Interagente: Uma reflexão sobre conteúdo colaborativo

September 9, 2017 | Autor: Cláudia Assis | Categoria: Journalism
Share Embed


Descrição do Produto

Artigo

Interagente: Uma reflexão sobre conteúdo colaborativo Cláudia Maria Arantes de Assis Saar*

Resumo O presente artigo visa fazer uma abordagem sobre conteúdo colaborativo na Internet. Para tanto, se faz necessário tratar sobre Tecnologia de Informação e Comunicação e como ela vem potencializando o uso de ferramentas tecnológicas por interagentes1. Ainda nesse artigo, busca-se fazer um paralelo entre o uso de espaços colaborativos e a questão do regionalismo, tendo por base a inserção social e cultural do indivíduo. Assim, esse trabalho faz uso de bibliografias que fundamentam as temáticas abordadas. Espera-se que essa temática seja pauta de discussão para um melhor entendimento sobre o processo comunicacional e suas possibilidades.

Palavras-chave Interagentes. Conteúdo colaborativo. Glocal. TIC’s. Jornalismo.

* Cláudia Maria Arantes de Assis é professora do curso de jornalismo da Universidade Federal do Amapá e doutoranda do Programa de Pós Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo.

c

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014 www.revista.tecccog.net

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014

Introdução Atualmente, por conta da quantidade de canais e possibilidades de se comunicar, há uma grande discussão a respeito do trabalho jornalístico. Essa discussão tem um caráter especial quando se trata do processo de produção da notícia, afinal de contas, o jornalista não consegue estar em todos os lugares no momento exato em que o fato está acontecendo. Por conta disso, as pessoas que presenciaram um determinado evento, muitas vezes, publicam ou vendem o material que conseguiram coletar. Assim, na ausência de um profissional ou de uma cobertura jornalística, qualquer pessoa com uma câmera, gravador ou celular em mãos pode ganhar esse destaque, transformando-se em ‘jornalista por alguns minutos’, ou em um ‘interagente’. O termo ‘interagente’ foi criado por Alex Primo (2002) ao perceber a coexistência de um sistema comunicacional habitado por emissores e receptores. Segundo Primo, o termo interagente é mais bem empregado tendo em vista que o interlocutor é envolvido na produção de conteúdos informativos mediados por computador, enquanto que o termo ‘usuário’ delimita hierarquização nas ações colaborativas. Todavia, esse interagente utiliza de recursos e espaços muitas vezes já disponibilizados para colaboração. Seguindo esse preceito, para Vittadini (1995, p.151), toda interação tem que envolver pessoas, [...] estar em um espaço-tempo cujo âmbito se estabelece por meio de um campo de ação comum em que sujeitos envolvidos estejam em contato uns aos outros [...]. A interação se realiza sobre uma base de regras e pode estabelecer trocas dependendo do contexto.

No que tange interação, outra perspectiva é apontada por Lemos (1997, p.1) ao afirmar que: Hoje tudo se vende como interativo; da publicidade aos fornos de microondas. Temos agora, ao nosso alcance, redes interativas como Internet, jogos eletrônicos interativos, televisões interativas, cinema interativo. A noção de “interatividade” está diretamente ligada aos novos media digitais. O que compreendemos hoje por interatividade, nada mais é que uma nova forma de interação técnica, de cunho “eletrônico-digital”, diferente da interação “analógica” que caracterizou os media tradicionais.

Podemos notar que essas duas vertentes demandam interação em diversos níveis, ou seja, possibilita uma interação mediada por computador e sem base fixa em laços fortes ou fracos a respeito da informação produzida. Contudo, para que o interagente exista, é preciso haver espaços colaborativos. Desde os primórdios existe colaboração entre os membros da família e entre grupos externos (TAPSPaper apresentado no I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, realizado em 22 e 23 de maio de 2014, na Universidade Metodista de São Paulo

Realização:

c

2 1 Alex Primo propõe o termo ‘interagente’ no intuito de substituir termos como usuário e receptor. Essa opção se dá pelo fato de autor afirmar que esses últimos são termos subordinados. Usuário por estar diretamente associado ao modelo transmissionista-telegráfico e receptor por se relacionar com comunicação mediada por computador (CMC) em que os dados estariam disponíveis para serem usados com menor intensidade de participação, o que não acontece com o termo interagente, pois nessa terminologia, o sujeito é ativo e participante. Sendo um (re) construtor de conteúdos.

