidas, a redução do espectro de expressões culturais corresponde a uma estratégia que pode ser lida no plano de uma economia dos valores simbólicos, onde o enfoque no Cante enquanto expressão identitária regional pode ser lido na sequência do processo de folclorização ocorrido ao longo do século XX. 4)

Projetos e identidades

Os debates que acompanharam o processo de construção da candidatura revelam pontos de tensão sensíveis, onde a delimitação geográfica e de tipologia performativa acompanharam os discursos construídos pelo senso comum e, também, dos que se reivindicam do âmbito científico. A primeira questão, relativa à delimitação geográfica, é tratada a dois níveis extremos: da origem do Cante enquanto prática musical e da abrangência actual dessa mesma prática. O reconhecimento do “epicentro” (a vila de Serpa) não foi sempre pacífico25, embora a polémica em torno da questão se tenha visto arredada dos discursos mais recentes. Já a abrangência actual obriga a considerar a questão da mobilidade social, dos processos migratórios que determinaram a constituição de uma comunidade em diáspora. O levantamento dos grupos de praticantes existentes, realizado no âmbito da candidatura, enumerou e mapeou a prática do Cante e as suas zonas de implantação actual. A existência continuada de grupos de Cante fora do Alentejo foi, aliás, um dos traços salientados na consideração do seu valor simbólico: o praticante canta porque se reconhece como oriundo do Alentejo e essa prática lhe reforça o sentido de pertença a uma comunidade imaginada. A prática do Cante adquire uma dupla significação: “símbolo identificador do Alentejo e identitário dos alentejanos” 26 ; isto é, revela simultaneamente a sua dimensão enquanto símbolo de uma identidade instituída, patente nos discursos produzidos a todos os níveis e 24

Newsletter n° 1 da DGCA, acedida em 18/01/2015 em http://www.culturaalentejo.pt/newsletter/newsletterDRACALEN_1.pdf 25 Numa polémica protagonizada pelo antropólogo Paulo Lima e pelo jornalista Paulo Barriga, o primeiro sugere a localização em Portel, como ficou patente no projeto Identidades, já referido: “O projeto nasceu em Portel, em 2005, quando esta autarquia desejou colocar on line um conjunto de espólios de eruditos regionais que possui em depósito (…) e construir um projeto, a instalar no Convento de São Paulo, criando aqui a Casa do Cante”. Por sua vez, Paulo Barriga insurge-se em relação a esta deslocação geográfica: “… Nada mais estranho. O que Paulo Lima devia ter lido e concluído na obra do professor Ranita da Nazaré (...) é que Monte do Trigo e Monsaraz ainda sentem a influência do cante que é predominante nas regiões planas para lá das serras”, dando assim ênfase à delimitação geográfica (N224). 26 Da nota de imprensa do PCP de 4/12/2014, acedida em 18/01/2015 em http://www.avante.pt/pt/2140/emfoco/133237/

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instâncias de poder e, ao mesmo tempo, de uma identidade que já foi de protesto e que, neste momento, procura afirmar-se enquanto identidade de projeto27. 5)

Delimitação do património

Vimos como o processo de patrimonialização, pelo menos nessa sua fase mais vinculada ao poder regional e autárquico, teve como impulso inicial um programa regional pela DGCA. Nesse impulso inicial, o Cante (ainda designado como canto a vozes), era uma das manifestações culturais populares consideradas nesse esforço de salvaguarda. Assistimos em 2011 a uma ampla mobilização de esforços e vontades. O lançamento solitário do projeto pela Câmara de Serpa, foi palco de eventos com ampla participação dos grupos corais, seja pela adesão formal ao processo de candidatura, seja pela sua mobilização dos seus elementos para eventos públicos massivos. Num desses eventos, em março de 2012, assistimos a uma rara conjugação de actores políticos: “mais de 500 elementos de diferentes grupos corais de cante alentejano estiveram concentrados em frente ao Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), em Lisboa, onde esperavam ver recebida a candidatura daquele canto (...) num apelo para que a Comissão Nacional da UNESCO e o MNE entregassem, em Paris, o dossiê da candidatura”28. O evento referido, do desfile (forma de participação popular situada entre a manifestação e a romaria, comportamento associado a práticas de âmbito religioso), foi a forma icónica projetada pela candidatura no filme entregue à UNESCO. A consagração do Cante enquanto património cultural imaterial da humanidade pela UNESCO é um marco na história dessa prática. O evento teve fortes repercussões a nível interno e externo, traduzindo-se na criação de fortes expectativas em relação ao futuro. Já assinalamos projetos de grupos jovens e o modo como nestes se coloca a questão da identidade em relação ao Cante, do surgimento de novos espaços performativos, concretizando aspirações sociais manifestas no plano económico (a profissionalização) e no plano simbólico (“não queremos mais do mesmo”29).

