INTERDISCIPLINARIDADE EM UM CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO ÂMBITO DO PIBID: POSSIBILIDADES E PERSPECTIVAS PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL

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INTERDISCIPLINARIDADE EM UM CURSO DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO ÂMBITO DO PIBID: POSSIBILIDADES E PERSPECTIVAS PARA O EXERCÍCIO PROFISSIONAL Robson Crepes Corrêa1 Michele Dubow2 Joélcio Rosa da Silva Júnior 3 Maira Ferreira4 Valesca Mariza Barros Augé5 Eixo Temático: Formação de Professores no ensino de Ciências, Matemática e Tecnologias Resumo: O trabalho teve o objetivo de avaliar a elaboração, aplicação e reflexão sobre a importância de vivenciar projetos interdisciplinares durante a formação inicial de professores de Ciências e Matemática. Descrevemos as diferentes etapas para a organização de grupos interdisciplinares no âmbito do projeto PIBID Ciências e Matemática da UFPEL e da experiência com projeto interdisciplinar intitulado Hábitos de vida: o que buscamos?, desenvolvido para duas turmas de 1º ano do Ensino Médio Politécnico em uma escola da rede pública estadual da cidade de Pelotas/RS. Apresentamos uma análise sobre os efeitos do PIBID, especialmente da ênfase na interdisciplinaridade em práticas realizadas na escola, para a formação inicial de professores de Ciências Biológicas, Química, Física e Matemática, considerando o modo como a formação acadêmica, desenvolvida de maneira disciplinar, encontra espaço para o trabalho com as demais áreas de conhecimentos. A intervenção na escola com o projeto interdisciplinar teve como resultados indicar a importância do PIBID para a formação de professores, uma vez que os licenciandos podem vivenciar práticas inovadoras na escola e compreender as proposições de reforma curricular como a recentemente implantada em escolas da rede pública estadual do RS – o Ensino Médio Politécnico. Palavras-chave: Formação Interdisciplinaridade.

de

professores

de

Ciências

e

Matemática.

PIBID.

Abstract: The study aimed to evaluate the design, implementation and importance of interdisciplinary projects in teacher education. Was described the different steps for the organization of interdisciplinary groups within the project PIBID Sciences and Mathematics of UFPEL and planning the interdisciplinary project titled "Habits of life: what we seek" to two classes of 1st year of High School Polytechnic in the public schools of the city of Pelotas / RS. Was also presented an analysis of the effects of PIBID, especially emphasizing the interdisciplinarity to the practices held at the school for the initial training of teachers of Biological Sciences, Chemistry, Physics and Mathematics, considering how academic training, developed in a disciplinary way, finds place to work with other areas of knowledge. 1

UFPEL - [email protected] UFPEL - [email protected] 3 UFPEL – [email protected] 4 UFPEL – [email protected] 5 Instituto de Estadual de Educação Assis Brasil – [email protected] 2

Anais do III Seminário Internacional de Educação em Ciências: 22 a 24 de outubro de 2014.

