Interdisciplinaridades na Arquitetura

June 8, 2017 | Autor: Marta Jardim | Categoria: Bauhaus, Arquitetura, Lina Bo Bardi, Dança, Cenografia
Share Embed


Descrição do Produto

! Escola!de!Tecnologias!e!Arquitetura! Departamento!de!Arquitetura!e!Urbanismo! Mestrado!Integrado!em!Arquitetura! ! ! ! Trabalho!de!projeto!submetido!como!requisito!parcial!! para!obtenção!do!grau!de!Mestre!em!Arquitetura!

! ! !

Interdisciplinaridades!na!Arquitetura! ! Marta!Catarina!Pacheco!Jardim!

! ! Orientadora:! Professora!Doutora,!Paula!Cristina!André!dos!Ramos!Pinto!! Professora!Auxiliar,! ISCTEHIUL!

! ! Outubro!2015!

! ! ! ! ! ! ! ! ! ! INTERDISCIPLINARIDADES!NA!ARQUITETURA! ! Trabalho!teórico!submetido!como!requisito!parcial!para!obtenção!do!grau!de!Mestre!em! Arquitetura.! Marta!Catarina!Pacheco!Jardim! Orientadora:! Professora!Doutora!Paula!Cristina!André!dos!Ramos!Pinto,!! Professora!Auxiliar,! ISCTEHIUL!

!

!

Resumo! ! A!Vertente!Teórica!de!Projeto!Final!de!Arquitetura!procura!expor!a!importância!do!cruzamento! disciplinar! no! projeto! de! Arquitetura.! Este! iniciaHse! com! a! apresentação! do! conceito! Gesamtkunsterk+ (Arte!Total)!e!reúne!a!análise!de!um!conjunto!de!projetos!arquitectónicos!que!ilustram!este!cruzamento! disciplinar.!Os!três!casos!de!estudo!selecionados!foram:!o!Teatro+Total+de!Walter!Gropius,!que!teve!com! base!o!trabalho!realizado!por!Oskar!Schlemmer,!na!Oficina!de!Teatro;!o!auditório!do!Museu!de!Arte!de! São! Paulo! de! Lina! Bo! Bardi,! resultado! do! estudo! das! cenografias! Espaços+ Rítmicos! da! parceria! de! JacquesHDalcroze! e! Adolphe! Appia;! e! o! auditório! do! Arquipélago,+ Centro+ de+ Artes+ Contemporâneas+ de! João! Mendes! Ribeiro,! resultado! da! sua! experiência! no! campo! da! cenografia.! Estas! referências! arquitectónicas!procuram!o!desenho!de!um!espaço!consciente!e!informado!que!reflita!o!entendimento! do! Homem! do! seu! tempo.! Para! tal,! estas! recorreram! a! outros! campos! artísticos,! como! a! dança! matemática! de! Schlemmer,! a! cenografia! de! Appia! e! o! conjunto! de! experiências! cenográficas! de! João! Mendes! Ribeiro,! que! apesar! de! constituírem! trabalhos! independente,! resultam! todos! de! um! campo! experimental!para!a!arquitetura,!partilhando!a!mesma!géneses,!o!Homem.! Palavras=chave:!corpo,!espaço,!movimento,!arquitetura! !

!

!

Abstract! !

This! theoretical! work! of! Final! Architecture! Project! focuses! in! the! importance! of! the! interdisciplinary! in! Architecture.! It! starts! to! present! the! concept! of! Gesamtkunsterk+ (Total! Art)! and! includes! a! compilation! of! architecture’s! project,! which! illustrates! the! crossing! disciplinary.! The! three! selected!case!of!studies!are:!Total+Theatre!by!Walter!Gropius,!based!in!the!studies!of!Oskar!Schlemmer! in! the! Theatre’s! Workshop;! the! black! box! of! Art+ Museum+ of+ São+ Paulo! by! Lina! Bo! Bardi,! based! in! the! scenography,! Eurythmics+ Spaces! by! JacquesHDalcroze! and! Adolphe! Appia;! and! the! black! box! of! Arquipélago,+ Contemporary+ Arts+ Centre! by! João! Mendes! Ribeiro,! a! result! of! his! experience! in! scenography.!These!three!case!studies!are!focused!on!the!search!of!a!conscious!and!informed!drawing,! which!reflects!an!understanding!of!the!Man!of!his!time.!Therefore,!all!of!them!appeal!to!other!artistic! fields,!as!the!mathematic!dance!of!Oskar!Schlemmer,!the!Appia’s!scenography!and!the!compilation!of! João!Mendes!Ribeiro’s!scenography.!Although!they!all!constitute!an!independent!work,!they!also!are!an! experimental!field!for!Architecture,!sharing!the!same!genesis,!the!Man.! ! Keywords:!body,!space,!movement,!architecture!

! !

!

! Agradecimentos! ! !

Ao! arquiteto! João! Mendes! Ribeiro! pela! sua! disponibilidade! e! grande! inspiração! que! me! motivou!nos!momentos!mais!críticos!do!trabalho!e!me!fez!refletir!sobre!o!caminho!que!quero!seguir!na! arquitetura.! ! À!orientadora!Paula!André!por!toda!a!sua!paciência,!apoio,!dedicação,!motivação!e!alegria!no! trabalho,!indispensáveis!para!a!realização!deste!trabalho.! ! Ao!tutor,!arquiteto!José!Neves,!pela!sua!paciência!e!dedicação!em!exigir!sempre!mais!de!mim.! Durante!este!ano,!foi!a!peça!chave!no!desenvolvimento!do!meu!sentido!crítico!e!afirmação!das!minhas! convicções,!tanto!na!arquitetura!como!noutras!áreas.!! ! Ao!Arquiteto!Bernardo!Miranda!que!me!apoiou!e!motivou!inúmeras!vezes.!Muito!obrigada!pela! sua!disponibilidade,!paciência,!partilha!de!entusiasmo!pela!arquitetura!e!por!me!ter!feito!encontrar!as! minhas!grandes!referências!arquitectónicas.! ! Aos! meus! pais! por! me! apoiarem! sempre! durante! esta! caminhada,! sem! eles! nada! disto! era! possível.!Às!minhas!irmãs!e!prima!Beatriz,!principalmente!pela!paciência!e!motivação!indispensável!para! cada!passo!que!tenho!tomado!no!meu!percurso!académico.! ! À!minha!grande!amiga!Vera!Cantante!por!me!ter!acompanhado!neste!percurso!sempre!com!um! pensamento!positivo!e!boa!disposição.! ! A! outros! amigos! e! familiares! próximos! que! me! apoiaram! de! diversas! formas,! um! muito! obrigado.! !

!

!

!

Índice! i.!Resumo/Abstract! ii!!Agradecimentos! iii.!Introdução!

!

!

!

!

!

!

!

!

115H124!

!

!

!

!

!

!

!

125H129!!

!

!

!

!

!

129H137!!

1.2.!Influencia!da!pedagogia!na!América! !

!

!

!

!!!!!!!!137!

1.3!Exposição!da!Bauhaus!e!surgimento!da!oficina!de!Teatro!!

!

137H141!

1.!Bauhaus:!Arte!Total!

1.1.!Bauhaus!e!a!Arquitetura!

2.!Oskar!Schlemmer:!o!corpo!e!o!espaço!

!

!

!

!

!

143H144!

!

2.1.!O!Ballet!Triádico!

!

!

!

!

!

145H147!

!

2.2.!Análise!da!Figura!Humana!

!

!

!

!

!

147H155!

!

2.2.!Concepção!dos!figurinos!

!

!

!

!

!

156H157!

!

2.3.!A!concepção!do!espaço!teatral!!

!

!

!

!

157H158!

!

!

!

!

!!!!!!!159!

3.!Walter!Gropius:!Teatro!Total!

!

!

!

!

3.1.!Erwin!Piscator!e!a!proposta!do!Teatro!Total!

!

!

!

160H163!

!

3.2.!Primeira!Fase!

!

!

!

!

!

!

!!!!!!!!163!

!

3.3.!Segunda!Fase!

!

!

!

!

!

!

163H165!

!

3.4.!Terceira!Fase!!

!

!

!

!

!

!

!!!!!!!!165!

!

3.5.!Quarta!Fase! !

!

!

!

!

!

!

166H167!

4.!Lina!Bo!Bardi:!Museu!de!Arte!São!Paulo! !

!

!

!

!

168H169!

!

4.1.!Museu!de!Arte!São!Paulo!

!

!

171H175!

!

4.2.!Espaços!Rítmicos,!JacquesHDalcroze!e!Adolphe!Appia!

!

!

175H182!

5.!João!Mendes!Ribeiro:!Arquipélago,!Centro!de!Artes!Contemporâneas!

!

!!!!!!!!183!

!

5.1.!Cenografia:!Pedro!e!Inês!

!

!

!

!

!

184H189!

!

5.2.!Auditório!do!ACAC!

!

!

!

!

!

189H197+

Considerações!Finais:!Reflexões!a!prolongar!!

!

!

!

!

197H198!

!

!

!

!

vi.!Anexos:! !

FUC!e!enunciados!de!PFA! !

!

!

!

!

!

199H207!

!

Manifesto!da!Bauhaus!

!

!

!

!

!

208H209!

!

Entrevista!João!Mendes!Ribeiro!

!

!

!

!

!

209H218!

!

Índice!e!créditos!das!imagens!

!

!

!

!

!

!

219H224!

Referências!Bibliográficas! !

!

!

!

!

!

!

225H230!

!

!

INTRODUÇÃO* PFA,*tema,*metodologia,*estado*da*arte,*objetivos,*contribuição*do*estudo,*estrutura* !

PFA!

! O!Projeto!Final!de!Arquitetura,!para!a!obtenção!do!grau!de!Mestre,!no!ano!letivo!2014/2015,! do! ISCTEFIUL,! (Instituto! Superior! das! Ciências! do! Trabalho! e! Empresas! –! Instituto! Universitário! de! Lisboa),! é! composto! por! uma! vertente! prática! e! uma! vertente! teórica.! Para! a! vertente! prática,! foi! proposto! o! exercício! de! reabilitação! da! Escola! de! Música! do! Conservatório! Nacional,! o! antigo! convento!da!Nossa!Senhora!Providência,!chamado!dos!Caetanos,!no!Bairro!Alto,!em!Lisboa.![Anexo!1]! ! A!Escola!de!Música!do!Conservatório!Nacional!insereFse!num!dos!limites!da!área!histórica!da! cidade!de!Lisboa,!no!Bairro!Alto.!Restringida!pela!rigorosa!malha!apertada!ortogonal.!Originalmente! construído!em!1653,!o!edifício!funcionou!como!convento!masculino!da!Ordem!dos!Teatinos,!sendo!só! em!1837!convertido!ao!Conservatório.!Atualmente!estão!instaladas!as!Escolas!de!Música!e!de!Dança! do!Conservatório!Nacional,!ocupando!dois!edifícios,!o!antigo!convento!e!o!edifício!limitado!pela!Rua! João!Pereira!da!Rosa,!a!Oeste.!! ! FoiFnos! proposto! requalificar! os! dois! edifícios! do! conservatório! ocupandoFos! unicamente! com! o! programa! do! ensino! da! música,! mas! devido! ao! meu! grande! interesse! em! investigar! a! interdisciplinaridade! na! arquitetura,! procurei! manter! o! programa! relativo! ao! ensino! da! música! e! ao! ensino! da! dança.! Esta! intenção! não! foi! concretizada! devido! à! falta! de! espaço! para! as! vastas! áreas! exigidas! de! cada! programa.! Apesar! da! desintegração! do! programa! da! dança! no! Conservatório,! este! interesse! pelo! estudo! do! cruzamento! disciplinar! manteveFse,! sendo! transferido! para! a! Vertente! Teórica!do!Projeto!Final!de!Arquitetura.! !

Tema!

! No! contexto! da! Vertente! Teórica! do! Projeto! Final! de! Arquitetura,! o! tema! surge! como! já! referido,!de!um!interesse!pessoal!pela!relação!da!arquitetura!com!as!outras!formas!de!expressão!e!de! como! as! várias! disciplinas! se! cruzam! e! fundem.! Deste! modo,! será! importante! compreender! como!! dança!(uma!das!artes!que!melhor!se!relaciona!com!o!espaço,!principalmente!a!partir!do!século!XX)!e!a! arquitetura!se!relacionaram!através!da!análise!de!três!casos!de!estudo!descodificando!estas!relações! 115! !

interdisciplinares! como! matéria! de! projeto.! Os! três! casos! de! estudo! selecionados! foram:! O! Teatro! Total! de! Walter! Gropius;! o! auditório! do! Museu! de! São! Paulo! de! Lina! Bo! Bardi! e! o! auditório! do! Arquipélago,!Centro!de!Artes!Contemporâneas!de!João!Mendes!Ribeiro!e!Mais!é!Menos!Arquitectos.!! ! O! primeiro! caso! de! estudo! insereFse! na! Bauhaus,! uma! escola! alemã! surgida! em! 1919,! que! recorre!do!conceito!de!Arte!Total!para!o!desenho!do!seu!plano!de!estudos,!destacandoFse!com!o!seu! currículo! interdisciplinar.! Dentro! deste! enquadramento! é! analisado! o! trabalho! desenvolvido! na! Oficina!de!Teatro!por!Oskar!Schlemmer,!em!1921,!que!estuda!a!relação!do!corpo!em!movimento!no! espaço,!que!mais!tarde,!em!1926,!contribuiu!para!o!projeto!Teatro!Total!de!Walter!Gropius,!diretor!e! fundador!da!Bauhaus.!Já!o!projeto!do!auditório!do!Museu!de!Artes!de!São!Paulo!de!Lina!Bo!Bardi,!em! 1968,! teve! como! referência! o! trabalho! cenográfico! Espaços' Rítmicos,' da! colaboração! de! JacqueF Dalcroze,!músico,!e!Adolphe!Appia,!cenógrafo.!Por!último,!foi!analisado!o!auditório!de!Arquipélago,! Centro!de!Artes!Contemporâneas!dos!Açores,!de!João!Mendes!Ribeiro!e!Mais'é'Menos'Arquitectos,! em!2015,!onde!foi!tido!em!conta!a!experiência!no!campo!da!cenografia!de!João!Mendes!Ribeiro!entre! outras!referências!como!matéria!de!projeto.! !

!

116! !

Metodologia! ! Para! o! desenvolvimento! do! estudo,! foram! selecionadas! fontes! bibliográficas! primárias! e! secundárias.! A! consulta! da! documentação! foi! realizada! maioritariamente! na! Biblioteca! de! Arte! da! Fundação! Calouste! Gulbenkian,! na! Biblioteca! do! ISCTEFIUL! e! através! da! disponibilização! de! vários! documentos! da! orientadora,! Paula! André! e! do! arquiteto! João! Mendes! Ribeiro,! assim! como! a! sua! entrevista.! Foram! ainda! consultados! documentos! disponíveis! online,! no! website! oficial! da! Bauhaus,! no!website!do!Museu!NacionalFCentro!de!Arte!Reina!Sofia!e!no!website!de!Vitruvius.! ! Como! fontes! primárias,! elegeuFse! os! textos! de! Walter! Gropius,! Oskar! Schlemmer,! Lina! Bo! Bardi! e! de! João! Mendes! Ribeiro.! ! Assim! como! o! documento! de! Rainer! Wick,! La' Pedagogía' de' la' Bauhaus,' o! catálogo! da! exposição! no! Victoria! and! Albert! Museum,! intitulada! por! Modernism,' designing'a'new'world'1914B1939,'editado!por!Christopher!Wilk,!e!!La'Bauhaus'de'festa'1919B1933,' uma! edição! da! Fundação! “La! caixa”.! Foi! também! selecionado! o! trabalho! académico! de! Magdalena! Reches!Peressotti,!A'casa'a'la'vista,!onde!a!autora!expõe!os!estudos!realizados!por!Lina!Bo!Bardi!e!o! projeto!do!auditório!do!Museu!de!Arte!de!São!Paulo.! ! Com! o! intuito! de! uma! contextualização! e! estudo! da! vertente! da! cenografia! e! artes! performativas,! assisti! a! várias! conferências! nomeadamente:! Evolução' do' lugar' cénico,! com! o! arquiteto!e!diretor!técnico!Paulo!Prata!Ramos;!Arquitetura'e'dança,!com!o!arquiteto!e!cenógrafo!João! Mendes! Ribeiro;! O' Lugar' do' Discurso:' Arquitetura' vista' por' não' arquitetos,! António! Bolota,! Paulo! Catríca,!Álvaro!Domingues,!Manuel!Villaverde;!e!Habitar!a!Cena,!com!o!arquiteto!Nuno!Lacerda!Lopes.! Com! o! mesmo! intuito! participei! no! workshop! de! cenografia,! com! o! arquiteto! e! cenógrafo! Rui! Francisco.! Durante! o! segundo! semestre! contactei! de! uma! forma! mais! direta! com! a! dança! contemporânea! e! as! suas! instalações,! através! de! um! estágio! orientado! pelo! Arquiteto! e! Diretor! Técnico!Paulo!Prata!Ramos,!na!Culturgest.!Esta!fundação!acolhe!várias!atividades!culturais,!entre!as! quais! teatro,! música! e! dança! de! várias! companhias! contemporâneas! nacionais! e! internacionais.! Ao! longo! deste! estágio! acompanhei! muitas! das! montagens! dos! espetáculos! de! dança,! desenhei! a! implantação!dos!vários!cenários!nas!instalações!e!constatei!que!apesar!da!clássica!sala!à'italiana,!era! constantemente! exigido! diferentes! configurações! de! plateia! para! que! houvesse! uma! maior! aproximação!entre!dos!artistas!e!os!espetadores,!sendo!montadas!bancadas!em!cima!do!palco!ou!fora! do!próprio!auditório.!

117! !

! Todo!o!trabalho!será!escrito!!de!acordo!com!o!novo!acordo!ortográfico!da!língua!portuguesa,! respeitando! as! “Normas! de! apresentação! e! harmonização! gráfica! para! a! dissertação! ou! trabalho! de! projeto! de! mestrado! e! tese! de! doutoramento”,! estabelecidas! pelo! ISCTEFIUL.! Todas! as! referência! bibliográficas!seguem!a!“Norma!Portuguesa!405”.!! Estado!da!Arte! ! O! tema! interdisciplinar! na! arquitetura! tem! sido! abordado! por! um! vasto! conjunto! de! trabalhos!académicos.!Existem!diversas!investigações,!que!têm!vindo!a!ser!submetidas!como!provas! finais!para!obtenção!de!diferentes!graus!académicos.!Podemos!encontrar!ainda!diversas!monografias,! artigos,! exposições! e! catálogos! sobre! o! tema,! constituindo! o! estado! da! arte! a! nível! nacional! e! internacional! apresentado.! Para! a! elaboração! do! estado! da! arte! foram! selecionados! os! trabalhos! académicos!que!tratassem!da!evolução!do!espaço!cénico!resultado!de!uma!análise!direta!da!relação! corpo!e!espaço,!ou!que!abordassem!os!casos!de!estudo!escolhidos.!Para!este!fim!foram!consultadas! as!plataformas!online!de!reposição!de!trabalhos!académicos!do!campo!nacional,!espanhol,!europeu!e! internacional,!nomeadamente:!Repositório!Científico!de!Acesso!Aberto!de!Portugal,!Depository!Space! MIT,!Portal!europeu:!dartFeurope!e!teses!doutorais!em!Xarxa!de!Espanha.! A!nível!nacional,!foi!realizada!uma!tese!doutoral!do!arquiteto!João!Mendes!Ribeiro,!em!2008,! intitulada!por:!Arquitectura'e'Espaço'Cénico:'Um'percurso'biográfico.'Este!trabalho!dá!a!conhecer!os! paralelismos! entre! a! arquitetura! e! a! cenografia! através! de! um! levantamento! crítico! das! várias! cenografias,!entre!1991!e!2008,!que!melhor!identificam!e!expressam!a!diversidade!do!espaço!teatral! contemporâneo.!Durante!o!trabalho,!a!Bauhaus!é!referida!em!que!Schlemmer!apresenta!a!ideia!que!a! cena!perfeita!!tem!lugar!num!palco!móvel,!giratório,!com!elevadores,!etc.!que!dá!origem!ao!projeto! Teatro' Total! de! Walter! Gropius,! em! que! faz! também! uma! análise! do! projeto,! comparandoFo! com! outros! teatros! multifuncionais! construídos.! Os! trabalhos! de! Oskar! Schlemmer! são! referenciados! devido!aos!paralelismos!dos!trabalhos!analisados!na!tese.! ! No! dissertação! de! mestrado! intitulado! por:' Arquitectura' e' cenografia:' o' espaço' cénico' na' construção'de'um'ambiente,!realizada!por!Filipa!Duarte!Ferreira!da!Silva,!no!ano!de!2012,!é!realizada! uma! análise! do! trabalho! do! cenógrafo! Edward! GordonFGraig! e! do! arquiteto! Le! Corbusier,! afim! de! entender! como! estes! ambientes! influenciam! a! nossa! percepção! do! espaço.! A! autora! faz! ainda! uma! analise!às!relações!entre!o!observador!e!o!observado,!ator!e!espetador.! 118! !

!! Na! dissertação! de! mestrado,! Aquitectura' e' dança:' narrativas' espaciais:' o' caso' de' Pina' Bausch,! realizada! em! 2013,! Ana! Catarina! Sapina! Cavaco,! expõe! o! trabalho! de! Pina! Bausch,! criando! relações! entre! elementos! coreográficos! e! a! narrativa! urbana,! contrapondo! processos! de! criação! de! ambas!as!artes.!Durante!a!Dissertação,!Catarina!estuda!a!cidade!de!Lisboa!interpretandoFa!como!uma! narrativa!urbana!cheia!de!estímulos!subconscientes!e!corpóreos.! A!dissertação!de!mestrado,!Espaço,'Tempo'&'Luz:'Arquitectura,'arte'estática'que'abriga'uma'arte'em' movimento,'dança,'teatro,'música...o'que'define'o'limite?'Onde'está'o'limite'do'palco?,!realizada!em! 2012!por!Mafalda!de!Menezes!Vilhena!Girão,!procura!entender!como!os!elementos,!espaço!e!tempo! são! tratados! na! arquitetura,! cenografia! e! dança.! Para! tal,! elege! três! objetos! de! estudo:! Centro' de' Artes' Performativas' de' Fort' Wayne,' de! Louis! L.! Kahn;! o! teatro! Hellerau! de! Adolphe! Appia! e! a! performance!Events!de!Merce!Cunningham.!A!nível!arquitectónico,!faz!uma!análise!entre!o!artista!e!o! espetador,! contrapondo! o! seu! objeto! de! estudo,! Centro' de' Artes' Performativas' de' Fort' Wayne! de! Louis! Kahn,! com! os! projetos! de! Richard! Wagner.! No! trabalho! de! análise! do! teatro! de! Hellerau,! é! descrita!a!cooperação!de!Adolphe!Appia,!na!cenografia,!Émile!JacqueFDalcroze,!na!música,!e!Heinrich! Tessenow,!na!luz,!para!a!elaboração!de!uma!nova!arte!cénica!para!a!Ópera!de!Orfeu!e!Eurídice,!com! exercícios! Eurhythmics! ao! som! da! orquestra.! Na! análise! do! trabalho! de! Merce! Cunningham,! é! dado! relevo!à!ideia!de!desprendimento!do!artista!ao!palco,!defendendo!a!prática!em!outros!espaços,!como! museus,!estúdios,!ginásios,!permitindo!uma!grande!proximidade!com!o!público.! ! A! dissertação! de! mestrado,! Diálogos' entre' arquitectura' e' dança:' (re)pensar' o' processo,! de! Neuza! Isabel! da! Silva! Valadas,! no! ano! 2012,! a! autora! estuda! o! processo! de! criação! da! arquitetura! seguindo!as!três!variáveis!–!corpo,!objeto!construído!e!envolvente.!Procura!entender!esta!questão!do! habitar,!aspeto!que!diferencia!objeto!construído!da!arquitetura,!recorrendo!à!dança!contemporânea.! A! autora! analisa! os! processos! de! trabalho! de! Trisha! Brown,! Anne! Teresa! de! Keersmaeker! e! Pina! Bausch!para!entender!a!relação!do!corpo!no!espaço!e!do!corpo!dentro!desse!espaço.!O!estudo!tem! como!suporte!textos!do!professor!Manuel!Tainha!e!a!Pousada!de!Santa!Bárbara.!! ! Na!dissertação!de!mestrado,!O'edifício'teatral.'Resultado'edificado'da'relação'palcoBplateia,' realizado!no!ano!2001!por!Voltaire!P.!Danckwardt,!a!evolução!do!espaço!cénico!é!estudado!através!de! um! levantamento! da! evolução! da! tipologia! dos! teatros! do! mundo! ocidental! focandoFse! na! relação! palcoFaudiência.!

119! !

