Interação do cidadão sénior na partilha de informação em plataformas digitais

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libro de actas Xiii congreso internacional

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IBERCOM

Xiii congreso internacional IBERCOM

As implicacións entre os axentes da comunicación, a pesquisa e a transferencia social de resultados no ámbito da formación, para a solución a problemas ou como iniciativas novas de seu, lévannos cara a necesidade de establecer unha sorte de estado xeral dos obxectos contemporáneos de investigación, das experiencias de traballo en curso que aínda non contan coa súa propia tradición e de certas tendencias no pensamento comunicacional contemporáneo. O exercicio do saber como forma de poder, a reconfiguración da esfera pública como lugar para a diferenza, a interculturalidade e a construción da igualdade constitúense en retos para este encontro de investigadores e investigadoras da ampla xeografía iberoamericana. Santiago de Compostela, a cidade símbolo da viaxe como transformación, é refe-rencia nos estudos americanistas, e a Facultade de Ciencias da Comunicación, sede do Congreso, acolleu, entre outros eventos, o II Congreso Iberoamericano de Xornalismo Dixital (2003), o VII Congreso Lusocom (2006), o Congreso Fundacional da AE-IC (2008) ou o Encontro Real-Code, Comunicación e Desenvolvemento (2011). Asemade, o Departamento de Ciencias da Comunicación da Universidade de Santiago de Compostela ten acumulada unha longa experiencia na organización de cursos de doutoramento con universidades iberoamericanas, como a Nacional de Tamaulipas, de México, ou a Técnica Particular de Loja, de Ecuador. Do mesmo xeito, na Universidade de Santiago de Compostela sitúase o Centro Interdisciplinario de Estudios Americanistas Gumersindo Busto, tamén cunha fonda traxectoria de pesquisa sobre as relacións con Iberoamérica. A celebración do IBERCOM 2013 en Galicia da man da AGACOM, para alén de darlle unha maior visibilidade á investigación en Comunicación en Galicia e de materializar o encontro entre académicos, investigadores e investigadoras, vai crear condicións para a cooperación entre ámbitos disciplinares, universidades e países diferentes, convocados en torno a Comunicación, cultura e esferas de poder.

COMUNICACIÓN, CULTURA Y ESFERAS DE PODER

29,30 e 31 de maio facultade de ciencias da comunicación universidade de santiago de compostela

29,30 e 31 de maio facultade de ciencias da comunicación universidade de santiago de compostela

Interação do cidadão sénior na partilha de informação em plataformas digitais. Soares, Célia ISMAI [email protected] Velos, Ana UA [email protected] Mealha, Óscar UA [email protected] 1. Introdução Este artigo resulta de uma investigação em curso, no âmbito do projeto SEDUCE1, que tem como principal objetivo a definição de um modelo de partilha e acesso à informação em plataformas digitais adaptado à utilização pelos seniores. Pretende-se desta forma contribuir para a clarificação das dificuldades encontradas na utilização de serviços tradicionalmente pensados para a divulgação de informação na Internet. Em paralelo com o crescimento da Internet, pelo menos nas últimas duas décadas, o envelhecimento surge como um dos temas mais importantes dos nossos tempos. Globalmente, os países desenvolvidos, deparam-se com a necessidade de uma abordagem nova ao fenómeno do envelhecimento. Os seniores não necessitam exclusivamente de cuidados potenciados pelas limitações adquiridas com a idade, o enfase deve ser dado à pessoa e não às condicionantes naturais impostas pela idade, potenciando uma perspetiva de envelhecimento ativo em que o cidadão permanece totalmente integrado, e capaz de desempenhar um papel importante na sociedade (WHO, 2002). O prolongar da vida por parte da população mundial que recorre aos diferentes avanços em diferentes áreas, em particular no que diz respeito aos cuidados de saúde faz com que seja possível estimar que antes de 2050 a população sénior (indivíduos com mais de 60 anos) será de dois mil milhões, sendo que a sua maioria viverá em países desenvolvidos (Bloom, Boersch-Supan, McGee, & Seike, 2011). Assim sendo é possível pensar nas necessidades dos seniores como aposta para a criação de produtos e serviços adaptados para este importante grupo de cidadãos. Os desafios económicos e sociais são crescentes para muitos sistemas sociais (Fuchs, 1999), mas também abrem novas oportunidades, nomeadamente no que diz respeito ao desenvolvimento de novos serviços integradores. Neste contexto as tecnologias assumem um papel que não pode ser encarado exclusivamente como facilitador de cuidados, mas