Intervention in school with interdisciplinary project indicated the importance of PIBID for teacher training, as it enables the licensing an experience with innovative practices in school and also understand the propositions of curriculum reform as recently implemented - the Medium Polytechnic - in public schools of the Rio Grande do Sul State in 2012. Key-words: Teacher training in Scienses and Mathematics. Interdisciplinarity. PIBID. 1. Introdução A escola, nas últimas décadas, vem anunciando passar por diversas mudanças e transformações, de modo a deixar de ser apenas um espaço de aprendizagem e aprimoramento dos conhecimentos para também enfatizar a formação do cidadão, principalmente, com a valorização de práticas interdisciplinares, nas quais os conteúdos deixem de ser desenvolvidos de modo isolado, dentro de cada disciplina, para ceder lugar à exploração de conhecimentos interligados, que possibilitem aos alunos compreenderem o processo de construção de diferentes conhecimentos, juntamente com seus avanços, erros e conflitos. Para Feistel e Maestrelli (2009, p.02), no contexto educacional atual, cada vez mais são debatidas questões que envolvem a interdisciplinaridade, principalmente quando se trata da Educação Básica. As Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio (BRASIL, 2012), por exemplo, orientam para a necessidade emergente de integrar as disciplinas e de contextualizar os conteúdos de ensino de forma mais significativa. Uma forma de inserção da dimensão interdisciplinar na escola vem acontecendo por meio de reformas educacionais que buscam atender os objetivos e necessidades indicadas por essas reformas como, por exemplo, no estado do Rio Grande do Sul, a implantação do Ensino Médio Politécnico, no ano de 2012. A politecnia, segundo documento da Secretaria Estadual de Educação (SEDUC/RS, 2011), se embasa na promoção e inserção social da cidadania através da conexão das áreas de conhecimentos e suas tecnologias nos eixos Cultura, Ciência, Tecnologia e Trabalho, afirmando também que a construção do currículo dos Itinerários de Educação Profissional Integrada ao Ensino Médio só se tornará possível através do trabalho coletivo que integre, além do Governo e das Universidades, os professores, trabalhadores, representantes sindicais e representantes do setor produtivo. De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio-DCNEM (BRASIL, 2012), no Art. 7º, Anais do III Seminário Internacional de Educação em Ciências: 22 a 24 de outubro de 2014.

A organização curricular do Ensino Médio tem uma base nacional comum e uma parte diversificada que não devem constituir blocos distintos, mas um todo integrado, de modo a garantir tanto conhecimentos e saberes comuns necessários a todos os estudantes, quanto uma formação que considere a diversidade e as características locais e especificidades regionais.

Assim,

o

novo

Ensino

Médio

deve

ser

constituído

de

conhecimentos

interdisciplinares que sejam relevantes para a vivência de cidadãos críticos na sociedade, de modo a preparar os jovens para as diferentes transformações que o mundo oferece, incluindo muitas vezes problemas referentes aos seus hábitos de vida que, muitas vezes, faz com que se deparem com situações e questões que exigem um conhecimento mais específico e/ou geral para a tomada de decisões. Nesse sentido, o ambiente escolar, como espaço de convivência e de construção de conhecimentos, deve ser um local importante onde os conhecimentos acerca dos temas que permeiam os modos de vida dos jovens devem ser trabalhados. Porém, muitas vezes é difícil para o professor lidar com temas ou assuntos que não estejam previstos nos currículos enxutos que, normalmente, se baseiam em uma sequência de conteúdos linear, fragmentada e fechados em áreas disciplinares. É nesse contexto que o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) encontrou espaço nos cursos de formação de professores, uma vez que visa desenvolver um trabalho conjunto entre professores da Educação Básica, professores do ensino superior e alunos de cursos de licenciatura, possibilitando alternativas aos currículos escolares e aos métodos de ensino e de materiais didáticos, visando, assim, melhorias no ensino nas escolas públicas parceiras do programa, além de auxiliar na formação dos futuros docentes, pela inserção dos mesmos no ambiente escolar. Na Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), no âmbito do projeto PIBID – Ciências e Matemática a prática com projetos interdisciplinares tem sido uma das ações organizadoras do projeto. Os projetos realizados nas escolas envolvem temas e assuntos de interesse da comunidade escolar e com o uso de recursos didáticos e tecnológicos que possibilitaram, ao mesmo tempo, ações para a formação dos licenciandos e ações de ensino para os estudantes do Ensino Médio. Especialmente para os licenciandos, as ações realizadas têm um papel importante, uma

