Instachatos: na contramão da construção do processo de popularidade no mundo virtual

June 22, 2017 | Autor: Bianca Antunes | Categoria: Comunicação Social, Free Instagram Followers Cheats
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Instachatos:
na contramão do processo de construção de popularidade no mundo virtual [1]


Resumo


O artigo parte de um texto de uma matéria publicada na Revista Veja,
intitulada "Os chatos do Instagram", para pensar como se dá o processo de
desconstrução de popularidade no aplicativo, em um movimento que vai na
contramão do que vem sendo feito nas redes sociais onde acontece a disputa
por curtidas, compartilhamentos e comentários. O objetivo é entender como
Instagram, ao ganhar força com a popularização de smartphones e tablets, se
tornou uma plataforma de busca pela projeção pessoal, onde o hábito de
registrar passou a ser essencial, numa espécie de documentação do
cotidiano. Espera-se também discutir o que motiva os "instagramers"
(usuários do Instagram) a agirem dessa forma na busca pelo desejo de ser
valorizado socialmente e bombardearem as redes sociais com fotos; o porquê
de abrirem mão da sua privacidade em troca de um afago na cabeça, que é
representado pelo curtir; qual a razão de serem considerados instachatos
pelos usuários do aplicativo; o que funciona e não funciona na rede
virtual, pensando nas regras e condições. A hipótese que será trabalhada
nesse artigo, com base inicial nos comentários da matéria e no próprio
texto publicado, será de que as relações mediadas pelas tecnologias móveis
e digitais de comunicação promovem e, ao mesmo tempo, desconstroem o
processo de visibilidade e de construção de popularidade nesses
aplicativos. A análise tem como base o perfil da modelo Gracyanne Barbosa e
do ator maquiador Fernando Torquatto, que usam o Instagram para bombardear
a rede social com fotos. Para entender esse processo, são utilizadas
abordagens teóricas de autores como Stuart Hall, Paul Ricouer, Michel
Foucault, Guy Debord e Paula Sibília para trabalhar conceitos de
representação, regimes de visibilidade e celebrização.


Palavras-chave

Instagram; desconstrução; popularidade; celebridade; representação


Introdução


Em 12 de fevereiro de 2013, o jornal Folha de São Paulo publicou uma
matéria com o título "Aplicativos e câmeras da moda incentivam
'hiperdocumentação' do cotidiano na web". O texto descreve um tipo de
usuário do Instagram que bombardeia com fotos uma das mais bem-sucedidas
redes sociais de compartilhamento de imagem. Na ocasião, o assunto
movimentou controvérsias, gerou afetações, sendo recomendado 1,8 mil vezes
no Facebook, e acabou repercutindo outras matérias com o mesmo enfoque. Em
24 de outubro de 2013, com o título "Os chatos do Instagram - eles não se
tocam e entopem o celular alheio com uma profusão de imagens banais,
egocêntricas e com frases pseudofilosóficas", a Revista Veja fez uma
reportagem para falar do mesmo tema, só que utilizando um tom bem mais
contundente.
As duas matérias chamaram a atenção pelo fato de abordar um
comportamento que está na contramão de tudo o que vem sendo desejado e
discutido atualmente nas redes sociais, que é a construção do processo de
popularidade em busca de curtidas, compartilhamentos e comentários. Em
função, elas são o mote para se começar a pensar como surgem os problemas
de representação de si no mundo virtual, tomando como base dois perfis
bastante badalados no Instagram: o da modelo Gracyanne Barbosa
(@graoficial) e do maquiador Fernando Torquatto (@torquatto_oficial).


