INSETOS PARASITADOS POR FUNGOS NO JARDIM BOTÂNICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

July 5, 2017 | Autor: B. Corrêa Barbosa | Categoria: Ecology
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INSETOS PARASITADOS POR FUNGOS NO JARDIM BOTÂNICO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA Bruno Corrêa Barbosa (1), Tatiane Tagliatti Maciel (1), Fábio Prezoto (1) (1) Laboratório de Ecologia Comportamental e Bioacústica (LABEC), Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil.

Palavras-chave: Fungos parasitas, Hypocreales, Zumbis. INTRODUÇÃO Fungos entomopatogênicos parasitam uma enorme diversidade de hospedeiros, como Hymenoptera, Diptera, Coleoptera, Hemiptera, Lepidoptera, Orthoptera, Isoptera, Blattodea, Odonata, Mantodea e Dermaptera, e agem com o objetivo de expor o inseto parasitado ao maior número possível de outros insetos para que assim, seja propagado (EVANS, 1982). Nessa associação, o fungo é capaz de manipular o comportamento do inseto parasitado, que passa a executar um repertório estereotipado, não observado em etogramas de espécimes saudáveis (HUGHES et al., 2011). Acredita-se ainda que estes fungos estejam envolvidos na regulação das populações destes insetos, podendo ajudar a manter a estabilidade nos ecossistemas da floresta tropical (EVANS, 1982). O papel dos parasitas como importantes agentes ecológicos tem ganhado reconhecimento no decorrer das últimas décadas. Eles possuem a capacidade de controlar populações, aumentar a biodiversidade e podem ser usados como bioindicadores (COMBES, 2005), também usados no controle biológico como agentes de redução de pragas em várias partes do mundo. Nesse sentido, são crescentes as pesquisas científicas interessadas por organismos capazes de promover esse tipo de controle, sobretudo, por aqueles que podem ser manipulados em laboratórios e/ou em escala industrial (FARIA & MAGALHÃES, 2001; GARCIA, 2004; ORLANDELLI & PAMPHILE, 2011). Esses fungos são comumente encontrados parasitando formigas em florestas tropicais (EVANS, 1974, EVANS, 1984, EVANS et al., 2011). Porém, para outros grupos de insetos, existem poucos registros de ocorrência e informações a respeito da alteração comportamental causado pelo fungo. Sendo assim, o presente estudo registra a ocorrência de associações de fungos entomoparasitas em espécies de insetos encontradas no Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora. MATERIAL E MÉTODOS O estudo foi conduzido no Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora (21° 43’ 28” S - 43°16’ 47” O, altitude 510-820m), localizada na região urbana central do município de Juiz de Fora, Zona da Mata Mineira e que abriga um fragmento de Mata Atlântica que era formada em seus domínios originais por Floresta Estacional Semidecidual, ocorrendo em altitudes inferiores a 750m com área de 84 hectares. As coletas dos insetos parasitados foram realizadas mensalmente no período de setembro de 2011 a fevereiro de 2014, através da metodologia busca ativa. Para identificação dos insetos coletados foi usada a chave de identificação proposta por Leite e Sá (2010). Os fungos foram identificados pelo Prof. Dr. Harry Evans da CAB International (CABI) a partir da análise morfológica dos corpos de frutificação e da identificação dos hospedeiros presentes nas amostras.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram encontradas três ordens de insetos parasitados por fungos, sendo elas: Diptera, Hymenoptera e Hemiptera. Os himenópteros apresentaram seis espécies, duas de vespas sociais, Mischocyttarus araujoi Zikán, 1949 (Figura 1A) e Agelaia vicina (Saussure, 1854) (Figura 1B) e quatro de formigas Camponotus rufipes (Fabricius, 1775) (Figura 1C), Camponotus balzani Emery, 1894 (Figura 1D), Camponotus crassus Mayr, 1862 e Camponotus sericeiventris Mayr, 1861. As vespas foram encontradas com Ophiocordiceps sp1 e as formigas com Ophiocordiceps camponoti-rufipedis Evans & Hughes, 2011, Ophiocordiceps camponoti-balzani Evans & Hughes, 2011 e Ophiocordiceps unilateralis (Tulasne & Tulasne, 1931), respectivamente. A ordem Diptera apresentou duas espécies da família Muscidae, parasitados por Ophiocordyceps sp2 (Figura 1E) e Entomophthora muscae (Cohn) Fresen. (Figura 1F). Os hemípteros encontrados estão distribuídos em duas famílias Lygaeidae (Figura 1G) e Cercopidae, sendo esta última representada pela espécie Mahanarva spectabilis (Distant, 1909) (Figura 1H). Os fungos que parasitavam essa ordem foram coletados no estágio imaturo, não podendo assim ser identificados. Evans et al. (2011) destacaram a diversidade de fungos entomopatogênicos na região tropical, estimando a existência de dezenas ou centenas de espécies não descritas. Além disso, a associação de formigas C. rufipes, C. balzani e C. sericeiventris com Ophiocordyceps ssp. tem sido observada predominantemente em áreas de conservação ambiental, com vegetação nativa remanescente (ANDRADE, 1980; EVANS et al., 2011; ANDERSEN et al., 2012). Dessa forma e com os registros do presente estudo, fica clara a importância dessas áreas como possíveis reservatórios de espécies que estejam evolvidos nesta relação, podendo contribuir para a elucidação da taxonomia, problemas filogenéticos e ecológicos destas espécies.