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Segundo Castells, a identidade, é o “processo de construção de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados”, o(s) qual(ais) prevalece(m) sobre outras fontes de significado” (Castells, 1999: 22). Considerando que para um actor coletivo, ou mesmo para um determinado indivíduo, “pode haver identidades múltiplas”, aquela pluralidade de identidades será “fonte de tensão e contradição tanto na auto-representação quanto na ação social” (Castels, idem.). Este autor reconhece a construção social da identidade como algo que “sempre acontece em um contexto marcado por relações de poder”. 28 Acrescenta a notícia: “O actor Nicolau Breyner, natural de Serpa, no dia 28 de março de 2012, foi o rosto da candidatura, que na Casa do Alentejo leu um comunicado em que se afirmou que “adiar a entrega de um excelente e bem fundamentado documento é exigir aos portugueses que continuem a desbaratar dinheiros públicos durante não se sabe quanto tempo” (N168). Em apenas uma das notícias alcançadas é referida a questão político-partidária em termos locais, sublinhando o papel que o actor Nicolau Breyner desempenhou nos resultados eleitorais em 1993, por via de “um fenómeno mediático (…) fez com que, apesar da pouca expressão do CDS-PP no concelho, (…) este partido atingisse 26,33 por cento da votação, elegendo dois vereadores” (N201). 29 Ver nota 14.

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Um último espaço referido, de realização da renovação do Cante, passa pela sua inclusão no sistema de ensino (do Cante nas escolas). Uma das iniciativas nesse sentido foi implementada autonomamente pela autarquia de Serpa, contando já alguns anos de experimentação (cf. N181, N226). Nessa experiência a aprendizagem do canto é apoiada pelo recurso a instrumentos (no caso, um cordofone popular de uso corrente no Alentejo, a viola campaniça), como tem sido a prática protagonizada por Pedro Mestre, músico profissional e ativista do Cante (cf. N006, N199). Todavia, a abordagem dos modos de transmissão das práticas tradicionais é uma área onde a fronteira do valor simbólico também se impõe. Embora a iniciativa tenha sido lançada em Serpa, pela autarquia local, será no mesmo âmbito autárquico que surgirá uma voz de contestação (pelo diretor da Casa do Cante, de Serpa), afirmando que educação formalizada visa modelar cidadãos iguais e não para criar a diferença. E o cante nas escolas cumpre também uma função niveladora (…), está a matar toda a diversidade musical com o qual o cante conviveu, convive e deveria conviver (…). E é aqui, parece-me, que deverá haver uma verdadeira revolução. Passar de um processo apostado no ensino para um que aposte na transmissão (N002).

III

Os media nos bastidores do Cante30 1) Discursos dos media e discursos mediatizados

O acervo noticioso reunido apresenta diferentes tipos de discurso, consoante o actor em presença. Os media desenvolveram neste quadro um discurso próprio, com a replicação sistemática de determinadas intervenções do foro político, numa lógica de agendamento. Por um lado, de uma agenda concertada com a participação das entidades promotoras e seus actores de maior protagonismo31, onde a questão da visibilidade é assumida enquanto um dos argumentos chave mais importantes para a medição do sucesso do empreendimento32. Por outro, observam-se indícios de uma agenda determinada por interesses políticos e económicos, onde a articulação entre as entidades promotoras e os media é percetível, num esforço de múltiplas capitalizações (do projeto institucional da candidatura, das entidades que o sustentam, das instâncias políticas que a ele se associam, dos comentadores de oportunidade, e das políticas editoriais, muitas vezes necessitadas de assuntos de âmbito cultural).