1

Projeto SEDUCE - utilização da comunicação e da informação mediada tecnologicamente em ecologias Web pelo cidadão sénior, PTDC/CCI-COM/111711/2009, COMPETE, FEDER, FCT de Lisboa, Portugal.

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desempenham uma função orientada à melhoria da qualidade de vida do sénior (Bronswijk, Bouma, & Fozard, 2002). Este cenário motivou o desenvolvimento desta investigação na área emergente das plataformas digitais. É expectável que esta conjuntura seja impulsionadora da construção de soluções que melhorem o bem-estar dos cidadãos, ajudando os seniores a participar em atividades, permita identificar a tecnologia e o modelo de interação capaz de potenciar a partilha de informação por parte do cidadão sénior, oferecendo serviços aceites como maisvalias para plena integração na sociedade de informação. A nossa abordagem contempla a criação de aplicações/serviços, avaliar os mesmos e melhorar a sua usabilidade. A procura das experiências de utilização levou-nos ao encontro de cidadãos seniores que frequentam habitualmente uma universidade sénior, e conjuntamente leva-nos a definir e estruturar um modelo de partilha de informação que visa sobretudo aumentar a participação da comunidade na produção e partilha de conteúdos.

2. Cidadão sénior A constatação real de que os cidadãos vivem cada vez mais tempo e com maior autonomia física e mental, faz com que seja necessário olhar para este importante grupo da sociedade e possibilitar-lhe o acesso a todo o tipo de recursos. O cidadão sénior vive confrontado com problemas de isolamento emocional e social, associados muitas vezes a questões de saúde e consequente diminuição de qualidade de vida (Heidi White, 1999). O duplo envelhecimento da população, por um lado, a diminuição dos nascimentos e consequente diminuição de população jovem, e por outro, o aumento da população sénior, obriga a sociedade a repensar a estratégia e a adaptar-se a uma população com caraterísticas particulares. A idade não deve ser um fator discriminatório, a inclusão pode ser fomentada recorrendo a diferentes técnicas mais ou menos elaboradas que garantam a igualdade de oportunidades para todos. Embora o envelhecimento demográfico da população mundial levante sérias preocupações sobre questões relacionadas com segurança social, pensões, cuidados continuados, sistemas familiares as ferramentas digitais são apontadas como um recurso capaz de melhorar a qualidade de vida do cidadão sénior (Blaschke, Freddolino, & Mullen, 2009). Com a evolução tecnológica surge a necessidade de adaptação a novas formas de transferência de conhecimento, os modelos de interação são novos e diferentes possibilitando ao utilizador a oportunidade de selecionar o recurso mais adequado ao seu perfil. O cidadão sénior é confrontado com a mudança e neste sentido, os fatores que levam à exclusão tecnologia são ainda mais preocupantes. Assim, perceber de que forma podemos ultrapassar as barreiras criadas pela tecnologia, e como podemos fomentar a partilha de diferentes tipos de conteúdos numa comunidade sénior online, foi o ponto de partida para este estudo. Segundo Maes (Maes, 1994), um grande número de utilizadores com poucas competências técnicas vai ter necessidade de utilizar computadores e plataformas de comunicação, tornando-se crucial a necessidade de mudança do paradigma de interação utilizadorcomputador, a gestão direta que exige ao utilizador iniciar e monitorizar a totalidade dos eventos. Para a mesma autora, o paradigma emergente está inserido num plano abrangente de 348

tecnologia de agentes, em que o utilizador é inserido num processo onde homem e agentes computacionais inicializam a comunicação, monitorizam eventos e executam tarefas.