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014

COTT; WIILLIANS, 2007). Esse fenômeno foi notado também por Adam Smith (2003, p.50), quando afirmou que “Numa sociedade civilizada, o homem - a todo o momento - necessita da ajuda e cooperação de grandes multidões e sua vida inteira mal seria suficiente para conquistar a amizade de algumas pessoas”. Complementando essa informação, Bair (1989, p.17) afirma que, A colaboração é uma comunicação interpessoal e pressupõe que indivíduos trabalhem juntos e com um mesmo objetivo, porém pessoas são avaliadas individualmente. Já a cooperação é a comunicação em que não existe mais o conceito de indivíduo, mas o de grupo.

Atualmente vemos a colaboração também no jornalismo. No entanto, outras nomenclaturas são empregadas. Para Gillmor (2005) jornalismo participativo e jornalismo cidadão são sinônimos, tendo em vista que ambos buscam produção e compartilhamento de informações. Seguindo esse mesmo raciocínio, Bowman e Willis (2003, p.9) dizem que ‘Partcipatory Journalism’ é, [...] um ato de um cidadão ou grupo de cidadãos que desempenham um papel ativo no processo de coletar, reportar, analisar e disseminar informação. A intenção dessa participação é fornecer a informação independente, confiável, exata, ampla e relevante que a democracia requer.

Já Ana Brambilla (2006, p.16) chama de open source esse tipo de interação entre o interagente e a colaboração. Para a autora, modelo de jornalismo open source é “[...] aquele que conta com a participação ativa do internauta em interação mútua com o conteúdo noticioso” (BRAMBILLA, 2006, p.16). Seguindo esse mesmo viés, Holanda (2007, p.51) diz que, Jornalismo de fonte aberta é aquele que depende da participação do público tanto para a produção do conteúdo a ser publicado, quanto para a sua validação através do escrutínio e da correção efetuados pelos leitores. A notícia não vale por ter sido publicada, mas sim por resistir ou incorporar as críticas do público a que se destina. A filtragem coletiva é tão, ou mais, importante para a definição do objeto quanto à publicação aberta e produção das matérias pelo público, serve para legitimá-lo como fazer jornalístico, comprometido com a credibilidade e relevância dos relatos publicados, constituindo se como dispositivo de construção de credibilidade e de reputação dos emissores individuais. A filtragem serve ainda para delimitar o objeto,diferenciando-o de outras formas de jornalismo participativo e de mídia social (blogs, forums etc.).

Paper apresentado no I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, realizado em 22 e 23 de maio de 2014, na Universidade Metodista de São Paulo

Realização:

c

3

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014

Já para Foschini e Taddei (2006, p.19) existe diferenciação nas nomenclaturas emprega-