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Interpretação do evento de inscrição do Cante na lista do património imaterial da humanidade pela UNESCO e sua repercussão mediática, à luz da teoria da ação de Bourdieu. 31 Revelando a sua permeabilidade a “um conjunto de fenómenos associados à disputa do poder e à luta pela definição da realidade que se verifica entre classes, grupos sociais e elites, grupos de pressão (…) e toda uma gama de agentes cada vez mais (…) conhecedores de competências comunicacionais” (Correia, 2012: 101). 32 As expressões utilizadas são várias: “visibilidade inusitada”, “visibilidade mundial”, “visibilidade que nunca teve”, “desenvolvimento através da visibilidade”, “enorme visibilidade”, “visibilidade mediática”, “visibilidade internacional”, “iniciativas para dar visibilidade”, “expandir a visibilidade”, “um dos maiores ganhos”, “visibilidade mediática inédita”, etc.

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2) Conhecimento veiculado pelos media Se o interesse pelo Cante determinou o incremento súbito do tema a nível noticioso, tal não conduziu necessariamente a uma ampliação do conhecimento sobre esta prática. O tratamento noticioso revela um traço de desinvestimento no esforço de investigação, patente no constante replicar de fontes como processo do fazer noticioso. E o conteúdo do assunto tratado passa por momentos confrangedores de confusão e desconhecimento33. Há, no entanto, textos que evidenciam um investimento de âmbito jornalístico de maior fôlego (cf. N156), reveladores de um esforço de reconhecimento do meio, com investigação e capacidade de pesquisa evidenciados nas entrevistas relatadas, bem como textos de opinião de estudiosos ou curiosos locais de certo aprofundamento 34 , no entanto, por regra preso ao conhecimento construído a nível doxológico sobre o Cante, e textos de cariz políticoideológico35. O conhecimento veiculado e patente na generalidade dos discursos é essencialmente de senso comum. Essa é, alias, uma contingência do conhecimento construído sobre o Cante. A bibliografia referida pela candidatura, constante dos documentos entregues na UNESCO apenas inclui referência a um único autor com produção actual a nível académico (a etnomusicóloga Salwa Castelo-Branco), sendo pouco notório o desenvolvimento da matéria no âmbito da investigação musicológica36 mais recente. 3) Dos actores e seus discursos Os actores políticos são representados, ao mais alto nível do Estado, pelo Presidente da República, acompanhado pela Presidente da Assembleia da República, pelo PrimeiroMinistro e pelo Secretário de Estado da Cultura. Os discursos, com ênfase em valores de âmbito nacional, são balizados pela manifestação de satisfação37, felicitação38 e de uma disponibilidade em ajudar a projetar39. 33

Duas notícias revelam-se extremas nesse sentido. Na Rádio Renascença (N069), inicia com a repetição da fórmula consagrada de definição do Cante: “é um canto colectivo, sem recurso a instrumentos, com a particularidade de intercalar um “ponto” e um “alto”: o ponto é o solo, o alto é o coro” (instala-se aqui a confusão, ignorando que as duas funções de ponto e alto são solísticas e que há ainda um terceiro elemento, e o mais numeroso, o coro). Na RTP é afirmado que “o cante (...) é geralmente interpretado por cantadores com trajes tradicionais - facto-macaco de cotim azul e capacete com lanterna de mineiro, no caso de Aljustrel”, onde a indumentária universalizada do facto-macaco é guindado à categoria de traje tradicional (RTP, 26/11/2014). 34 Artigo de opinião publicado no site www.esquerda.net, no dia 8/12/2014 (N009). Nele o autor cita textos de inícios do século XX, através da pesquisa de Ranita Nazaré (publicada em meados da década de 1960), como fonte para o conhecimento da história deste gênero musical. 35 O PCP sublinha no Cante “o seu valor excepcional como símbolo identificador do Alentejo e identitário dos alentejanos (…)” e, acrescenta, “a decisão agora tomada pela UNESCO é também expressão da capacidade criadora do povo que, com a sua luta, inscreverá os valores de Abril no futuro de Portugal”. Nota de imprensa do PCP de 4/12/2014, acedida em 18/01/2015 em http://www.avante.pt/pt/2140/emfoco/133237/ 36 Uma obra de caráter enciclopédico, A música em Portugal no século XX, editada em 2010 pela FCSH/UNL sob coordenação de Salwa Castelo-Branco, não apresenta uma entrada para o termo Cante (ou entrada para este género musical, mesmo que com outra designação). 37 Diz o Presidente da República: “Foi com profunda satisfação que tomei conhecimento da decisão (...) Mais uma vez, a cultura portuguesa é colocada em destaque no panorama internacional”. Consultada em http://www.presidencia.pt/?idc=18&idi=88341 (16/01/2015).