3. A partilha de informação em plataformas digitais na perspectiva dos seniores A criação de uma comunidade de partilha “amiga do cidadão sénior” foi definida como aquela em que os adultos mais velhos são valorizados e envolvidos na vida da comunidade, recebendo os apoios necessários para satisfazer as suas necessidades (Alley, Liebig, Pynoos, Banerjee, & Choi, 2007). Lehning, Chun, e Scharlach propuseram uma comunidade baseada em três pressupostos fundamentais: - A idade não impede os indivíduos de desenvolverem os interesses e realizar atividades; - Os serviços são desenvolvidos para satisfazer necessidades básicas do cidadão; - Os indivíduos de todas as idades têm oportunidade de desenvolver novos interesses(Lehning, Chun, & Scharlach, 2007). Investigadores como (Kamel Boulos & Wheeler, 2007) relatam que a interação e colaboração contribuem para um maior e mais profundo envolvimento por parte dos elementos que constituem a amostra no processo de definição, aumentando ainda a noção de comunidade (Hammond, 2000), potenciando o benefício de participar em todo o processo de construção do modelo (Thompson & MacDonald, 2005). As apreciações que se apresentam, seguidamente, resultam do trabalho em curso realizado com um grupo de cidadãos seniores, que permitiu perceber as limitações das interfaces e do próprio conceito de partilha da informação, lançando pistas para solucionar os problemas detetados segundo uma metodologia de ação-investigação, e numa estratégia de recolha de dados em focus groups. Com este trabalho pretende-se aferir de que forma a população sénior partilha informação, quais os mecanismos que utiliza para essa partilha e que limitações encontram no processo de partilha. A amostra, constituída por doze seniores, com idades compreendidas entre os 60 e os 83 anos, 5 do sexo masculino e 7 do sexo feminino, frequentadores de aulas de informática na Universidade Sénior de Ermesinde, foi envolvida num processo de construção de um modelo de comunicação para partilha e acesso a informação. O processo realizou-se durante um período de 6 meses com atividades desenvolvidas semanalmente de acordo com a calendarização representada na Tabela 1.

349

Outubro Novembro Dezembro Janeiro Fevereiro Março 2012 2012 2012 2013 2013 2013 Fase 1 – identificação das atividades realizadas pelos seniores na Internet Fase 2 – aferição da relevância das atividades realizadas Fase 3 – identificação de temas de procura e partilha de informação na Internet Fase 4 – aferição da relevância dos temas de procura e pesquisa de informação Atividades realizadas nas diferentes fases - Observação direta em - Inquérito - Observação - Inquérito por questionário. contexto de aula de por direta em informática; questionário. contexto de aula de informática; - Criação do programa da - Pesquisa de conteúdos utilizando o Google2 como motor de busca; disciplina de acordo com as - Criação de perfil no Facebook3; necessidades dos alunos; - Criação de grupo no Facebook; - Criação de Blog; - Criação de Microblogue; - Criação de perfil no Youtube4. Tabela 1 – Calendarização das fases de trabalho Inicialmente, o grupo foi confrontado com o conceito de acesso à internet no sentido de perceber que ações desenvolviam quando estavam ligados em rede, identificando as atividades que habitualmente realizam. Nesta primeira fase percebemos que seriam doze as atividades mais representativas partilhadas pelos elementos do grupo tendo em conta a quantidade de seniores que referiu realizar cada uma delas pelo menos uma vez por semana (Tabela 2).