4

das. Para os autores (2006, p.19), jornalismo colaborativo é “usado quando mais de uma pessoa contribuiu para o resultado final do que é publicado”. Já o jornalismo participativo ocorre “nas matérias publicadas por veículos de comunicação que incluem comentários dos leitores. Os comentários somam-se aos artigos, formando um conjunto novo” (FOSCHINI; TADDEI, 2006, p.19). Ou seja, busca apenas contribuir, compartilhar ou distribuir algo que foi produzido por apenas uma pessoa. Enquanto que o jornalismo código aberto surgiu para “definir um estilo de jornalismo feito em sites wiki, que permite a qualquer internauta alterar o conteúdo de uma página” (FOSCHINI; TADDEI, 2006, p.19). Ou seja, busca apenas a alteração frequente do conteúdo em sites wiki. Entretanto, Primo e Träsel (2006) sugerem com outro termo. Para eles o Webjornalismo Participativo funciona como “práticas desenvolvidas em seções ou na totalidade de um periódico noticioso na Web, onde a fronteira entre produção e leitura não pode ser claramente demarcada ou não existe” (PRIMO; TRÄSEL, 2006, p.9). Primo e Träsel (2006, p.9), definem jornalismo participativo/colaborativo como sendo “práticas desenvolvidas em seções ou na totalidade de um periódico noticioso na web, onde a fronteira entre produção e leitura não pode ser claramente demarcada ou não existe”. Esse é um fenômeno transformador apontado por Lemos (2006) como sendo a “liberação do polo emissor”, em que a comunicação é multidirecional. Ou seja, graças as novas tecnologias, a comunicação deixou de ser de um-para-muitos (como no modelo broadcast) e passou a ser de muitos-para-muitos2. Nesse ponto, “o melhor exemplo disso é o computador pessoal, que pôs todas as coisas, desde as máquinas de impressão até os estúdios de produção de filmes e de músicas, nas mãos de todos” (ANDERSON, 2006, p.52). No entanto, nesse campo do conhecimento, a parte técnica deve ser bem desenvolvida para que a notícia se aproxime ao máximo de sua objetividade e imparcialidade. Mas, para que “[...] várias pessoas (não apenas os jornalistas) escrevam e, sem a castração da imparcialidade, dão sua opinião, impedindo assim a proliferação de um pensamento único” (MOURA, 2002, p.1). Contudo, esse fenômeno mostra que graças ao desenvolvimento e potencialidades da tecnologia, os meios de comunicação estão cada vez mais ganhando velocidade, novos aparatos e também contribuições de pessoas que estavam no momento exato e na hora exata, e, possivelmente, preparadas com algum equipamento tecnológico. Dessa maneira é perceptível que os meios de comunicação estão sofrendo influências de diversas fontes, como as Tecnologias da Informação e Comunicação. Esse novo fenômeno é potencializado pela internet, que viabiliza a ação do interagente em publicar o conteúdo colaborativo.

Paper apresentado no I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, realizado em 22 e 23 de maio de 2014, na Universidade Metodista de São Paulo

Realização:

c

2 Considerada pósmassiva, “permitem a comunicação bidire¬cional através de um fluxo de informação em rede” (Lemos, 2007, p.10).

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014 Assim, se torna perceptível que os meios de comunicação estão sofrendo influências de outras variáveis, como as Tecnologias da Informação e Comunicação, por exemplo. As TICs auxiliam na proliferação de conteúdo colaborativo pois permitem fazer “a reunião dos meios audiovisuais, informáticos e comunicacionais que permitem criar, armazenar, recuperar e transmitir informação em grande velocidade e em grande quantidade” (MONTEIRO e PINHO, 2007, P.107).