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Fora do âmbito representativo do Estado, na esfera político-partidária observam-se profusas intervenções do PCP40 (a área de maior implantação eleitoral deste partido e a área de implantação geográfica do Cante coincidem e, por outro lado, o PCP reivindica uma identificação de âmbito ideológico em relação ao Cante41), e mais pontualmente dos restantes partidos da oposição42 ou mesmo da maioria governamental43. Os discursos apresentam assim variações com matizes correspondentes à identidade ideológica dos intervenientes, com ênfase nos mesmos pontos gerais (expressando congratulação e orgulho e, também, apontando a valorização económica por via do turismo). No âmbito regional, destacam-se os discursos das autarquias locais, por um lado, e da administração pública (na área da cultura e turismo) por outro, com os primeiros a acompanhar o mesmo tom e conteúdos presentes na esfera político-partidária, embora com maior incidência na expressão local. Tendo percorrido o leque de actores institucionais, importa referenciar protagonistas que se destacam pelo seu contributo específico no âmbito do processo de candidatura, bem como, pela sua capacidade de intervenção mediática. Assim, pelo nível de protagonismo assumido, será frequentemente trazido à discussão o discurso do antropólogo Paulo Lima, enquanto responsável pela candidatura e diretor da Casa do Cante, em Serpa, e o do presidente da ERT do Alentejo44. Neste último, o discurso foca-se na questão do sucesso (o termo “vitória” é reiteradamente utilizado), com a colocação da tónica do discurso em concreto no turismo, protagonizando ainda outros momentos discursivos menos formais, mas não menos relevantes45. 38

A Assembleia da República aprova um voto de felicitação ao “povo alentejano por sabiamente ter criado, preservado e desenvolvido esta manifestação cultural, cujo reconhecimento pela UNESCO engrandece a cultura popular e o país” (N016). 39 O Secretário de Estado da Cultura afirma que o governo “está disponível para ajudar a projetar, nacional e internacionalmente, o cante alentejano” (N093). 40 “Manifestando satisfação e orgulho, o secretário-geral comunista enalteceu o papel que as várias associações e autarquias, em particular a de Serpa, tiveram para que fosse atingido o objetivo do reconhecimento do cante alentejano” (N105). 41 O PCP evoca a história recente, nomeadamente do processo de desenvolvimento sociopolítico do Alentejo ao longo da segunda metade do século XX, das lutas para a conscientização política do operariado agrícola durante o Estado Novo até à realização da Reforma Agrária, para uma identificação da sua natureza de classe com o Cante. Segundo Bourdieu, os “actos simbólicos sempre supõem actos de conhecimento e de reconhecimento, actos cognitivos por parte daqueles que são seus destinatários. Para que uma troca simbólica funcione, é preciso que ambas as partes tenham categorias de percepção e de avaliação idênticas” (Bourdieu, 2008: 168). Mas, sendo aquela relação de identificação em boa medida recíproca, não será necessariamente exclusiva. 42 Os partidos da oposição BE e PS interpelam o governo sobre as políticas de salvaguarda do património agora consagrado e protestam pela exclusão dos cantadores de Serpa aquando da recepção, organizada na embaixada de Portugal em Paris, por ocasião da inscrição do Cante na lista do património imaterial da humanidade pela UNESCO (ver N032, N035, N037). 43 “É grande o regozijo pelo reconhecimento de uma arte genuína de um povo”, afirma o deputado do PSD, Cristóvão Crespo (N056, N096). 44 Por vezes os discursos deste nível da administração são referidos com outras siglas (RTA, DGCA). 45 Segundo a notícia, o “Alentejo “é a melhor região do Mundo”, afirma, sem rodeios, o presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, António Ceia da Silva. (…) que garante que, “ir ao Alentejo é ganhar saúde todos os dias e anos de vida”. “Num mundo cada vez mais globalizado e apressado, há aqui um destino com caracter, com força, com alma, onde se pode recarregar baterias” (…) [e que] “mais que estar na