Figura 1 – Perfis @graoficial e @torquatto_oficial

Fonte: Instagram, 2015


Pretende-se aqui olhar para as representações midiáticas a partir dos
conceitos apresentados por Stuart Hall (1997) e Jacques Rancière (2012),
buscando perceber de que maneira eles se confrontam e se complementam. Para
entender o processo de a espetacularização e de visibilidade serão
aplicadas contribuições de Guy Debord (1997) e Paula Sibília (2008).
Nesse sentido, esse tipo de enfoque pode ser particularmente
interessante para se pensar algumas questões primordiais para a
comunicação: como Instagram, ao ganhar força com a popularização de
smartphones e tablets, se tornou uma plataforma de busca pela projeção
pessoal, onde o hábito de registrar passou a ser essencial, numa espécie de
documentação do cotidiano; e como relações mediadas pelas tecnologias
móveis e digitais de comunicação promovem e, ao mesmo tempo, desconstroem o
processo de visibilidade e de construção de popularidade nesses
aplicativos. Espera-se também discutir o que motiva os "instagramers"
(usuários do Instagram) a agirem dessa forma na busca pelo desejo de ser
valorizado socialmente e bombardearem as redes sociais com fotos; o porquê
de abrirem mão de sua privacidade em troca de um afago na cabeça que é
representado pelo curtir; qual a razão de serem considerados instachatos
pelos usuários do aplicativo; o que funciona e não funciona na rede
virtual, pensando nas regras e condições; e como essa demanda constrói
representações de si, moldando o sujeito e a sua trajetória.


A espetacularização no Instagram


Com a câmera digital incorporada a dispositivos móveis e à internet,
nunca se fotografou, distribuiu e consumiu fotografia como nos dias de
hoje. Nesse contexto, o hábito de registrar tudo, do sorriso dos filhos a
ida à academia, ganhou força com a popularização de aplicativos como o
Instagram. Trata-se de uma ferramenta gratuita de compartilhamento de
imagens para celulares, computadores e tablets com sistema operacional iOS
(gadgets da Apple), Android e Windows Phone, que ultrapassou a marca de 300
milhões de usuários ativos e onde, em todo o mundo, são publicadas 40
milhões de fotos por dia, segundo dados recentes da empresa.
O aplicativo também funciona como uma rede social, sendo possível
comentar e "curtir" as publicações. Permite ainda compartilhar fotos com o
Facebook, Twitter, Foursquare e Flickr, ampliando assim a divulgação das
imagens em redes exteriores a ele e conferindo importância ao processo
fotográfico, tanto na sua obtenção quanto na transmissão das imagens. Além
disso, há um sistema de uso de tagging que permite buscar fotos que foram
marcadas pelas mesmas hashtags.
Sobre o caráter estético, o Instagram oferece uma multiplicidade de
formas de imagem através do uso de filtros e enquadramentos que otimizam o
processo de edição. O formato quadrado das fotos, de proporção 3:2, lembra
o das antigas câmeras instantâneas Polaroid. O resultado visual com cores
esmaecidas adota um estilo vintage e apresenta um apelo nostálgico para as
fotos que ora atribui características de décadas passadas, ora artística.
Dessa forma, a facilidade na manipulação e no manuseio transforma
leigos em pseudoprofissionais. Essa praticidade que o aplicativo
proporciona e o uso simplificado do aparato fotográfico colocou em
evidência as formas de distribuição de imagens, ampliando assim o processo
de celebrização dos usuários. A partir disso, é possível pensar em um mundo
de mídias móveis onde experiências cotidianas, como o ato de fazer e
publicar uma fotografia, assumem uma dimensão excepcional de visibilidade.
Nesse contexto, smartphones, tablets e computadores são considerados
importantes ferramentas de comunicação não só para registro do cotidiano,
mas de construção de visibilidade e de representação de si.
Nessa arena de disputa diária no Instagram, quem consegue atrair um
maior número de seguidores ganha visibilidade e, consequentemente, um lugar
de destaque na rede. Assim, é possível perceber que a espetacularização da
vida é alimentada pelas relações mediadas por imagens postadas nas redes
sociais onde os sujeitos expõem suas ideias, gostos e pensamentos.
Para Guy Debord, o espetáculo "não é um conjunto de imagens, mas uma
relação social entre pessoas, mediada por imagens" (DEBORD, 1997:14).