Sobre esse fenômeno, amparado pelo desenvolvimento das TIC’s, alguns sites abriram possibilidade de agregar em seu valor informativo notícias produzidas por interagente. Um ponto a ser destacado com essa possibilidade é que, com essa interação, o site ganha por ter pessoas trabalhando gratuitamente, uma vez que não precisou enviar uma equipe para cobrir o fato. Além do mais, a visualização do fato, no momento exato em que está acontecendo atrai olhares curiosos, uma vez que possibilita assistir um vídeo ou a ter acesso a uma imagem do momento exato do acontecimento. Nesse sentido, o site ganha em quantidade e velocidade da informação, afinal, qualquer pessoa que contenha um aparato tecnológico pode, rapidamente, se transformar num interagente. Assim, o papel de reportar informações não cabe mais apenas aos profissionais do jornalismo. A cada dia cresce o número de pessoas que, através de uso de tecnologias, participam da produção e disseminação da informação. Assim, essas novas ferramentas “aproximou os produtores da audiência e também permitiu que ‘amadores’ se convertam, também, além de consumidores da informação, em criadores de conteúdo jornalístico” (LIMA JÚNIOR, 2009, p. 2). Porém, toda essa possibilidade de gerar e compartilhar a informação pode colocar em xeque a credibilidade da informação, afinal, ninguém sabe se houve apuração nos mais diversos ângulos, como preza a ética jornalística. Assim, a imparcialidade ainda é um ponto de ampla discussão, tendo em vista que a produção da matéria jornalística colaborativa pode não seguir tantos critérios como deveria seguir o jornalismo. Além do mais, o jornalismo tradicional está diante de um dilema, especialmente tendo em vista que “as normas por que se regem as fontes, e não só os jornalistas, mudaram graças à possibilidade de toda a gente produzir notícias” (GILLMOR, 2005, p.55). No entanto, Gillmor (2005) ainda afirma que quanto mais as fases de produção da informação for aberta a participação de leitores, maior será a democratização do jornalismo. Contudo, há uma ambivalência nesse cenário. Por um lado, o espaço tradicional do jornalismo tem a possibilidade de se transformar num espaço de diálogo público e de visibilidade, pois agregaria informações também feitas por interagentes, embora editadas pelo jornalista. No entanto, o jornal enfrentaria uma crise, tendo em vista que seu potencial em participar ou interferir na opinião pública pode ser drasticamente reduzido nesse cenário, tendo por base a diversidade Paper apresentado no I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, realizado em 22 e 23 de maio de 2014, na Universidade Metodista de São Paulo

Realização:

c

5

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014

da informação e a possibilidade de suscitar diversas versões.

6

Nesse sentido, esse fenômeno é uma “faca de dois gumes”, pois pode fazer com que a mídia ganhe maior velocidade de transmissão de informações, visto que quem está narrando participou de forma direta ou indireta da ação. Por outro lado, o trabalho jornalístico narrado por não profissionais fica, muitas vezes, a mercê de questionamentos sobre a veracidade dos fatos e a qualidade da informação. Essas possibilidades colaborativas, potencializadas pela internet, devem ser bem analisadas e entendidas, afinal, a internet é uma ferramenta capaz de fazer uma mudança estrutural na forma como entendemos o mundo, ainda mais levando em consideração as ferramentas utilizadas e as novas configurações sociais. Portanto deve ser pesquisada e analisada por vários olhares, visto que essa ferramenta nos possibilita várias análises. Mas, principalmente, no que tange compreender o indivíduo e sua relação com as informações é um ponto chave, pois a rota da comunicação na internet mudou, e o interesse das pessoas por entender esses novos fenômenos continua. Atualmente a informação realizada pelos interagentes parece partir de diversas direções e encontram na internet um espaço de latência. Diferentemente da veiculação broadcast, em que a informação parte de um veículo e tenta informar o máximo de pessoas. No entanto, com tantas possibilidades disponibilizadas pela internet é possível encontrar vários sites que disponibilizam espaços para notícias feitas pelos interagentes, como aponta Belochio (2008, p.3-4), O aparecimento de espaços colaborativos em jornais digitais demonstra a apropriação do modelo de construção de notícias a partir da contribuição de amadores, que se consolidou na cauda longa3 da informação (...). Verifica-se a potencialização da interação com o público, bem como a mudança de seu papel no ciclo informativo. Mesmo existindo regras e seletividade na publicação do que é enviado por amadores, a abertura aos cidadãos nas seções colaborativas tem formato inédito. Nesse sentido, percebe-se uma ruptura que envolve parte importante da lógica comunicacional tradicionalmente seguida no jornalismo.

