INTEGRAÇÃO METRÔ-ÔNIBUS - Uma Discriminação Odiosa Espacial e Racial do Sistema de Transporte Público de Salvador

June 5, 2017 | Autor: I. Guedes Alcoforado | Categoria: Intermodal Transport, Public Transporation, Intermodal Public Transport
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INTEGRAÇÃO METRÔ-ÔNIBUS EM SALVADOR
Uma Manifestação Odiosa de Discriminação Espacial e Racial

Ihering Guedes Alcoforado


Esta nota é um posicionamento, demandado pelo jornalista Yuri Silva do Jornal A Tarde de Salvador, sobre a anunciada integração universalizada ônibus-metrô em Salvador será universalizada, que deve assegurar ao passageiro com um só bilhete, fazer as baldeações que precisar em até duas horas, pagando a passagem única de R$ 3,30.

Incialmente, chamo atenção que a integração metro-ônibus supera o jogo de soma-zero que, até agora, estabelecia a lógica de relacionamento entre os dois modais. E é um avanço porque estabelece uma lógica do ganha-ganha, tanto entre os operadores dos dois sistemas, como entre o sistema integrado e os usuários. 

A lógica do ganha-ganha entre os operadores deve se manifestar na contenção da tendência a queda do número total de usuários do sistema de transporte público, o que é bom que se diga, não é exclusivo de Salvador. O jogo do ganha-ganha entre os operadores envolve os usuários porque a integração operacional e tarifária aumenta a quantidade de serviço possível de ser utilizado pelo usuário.
No entanto, a despeito dos evidentes ganhos da integração é necessário ressaltar que ela reafirma uma discriminação espacial e, por decorrência espacial, odiosa. Isto porque desconsidera na sua integração um outro sistema de transporte público que opera nas franjas dos sistemas oficiais, ou seja, as cooperativas de mototaxis (e de vans), as quais nos "fins de linhas" e nos "pés de morro" dão a capilaridade aos dois sistemas que tem anunciado sua integração.
Este terceiro sistema que não é contemplado na atual integração, oferece um serviço regular de transporte de público coletivo (no caso das vans) e individualizado (no caso das motos) para os moradores das vielas e becos, ou mesmo aglomerados de baixa densidade populacional, que caracterizam a malhar viária nossas das invasões e morros, e a ocupação das regiões periféricas da nossa cidade. Essas regiões, mesmo tendo o direito de ser servido pelo sistema de transporte público, já que é uma contratual das dos concessionários atende-las, na pratica dado o padrão tecnológico baseado no ônibus, o fornecimento deste serviço é inviabilizado tecnicamente, sem considerar que também pode ser inviável economicamente.

Diante desta realidade as cooperativa que operam o transporte complementar, por adotar um outro padrão tecnológico consegue atender uma boa parte da população com a oferta de um serviço regular de transporte que complementa o sistema oficial. Mas, paradoxalmente, em vez de ser considerada parte da solução do problema de mobilidade da população nessas áreas, elas tendem a ser considerados como mais um problema pelas autoridades.
O resultado é uma discriminação espacial e racional do nosso sistema de transporte público, dado que a maior parte da população residente nessas áreas é negra. E, como se não bastasse tem uma discriminação econômica, já que a população dos morros e das áreas além dos fins de linha é obrigada a pagar, a mais que o restante da população, uma tarifa para ter chegar nos pontos de embarque no sistema.
No combate a esta discriminação o Grupo de Transporte da FCE/UFBa liderado pelo professor Ihering Guedes Alcoforado, estabeleceu como um dos objetos de trabalho do Grupo, o estudo das cooperativas de transporte complementar, em especial as que operam com taxis, prestando um serviço regular nos pés de morro e nos fins de linhas. O objetivo do grupo é justificar a inclusão de tais cooperativas na anunciada integração tarifária.




. Professor de Economia dos Transportes do Departamento de Economia da Universidade Federal da Bahia.



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