Figura 1: Exemplares de insetos parasitados no Jardim Botânico da Universidade Federal de Juiz de Fora: Vespas sociais M. araujoi (A) e A. vicina (B) parasitadas por Ophiocordiceps sp1; Formigas C. rufipes (C) parasitadas por O. camponoti-rufipedis e C. balzani parasitada por O. camponotibalzani (D); Dípteros da família Muscidae parasitados por Ophiocordiceps sp2 (E) e E. muscae (F) e Hemípteros das famílias Lygaeidae (G) e Cercopidae (H).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDERSEN, S.B.; FERRARI, M.; EVANS, H.C; ELLIOT, S.L.; BOOMSMA, J.J, & HUGHES, D.P. 2012. Disease Dynamics in a Specialized Parasite of Ant Societies. Plos One vol. 7, n.5. ANDRADE, C.F.S. 1980. Epizootia natural causada por Cordyceps unilateralis (Hypocreales, Euascomycetes) em adultos de Camponotus sp. (Hymenoptera, Formicidae) na região de Manaus, Amazonas, Brasil. Acta Amazon. Vol. 10, n.3, p.671-677. COMBES, C. 2005. The art of being a parasite. The University of Chicago Press, Chicago. 291 pp. EVANS, H.C. 1974. Natural control of arthropods, with special reference to ants (Formicidae) by fungi in the tropical high forest of Ghana. Journal of Applied. Ecology vol. 11, p.37- 49. EVANS, H.C. 1982. Entomogenous fungi in the tropical forest ecosystems: na appraisal. Ecological Entomology vol. 7, p.47-60. EVANS, H.C; ELLIOT, S.L. & HUGHES, D.P. 2011. Ophiocordyceps unilateralis A keystone species for unraveling ecosystem functioning and biodiversity of fungi in tropical forests? Commun & Integr Biol. Vol. 4, n.5, p.598-602. EVANS, H.C. & SAMSON, R.A. 1984. Cordyceps species and their anamorphs pathogenic on ants (Formicidae) in tropical forest ecosystems. The Camponotus (Formicinae) complex. Mycol. Soc. Vol. 82, n.1, p.127-150. FARIA, M.R. & MAGALHÃES, B.P. 2001. O uso de fungos entomopatogênicos no Brasil. Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento, n. 22. FARIA, M.R. & WRAIGHT, S.P. 2007. Mycoinsecticides and mycoacaricides: a comprehensive list with worldwide coverage and international classification of formulation types. Biological Control, Amsterdam, vol.43, p.237- 256. GARCIA, M.O. 2004. Utilização de fungos emtomopatogênicos para o controle de Orthezia praelonga (Sternorryncha: Ortheziidae). Dissertação de mestrado, Universidade de São Paulo, Piracicaba, SP. HUGHES, D.P.; ANDERSEN, S.B.; HYWEL-JONES, N.L.; HIMAMAN, W.; BILLEN, J. & BOOMSMA, J.J. 2011. Behavioral mechanisms and morphological symptoms of zombie ants dying from fungal infection. BMC Ecol., p.11-13. ORLANDELLI, R.C. & PAMPHILE, J.A. 2011. Fungo entomopatogênico Metarhizium Anisopliae como agente de controle biológico de Insetos Pragas. SaBios: Rev. Saúde e Biol., vol. 6, n.2, p.7982.

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