! A! dissertação! de! mestrado,! The' Bauhaus' (Per)Forms! ,! realizado! no! ano! de! 2002! por! Lisa! Flanagan,!é!exposto!os!princípios!estéticos!visuais!da!Bauhaus!e!da!Oficina!de!Teatro,!transpondo!a! sua! interpretação! numa! escrita! criativoFperformativa.! No! trabalho,! são! apresentadas! uma! série! de! linhas!cronológicas,!com!uma!análise!sociopolítica!que!Bauhaus!se!insere,!uma!contextualização!dos! movimentos!artísticos!e!os!momentos!mais!marcantes!na!existência!da!Bauhaus.!É!ainda!apresentada! uma!linha!cronológica!com!os!marcos!mais!importantes!da!carreira!de!Schlemmer.!Ainda!no!mesmo! capítulo!é!exposto!o!currículo!da!Bauhaus,!assim!como!a!sua!pedagogia.!São!mostradas!fotografias!a! ilustrar!a!forma!extravagante!de!como!se!apresentavam!as!alunas!da!Bauhaus.!Ao!longo!do!trabalho,! a!autora!aborda!as!várias!obras!de!Oskar!Schlemmer!enfatizando:!Building'Block!onde!é!apresentada! e! reinterpretada! pela! autora,! em! que! esta! descreve! toda! a! peça! e! elabora! diagramas! esquemáticos! das!posições!da!audiência!e!dos!artistas;!e!a!peça,!Slat'Dance,!interpretada!através!da!escrita!criativa,! criando!ainda!analogias!com!ilustrações.!! ! Na!dissertação!de!mestrado,!Choreographie'Assemblages:'An'Archaeology'of'Movement'and' Space,! realizado! por! ChiuFFain! Can! no! ano! 2003,! o! autor! expõe! a! importância! da! escrita! na! dança! como! sendo! um! meio! de! transpor! a! espacialidade! medida! pelo! corpo! e! os! movimentos! através! de! uma! matriz! empírica.! O! autor! oferece! uma! contextualização! histórica! do! ballet! e! analisa! a! notação! coreográfica! de! vários! coreógrafos! e! músicos! afim! de! perceber! o! espaço! organizado! do! movimento! transposto! para! o! papel.! O! trabalho! de! Oskar! Schlemmer! é! ainda! apresentado! subdividido! por! assuntos:! a! concepção! pictórica! do! corpo,! noção! filosófica! do! corpo;! a! concepção! do! corpo! em! movimento;!concepção!dos!figurinos;!por!fim!aborda!ainda!a!concepção!do!espaço!teatral,!onde!faz! uma!analise!de!várias!obras!coreográficas!e!a!sua!relação!com!o!espaço.! ! Na! tese! de! doutoramento! Materia' Activa:' la' Danza' como' campo' de' experimentación' para' una'arquitectura'de'raíz'fenomenológica!,!realizada!em!2012,!por!Maria!Auxiliadora!Gálvez!Pérez!,!a! autora! analisa! a! arquitetura! fenomenologicamente! através! da! dança.! É! estudado! fenómenos! que! incorporem! tempo,! espaço,! movimento! e! percepção! com! o! objetivo! de! alcançar! uma! certa! metodologia!projetual!que!integrem!conclusões!desta!relação!entre!a!arquitetura!e!a!dança.! ! A! tese! doutoral! Artes' Plásticas' y' danza:' propuesta' para' una' didática' interdisciplinar! de! Raquel! Pastor! Prada,! no! ano! 2012,! a! autora! relaciona! as! artes! plásticas! e! a! dança! num! contexto! histórico! de! vanguarda,! dando! um! maior! relevo! à! educação! artística! com! o! objetivo! último! de! elaborar! uma! proposta! curricular.! O! trabalho! é! iniciado! com! um! enquadramento! histórico! das! 120! !

correntes!artística,!entre!os!finais!do!século!XIX!e!o!século!XX,!onde!oferece!um!percurso!da!evolução! da!dança!moderna,!enfatizando!personagens!importantes!para!a!história.!Durante!o!trabalho,!há!uma! constante! ilustração! com! imagens,! em! que! é! dado! relevo! à! linguagem! iconográfica! presentes! nos! cenários,! artes! plásticas! e! dança.! No! trabalho! a! Bauhaus! é! abordada! a! nível! pedagógico! através! de! uma! analise,! é! ainda! apresentado! o! trabalho! de! Oskar! Schlemmer,! segundo! o! ponto! de! vista! do! docente! mais! multidisciplinar! da! escola.! O! trabalho! de! Schlemmer! desenvolvido! nas! oficinas! de! teatro,! é! contextualizado! segundo! os! seus! objetivos! e! influências! no! mundo! da! dança.! A! autora! faz! ainda!uma!breve!descrição!das!suas!obras!coreográficas,!dando!relevo!à!produção!dos!figurinos!e!aos! estudos! retirados! delas.! São! descritos! vários! trabalhos! relacionados! com! o! teatro! na! Bauhaus,! trabalhos! de! luz,! cenários,! propostas! para! novos! teatros,! tudo! seguindo! a! ideia! da! intervenção! mecânica.! ! Na!tese!de!doutoramento,!Teatro'Total:'la'arquitectura'teatral'de'la'vanguarda'europea'en' el' período' de' entre' guerras,! de! Juan! Ignácio! Prieto! López,! no! ano! 2013,! a! investigação! centraFse! no! conceito! de! multidisciplinaridade,! fazendo! uma! análise! de! obras! literárias,! desenhos! cenográficos,! métodos!de!direção!e!atualização!de!dispositivos!arquitectónicos,!enquadrando!cada!uma!das!obras! no!seu!contexto.!Os!seus!objetos!de!estudo!encontramFse!enquadrados!num!contexto!entre!guerras,! um!momento!em!que!o!teatro!se!converteu!num!ponto!de!encontro!entre!as!aspirações!políticas!e! estéticas!de!vários!movimentos.!O!autor!contrapõe!obras!da!Itália!fascista!de!Mussolini,!da!República! de!Weimar!e!a!União!Soviética,!que!apesar!de!possuírem!realidades!muito!diferentes,!a!investigação! do! teatro! supera! as! fronteiras! políticas! e! o! contexto! sociopolítico.! O! objetivo! final! deste! trabalho! consistiu!em!estabelecer!características!essenciais!da!tipologia!do!Teatro!Total,!através!do!encontro! de! características! comuns! em! vários! objetos! de! estudo.! Assim,! procede! à! análise! de! obras,! nomeadamente:! O! festival! de! Música! e! Teatro! de! Viena,! Internationale' Ausstellung' neuer' Theatertechnik' ,! de! 1924;! o! projeto! de! Walter! Gropius,! Teatro' Total,! na! Bauhaus,! na! República! de! Weimar,!em!1920;!o!Teatro!Proletario!Soviético;!e!ao!Convegno'Volta,!em!Roma,!1934.!No!capítulo! dedicado! ao! festival! de! Viena,! são! analisados! documentos! de! manifestos! teóricos,! desenhos! de! vestuários,! cenografia,! obras! teatrais! e! projetos! arquitectónicos,! uma! série! de! documentos! produzidos!em!busca!de!um!novo!espetáculo!teatral!e!conteúdo!arquitectónico.!Na!análise!do!Teatro! Total,! o! autor! faz! um! enquadramento! da! situação! política! da! Alemanha,! pós! a! Primeira! Guerra! Mundial;!o!surgimento!do!organismo!estatal!Deutscher!Werkbund!que!deu!origem!a!uma!reforma!no! sistema! educativo! refletindoFse! na! criação! da! Bauhaus.! Neste! capítulo! o! trabalho! de! Oskar!

121! !

Schlemmer,! na! oficina! de! teatro,! é! analisado,! apresentando! imagens! e! fotografias! muito! representativas.! Na! análise! do! projeto! Teatro! Total! de! Walter! Gropius,! são! reunidos! documentos! escritos! das! quatro! fases! do! projeto,! acompanhadas! por! ilustrações! e! fotografias! de! maquetes,! perspectivas,! esquemas,! desenhos! técnicos.! Na! análise! do! Teatro! Proletario! Soviético! é! apreendida! procura! da! integração! das! maquinas! no! teatro,! mas! sem! deixar! as! referências! clássicas! gregas! e! romanas.!Para!as!conclusões!finais,!o!autor!compara!os!projetos,!redesenhandoFos,!afim!de!extrair!os! princípios!comuns!da!investigação.! ! Foi! ainda! efetuado! um! pequeno! levantamento! da! abordagem! da! relação! entre! corpo! e! espaço!em!laboratórios!coreográficos,!no!campo!nacional:!temos!o!prestigiado!bailarino!e!coreógrafo! Rui!Horta,!no!Espaço'do'Tempo,'que!explorou!diversas!vezes!temas!inerentes!ao!espaço!e!arquitetura,' com!a!Vânia!Rovisco,!através!de!vários!trabalhos!resultado!de!uma!pesquisa!conjunta!sob!o!programa! de! Aktuelle' Architectur' der' Kultur,' em! Berlim.! No! campo! internacional,! em! Londres,! na! prestigiada! escola! de! arquitetura,! Architecture! Association,! o! cruzamento! das! disciplinas,! arquitetura! e! dança,! está! presente! no! curso! Interprofessional' Studio,! em! parceria! com! a! companhia! de! dança! New' Movement'Collective,!sob!a!orientação!do!arquiteto!Theo!Lorenz.! ! Os! trabalhos! enunciados! são! um! suporte! para! o! desenvolvimento! do! presente! trabalho,! contribuindo!nomeadamente!ao!acesso!a!diferentes!análises!da!relação!do!corpo!em!movimento!e!a! arquitetura.! Objetivos! ! O!presente!trabalho!desenvolveFse!no!sentido!de!apelar!a!um!olhar!crítico!sobre!o!processo! criativo!na!arquitetura.!Este!visa,!através!da!analise!dos!casos!ilustrativos,!apresentar!a!importância! do!cruzamento!disciplinar!para!o!exercício!de!projeto.!O!estudo!foca!a!importância!do!entendimento! de!um!corpo!que!se!movimenta,!matéria!referencial!da!arquitetura,!via!o!estudo!de!outras!disciplinas,! como!a!dança,!para!criar!relações!espaciais.!! !

!

122! !

Estrutura! ! Esta! dissertação! divideFse! em! cinco! capítulos.! O! primeiro! capítulo! apresenta! o! conceito! de! Arte!Total!adotada!no!plano!curricular!de!Bauhaus,!onde!é!retratado!o!exercício!das!diferentes!áreas! artísticas!ao!serviço!da!arquitetura.! ! No!segundo!capítulo,!o!estudo!focaFse!no!trabalho!de!Oskar!Schlemmer!na!Oficina!de!Teatro,! da! Bauhaus.! Um! trabalho! que! visa! o! estudo! do! espaço! utilizando! o! corpo! como! um! instrumento! referencial!e!abstrato.! ! No!terceiro!capítulo,!é!feita!uma!análise!do!projeto!Teatro!Total!de!Walter!Gropius,!diretor! da! Bauhaus.! Este! projeto! foi! realizado! tendo! em! conta! as! premissas! formuladas! no! trabalho! de! Schlemmer,! resultando! num! conjunto! de! soluções! para! um! auditório! contemporâneo.! Este! projeto,! além! de! não! ter! sido! construído,! constitui! uma! referencia! obrigatória! na! vanguarda! arquitectónica! teatral.! ! No! quarto! capítulo,! a! colaboração! é! dada! entre! o! músico,! JacquesFDalcroze,! o! cenógrafo,! Adolphe! Appia! que! resultou! num! conjunto! de! trabalhos! de! cenografia! denominadas! por! espaçosF rítmicos.!Por!sua!vez,!a!arquiteta!Lina!Bo!Bardi!faz!um!estudo!dessa!colaboração!e!projeta!o!auditório! de!Museu!de!Arte!Moderna!de!São!Paulo,!com!base!na!cenografia!do!3º!ato!de!Orfeu!e!Eurídice.! ! O! quinto! capítulo! é! apresentado! um! trabalho! cenográfico! ilustrativo,! Pedro' e' Inês,! do! arquiteto!João!Mendes!Ribeiro,!que!mostra!o!seu!entendimento!do!espaço!céncio!que!é!traduzido!no! auditório!do!projeto!Arquipélago!–!Centro!de!Artes!Contemporâneas!dos!Açores.!Este!projeto!resulta! de! uma! síntese! da! sua! experiencia! na! cenografia! assim! como! do! estudo! do! trabalho! de! Oskar! Schlemmer;!do!Teatro'Total!de!Walter!Gropius;!de!Festpielhaus'de'Hellerau,!um!trabalho!coletivo!de! Adolphe! Appia,! JacquesFDalcroze! e! Heinrich! Tessenow;! o! Teatro' de' Oficina! de! Lina! Bo! Bardi;! e! o! Teatro'Schaubühne!de!Enrik!Mendelson.! ! Por! último! são! apresentadas! as! considerações! finais! com! uma! reflexão! sobre! capítulos! anteriores,! traçando! pontos! convergentes! entre! os! casos! estudados.! A! partir! das! ideias! aqui! defendidas,!são!apontadas!ainda!algumas!críticas!sobre!os!processos!artísticos!na!arquitetura,!afim!de! abrir!espaço!para!futuras!reflexões.!

123! !

Contribuições! ! A! importância! do! contributo! do! trabalho! teórico! passa! por! diferentes! parâmetros.! O! contributo! principal! passa! por! conduzir! o! pensamento! crítico! sobre! um! processo! criativo! interdisciplinar.!Este!cruzamento!de!disciplinas!artísticas!resulta!num!maior!entendimento!do!homem! contemporâneo! contribuindo! numa! arquitetura! mais! consciente! das! necessidades! do! seu! tempo.! A! análise! dos! casos! de! estudo! selecionados,! para! além! de! oferecer! informação! sobre! os! mesmos,! apresenta! as! bases! projetuais! destes.! TratandoFse,! todos! eles,! de! projetos! de! espaços! cénicos! contemporâneos,! estes! contribuem! na! apresentação! de! um! conjunto! de! premissas! base! para! o! seu! desenho,!tendo!em!conta!a!relação!corpo/espaço,!integrando!a!componente!do!movimento.!! ! Este! olhar! crítico! sobre! o! cruzamento! disciplinar! artístico,! induzFnos! para! um! olhar! mais! atento!sobre!cada!campo!artístico,!para!o!propósito!do!trabalho!de!arte,!o!entendimento!do!Homem,! que!se!traduz!em!matéria!de!projeto!na!arquitetura.! ! !

124! !

1.#Bauhaus:$Arte$Total#

! Figura#1#Lyonel$Feininger:$A$catedral$do$Socialismo,$capa$do$manifesto$da$Bauhaus#

No$dia$1$de$Abril$de$1919,$Walter$Gropius$inaugura,$em$Weimar,$o$novo$centro$de$formação,$ 1 Staatliches$ Bauhaus$ de$ Weimar ,$ surgida$ da$ união$ das$ instituições$ Grossherzogliche$ Hochshule$ für$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 1!Criada$ em$ 1919$ por$ Walter$ Gropius$ e$ extinguida$ em$ 1933,$ a$ Bauhaus$ é$ considerada$ uma$ das$ mais$ importantes$

contribuições$para$o$desenho$moderno.$Os$ideais$base$da$Idade$Moderna$surgiram$após$a$Revolução$Industrial$em$ que$havia$a$vontade$de$unir$as$artes$e$a$indústria$e$integrar$a$arte$na$vida$quotidiana,$utilizando$a$arte$como$um$ instrumento$ para$ a$ regeneração$ cultural$ e$ social.$ Esta$ unificação$ pretendia,$ após$ a$ crise$ do$ trabalho$ artesanal,$ consequente$da$industrialização$em$1800,$juntar$a$arte$e$o$trabalho$artesanal,$procurando$um$equilíbrio$entre$as$ 125$

Bildende$ Kunst$ (Escola$ de$ Belas$ Artes)$ e$ Grossherzogliche$ Kunstgewerbeschule$ (Escola$ de$ Artes$ Aplicadas).$Gropius$publica$o$programa$pedagógico$detalhado$da$nova$instituição$e$um$manifesto$com$ as$ ideias$ fundamentais$ desta$ instituição,$ constituindo$ um$ livreto$ de$ quatro$ páginas.$ Como$ capa$ desse$ documento,$ é$ apresentada$ a$ fachada$ de$ uma$ Catedral$ gravada$ em$ madeira$ por$ Lyonel$ Feininger,$ intitulada$como$A"Catedral"do"Socialismo,$simbolizando$a$unidade$e$a$base$espiritual$das$várias$artes$em$ prol$ da$ Arquitetura.$ O$ próprio$ nome$ escolhido$ para$ a$ instituição,$ Bauhaus,$ faz$ alusão$ às$ catedrais$ medievais$ $ devido$ à$ aliança$ que$ existia$ entre$ os$ diferentes$ artesãos$ nas$ construções$ destes$ edifícios.$ 2 (manifesto$completo$em$Anexo$2)$$ O"objetivo"final"de"toda"a"atividade"artística"é"a"construção!(...)Arquitetos,"pintores"e" escultores"têm"de"ter"um"conhecimento"e"compreensão"total"e"sectorial"dos"diferentes"aspetos" da" construção." O" seu" trabalho" irá" se" encher" com" o" espírito" arquitectónico" que" se" perdeu" nas" artes"de"salão."" As"antigas"escolas"de"arte"não"foram"capazes"de"criar"esta"unidade"I"e"como"poderiam" se"a"arte"não"é"suscetível"ao"ensino."Temos"de"começar"novamente"com"a"oficina"(...)"Arquitetos," escultores," pintores," nós" todos" temos" de" voltar" ao" trabalho" de" ofício!" Não" existe" «a" arte" como" profissão»."Entre"artistas"e"artesãos"não"há"diferenças"substanciais."O"artista"é"uma"elevação"do" artesão."" (...)" Queiramos" conceber" e" criar" uma" arquitetura" do" futuro," que" una" todas" as" disciplinas,"arquitetura,"escultura"e"pintura,"elevada"a"partir"de"um"milhão"de"mãos"de"artesãos" 3 como"um"símbolo"claro"de"uma"nova"crença"que"está"para"vir. "

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! duas.$ Gropius$ acreditava$ que$ as$ máquinas$ devem$ estar$ ao$ serviço$ do$ artista$ e$ que$ é$ essencial$ uma$ colaboração$ entre$artistas,$comerciantes$e$técnicos.$Também$defende$a$aliança$entre$a$indústria$e$trabalho$artesanal,$aludindo$à$ existência$ de$ um$ estabelecimento$ educativo$ onde$ possa$ funcionar$ como$ várias$ oficinas.$ Construindo$ o$ início$ da$ formação$de$uma$pedagogia$que$fez$nascer,$três$anos$mais$tarde,$a$Bauhaus.$In$WINGLER,$Hans$M.$–$The#Bauhaus.$ Cambridge:$The$MIT$Press,$$1993.$P.$19$ 2!In"MOMA$[em$linha].$Nova$Iorque:$2015.$[consult.$2015h09h09].$Disponível$na$Internet:$ http://www.moma.org/collection/works/63072! 3 $“The"ultimate"goal"of"all"art"is"the"building!"(…)"Architects,"painters"and"sculptors"must"learn"a"new"way"of"seeing" and"understanding"the"composite"character"of"the"building,"both"as"a"totality"and"in"terms"of"its"parts."Their"work" will"then"reIimbue"itself"with"the"spirit"of"architecture,"which"it"lost"in"salon"art."The"art"schools"of"old"were"incapable" of"producing"this"unity"–"and"how"could"they,"for"art"may"not"be"taught."They"must"return"to"the"workshop." Architects,"sculptors,"painters"–"we"all"must"return"to"craftsmanship!"For"there"is"no"such"thing"as"“art"by"profession”." There"is"no"essential"difference"between"the"artist"and"the"artisan."The"artist"is"an"exalted"artisan.$Let"us"strive"for," conceive"and"create"the"new"building"of"the"future"that"will"unite"every"discipline,"architecture"and"sculpture"and" 126$

Neste$ manifesto,$ Gropius$ transmite$ as$ suas$ crenças$ num$ ensino$ prático$ baseado$ no$ conceito$ de$Arte$Total$(Gesamtkunstwerk),$um$conceito$que$surgiu$na$Alemanha,$em$1827,$através$do$filosofo$e$ escritor$ K.$ F.$ E.$ Trahndorff$ e$ mais$ tarde,$ em$ 1849,$ por$ Richard$ Wagner.$ Este$ defendia$ uma$ troca$ de$ conhecimentos$interdisciplinares,$refletindohse$em$questões$sociais$muito$presentes$na$Bauhaus.$ De$acordo$com$Wagner,$as$artes$perderam$muita$qualidade$desde$a$Antiga$Grécia,$quando$foi$ dada$a$separação$das$artes$com$a$queda$de$Atenas.$Wagner$acredita$numa$sociedade$perfeita$baseada$ na$perfeita$harmonia$entre$todo$o$trabalho$de$arte.$Usou$este$conceito$para$referir$a$sua$própria$obra:$$ precisamente" onde" uma" das" artes" começa," seu" limite" insuperável," a" outra" começa" imediatamente" a" funcionar" na" sua" esfera" de" ação" com" a" exatitude" mais" rigorosa," e" que," consequentemente," mediante" a" união" íntima" destas" duas" artes," é" possível" expressar" com" uma" 4

clarificação"mais"satisfatória"o"que"de"mais"nenhum"outro"modo"seria"possível. $

$ Este$conceito$defende$que$a$ separação$ dos$ campos$ artísticos$ só$ contribuem$ para$ a$ limitação$ do$artista,$que$para$atingir$uma$obra$de$arte$clara$e$completa$é$indispensável$a$unificação$e$cooperação$ entre$ as$ distintas$ formas$ de$ arte:$ música,$ palavra,$ cor,$ forma,$ ação$ e$ movimento,$ resultando$ numa$ fusão$ artística.$ Focandohse$ mais$ na$ ópera,$ revolucionouha,$ o$ que$ se$ fez$ refletir$ na$ arquitetura$ com$ o$ Teatro$de$Festspielhaus,$em$Bayreuth,$em$1876,$Alemanha.$Este$conceito$veio$influenciar$vários$artistas$ dos$séculos$XIX$e$XX,$entre$os$quais$Walter$Gropius,$na$Bauhaus.$ $ Num$panorama$Pós$Guerra$Mundial,$a$Alemanha$encontravahse$politicamente$numa$situação$ instável,$ deixando$ em$ aberto$ a$ renovação$ de$ artistas$ e$ políticos$ visionários$ com$ projetos$ para$ uma$ sociedade$ melhor,$ o$ que$ era$ iminente$ esta$ procura$ pela$ harmonização$ e$ unificação$ por$ via$ da$ arte,$ recorrendo$ao$conceito$de$Arte$Total.$ A$ Bauhaus$ contava$ com$ os$ docentes:$ Lyonel$ Feininger$ e$ Johannes$ Itten,$ pintores;$ Gerhard$ Marcks,$escultor;$em$1922$juntaramhse$Georg$Muche,$Oskar$Schlemmer,$Paul$Klee,$Lotharsr$Schreyer$e$ Wassily$Kandinsky.$O$ensino$era$administrado$em$oficinas$orientadas$por$um$artista$(mestre$da$forma)$e$ um$artesão$(mestre$artesão).$O$currículo$da$Bauhaus,$era$composto$por:$oficina$de$cerâmica,$têxtil,$$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! painting,"and"which"will"one"day"rise"heavenwards"from"the"million"hands"of"craftsmen"as"a"clear"symbol"of"a"new" belief"to"come.""In"Bauhaus#Online$[em$linha].$Alemanha$:$2015.$[consult.$2015h08h01].$Disponível$na$Internet:$ http://bauhaushonline.de/en/atlas/dashbauhaus/idee/manifest$ 4 $$PRADA,$Raquel$–$Artes# plásticas# y# danza:# propuesta# para# una# didáctica# interdisciplinar.$Madrid:$Faculdade$de$ educação$da$universidade$complutense$de$Madrid,$2012.$Tese$de$doutoramento.$P.64.$ 127$

$

"" Figura# 2# Originalmente$ Colégio$ de$ Artes$ Aplicadas,$ 1904,$ projetado$ por$ Henry$ van$ de$ Velde,$convertido$à$Escola$Bauhaus$de$Weimar#

" Figura# 3# Escola$ Bauhaus$ em$ BerlimhSteglitz$ projetado$por$Howard$Dearstyne,$em$1932#

" !

! Figura#4#Fotografia$de$Luci$Moholy,$projeto$de$Walter$Gropius,$Edifício$da$Bauhaus$em$Dessau,$1926# 128$

carpintaria,$oficina$de$metal,$oficina$de$tipografia,$oficina$de$publicidade,$fotografia,$oficina$de$vidro$e$ 5 pintura$mural,$escultura$em$madeira$e$pedra$(Oficina$de$artes$plásticas)$e$a$oficina$de$teatro. $Contando$ ainda$com$cursos$preliminares,$que$consistiam$na$formação$base$para$as$oficinas,$estes$não$se$tratavam$ apenas$ de$ uma$ formação$ artesanal$ mas$ principalmente$ do$ sentido$ geral$ sobre$ a$ criação.$ A$ criação$ destes$ cursos$ preliminares$ representou$ a$ mais$ importante$ contribuição$ curricular$ de$ Itten,$ em$ que$ apontava$a$importância$da$compreensão$do$sentido$profundo$da$forma.$ 1.1.#Bauhaus$e$a$Arquitetura$ A$arquitetura$está$presente$na$Bauhaus$de$diversas$formas,$através$dos$diretores,$todos$eles$ arquitetos,$ desde$ o$ fundador,$ Walter$ Gropius,$ autor$ do$ edifício$ da$ escola$ Dessau$ e$ do$ projeto$ Teatro$ Total$ que$ será$ analisado$ mais$ à$ frente;$ Hannes$ Meyer$ diretor$ em$ 1928$ e$ responsável$ pelo$ departamento$ de$ arquitetura$ na$ Bauhaus$ a$ partir$ de$ 1927;$ por$ fim$ o$ arquiteto$ Mies$ van$ der$ Rohe,$ diretor$em$1930.$$ Está$presente$ainda$de$uma$forma$mais$evidente$na$forma$semântica:$Bauh$$construção,$Haush$ Casa,$ que$ na$ primeira$ fase$ do$ manifesto$ de$ Gropius,$ em$ 1919,$ afirmava:$ “O$ objetivo$ último$ de$ toda$ 6 atividade$é$a$construção”;$mas$segundo$Gonçalo$Moniz ,$o$atelier$de$arquitetura$só$foi$criado$em$1928,$ devido$ a$ Gropius$ considerar$ que$ seria$ prematuro$ fazêhlo$ antes.$ No$ entanto,$ perante$ às$ exigências$ de$ alunos,$ foi$ criada$ uma$ comunidade$ de$ trabalhos$ de$ arquitetura$ com$ Gerog$ Muche,$ Josef$ Hartwig$ e$ Marcel$ Breuer$ antes$ dessa$ data.$ Nesta$ fase$ a$ arquitetura$ estava$ muito$ ligada$ ao$ neoplasticismo$ formalista,$ cubismo$ e$ construtivismo$ geométrico.$ Ainda$ em$ Weimar,$ os$ alunos$ participaram$ em$ projetos$de$Gropius$e$Adolf$Meyer$como$na$Casa$Sommerfeld$construída$em$Berlim,$em$1921,$em$que$ praticamente$ todas$ as$ oficinas$ colaboravam$ na$ construção$ e$ decoração.$ Em$ seguida,$ Gropius$ e$ Georg$ Muche$com$esta$cooperação$procuraram$desenvolver$casas$préhfabricadas,$resultando$no$projeto$«casa$ modelo»$(Haus$an$Horn),$em$1923,$terminada$para$a$exposição,$Exposição"da"Bauhaus,"de$Staatliches$ Bauhaus$ Weimar.$ Como$ já$ referido,$ o$ departamento$ da$ arquitetura$ oficial$ só$ foi$ instaurado$ em$ 1928$ com$ a$ contratação$ do$ arquiteto$ suíço$ Hannes$ Meyer.$ Meyer$ tinha$ uma$ abordagem$ diferente$ na$ arquitetura$em$relação$aos$projetos$anteriores,$este$era$contra$estilismos$que$não$fossem$de$encontro$$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 5

$In"Bauhaus#Online$[em$linha].$Alemanha$:$2015.$[consult.$2015h08h01].$Disponível$na$Internet:$http://bauhaush online.de/en/atlas/dashbauhaus/werkstaetten$ 6!MONIZ,$Gonçalo$–$O#ensino#moderno#da#arquitetura:#A#reforma#de#57#e#as#Escola#de#BelasFArtes#em#Portugal# (1931F69).$Coimbra:$Faculdade$de$Ciências$e$Tecnologias$da$Universidade$de$Coimbra,$2011.$Dissertação$de$ doutoramento$em$Arquitetura,$p.$148.! 129$

$

$

Figura#6$Walter$Gropius/Adolf$Meyer:$$ Fábrica$Fagus$Alfeld$del$Leine,$1911$

Figura#5#Fotografia$de$László$MoholyhNagy$$ Varandas$da$Bauhaus,$Dessau$$ $ $ $ $ $ $ $ ! ! ! ! ! #

Figura#7#Seigfried$(1926)$Giesenschlag$no$seu$ estúdio$na$residência$de$estudantes,$em$Dessau$ $

130$

$ com$ a$ função$ socialmente$ determinada.$ Meyer$ acreditava$ num$ ensino$ sistemático$ e$ científico,$ defendendo$que$o$novo$ensino$da$arquitetura$é$um$ensino$de$conhecimento$da$existência,$segundo$o$ próprio:$ “A" arquitetura" converteuIse" numa" ciência." Arquitetura" é" a" ciência" da" construção." O" construir" não" é" uma" questão" de" sentimento," mas" uma" ciência." Por" isso," construir" não" é" uma" ação" intuitiva." 7 Construir"é"um"ato"de"organização"bem"medida” .$Meyer$defende$que$acima$de$qualquer$estilismo$está$ o$valor$social,$a$construção$é$um$acontecimento$social$e$como$tal$deve$contribuir$para$uma$harmonia$e$ chegar$a$todos$por$meio$da$arte.$Uma$ideia$que$Lina$Bo$Bardi$também$defende$na$sua$arquitetura,$um$ assunto$que$será$tratado$mais$à$frente$durante$o$trabalho.$$ Com$ o$ intuito$ de$ ir$ ao$ encontro$ das$ necessidades$ da$ comunidade$ industrial,$ mais$ propriamente$ das$ famílias$ dos$ operários,$ Meyer$ propunha$ aos$ alunos$ uma$ análise$ de$ enquadramento$ social$ e$ um$ cuidadoso$ estudo$ do$ espaço$ vital$ das$ famílias$ tendo$ em$ conta$ os$ fatores$ biológicos,$ psicológicos$ e$ da$ organização$da$vida,$afim$de$desenvolver$uma$tipologia$habitacional$adequada.$Ao$nível$urbanístico,$foi$ realizada$ uma$ análise$ em$ Dessau,$ onde$ foram$ apontadas$ as$ deficiências$ dos$ planos$ classicistas$ na$ 8 «cidade$modelo». $ O$ensino$da$arquitetura$era$estruturado$de$forma$a$que$não$houvessem$mais$de$dez$matriculas$ por$ mestre,$ todos$ eles$ com$ uma$ preparação$ distinta.$ O$ currículo$ era$ composto$ por$ um$ primeiro$ semestre$ de$ curso$ preliminar$ e$ o$ segundo$ e$ terceiro$ nas$ oficinas.$ O$ curso$ dividiahse$ na$ construção,$ desenho$ técnico;$ interiores,$ carpintaria,$ oficina$ metalúrgica,$ pintura$ mural$ e$ têxtil.$ A$ partir$ do$ quarto$ semestre$ até$ o$ diploma,$ os$ alunos$ trabalhavam$ no$ projeto$ «oficina$ de$ desenho$ e$ prática$ da$ construção»,$em$que$estavam$previstas$aulas$magistradas$sobre$arquitetura,$construção,$betão$armado,$ física,$ termologia,$ instalação,$ pressuposição,$ concursos$ e$ normativas.$ Adicionalmente,$ organizavamhse$ 9 curso$especiais$de$urbanismo,$tráfico$e$gestão$económica. $$