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4) Análise dos dados A inscrição do Cante na lista do património imaterial da humanidade pela UNESCO apresenta-se como corolário do processo de patrimonialização de uma prática cultural popular. Insere-se no processo de valorização de um património regional no plano internacional. A celebração e congratulação foi prontamente manifesta por diversas individualidades e entidades políticas (do Presidente da República aos dirigentes de partidos políticos, do governo às autarquias locais). A participação popular nos eventos de celebração, bem como o envolvimento demonstrado no processo de preparação da candidatura, através das suas estruturas associativas, e a resistência que esta tradição revelou à erosão das condições de realização que lhe deram origem, testemunham o seu valor simbólico enquanto prática identitária. a. Ações e intenções O evento mediático que acompanhou a fase final da celebração do Cante coloca, no entanto, outras questões. Por um lado, assinala o sucesso do trabalho da candidatura, não apenas pela capacidade revelada em cumprir os preceitos técnicos requeridos pela organização internacional, mas pela capacidade em envolver a sociedade no projeto (ultrapassando barreiras regionais, políticas e institucionais), bem como mobilizar os media na promoção da candidatura e, até, na celebração do seu sucesso. Por outro, evoca o que Bourdieu assinala em relação ao capital simbólico e à economia dos bens simbólicos: “Todas as coisas que os dominantes celebram, nas quais eles se celebram ao celebrá-las (a cultura, o desinteresse, o puro (…)), só podem preencher sua função simbólica de legitimação porque, justamente, beneficiam-se, em principio, de um reconhecimento universal - nenhum homem pode negá-las abertamente, sem negar, em si mesmo, sua humanidade - mas, as condutas que lhes prestam homenagem, sincera ou não, pouco importa, têm assegurada uma forma de lucro simbólico (principalmente de conformismo e de distinção) que, ainda que não seja buscado como tal. (Bourdieu, 2008: 155).

A valorização do Cante enquanto referência identitária de âmbito local e regional ocorre ao mesmo tempo em que se assume a sua inclusão nas dinâmicas de globalização. Este processo evidencia as contradições de uma mudança cultural, contradições que se estendem às ações dos actores culturais e políticos, patente nos discursos, embora não sejam, no plano prático, contradições necessariamente intencionais.

moda, “é preciso mantermo-nos na moda, como a mini-saia” (…). Sublinha que a preocupação é criar um destino e excelência em que as referências sejam todas de qualidade. (…) [algo que se constrói] “todos os dias e com a colaboração de todos os operadores, desde o recepcionista do hotel ao cidadão que sabe receber, passando pelos alojamentos, restauração, posto de turismo, animação e cultura além dos autarcas”. Segundo este responsável regional do turismo, “é preciso construir uma marca”, sendo “preciso que as verbas disponíveis para a promoção turística tenham a dimensão da região e que não se criem pequenas marcas”. “Sabemos o que queremos e fomos a única região do país a preparar, em 2013, um Plano Estratégico para o Turismo até 2020”. “Para ficar na moda “como a mini-saia”, o Alentejo quer construir uma identidade”, remata a notícia (N007).