Essa ‘socialização’ do material informativo nos faz pensar na comunicação como um todo e, também, nos prepara para um futuro midiático em que cada pessoa será responsável pelo meio em que vive, além de dedicar uma maior participação na veiculação do material informativo do seu lócus. A televisão mostra cada dia mais imagens feitas por cinegrafistas amadores que tiveram a ‘oportunidade’ de estar na hora certa, no lugar certo e com a tecnologia adequada. Um dos acontecimentos mais importantes da história internacional, a queda das Torres Gêmeas, em 11 de setembro de 2000, é um exemplo do poder que o detentor de uma câmera filmadora ou fo-

Paper apresentado no I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, realizado em 22 e 23 de maio de 2014, na Universidade Metodista de São Paulo

Realização:

c

3 Disseminado por Chris Anderson, o termo referia-se em princípio a uma perspectiva genérica de nichos da economia. O que posteriormente foi usado pela comunicação, pois a área também possui nichos diversificados. Dentro do campo da comunicação, a cauda longa representa a possível incorporação de novos públicos graças as conectividade em informações primárias e produção de hiperlinks que estão ligadas diretamente a seus conteúdos e comentários.

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014

tográfica têm. Grandes emissoras compraram dos cinegrafistas amadores – na maioria turistas –, as imagens sobre essa tragédia que se abateu sobre os Estados Unidos, e assim acontecem todos os dias. Contudo, o jornalismo broadcast, antes do auge da internet, supria a necessidade informativa, pois, analisando superficialmente, esse tipo de jornalismo nada mais é do que colher a informação que está dispersa, formatá-la através dos processos técnicos e distribuir o produto final para um público diversificado. Assim, na informação broadcast é necessário que o público tenha certa confiança na informação que está recebendo, afinal, dificilmente o receptor terá condições de checar a veracidade dos fatos. Nessa vertente, Giddens (1990) criou o termo ‘Sistema Perito’ ou ‘Expert System’ que trata do sistema de competência técnica no qual grande parte das pessoas usam, mas não questionam seu funcionamento. Trocando em miúdos, grande parte das pessoas recebem informações broadcast acreditando que são notícias verídicas por terem competências técnicas jornalísticas. A rádio também utiliza destes recursos, como aconteceu no dia 04 de novembro de 2007, no caso do bimotor que caíra sobre algumas casas logo após levantar vôo do Campo de Marte, em São Paulo. Cerca de 20 minutos após a queda do bimotor, vizinhos do local davam as informações sobre o acontecimento em uma rádio ao vivo. Essa maneira de disseminação da informação é vista a cada dia, em praticamente todos os veículos de comunicação.

O Global local – Glocal Cada indivíduo se faz capaz de comunicar e expressar fatos relevantes à comunidade em geral, e principalmente a comunidade local. O que antes ficava restrito ao local da morada, aos vizinhos, aos amigos, agora faz parte de um todo. E nesse ‘todo’ cada um busca a informação ‘local’ no meio midiático que preferir. Embora as informações locais sejam pertinentes às pessoas que atuam nesse determinado lugar, informações de ampla divulgação também são importantes no dia a dia da população. Dessa forma, o local também se faz global, o que origina o termo ‘glocal’. Para Castells (1999, p.23) Uma nova identidade está sendo construída, não por um retorno à tradição, mas pela manipulação de matérias tradicionais para a formação de um novo mundo divino e comunal, em que massas excluídas e intelectuais marginalizados possam reconstruir significados em uma alternativa global à ordem mundial excludente.

É perceptível que a regionalização nunca deixou de existir, cada grupo tem suas especificidades, sua cultura, suas tradições. É por isso que cada vez mais essa ‘retomada às origens’ se Paper apresentado no I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, realizado em 22 e 23 de maio de 2014, na Universidade Metodista de São Paulo

Realização:

c

7

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014

expande para a globalização. De acordo com Cicília Peruzzo (2004, p.68),

8

O processo de globalização recoloca a questão das entidades. Elas giram em torno de raízes e refletem um campo comum de significados a um determinado número de pessoas. As identidades podem ser visualizadas partindo de diferentes esferas, tais como de uma história própria, dos valores, das práticas sociais, da língua - dialetos, da religião, tipos de solo e de clima, tradições etc.