A primeira fase da dominação da economia sobre a vida
social levou, na definição de toda a realização humana, a
uma evidente degradação do ser em ter. A fase presente da
ocupação total da vida social em busca da acumulação de
resultados econômicos conduz a uma busca generalizada do
ter e do parecer, de forma que todo o «ter» efetivo perde
o seu prestígio imediato e a sua função última. Assim,
toda a realidade individual se tornou social e diretamente
dependente do poderio social obtido. Somente naquilo que
ela não é, lhe é permitido aparecer (DEBORD, 1997:17).


Também seguindo a mesma linha de raciocínio, mas trazendo para o
momento atual, Paula Sibília (2008) se aproxima de Debord (1997) quando
ambos concordam que há uma espetacularização da vida. Segundo Sibília
(2008), "trata-se, em suma, de um verdadeiro caldeirão de novidades, que
ganhou o pomposo nome de "revolução da Web 2.0" e acabou nos convertendo em
personalidades do momento". Para ela, certas ferramentas como blogs e
Youtube seriam estratégias que os sujeitos contemporâneos colocam em ação
para responder a essas novas demandas socioculturais, balizando outras
formas de ser e estar no mundo.


Já neste século XXI que está ainda começando, as
"personalidades" são convocadas a se mostrarem. A
privatização dos espaços públicos é a outra face da
crescente publicização do privado, um solavanco capaz de
fazer tremer aquela diferenciação outrora fundamental. Em
meios aos vertiginosos processos de globalização dos
mercados em uma sociedade altamente midiatizada, fascinada
pela incitação à visibilidade e pelo império das
celebridades, percebe-se um deslocamento daquela
subjetividade "interiorizada" em direção a novas formas de
autoconstrução (SIBÍLIA, 2008, p.23).


Em função do exposto acima, partimos da premissa que é preciso pensar
em algo que não seja apenas o aspecto ferramental do Instagram para
entender a razão de ele ter se tornado um modismo. Não estamos nos
referindo a computadores e smartphones com funções de câmera fotográfica,
mas sim à construção de relações produzidas pela ferramenta. Vale lembrar
que os aplicativos móveis, conhecidos como apps, conferem novas dimensões
aos dispositivos já que possibilitam passarmos grande parte do tempo com a
tecnologia móvel na palma das mãos, permitindo uma integração com a rotina
diária das pessoas.
Hoje, as tecnologias sem fio estão transformando as relações entre as
pessoas e criando novas formas de visibilidade. Cada vez mais inseridos na
rede, os usuários ficam atentos à repercussão da imagem postada, aguardando
assim o retorno da audiência que vai curtir ou comentar a foto. Ali se
publicam fotos com a expectativa de uma visualização por outras pessoas, no
desejo de ver e de ser visto. Ao compartilhar o seu cotidiano com o outro,
o sujeito alcança o status da visibilidade, consolida a sua demanda por
narrativa e alimenta a profusão de imagens. Nesse sentido, os próprios
atores que engendram esse processo parecem ter ciência de sua participação
ativa na mudança dos modos de visibilidade. Por esse viés, percebemos que a
extensão de outros olhares dá ao indivíduo o status de observador e
protagonista quanto ao conteúdo produzido por ele; torna-se, ao mesmo
tempo, autor, narrador e personagem.