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Na explanação da sua teoria da ação Bourdieu afirma que “a maior parte das ações humanas tem por base algo diferente da intenção, isto é, disposições adquiridas que fazem com que a ação possa e deva ser interpretada como orientada em direção a tal ou qual fim, sem que se possa, entretanto, dizer que ela tenha por princípio a busca consciente desse objetivo” (Bourdieu, 2008: 164). b. Dominação simbólica Neste plano da dialética da ação política, a questão da dominação simbólica começa por manifestar-se na lógica da promoção das práticas identitárias enquanto “ativo económico”, em discursos que enfatizam os interesses da indústria do turismo. Mas não ficará restrita à produção de um discurso economicista, desenvolvendo-se também no sentido de transformação das relações sociais. Como diz Bourdieu, em “nossas sociedades, e até no centro da economia económica, encontramos ainda a lógica da economia de bens simbólicos e a alquimia que transforma a verdade das relações de dominação no paternalismo” (Bourdieu, 2008 :168). Os promotores e principais actores da candidatura tecem discursos de afirmação da bondade da iniciativa e do que pode esta representar em termos futuros para o desenvolvimento regional, para benefício das populações. O discurso da inevitabilidade da transformação operada na prática do Cante apresenta um tom que tem assim esclarecida uma possível significação sociológica46. E a insistência com que os mais diversos actores políticos se afanam em afirmar também a sua participação, mesmo que ínfima, no processo 47 nos remete para lógicas mais imediatistas (como são, por exemplo, os ciclos eleitorais), não esquecendo que, como diz Bourdieu, um “dos efeitos da violência simbólica é a transfiguração das relações de dominação e de submissão em relações afetivas (…). O reconhecimento da dívida torna-se reconhecimento, sentimento duradouro em relação ao autor do acto generoso…” (Bourdieu, 2008: 170), até porque se verifica “a transformação de actos económicos em actos simbólicos, transfiguração que pode se realizar praticamente (…) na qual a dádiva deixa de ser um objeto material para tornar-se uma espécie de mensagem ou de símbolo adequado à criação de um laço social “ (Bourdieu, 2008: 172). c. Submissão simbólica Do exposto não se deverá no entanto inferir que o processo em apreço seja expressão linear de um processo de manipulação. A dimensão do Cante enquanto valor de identidade manifesta-se à evidência, e a satisfação sentida a esse nível pelos alentejanos, quando da 46

Diz o responsável pela candidatura: “Agora tudo está em aberto. Espero que a legítima gente do cante se assuma, dela beneficie e dela faça o que entenda, porque é dos homens e das mulheres do cante. Foi em sua homenagem que (…) trabalhámos ao longo dos últimos 21 meses. Foi uma honra poder trabalhar neste processo. Viva quem canta o cante, viva o cante, viva Portugal!”. 47 Diz o Presidente da República: “… tive ocasião de promover, no Palácio de Belém, uma iniciativa dedicada ao Cante Alentejano, como incentivo à candidatura que hoje triunfou”. Consultada em http://www.presidencia.pt/?idc=18&idi=88341 (16/01/2015).