$ !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 7

$“La"arquitectura"se"ha"convertido"en"una"ciência."Arquitecture"es"ciencia"de"la"construcción."El"construir"no"es"una" cuestión"de"sentimiento,"sino"de"la"ciencia."Por"ello,"construir"no"es"una"acción"de"composición"intuitiva."Construir"es" un"acto"de"organización"bien"meditada.”$In$WICK,$Rainer$h$La#pedagogía#de#la#Bauhaus.$Madrid:$Alianza$Editorial,$ 1998,$p.48.$ 8!WICK,$Rainer$h$La#pedagogía#de#la#Bauhaus.$Madrid:$Alianza$Editorial,$1998,$p.47.! 9 $MONIZ,$Gonçalo$–$O#ensino#moderno#da#arquitetura:#A#reforma#de#57#e#as#Escola#de#BelasFArtes#em#Portugal# (1931F69).$Coimbra:$Faculdade$de$Ciências$e$Tecnologias$da$Universidade$de$Coimbra,$2011.$Dissertação$de$ doutoramento$em$Arquitetura,$p.$561h$563.$$ 131$

" Figura#7$Eric$Consemuller$ou$T.$Lux$Feininger,$danças$da$$ Figura#8#Eric$Consemuller$(1927)$o$Grupo$de$Teatro$$ Bauhaus$

132$

Quando$Hannes$Meyer$foi$eleito$para$ser$diretor$da$escola,$o$ensino$da$arquitetura$tornouhse$o$ ponto$ fulcral$ da$ Bauhaus,$ em$ que$ foram$ contratados$ novos$ docentes$ para$ este$ intuito,$ tornandohse$ assim$ uma$ academia$ moderna$ de$ arquitetura$ com$ secções$ de$ desenho$ anexas.$ A$ contraposição$ das$ ideias$ originais$ da$ escola,$ de$ Gropius,$ levou$ à$ demissão$ de,$ Schlemmer,$ em$ 1929,$ e$ Klee,$ em$ 1931.$ Apesar$destas$perdas,$a$produção$e$economia$melhoraram$na$escola,$mas$por$razões$políticas$Meyer$foi$ obrigado$a$apresentar$a$sua$demissão,$em$1930.$ Após$a$demissão$de$Meyer,$Mies$van$der$Rohe$é$convidado$para$diretor$da$Bauhaus,$em$que$se$ permanece$ fiel$ à$ orientação$ do$ anterior$ diretor,$ com$ a$ diferença$ de$ relacionar$ a$ construção$ com$ a$ decoração,$ apresentado$ uma$ reforma$ do$ plano$ de$ estudos,$ com$ novas$ cadeiras$ e$ novos$ professores.$ Este$novo$plano$alcançou$uma$espécie$de$«formação$total»$desenvolvendo$desde$a$escala$do$mobiliário$ até$ à$ escala$ do$ urbanismo,$ garantindo$ uma$ abordagem$ não$ só$ industrial,$ mas$ também$ habitações$ sociais.$$Mas$não$houve$tempo$para$muitos$resultados,$visto$que$um$ano$depois$da$sua$eleição,$os$nazis$ encerram$a$escola,$em$1933.$ $ Outra$ grande$ influência$ da$ arquitetura$ na$ Bauhaus$ foi$ em$ Dessau$ com$ a$ construção$ da$ sua$ nova$sede,$com$projeto$de$Walter$Gropius.$Este$edifício$contribuiu$muito$para$a$imagem$internacional$ da$ escola,$ por$ se$ tratar$ de$ um$ projeto$ moderno,$ semelhante$ ao$ projeto$ anterior$ de$ Gropius,$ Fábrica" Fagus,"Alfred,"1911,$com$o$uso$de$betão$e$as$«cortinas$de$vidro»,$aludindo$aos$ateliers$industriais.$Ao$ contrário$ à$ hierarquia$ presente$ nas$ escolas$ tradicionais,$ este$ edifício$ distinguiahse$ por$ ser$ um$ projeto$ contínuo$ e$ percorrível,$ onde$ as$ diferentes$ atividades$ se$ iam$ sucedendo$ ao$ longo$ do$ percurso.$ O$ programa$ é$ composto$ por$ três$ blocos$ principais:$ os$ ateliers,$ as$ salas$ de$ aula$ e$ a$ residência$ de$ estudantes.$Estes$três$blocos$são$articulados$com$dois$elementos$de$ligação,$um$através$de$uma$ponte,$ onde$se$coloca$a$parte$administrativa$da$escola$e$o$atelier$privado$de$Gropius;$e$outro$ao$nível$do$solo,$ onde$se$situava$a$cantina,$a$aula$magna$e$o$teatro$que$por$sua$vez$estavam$relacionados$com$o$parque$ 10 que$envolvia$a$escola. $$Esta$construção$resultou$de$uma$colaboração$interdisciplinar$com$a$cohautoria$ dos$alunos$da$escola$encarregues$pelos$interiores,$acabamentos$e$decoração.$$ $

$

$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 10

$MONIZ,$Gonçalo$–$O#ensino#moderno#da#arquitetura:#A#reforma#de#57#e#as#Escola#de#BelasFArtes#em#Portugal# (1931F69).$Coimbra:$Faculdade$de$Ciências$e$Tecnologias$da$Universidade$de$Coimbra,$2011.$Dissertação$de$ doutoramento$em$Arquitetura,$p.$149.$ 133$

Segundo$Gonçalo$Moniz,$Gropius$consegue$assim$conquistar$uma$«obra$de$arte$total»,$onde$há$ uma$articulação$e$complementaridade$entre$o$programa,$currículo/edifício:$um$programa$pedagógico$e$ político,$fixado$no$manifesto$de$1919,$como$proposta$de$formação$de$artistas$modernos;$um$currículo$ circular$ e$ flexível$ de$ cursos$ e$ oficinas$ que$ configuram$ uma$ aprendizagem$ pragmática$ e$ democrática,$ através$da$experimentação.$Um$edifício$que$responde,$funcional$e$formalmente,$à$proposta$pedagógica$ da$Bauhaus,$constituindo$também$ele$próprio$um$produto$saído$das$oficinas$da$escola.$ Esta$correspondência$entre$o$edifício$e$o$espírito$da$Bauhaus,$perceptível$através$de$relatos$e$ fotografias,$ mostra$ a$ influência$ no$ quotidiano$ de$ alunos$ e$ professores$ da$ utilização$ do$ equipamento$ (figuras$5,7):$$ (Gropius)"teve"grande"sobressalto"ao"comprovar"que"os"seus"estudantes"utilizavam"o"terraço"e"a" fachada" dos" estúdios" para" exercícios" de" equilíbrio" e" de" escalagem." (...)" Que" bem" vivíamos" nos" 11 estúdios"e"que"divertidas"podiam"ser"as"conversas"de"varanda"para"varanda! " As"varandas"individuais"converteramIse"em"lugares"ideais"para"a"comunicação;"desde"aí"podiaIse" estabelecer"contacto"com"o"vizinho"chamandoIo"em"viva"voz,"(...)"Desde"daí"também"podíamos" ver" o" interior," o" estudo" dos" outros" através" das" paredes" de" vidro," a" não" ser" que" as" cortinas" estivessem" fechadas." A" «transparência" fazia" parte" da" vida" quotidiana" e" resultou" numa" 12 experiência"extraordinariamente"positiva» $

"

"

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 11

$Relato$de$Marianne$Brand:$“(Gropius)"tuvo"un"gran"sobressalto"al"comprovar"que"sus"estudiantes"utilizaban"la" azotea"y"la"fachada"de"los"estudios"para"ejercicios"de"equilíbrio"y"de"escalada."(...)¡Qué"bien"vivíamos"en"los"estudios" y"qué"divertidas"podían"ser"las"charlas"de"balcón"e"balcón!”"in"VALDIVIESO,$Mercedes$–$La#Bauhaus#de#fiestas#1919F 1933.#Barcelona:$Fundació$la$caixa,$2005.$P.$82$ 12 $“Los"balcones"individuales"se"convirtieron"en"lugares"ideales"para"la"comunicación;"desde"allí"uno"podía" estabelecer"contacto"con"su"vecino"llemándole"de"viva"voz,"(...)"Desde"allí"uno"también"podía"mirar"al"interior"del" estúdio"de"los"otros"através"de""las"paredes"de"cristal,"a"no"ser"que"las"cortinas"estuvieran"echadas."La" «transparencia"formaba"parte"de"la"vida"cotidiana"y"lo"resultó"ser"una"experiencia"extraordinariamente"positiva»”"in$ VALDIVIESO,$Mercedes$–$La#Bauhaus#de#fiestas#1919F1933.#Barcelona:$Fundació$la$caixa,$2005.$P.90$ 134$

A$ arquitetura$ moderna$ do$ edifício$ de$ Gropius$ proporciona$ esta$ grande$ liberdade$ aos$ alunos,$ de$ desenvolver$a$comunicação$entre$si,$um$valor$imprescindível$no$espírito$da$escola.$$ Por$ razões$ políticas,$ a$ escola$ esteve$ instalada$ em$ três$ cidades$ diferentes,$ Weimar,$ Dessau$ e$ Berlim.$ Em$ Weimar$ (figura$ 2),$ onde$ foi$ fundada,$ uma$ fase$ marcada$ pela$ procura$ e$ consolidação$ do$ plano$curricular$da$escola.$Em$Dessau$(figura$4),$$caracterizada$pela$já$solidificado$plano$curricular,$união$ das$artes$e$tecnologia,$atingindo$o$auge$da$sua$existência.$Nesta$fase,$alunos$e$professores$partilhavam$ a$função$de$orientação$das$oficinas.$A$cidade$de$Dessau$vivia$na$altura$uma$grande$aspiração$industrial,$ o$meio$eleito$para$desenvolver$os$princípios$da$Bauhaus.$A$arquitetura$do$próprio$edifício$projetado$por$ Gropius,$mostra$a$sua$integração$na$cidade$industrial,$contribuindo,$como$já$referido,$para$a$imagem$da$ Bauhaus.$ Durante$ esta$ fase,$ Bauhaus$ já$ era$ reconhecida$ internacionalmente$ com$ o$ nome$ BauhausI" 13 Escola" de" Design" (Bauhaus$ –$ Hochschule$ für$ Gestaltung) ,$ aludindo$ ao$ desenho$ de$ produção.$ Nomes$$ como:$ Gerhard$ Marcks,$ Lyonel$ Feininger,$ Wassily$ Kandinsky,$ Paul$ Klee,$ László$ MoholyhNagy,$ Georg$ Muche$e$Oskar$Schlemmer,$famosos$anteriormente$pelo$seu$trabalho,$mudaramhse$com$a$escola$para$ Dessau,$ o$ que$ fez$ aumentar$ a$ reputação$ da$ escola.$ Foi$ igualmente$ nesta$ fase$ em$ que$ os$ alunos$ adaptaram$o$seu$vestuário$ao$estilo$extremamente$moderno:$os$homens$com$fatos$justos$e$as$mulheres$ com$cortes$de$cabelo$curto,$e$calças$ou$saias$pelo$joelho.$No$entanto,$este$lado$extravagante$passou$a$ ser$ mal$ visto$ pela$ classe$ média$ de$ Dessau$ que$ devido$ a$ problemas$ económicos$ provocados$ pela$ crise$ económica$ global,$ fez$ com$ que$ Gropius$ lutasse$ outravez$ pela$ sobrevivência$ da$ escola.$ Um$ ano$ mais$ tarde,$ Gropius$ cede$ o$ seu$ lugar$ na$ Bauhaus$ a$ Hannes$ Meyer,$ anterior$ professor$ da$ disciplina$ de$ arquitetura$na$escola,$e$dedicahse$a$tempo$inteiro$à$arquitetura.$Meyer,$com$a$colaboração$de$alunos,$ constrói$a$Federal$School$of$the$German$Trade$Unions$(ADGB),$em$Bernau;$e$Laubenganghäuser$(Casas$ de$balcões)$(figura$10)$,$em$Dessau,$onde$é$transposta$a$forma$de$como$os$alunos$viviam$na$escola.$$ Três$anos$após$a$tomada$de$posse$da$direção$da$escola,$em$1930,$Meyer$é$despedido$devido$à$ sua$ simpatia$ pelo$ partido$ socialista.$ A$ escola$ mudahse$ para$ Berlim,$ ocupando$ as$ instalações$ de$ uma$ 14 antiga$fábrica$de$telefones,$um$edifício$de$Howard$Dearstyne ,$sob$a$orientação$de$Ludwing$Mies$van$$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 13

$In"Bauhaus#Online$[em$linha].$Alemanha$:$2015.$[consult.$2015h09h01].$Disponível$na$Internet:$http://bauhaush online.de/en/atlas/dashbauhaus/idee/bauhaushdessau$ 14 $Howard$Dearstyne,$estudante$de$Mies$van$der$Rohe$em$Dessau$e$Berlim,$que$posteriormente$tornahse$professor$ de$arquitetura$na$escola$Norte$americana,$Black$Mountain$College.$In"Projeto#Black#Mountain#College$[em$linha].$ Nova$Iorque:$2015.$[consult.$2015h09h01].$Disponível$na$Internet:$ http://www.blackmountaincollegeproject.org/Biographies/DEARSTYNEhoward/DEARSTYNEhoward.htm$ 135$

! ! !

! Figura#10#Oskar$Schlemmer:$plano$geral$do$trabalho$mural$nas$oficinas,$Weimar$1923$

$

$

136$

der$Rohe,$que$orientou$a$escola$mais$para$o$ensino$da$arquitetura,$contrastando$com$os$princípios$de$ Gropius.$Mas,$uma$vez$mais,$por$questões$políticas,$a$escola$fechou$portas$um$ano$depois,$no$dia$20$de$ Julho$de$1933.$ 1.2#Influência$da$pedagogia$da$Bauhaus$na$América$ $ No$ mesmo$ ano,$ em$ 1933,$ os$ princípios$ originais$ da$ Bauhaus$ são$ levados$ por$ Josef$ Albers,$ professor$de$cursos$preliminares$na$Bauhaus,$para$a$escola$Black$Moutain$College,$fundada$por$John$A.$ Rice,$ na$ Carolina$ do$ Norte,$ América.$ Pela$ escola$ passaram:$ Josef$ e$ Anni$ Albers,$ John$ Cage,$ Merce$ Cunningham,$Walter$Gropius,$Jacob$Lawrence,$Paul$Goodman,$Alfred$Kazin,$Robert$Motherwell,$Elaine$e$ Willem$ de$ Kooning,$ mais$ tarde$ em$ 1940,$ William$ Carlos$ Williams$ e$ Albert$ Einstein.$ Um$ dos$ trabalhos$ mais$ interdisciplinares$ desenvolvidos$ nesta$ escola$ aconteceu$ em$ 1952,$ com$ a$ colaboração$ de$ John$ 15 Cage,$músico,$Robert$Rauschenberg,$artista$plástico$e$Merce$Cunningham,$bailarino$e$coreógrafo. $ 1.3$Exposição$da$Bauhaus$e$surgimento$da$oficina$de$Teatro$ Os$trabalhos$desenvolvidos$na$Bauhaus$foram$expostos$ao$público$pela$primeira$vez$em$1923,$ na$ famosa$ Exposição" da" Bauhaus,$ destacando$ pela$ primeira$ vez$ uma$ panorâmica$ sobre$ a$ arquitetura$ moderna.$Foram$apresentados$vários$trabalhos$desenvolvidos$pela$escola,$dos$quais$os$murais$de$Joost$ Schmidt,$Herbert$Bayer,$destacandohse$os$murais$de$Oskar$Schlemmer,$por$se$tratar$de$uma$fusão$entre$ várias$artes.$Schlemmer$deixa$escrito$no$seu$diário:$ A"figura"mural"é"eleita"por"ser"a"que,"em"contraposição"à"existência"peculiar"da"lona"da"tela"e"em" contraposição" ao" perigo" da" arte" pela" arte," tem" uma" grande" relação" com" o" espaço" e" com" a" arquitetura"esta,"deve"encontrar"um"lugar"e"uma"solução"dentro"da"Bauhaus."(...)""A"justo"meio" 16 garantir"a"síntese"tão"desejada"da"arquitetura,"pintura"e"plástica "

Os$murais$de$Oskar$Schlemmer,$no$edifício$das$oficinas,$constituem$uma$grande$demonstração$ de$síntese$unitária$entre$a$arquitetura,$escultura$e$pintura:$(figura$10)$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 15

"In"The#Art#Story,#Modern#Art#Insight$[em$linha].$Nova$Iorque:$2015.$[consult.$2015h09h01].$Disponível$na$Internet:$$ http://www.theartstory.org/schoolhblackhmountainhcollege.htm$ 16 $“$La$figura$mural,$loada$por$ser$la$que,$en$contraposición$al$existência$peculiar$del$lienzo$de$caballete$y$en$ contraposición$el$peligro$del$arte$por$el$arte,$tiene$una$gran$relación$con$el$espacio$y$con$la$arquitectura,$debe$ encontrar$un$lugar$y$una$solución$dentro$de$la$Bauhaus.$(...)$El$justo$médio$garantiza$la$síntese$tan$deseada$de$ arquitectura,$pintura$e$plástica”$in"SCHLEMMER,$Oskar$–$Escritos#sobre#arte:#pintura,#teatro,#danza.#Cartas#y# diários#de#Oskar#Schlemmer.#Barcelona:$Ediciones$Paidós,$1987.$P.$63" 137$

Um$dos$grandes$destaques$na$pedagogia$da$Bauhaus$foi$a$implementação$da$Oficina$de$Teatro,$ em$1921,$que$levava$mais$além$o$conceito$de$Arte$Total.$Inicialmente$orientada$por$Lothar$Schreyer,$é$ desenvolvido$um$trabalho$focado$na$representação,$dando$grande$importância$à$palavra,$à$música$e$ao$ movimento.$ Mas$ devido$ às$ inúmeras$ críticas,$ um$ pouco$ antes$ da$ exposição$ da$ Bauhaus$ de$ 1923,$ Schreyer$apresenta$a$sua$demissão,$abandonando$a$escola.$Um$ano$antes$da$sua$demissão,$Gropius$já$ procurava$ um$ novo$ rumo$ para$ a$ Oficina$ de$ Teatro,$ baseado$ na$ integração$ de$ todas$ as$ artes$ e$ ofícios$ para$a$criação$de$uma$nova$arquitetura$teatral$que$respondesse$às$características$do$mundo$moderno.$ Num$panfleto$informativo,$Gropius$escreve$que$pretende$o$estudo$do$espaço$e$dos$meios$disponíveis$ na$cena$para$uma$reformulação,$com$o$objetivo$de$alcançar$um$espetáculo$dinâmico$através$do$uso$da$ cor,$luz,$movimento$e$som:$ O"âmbito"do"nosso"trabalho"compreende"todos"os"sectores"da"criação"artística,"sob"a"direção"da" arquitetura."Também"trabalhamos"no"desenrolar"do"teatro.(...)"Um"espaço"em"movimento,"vivo," artístico,"só"pode"ser"criado"por"aquele"que"sabem"e"cuja"habilidade"técnica"obedecem"a"todas" as" leis" naturais" da" estática," mecânica," da" ótica" e" espiritual" que" levam" dentro" de" si." (...)" O" elemento" fundamental" da" nossa" cenografia" é" a" aplicação" deliberada" das" leis" da" mecânica," da" 17 ótica"e"da"acústica. "

Neste$ registo$ é$ perceptível$ o$ interesse$ e$ a$ procura$ de$ Gropius$ por$ um$ novo$ espaço$ arquitectónico,$um$espaço$que$resultasse$da$união$das$artes$e$que$criasse$uma$nova$relação$entre$palco$ e$audiência,$oferecendo$uma$maior$tridimensionalidade$ao$espaço$de$cena.$ Shlemmer$ é$ assim$ convidado$ a$ orientar$ a$ Oficina$ de$ Teatro,$ depois$ da$ demissão$ de$ Lothar,$ deixando$registado$numa$carta$a$Otto$Meyer:$ O"teatro"da"Bauhaus,"dirigida"desde"sempre"por"Lothar"Schreyer"fracassou,"sendo"criticado"tanto" por" professores" como" por" alunos." Ato" seguido" ao" abandono" de" Schreyer" da" Bauhaus." A" consequência" disto" é" que" agora" recorreram" a" mim" como" candidato" à" sua" sucessão" e," como"

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 17

$“El"âmbito"de"nuestro"trabajo"comprende"todos"los"sectores"de"la"creación"artística,"bajo"la"dirección"de"la" arquitectura."También"trabajamos"en"el"desarollo"del"teatro."(...)"Un"espacio"en"movimiento,"vivo,"artístico"sólo" pueden"crearlo"aquellos"cuyo"saber"y"cuya"habilidad"técnica"obedezcan"a"todas"las"leyes"naturales"de"la"estática,"de" la"mecánica,"de"la"óptica"y"de"la"acústica,"y"que"en"el"dominio"de"todas"estas"disciplinas"encuentren"el"médio"idóneo" para"dar"vida"y"cuerpo"a"la"ideia"espiritual"que"llevan"dentro"de"si."(...)"El"elemento"fundamental"de"nuestra" escenografia"es"la"aplicación"deliberada"de"las"leyes"de"la"mecánica,"de"la"óptica"y"de"la"acústica.”"In"GROPIUS,$ Walter$–$Borrador#de#panfleto#informativo#del#teatro#de#la#Bauhaus”#,$em$WINGLER,$Hans$M.$–$La#Bauhaus.# Weimar,#Dessau,#Berlín.#1919F1933. Barcelona:$Gustavo$Gili$,$1962.$P.75h76$ 138$

pessoa"creditada"em"repetidas"ocasiões,"encarregaramIme"da"exposição"do"próximo"verão"e"do" 18 âmbito"teatral. "

Schlemmer$ mostrava$ ser$ a$ pessoa$ mais$ adequada$ para$ cumprir$ os$ objetivos$ que$ Gropius$ tinha$ estabelecido$para$a$reforma$da$Oficina$de$Teatro.$Pois$um$ano$antes,$no$dia$30$de$Setembro$de$1922,$ Schlemmer$ estreou$ a$ sua$ celebre$ peça,$ o" Ballet" Triádico,$ em$ Württembergische$ Landestheater$ de$ Stuttgart,$uma$peça$que$será$aprofundada$mais$à$frente$no$trabalho.$A$sua$estreia$foi$um$êxito,$grande$ parte$devido$aos$figurinos$e$à$sua$relação$com$a$cena.$Schlemmer$considerava$o$corpo$humano$como$ um$elemento$dinâmico$de$exploração$espacial,$num$âmbito$físico$e$psíquico,$um$ponto$de$vista$muito$ interessante$para$o$plano$de$estudos$da$Oficina$de$Teatro$de$Gropius:$ A" história" do" teatro" não" é" mais" que" uma" mudança" na" silhueta" do" ser" humano." Nessa" transformação,"o"ser"humano,"suporte"de"atos"tanto"corpóreos"como"psíquicológicos,"passa"da" ingenuidade" à" reflexão," da" naturalidade," à" execução." A" forma" e" cor," recursos" do" pintor" e" do" artista"plástico"somamIse"a"essa"transformação"da"silhueta,"que"tem"lugar"dentro"da"estrutura" construtiva"do"espaço"e"da"arquiteturaIobra"do"arquiteto."Todo"isto"determina"o"papel"do"artista" 19 plástico,"que"deve"proceder"a"uma"síntese"destes"elementos"dentro"do"espaço"cénico. "

Conhecendo$a$evolução$da$dança$que$esteve$muito$ligada$à$questão$do$vestuário$que$evoluiu$ 20 no$sentido$de$libertar$os$gestos,$muito$evidente$na$dança$moderna$com$Isadora$Duncan $(figura$11),$é$ curiosa$a$forma$como$Schlemmer$contrapõe$o$sentido$dessa$evolução,$tirando$partido$dos$$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 18

$“El"teatro"de"la"Bauhaus,"dirigida"desde"siempre"por"Lothar"Schreyer,"ha"fracassado"estrepitosamente,"siendo" criticado"tanto"por"professores"como"por"alunos."Acto"seguido"Schreyer"abandona"la"Bauhaus."La"consequência"de" ello"es"que"han"encargado"que"para"la"exprosición"del"próximo"verano"haga"esto"y"aquello"en"el"ámbito"teatral.”"In" SCHLEMMER,$Oskar$–Carta#a#Otto#Meyer,#weimar,#30#de#Março#de#1923,$em$SCHLEMMER,$Oskar$–$Escritos#sobre# arte:#pintura,#teatro,#danza.#Cartas#y#diários#de#Oskar#Schlemmer.#Barcelona:$Ediciones$Paidós,$1987,$p.$65.$ 19 $“La"historia"del"teatro"no"es"sino"la"del"cambio"de"sillueta"del"ser"humano."En"esa"transformación,"el"ser"humano," soporte"de"hechos"tanto"corporales"como"psicológicos,"passa"de"la"ingenuidad"a"la"reflexión,"de"la"naturalidade"a"la" afectación."La"forma"y"el"color,"recursos"del"pintor"y"del"artista"plástico"se"suman"a"esa"trsnaformación"de"la"sillueta," que"tiene"lugar"dentro"de"la"estrutura"constructiva"del"espacio"y"de"la"arquitecturaIobra"del"arquitecto."Todo"ello" determina"el"papel"del"artista"plástico,"que"debe"proceder"a"una"síntesis"de"estos"elementos"dentro"del"espacio" escénico.”$In"SCHLEMMER,$Oskar$–$Ser#humano#y#representación$em$MIGÓN,$Juan$–$Investigações#sobre#el#espacio# escénico,$p.145h158,$citado$por$PRIETO$LÓPEZ,$Juan$Ignacio$–$Teatro#Total:#la#arquitectura#teatral#de#la#vanguarda# europea#en#el#período#de#entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$Superior$de$Arquitectura,$2013.$P.$141$ 20 $Isadora$Duncan$(1877h1927)$Considerada$mãe$da$dança$moderna.$in"FARO,$Antonio$José$h$Pequena#História#da# dança.$Rio$de$Janeiro:$Jorge$Zahar$Editor,$1987,$p.81$ 139$

$ Figura#11#Isadora$Duncan$

restringimentos$dos$figurinos$para$as$sua$criações$coreográficas$e$estudos$do$corpo$humano.$A$sua$arte$ pictórica$procura$um$tipo$de$standard$do$corpo$humano,$transpostas$em$representações$humanas$de$ tipo$estatuários,$hieráticos,$que$nos$transportam$para$a$arte$clássica$grega,$uma$referência$comum$no$ surgimento$da$dança$moderna,$com$Isadora$Duncan.$Schlemmer$regista$no$seu$diário$no$dia$22$de$Maio$ de$1925:$“A"plástica"me"fascina"uma"e"outra"vez,"quando"viajo"com"ela"mesma"em"forma"de"figuras."Os" 21 gregos"primitivos"(sempre"e"para"sempre!).”$ $$ $ Depois$da$apresentação$do$Ballet$Triádico,$foram$desenvolvidas$as$Danças$da$Bauhaus,$em$que$ estudava$ o$ espaço$ através$ da$ expansão$ biomecânica$ do$ corpo,$ numa$ dança$ abstrata,$ explorando$ materiais,$ cor,$ luz,$ forma,$ música,$ espaço$ e$ movimento.$ Assuntos$ que$ serão$ analisados$ no$ próximo$ capítulo.$ O$ trabalho$ desenvolvido$ por$ Oskar$ Schlemmer$ no$ teatro$ da$ Bauhaus$ será$ apresentado$ partindo$ da$ sua$ biografia,$ seguido$ da$ análise$ da$ sua$ percepção$ da$ figura$ humana$ em$ movimento,$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 21