2

URL: http://www.google.pt disponível em 30/04/2013 URL: http://www.facebook.com disponível em 30/04/2013 4 URL: http://www.youtube.com disponível em 30/04/2013 3

350

Atividade a) b) c) d) e) f) g) h) i) j) k) l)

Número utilizadores Consultar correio eletrónico; 12 Ler jornais/revistas; 10 Ver conteúdos publicados por amigos nas redes sociais 12 (Facebook); Publicar conteúdos próprios (Facebook); 11 Jogar sozinho; 8 Ouvir música (Youtube); 6 Ver vídeos (Youtube); 6 Procurar informação específica nos motores de busca 10 (Google); Conversar com amigos (Facebook); 7 5 Conversar com familiares (Skype ); 3 Jogar com amigos (Facebook); 2 Jogar com desconhecidos. 2

de

Tabela 2 - Número seniores que referiu realizar a tarefa pelo menos uma vez por semana Na segunda fase importava também aferir qual a relevância que era dada a cada uma das atividades. Utilizando uma escala baseada no método de Likert. Inicialmente Likert propôs um método de cálculo do resultado final através de uma média ponderada das respostas dadas, atribuindo em cada item um peso a cada nível de concordância expresso pelo respondente. Esses pesos são calculados de acordo com a assunção de que está subjacente à atitude uma distribuição Normal e tomando como referência as frequências de resposta aquando da aferição da escala (Ghiglione & Matalon, 1993). Com este pressuposto os seniores foram convidados a classificar numa escala de 1 a 5, sendo que 1 representava uma atividade nada relevante para o sénior e 5 representava uma atividade muito relevante. O resumo dos resultados encontra-se representado na Tabela 3.

5

URL: http://www.skype.com/pt disponível em 30/04/2013

351

Relevância Tarefa

2

3

4

a) Consultar correio eletrónico;

1 Nada relevant e -

-

-

4

5 Extremame nte relevante 8

b) Ler jornais/revistas;

-

2

3

3

4

c) Ver conteúdos publicados por amigos nas redes sociais (Facebook); d) Publicar conteúdos próprios 2 (Facebook); e) Jogar sozinho; 8

1

2

5

4

1

3

4

2

-

1

1

2

f) Ouvir música (Youtube);

2

1

6

1

2

g) Ver vídeos (Youtube);

2

3

6

-

1

h) Procurar informação específica nos 1 motores de busca (Google); i) Conversar com amigos (Facebook); 3

1

3

3

4

4

3

1

1

j) Conversar com familiares (Skype);

3

3

4

-

2

k) Jogar com amigos (Facebook);

10

1

-

-

1

l) Jogar com desconhecidos.

9

2

-

-

1

Tabela 3 – Relevância das principais atividades desenvolvidas na internet pelo grupo de seniores envolvidos no projeto Consultar correio eletrónico (a), é considerada a atividade mais importante para o grupo e os jogos são as atividades menos importantes (e, k e l). Na terceira fase centramos esforços nas atividades de partilha e acesso à informação, e neste sentido foi feito um levantamento sobre os temas que mais interesse suscitavam no que diz respeito à procura de informação e à construção de informação, desta vez cada sénior identificou 5 áreas sobre as quais procurou informação e 5 áreas sobre as quais disponibilizou informação. Seguidamente encontram-se listadas as áreas identificadas: a) Música; b) Literatura; c) Saúde; d) Doenças; e) Desporto; f) Viagens; g) Eventos culturais; 352

h) i) j) k) l) m) n) o) p) q) r)

Fotografia; Jogos; Culinária; Trabalhos manuais; Jardinagem; Alimentação; Notícias nacionais; Notícias internacionais; Religião; Política; Segurança.