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inscrição na lista representativa da UNESCO é algo que se observa como um sentimento genuíno e generalizado. O Cante, enquanto capital simbólico, encontra-se num processo de transformação, de transição entre uma lógica pré-capitalista (característica da economia do valor simbólico) e uma lógica de subordinação a um “capitalismo estético”48, a caminho da globalização. No entanto, nas sociedades diferenciadas, diz Bourdieu, “uma das dimensões do capital simbólico é a identidade étnica que, junto com o nome, a cor da pele, é um percipi, um ente percebido, que funciona como capital simbólico positivo ou negativo” (Bourdieu, 2008: 172) e que, sendo um “ente percebido, construído, de acordo com categorias de percepção especificas, o capital simbólico supõe a existência de agentes sociais constituídos, em seus modos de pensar, de tal modo que conheçam e reconheçam o que lhes é proposto, e creiam nisso” (Bourdieu, 2008: 173). d. Processos de transmissão Outra tensão patente nos discursos de ativistas e promotores da candidatura relaciona-se com os modos de transmissão e aprendizagem do Cante. Algumas autarquias locais introduziram a prática nas escolas, integrando assim o currículo escolar, enquanto ativistas e associações experimentam processos didáticos diversificados. Surge, no entanto o discurso contrário, de que o Cante deveria manter-se uma forma de transmissão essencialmente tradicional, nos seus espaços de realização próprios (que serão as tabernas, as coletividades e associações locais, bem como os espaços destinados a essa função pelas autarquias locais). Transformado o Cante em produto de uma atividade de representação (enquanto interpretação da própria identidade), seja pela sua incorporação no currículo escolar, seja pelo seu encaminhamento enquanto produto turístico, e alterando-se as suas estruturas de realização e transmissão, portanto, alterando a base objetiva da sua reprodução, como “as estruturas de percepção e de avaliação são, no essencial, produto da incorporação de estruturas objetivas” (Bourdieu, 2008: 172), dá-se início a um processo de transformação que reflete também as transformações operadas a nível económico, social e cultural no Alentejo. Conclusões Os discursos e ações analisados no universo particular do Cante apontam para tensões de âmbito político e do fazer política na área cultural, nomeadamente no que respeita às manifestações da cultura tradicional de transmissão oral. A tensão dialética patente no acontecimento mediático da celebração do Cante colocou em evidência a contradição existente entre o evento cultural e a sua inscrição no domínio simbólico. Como diz Bragança de Miranda, “sendo embora a cultura um acontecimento, temos que reconhecer que entre ‘acontecimento’ e ‘cultura’ há uma contradição radical. A

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Recorrendo à expressão utilizada por Paulo Lima numa das suas intervenções (cf. N169).

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cultura é o modo actual de controlar o acontecimento. Do ponto de vista crítico dir-se-á mesmo que cultura e acontecimento são antitéticos”49. Retornando à questão do Cante no domínio simbólico, devemos considerar a análise da questão à luz da economia dos bens simbólicos que, segundo Bourdieu (2008:193), se apoia “no recalque ou na censura do interesse económico (no sentido restrito do termo)”. A tensão entre o valor simbólico e o valor económico faz-se sentir nos discursos trazidos pelos media, torna visível a natureza dialética da relação entre cultura e acontecimento (Miranda, 2002, apud Martins, 2011: 208). Ao analisar este processo, realizado sob a égide da UNESCO, é essencial considerar a sua inserção no quadro mais geral da globalização. A inscrição de uma prática cultural numa lista corresponde a um processo de itemização da cultura, “descontextualizando-a das relações sociais em que aquela se realiza, de forma a recontextualiza-la em inventários nacionais com referências a outras práticas e expressões” (Hafstein, 2009: 105), conformando-a à lógica e linguagem do número. Diz Bourdieu que “as revoluções simbólicas supõem uma revolução mais ou menos radical dos instrumentos de conhecimento e das categorias de percepção (…)” (Bourdieu, 2008: 172). Em relação ao Cante e à sua inscrição pela UNESCO, deu-se início a um processo de revolucionamento de uma prática cultural que necessariamente transformará o bem simbólico que se pretende preservar. Esse processo é também parte de um processo de reconfiguração das próprias comunidades, pois, como afirma Hafstein, enquanto “forma de produzir sujeitos (…) que estrutura o campo social (…) o património imaterial é a comunidade” (Hafstein, 2013: 26). A questão da transformação do Cante não é, todavia, de colocação recente, tendo sido assinalada, no final da vida, por Michel Giacometti, em reflexão relativa ao Alentejo: (…) Nesta procura insensata de vozes inalteradas que rebentam as pedras negras do esquecimento, vislumbro a ferida mortal do teu coração, o esvanecer dos teus ritos nas vozes que não mais serão as fibras solidárias, percorrendo o teu destino. Sorrisos e calores discretos numa dezena de homens obscuros e lentos, a formar o círculo da fatalidade, de ombros cerrados, donde irrompe o canto em modas suaves e rijas (Oliveira (2003: 493)”. Assumido como património imaterial da humanidade, importa agora saber se, no que lhe é essencial, o Cante sobreviverá à inscrição na lista que o universalizou para o salvaguardar.

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Miranda (2002), apud Martins (2011:208).

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