$“La"plástica"me"fascina"una"y"otra"vez,"cuando"tropiezo"con"ella"incluso"en"forma"de"figuras."Los"griegos"primitivos" (¡sempre"y"para"siempre!).”"in"SCHLEMMER,$Oskar$–$Escritos#sobre#arte:#pintura,#teatro,#danza.#Cartas#y#diários#de# Oskar#Schlemmer.#Barcelona:$Ediciones$Paidós,$1987,$p.$77.$ 140$

passando$ para$ a$ concepção$ dos$ figurinos$ que$ refletem$ o$ estudo$ anterior$ e$ por$ fim,$ a$ concepção$ do$ espaço$teatral,$objetivo$último$do$seu$trabalho.$ $

$

141$

$

$ Figura#12#Oskar$Schlemmer,$A"escada"de"Bauhaus.$1932,$óleo$sobre$lona$grossa,$161x113cm#

142$

2.#Oskar#Schlemmer:#o#corpo#e#o#espaço# $ $ Oskar$Schlemmer$(1888h1943)$estudou$na$Academia$de$Artes$Plásticas$de$Stuttgart,$trabalhou$ de$forma$independente$em$Berlim$como$pintor,$mostrando$o$seu$interesse$pela$simplificação$da$forma$ e$ordenamento$rigorosamente$cubista.$Em$1912,$inicia$os$seus$primeiros$trabalhos$e$apontamentos$de$ dança.$Ainda$nesta$data$abre$juntamente$com$o$seu$irmão$uma$galeria$de$arte,$“Galeria$de$Arte$da$rua$ Neckar”,$ onde$ são$ expostos$ pela$ primeira$ vez$ em$ Stuttgart,$ pinturas$ modernas.$ Em$ 1915,$ elabora$ as$ suas$obras$mais$importantes$na$pintura,$revelando$uma$enorme$tendência$para$o$abstracionismo.$Um$ ano$mais$tarde$cumpre$serviço$militar$na$secção$de$topografia$e$já$no$outono$desse$ano$realiza$a$sua$ primeira$exposição.$No$fim$de$1916,$dá$início$à$preparação$da$sua$peça$Ballet"Triádico$para$a$apresentar$ em$1922,$em$Württembergische$Landestheater,$em$Stuttgart.$Assistindo$ao$fim$da$guerra$e$à$Revolução$ em$ Berlim,$ em$ 1918,$ Schlemmer$ regressa$ do$ serviço$ militar$ licenciado$ e$ ingressa$ na$ Academia$ de$ Stuttgart$como$professor$assistente.$$Em$1919,$Schlemmer$trabalha$nos$seus$primeiros$ballets$e$funda$o$ Círculo$de$Belas$Artes$de$Wurtemberg,$uma$associação$de$pintores$simpatizantes$do$modernismo.$Em$ 1920,$ingressa$na$Bauhaus,$a$convite$de$Walter$Gropius,$como$professor$de$Arte,$Mestre"da"Forma,$em$ 22 Weimar. $Quatro$ anos$ depois$ tornouhse$ oficialmente$ encarregue$ pela$ Oficina$ de$ Teatro.$ O$ tema$ do$ homem" no" espaço$ foi$ um$ assunto$ constante$ no$ seu$ trabalho$ tanto$ na$ pintura,$ escultura,$ como$ por$ último$e$com$maior$intensidade,$nos$seus$ballets,$nas$Oficinas$de$Teatro$da$Bauhaus.$No$seu$trabalho$é$ muito$ visível$ a$ sua$ interpretação$ do$ espaço,$ não$ só$ apreendida,$ pelo$ ator,$ através$ da$ visão,$ mas$ também$pelo$corpo,$como$bailarino$e$ator.$$

$

$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 22

$SCHLEMMER,$Oskar$–$Escritos#sobre#arte:pintura,#teatro,#danza#Cartas#y#diários.#Barcelona:$Ediciones$Paidós.$ 1987,$p.7h8$ 143$

! Figura#13#Poster:$Das"Triadische"Ballet$(Ballet$Triádico)$1924$Litografia,$colorido$com$tempera,$montado$num$cartão$ 81x56cm$Bühnen$Archiv$Oskar$Schlemmer,$collection$U.$Jaina$Schlemmer

# Figura#14#Os$figurinos$do$Ballet"Triádico$na$revista$Wieder"Metropol,$MetropohTheater,$Berlim,$1926,$fotografia$de$ Ernst$Schneider,$Bühnen$Archiv$Oskar$Schlemmer$

144$

2.1.$O$Ballet$Triádico$ O$Ballet$Triádico$é$o$trabalho$mais$conhecido$e$reconhecido$de$Oskar$Schlemmer.$A$peça$junta$ os$ seus$ colegas,$ Albert$ Burger$ e$ Elsa$ Hötzel,$ praticantes$ de$ ginástica$ rítmica,$ com$ influência$ de$ Emile$ JacquehDalcroze.$Os$primeiros$esboços$aparecem$em$1912,$onde$é$perceptível$os$três$interpretes;$três$ atos:$amarelo,$rosa$e$negro;$com$dezoito$figurinos$rígidos,$entre$os$quais:$uma$saia$em$forma$de$prato$ (aludindo$ aos$ tutus$ do$ ballet$ clássico),$ máscaras,$ vestidos$ de$ arame,$ capacetes$ cónicos,$ e$ punhos$ esféricos.$Nesta$peça,$assim$como$em$todo$o$trabalho$de$Schlemmer,$os$ideais$do$abstracionismo$e$do$ cubismo$ eram$ seguidos,$ resultando$ numa$ dança$ abstrata,$ uma$ espécie$ de$ laboratório$ de$ experimentação$cubista.$O$tratamento$dos$figurinos$e$as$coreografias$faziam$com$que$os$intérpretes$se$ assimilassem$a$marionetas$sobre$os$cenários.$ Schlemmer$descreve$esta$obra:$ Não,"o"Ballet"Triádico"não"foi"uma"piada"matemática,"foi"sim"uma"tentativa"de"fundir"muitos"elementos," em" partes" heterogéneas," para" confrontar" uma" desigual" unidade." Não" se" tratava" só" de" organizar" a" geometria"da"superfície"de"baile,"esse"sugestivo"tabuleiro"de"xadrez"onde"se"pode"jogar"cada"vez"mais"uma" partida"nova,"exigindo"uma"visão"de"conjunto."Tentámos"cria"um"relevo"bonito"que"recordasse"um"quadro" para"conseguir"uma"reprodução"agradável."Era"–"e"esse"era"o"ponto"frágil"do"espetáculo"–"uma"tentativa" de"constranger"aos"bailarinos,"em"figurinos"menos"rígidos,"crente"que"a"sua"força,"tanto"a"física"como"a" psíquica,"bastasse"para"superar"o"entorpecimento"do"seu"figurino"mediante"a"intensidade"do"movimento." Devo" reconhecer" que" esta" luta" contra" a" matéria" nem" sempre" termina" com" a" vitória" dos" bailarinos," mas" conseguimos"levar"esta"intenção"dos"figurinos"com""sensação"de"vitalidade"e"assimiláIla,"ou"seja,"embeberI se" nela," conseguíamos" o" que" queríamos:" enriquecer" a" disciplina" artística" da" dança" numa" das" suas" variáveis," a" dança" dos" disfarces" ou," como" conhecida" antigamente," o" baile" de" máscaras," e" recuperar" as" 23 possibilidades"que"oferecia. "

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 23

$“No," el" Ballet" triádico" no" fue" una" broma" matemática," sino" un" intento" de" fundir" muchos" elementos," en" parte" heterogéneos,"para"conformar"una"inusual"unidad."No"se"trataba"sólo"de"organizar"la"geometria$de$la"superficie"de" baile,"ese"sugerente"tablero"de"ajedrez"donde"se"puede"jugar"cada"vez"uns"partida"nueva,"cosa"que"exige"una"visión" de" conjunto" y" también" público." Tampoco" intentábamos" crear" un" relieve" bonito" que" recordasse" a" un" cuadro" para" conseguir"una"representación"agradable."Era"–"y"ése"era"el"punto"débil"del"espectáculoIun"intento"de"constreñir"a"los" bailarines" en" trajes" más" o" menos" rígidos," creyendo" que" su" indumentaria" mediante" la" intensidade" del" movimento." Debo" reconocer" que" esta" lucha" contra" la" matéria" no" siempre" terminaba" con" la" victoria" de" los" bailarines," pero" si" lográbamos" llenar" el" contenedor" del" vestuário" con" sensación" de" vitalidad" y" asimilarla," es" decir," imbuirse" de" ella," conseguíamos"lo"que"queríamos:"enriquecer"la"disciplina"artística"de"la"danza"en"una"de"sus"variantes,"la"danza"de" 145$

Schlemmer$utilizava$a$matéria$dos$figurinos,$tirando$partido$das$características$do$material,$a$ rigidez$ e$ o$ peso,$ como$ condicionantes$ explorativas$ nas$ suas$ criações$ coreográficas.$ Eram$ utilizados$ materiais$como$o$papel,$o$plástico,$a$madeira,$o$vidro$e$o$metal,$aludindo$à$era$da$tecnologia$“o$aparato$ científico$ do$ vidro$ e$ metal,$ membros$ artificiais$ usados$ em$ operações$ cirúrgicas,$ o$ fantástico$ militar$ e$ 24 fatos$ de$ mergulho” .$ Configurando$ assim$ estruturas$ arquitectónicas$ móveis$ de$ uma$ forma$ cómica$ e$ desajeitada.$ 25

$ Em$ cartas$ e$ diários,$ Schlemmer$ $ afirma$ que$ na$ peça$ a$ “geometria$ do$ chão” ,$ as$ formas$ que$ determinavam$os$trajeto$dos$bailarinos,$e$as$formas$deles$próprios,$eram$fundamentais$no$seu$trabalho.$ Mostra$ ainda$ o$ seu$ desejo$ em$ continuar$ este$ trabalho$ coreográfico,$ afirmando$ que$ a$ representação$ gráfica$ das$ linhas$ ao$ longo$ dos$ bailarinos$ em$ movimento,$ é$ um$ assunto$ que$ não$ ficou$ resolvido$ satisfatoriamente,$por$haver$demasiadas$possibilidades$para$um$espaço$tão$pequeno.$ O$processo$de$criação$desta$peça$distinguehse$de$qualquer$outra$peça$de$dança$convencional.$ Schlemmer$ começa$ por$ definir$ os$ figurinos,$ depois$ a$ música,$ que$ é$ adequada$ a$ cada$ figurino,$ e$ só$ depois$trabalha$a$componente$coreográfica$como$elemento$de$ligação$entre$os$anteriores.$Schlemmer$ considerou$o$Ballet$Triádico$como$um$início,$uma$etapa$no$seu$trabalho,$um$conjunto$de$ideias$para$um$ ballet$puramente$cómico.$$ O$ Ballet$ Triádico$ consiste$ em$ três$ partes$ muito$ distintas,$ na$ cor,$ forma$ e$ movimentos.$ A$ primeira$ parte,$ de$ cor$ amarelo$ limão,$ apresenta$ uma$ comédia$ burlesca$ e$ pitoresca;$ a$ segunda$ parte,$ com$ um$ palco$ cor$ de$ rosa,$ apresenta$ um$ ambiente$ festivohcerimonial;$ a$ terceira$ parte,$ apresenta$ um$ ambiente$místicohfantástico,$com$um$carácter$mais$heroico$e$monumental.$$ $ Apesar$de$toda$a$fama$desta$peça,$os$dados$não$mostram$grande$êxito.$A$peça$foi$estreada$no$ dia$30$de$Setembro$de$1922,$em$Württembergischer$Landestheater,$em$Stuttgart,$sendo$apresentada$ pela$última$vez$num$Concurso$Internacional$de$Dança,$em$Paris,$em$1932,$contabilizando$um$total$de$ aproximadamente$ 1000$ espectadores.$ Na$ sua$ última$ apresentação,$ a$ peça$ ocupou$ o$ sexto$ lugar$ no$ concurso,$ devido$ ao$ grande$ contraste$ na$ técnica$ da$ dança$ em$ relação$ aos$ outros$ participantes.$ Os$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! disfarces" o," como" se" conocia" antiguamente," la" mascarada," y" recuperar" las" possibilidades" que" ofrecía.”$ In$ ACKERMANN,$Ute$$[et.al.]$–$Bauhaus.$Madrid:$Konemann,$2000,$p.$538.$ 24 $“the"scientific"apparatus"of"glass"and"metal,"the"artificial"members"that"are"used"in"surgery,"the"fantastic"military" and"diving"uniforms”"in"SCHLEMMER,$Oskar:$Escritos#sobre#arte.#Pintura,#teatro,#ballet:#cartas#y#diários.#Barcelona:$ Paidos,$1987.(Museu$Nacional$centro$de$arts$Reina$Sofia,$impresso$pela$Orientadora)$ 25 $“floor"geometry”"in"WINGLER,$Hans$M.$–$The#Bauhaus.#Cambridge:$The$MIT$Press,$$1993,$p.$363# 146$

figurinos$ eram$ os$ elementos$ que$ mais$ chamavam$ à$ atenção$ dos$ contemporâneos,$ apesar$ das$ suas$ brilhantes$ ideias$ coreográficas,$ a$ luta$ contra$ o$ ballet$ convencional$ e$ a$ fusão$ da$ matemática,$ música,$ escultura,$pictorialismo$e$coreografia.$Esta$forma$de$arte$era$cara$e$os$figurinos$excessivamente$frágeis$ para$um$público$que$não$dava$a$devida$atenção,$o$que$levou$a$que$Schlemmer$abandonasse$a$ideia$de$ continuar$a$reproduzir$esta$obra.$

2.2$Análise$da$figura$humana! Tal$ como$ na$ arquitetura,$ o$ homem$ é$ a$ origem$ e$ o$ fim,$ alfa" e" ómega,$ e$ como$ tal$ serve$ de$ referência$métrica$para$o$desenho,$este$é$igualmente$o$ponto$de$partida$para$os$estudo$de$Schlemmer$ na$relação$homemhespaço:$“Homem,"possuidora"da"capacidade"fenomética,"é"um"organismo"de"carne"e" 26 osso"e"ao"mesmo"tempo"o"exponente"de"números"o"«Medida$de$todas$as$coisa»$(A$Proporção$Áurea).” $ Schlemmer$analisa$o$corpo$recorrendo$à$abstração$como$forma$de$síntese$dos$elementos$que$mais$lhe$ interessa$para$os$seus$estudos:$os$geradores$de$movimento:$ Os" materiais" envolvidos" na" transfiguração" são" a" forma" e" a" cor," materiais" comuns" ao" pintor" e" escultor." A" arena" para" esta" transfiguração" é" a" construção," o" espaço," matéria" do" arquiteto." A" manipulação" destes" materiais," está" encarregue" ao" artista," o" sintetizador" dos" elementos," é" 27 determinado "

Os$estudos$anatómicos$dos$movimentos$do$ser$humano$são$a$base$inicial$do$seu$trabalho.$Para$depois,$ recorrendo$às$suas$habilidades$de$artista,$trabalhar$a$forma$e$a$cor$sob$uma$figura$abstrata$resultante$ da$ canonização$ que$ serve$ tanto$ para$ o$ tornar$ universal,$ como$ para$ realçar$ certos$ elementos$ que$ lhe$ interessam,$ criando$ ligações$ com$ o$ espaço$ de$ cena:$ “Por" outro" lado," pode" resultar" numa" abstrata" 28 generalização"e"soma,"na"construção"num"marco"de"uma"nova"totalidade.” "Para$chegar$à$escala$do$$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 26

$“Man,"its"chief"phenomenon,"is"both"an"organismo"of"flesh"and"blood"and"at"the"sometimes"the"exponente"of" number"an"«Measure"of"All"Things»"(The"Gold"Section)"in"SCHLEMMER,$Oskar:$Man#and#Art#Figure,$in"The#Theatre# of#the#Bauhaus.$Berlim:$GROPIUS,$Walter;$WENSINGER,$Arthur$S.$1961.$P.22" 27 $“The"materials"involved"in"this"transfiguration"are"forma"nd"color,"the"materials"of"the"painter"and"sculptor."The" arena"for"this"transfiguration"is"found"in"the"constructive"fusiono"f"space"nd"building,"the"realm"of"the"architect." Through"the"manipulation"of"these"materials"the"role"of"the"artist,"the"synthesizer"of"hese"elements,"is"determined.”" In"SCHLEMMER,$Oskar:$Man#and#Art#Figure,$in"The#Theatre#of#the#Bauhaus.$Berlim:$GROPIUS,$Walter;$WENSINGER,$ Arthur$S.$1961.$P.17" 28 "“On"the"other"hand,"abstraction"can"result"in"generalization"and"summation,"in"the"construction"in"bold"outline"of" a"new"totality.”$in"SCHLEMMER,$Oskar:$Man#and#Art#Figure,$in"The#Theatre#of#the#Bauhaus.$Berlim:$GROPIUS,$ Walter;$WENSINGER,$Arthur$S.$1961.$P.17$ 147$

$

! Figura#15$As$leis$do$homem$orgânico$

148$

espaço$ envolvente$ da$ figura$ humana$ –$ o$ palco$ abstrato$ –$ parte$ do$ estudo$ matemático$ do$ corpo$ humano$ que$ cria$ balanço$ através$ do$ movimento,$ gerado$ mecanicamente$ e$ racionalmente.$ Portanto,$ Schlemmer$procura$perceber$as$leis$orgânicas$do$homem:$a$pulsação,$circulação,$respiração,$atividade$ cerebral$ e$ sistema$ nervoso.$ Estes$ são$ os$ elementos$ centrais$ do$ corpo$ humano,$ os$ elementos$ mais$ primários$da$origem$de$qualquer$movimento$gerado$para$um$espaço$imaginário$(figura$15).$Seguindo$os$ seus$princípios$de$um$trabalho$abstrato,$antes$referido,$Schlemmer$aplica$um$tratamento$do$cubismo,$ um$ estilo$ em$ vogue$ entre$ os$ seus$ restantes$ colegas$ na$ Bauhaus$ e$ um$ estilo$ que$ procurou$ explorar$ anteriormente$ no$ campo$ da$ pintura$ (figura$ 12),$ resultando$ num$ espaço$ cúbicohabstrato,$ onde$ utiliza$ unicamente$ linhas$ horizontais$ e$ verticais.$ Estes$ movimentos$ são$ determinados$ organicamente$ e$ emocionalmente,$que$em$conjunto$com$expressões$faciais,$constituem$impulsos$físicos$resultantes$das$ expressões$dos$atores.$ Estes$estereótipos$que$se$seguem$foram$o$resultado$de$um$processo$de$sínteses$realizadas$por$ Schlemmer$para$diferentes$tipos$de$estudo,$uma$base$para$os$figurinos$que$desenvolve:$

$ A$lei$do$entendimento$num$espaço$cúbico.$ $ Através$de$formas$cúbicas,$transfere$a$forma$do$corpo:$a$ cabeça,$ o$ tronco,$ braços,$ pernas,$ num$ espaço$ cúbico$ construído.$ $ $ Resultado:$arquitetura$ambulante.$

$ $ Figura#16#Arquitetura$ambulante#

149$

! " " " $ A$lei$funcional$do$corpo$humano$com$a$relação$do$espaço.$ $ Este$ tipifica$ as$ diferentes$ partes$ do$ corpo$ humano:$ a$ cabeça$ em$ forma$ de$ ovo,$ o$ tronco$ em$ forma$ de$ vaso,$ os$ braços$ e$ pernas$ em$ forma$ de$ taco,$ e$ as$ articulações$ em$ bolas.$ $ Resultado:$a$marioneta.$

$ $

$

Figura#17#A$marioneta#

150$

$ $ $ $ $ A$lei$de$movimento$do$corpo$humano$no$espaço.$ $ Tendo$ em$ conta$ a$ rotação,$ direção$ e$ intersecção$ do$ espaço:$um$topo$rotativo,$espiral$e$disco.$ $ Resultado:$um$organismo$técnico.$

$ $ $ $ $ $

Figura#18#Organismo$Técnico#

$ $

$

151$

$ $ $ $ $ $ $ A$ forma$ metafísica$ de$ expressão$ simbólica$ dos$ vários$ membros:$ a$ forma$ de$ estrela$ das$ mãos$ abertas,$o$símbolo$de$infinito$dos$braços$cruzados,$a$ cruz$ da$ coluna$ e$ os$ ombros,$ a$ dupla$ cabeça,$ múltiplos$membros,$divisão$e$supressão$de$formas.$ Resultado:$desmaterialização.$

Figura#19$Desmaterialização#

152$

$ A$gravidade$é$outro$assunto$que$Schlemmer$vai$ter$em$conta$nos$seus$estudos,$esta$é$relativa$ ao$ movimento$ do$ corpo$ humano.$ Possibilita$ dar$ ênfase$ a$ uma$ mudança$ de$ posição$ através$ do$ abandono$do$centro$de$gravidade$por$um$só$segundo.$ Schlemmer$aborda$ainda$o$corpo$acrobático,$na$medida$em$que$consegue$ultrapassar$as$suas$ limitações$físicas:$o$contorcista,$trabalhando$as$articulações;$o$aero$acrobático,$trabalhando$o$equilíbrio$ através$da$geometria$espacial,$com$recurso$a$instrumentos$como$barras$e$a$pirâmide$humana.$ Outra$forma$de$libertar$o$homem$é$recorrendo$ao$homem$máquina$ou$marionette,$em$que$faz$ alusão$à$história$de$Der"Sandmann"de"Nachtstücke"of"E.T.A."Hoffmann"e$o$famoso$pequeno$ensaio$über" 29 das"Marionettentheater"de$Heinrich"von"Kleist’s. "

! Figura#20#Heirich$von$Kleist’s:$über$das$marionettentheater!

!

!

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 29

$in"SCHLEMMER,$Oskar:$Man#and#Art#Figure,$in"The#Theatre#of#the#Bauhaus.$Berlim:$GROPIUS,$Walter;$ WENSINGER,$Arthur$S.$1961.$P.28" 153$

#

# Figura#21#Homem$gerador$de$espaço$ $

154$

No$ estudo$ Man" and" the" Art" Figure,$ Schlemmer$ descreve$ os$ bailarinos$ como$ figuras$ abstratas$ que$ se$ movem$ em$ linhas$ geométricas,$ espirais$ e$ quadrados,$ numa$ coreografia$ abstrata.$ Schlemmer$ insiste$na$precisão$e$adaptação$das$formas$dos$figurinos$para$geometricamente$definir$o$espaço.$Para$ tal,$os$interpretes$possuíam$marcações,$pontos$físicos$e$visuais$de$orientação$que$os$guiavam$no$espaço$ matemático:$ "(...)" Partindo" da" geometria" do" palco," das" rectas" desenhadas," as" diagonais," o" círculo," a" curva," desenrolaIse" quase" espontaneamente," um" estereótipo" de" espaço" através" da" figura" vertical," o" corpo" dançante..." O" mesmo" corpo" mostra" a" sua" matemática" através" do" desencadeamento" da" sua"mecânica"corporal...através"de"barras"auxiliares"ou"palafitas"(elemento"vertical),"«varetas"de" prolongação"dos"elementos"do"movimento»,"são"capazes"de"dar"vida"ao"espaço,"através"de"uma" 30 relação"de"frameIlinear"como"expressão"plástica,"em"forma"de"esferaIconeItubo. ""

No$estudo$EspaçoIdelineador"Egocêntrico,$o$movimento$do$corpo$é$caracterizado$por$uma$rede$ de$ duas$ dimensões$ espaciais,$ formas$ concêntricas$ com$ o$ centro$ no$ peito$ e$ curvas$ radiantes$ das$ articulações$do$corpo$(figura$21)." $

$

$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 30

""Partiendo"de"la"geometría"del"suelo,"de"la"persecución"de"las"rectas,"las"diagonales,"el"círculo,"a"curva,"se" desarrolla"casi"espontáneamente"una"estereometría"del"espacio"por"medio"de"la"vertical"de"la"figura"danzante...El" mismo"uerpo"puede"demostrar"su"matemática"mediante"el"desencadenamiento"de"su"mecánica"corporal..."medios" auxiliares"como"barras"(el"balancin"horizontal)"o"zancos"(elemento"vertical),"a"modo"de""bielas"de"prolongación"de" los"elementos"del"moviemento","son"capaces"de"darle"vida"al"espacio,"mediante"relación"de"armazónIlineal"como" expressión"plástica,"en"forma"de"esferaIconoItubo."""In"WICK,$Rainer$h$La#pedagogía#de#la#Bauhaus.$Madrid:$Alianza$ Editorial,$1998,$p.252.$ 155$

2.2.$Concepção$dos$figurinos# “A" máscara" anula" a" pessoa" e" proporciona" espaço," um" bailarino" predisposto" à" criação.”$ (Mary$ Wigman)$

A$transformação$do$corpo$humano,$a$metamorfose,$é$conseguida$através$da$construção$de$um$ figurino.$ Este,$ em$ conjunto$ com$ o$ uso$ da$ máscara,$ enfatiza$ uma$ identidade$ ou$ alteraha.$ Os$ fatos$ originais$produzidos$por$convenções$religiosas,$políticas$e$sociais$são$diferentes$das$teatrais,$apesar$de$ muitas$ vezes$ confundidas.$ A$ evolução$ da$ roupa$ convencional$ desenvolveu$ uma$ grande$ diversidade$ enquanto$ que$ no$ teatro$ a$ evolução$ foi$ pouca.$ Schlemmer$ identifica$ os$ figurinos$ estandardizados$ da$ commedia"dell’arte:"Harlequin,$ Pierrot,$ Columbine,$ etc,$ que$se$mantiveram$autênticos$até$aos$dias$de$ hoje.$ Tirando$ partido$ do$ seu$ estudo$ anatómico$ e$ sintético$ anterior,$ Schlemmer$ procura$ dar$ ênfase$ aos$elementos$interessantes$para$o$seu$trabalho$através$da$artificialidade$que$produz$para$envolver$a$ figura$humana.$Para$a$produção$destes$figurinos,$Schlemmer$olha$para$o$avanço$tecnológico$e$para$os$ novos$materiais$emergentes$com$ele:$a$precisão$das$máquinas,$o$aparato$científico$do$vidro$e$metal,$as$ próteses$humanas,$os$fantásticos$fatos$de$mergulho$e$os$modernos$soldados,$como$um$novo$caminho$ para$os$figurinos$no$teatro.$ A$figura$humana$artificial$(Kunstfigur)$permite$todos$os$tipos$de$movimento$e$a$nível$artístico$ permite$trabalhar$a$escala$da$figura$humana:$figuras$importantes,$grandes;$não$importantes,$pequenas.$$ Existem$ ainda$ infinitas$ possibilidades:$ desde$ as$ mais$ supernaturais,$ às$ sem$ sentido,$ desde$ o$ sublime$ao$cómico.$$ Olhando$para$o$ponto$de$vista$do$espaço$cénico,$o$desenho$de$palco$tornahse$num$fenómeno$ ótico$ que$ juntamente$ com$ uma$ linguagem$ própria,$ um$ guião$ e$ sons$ musicais,$ tornahse$ num$ evento$ completo$unitário.$ De$acordo$com$estas$ideias,$Schlemmer$desenvolve$as$seguintes$ideias:$ h$o$Forma$Abstrata$e$Cor$ h$a$Estática,$Dinâmica$e$Tectónica$ h$a$Mecânica,$Acrobática$e$Equilibrista$ 156$

h$o$Cómico,$Grotesco$e$Burlesco$ h$o$Sério,$Sublime$e$Monumental$ h$O$Político,$Filosófico$e$Metafísico$ Todas$ideias,$estilos$e$tecnologias$que$irá$utilizar$durante$o$seu$trabalho$na$Oficina$de$Teatro.$