vez

que

esses

acadêmicos

desenvolvem

conhecimentos

sobre

atividades

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interdisciplinares na prática da escola que não são desenvolvidas no seu curso de formação, mas que serão necessárias na sua vida profissional considerando a recorrência das discussões envolvendo a interdisciplinaridade no campo da educação. Junto à “defesa” para um ensino mais contextualizado e interdisciplinar (BRASIL, 2002 – PCN+), há também um apelo para que os saberes, pertencentes a diferentes áreas de conhecimento, sejam tratados nos projetos educacionais com o uso de metodologias ativas de ensino, visando à melhoria na aprendizagem dos alunos. A experiência do PIBID Ciências e Matemática da UFPEL sobre a qual trata esse trabalho, se refere à reflexão sobre o planejamento e desenvolvimento de um projeto interdisciplinar realizado em uma escola da rede pública estadual da cidade de Pelotas/RS, visando socializar essa experiência e indicar os efeitos desse tipo de ação para a formação inicial de professores de Ciências Biológicas, Química, Física e Matemática, considerando o modo como a formação acadêmica, disciplinar, encontra espaço para o trabalho com as demais áreas de conhecimentos.

2. Interdisciplinaridade e formação de professores para a educação básica A educação, nos discursos oficiais, é reconhecida como a fonte de desenvolvimento humano, cultural, social e econômico, com os professores e as escolas exercendo um papel central nessa conjuntura (ALARCÃO, 2001). Então, nesse contexto, a formação inicial de professores de Ciências está sendo cada vez mais repensada no âmbito acadêmico, tendo em vista as constantes transformações e exigências da sociedade (SEVERINO, PIMENTA; 2007), como é o caso da recente reforma curricular em escolas da rede pública estadual que, desde 2012, vem sendo implantada com o nome de Ensino Médio Politécnico, cujo principal efeito é a reorganização do currículo escolar do Ensino Médio por áreas de conhecimento (Linguagens e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias e Ciências da Natureza e suas Tecnologias) e por dez Eixos Temáticos Transversais para a Parte Diversificada (Acompanhamento Pedagógico, Meio Ambiente, Esporte e Lazer, Direitos Humanos, Cultura e Artes, Cultura Digital, Prevenção e Promoção da Saúde, Comunicação e Uso de Mídias, Investigação no Campo das Ciências da Natureza e Educação Econômica e Áreas da Produção). Tal empreendimento tem a função de

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“garantir” a interdisciplinaridade através do fracionamento da carga horária da formação geral dentro de uma dada proporção em cada ano de curso (SEDUC/RS, 2011). Um problema que dificulta ações interdisciplinares na escola é a falta de clareza ou de compreensão sobre o que significa um ensino interdisciplinar. Há diferentes entendimentos sobre as práticas e experiências que transitam entre conceitos de interdisciplinaridade, associados aos projetos de trabalho, ensino integrado, unidades de aprendizagem, temas geradores, etc., contudo mantêm-se a mesma falta de compreensão sobre o que caracteriza ou aproxima essas organizações curriculares a práticas interdisciplinares. Para Pombo (1994), as práticas interdisciplinares devem ter um elemento central e serem compreendidas e caracterizadas como parcelas de um mesmo plano contínuo, que resultam na integração disciplinar ou no ensino integrado, com a articulação entre duas ou mais disciplinas. Uma forma de propor ações interdisciplinares é a organização de projetos de ensino, projetos de trabalho ou projetos escolares, uma vez que em um projeto parece mais fácil pensar em uma organização curricular a partir de um tema, ao invés de um conteúdo específico. Para Martins (2007, p.37), o trabalho com projetos cria condições para que o estudante (...) construa conhecimentos novos, com o uso da desenvoltura, da criatividade e da utilização de procedimentos com maior autonomia. Para Hernández (1998), a participação em projetos de ensino faz com que os estudantes vivenciem um processo de pesquisa que tem sentido para eles, porque podem participar ativamente do processo de produção do conhecimento que vai além do currículo básico. Afirma, ainda, que o professor deixa seu papel de centralizador do conhecimento e das diretrizes de aprendizagem para atuar como facilitador, respondendo pela problematização do conhecimento. Percebe-se que os professores ainda apresentam uma grande resistência para trabalhar com projetos de ensino, pois isso envolve mudanças em relação à tradicional prática docente, porém, conforme cita Puntel (2007, p.90) “é um grande desafio que começa com poucos e pode ir disseminando-se, pois a mudança não ocorre por decreto, mas sim pela consciência e pela necessidade de cada um”. No caso da formação de professores, entendemos que o trabalho com projetos de ensino na escola, é importante por promover a autocrítica sobre o ensino que fazemos. Isso Anais do III Seminário Internacional de Educação em Ciências: 22 a 24 de outubro de 2014.