Após a identificação das áreas deu-se início à quarta fase, onde foi solicitada novamente a colaboração para ordenar as temáticas por relevância e assim perceber o que mais interessa aos seniores quando procuram informações na internet dando origem à Tabela 4. Relevância Tarefa

a) b) c) d) e) f) g) h) i) j) k) l) m) n) o) p) q) r)

Música; Literatura; Saúde; Doenças; Desporto; Viagens; Eventos culturais; Fotografia; Jogos; Culinária; Trabalhos manuais; Jardinagem; Alimentação; Notícias nacionais; Notícias internacionais; Religião; Política; Segurança;

1 Nada relevante 1 1 6 1 4 10 2 5 5 1 5 3

2

3

4

3 2 2 5 2 2 1 2 3 4 4 2 2 2 2

3 5 4 2 2 3 2 4 2 3 4 2 3 3 2 2

2 2 3 3 1 5 5 1 2 3 4 2 3 3

5 Extremament e relevante 3 3 3 1 1 2 5 4 2 3 3 7 5 2 2

Tabela 4 - Relevância das principais áreas de pesquisa na internet pelo grupo de seniores envolvidos no projeto Destaca-se claramente a área de jogos (i) como a que menos interesse suscita na procura de informação por parte dos seniores e a área das notícias (n) como o mais relevante para a 353

procura de informação em que 7 dos 12 participantes consideram extremamente importante procurar informação. Salienta-se ainda pela positiva as temáticas referentes a eventos (g), à política (q) e às viagens (f). De igual forma a partilha de informação foi também hierarquizada (Tabela 5) no sentido de perceber o comportamento deste grupo no que diz respeito à construção/partilha de conteúdos.

Relevância Tarefa

a) b) c) d) e) f) g) h) i) j) k) l) m) n) o) p) q) r)

Música; Literatura; Saúde; Doenças; Desporto; Viagens; Eventos culturais; Fotografia; Jogos; Culinária; Trabalhos manuais; Jardinagem; Alimentação; Notícias nacionais; Notícias internacionais; Religião; Política; Segurança;

1 Nada relevante 3 6 4 8 8 4 3 2 9 5 8 6 3 2 4 9 5 6

2

3

4

3 2 2 2 1 2 2 2 2 1 2 2 1 1 3

2 3 1 2 1 3 3 3 1 1 5 3 2 1 1 2

1 2 3 1 1 5 5 4 2 1 1 3 2 3 1 2 1

5 Extremament e relevante 3 2 1 3 1 1 3 3 1 3 -

Tabela 5 - Relevância das principais áreas de partilha de informação na internet pelo grupo de seniores envolvidos no projeto No que diz respeito à partilha de informação, mantém-se como menos importante a área dos jogos (i), desta vez acompanhada pela temática religiosa (p) em que 9 dos 12 participantes consideram nada relevante partilhar conteúdos relacionados com os temas em concreto. Outras áreas onde claramente não existe, por parte deste grupo, grande interesse na partilha de informação são por exemplo a área de trabalhos manuais (k) ou a área de desporto (e) e doenças (d), consideradas nada relevantes para 8 dos 12 participantes. Do lado oposto mantém-se o interesse pela partilha de notícias (n). Mediante os resultados obtidos, procuramos perceber o que faz com que diminua o interesse pela partilha de informação, uma vez que 11 dos participantes mostraram interesse em disponibilizar informação, mas na prática não o faziam. Novamente questionados sobre este 354

facto, salienta-se que para 10 dos 12 elementos do grupo, as dificuldades que encontram na utilização das diferentes ferramentas de partilha de informação são o principal obstáculo.