2.3.$A$concepção$do$espaço$teatral# Schlemmer$afirma$no$seu$estudo$Man"and"Art"Figure,$que$entre$o$religioso$e$o$entretenimento$ mais$ puro$ popular,$ situahse$ o$ espetáculo$ «Variedades»$ (vaudeville)$ e$ o$ circo:$ o$ palco$ como$ uma$ instituição$para$o$artista.$É$neste$palco$que$se$dá$lugar$à$exploração$da$palavra,$ação$e$forma$–$espírito,$ ato$e$forma$–$mente,$ação$ou$manifestação$–$gerando$diferentes$tipologias:$ h h

o$palco$oral$ou$palco$de$som$(Sprechhoder$Tondbühne)$adequado$para$um$evento$literário$ ou$música$ o$palco$visual$(Schaubühne)$para$um$evento$ótico$ou$visual$

Schlemmer$defende$que$cada$uma$destas$formas$de$palco$correspondem:$ h h h

o$palco$de$ator$(como$escritor$ou$compositor)$criado$da$palavra$ou$som$musical$ o$ator$em$que$o$corpo$e$os$seus$movimentos$fazem$parte$da$representação$ o$desenhador$que$constrói$a$forma$e$cor$

Cada$ palco$ deve$ adequarhse$ a$ cada$ propósito$ de$ forma$ a$ completáhlo.$ Depois$ pode$ haver$ eventos$ que$ conjuguem$ mais$ do$ que$ uma$ tipologia,$ havendo$ a$ possibilidade$ de$ se$ efetuar$ as$ necessárias$adaptações.$ Como$ forma$ de$ configurar$ o$ espaço,$ Schlemmer$ vai$ ao$ fundo$ da$ questão,$ recorrendo$ ao$ abstracionismo.$ Recorre$ aos$ elementos$ mais$ básicos$ da$ definição$ de$ um$ espaço,$ a$ linha$ que$ gera$ um$ plano,$que$por$sua$vez$gera$um$volume,$através$de$processos$de$manipulação$como$$extensão$da$altura,$ largura$ e$ profundidade.$ Assuntos$ comuns$ aos$ artistas$ –$ pintores,$ escultores$ e$ arquitetos.$ Toda$ esta$ manipulação$e$configuração$tem$resultado$último:$a$forma.$ Schlemmer$estuda$ainda$os$elementos$não$rígidos,$a$luz,$que$pode$ter$efeitos$lineares$através$ da$manipulação$da$iluminação$no$teatro,$criando$efeitos$no$espaço.$Tendo$em$conta$que$não$há$luz$sem$ cor,$Schlemmer$identifica$outro$elemento:$a$cor,$comum$a$todos$os$artistas$anteriormente$referidos.$ 157$

A$ cor$ e$ a$ forma$ são$ assim$ elementos$ valiosos$ na$ manipulação$ de$ um$ espaço$ arquitectónico.$ Um$espaço$que$é$preenchido$com$a$presença$da$figura$humana,$o$organismo$vivo.$ As$artes$como$a$arquitetura,$a$escultura$e$a$pintura$são$artes$estáticas,$ao$contrário$do$teatro$ que$trabalha$elementos$comuns$às$restantes,$a$cor$e$a$forma,$acrescenta$a$componente$do$movimento,$ encontrando$uma$arquitetura$mutante.$ Com$ o$ objetivo$ de$ explorar$ este$ assunto,$ Schlemmer$ seleciona$ a$ tipologia$ de$ palco$ visual$ (Schaubühne),$e$o$Homem$(matéria$viva),$não$como$ator,$mas$como$referencia$métrica$e$objeto$criador$ da$relação$corpohespaço,$como$organismo$mecânico.$Assim$sendo,$identificamos$um$palco$abstrato$que$ através$ das$ leis$ do$ espaço$ cúbico,$ constituído$ por$ uma$ teia$ planimétrica$ linear$ e$ relações$ estereométricas,$o$corpo$estabelece$relações$matemáticas$com$o$espaço.$Este$organismo$vivo,$o$corpo$ humano,$ em$ movimento,$ cria$ tensões,$ equilíbrios,$ etc,$ através$ do$ seu$ controlo$ gravítico,$ já$ analisado$ anteriormente.$ O$ corpo,$ através$ da$ dança$ (Tänzermensch)$ explora$ estas$ relações,$ seguindo$ a$ sua$ 31 intuição,$conjugando$a$lei$do$corpo$humano$com$a$lei$do$espaço. $Alcançando$infinitas$expressões$quer$ sejam$ através$ de$ movimentos$ abstratos$ ou$ símbolos$ pantomímicos,$ num$ palco$ vestido$ ou$ nu.$ Todas$ estas$questões$abrem$ao$mundo$do$teatro$uma$grande$variedade$de$possibilidades.$ Como$ conclusão$ do$ seu$ trabalho,$ Schlemmer$ pensa$ num$ diapositivo$ cénico$ albergador$ de$ todas$ estas$ relações,$ a$ arquitetura$ envolvente.$ Pensa$ num$ palco$ que$ tenha$ forma$ e$ que$ se$ possa$ transformar,$ com$ uma$ figura$ e$ configuração.$ Estas$ ideias$ paradoxais$ são$ bases$ de$ trabalho$ que$ irão$ informar$e$enriquecer$o$projeto$Teatro"Total$de$Walter$Gropius$que$será$analisado$no$próximo$capítulo.$

$ $ #

#

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 31

$in"SCHLEMMER,$Oskar:$Man#and#Art#Figure,$in"The#Theatre#of#the#Bauhaus.$Berlim:$GROPIUS,$Walter;$ WENSINGER,$Arthur$S.$1961.$P.25$ 158$

3.#Walter#Gropius:#Teatro#Total# Walter$ Gopius$ (1883h1969)$ estudou$ em$ Munique,$ a$ sua$ cidade$ natal.$ Em$ 1907$ trabalha$ com$ um$dos$precursores$do$movimento$moderno,$Peter$Behrens,$mais$tarde,$em$1910,$Le$Corburier$e$Mies$ van$der$Rohe$juntamhse$a$ele.$Durante$esta$colaboração$Gropius$participa$no$projeto$AEG,$marcando$a$ sua$ concepção$ de$ arquitetura$ baseada$ na$ fusão$ da$ arquitetura$ monumental$ das$ grandes$ cidades$ e$ a$ construção$ funcional$ do$ campo,$ criando$ tensões$ formais.$ Em$ 1910$ abre$ o$ seu$ próprio$ atelier$ de$ arquitetura$em$Berlim.$Ingressa$na$Deutscher$Werkbund$no$ano$de$1911.$As$suas$ideias$arquitectónicas$ são$ transpostas$ no$ projeto$ para$ a$ fábrica$ de$ Fagus,$ em$ Alfeldan$ der$ Leine,$ em$ 1911,$ apresentado$ na$ exposição$Werkbund$de$1914,$resultando$no$reconhecimento$internacional$de$Gropius.$Apesar$do$seu$ enorme$talento$e$visão$na$arquitetura,$Gopius$era$incapaz$de$desenhar,$ele$próprio$confessa$que$a$mão$ 32 bloqueia$quando$tenta$esboçar$as$suas$ideias. $Esta$incapacidade$para$o$desenho$é$compensada$com$a$ sua$ retórica$ e$ capacidade$ discursiva.$ Aos$ seus$ 36$ anos,$ funda$ a$ Bauhaus$ e$ escreve$ o$ Manifesto$ da$ Bauhaus$com$os$objetivos$e$método$pedagógico$da$mesma.$Com$a$colaboração$de$alunos$da$Bauhaus$e$ a$participação$das$várias$oficinas$nos$projetos,$cumpre$os$objetivos$que$tinha$para$a$escola,$de$reunir$ todas$ as$ disciplinas$ artísticas:$ escultura,$ pintura,$ artes$ aplicadas$ e$ artesanal,$ no$ projeto$ Casa" Sommerfeld."A$certa$altura$Gropius$dedicahse$à$projeção$de$habitações$económicas$baseadas$no$sistema" Ford"e$Tailorismo,$recorrendo$à$préhfabricação.$Construiu$a$Siedlung"DessauI"Törten,$em$1928.$Uns$anos$ antes$realiza$desenhos$de$duas$casas$para$a$exposição$de$Werkbund$«Am$Weissenhof»,$em$Stuttgart,$ organizada$por$Deutscher$Werkbund,$sob$a$direção$de$Mies$van$der$Rohe.$No$mesmo$ano$projeta$o$seu$ famoso$ projeto$ utópico$ Teatro" Total$ encomendado$ por$ Erwin$ Piscator.$ Depois$ da$ sua$ demissão$ na$ Bauhaus,$ em$ 1928,$ Gropius$ exilahse$ na$ Inglaterra$ em$ 1934,$ onde$ desenvolve$ projetos$ residenciais$ e$ escolares$ com$ o$ arquiteto$ Maxwell$ Fry.$ Em$ 1937,$ aceita$ o$ convite$ da$ Escola$ de$ Arquitetura$ da$ 33 Universidade$de$Harvard$nos$Estados$Unidos,$tornandohse$diretor$do$departamento. $

$ $ $ !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 32!ACKERMANN,$Ute$$[et.al.]$–$Bauhaus.#Madrid:$Konemann,$2000.$P.$191$ 33

$ACKERMANN,$Ute$$[et.al.]$–$Bauhaus.#Madrid:$Konemann,$2000.$P.$188h203$

$ 159$

3.1.$Erwin$Piscator$e$a$proposta$do$Teatro$Total$ Erwin$ Piscator,$ diretor$ teatral$ alemão,$ conhecendo$ o$ trabalho$ desenvolvido$ na$ Bauhaus$ pela$ Oficina$de$Teatro,$propõe$a$Walter$Gropius$a$construção$de$um$teatro$moderno,$um$teatro$máquina.$ Piscator$ vai$ contra$ a$ ideia$ do$ teatro$ estar$ direcionado$ para$ as$ classes$ altas,$ este$ vê$ no$ teatro$ uma$ oportunidade$ para$ fazer$ mostrar$ as$ suas$ ideias$ políticas,$ uma$ atividade$ revolucionária,$ ativa$ contra$ a$ luta$ de$ classes.$ O$ teatro$ dotado$ de$ uma$ função$ social$ e$ política,$ escreve$ um$ artigo$ na$ revista$ Der" Gegner,"“Sobre"os"fundamentos"e"cometidos"do"teatro"de"Proletariado”:" "As"aspirações"que"animam"a"direção"do"Teatro"Proletariado"vão"ser:"simplificar"a"expressão"e"a" construção," procurar" um" efeito" claro" e" inequívoco" sobre" o" sentir" do" público" trabalhador," subordinar" todo" o" propósito" artístico" ao" objetivo" revolucionário," ou" seja," inculcar" e" propagar" 34 conscientemente"o"espírito"de"luta"de"classes. "

Este$desejo$de$revolução$está$também$presente,$embora$de$uma$forma$mais$subtil,$no$projeto$de$Lina$ Bo$Bardi$para$o$Museu$de$Arte$Moderna$de$São$Paulo,$que$será$analisado$no$próximo$capítulo,$em$que$ num$desenho,$intitulado$em$italiano,$anuncia$o$momento$obscuro$vivido:$l’ombra"della"sera,$«a$sombra$ da$noite».$Neste$desenho,$Lina$dissimula,$como$forma$de$protesto,$as$palavras$LIBERDADE$e$SOLIDÃO,$ 35 que$aparecem$como$se$estivessem$grafitadas$na$laje$de$betão$do$vão. $A$arte$é$assim$entendida$como$ um$meio$político,$propagador$e$educativo.$Como$tal,$Piscator$procurava$dar$oportunidade$aos$artistas$ não$profissionais,$intitulados$experimentais,$para$subverter$as$regras$tradicionais,$em$busca$de$um$novo$ meio$de$expressão$e$adequação$aos$novos$tempos.$ $ Com$ estes$ ideais,$ Piscator$ percebeu$ que$ a$ estrutura$ arquitectónica$ usada$ em$ Berlim$ não$ se$ adequava$ aos$ seus$ ideais,$ a$ estratificação$ social$ em$ níveis,$ a$ fragmentação$ do$ espaço$ com$ o$ arco$ proscénio$dificultava$a$passagem$da$mensagem:$ $A" arquitetura" do" teatro" está" na" mais" íntima" relação" com" a" forma" da" dramaturgia" correspondente;" ou" seja," ambas" se" determinam" mutuamente." Mas" as" raízes" dramáticas" e" a" arquitetura" penetra" até" à" forma" social" da" sua" época." A" forma" do" teatro" que" domina" na" nossa"

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 34

$“Las"aspiaciones"que"han"de"animar"a"a"dirección"del"Teatro"del"Proletariado"han"de"ser:"simplificar"la"expresión"y" la"construcción,"procurar"un"efecto"claro"e"inequívoco"sobre"el"sentir"del"público"obrero,"subordinar"todo"propósito" artístico"al"objetivo"revolucionário,"es"decir,"inculcar"y"propagar"conscientemente"el"espírito"de"la"lucha"de"clases.”"In" PRIETO"LOPEZ,$Juan$Ignacio–$Teatro#Total:#la#arquitectura#teatral#de#la#vanguardia#europea#en#el#período#de# entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$doutoramento.$P.$161$ 35 "in"OLIVEIRA,$Olivia$de$–$Lina#Bo#Bardi:#obra#construída.$São$Paulo:$Editora$G.$Gili,$Lta,$2014.$P.3$ 160$

época" é" a" forma" de" absolutismo" que" tem" sobrevivido" a" si" mesma...:" o" teatro" real." Com" a" sua" distribuição" em" pátio" de" poltronas," terraços," palcos" e" galerias" reflete" as" camadas" sociais" da" 36 sociedade"feudal. "

Nesta$ época$ o$ cinema$ estava$ em$ voga,$ era$ o$ meio$ de$ entretenimento$ predileto$ das$ massas,$ por$ se$ tratar$ de$ um$ meio$ moderno.$ Piscator$ como$ forma$ de$ chegar$ a$ essas$ massas,$ recorre$ a$ uma$ cena$ moderna$com$projeções$cinematográficas$nas$suas$obras.$Piscator$constrói$assim$um$novo$estilo$teatral$ denominado$por$Drama"Documental$com$o$propósito$da$contribuição$da$formulação$teórica$do$teatro$ político,$ recorrendo$ à$ união$ da$ ação$ cénica,$ música,$ iluminação,$ discursos,$ projeções$ de$ fotografias$ e$ filmes,$ dispositivos$ mecânicos$ móveis...$ Piscator$ pretendia$ um$ «teatrohmáquina»$ que$ pudesse$ ser$ transformável,$construindo$a$quarta$dimensão$no$teatro$e$ativando$a$percepção$dos$espetadores.$ $

Estes$ideais$são$dados$a$conhecer$a$Walter$Gropius$para$a$construção$do$Teatro$Total$em$1926:$

$Trás" uma" das" representações" (de" Erwin" Piscator)" do" Teatro" da" Nollendorfplatz," sentiaIme" tão" entusiasmado"que"fui"buscáIlo"aos"camarins."Imediatamente"conectámos"as"nossas"ideias"acerca" da" construção" teatral" moderna." Discutimos" amplamente" acerca" da" essência" do" novo" teatro." O" 37 conceito"chave"foi","«total"flexibilidade». "

Os$ideias$de$fusão$da$arquitetura,$tecnologia$e$as$artes$eram$princípios$defendidos$na$Bauhaus,$«Arte$e$ Técnica:$ uma$ nova$ unidade»,$ como$ antes$ apresentado,$ eram$ princípios$ a$ aplicar$ nesta$ proposta.$ Gropius$viu$nesta$proposta$a$oportunidade$de$dar$forma$física$aos$conceitos$teóricos$desenvolvidos$na$ Oficina$de$Teatro,$na$Bauhaus.$ $

$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 36

$“La"arquitectura"del"teatro"está"en"la"más"íntima"relacíon"con"la"forma"de"la"dramaturgia"correspondiente;"o"sea," ambas"se"determinan"mutuamente."Pero"las"raíces"de"la"dramática"y"la"arquitectura"penetran"hasta"la"forma"social" de"su"época."La"forma"de"teatro"que"domina"en"nuetra"época"es"la"forma"del"absolutismo,"que"se"ha"sobrevivido"a"sí" misma...:"el"teatro"real."Con"su"distribuicíon"en"pátio"de"butacas,"gradas,"palcos"y"galerias"refleja"las"capas"sociales" de"la"sociedade"feudal.”"In"PRIETO"LOPEZ,$Juan$Ignacio$–$Teatro#Total:#la#arquitectura#teatral#de#la#vanguardia# europea#en#el#período#de#entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$ doutoramento.$P.$161$ 37 $“tras"una"de"las"representaciones"(de"Erwin"Piscator)"en"el"Teatro"de"la"Nollenderfplatz"me"sentia"tan" entusiasmado"que"fui"a"buscarlo"a"los"camerinos."Inmediatamente"conectamos"en"nuetras"ideas"acerca"de"la" construcción"teatral"moderna."Discutimos"ampliamente"acerca"de"la"esencia"del"nuevo"teatro."El"concepto"clave"fue" “total"plexibilidad”."In"PRIETO$LOPEZ,$Juan$Ignacio$–$Teatro#Total:#la#arquitectura#teatral#de#la#vanguardia#europea# en#el#período#de#entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$doutoramento.$P.$ 169" 161$

# Figura#22/23#Carl$Fieger,$Primeira$fase$do$projeto$

$ Figura#24#Walter$Gropius:$Teatro$Total,$segunda$fase$

! Figura#25$Walter$Gropius:$Teatro$Total,$segunda$fase$

! 162$

Walter$Gropius$iniciou$os$seus$estudos$para$o$projeto$entre$12$de$Março$de$1927$e$já$em$20$de$Outubro$ do$ mesmo$ ano$ apresenta$ uma$ proposta$ definitiva.$ Gropius$ contou$ com$ a$ colaboração$ de$ Johann$ Neigeman,$Carl$Fieger$e$Stephan$Sebök.$

3.2.$Primeira$Fase$ $ A$ primeira$ fase$ do$ projeto$ foi$ desenvolvida$ na$ integra$ por$ Carl$ Fieger$ sob$ a$ influência$ do$ projeto$ Grosses" Schauspielhaus" de$ Poelzig.$ O$ plano$ consiste$ num$ palco$ circular$ com$ uma$ plateia$ instalada$ em$ plataformas$ rotativas$ e$ amovíveis,$ permitindo$ várias$ composições.$ Nesta$ fase,$ o$ projeto$ também$ mostra$ grande$ influência$ do$ projeto$ Wekbundtheater$ de$ Van$ de$ Velde,$ com$ uma$ cena$ tripartida$ sustentada$ por$ quatro$ pilares.$ A$ flexibilidade$ pretendida$ de$ Piscator$ é$ dada$ através$ da$ possibilidade$ de$ quatro$ áreas$ de$ atuação$ diferentes.$ Fieger$ esboça$ ainda$ uma$ volumetria$ exterior$ do$ teatro$com$um$volume$cilíndrico$e$quatro$caixas$de$escadas$também$circulares.$Nesta$fase$do$projeto$ são$ explorados$ as$ diferentes$ referências,$ mantendo$ elementos$ até$ à$ fase$ definitiva$ como:$ as$ volumetrias$curvas,$escadas$exteriores,$a$cobertura$e$o$acesso$ao$terraço,$fazendo$referência$ao$projeto$ de$Van$de$Velde$para$o$teatro$de$Weimar,$um$projeto$não$construído.$$ Nesta$fase$o$auditório$de$secção$ovar$tinha$maiores$dimensões$que$a$final$e$a$caixa$cénica$contava$com$ um$dispositivo$hidráulico$para$a$mudança$rápida$de$cenários.$

3.3.$Segunda$Fase$ $

Esta$ fase$ consiste$ em$ explorar$ as$ características$ principais$ do$ projeto$ e$ em$ definir$ a$ cena$ avançada$circular,$baseada$na$posição$da$orquestra$grega$clássica.$$ $ Para$a$configuração,$à"italiana,$com$o$proscénio,$é$proposto$uma$área$de$assentos$que$através$ de$um$sistema$rotativo$circular,$semelhante$à$proposta$de$Reinhardt,$permite$a$aproximação$da$plateia$ à$caixa$cénica$ou$à$utilização$de$uma$atuação$central.$Tirando$partido$das$figuras$geométricas,$elipse$e$ circunferência,$ o$ auditório$ desenhado$ permitia$ a$ total$ flexibilidade$ através$ de$ uma$ rotação$ mecânica$ assimétrica$ da$ plataforma$ circular.$ Este$ sistema$ oferece$ as$ três$ configurações$ clássicas$ do$ teatro$ ocidental:$a$arena$central$(círco),$a$caixa$cénica,$com$o$conceito$de$orquestra$grega$e$o$teatro$isabelino;$ ou$a$tipologia$italiana.$Os$assentos$eram$organizados$em$filas$concêntricas,$sem$estratificação$social,$$ $ $ 163$

#

Figura#26##

Figura#29##

#

##############Figura#27# #

#

#####Figura#30#

#

#

##################Figura#28

#

###########Figura#31#

# Figuras#26/27/28$Walter:$Bauersfeld:$Zeis$(Primeiro$Planetário)$1922$ Figuras#29/30/31$Stefan$Sebök:$Teatro$de$Dança,$Dresde,$1926$

$ $ $

$

164$

onde$ cada$ lugar$ possuía$ similares$ condições$ acústicas$ e$ visuais,$ com$ uma$ capacidade$ máxima$ de$ dois$ 38 mil$espetadores.$Este$projeto$foi$concebido$para$receber$qualquer$programa$performativo. $

3.4.$Terceira$Fase$ #

A$terceira$fase$consiste$na$integração$do$sistema$de$projeção,$muito$importante$para$as$peças$ de$Piscator.$ $ Em$ 1926,$ este$ projeto$ contava$ com,$ para$ além$ da$ colaboração$ profissional$ de$ diferentes$ nacionalidades,$a$participação$de$Stefan$Sebök$e$Farkas$Molnár,$antigos$alunos$da$Bauhaus.$Nesta$altura$ Sebök$ estava$ a$ desenvolver$ o$ projeto$ do$ Teatro$ de$ Dança,$ em$ Dresde,$ para$ a$ sua$ graduação$ na$ politécnica$ de$ Dresde.$ Outra$ contribuição$ importante$ para$ esta$ fase$ do$ projeto$ foi$ a$ participação$ de$ vários$ colaboradores$ do$ primeiro$ planetário,$ poucos$ anos$ antes.$ Este$ planetário$ contava$ com$ uma$ grande$ cúpula$ e$ várias$ projeções,$ uma$ tecnologia$ e$ engenharia$ de$ estrutura$ de$ triângulos$ metálica$ coberta$de$betão,$utilizada$como$referência$para$do$Teatro$Total.$ $ Assim$ sendo,$ Gropius$ e$ Sebök$ projetam$ o$ Teatro$ Piscator,$ como$ um$ único$ espaço$ elíptico,$ integrando$o$espaço$cénico$e$o$auditório,$circundado$por$doze$pilares$de$betão$armado,$e$uma$cúpula$ reticulada,$aberta$na$parte$superior.$O$projeto$de$engenharia,$por$parte$de$Sebök,$foi$evoluindo$até$que$ a$ cúpula$ chega$ à$ forma$ assimétrica,$ mais$ propícia$ às$ condições$ visuais$ do$ teatro.$ Os$ vãos$ recebiam$ projeções$ das$ caixas$ cinematográficas$ dispostas$ no$ perímetro$ do$ teatro,$ sobressaindo$ o$ plano$ da$ fachada$entre$os$volumes$de$“protuberantes”$das$caixas$de$escadas.$ $ Estas$ projeções$ contribuíram$ para$ a$ ativação$ da$ percepção$ do$ espetador,$ resultando$ na$ superação$ da$ visão$ unidirecional$ e$ focal$ do$ teatro$ clássico$ e$ do$ cinema,$ para$ a$ inclusão$ da$ quarta$ 39 dimensão$ espacial. $Uma$ tecnologia$ adaptada$ nos$ dias$ de$ hoje,$ como$ por$ exemplo,$ na$ cenografia$ da$ peça$de$Igor$Stravinsky,$O"pássaro"de"fogo,$na$reinterpretação$de$Fernando$Duarte$para$a$Companhia$ Nacional$de$Bailado,$onde$a$cenografia,$de$O"Cubo,"é$feita$através$de$imagens$projetadas$nas$paredes$ do$Teatro$Camões,$num$sistema$de$Vídeo"Mapping."