Instachatos: a banalização de cliques na contramão da popularidade


Com a proliferação de artefatos midiáticos no ambiente contemporâneo,
o desenvolvimento de técnicas mais recentes proporcionou facilidades no
manuseio e permitiu a profusão de imagens no mundo virtual. Com isso, a
relação entre fotografia e sujeito ficou à disposição para atribuir novos
sentidos às dinâmicas comunicacionais e parece unificar comunicação e
imagem sem maiores dificuldades.
Tomando como base o Instagram, sempre que aciona a câmera fotográfica
do dispositivo para registrar o cotidiano e publica uma imagem na rede, o
usuário, famoso ou não anônimo, busca causar uma boa impressão em quem o
segue. Diante disso, o que os motiva é a repercussão que a imagem vai ter
na rede social. Mesmo ciente de que isso tem se torna uma prática comum, é
possível questionar se os donos dos perfis conseguem distinguir os pontos
positivos e negativos desse processo de superexposição e de banalização de
cliques.
O artigo em questão tomou como base a análise do perfil da modelo
Gracyanne Barbosa que publica fotos e filmes em seu perfil no Instagram. Em
busca de visibilidade na rede, ela chega a fazer de seis a dez
compartilhamentos por dia. Na maioria deles, a mulher do pagodeiro Belo
aparece malhando na academia e exibindo a musculatura do abdômen, pernas,
braços e coxas. Utilizando praticamente a mesma fórmula em busca de
seguidores, o maquiador Fernando Torquatto mistura frases motivacionais em
inglês e português e centenas de registros dele próprio e com atores e
modelos famosos.
De acordo com a Veja, os dois têm em comum o fato de se enquadrarem na
categoria de usuários do Instagram conhecidos como instachatos. Como a
revista descreve, trata-se de instagrammers que investem em fotos
monotemáticas, narcisistas, exibicionismo exagerado ou pseudofilosóficas em
busca de visibilidade ou aprovação na rede. Segundo, ainda, com a
publicação, eles postam imagens pensando nas reações que elas vão provocar
e muitas erram a mão em função de uma quantidade tão avassaladora de
imagens.
Como explica Sibília,
Até mesmo a entusiasta revista Time, apesar de toda a
euforia com que recebeu a ascensão de você e a celebração
do eu na web, admitia que esse movimento revela "tanto a
burrice das multidões como a sua sabedoria". Algumas
pérolas lançadas no turbilhão da internet "fazem-nos
lamentar pelo futuro da humanidade", declararam os
editores da publicação, e isso somente em função dos erros
de ortografia, sem considerar "a obscenidade e o
desrespeito gritante" que também costumam abundar por
esses territórios. (SIBÍLIA, 2008, p. 9-10)


Para a autora (2008), trata-se de um novo fenômeno que une uma mistura
inédita e complexa destas duas vertentes contraditórias.


Por um lado, a festejada "explosão de criatividade"
vincula-se a uma extraordinária "democratização" dos
canais midiáticos. Esses novos recursos abrem uma
infinidade de possibilidades que eram impensáveis até
pouco tempo e que agora são extremamente promissoras,
tanto para a invenção quanto para os contatos e trocas
[...] Por outro lado, porém, a nova onda também desatou
uma revigorada eficácia na instrumentalização dessas
forças vitais, que são avidamente capitalizadas a serviço
de um mercado capaz de tudo devorar para convertê-lo em
lixo. (SIBÍLIA, 2008, p.10-11).


Mesmo ciente de que é totalmente possível para um usuário do Instagram
deixar de seguir o perfil considerado inconveniente, é preciso discutir as
regras e consequências do jogo de disputa, em busca de visibilidade, que
acontece na rede social. O que vimos é que, mesmo sendo considerados
instachatos, os dois perfis citados acima abarcam um número considerável de
seguidores: @graoficial tem 1,9 milhões e mais de 8.170 fotos publicadas;
Já @torquatto_oficial tem 499 mil e cerca de 12 mil fotos publicadas. Essa
controvérsia traz uma questão que nos interessa e que nos leva a pensar
que, apesar de serem considerados "chatos", eles mantêm a popularidade em
alta no Instagram.


Representação de si na busca pela popularidade


Já desde a sua origem a fotografia se apresenta como importante meio
de representação que possibilita a construção e transmissão de uma
determinada imagem de si, para si e para os outros. Interessa-nos,
particularmente, nesse contexto convocar o papel da fotografia enquanto
instrumento de representação das pessoas e de seus percursos e no
conhecimento de si mesmo. Postar uma foto para ser visto e reconhecido pelo
outro, de certa forma, contribui para sua sociabilidade e cria uma
valorização de sua representação para obter sucesso, seguidores e ser
aceito no mundo virtual.
Para Hall (1997), a representação tem um papel central na medida em
que integra o processo principal na produção da cultura e das relações
sociais. Segundo ele, a cultura é um compartilhamento de significado que é
dado às coisas através da forma como as utilizamos no cotidiano, bem como
as representamos nas palavras. Hall afirma que é na linguagem onde os
significados são produzidos e, através dela, pensamentos e valores são
representados na cultura. Dessa maneira, além de regularem e organizarem
nossas práticas e condutas, os significados ajudam a estabelecer regras e
normas da vida social.