4. A produção e a partilha de informação vista pelos seniores A partilha de informação fez-se com recurso a plataformas digitais disponíveis capazes de garantir a troca de experiências entre os membros do grupo. Neste sentido procurou-se a construção de narrativas que permitissem expressar as vivências dos participantes. As narrativas encaradas como formas de construção da realidade que nos ajudam a organizar as experiências do dia-a-dia ou a construir mundos ficcionais, uma forma de estruturação narrativa descrita como uma instância capaz de relatar eventos reais ou fictícios organizados cronologicamente desencadeados por agentes individuais ou coletivos (Aguiar e Silva, 2006). Para Mateas e Stern numa narrativa digital interativa o participante influencia todo o desenrolar da história definindo inclusive a sua conclusão (Mateas & Stern, 2002). A idade do responsável pela construção da narrativa influencia o modo como pode ser interpretada pelo leitor. A capacidade de interpretar/criar personagens e a riqueza interpretativa é algo que surge com a maturidade de quem se responsabiliza pelo desenrolar da história. Assim sendo, as narrativas digitais têm a potencialidade de criar construções cognitivas que podem conduzir a histórias únicas, logo a novas experiências para o utilizador. Floridi (Floridi, 2007) aponta para uma convergência em diferentes níveis de realidade da distinção entre online e offline: seja digital ou genético, tudo é codificado, tudo é informação e consequentemente se tudo é informação tudo se pode comunicar. A oportunidade de criar narrativas digitais colaborativas assente na transferência de conhecimento intergeracional, que fomentasse a partilha de memórias fazendo uso de plataformas digitais mediadas tecnologicamente, motiva a criação de um novo modelo capaz de assegurar esta dinâmica de produção conteúdos. Algumas plataformas digitais utilizadas para partilha de informação como os blogues, os microblogues e redes sociais, foram consideradas pouco amigáveis e inibiram os elementos do grupo no processo de partilha de informação. As tentativas de construir e partilhar informação, por parte dos membros do grupo, foram feitas com recurso a plataformas digitais existentes no mercado como: - Facebook; - Tumblr6; - Blogger7. Seria de alguma forma expectável que pudéssemos considerar de fácil utilização plataformas digitais como blogues, uma vez que não requerem competências tecnológicas evidentes, mas apesar deste pressuposto a realidade revelou-se diferente e vários problemas foram apontados pelos utilizadores. Na metodologia participativa, os seniores foram convidados a definir o que consideram ser impeditivo para manterem uma postura ativa em ferramentas como blogues ou redes sociais. As competências necessárias para partilha de informação na rede social (Facebook) foram as que menos levantaram dificuldades, por outro lado a criação de um blogue (Blogger) foi 6 7

URL http://www.tumblr.com/ disponível em 30/04/2013 URL http://www.blogger.com/ disponível em 30/04/2013

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aquela que levantou mais questões, nomeadamente no que diz respeito às configurações e registo de utilizador. O processo de construção foi complexo e em 8 dos 12 participantes neste estudo limitou de forma preponderante todo o desenrolar da estratégia delineada para a construção e partilha de informação. Dos 12 participantes só 2 foram capazes de publicar autonomamente informação, e só 4 conseguem manter o seu blogue.

5. Conclusões A ênfase na tecnologia pode fomentar uma visão distorcida de determinismo tecnológico segundo o qual as transformações em direção à sociedade da informação resultam da tecnologia, e estão fora da interferência de fatores sociais e políticos. Neste artigo, apresentamos fatores a ter em conta na conceção e desenvolvimento de um modelo de partilha e acesso a informação adaptado à utilização de seniores. Observando o potencial que aproxima a comunidade à construção da plataforma de partilha de informação, fortalece a ideia de que a proximidade do utilizador no processo de desenvolvimento traz consigo maisvalias importantes que não devem ser descuradas. A abordagem de um tipo de plataforma digital, o blogue, num contexto participativo criando laços entre os membros da comunidade que potenciam a partilha de informação, fez com que o grupo envolvido no processo de especificação e análise se tornasse mais participativo e motivado para criar os seus próprios conteúdos, sobressaindo as limitações das plataformas utilizadas que impedem os elementos do grupo de continuar a disponibilizar conteúdos produzidos pelos próprios. Finalmente, foram levantadas pistas importantes para a investigação futura no que concerne ao desenvolvimento de uma proposta de modelo de partilha de informação capaz de ajudar os seniores a partilhar, explorar e redescobrir experiências de vida, com participação na comunidade. 6. Agradecimentos Este estudo foi possível graças à cooperação dos seniores da Universidade Sénior de Ermesinde e é suportado pelo projeto SEDUCE (PTDC/CCI-COM/111711/2009) – COMPETE, FEDER, FCT de Lisboa, Portugal. O nosso agradecimento.