$

$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 38!PRIETO!LOPEZ,$Juan$Ignacio$–$Teatro#Total:#la#arquitectura#teatral#de#la#vanguardia#europea#en#el#período#de#

entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$doutoramento,$p.$171h175! 39!PRIETO$LOPEZ,$Juan$Ignacio$–$Teatro#Total:#la#arquitectura#teatral#de#la#vanguardia#europea#en#el#período#de# entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$doutoramento,$p.$175h179! 165$

! Figuras#32/33#Axonometria$e$vista$do$interior$Teatro$Total$configuração$à$italiana$com$proscénio$e$caixa$cénica#

! Figuras#34/35#Axonometria$e$vista$do$interior$Teatro$Total$configuração$em$arena$central$(circo)#

! Figuras#36/37#Axonometria$e$vista$do$interior$Teatro$Total$configuração$à$tetro$isabelino# 166$

$

3.5.$Quarta$Fase$

$ A$entrega$definitiva$do$projeto$incluía$uma$carta$representativa$e$três$plantas$que$mostram$as$ diferentes$configurações$do$espaço,$mais$esboços$e$perspetivas$do$interior$e$exterior.$A$secção$mostra$a$ estrutura$da$cúpula$triangulada,$apoiada$em$dez$pilares$de$betão.$Esta$cúpula$não$tinha$unicamente$a$ função$ de$ cobrimento$ como$ também$ de$ superfície$ projetável,$ um$ elemento$ flexível,$ adaptável$ à$ configuração$ do$ teatro.$ Por$ cima$ da$ cúpula$ é$ desenhado$ um$ cilindro$ independente$ portador$ dos$ elementos$técnicos$e$de$apoio$cénicos,$como$iluminação$e$acústica.$ $ No$ projeto,$ foi$ ainda$ desenhado$ um$ acesso$ de$ ligação$ entre$ a$ parte$ técnica$ da$ caixa$ cénica,$ instalada$ por$ cima$ do$ palco,$ e$ a$ zona$ superior$ da$ cena$ central,$ para$ dar$ apoio$ à$ arena.$ Esta$ ligação$ é$ delimitada$por$um$vidro,$permitindo$o$acesso$à$luz$do$dia$através$da$abertura$da$cúpula.$ $ O$interior$a$cúpula$é$ainda$usado$como$plano$de$projeção,$coberto$por$telas$brancas,$para$uma$ envolvente$virtual$ainda$mais$completa.$A$fachada$possuía$uma$pele$de$vidro$que$permitia$esta$relação$ entre$ o$ interior$ e$ o$ exterior,$ em$ analogia$ ao$ teatro$ grego$ que$ mantinha$ relação$ com$ a$ envolvente$ 40 natural$exterior. $ $ Nesta$descrição$do$projeto,$Gropius$substitui$o$nome$Teatro$Piscator$para$Teatro$Total,$como$ forma$ de$ uma$ melhor$ integrar$ o$ projeto$ à$ investigação$ realizada$ na$ Bauhaus$ durante$ os$ anos$ anteriores.$ Esta$ denominação$ devehse$ também$ à$ consciencialização$ de$ Gropius$ às$ respostas$ que$ este$ projeto$presentava,$este$não$só$resolvia$as$solicitações$de$Erwin$Piscator,$como$também$às$de$qualquer$ 41 diretor$cénico. $ $ Com$todas$estas$componentes,$o$projeto$passou$a$ser$uma$referência$obrigatória$da$vanguarda$ arquitectónica$teatral.$

$

$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 40

$PRIETO$LOPEZ,$Juan$Ignacio$–$Teatro#Total:#la#arquitectura#teatral#de#la#vanguardia#europea#en#el#período#de# entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$doutoramento,$p.$179h181! 41!PRIETO$LOPEZ,$Juan$Ignacio$–$Teatro#Total:#la#arquitectura#teatral#de#la#vanguardia#europea#en#el#período#de# entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$doutoramento,$p.$179h181! 167$

! Figura#38#Museu$de$Arte$São$Paulo$

# Figura#39$Disposição#dos$quadros$$$Figura#40$Proximidade$entre$arte$e$público$$Figura#41$Desenho$de$Lina$do$vão$

!

$$$$$$$$$$$$$ 168$

4.#Lina#Bo#Bardi:#MASP# Arquilina$ Bo$ (1914h1992)$ natural$ de$ Roma,$ estudou$ no$ liceu$ artístico$ Mamiani$ e$ licenciouhse$ em$ arquitetura$ na$ Escola$ Superior$ de$ Arquitetura,$ na$ mesma$ cidade.$ Lina$ mudahse$ para$ Milão$ em$ 1940,$ onde$ permanece$ por$ seis$ anos.$ Aqui$ associahse$ ao$ arquiteto$ Carlo$ Pagani$ realizando$ vários$ projetos$ e$ publicando$ inúmeros$ artigos$ para$ diversos$ periódicos$ italianos.$ Depois$ da$ destruição$ do$ escritório$ por$ um$bombardeamento,$ambos$assumem$a$vicehdireção$da$revista$Domus,$em$1944,$um$ano$mais$tarde$ fundam"Quaderni"di"Domus$e$criam,$com$Raffaele$Carrierri$e$Bruno$Zevi,$o$semanário$de$arquitetura.$Em$ 1946,$mudahse$para$o$Brasil$com$o$seu$marido$Pietro$Maria$Bardi,$diretor$artístico.$No$mesmo$sítio,$Lina$ associahse$ ao$ arquiteto$ Gancarlo$ Palanti$ e$ fundam$ o$ ateliê$ Studio$ d’Arte$ Palma,$ dedicandohse$ ao$ desenho$ industrial$ de$ mobiliário,$ onde$ realizam$ diversos$ projetos$ de$ interiores,$ estantes$ e$ lojas.$ Nos$ finais$de$1950,$funda$e$dirige$a$revista$Habitat,$com$Pietro$Maria$Bardi.$Constrói$o$seu$primeiro$projeto$ em$1950,$a$Casa"de"Vidro,"a$sua$residência.$Entre$1955$e$1957,$leciona$a$disciplina$Teoria"da"Arquitetura" na$ Faculdade$ de$ Arquitetura$ da$ Universidade$ de$ São$ Paulo.$ Escreve$ a$ sua$ tese$ Contribuição" Propedêutico,"em$1957.$Em$1958$é$convidada$a$fundar$e$dirigir$o$Museu$de$Arte$Moderna$da$Bahia.$No$ mesmo$ano$vai$viver$para$Salvador$onde$também$é$convidada$a$lecionar$o$curso$ Teoria"e"Filosofia"da" Arquitetura$na$Universidade$Federal$da$Bahia.$Escreve$crónicas$com$vários$artistas$no$semanário$Diário" de" Notícias" de" Salvador.$ Realiza$ vários$ cenários$ para$ peças$ de$ teatro$ dirigidas$ por$ Martim$ Gonçalves$ com$quem,$em$1959,$organiza$a$exposição$no$Ibirapuera,"na$V$Bienal$de$Arte$de$São$Paulo.$Em$1964,$ volta$para$São$Paulo$devido$ao$golpe$militar$no$Salvador.$Entre$1966$e$1968$retoma$e$finaliza$o$projeto$ MASP.$ Entre$ 1968$ e$ 1977$ dedicahse$ basicamente$ à$ cenografia$ de$ teatro$ e$ cinema.$ Organiza$ duas$ grandes$exposições:$A"mão"do"povo"brasileiro"(1969)"e"Repassos"(1975)."Em$1977,"projeta$o$centro$de$ lazer$SESC$Fábrica$Pompeia$e$a$capela$Santa$Maria$dos$Anjos,$um$ano$mais$tarde.$Entre$1982$e$1984,$ projeta$ o$ bloco$ desportivo$ e$ dirige$ o$ centro$ de$ lazer$ SESC$ Fábrica$ Pompeia,$ organizando$ diversas$ exposições$ no$ local.$ Em$ 1985,$ realiza$ cenografia$ e$ figuração$ e$ o$ projeto$ de$ restauração$ do$ teatro$ Politheama" Jundiaí.$ Realiza$ vários$ projetos$ de$ arquitetura$ entre$ os$ quais$ recuperações$ de$ teatros$ e$ participa$ no$ concurso$ para$ o$ Centro$ Cultural$ de$ Belém,$ em$ Lisboa.$ Em$ 1991,$ recebe$ o$ Prémio$ Latino$ Americano$IV$Bienal$de$Arquitetura$de$Buenos$Aires.$Falece$no$dia$20$de$março$de$1992,$vítima$de$uma$ 42 embolia$pulmonar. $ $ $

$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 42!OLIVEIRA,$Olivia$de$–$Lina#Bo#Bardi:#obra#construída.$São$Paulo:$Editora$G.$Gili,$Lta,$2014,$p.$206$

169$

$

$

170$

É$perceptível$através$da$biografia$e$dos$projetos$de$Lina$Bo$Bardi,$a$presença$de$várias$áreas$ artísticas$ na$ sua$ carreira.$ Lina,$ tal$ como$ Gropius,$ tira$ partido$ de$ outras$ áreas$ artísticas,$ que$ não$ arquitetura,$para$melhor$informar$o$projeto.$$ Lina,$ tal$ como$ Gropius,$ procurou$ desenvolver$ um$ espaço$ cénico$ mais$ adequado$ à$ contemporaneidade$ através$ do$ estudo$ do$ corpo$ na$ dança.$ À$ semelhança$ da$ transposição$ do$ trabalho$ de$ Schlemmer$ para$ o$ projeto$ Teatro" Total,$ o$ auditório$ do$ projeto$ Museu" de" Arte" de" São$ Paulo,$ Lina$ 43 materializa$ os$ conceitos$ transmitidos$ no$ trabalho$ Espaços" rítmicos$ de$ Adolphe$ Appia $e$ Jacquesh 44 Dalcroze .$

4.1.$Museu$de$Arte$São$Paulo$ $ O$ Museu$ de$ Arte$ São$ Paulo$ situahse$ num$ ponto$ privilegiado$ da$ cidade,$ num$ cruzamento$ de$ dois$eixos.$O$terreno$era$um$antigo$parque$com$um$belveder,$doado$na$condição$de$não$ser$construído$ nada$que$retirahse$aquele$vazio$à$cidade.$Lina$nestas$condições$construiu$um$edifício$em$duas$partes:$ uma$elevada,$cristalina;$e$outra$semienterrada,$mantendo$um$grande$vazio$entre$os$dois$que$resultou$ num$ terceiro$ elemento,$ muito$ importante$ no$ projeto.$ Este$ é$ um$ projeto$ onde$ Lina$ Bo$ Bardi$ ilustra$ muito$bem$as$suas$crenças$políticas,$tanto$no$desenho$desta$praça,$servindo$de$lugar$para$encontros,$ troca,$ Ágora$democrática,$espaço$aberto$a$manifestações$de$diferentes$tipos,$concentrações$políticas,$ performances$ ou$ espaço$ de$ lazer;$ como$ no$ desenho$ do$ auditório$ contemporâneo,$ sem$ estratificação$ social$e$grande$proximidade$entre$ator/espetador.$Lina$fala$ainda$deste$vazio$como$uma$analogia$a$um$ intervalo$ silencioso$ da$ música$ de$ John$ Cage.$ O$ único$ espaço$ livre$ da$ rua$ muito$ verticalizada$ a$ que$ se$ integra.$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 43

$Adolphe$ Appia$ (1862h1928)$ cenógrafo$ suíço,$ pioneiro$ das$ técnicas$ modernas$ na$ cenografia$ e$ iluminação.$ Biografías# y# vidas.# Nícolás# Copérnico$ [em$ linha].$ Espanha:$ 2015.$ [consult.$ 2015h08h25].$ Disponível$ na$ Internet:! http://www.biografiasyvidas.com/biografia/a/appia.htm$ 44 $Émile$JacqueshDalcroze$(1865h1950)$músico$suíço,$criador$do$Método$Eurhythmics,"combinado$os$movimentos$ corporais$para$o$estudo$do$rítmico.$In"Institut#JaquesFDalcroze$[em$linha].$Suíça:$2015.$[consult.$2015h08h25].$ Disponível$na$Internet:!http://www.dalcroze.ch/emileIjaquesIdalcrozeIquiIest/" 171$

! Figura#42#Vista$para$o$palco$principal$

! Figura#43#Planta$Auditório# 172$

O$ projeto$ é$ descrito$ por$ Pietro$ Maria$ Bardi,$ fundador$ do$ museu,$ como$ “um$ museu$ fora$ de$ limites”.$ Este$ é$ fora$ dos$ limites$ tanto$ nas$ suas$ dimensões,$ como$ por$ toda$ a$ sua$ concepção.$ A$ parte$ elevada$ é$ constituída$ por$ uma$ caixa$ de$ 70$ metros$ de$ comprimento,$ 29$ de$ largura$ e$ 14$ de$ altura,$ suspenso$a$8$metros$de$altura$da$praça,$suportada$por$4$pilares$de$betão$de$cor$vermelho$nas$laterais,$ suportando$a$caixa$através$da$continuação$deste$elementos$como$vigas$na$parte$superior$(figura$38).$O$ programa$ desenrolahse$ em$ cinco$ espaços:$ a$ caixa$ de$ vidro$ suspensa,$ portadora$ do$ museu$ e$ administração;$a$parte$inferior$(semienterrada)$com$o$belveder,$o$teatro$e$o$hall$cívico.$ Para$ este$ projeto,$ as$ ideias$ de$ Lina$ sobre$ a$ relação$ entre$ a$ arte$ e$ os$ espetadores$ são$ muito$ claras,$ tanto$ na$ forma$ expositiva$ das$ obras$ de$ arte$ como$ no$ auditório.$ Os$ quadros$ são$ expostos$ de$ forma$ a$ não$ haver$ hierarquias,$ protagonismos$ ou$ legendas,$ as$ obras$ de$ arte$ são$ colocadas$ suspensas$ entre$ as$ pessoas$ para$ que$ sejam$ apreciadas$ de$ igual$ forma.$ Assim$ é$ proporcionada$ uma$ maior$ proximidade$ entre$ a$ arte$ e$ o$ público,$ resultando$ num$ reconhecimento$ das$ obras$ como$ objetos$ do$ quotidiano,$havendo$um$maior$entendimento$e$identificação.$Este$tratamento$democrático$é$também$ levado$ para$ o$ auditório$ (como$ será$ aprofundado$ mais$ á$ frente)$ com$ a$ procura$ da$ proximidade$ entre$ artistas$e$público$através$da$partilha$do$mesmo$espaço,$abandonando$por$completo$a$tipologia$clássica,$ à"italiana.$$ O$teatro,$tal$como$a$praça,$é$outro$dos$espaços$principais$do$museu,$este$conta$com$36$metros$ de$ comprimento$ e$ 18$ metros$ de$ largura.$ O$ espaço$ de$ cena$ é$ marcado$ com$ uma$ elevação$ de$ três$ degraus,$ com$ 13$ metros$ de$ profundidade,$ 18$ metros$ de$ altura$ e$ ocupa$ toda$ a$ largura$ do$ recinto,$ estendendohse$pelas$laterais$em$forma$de$braços$ (figura$42$e$43).$Estas$passerelles,$de$2.5$metros$de$ largura$e$18$de$comprimento,$possuem$a$mesma$altura$que$o$palco,$a$0.6$metros$do$restante$espaço$ dedicado$ao$público,$ligeiramente$inclinado.$Estas$passerelles,$constituídas$por$plataformas$em$escada,$ dão$uma$configuração$em$“U”$ao$espaço$cénico,$envolvendo$o$público.$Esta$configuração$de$auditório$ dá$ liberdade$ às$ diferentes$ configurações$ de$ cena,$ frontal,$ lateral$ ou$ ao$ centro,$ fazendo$ referência$ ao$ projeto$Teatro"Total$de$Walter$Gropius.$

173$

! ! !

! Figura#44#Desenhos$de$Lina$das$várias$configurações$do$auditório$

$ $

$

174$

Na$ figura$ 44,$ Lina$ explora$ e$ representa$ nos$ seus$ desenhos$ as$ possibilidades,$ a$ configuração$ contraposta,$em$que$os$atores$ocupam$o$palco$e$as$passerelles,$deixando$ao$público$o$grande$retângulo$ central;$ ou$ a$ configuração$ de$ arena,$ em$ que$ os$ artistas$ ocupam$ a$ zona$ central$ com$ o$ público$ ao$ seu$ redor,$ ou$ ainda,$ no$ desenho$ em$ que$ Lina$ denomina$ “3/4$ arena”,$ constituindo$ as$ duas$ opções$ em$ simultâneo.$Observando$os$elementos$configurativos$do$espaço$cénico$é$possível$estabelecer$relações$ com$ os$ cenários$ de$ Adolphe$ Appia,$ mais$ concretamente$ o$ ato$ 3$ de$ Orfeu$ e$ Eurídice,$ e$ os$ projetos$ Espaços"Rítmicos,$desenvolvidos$com$o$músico,$Jacques$Dalcroze.$$$

4.2.$Espaços"Rítmicos,$JacqueshDalcoze$e$Adolphe$Appia$ Appia$ revolucionou$ o$ espaço$ cénico,$ tendo$ como$ ponto$ de$ partida$ o$ conceito$ wagneriano,$ Gesamtkunstwerk,$ anteriormente$ apresentado,$ colocandoho$ em$ prática$ na$ sua$ nova$ proposta$ cenográfica$para$a$ópera$de$Wagner,$O"Parsifal,$em$1896.$ À$semelhança$do$simbolismo$que$Schlemmer$procurava$no$corpo$humano,$Appia$utilizou$este$ recurso$ como$ método$ de$ abstração$ e$ simplificação,$ utilizando$ uma$ frase$ do$ personagem$ Gurnemanz,$ um$dos$principais$cavaleiros$do$Graal,$da$obra$de$Wagner,$que$mencionava$«tempo$é$transformado$em$ espaço»,$e$utiliza$como$base$do$seu$trabalho$cenográfico.$ $ Appia$ projeta$ um$ espaço$ tridimensional$ onde$ o$ ator,$ de$ forma$ natural,$ pudesse$ expressar$ e$ representar$ através$ do$ recurso$ da$ cena,$ interagindo$ com$ esta.$ Esta$ proposta$ não$ só$ surgiu$ como$ renovação$da$cenografia$do$drama$wagneriano,$originalmente$com$pinturas$de$florestas,$como$também$ reformulou$profundamente$a$arte$da$cena,$apresentando$uma$solução$para$o$problema$do$realismo$do$ teatro.$Appia$fazendo$parte$do$movimento$simbolista,$preconizador$do$abandono$total$do$naturalismo,$ procurava$a$abstração$e$o$mundo$irreal.$Defensor$que$a"metáfora"diz"sempre"mais"que"a"realidade,$este$ recusava$a$figuração$da$realidade,$apresentadas$até$então,$que$levavam$à$caricatura$desta.$Para$Appia,$ o$ homem,$ ator,$ era$ o$ centro$ de$ toda$ a$ ação$ e$ essa$ era$ a$ única$ realidade$ que$ deveria$ ser$ tomada$ em$ conta.$ O$ ator$ é$ tomado$ como$ portador$ de$ toda$ a$ ação$ dramática$ e$ é$ dele$ que$ vem$ a$ expressão$ procurada$pelos$espetadores,$refletindohse$na$identificação$e$proximidade$entre$ator$e$espetador.$ Appia$estabeleceu$assim$uma$nova$hierarquia$no$teatro,$em$primeiro$lugar,$o$ator,$em$seguida$ a$cenografia,$e$só$depois$a$iluminação.$$ $

175$

$ Figura#45#Cenografia$de$Appia$

! Figura#46#Transposição$da$cenografia$de$Appia$no$espaço$cénico# 176$

O$ator$deveria$ser$possuidor$de$toda$a$concentração$dos$espetadores,$para$tal$o$espaço$cénico$ é$trabalhado$de$forma$a$alcançar$a$perfeita$harmonia$com$o$ator,$participando$com$um$corpo$plástico$e$ acentuador$da$ação.$Appia$constata$que$para$a$completa$expressão$do$corpo$humano,$são$necessárias$ certas$ resistências$ que$ devem$ ser$ ordenadas$ em$ volumes$ e$ planos$ de$ contraste,$ resultando$ na$ geometrização$ dos$ cenários.$ Nestes$ são$ aplicadas$ linhas$ retas,$ verticais,$ horizontais,$ oblíquas,$ praticáveis$ e$ escadas.$ A$ iluminação,$ embora$ sem$ recurso$ à$ eletricidade,$ é$ usada$ como$ elemento$ gerador$de$vida$no$espaço.$Appia$utilizaha$como$forma$de$sugerir$e$evocar$uma$natureza,$aproximandoh se$da$música,$através$da$criação$de$atmosferas$e$ambiente$de$formas$subjetivas.$ Em$ 1906,$ Appia$ leva$ o$ conceito$ de$ Arte" Total$ de$ Wagner$ mais$ longe$ realizando$ uma$ síntese$ entre$a$arte$musical$e$o$corpo$vivo$do$ator,$em$parceria$com$o$suíço$Émile$JacqueshDalcroze.$A$criação$ dos$ Espaços" Rítmicos,$ é$ o$ trabalho$ que$ melhor$ reúne$ os$ seus$ conceitos$ e$ complementa$ o$ estudo$ do$ corpo$em$movimento,$tornandohse$referência$para$o$projeto$de$Lina.$ Este$ trabalho,$ Espaços" Rítmicos,$ consiste$ na$ projeção$ de$ uma$ série$ de$ espaços$ cénicos$ que$ integram$a$dança$e$o$ritmo,$apreendidos$através$do$trabalho$de$Dalcroze,$Eurritmia.$Este$consistia$num$ método$ de$ ensinar$ o$ ritmo$ musical$ por$ meio$ de$ movimentos$ corporais$ da$ dança:$ “...O" objetivo" " dos" nossos" métodos" rítmicos" é" fazer" os" alunos" tomarem" consciência" das" suas" faculdades" e" colocáIlas" em" 45 posse"dos"seus"ritmos"físicos"e"naturais.” "" Esta$relação$resultou$na$compreensão$da$variação$de$ritmo$ao$percorrer$diferentes$elementos$ arquitectónicos,$como$escadas,$plataformas$e$rampas.$Este$estudo,$do$espaço$vivo,$fez$nascer$premissas$ para$ a$ projeção$ do$ cenário$ tridimensional$ de$ Appia,$ um$ espaço$ percorrível$ pelo$ ator$ (figuras$ 45),$ baseado$ em$ plataformas,$ rampas,$ esteiras,$ cortinas,$ e$ pilares$ de$ diferentes$ alturas,$ proporcionando$ uma$variação$de$ritmos$e$movimentos.$ O$ músico$ e$ o$ cenógrafo,$ trabalhando$ juntos,$ refletem$ sobre$ a$ criação$ de$ uma$ cenografia$ apropriada$ para$ os$ exercícios$ de$ ginástica$ rítmica,$ ensinada$ por$ Dalcroze.$ É$ neste$ seguimento$ que$ Appia,$ entre$ 1909$ e$ 1910,$ desenvolve$ os$ seus$ desenhos$ para$ Espaços" Rítmicos.$ Na$ série$ dos$ seus$ trabalhos$ é$ possível$ observar$ a$ importância$ que$ o$ autor$ dá$ à$ escada,$ como$ elemento$ mais$ completo$ constituído$ por$ linhas$ verticais$ e$ horizontais,$ provocando$ um$ movimento$ diagonal.$ Este$ é$ o$ elemento$ indicado$ para$ marcar$ inflexivelmente$ o$ ritmo$ do$ movimento$ corporal$ realizado$ pelos$ bailarinos,$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 45

$“...El$objetivo$de$nuestros$métodos$de$rítmica$es$hacer$consciente$al$alumno$de$sus$facultades,$y$ponerle$en$ posesión$de$sus$ritmos$físicos$y$naturales...”$In"PERESSOTTI,$Magdalena$–$Una#casa#a#la#vista.$Catalunha:$ Universidade$Politécnica$de$Catalunya,$2009.$P.$29# 177$

ginastas$ e$ músicos.$ A$ escada$ na$ cenografia$ tornahse$ assim$ como$ parte$ constituinte$ da$ coreografia$ do$ autor.$ No$ ensaio,$ «a$ arte$ é$ uma$ atualidade»,$ Appia$ afirma:$ “...Quebramos" as" barreiras" em" pedaços," superamos" num" passo," as" escadas" que" nos" separavam" da" cena," descendo" sem" hesitar" a" arena”." Esta$ afirmação$parece$ser$totalmente$transposta$para$o$desenho$anteriormente$apresentado$de$Lina$(figura$ 46).$Embora$de$uma$forma$metafórica,$a$ideia$está$presente,$com$rampas$que$levam$os$atores$ao$centro$ da$ arena,$ onde$ poderiam$ estar$ os$ espetadores,$ ou$ vicehversa.$ O$ auditório$ tornahse$ assim$ num$ espaço$ totalmente$flexível,$quebrando$barreiras$e$conquistando$uma$maior$proximidade$entre$ator/espetador.$ A$aplicação$dos$conceitos$da$dupla,$Appia$e$Dalcroze,$é$aplicada$na$obra$construída.$Apesar$do$ ajuste$ de$ escala,$ os$ elementos$ utilizados$ na$ cena$ do$ segundo$ ato$ de$ Orfeu" e" Euridice," no$ “Instituto$ Dalcroze”,$ estão$ presentes$ no$ espaço$ de$ cena$ do$ teatro$ de$ Lina.$ As$ escadas,$ em$ frente$ de$ cena,$ e$ as$ rampas/escadas$ nas$ passerelles$ laterais$ constituem$ o$ espaço$ rítmico$ do$ Museu,$ aliando$ cenografia$ e$ espaço$cénico.$ Lina$ Bo$ Bardi,$ na$ sua$ conferência$ “Arquitetura$ como$ movimento.$ Nota$ sobre$ a$ síntese$ das$ artes”$apresenta$a$relação$que$estabelece$entre$a$arquitetura$e$o$movimento:$ ...A"arquitetura"é"criada,"«inventada"de"novo»"por"cada"homem"que"por"ela"ande,"que"percorra"o" espaço," subindo" uma" escada," ou" descansando" sobre" uma" guarda," levantando" a" cabeça" para" observar," abrir," fechar" uma" porta," sentarIse" ou" levantarIse" e" criar" um" contacto" íntimo" e" ao" mesmo"tempo"criar"«formas»"no"espaço;"o"ritual"primogénito"do"qual"nasceu"a"dança,"primeira" expressão" do" que" será" a" arte" dramática."Esse"contacto"íntimo,"ardente"que"era"percebido"pelo" homem" no" começo," é" hoje" evitado." A" rotina" e" os" lugares" comuns" fizeram" com" que" o" homem" esquecesse" a" beleza" na" naturalidade" do" «moverIse" no" espaço»," do" movimento" consciente," dos" mesmos"gestos,"da"menor"atitude…O"homem"perdeu"o"sentido"da"harmonia"interior,"estranho"no" 46 mundo" criado" pelas" situações" que" deixaram" as" suas" mãos… "(...)" A" ver" de" «grosso" modo»" a"

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 46

$“..."La"arquitectura"es"creada,"“inventada"de"nuevo”,"por"cada"hombre"que"anda"en"ella,"que"recorre"el"espacio"," subiendo"una"escalera","o"descansando"sobre"una"balaustrada","levantando"la"cabeza"para"mirar,"abrir,"cerrar"una" puerta,"sentarse"o"levantarse"y"tomar"un"contacto"intimo"y"al"mismo"tiempo"crear"“formas”"en"el"espacio";"el"ritual" primigenio"del"cual"nació"la"danza","primera"expresión"de"lo"que"será"el"arte"dramático"Ese"contacto"intimo,"ardiente" que"era"percibido"por"el"hombre"en"el"comienzo"es"hoy"olvidado"."La"rutina"y"los"lugares"comunes"hicieron"olvidar"al" hombre"de"la"belleza"natural"de"su"“moverse"en"el"espacio”","de"su"movimiento"consciente,"de"los"mínimos"gestos,"de" la"menor"actitud...."El"hombre"perdió"el"sentido"de"la"armonía"interior,"extraño"en"un"mundo"creado"por"el"las" situaciones"se"fueron"de"sus"manos”"In"In"PERESSOTTI,$Magdalena$–$Una#casa#a#la#vista.$Catalunha:$Universidade$ Politécnica$de$Catalunya,$2009.$P.31$ 178$

sensibilidade"viva,"cancelou"a"vida:"subir"a"escada,"levantar"a"cabeça"para" observar"uma"forma," baixaIla," não" é" mais" um" gesto" consciente" de" uma" rotina" que" já" não" desperta" a" maravilha" e" a" 47 felicidade"no"homem. "

Neste$discurso$é$perceptível$a$sua$visão$sobre$as$ações$do$homem$no$quotidiano,$como$uma$ coreografia$ repetida$ na$ rotina.$ Como$ uma$ dança$ coreografada$ pela$ arquitetura,$ cheia$ de$ ritmos$ e$ sensações.$É$ainda$apresentado$no$discurso$uma$crítica$ à$ sociedade$ moderna$ quando$ Lina$ refere$ que$ moveIse" no" espaço" mas" sem" sentido" de" harmonia" interior," numa" situação" que" deixaram" de" estar" nas" suas"mãos,$pode$ser$interpretada$pela$forma$como$a$autora$vê$a$vida$do$homem$moderno,$que$depois$ da$revolução$industrial$adopta$uma$rotina$num$ritmo$alucinante$que$os$faz$perder$a$sensibilidade$para$a$ apreciarem$e$viverem$o$espaço."