Assim, o local tende a ser refletido no global. É o que se espera com as notícias de uma determinada região, que se tornam visíveis não apenas às pessoas que estão distantes e que não conhecem a realidade daquele lugar, mas também às pessoas que estão ali e querem informações do que acontece a sua volta. Cada vez mais se torna indispensável ter a regionalização como forma de apoio para o local, visto que um influencia o outro. De acordo com Bourdin (2001), esse “vínculo social é um processo de construção do sentido: viver-junto consiste, em primeiro lugar, em elaborar representações comuns do mundo”. Sendo assim, cabe a pergunta: o que é mais importante, uma notícia local ou global? Para se ter uma ideia da quantidade de informações que temos hoje, no século XVI, o número de informação que um indivíduo recebia na vida toda é equivalente a uma edição do jornal Estado de São Paulo4. Então, fica cada vez mais difícil selecionar o que realmente nos interessa do dia-a-dia. Geralmente, notícias de fatos próximos nos causam maior impacto do que as informações mais distantes – que podem nem nos atingir –, este é um dos fatores que faz com que a mídia local cresça e se desenvolva tão rapidamente. A pesquisadora Cicília Peruzzo (2004, p.61) acredita que, O crescimento da mídia local se deve às modificações no cenário dos meios de comunicação, motivadas pela valorização do local, tanto enquanto ambientes de ação político-comunicativa cotidiana, como pela oportunidade mercadológica que ele representa.

Já é comum a presença, nas pequenas cidades, de sites de informação local ou regional. A questão dos acessos fica por conta dos moradores que se interessam em saber o que está acontecendo em sua região, mas que não tem possibilidades de conhecer isto através dos grandes meios de comunicação. Essas mídias regionais, além de informar aos munícipes, muitas vezes têm fatores que chamam a atenção destes, como é o caso, por exemplo, das enquetes. Como em um local pequeno as pessoas se conhecem, elas querem saber o que o vizinho, o tio, o ami-

Paper apresentado no I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, realizado em 22 e 23 de maio de 2014, na Universidade Metodista de São Paulo

Realização:

c

4 Informações retiradas do livro Google Marketing.

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014

go falou sobre determinado assunto. Ainda de acordo com Cicília Peruzzo (2004 p.53) “a comunicação comunitária e local não é algo exterior aos processos sociais concretos. São partes constitutivas e constituintes da dinâmica social. (...) É o espaço que lhe é familiar, que lhe diz respeito mais diretamente (...)”. Esse sentimento de pertença à comunidade é explicado por Peruzzo (2003, p.56) como, “participação; interação; objetivos comuns; interesses coletivos acima dos individuais; identidades; cooperação; confiança, cultura comum etc”. Porém, nesse mundo globalizado em que vivemos hoje, as pessoas têm anseio de mostrar ao outro sua existência e seu lugar de pertença. Assim, é possível encontrar na internet diversas notícias colaborativas. Nas palavras de Peruzo (2004, p.54), Não há porque desprezar o território geográfico enquanto fonte de significados, pois ele faz parte das condições objetivas de vida advindas do tipo de solo, de clima, das tradições, da língua, dialetos etc, e com a construção de valores e práticas sociais.

As práticas sociais construídas através da geografia são de grande importância, visto que as práticas sociais dos sujeitos podem se assemelhar. Todavia, não é possível dizer que apenas pessoas que vivem àquela realidade participarão do debate. Outras pessoas que se identificam de alguma maneira com as informações recebidas podem se sentir inseridas no contexto da notícia. Castells (1999, p.47), fala que “a construção de identidades vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso”. Não podemos negar que os sites de cunho colaborativo são espaços que possuem interatividade, visto que possibilita comentários e participações, além de publicações de informações. Nesse sentido, Castells (1999, p.35) explica esse acontecimento, dizendo que, [...] dada a crise estrutural da sociedade civil e do Estado - Nação, pode ser esta a principal fonte de mudança social no contexto da sociedade em rede. Como e porque novos sujeitos podem ser formados a partir dessas comunas culturais e reativas serão as questões principais para análise dos movimentos sociais na sociedade em rede [...].