faz com que os licenciandos experimentem, investiguem e pesquisem novos modelos de organização do currículo escolar envolvendo temas e situações problemas, tratando os conteúdos escolares como meio e não como fim, de modo a possibilitar uma prática de ensino mais ativa e significativa (OLIVEIRA, 2006).

3. Proposta Metodológica O trabalho com o projeto interdisciplinar na escola teve início com um ciclo de estudos sobre interdisciplinaridade, que envolveu a leitura de textos e a discussão no grupo. As leituras, inicialmente focadas nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM), foram complementadas pela leitura de artigos sobre o tema interdisciplinaridade (CARLOS, 2007; FAZENDA, 1994; THIESEN, 2008; POMBO, 1994). Essa etapa foi de fundamental importância, fornecendo-nos subsídios teóricos para um melhor entendimento sobre como trabalhar de forma interdisciplinar. No planejamento do projeto consideramos fundamental contemplar a participação dos alunos e da comunidade escolar desde a escolha do tema, pois o desenvolvimento do projeto sempre teve como referência o perfil das pessoas envolvidas e os objetivos da prática pedagógica que assumimos ao propor o desenvolvimento de um projeto interdisciplinar para o Ensino Médio. Assim, pensamos em ações que fizessem sentido para os alunos, cabendonos o papel de organizar estratégias que permitam a manifestação das concepções dos alunos (MORETTO, 2001), pois reconhecemos que devemos propor tarefas e atividades aos alunos considerando seu conhecimento e sua cultura para que os conhecimentos novos a serem aprendidos façam sentido e os motivem para a aprendizagem. Diante dessas considerações passamos a descrever as ações realizadas desde a organização dos grupos de licenciandos até a avaliação do projeto de ensino. Para a construção do projeto, participaram dezesseis licenciandos dos Cursos de Licenciatura em Ciências Biológicas, em Física, em Química e em Matemática, da UFPEL, em uma das escolas parceiras. Esses bolsistas foram divididos em quatro grupos interdisciplinares, compostos por um aluno de cada curso. Cada grupo ficou responsável por um subprojeto, totalizando, assim, os quatro subprojetos que compõem o projeto interdisciplinar desenvolvido em turmas de 1º ano do ensino médio politécnico. O trabalho