" $

#

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 47

$“El"ver"“grosso"modo”"ahogó"la"sensibilidad"viva,"canceló"la"vida;"subir"una"escalera,"levantar"la"cabeza"para"mirar" una"forma,"bajarla,"no"son"más"que"gestos"conscientes"de"una"rutina"que"ya"no"despierta"la"maravilla"y"la"felicidad" en"el"hombre”"In""In"PERESSOTTI,$Magdalena$–$Una#casa#a#la#vista.$Catalunha:$Universidade$Politécnica$de$ Catalunya,$2009.$P.31$ $ 179$

#

! ! ! ! ! # # # # # # # #

! ! # #

Figura#47#Lina$Bo$Bardi,$estudo$do$teatro$20.000$ $$Figura#48#Lina$Bo$Bardi,$estudo$do$teatro$20.000$

$ $

$

180$

Lina$ Bo$ Bardi$ mostra$ o$ estudo$ de$ auditórios$ contemporâneos,$ nomeados$ de$ totais,$ sem$ separação$ entre$ palco$ e$ plateia.$ Durante$ as$ suas$ aulas$ de$ Teoria$ da$ Arquitetura,$ Lina$ apresenta$ uma$ análise$ do$ projeto$ do$ engenheiro$ Ciocca$ Gaetano,$ para$ o$ Teatro$ dos$ 20.000,$ em$ 1934.$ Esta$ análise$ apresenta$muitas$semelhanças$ao$Teatro$Total$de$Gropius,$igualmente$com$uma$grande$flexibilidade$de$ espaço$através$de$um$sistema$de$rotação.$ Seguindo$ a$ mesma$ estrutura,$ o$ próximo$ capítulo$ apresenta$ uma$ pequena$ biografia$ de$ João$ Mendes$ Ribeiro,$ seguido$ de$ uma$ pequena$ análise$ da$ sua$ cenografia$ Pedro" e" Inês," e$ da$ black$ box$ do$ projeto$Arquipélago,$Centro$de$Artes$Contemporâneas,$que$resulta$de$uma$síntese$de$vários$princípios$ fulcrais$das$maiores$referências$das$artes$performativas.$ $ $

#

#

181$

#

#

182$

5.$João$Mendes$Ribeiro:$Arquipélago$h$Centro$de$Artes$Contemporâneas$ $ João$ Mendes$ Ribeiro$ (1960),$ natural$ de$ Coimbra,$ licenciouhse$ na$ Faculdade$ de$ Arquitetura$ da$ Universidade$ do$ Porto,$ onde$ iniciou$ a$ sua$ carreira$ de$ docente$ entre$ 1989$ e$ 1991.$É$docente$da$disciplina$de$Projeto,$no$Departamento$de$Arquitetura$da$Universidade$de$ Coimbra$ desde$ 1991.$ Entre$ 1991$ e$ 1998$ foi$ assistente$ do$ Professor$ Arquiteto$ Fernando$ Távora.$ É$ membro$ da$ Companhia$ de$ Teatro$ A" Escola" da" Noite.$ Participou$ em$ inúmeras$ exposições$nacionais$e$internacionais,$entre$as$quais$se$destacam$a$Representação$Portuguesa$ na$9ª$e$10ª$Mostra$Internacional$da$Arquitetura$da$Bienal$de$Veneza,$em$2004$e$2006.$O$seu$ trabalho$ foi$ objeto$ de$ várias$ publicações$ e$ foi$ reconhecido$ com$ diversos$ prémios,$ entre$ os$ quais$se$destacam$os$Prémios$Architécti$1997$e$2000,$Lisboa,$o$Prémio$Diogo$de$Castilho$2003,$ Coimbra,$ o$ Premis$ FAD$ 2004,$ Barcelona,$ Highly$ Commended,$ AR$ Award$ for$ Emerging$ Architecture,$ 2000,$ Londres,$ e$ a$ nomeação$ para$ o$ European$ Union$ Prize$ for$ Contemporary$ Architecture$–$Mies$van$der$Rohe$Award$2001$e$2005,$Barcelona.$Foi$finalista$da$II$e$IV$Bienal$ Iberoamericana$ de$ Arquitetura$ e$ Engenharia$ Civil,$ 2000$ e$ 2004,$ Cidade$ do$ México$ e$ Lima,$ e$ dos$ Premis$ FAD$ 1999,$ 2001,$ 2002,$ 2004$ e$ 2006,$ Barcelona.$ Em$ 2006,$ foi$ distinguido$ pela$ Presidência$da$República$Portuguesa$com$a$Comenda$da$Ordem$do$Infante$D.Henrique.48$ $

$

$

#

#

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 48!RIBEIRO,$ João$ Mendes;$ GRAELS,$ Antoni$ Ramon;$ TÉRCIO,$ Daniel;$ QUADRIO,$ MiguelhPedro;$ RORIZ,$ Olga;$ PAIS,$

Ricardo$–$Arquitecturas#em#palco.#Coimbra:$Almedina,$2007,$p.$197$ 183$

$

$ Figura#49/50#Cenografia$Pedro"e"Inês,"Companhia$Nacional$de$Bailado$

184$

5.1.#Cenografia:#Pedro#e#Inês#

$

A$ carreira$ de$ João$ Mendes$ Ribeiro$ tem$ incidido$ no$ campo$ da$ arquitetura$ e$ cenografia,$ duas$ áreas$artísticas$que$conjuga$diariamente.$“Tal"como"Lina"Bo"Bardi,"mais"do"que"cenógrafo,"sintoIme"um" «arquitecto" de" cena»." É" facilmente" reconhecível" nos" meus" trabalhos" de" cenografia," a" dominância" do" 49 gesto"arquitectónico.” "João$utiliza$o$trabalho$de$cenografia,$por$ser$um$campo$mais$desligado$de$uma$ funcionalidade$do$quotidiano,$como$um$campo$experimental$para$a$arquitetura.$ "A" linha" conceptual" que" preside" os" diversos" projetos" de" cenografia" procura" refletir" o" espírito" contemporâneo" de" hibridação" e" experimentalismo," as" questões" de" efemeridade" e" transformação," assim" como" o" cruzamento" de" matérias" ou" conhecimentos" provenientes" de" 50 diferentes"áreas"disciplinares. "

$

Com$ o$ surgimento$ da$ dança$ contemporânea,$ os$ temas$ abordados$ deixaram$ as$ fantasias$ e$ começaram$por$tratar$de$assuntos$reais,$do$homem,$permitindo$um$maior$cruzamento$entre$disciplinas,$ com$ recurso$ à$ abstração$ e$ a$ simbolismos,$ ou$ seja,$ uma$ maior$ racionalidade.$ Esta$ abertura$ permitiu$ a$ integração$de$espaços$vivenciais$em$palco.$ "Na"tradição"de"Appia"e"Wagner"ou"dos"precursores"da"Bauhaus,"trataIse"de"acrescentar"um"novo" sentido" e" reinterpretação" formalmente" o" princípio" da" «Gesamtkunstwerk»," informado" agora," transcorrido"quase"um"século,"pelos"postulados"plásticos"das"neovanguardas,"pela"reformulação" dos"meios"de"expressão"artística"a"partir"dos"anos"60"ou"pela"preponderância"actual"do"corpo"na" sua" dimensão" não" apenas" material" ou" biomecânica," mas" também" metafórica" como" entidade" 51 existencial"e"politicamente"significante. "

$ Esta$evolução$permite$uma$maior$identificação$e$proximidade$entre$espetador$e$cena$através$ da$utilização$de$objetos$cénicos$facilmente$reconhecíveis$do$quotidiano.$ $ Na$ peça$ Pedro" e" Inês,$ de$ Olga$ Roriz$ para$ a$ Companhia$ Nacional$ de$ Bailado,$ a$ cenografia$ de$ João$ Mendes$ Ribeiro$ vai$ de$ encontro$ com$ estas$ ideias,$ atribuindo$ características$ comuns$ do$ seu$ trabalho$como$arquiteto,$como$subtileza,$minimalismo$e$essencialidade.$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 49

$RIBEIRO,$João$Mendes$–$Entrevista#João#Mendes#Ribeiro.$Arquitectura&Construção,$ed.$Lisboa.$2009,$Vol.$56,$pp.$ 78.$ 50 $RIBEIRO,$João$Mendes$–$Entrevista#João#Mendes#Ribeiro.$Arquitectura&Construção,$ed.$Lisboa.$2009,$Vol.$56,$pp.$ 77.! 51 $RIBEIRO,$João$Mendes$–$Entrevista#João#Mendes#Ribeiro.$Arquitectura&Construção,$ed.$Lisboa.$2009,$Vol.$56,$pp.$ 77.$ 185$

$ Esta$ cenografia$ tratahse$ de$ um$ praticável,$ um$ plano$ horizontal$ inserido$ num$ palco$ despido,$ num$palco$onde$são$visíveis$todos$os$mecanismos,$projetores$e$portas$de$entrada$dos$artistas.$Toda$a$ atenção$está$sobre$este$plano$que$à$partida$não$revela$nada,$tratahse$apenas$de$um$simples$objeto$à$ espera$de$ser$acionado$pelo$corpo.$Este$é$o$elemento$que$contém$todo$a$matéria$para$a$narrativa$e$o$$ mistério$inerente$às$artes$cénicas.$“A"concepção"de"cenários"dinâmicos,"multiformes"e"multioperativos" vai" ao" encontro" do" modelo" «action" design»" e" das" premissas" de" Jaroslav" Malina," segundo" as" quais" a" 52 cenografia"dá"forma"à"acção"dramática"e"funciona"como"o"motor"da"evolução"de"todo"o"espetáculo.” "À$ medida$que$a$narrativa$se$vai$desenrolando,$as$várias$componentes$vão$sendo$reveladas,$a$cenografia$é$ ativada$e$responde$à$ação$do$corpo,$sublinhando$gestos$e$movimentos$da$dança.$$

! Figura#51#Cenografia$Pedro"e"Inês,"Companhia$Nacional$de$Bailado$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 52

$RIBEIRO,$João$Mendes$–$Entrevista#João#Mendes#Ribeiro.Arquitectura&Construção,$ed.$Lisboa.$2009,$Vol.$56,$pp.$ 77.$ 186$

$ É$no$tanque$de$água$que$os$corpos$se$tornam$mais$expressivos$e$o$espaço$de$cena$transborda,$ projetando$ o$ espaço$ da$ ação$ para$ fora$ do$ limite$ desenhado$ pelo$ praticável,$ resultando$ num$ dos$ momentos$mais$intensos$da$ação.$Esta$ação$é$repetida$numa$outra$cena$de$grande$dramatismo,$desta$ vez$com$o$elemento$da$terra$que$dá$ênfase$aos$gestos$e$reforça$o$drama$da$ação.$ $ Outro$elemento$de$enorme$relevância$nesta$cenografia$é$o$tempo,$o$tempo$real$e$o$tempo$da$ ação.$O$tempo$da$ação,$manipulado$para$a$narrativa,$essencial$nas$artes$performativas,$é$dado$com$o$ desenrolar$ da$ ação$ e$ revelação$ da$ cenografia.$ Já$ o$ tempo$ real$ está$ presente$ no$ som,$ no$ corrimento$ constante$ da$ água.$ Esta$ presença,$ conjugada$ com$ a$ sonoplastia$ da$ peça,$ não$ só$ transporta$ consigo$ a$ componente$simbólica,$como$também$consciencializa$o$público.$Esta$noção$de$tempo$real$na$peça,$faz$ com$ que$ o$ público$ não$ se$ abstraia$ completamente$ do$ seu$ corpo$ e$ da$ realidade,$ resultando$ de$ certo$ modo,$numa$maior$aproximação$do$público$à$cena.$

$

O$ trabalho$ de$ João$ Mendes$ Ribeiro,$ tanto$ na$ cenografia$ como$ na$ arquitetura,$ constitui$ um$ trabalho$de$grande$síntese,$um$pouco$como$herança$da$Escola$do$Porto.$$ A"utilização"de"formas"simples,"contidas"e"de"rigor"geométrico,"a"tendência"para"a"redução"dos" elementos"ao"essencial,"a"procura"da"unidade"e"vontade"de"conseguir"o"máximo"de"tensão"com" os"mínimos"meios"formais"aleado"à"racionalidade"dos"processos"de"construção"e"sistematização" 53 de"materiais"(...) "

" Estes$ são$ os$ princípios$ que$ mais$ caracterizam$ o$ trabalho$ do$ arquiteto,$ tanto$ na$ arquitetura$ como$ na$ cenografia.$ É$ no$ campo$ na$ cenografia$ que$ o$ arquiteto$ parece$ estimular$ um$ produção$ de$ enfoque$ sensível$ e$ poético,$ que$ se$ arrisca$ autoralmente,$ claro$ com$ referências$ algumas$ ao$ mundo$ da$ arquitetura,$ mas$ também$ a$ universos$ de$ emoções$ afins,$ que$ vão$ desde$ o$ mundo$ de$ Bob$ Wilson,$ 54 passando$por$Pina$Bausch,$ao$minimalismo$de$Donald$Judd$ou$ao$museu$portátil$de$Marcel$Duchamp. $ Sendo$ a$ arte$ o$ espelho$ de$ uma$ sociedade$ numa$ determinada$ época,$ João$ Mendes$ Ribeiro$ recorre$ a$ esta,$de$uma$forma$crítica,$para$um$melhor$entendimento$do$homem$contemporâneo,$pois$todo$o$seu$ trabalho$incide$sobre$este.$ "Quando"trabalho"em"arquitetura,"desenho"o"espaço"a"partir"da"minha"relação"com"os"espaços"e," portanto,"desenho"a"partir"do"meu"corpo."Quando"trabalho"em"cenografia,"faço"o"contrário"–""

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 53

$RIBEIRO,$João$Mendes$–$Entrevista#João#Mendes#Ribeiro.$Arquitectura&Construção,$ed.$Lisboa.$2009,$Vol.$56,$pp.$ 81.$ 54$$ TOSTÕES,$Ana$–$Neutro#e#excepcional#ou#o#esplendor#da#verdade$in$João$Mendes$Ribeiro,$Obras$e$Projetos,$ 1996h2003.#Porto:$Edições$ASA,$2003$$ 187$

! !

! Figura#52#Arquipélagoh$Centro$de$Artes$Contemporâneas#

188$

começo"por"medir"o"corpo"dos"intérpretes"e"desenho"para"aquele"corpo."Mas"não"deixa"de"ser" central"esta"minha"persistência"pela"questão"da"relação"dos"objetos"ou"a"relação"do"espaço"e"o" 55 corpo,"sendo"coisas"diferentes,"mas"o"que"me"permite"esta"articulação. "

Olhando$ agora$ para$ a$ sua$ arquitetura,$ mais$ concretamente$ o$ projeto$ Arquipélago,$ Centro$ de$ Artes$Contemporâneas,$iremos$incidir$mais$na$black$box$deste$equipamento,$que$resulta$numa$síntese$ crítica$do$seu$contacto$com$as$artes$performativas.$ O$projeto$Arquipélago,$Centro$de$Artes$Contemporâneas,$projetado$por$João$Mendes$Ribeiro$e$ o$atelier$Menos$é$Mais$Arquitectos$(Francisco$Vieira$de$Campos$e$Cristina$Guedes),$situado$na$Ribeira$ Grande,$ nos$ Açores,$ surge$ como$ um$ projeto$ transdisciplinar,$ albergando$ artes$ como$ as$ artes$ visuais,$ artes$ performativas,$ multimédia,$ cinema,$ música,$ arquitetura,$ design,$ ilustração$ e$ moda.$ $ O$ Centro$ é$ constituído$por$uma$loja/livraria,$oficinas,$centro$de$exposições,$centro$documental,$centro$de$produção$ audiovisual$e$uma$black$box.$ 56

Tratahse$ de$ um$ projeto$ de$ reabilitação,$ uma$ antiga$ fábrica$ de$ álcool/tabaco ,$ e$ uma$ nova$ construção,$ onde$ albergam$ o$ programa$ de$ centro$ de$ artes$ e$ cultura,$ produção$ de$ arte,$ reserva,$ salas$ multiusos/artes$ performativas,$ oficinas,$ laboratórios$ e$ estúdioshateliês$ de$ artistas.$ O$ préhexistente$ e$ a$ nova$construção$comunicam,$combinando$as$alturas,$materiais$e$manipulação$pictórica$formal.$ Sendo$ um$ projeto$ transdisciplinar,$ este$ contribui$ para$ a$ criação,$ divulgação$ e$ produção$ cultural.$ Entre$ as$ várias$ artes$ que$ alberga,$ as$ artes$ performativas$ têm$ grande$ destaque$ neste$ Centro,$ possuindo$um$dos$espaços$mais$contemporâneos$do$país$para$a$sua$prática.$João$Mendes$Ribeiro$viu$ 57 neste$Centro$a$oportunidade$de$criar$um$teatro$contemporâneo$como$achava$que$deveria$ser$feito. $$$ 5.2.#Auditório#ACAC#

João$Mendes$Ribeiro,$$em$constante$contacto$com$as$artes$performativas,$apreende$as$novas$ necessidades$ dos$ artistas$ contemporâneos$ e$ desenha$ um$ espaço$ totalmente$ flexível,$ permitindo$ diversas$configurações$de$sala.$$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

$Entrevista$realizada$a$João$Mendes$Ribeiro$no$dia$27$de$Agosto$de$2015,$no$seu$atelier$em$Coimbra.!

55

56!In"ArchDaily$[em$linha].$Brasil$:$2015.$[consult.$2015h09h16].$Disponível$na$Internet:$

http://www.archdaily.com.br/br/762180/arquipelagohcentrohdeharteshcontemporaneashmenoshehmaisharquitectosh plushjoaohmendeshribeiroharquitecto! 57!Entrevista$realizada$a$João$Mendes$Ribeiro$no$dia$27$de$Agosto$de$2015,$no$seu$atelier$em$Coimbra.! 189$

$

Figura#53$ Arquipélago$h$ Centro$de$Artes$ Contemporâneas$ !

Figura#54#Black$box,$ Centro$de$Artes$ Contemporâneas#

! $ 190$

A$sua$visão$sobre$o$espaço$adequado$para$estas$artes$foi$apresentada$durante$a$entrevista:$ Na" criação" de" cenários" tentei" sempre" apostar" em" objetos" muito" flexíveis" e," portanto," na" possibilidade" do" espaço" ser" mutante" e" os" objetos" poderem" ser" móveis," variáveis" e" transformáveis."Esses"foram,"numa"grande"parte"das"minhas"cenografias,"os"meus"princípios."No" Arquipélago"I"Centro"de"Artes"Contemporâneas"surgiu"a"possibilidade"de"fazer,"conforme"pedido" no" programa," um" espaço" multifuncional" e" eu" achei" que" podia" fazer" um" teatro" com" carácter" experimental"e"flexível."Procurámos"fazer"um"espaço"multifuncional,"que"se"pudesse"formatar"de" 58 acordo"com"os"espetáculos. !"

$

Nesta$black$box,$os$artistas$e$o$público$partilham$o$mesmo$espaço,$a$barreira$do$proscénio$é$ eliminada$ assim$ como$ toda$ a$ ideia$ de$ hierarquização$ do$ espaço.$ E$ é$ a$ parir$ de$ referências$ como:$ Festspielhaus$de$Hellerau,$resultado$do$trabalho$coletivo$de$Adolphe$Appia,$JaqueshDalcroze$e$Heinrich$ Tessenow;$ o$ Teatro$ de$ Oficina,$ em$ São$ Paulo,$ de$ Lina$ Bo$ Bardi;$ o$ Teatro$ Schaubühne,$ em$ Berlim,$ de$ Enrik$Mendehlson;$o$projeto$Teatro$Total$de$Walter$Gropius$e$o$trabalho$de$Oskar$Schlemmer,$que$este$ 59 espaço$surge. $ $ No$texto$de$João$Mendes$Ribeiro,$A"cena"integral"como"exercício"de"liberdade,"a"propósito"do" espaço"cénico"do"Arquipélagos,"Centro"de"Artes"Contemporâneas"dos"Açores,$a$blackhbox$$do$Centro$de$ Artes$é$tida$como$$ (...)"um"espaço"que"retoma"algumas"das"ideias"preconizadas"por"Oskar"Schlemmer"na"Bauhaus," devido"à"sua"concepção"de"espaço"cénico"ideal"como"uma"estrutura"arquitectónica"de"absoluta" precisão"geométrica,"determinada"pela"medida"e"movimento"do"corpo"humano;"muito"embora," em" Schlemmer," se" trate" de" uma" humanidade" subjetiva," de" expressão" mecanicista," para" a" qual" contribuem"as"máscaras"e"figurinos"usados"pelos"actores,"que"se"movem"no"espaço"como"peças" 60 de"escultura"coloridas,"animadas"pela"plasticidade"espacial"de"um"movimento"mecânico. "

$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

58!Entrevista$realizada$a$João$Mendes$Ribeiro$no$dia$27$de$Agosto$de$2015,$no$seu$atelier$em$Coimbra.! 59

$FORTUNA,$Catarina;$RIBEIRO,$João$Mendes$–$A#cena#como#exercício#de#liberdade:#A#propósito#do#espaço#cénico# do#Arquipélago,#Centro#de#Artes#Contemporâneas#dos#Açores.$Construção$Magazine,$ed.$Porto.$2015,$Vol.$66,$pp.$ 46/47.! 60!FORTUNA,$Catarina;$RIBEIRO,$João$Mendes$–$A#cena#como#exercício#de#liberdade:#A#propósito#do#espaço#cénico# do#Arquipélago,#Centro#de#Artes#Contemporâneas#dos#Açores.$Construção$Magazine,$ed.$Porto.$2015,$Vol.$66,$pp.$ 46/47.! 191$

$

Figura#55#Esquisso$do$ sistema$de$plataformas$ do$teatro$do$Arquipélago#

! ! !

Figura#56#Teatro$ Schaubuhne$de$Enrik$ Mendehlson,$em$Berlim# $

$

$

# 192$

A$ideia$de$tridimensionalidade$presente$no$trabalho$escultural$da$figura$humana$de$Schlemmer,$inseriuh se$num$espaço$igualmente$pouco$convencional$da$Bauhaus:$$ Um" espaço" bifrontal," que" integra" num" dos" lados," a" sala" de" espectáculos" e" conferências" e," no" outro,"a"cantina"da"escola,"sendo"os"flancos"ocupados"pelos"espectadores."O"efeito"da"dupla"cena" frontal" permite" anular" a" caixa" óptica" tradicional," conferindo" maior" importância" ao" centro" e" 61 favorecendo"a"diversidade"de"pontos"de"vista. "

Esta$comunicação$entre$espaços$é$transposta$para$a$black$box$através$da$liberdade$de$configuração$da$ sala,$ através$ de$ praticáveis$ (componente$ comum$ ao$ Teatro$ Schaubühne,$ de$ Enrik$ Mendehlson,$ em$ 1927)$e$do$grande$vão$que$este$apresenta,$permitindo$esta$ligação$entre$o$interior$e$o$exterior.$$ (...)" numa" sala" multifuncional" de" cena" contínua," onde" as" áreas" de" actuação" e" de" auditório" são" variáveis" e" os" lugares" do" público" podem" ser" dispostos" com" grande" flexibilidade" através" da" 62 montagem"das"cadeiras"sobre"praticáveis"móveis. "

Como$ é$ possível$ constatar$ nas$ figuras$ 55$ e$ 56,$ esta$ flexibilidade$ de$ espaço,$ dáhse$ através$ da$ utilização$ de$ praticáveis$ que$ cobrem$ toda$ a$ área$ da$ sala,$ uma$ opção$ comum$ tanto$ no$ Teatro$ Schaubühne,$ como$ na$ black$ box,$ embora$ com$ mecanismos$ mais$ simples.$ Esta$ flexibilidade$ permite$ diversas$ configurações$ de$ cena$ (figura$ 58),$ tais$ como:$ frontal,$ com$ proscénio,$ de$ tipo$ isabelino,$ em$ arena,$ em$ passerelle,$ entre$ outras.$ $ No$ espaço$ do$ ACAC,$ o$ pavimento$ conta$ com$ uma$ estrutura$ tradicional$de$quarteladas$de$2x2m$e$2x4m,$reguláveis$e$desmontáveis$que$cobrem$todo$o$espaço,$que$ por$ sua$ vez$ é$ coberto$ por$ praticáveis$ independentes,$ de$ altura$ regulável$ até$ 1,15$ metros.$ Estes$ são$ reguláveis$através$de$dispositivos$de$elevação$hidráulicos,$assentes$sobre$rodas$e$niveladores.$ Neste" sentido," é" possível" afirmar" que" a" tipologia" do" espetáculo" não" é" predeterminada" pelas" características"do"edifício,"mas"está"intimamente"relacionada"com"as"propostas"de"encenação"e" 63 de"cenografia. "

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 61!FORTUNA,$Catarina;$RIBEIRO,$João$Mendes$–$A#cena#como#exercício#de#liberdade:#A#propósito#do#espaço#cénico#

do#Arquipélago,#Centro#de#Artes#Contemporâneas#dos#Açores.$Construção$Magazine,$ed.$Porto.$2015,$Vol.$66,$pp.$ 46/47.! 62!FORTUNA,$Catarina;$RIBEIRO,$João$Mendes$–$A#cena#como#exercício#de#liberdade:#A#propósito#do#espaço#cénico# do#Arquipélago,#Centro#de#Artes#Contemporâneas#dos#Açores.$Construção$Magazine,$ed.$Porto.$2015,$Vol.$66,$p.$ 47.! 63!FORTUNA,$Catarina;$RIBEIRO,$João$Mendes$–$A#cena#como#exercício#de#liberdade:#A#propósito#do#espaço#cénico# do#Arquipélago,#Centro#de#Artes#Contemporâneas#dos#Açores.$Construção$Magazine,$ed.$Porto.$2015,$Vol.$66,$p.$ 47.! 193$

! Figura#57#Configurações$de$cena$

$ Figura#58#Trabalho$de$João$Fiadeiro,$O"que"fazer"daqui"para"trás" 194$

Para$que$esta$flexibilidade$de$configurações$não$tenham$restrições,$o$sistema$técnico$deve$ser$ ajustado,$ possibilitando$ a$ suspensão$ de$ cenários,$ dispositivos$ de$ iluminação$ e$ painéis$ acústicos,$ em$ vários$ pontos$ da$ sala.$ $ A$ solução$ apresentada$ no$ Teatro$ de$ Schaubühne$ foi$ a$ extensão$ de$ uma$ teia$ contínua$ao$longo$de$toda$a$sala,$no$espaço$do$ACAC,$esta$instalação$não$só$teve$esta$funcionalidade$ técnica$como$também$serve$para$a$filtração$da$luz$e$expandir$a$imagem$de$palco$para$todo$o$espaço:$ Portanto,"desenhámos""uma"plateia"móvel"e"que"pode"configurar"várias"cenas"e"uma"teia"corrida" que"permite"suspender"cenários"em"qualquer"ponto"da"sala,"com"um"sistema"de"cordas"e" contrapesos."Com"esta"última"ideia"optámos"por"não"deixar"esse"sistema"oculto,"que" normalmente"é,"mas"a"trabalhar"à"vista"do"público,"fazendo""eventualmente"parte"dos" movimentos"dos"intérpretes"e"possibilitando"as"mudanças"de"cena."Reforçámos"a"ideia"de"entrar" numa"espécie"de"palco,"sendo"esse,"não"só"um"espaço"dos"intérpretes,"mas"também"um"espaço" do"público."(...)"Do"ponto"de"vista"cénico"também"tirámos"partido"desses"elementos,"que"não"são" decorativos,"porque"têm"um"fim,"mas"transpõem"uma"imagem"que"está"associada"aos" mecanismos"de"mutação."Em"certa"medida,"também""filtram"a"luz,"com"um"conjunto"de"cordas"e" 64 de"berços"que"constituem"uma"espécie"de"cortina"de"luz. !

Como$é$perceptível$neste$discurso,$o$pensamento$sobre$a$relação$do$homem$com$o$espaço$e$a$ manipulação$do$mesmo,$é$uma$constante$no$seu$trabalho.$Existe$uma$certa$incidência$na$importância$ da$escala,$na$acessibilidade$do$homem$poder$controlar$o$espaço,$resultando$numa$maior$liberdade$para$ os$ processos$ de$ criação$ artística.$ A$ instalação$ de$ cerca$ de$ quarenta$ e$ cinco$ cordas$ e$ contrapesos,$ cobrindo$ toda$ a$ extensão$ da$ parede$ de$ maior$ comprimento,$ resulta$ numa$ filtração$ da$ luz,$ a$ Poente,$ atribuindo$ritmo$à$sala$(figura$54).$Esta$ideia$de$estender$a$ideia$pictórica$da$caixa$teatral$para$todo$o$ espaço,$faz$referência$ao$projeto$do$Teatro$de$Oficina,$em$São$Paulo,$de$Lina$Bo$Bardi.$A$referência$não$ está$ só$ na$ exibição$ dos$ mecanismos$ teatrais,$ como$ também,$ na$ abertura$ ao$ exterior$ e$ no$ sentido$ de$ percurso,$ comparando$ com$ a$ existência$ de$ um$ grande$ vão$ no$ meio$ da$ cena,$ voltado$ para$ a$ rua$ no$ ACAC." A" conjugação" desses" elementos," que" deu" azo" à" exploração" do" conceito" de" «teatro" rua»" pela" companhia" Oficina," tem" repercussões" indeléveis" no" projeto" do" ACAC," como" se" verifica" na" implantação"orgânica"dos"edifícios"segundo"um"eixo"longitudinal"que"orienta"o"movimento"dos" visitantes" através" do" lote." Ou" no" edifício" do" auditório," onde" as" janelas" rasgadas" nas" fachadas" nascente"e"poente"e"a"plasticidade"dos"elementos"em"betão,"assinalam"o"desejo"de"relação"com"

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 64

$Entrevista$realizada$a$João$Mendes$Ribeiro$no$dia$27$de$Agosto$de$2015,$no$seu$atelier$em$Coimbra.$ 195$

o" exterior" e" de" integração" do" edifício" no" espaço" público," ornandoIo" parte" atuante" na" cena" 65 urbana. "

O$ACAC,$abre$as$portas$para$residência$a$artistas$para$que$estes$possam$usufruir$da$oportunidade$$de$ desenvolver$as$suas$peças$de$forma$livre$e$estimulante$neste$espaço.$Um$dos$trabalhos$já$apresentados$ e$desenvolvidos$neste$espaço$foi$O"que"fazer"daqui"para"a"frente,$de$João$Fiadeiro.$Este$tira$partido$da$ liberdade$ do$ espaço$ e$ dá$ uso$ ao$ espaço$ exterior.$ Na$ figura$ 58$ é$ facilmente$ identificável$ elementos$ cenográficos$ comuns$ aos$ Espaços" Rítmicos$ de$ Adolphe$ Appia,$ a$ escada$ e$ a$ rampa,$ uma$ cenografia$ percorrível.$

$

!