Conclusão Ao passo que as tecnologias vão surgindo, aparecem também novos meios de informação. Mas isto não representa o fim da profissão jornalística, é apenas uma reestruturação, uma mudança de tática. Entretanto, é difícil estar ‘no lugar certo, na hora certa’. Assim sendo, os veículos de co-

Paper apresentado no I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, realizado em 22 e 23 de maio de 2014, na Universidade Metodista de São Paulo

Realização:

c

9

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014

municação perdem muitas notícias importantes, tanto de cunho nacional, internacional quanto regional. E é nessa quebra de paradigmas que o cidadão se torna um interagente. Antes, o cidadão era apenas entrevistado sobre determinados temas, agora, ele é conhecedor e produtor da notícia que deseja transmitir. Cada vez mais, nesse mundo de interação, novos meios irão se desenvolver. E mais pessoas se envolverão no processo de produção de notícias. Com o crescimento tecnológico, é possível afirmar que as distâncias encurtaram, todos querem mostrar a sua peculiaridade e a sua regionalidade. De uma forma geral, as pessoas estão usando os recursos que lhes foram proporcionados. E utilizam desses recursos como meio para divulgar o seu espaço, seu grupo de pertencimento, sua identidade. Assim, percebemos que embora exista uma potencialidade e abertura de ferramentas informativas amparadas pelas Tecnologias da Informação e Comunicação, o indivíduo busca mostrar na rede seu interesse e pertencimento. Contudo, podemos notar que não é tão simples justificar os usos e práticas da rede. Especialmente por que demanda entendimento social, cultural, uso das redes, TIC’s, dentre outros.

Paper apresentado no I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, realizado em 22 e 23 de maio de 2014, na Universidade Metodista de São Paulo

Realização:

c

10

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014

Referências ANDERSON, Chris. A cauda longa. Rio de Janeiro: Campus, 2006 BAIR, James. Supporting cooperative work with computers: addressing meetingmania. Thirty-Fourth IEEE Computer Society International Conference: Intellectual Leverage, Digest of Papers, 1989. BELOCHIO, Vivian. A cauda longa da informação e suas implicações no jornalismo: estratégias comunicacionais, remediação e des-re-territorialização. Anais do VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo – SBPJor, UMESP, São Paulo, 2008. BOURDIN, Alain. A questão local. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. BOWMAN, Shayne e WILLIS, Chris. We Media - How audiences are shaping the future of news and information. Disponível em: . BRAMBILLA, Ana Maria. Jornalismo open source: discussão e experimentação do OhmyNews International, 2006. Dissertação (Mestrado em Comunicação e Informação), Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, UFRGS, 2006. CASTELLS, Manuel. A era da informação: economia, sociedade e cultura - o poder da identidade. v.2. São Paulo: Paz e Terra, 1999. CASTELLS, Manuel. A Sociedade em Rede - a era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 1999 FOSCHINI, Ana Carmem; TADDEI, Roberto Romano. Jornalismo Cidadão: você faz a notícia – Série Conquiste a rede – São Paulo, 2006. GIDDENS, Antony. As consequências da modernidade. São Paulo: Editora da UNESP, 1990. GILLMOR, Dan. Nós, os media. Lisboa: Editorial Presença,2005 LEMOS, André. Anjos interativos e retribalização do mundo. Sobre interatividade e interfaces digitais. 1997. Disponível em: LEMOS, André. Mídia Locativa e Território Informacional. In: Compós, 2006, Curitiba. Disponível em: . LIMA JÚNIOR, Walter Teixeira. Mídia Social Conectada: produção colaborativa de informação de relevância social em ambiente tecnológico digital. Anais do VII Encontro Nacional de esquisadores em Jornalismo – SBPJor, USP, São Paulo, 2009 MONTEIRO, E. P.; PINHO, J. B. Limites e possibilidades das tecnologias da informação e comunicação na extensão rural. Revista Brasileira de Ciências da Comunicação - Intercom. São Paulo, v.30, n.2, 2007 PERUZZO, C. Mídia regional e local: aspectos conceituais e tendências. Revista Comunicação e sociedade, 2004. PRIMO, Alex. Quão interativo é o hipertexto? Da interface potencial à escrita coletiva In Compós 2002 - XI Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-graduação em Comunicação, 11, 2002. Rio de Janeiro. Anais: Rio de Janeiro, 2002. Disponível em http:// www.comunica.unisinos.br/tics/textos/2002/T7G4.PDF Paper apresentado no I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, realizado em 22 e 23 de maio de 2014, na Universidade Metodista de São Paulo