7. Referências bibliográficas Aguiar e Silva, Vítor Manuel. (2006). Teoria da Literatura (8ª ed.). Coimbra: Livraria Almedina. Alley, Dawn, Liebig, Phoebe, Pynoos, Jon, Banerjee, Tridib, & Choi, In Hee. (2007). Creating Elder-Friendly Communities. Journal of Gerontological Social Work, 49(12), 1-18. doi: 10.1300/J083v49n01_01

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Blaschke, Christina M., Freddolino, Paul P., & Mullen, Erin E. (2009). Ageing and Technology: A Review of the Research Literature. British Journal of Social Work, 39(4), 641-656. doi: 10.1093/bjsw/bcp025 Bloom, David E, Boersch-Supan, Axel, McGee, Patrick, & Seike, Atsushi. (2011). Population Aging: Facts, Challenges and Responses. Benefits and Compensation International, 41(1), 22. Bronswijk, JEMH van, Bouma, Herman, & Fozard, JL. (2002). Technology for quality of life: an enriched taxonomy. Gerontechnology, 2(2), 169-172. Floridi, Luciano. (2007). A Look into the Future Impact of ICT on Our Lives. The Information Society, 23(1), 59-64. doi: 10.1080/01972240601059094 Fuchs, Victor R. (1999). Health care for the elderly: How much? Who will pay for it? Health Affairs, 18(1), 11-21. Ghiglione, R. , & Matalon, B. (1993). O inquérito (Celta Ed.). Oeiras. Hammond, Michael. (2000). Communication within on-line forums: the opportunities, the constraints and the value of a communicative approach. Computers & Education, 35(4), 251-262. doi: http://dx.doi.org/10.1016/S0360-1315(00)00037-3 Heidi White, Eleanor McConnell, Elizabeth Clipp, Louise Bynum, Carmen Teague, Luis Navas, Sara Craven, Herbert Halbrecht. (1999). Surfing the Net in Later Life: A Review of the Literature and Pilot Study of Computer Use and Quality of Life. Journal of Applied Gerontology, 18(3), 358-378. doi: 10.1177/073346489901800306 Kamel Boulos, Maged N., & Wheeler, Steve. (2007). The emerging Web 2.0 social software: an enabling suite of sociable technologies in health and health care education1. Health Information & Libraries Journal, 24(1), 2-23. doi: 10.1111/j.1471-1842.2007.00701.x Lehning, A., Chun, Y., & Scharlach, A. (2007). Structural barriers to developing “agingfriendly” communities. Public Policy & Aging Report(17), 15-20. Maes, Pattie. (1994). Agents that reduce work and information overload. Commun. ACM, 37(7), 30-40. doi: 10.1145/176789.176792 Mateas, Michael, & Stern, Andrew. (2002). Towards Integrating Plot and Character for Interactive Drama Socially Intelligent Agents. In K. Dautenhahn, A. Bond, L. Cañamero & B. Edmonds (Eds.), (Vol. 3, pp. 221-228): Springer US. Thompson, Terrie Lynn, & MacDonald, Colla J. (2005). Community building, emergent design and expecting the unexpected: Creating a quality eLearning experience. The Internet and Higher Education, 8(3), 233-249. doi: http://dx.doi.org/10.1016/j.iheduc.2005.06.004 WHO. (2002). Active Ageing - A Policy Framework. Paper presented at the Second United Nations World Assembly on Ageing, Madrid, Espanha.

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