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contou também com a orientação de dois coordenadores da universidade e de duas professoras supervisoras da escola. A partir da organização dos grupos, buscamos ver os temas que seriam de interesse dos alunos e da comunidade escolar, realizando uma pesquisa com o uso de um instrumento que continha reportagens, assuntos em destaque nas mídias e também a simulação de situações que poderiam interessar os estudantes, professores e funcionários da escola parceira. Para os alunos, o instrumento foi aplicado às turmas de 8ª série do Ensino Fundamental, no final de 2012, uma vez que esses seriam os prováveis alunos do 1º ano do ensino médio no ano seguinte, quando o trabalho com o projeto seria realizado. A pesquisa com a comunidade escolar possibilitou o planejamento do projeto, desdobrado em quatro subprojetos, que visavam responder às necessidades apontadas. Os temas mais citados pelos alunos foram os que estavam relacionados aos seus hábitos cotidianos e a necessidade de pertencimento a diferentes grupos juvenis, com isso foi possível propor o projeto intitulado Hábitos de Vida: o que buscamos e, vinculados a este, os subprojetos intitulados Em busca do prazer; Atividade física: bem–estar, inclusão ou compulsão?; Uso abusivo de álcool, eu? e Uso de drogas: é legal?. Os sujeitos envolvidos no trabalho foram os professores de Seminário Integrado, porque já vinham discutindo a integração entre as diferentes áreas do conhecimento, e os alunos do 1º ano do Ensino Médio Politécnico (diurno e noturno). Desenvolvemos o projeto interdisciplinar nas aulas de Seminários Integrados, uma vez que entre os objetivos dessas disciplinas está o desenvolvimento de investigação e a articulação entre diferentes áreas para produzir a construção de conhecimento, com possíveis intervenções na realidade o que, de certo modo, era o objetivo do projeto interdisciplinar. Com relação à metodologia do trabalho, como um todo, e da discussão dos resultados, seguimos princípios de pesquisa qualitativa com um enfoque descritivo (ALVES, SILVA; 1992), compreendendo a observação, o registro e a análise de dados para que se chegasse a resultados sobre a experiência com a realização de um projeto interdisciplinar. Durante o desenvolvimento do projeto fizemos registros em diários de campo, anotando falas dos alunos e, principalmente, as impressões dos licenciandos ao longo do planejamento e desenvolvimento do trabalho. A seguir apresentamos o modo como organizamos conceitos que foram desenvolvidos. Anais do III Seminário Internacional de Educação em Ciências: 22 a 24 de outubro de 2014.

4. Aplicação do projeto e ações desenvolvidas Inicialmente, foi organizada uma atividade de abertura do projeto para os 1º anos do ensino médio da escola, na qual um professor da escola da disciplina de Sociologia palestrou sobre o tema A busca dos adolescentes pela felicidade e as causas que isso acarreta em suas vidas e na sociedade. O professor ilustrou sua fala com uma mídia onde eram reproduzidas cenas do filme “Delírios de Consumo” de Becky Bloom. Na continuidade da atividade de abertura apresentamos um videoclipe produzido pelos licenciandos bolsistas, procurando mostrar o modo como foram organizados os temas no projeto e nos subprojetos, usando uma linguagem próxima aos alunos. Ainda, como atividade de abertura, convidamos uma psicóloga para conversar com os alunos sobre as identidades juvenis e os hábitos de vida associados a essas identidades, ligado ao desejo de pertencimento a um determinado grupo. A partir dessa primeira etapa, passamos a desenvolver o projeto nas salas de aula de forma concomitante pelos grupos responsáveis pelos subprojetos. Cada subprojeto contou com quatro encontros em cada uma das turmas, sendo cada encontro utilizado para o desenvolvimento de uma ou duas ações conforme mostra o quadro abaixo.

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HÁBITOS DE VIDA: O QUE BUSCAMOS?

Em busca do prazer Momento Spa Quebra de Tabus Uso de tecnologias As Faces das Drogas Cuidados com a saúde

SUBPROJETOS Atividade física: Uso abusivo do Bem-estar, inclusão álcool, eu? ou compulsão? Vinho caseiro Cirrose hepática Construção de um Bafômetro Debate

IMC, Batimentos cardíacos e frequência respiratória Palestra com profissional da academia Questões sobre a prática de atividade física

Uso de drogas: É legal? Caixa de dúvidas Fumante artificial Estimativas em gráficos Medicamentos Discussão sobre legalização - drogas Dopping