Representation is an essential part of the process by
which meaning is produced and exchanged between members of
culture. It does envolve the use of language, of signs and
images which stand for or represent things. But this is a
far form simple or straightforward process, as you will
soon discover (HALL, 1997, p.15)


Nesse sentido, o autor aponta as múltiplas facetas que as
representações adquirem ao longo dos usos e que podem mudar ou até mesmo
desaparecer. Para ele, os processos de construção das representações estão
quase sempre relacionados às questões econômicas, sociais, políticas, tendo
a ver com lutas por imposição de certos sentidos, num jogo incessante de
interpelação do outro. Por isso, ele aponta que as coisas em si não possuem
um significado único, fixo e imutável já que os sujeitos dão significados
aos objetos, pessoas e acontecimentos. É pelo uso das coisas, o que
dizemos, sentimos e pensamos em relações a elas que as representamos.
Conforme Hall (1997, p. 18), "meaning depends on the relationship between
things in the world – people, objects, events, real or fictional – and the
conceptual system, which can operate as mental representations of them".
Hall (2007) também traz à discussão a característica de instabilidade
do significado que é comparado a um jogo ou a um deslizamento. Nesse
sentido, novas interpretações podem assujeitar o significado, trazendo
novas leituras de valores e conceitos. Esse caráter transitório das
percepções e o fato de as representações espelharem vivências específicas
em diferentes sociedades sofrendo permanente mudanças possam explicar o
sobe e desce da popularidade das celebridades no Instagram. Procurar
entender como e de que maneira os instagrammers estão sendo mostrados, bem
como tomar conhecimento de que maneira isso vem acontecendo, torna-se
relevante para uma compreensão de intercâmbio de significados entre os
seguidores do aplicativo.
Levando em consideração que o crescente desenvolvimento dos meios de
comunicação contemporâneos acentua as formas e os modos de representação,
vale ressaltar que o caráter similar entre a imagem visual e a realidade
confere um realismo às representações visuais, aparentando ser ou mesmo se
apresentando como retrato do mundo. Assim, como podemos ver no Instagram,
na representação midiática, as imagens são produzidas e pensadas,
propositalmente ou não, para que sejam de certa forma. Nesse sentido,
enquadramento, filtros e recorte podem influenciar as percepções das
pessoas sobre o mundo, onde as representações visuais têm assumido a do
mundo real em função dessa gama de meios e tecnologias da comunicação.
Desenvolver uma reflexão em torno disso implica atender ao fato de que
a fotografia pode apresentar-se como um de vários sistemas simbólicos de
representação que atribuem significado a pessoas, acontecimentos e objetos,
contribuindo para o estabelecimento da imagem que os indivíduos criam de si
mesmos e da realidade em que estão inseridos. A imagem fotográfica não é
apenas produzida pela máquina. O fotógrafo determina escolhas e impõe
normas e valores àquilo que fotografa. Escolha de assuntos, enquadramentos,
momentos e filtros no Instagram são intervenções humanas. Sendo assim, a
fotografia pode constituir uma representação da imagem que os indivíduos
dão de si mesmos e das realidades onde estão inseridos. Nos perfis em
questão, @graoficial e @torquatto_oficial, a forma como se fizeram
representar nas imagens postadas no Instagram apresenta os dois,
praticamente, com a mesma postura de exibição do corpo e olhando
diretamente para a câmara.
Para Rancière (2012), que nos faz pensar acerca da representação como
regime de pensamento da arte, o que interesse é essa dinâmica das imagens
que são entendidas a partir de quem produz e ver e como elas criam
circunstâncias e modo de afetação. Nesse sentido, ele opõe dois regimes de
compreensão da arte: o "regime estético" e o "regime representativo".