Realização:

c

11

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cogntive Science - Edição nº 3, Ano II - Dezembro 2014

12

PRIMO, Alex; TRÄSEL, Marcelo. Webjornalismo participativo e a escrita coletiva de notícias. Contracampo, Niterói, v.14, 1º semestre/2006. SMITH, Adam. Riqueza das nações, São Paulo. Editora Momento Atual, 2003. TAPSCOTT, D.; WILLIAMS, A. D. Wikinomics: Como a colaboração em massa pode mudar o seu negócio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. VITTADINI, Nicoletta. Comunicar con los Nuevos Media. In: BETTETINI, Gianfranco; COLOMBO, Fausto. Las Nuevas Tecnologías de la Comunicación. Barcelona: 1995.

Paper apresentado no I Encontro Internacional Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, realizado em 22 e 23 de maio de 2014, na Universidade Metodista de São Paulo

Realização:

c

c

Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cognitive Science

Expediente TECCCOG Brazilian Journal of Technology, Communication, and Cognitive Science é produzida pelo Grupo de Pesquisa Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva credenciado pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Metodista São Paulo, v.2, n.2, dez 2014 A revista do TECCCOG é uma publicação científica semestral em formato eletrônico do Grupo de Pesquisa Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva credenciado pelo Programa de Pós-graduação da Universidade Metodista. Lançada em setembrode 2013, tem como principal produzir métodos e conhementos sob uma perspectiva inter e transdisciplinar, a complexidade das relações entre Tecnologia, Comunicação e Ciência Cognitiva, e os seus impactos cognitivos na sociedade. Editor Walter Teixeira Lima Junior Comissão Editorial Walter Teixeira Lima Junior (Universidade Metodista de São Paulo) * Lúcia Santaella (Pontíficia Universidade Católica de São Paulo) * Luis Martino (UNB) * João Eduardo Kogler (Universidade de São Paulo) * Ronaldo Prati (Universidade Federal do ABC) * Ricardo Gudwin ( Universidade Estadual de Campinas) * João Ranhel (Universidade Federal de Pernambuco) * Eugenio de Menezes (Faculdade Cásper Líbero) * Reinaldo Silva (Universidade de São Paulo) * Marcio Lobo (Universidade de São Paulo) * Vinicius Romanini (Universidade de São Paulo) Conselho Editorial Walter Teixeira Lima Junior (Universidade Metodista de São Paulo) * Lúcia Santaella (Pontíficia Universidade Católica de São Paulo) * Luis Martino (UNB) * João Eduardo Kogler (Universidade de São Paulo) * Ronaldo Prati (Universidade Federal do ABC) * Ricardo Gudwin ( Universidade Estadual de Campinas) * João Ranhel (Universidade Federal de Pernambuco) * Eugenio de Menezes (Faculdade Cásper Líbero) * Reinaldo Silva (Universidade de São Paulo) * Marcio Lobo (Universidade de São Paulo) * Vinicius Romanini (Universidade de São Paulo) Assistente Editorial Walter Teixeira Lima Junior Projeto Gráfico e Logotipo Danilo Braga * Walter Teixeira Lima Junior * Leandro Tavares Editoração eletrônica Eduardo Uliana Correspondência Alameda Campinas, 1003, sala 6. Jardim Paulista, São Paulo, São Paulo, Brasil CEP 01404-001 Website www.tecccog.net

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.