Tabuleiro (Jogo) Quadro 1: Ações desenvolvidas pelos subprojetos

5. Transitando entre a lógica disciplinar e a interdisciplinar Durante o desenvolvimento das atividades propostas pelos quatro subprojetos que compunham o projeto interdisciplinar, os licenciandos, juntamente com os professores da universidade e da escola, realizavam avaliações a respeito do andamento do mesmo. O primeiro ponto relevante foi em relação às expectativas dos bolsistas em relação ao desenvolvimento do projeto para alunos do diurno e do noturno. Pensávamos que os alunos do noturno não se interessariam como os do diurno, o que não se confirmou, pois com o decorrer da realização das atividades, verificamos que a turma do noturno se mostrou mais interessada, participativa e teve um maior envolvimento nas atividades propostas. Isso nos chamou atenção de que devemos vivenciar experiências inovadoras na escola sem preconceitos sobre a idade ou nível de conhecimento dos alunos. Outro aspecto discutido foi em relação às dificuldades surgidas, ainda, no planejamento das ações, em função da “necessidade” que os licenciandos tinham de “encaixar” conteúdos de Biologia, Física, Matemática e Química nas atividades do projeto. Essa dificuldade pode estar associada à identidade do professor, que começa a ser forjada nos cursos de licenciatura, nos quais a formação disciplinar é encarada como primordial, com efeitos também nas disciplinas escolares, pois o professor se vê intrinsicamente ligado à sua área de formação (ROSA, 2010). Anais do III Seminário Internacional de Educação em Ciências: 22 a 24 de outubro de 2014.

Assim, também durante o desenvolvimento do projeto, percebemos a dificuldade dos licenciandos de se organizarem, principalmente em relação ao trabalho em grupo, uma vez que cada subprojeto era composto por quatro bolsistas de quatro áreas diferentes, e nem todos conseguiram compreender a necessidade de mudança da lógica disciplinar para a interdisciplinar, não favorecida durante a formação acadêmica, baseada na disciplinarização, o que dificulta pensar um novo modo de pensar e de agir. Assim, foi somente após retomar estudos e leituras que conseguimos perceber que em um projeto interdisciplinar nem sempre os conteúdos das áreas estarão presentes com a mesma intensidade, pois dependendo do tema que será desenvolvido os conhecimentos de algumas áreas serão mais requisitados do que os de outras, de modo a responder satisfatoriamente o problema ou a questão tratada. Portanto, pensar a interdisciplinaridade na escola implica pensar a produção e reconstrução de conhecimento em processos de aprendizagem que, cada vez mais, precisam acompanhar as transformações da ciência contemporânea, adotando e simultaneamente apoiando as exigências interdisciplinares que hoje participam da construção de novos conhecimentos (THIESEN, 2008). Outra questão analisada se refere ao espaço que a escola oferece para esse tipo de trabalho. Antes de iniciarmos o trabalho, entramos em contato com diferentes professores para estabelecermos parcerias e espaços nas aulas, considerando a realização das ações em períodos regulares de aula, pois nem todas seriam contempladas nas aulas de Seminários Integrados. Poucos professores aceitaram o convite abrindo espaço em suas turmas, sendo que alguns participaram conosco das atividades, no entanto, a maioria não mostrou interesse argumentando que não conseguiriam vencer o conteúdo programático de suas disciplinas. Isso nos chamou a atenção do quanto, mesmo com uma proposta de reestruturação curricular que visa o trabalho por áreas, ao invés de disciplinas, como é a proposta do Ensino Médio Politécnico, a mudança de prática na escola ainda está distante de ser efetivado. 6. Considerações finais Com a vivência do desenvolvimento do projeto interdisciplinar na escola foi possível perceber a importância do PIBID para formação profissional dos futuros professores de diferentes cursos de licenciatura de Ciências e Matemática da UFPel. Mesmo assim, percebemos que a experiência com o projeto interdisciplinar, não apresentou o mesmo resultado para todos os bolsistas envolvidos neste projeto, pois nem todos conseguiram Anais do III Seminário Internacional de Educação em Ciências: 22 a 24 de outubro de 2014.

trabalhar na interface entre as disciplinas, buscando sempre marcar os conteúdos de sua área de conhecimentos. Por último, vimos que trabalhar em uma dimensão interdisciplinar não é uma tarefa fácil, pois este modelo exige que o todo seja compreendido para, posteriormente, realizar a compreensão das partes, uma lógica que contraria a formação em cursos de Ciências e Matemática. Sendo essa uma questão urgente a ser discutida em cursos de formação inicial de professores.

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