Pois o regime representativo da arte não é aquele em que a
arte tem por tarefa produzir semelhanças. É o regime em
que as semelhanças são submetidas à tríplice obrigação que
vimos: um modelo de visibilidade da palavra que organiza
ao mesmo tempo certa contenção do visível, uma regulagem
das relações entre esses efeitos de saber e efeitos do
páthos, comandado pelo primado da "ação", que identifica o
poema ou o quadro a uma história; um regime de
racionalidade próprio à ficção, que subtrai seus atos de
palavra aos critérios normais de autenticidade e utilidade
das palavras e das imagens para submetê-los a critérios
intrínsecos de verossimilhança e conveniência. Essa
separação entre a razão das ficções e a razão dos fatos
empíricos é um dos elementos essenciais do regime
representativo. (RANCIÈRE, 2012, p. 130)


Dessa forma, tomar a imagem pelo que ela possui meramente de visual
significa desconsiderar o complexo jogo de relações que define o seu
sentido e sua especificidade na esfera social. Segundo o autor (2012), para
compreender uma obra de arte em sua verdade, não é necessário o auxílio de
um orador que explique sua intencionalidade a partir de uma relação estável
entre forma e conteúdo – caracterizando o efeito que se pretende ter a
partir de tal ou qual figura de linguagem – mas sim, que o espectador possa
fazer uso da arte para a vida que não estejam mais sob as regras da
representação. Nesse contexto, Rancière (2012, p. 124) explica que "a
representação é um desdobramento ordenado de significações, uma relação
regulada entre o que compreendemos ou antecipamos e o que advém da
surpresa".


Conclusão


Como se pode perceber, a representação é um conceito complexo. Nesse
artigo, pretendeu-se rever algumas questões a respeito dessa definição
apresentada por Hall (1997) e Rancière (2012) e articulá-las com o objeto
de estudo que é o perfil de duas celebridades no Instagram, (@graoficial e
@torquatto_oficial), que ficaram conhecidas como instachatos, ao
bombardearem o aplicativo com fotos. Duas matérias publicadas no jornal
Folha de São Paulo e na Revista Veja foram o ponto de partida para se
discutir os problemas de representação de si no mundo virtual. Para tratar
das questões referentes à celebrização e espetacularização no Instagram,
foram utilizadas, no estudo em questão, considerações de Debord (1997) e
Sibília (2008).
As contribuições teóricas foram úteis à medida que nos ajudaram a
discutir alguns questionamentos sobre a representação de si em uma
plataforma virtual: como as relações mediadas pelas tecnologias móveis
promovem e, ao mesmo tempo, desconstroem o processo de visibilidade e de
construção de popularidade, o que motiva os usuários do Instagram a agirem
dessa forma e porquê de abrirem mão de sua privacidade e por que razão são
considerados instachatos.
O que ficou claro no estudo é que, apesar de serem considerados
instachatos, eles se mantiveram populares no aplicativo, abarcando centenas
e milhares de seguidores. Foi possível também traçar um breve perfil do que
podem ser considerados instachatos e celebridades no Instagram.
Embora não se tenha conclusões mais profícuas sobre todo esse processo,
pensar a representação no processo visual é interessante à medida que a
representação visual das imagens postadas no Instagram tem uma força muito
grande em função da sua relação estreita com a vida social.


Referências

DEBORD, G. A sociedade do espetáculo. Rio de Janeiro: Contraponto, 1997.

HALL, S. Representation: Cultural representations and signifying pratices.
London: Thousand Oask; New Delhi: Sage, 1997

RANCIÈRE, J. O destino das imagens. Rio de Janeiro. Contraponto, 2012.

SIBÍLIA, P. O show do eu. A intimidade como espetáculo. Filigrana. V4.Indd.
12 de setembro de 2008.


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[1] Trabalho apresentado no GT 1 (Arte, Estéticas e Tecnologias da
Comunicação) do 8º Congresso de Estudantes de Pós-Graduação em Comunicação,
na categoria pós-graduação. PUC Rio, Rio de Janeiro, outubro de 2015.
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