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 65!FORTUNA,$Catarina;$RIBEIRO,$João$Mendes$–$A#cena#como#exercício#de#liberdade:#A#propósito#do#espaço#cénico#

do#Arquipélago,#Centro#de#Artes#Contemporâneas#dos#Açores.$Construção$Magazine,$ed.$Porto.$2015,$Vol.$66,$pp.$ 47.! 196$

Considerações$finais$e$reflexões$a$prolongar$ O$ trabalho$ parte$ do$ conceito$ Gesamtkunsterk" (Arte$ Total)$ procurando$ a$ sua$ validação$ na$ arquitetura,$ por$ meio$ do$ estudo$ de$ três$ casos$ distintos:$ a$ análise$ do$ projeto$ Teatro$ Total$ de$ Walter$ Gropius,$resultado$de$um$estudo$desenvolvido$na$Oficina$de$Teatro,$orientado$por$Oskar$Schlemmer$na$ Bauhaus;$a$análise$do$auditório$do$Museu$de$Arte$de$São$Paulo$de$Lina$Bo$Bardi,$resultado$do$estudo$da$ colaboração$ de$ Adolphe$ Appia$ e$ JacqueshDalcroze,$ nos$ cenários$ Espaços" Rítmicos;$ e$ por$ fim,$ do$ auditório$ de$ Arquipélago,$ Centro$ de$ Artes$ Contemporâneas$ com$ projeto$ do$ arquiteto$ João$ Mendes$ Ribeiro$e$Mais"e"Menos"Arquitectos"(Cristina$Guedes$e$Francisco$Vieira),$apresentando$uma$síntese$da$ experiência$no$campo$da$cenografia$de$João$Mendes$Ribeiro$e$do$estudo$de$diversas$referências.$ O$fio$condutor$comum$destes$casos$de$estudo$é$o$constante$recurso$interdisciplinar$como$meio$ de$ entendimento$ do$ homem$ contemporâneo,$ elemento$ referencial$ da$ arquitetura.$ Todos$ estes$ casos$ de$estudo$focamhse$na$procura$de$um$espaço$cénico$adequado$ao$seu$tempo,$por$ser$um$espaço$que$ afeta$ a$ expressão$ do$ corpo,$ principalmente$ após$ o$ surgimento$ da$ dança$ moderna.$ Para$ tal,$ não$ só$ o$ entendimento$ do$ homem$ interessa,$ como$ também$ o$ seu$ relacionamento$ com$ o$ espaço$ enquanto$ se$ movimenta.$Neste$seguimento,$os$casos$de$estudo$apoiaramhse$em$matérias$de$maior$contacto$com$o$ corpo,$afim$de$uma$maior$consciencialização$para$o$desenho$na$arquitetura,$como$é$o$caso$da$Oficina$ de$ Teatro,$ onde$ desenvolviam$ danças$ matemáticas$ com$ relações$ diretas$ a$ um$ espaço$ cúbico;$ Os$ Espaços"Rítmicos,$onde$o$ritmo$era$estudado$por$via$do$percurso$do$homem$nos$diferentes$elementos$ arquitectónicos;$ou$a$cenografia,$com$objetos$tridimensionais$em$contacto$direto$com$o$corpo.$$ Se$ pensarmos$ na$ componente$ do$ movimento$ do$ corpo$ como$ elemento$ indispensável$ na$ arquitetura,$ esta$ remete$ a$ uma$ tridimensionalidade$ que$ só$ pode$ ser$ entendida$ através$ da$ experimentação,$ uma$ componente$ muito$ importante$ na$ dança$ contemporânea.$ Esta$ experimentação$ tem$ adjacente$ esta$ necessidade$ de$ ser$ testada,$ de$ um$ trabalho$ na$ oficina,$ como$ foi$ entendida$ na$ Bauhaus$ e$ referido$ na$ entrevista$ ao$ Arq.$ João$ Mendes$ Ribeiro$ em$ relação$ à$ cenografia.$ Apesar$ da$ arquitetura$ ser$ um$ campo$ artístico,$ onde$ é$ impossível$ testar$ à$ escala$ real$ todo$ o$ projeto$ como$ na$ cenografia$ou$nas$pequenas$componentes$desenvolvidas$nas$oficinas$da$Bauhaus,$este$contacto$com$os$ artesãos,$ a$ procura$ de$ novas$ soluções$ junto$ de$ quem$ percebe$ das$ pequenas$ parte$ que$ constituem$ a$ arquitetura,$ é$ indispensável.$ Este$ contacto$ direto$ com$ quem$ constrói$ e$ com$ identidades$ multidisciplinares$ trazem$ outra$ consciencialização$ ao$ projeto.$ $ Assim$ sendo,$ é$ possível$ apontar$ uma$ crítica$ ao$ tempos$ que$ decorrem,$ onde$ a$ bidimensionalidade$ está$ a$ ganhar$ enorme$ força$ por$ meio$ da$ imagem$ e$ o$ uso$ da$ tecnologia.$ Esta$ bidimensionalidade$ retirahnos$ uma$ vez$ mais$ essa$ componente$ importante$do$movimento,$da$possibilidade$de$experimentação$e$troca$de$conhecimentos,$remetendoh 197$

nos$ ao$ individualismo$ inerente$ ao$ uso$ da$ tecnologia.$ A$ arquitetura$ portuguesa,$ ainda$ muito$ marcada$ pela$forte$ligação$às$oficinas:$$ ainda" existe" uma" relação" forte" com" quem" constrói," com" as" oficinas" e" profissionais," porque" o" território" é" muito" pequeno" e" porque" ainda" trabalhamos" de" forma" artesanal." Quando" contactamos" com" outras" realidades," os" arquitetos" estrangeiros" ficam" positivamente" muito" 66 surpreendidos."Eu"acho"que"essa"forma"artesanal""é"uma"qualidade"(...) "

Este$ contacto$ direto$ com$ os$ artesãos$ oferecehnos$ uma$ maior$ consciencialização$ da$ realidade$ dos$ materiais$ e$ dos$ processos$ construtivos$ impossíveis$ por$ meio$ virtual.$ Este$ caminho$ para$ a$ falsa$ modernização,"centrada$na$imagem$estática,$bidimensional,$dos$modelos$digitais,$retira$da$equação$esta$ componente$ do$ homem$ que$ se$ movimenta$ e$ que$ cria$ relações$ num$ espaço$ tridimensional.$ Como$ resultado$ deste$ processo$ digital$ restahnos$ uma$ arquitetura$ vazia,$ impessoal,$ desligada$ da$ realidade$ e$ das$componentes$essenciais$que$a$arquitetura$se$devia$guiar.$Este$processo$de$experimentalismo$e$de$ trabalho$de$oficina$está$ainda$por$vezes$presente$no$exercício$de$reabilitação$na$arquitetura:$ $$

(...)Nos"projetos"de"reabilitação"há"sempre"mais"espaço"para"essa"descoberta,"porque" não"faz"sentido"estar"a"reabilitar"uma"estrutura"e"depois"não"ter"em"atenção"questões"que"fazem" parte" da" própria" história" do" edifício." (...)" TrataIse" de" uma" espécie" de" workshop" de" projeto" que" 67 tem"muito"a"ver"com"a"forma"como"eu"costumo"trabalhar"enquanto"cenógrafo"(...) "

Esta$forte$relação$atelier/oficina$permite$ao$arquiteto$uma$maior$liberdade$de$experimentação$ e$ consciencialização$ de$ decisões$ de$ projeto$ aproximandohse$ dos$ objetivos$ idealizados.$ A$ arquitetura$ deve$procurar$sustentarhse$noutros$campos$artísticos$afim$de$conhecer$o$homem$contemporâneo,$mas$ não$deve$de$modo$algum$desviarhse$do$seu$propósito$principal,$acolher$e$bem$servir$o$Homem.$$ $

$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! 66!Entrevista$realizada$a$João$Mendes$Ribeiro$no$dia$27$de$Agosto$de$2015,$no$seu$atelier$em$Coimbra.! 67!Entrevista$realizada$a$João$Mendes$Ribeiro$no$dia$27$de$Agosto$de$2015,$no$seu$atelier$em$Coimbra.! 198$

# # # # # # # # # # # # # #

ANEXOS# Anexo$1:$PFA$–$enunciados$ Anexo$2:$Manifesto$de$Staatliches$Bauhaus$em$Weimar,$Abril$1919$ Anexo$3:$Entrevista$João$Mendes$Ribeiro$ #

199$

Bibliografia Código:

L6096

Anexo 1:Acrónimo: FUC e EnunciadosL6096 de PFA Nível:

2.º Ciclo

Estruturante:

Não

Língua(s) de Ensino: Português Horas de Trabalho Total Aula Aula Prática Trabalho Aula Orientação Créditos Teórico- e Seminario de Estágio Horas de Trabalho Outras [?]Horas Semestre Teórica Tutorial de ECTS Prática Laboratorial (S) Campo (E) Contacto Autónomo (O) (T) (OT) Contacto + (TP) (PL) (TC) Trabalho Autónomo) 2

30.0

18.0 h/sem

0.0 h/sem

72.0 h/sem

18.0 h/sem

0.0 h/sem

0.0 h/sem

1.0 h/sem

109.0 h/sem

605.0 h/sem

0.0 714.0 h/sem h/sem

1

15.0

18.0 h/sem

0.0 h/sem

72.0 h/sem

18.0 h/sem

0.0 h/sem

0.0 h/sem

1.0 h/sem

109.0 h/sem

266.0 h/sem

0.0 375.0 h/sem h/sem

Ano lectivo 2014/2015 Pré-requisitos Precedências requeridas: Projecto de Arquitectura II A UC Projeto Final de Arquitetura implica a realização de um Trabalho de Projeto, cumprindo-se deste modo os requisitos para a obtenção do grau de mestre em arquitetura no ISCTE-IUL. Este trabalho pressupõe a articulação de um projeto de arquitetura (vertente projetual) e de uma investigação teórica (vertente teórica). O projeto de arquitetura implicará a realização de um exercício aprofundado a várias escalas de projeto Objectivos e que se desenvolva ao longo de todo o ano. O trabalho teórico implica o desenvolvimento de uma investigação, com proveniência de diversas áreas disciplinares do conhecimento. Este exercício de investigação deverá associar-se às questões levantadas ao longo do exercício de projeto. A partir da interação entre a vertente projetual e vertente teórica de PFA será encontrado o espaço para um processo de investigação coerente e onde o contributo de ambas as partes seja claro. CP1. Interpretação do contexto: Condicionantes biofísicas, culturais e históricas; Análise da paisagem e do lugar; Enquadramento legal, económ. e político. CP2. Espaços não edificados: Estrutura ecológica e paisagística; Redes de mobilidade, infraestruturas; Estrutura do espaço público CP3. Espaços edificados: Massas construídas/Estrutura Urbana; Tecido urbano, estrutura fundiária; Morfologias urbanas, espaços públicos e privados; Sobreposições de ocupação do território ao longo do tempo; Edifícios excecionais e Programa "correntes" CP4. Tipologias edificadas: Massa construída/vazio; Espaços públicos e privados; Programa; Uso e desempenho espacial; Forma arquitetónica; Sistemas construtivos/pormenorização. CP5. Sustentabilidade: económica; ecológica; social. CP6. Estratégias de investigação em arquitetura: Experimentais; Históricas, sociais, económicas; Tecnológicas, qualitativas e quantitativas, simulação; Correlacionais, argumentação lógica; Casos de estudo e estratégias combinadas Processo de avaliação

A avaliação de PFA será feita em Júri de acordo com o estabelecido no artigo 22º do DL 115/2013. O processo de avaliação é regulamentado pelo RGACC do 1º ciclo do ISCTE-IUL, pelo REACC da ISTA e pelas Normas Orientadoras para a Dissertação ou Trabalho de Projeto do 2º ciclo - Bolonha. A classificação deverá cumprir o art. 24º do DL 115/2013 sendo que a valorização da componente projetual será de 60% e da componente teórica de 40%.

A vertente projetual está organizada em 2 turmas (6h P.Labor.; 1h30 seminário) leccionada por 2 professores com enunciados diferenciados. Os alunos serão distribuídos primeiro por opção própria e segundo por conveniência da Processo de dimensão da turma. ensinoA vertente teórica está organizada numa única turma (1h30 teórica) e na orientação da investigação teórica realizada por aprendizagem um docente/investigador sem carga horária atribuída e escolhido pelo aluno em função das áreas ou temas de investigação oferecidos. Calendarização

Observações

Bibliografia

9 Jun 2014 Sessão de apresentação de PFA aos alunos que ingressarão no 5ºano em 2014/2015 16 Jun / 27 Out 2014 Manifestação de interesse do aluno perante o docente da vertente prática e do orientador da vertente teórica 22 Set 2014 Início do 1º semestre 2014/2015 Datas limite de entrega de PFA - ver Normas Orientadoras para a Dissertação ou Trabalho de Projeto do 2º ciclo Bolonha e alteração de 13 de Abril de 2010. Argyris, Chris; Schon, Donald A (1974) Theory in Practice Increasing Professional Effectiveness, São Francisco, JosseyBass inc. Publishers _ Fraser, Murray (ed) (2013) Design Research in Architecture. An Overview. Ashgate _ Groat, Linda N; Wang, David (2013) Architectural Research Methods. Wiley.

Observações

Bibliografia básica

16 Jun / 27 Out 2014 Manifestação de interesse do aluno perante o docente da vertente prática e do orientador da vertente teórica 22 Set 2014 Início do 1º semestre 2014/2015 Datas limite de entrega de PFA - ver Normas Orientadoras para a Dissertação ou Trabalho de Projeto do 2º ciclo Bolonha e alteração de 13 de Abril de 2010. Argyris, Chris; Schon, Donald A (1974) Theory in Practice Increasing Professional Effectiveness, São Francisco, JosseyBass inc. Publishers _ Fraser, Murray (ed) (2013) Design Research in Architecture. An Overview. Ashgate _ Groat, Linda N; Wang, David (2013) Architectural Research Methods. Wiley. _ Lawson, Bryan (2006) How Designers Think. The design process demystified. (fourth edition) Architectural Press.

! Anexo!2:!!Manifesto!de!Staatliches!Bauhaus!em!Weimar! Abril!1919! $ “The$ ultimate$ goal$ of$ all$ art$ is$ the$ building!$ The$ ornamentation$ of$ the$ building$ was$ once$ the$ main$ purpose$of$the$visual$arts,$and$they$were$considered$indispensable$parts$of$the$great$building.$Today,$ they$ exist$ in$ complacent$ isolation,$ from$ which$ they$ can$ only$ be$ salvaged$ by$ the$ purposeful$ and$ cooperative$ endeavours$ of$ all$ artisans.$ Architects,$ painters$ and$ sculptors$ must$ learn$ a$ new$ way$ of$ seeing$and$understanding$the$composite$character$of$the$building,$both$as$a$totality$and$in$terms$of$its$ parts.$Their$work$will$then$reBimbue$itself$with$the$spirit$of$architecture,$which$it$lost$in$salon$art.$ $ The$art$schools$of$old$were$incapable$of$producing$this$unity$–$and$how$could$they,$for$art$may$not$be$ taught.$ They$ must$ return$ to$ the$ workshop.$ This$ world$ of$ mere$ drawing$ and$ painting$ of$ draughtsmen$ and$ applied$ artists$ must$ at$ long$ last$ become$ a$ world$ that$ builds.$ When$ a$ young$ person$ who$ senses$ within$ himself$ a$ love$ for$ creative$ endeavour$ begins$ his$ career,$ as$ in$ the$ past,$ by$ learning$ a$ trade,$ the$ unproductive$“artist”$will$no$longer$be$condemned$to$the$imperfect$practice$of$art$because$his$skill$is$ now$preserved$in$craftsmanship,$where$he$may$achieve$excellence.$ $ Architects,$sculptors,$painters$–$we$all$must$return$to$craftsmanship!$For$there$is$no$such$thing$as$“art$ by$ profession”.$ There$ is$ no$ essential$ difference$ between$ the$ artist$ and$ the$ artisan.$ The$ artist$ is$ an$ exalted$artisan.$Merciful$heaven,$in$rare$moments$of$illumination$beyond$man’s$will,$may$allow$art$to$ blossom$from$the$work$of$his$hand,$but$the$foundations$of$proficiency$are$indispensable$to$every$artist.$ This$is$the$original$source$of$creative$design.$ $ So$ let$ us$ therefore$ create$ a$ new$ guild$ of$ craftsmen,$ free$ of$ the$ divisive$ class$ pretensions$ that$ endeavoured$ to$ raise$ a$ prideful$ barrier$ between$ craftsmen$ and$ artists!$ Let$ us$ strive$ for,$ conceive$ and$ create$ the$ new$ building$ of$ the$ future$ that$ will$ unite$ every$ discipline,$ architecture$ and$ sculpture$ and$

208$

painting,$and$which$will$one$day$rise$heavenwards$from$the$million$hands$of$craftsmen$as$a$clear$symbol$ of$a$new$belief$to$come."1$ $ Anexo!3:!Entrevista!João!Mendes!Ribeiro!27.!Agosto!.!2015! Como!é!que!a!cenografia!surge!na!sua!vida?! João!Mendes!Ribeiro!(JMR)!M!Foi$por$mero$acaso.$Eu$dava$aulas$em$Viseu,$uma$extensão$da$Faculdade$ de$Arquitetura$do$Porto.$Em$Viseu$encontrei$o$Ricardo$Pais,$encenador,$que$dava$aulas$de$Antropologia$ do$espaço.$Ele$convidouBme$para$fazer$uma$cenografia$e$a$partir$daí$nunca$deixei$de$fazer.$! Rui!Horta!aponta!a!diferença!entre!o!“lugar'e'o'espaço,'sendo'o'lugar'um'espaço'com'alma.”!O!seu! interesse!por!projetos!de!reabilitação!tem!alguma!relação!com!a!procura!de!histórias,!uma!espécie!de! guião!para!a!arquitetura?! JMR!M!Eu$trabalho$muito$em$reabilitação$porque$tenho$encomendas$nesse$sentido,$portanto$não$é$uma$ escolha$ minha.$ Por$ gostarmos$ muito$ desse$ tema$ da$ reabilitação$ procuramos$ alguns$ concursos.$ Esse$ facto$também$se$relaciona$com$as$possibilidades$de$trabalho,$porque$hoje$em$dia$temos$mais$trabalho$ em$ reabilitação,$ do$ que$ em$ construção$ nova.$ O$ que$ que$ eu$ gosto$ muito$ no$ exercício$ de$ reabilitar?$ Primeiro,$ porque$ existe$ uma$ préBexistência.$ Não$ tem$ de$ ser$ necessariamente,$ mas$ nos$ trabalhos$ que$ tenho$ desenvolvido$ as$ préBexistências$ são$ muito$ fortes,$ com$ uma$ geometria$ e$ materialidade$ muito$ presentes$ e$ uma$ relação$ com$ a$ topografia,$ e$ portanto,$ as$ regras$ são$ muito$ determinadas$ pela$ préB existência.$Há$uma$coisa$que$me$agrada$imenso$B$a$préBexistência$é$matéria$de$projeto,$logo$não$estou$a$ inventar$ nada$ de$ novo$ porque$ muitos$ factores$ estão$ determinados$ pelo$ próprio$ edifício,$ muitas$ das$ regras$ de$ composição,$ inserção,$ implantação,$ orientação$ estão$ determinadas$ pela$ préBexistência.$ Depois$ é$ como$ trabalhar$ numa$ maqueta$ de$ tamanho$ real.$ Tens$ um$ edifício$ construído,$ tens$ uma$ maqueta$ à$ escala$ real,$ e$ depois$ é$ trabalhar$ partir$ dessa$ base.$ Para$ além$ do$ mais,$ como$ tu$ dizes,$ os$ edifícios$são$feitos$de$histórias$que$se$vão$somando$ao$longo$do$tempo,$e$portanto$há$uma$espécie$de$ soma$ de$ tempos$ nos$ edifícios,$ assunto$ que$ também$ é$ particularmente$ interessante.$ Eles$ não$ dizem$ respeito$ apenas$ a$ uma$ época,$ não$ dizem$ respeito$ só$ a$ um$ programa,$ portanto$ têm$ mutações$ de$ programas,$ que$ muitas$ vezes$ estão$ registadas$ no$ próprio$ edifício.$ Eu$ adiciono$ mais$ um$ tempo$ novo,$

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

1!In#Bauhaus!Online$[em$linha].$Alemanha$:$2015.$[consult.$2015B08B01].$Disponível$na$Internet:!http://bauhausB

online.de/en/atlas/dasBbauhaus/idee/manifest! 209$

uma$ possibilidade$ de$ vivência$ daquele$ espaço,$ acrescentando$ às$ que$ já$ existem.$ Isto$ é$ um$ paradoxo,$ mas$ reabilitar$ é$ transformar,$ porque$ é$ preciso$ criar$ novas$ condições,$ de$ acordo$ com$ os$ novos$ programas$e$necessidades.$Mas$esta$nova$intervenção,$que$é$contemporânea,$não$pode$pôr$em$causa$a$ préBexistência,$logo$deve$existir$um$equilíbrio$entre$a$préBexistência$e$a$nova$intervenção.$$ Há$um$texto$do$Daniel$Tércio,$crítico$de$dança$que$escrevia$para$o$Expresso$e$professor$na$Faculdade$de$ Motricidade$Humana$em$Lisboa,$sobre$o$meu$trabalho,$em$que$fala$da$ligação$entre$a$dança$ou$as$artes$ performativas$ e$ a$ reabilitação.$ É$ um$ texto$ que$ vem$ editado$ num$ livro$ que$ se$ chama$ Arquiteturas# em# Palco.$Ele$descreve$uma$situação$que$me$parece$acontecer$nas$intervenções$em$edifícios$préBexistentes$ B$um$processo$inverso$à$construção$de$raiz.$Isto$é,$existe$uma$préBexistência$dominante,$um$elemento$ forte,$ que$ é$ a$ base$ de$ toda$ a$ intervenção$ e,$ depois,$ existe$ um$ processo$ que$ se$ relaciona$ com$ o$ conhecimento$da$própria$estrutura,$do$préBexistente.$Muitas$vezes,$apenas$quando$se$faz$o$descasque$ do$ edifício$ ou$ quando$ se$ retira$ os$ rebocos$ e$ aparecem$ os$ aparelhos,$ é$ que$ se$ consegue$ identificar$ as$ histórias,$as$várias$camadas$do$edifício.$É$uma$espécie$de$workshop$de$projeto$que$está$muito$próximo$ da$ relação$ atelier/oficina,$ ou$ se$ quisermos,$ atelier/coreógrafo.$ (...)$ Nos$ projetos$ de$ reabilitação$ há$ sempre$ mais$ espaço$ para$ essa$ descoberta,$ porque$ não$ faz$ sentido$ estar$ a$ reabilitar$ uma$ estrutura$ e$ depois$ não$ ter$ em$ atenção$ questões$ que$ fazem$ parte$ da$ própria$ história$ do$ edifício.$ (...)$ TrataBse$ de$ uma$ espécie$ de$ workshop$ de$ projeto$ que$ tem$ muito$ a$ ver$ com$ a$ forma$ como$ eu$ costumo$ trabalhar$ enquanto$cenógrafo,$em$colaboração$com$o$encenador,$com$os$bailarinos...$Nalgumas$peças,$os$objetos$ são$ mesmo$ desenhados$ em$ função$ dos$ movimentos,$ de$ uma$ relação$ direta$ com$ o$ corpo$ e,$ portanto,$ isso$tem$de$ser$testado$na$oficina.$E$isso$é$um$processo$muito$experimental,$que$não$pode$ser$feito$no$ # atelier. ! Por!falar!no!processo!da!cenografia.!Lina!Bo!Bardi!afirma!que!a!arquitetura!é!como!uma!coreógrafa! dos! nosso! movimentos! diários,! quando! faz! cenografia,! como! é! o! processo! de! criação,! se! os! movimentos!já!estão!coreografados?! JMR!M!A$forma$como$eu$tenho$trabalhado,$depende$muito$de$caso$para$caso.$Quando$eu$trabalho$para$a$ Olga$Roriz,$existe$uma$ideia$de$espetáculo,$mas$não$existe$ainda$nenhum$movimento,$porque$se$está$a$ criar$um$espetáculo$novo$e$contemporâneo.$Vamos$construindo$e$o$movimento$é$criado$a$partir$daí.$A$ Olga$precisa$com$maior$urgência$dos$objetos$ou$elementos$cenográficos,$do$que$da$música,$porque$a$ coreografia$nasce$dos$objetos,$enquanto$que$a$música$é$uma$espécie$de$$banda$sonora.$Isso$contraria$ aquilo$ que$ acontece$ na$ dança$ em$ geral.$ Na$ dança,$ existe$ uma$ música$ e$ a$ partir$ dessa$ música$ criaBse$ movimento.$A$Olga$Roriz$parte$da$exploração$do$espaço$e$da$relação$dos$objetos$e$não$quer,$em$muitos$

210$

espetáculos,$imaginar$a$coreografia$sem$ter$o$espaço$definido$e$os$objetos$construídos.$Porque$se$existe$ uma$cadeira,$é$com$essa$cadeira$que$eles$vão$$trabalhar$e$é$a$partir$daí$que$nascem$os$movimentos.$(...)$$ No$entanto,$fiz$um$cenário$para$Romeu#e#Julieta,$para$uma$coreografia$de$John$Cranko$que$já$existia,$e$ não$podia$fugir$do$cenário.$Os$passos$tinham$de$ser$aqueles,$tinha$de$haver$uma$escada$no$mesmo$sítio$ e$eu$não$podia$deslocar$a$escada.$Portanto,$desenhei$uma$escada$num$sítio$certo$porque$o$movimento$ já$ estava$ criado.$ Este$ processo$ é$ menos$ interessante,$ porque$ $ se$ cria$ um$ cenário$ para$ um$ espetáculo$ que$ já$ está$ construído,$ onde$ os$ movimentos$ estão$ todos$ definidos$ ao$ milímetro.$ No$ fundo,$ podemos$ desenhar$ umas$ escadas,$ mais$ ou$ menos$ contemporâneas,$ de$ madeira$ ou$ de$ metal,$ mas$ a$ posição$ da$ escada$e$o$número$de$degraus$já$está$definido$pelo$movimento.! Na!parceria!de!Adolphe!Appia!e!JacquesMDalcroze,!a!escada!é!o!elemento!que!mais!atribui!ritmo!ao! corpo! humano,! destacandoMse! por! essa! razão.! O! ritmo! é! também! um! elemento! de! grande! destaque! nas!suas!obras?! JMR! M! Sim,$ a$ ideia$ de$ ritmo$ é$ importante.$ Nos$ projectos,$ eu$ tenho$ sempre$ uma$ espécie$ de$ rede$ que$ parte$de$uma$geometria$do$espaço.$É$uma$geometria$própria$de$regras$matemáticas$e$que$tem$muito$a$ ver$ com$ a$ ideia$ de$ ritmo$ e$ de$ repetição.$ Posteriormente,$ o$ espaço$ pode$ ser$ modelado,$ mas$ sempre$ dentro$de$um$sistema$geométrico.$Por$isso$é$que$eu$gosto$da$reabilitação$B$porque$não$me$obriga$a$isso,$ a$préBexistência$já$lá$está,$portanto$é$aquilo$que$quebra$a$regra.$Mas,$mesmo$assim,$quando$eu$trabalho$ em$ edifícios$ préBexistentes,$ tento$ sempre$ de$ alguma$ forma$ desenhar$ através$ de$ uma$ ideia$ modular.$ Essa$ ideia$ de$ módulo,$ que$ pode$ funcionar$ como$ módulo$ estrutural,$ mas$ que$ não$ tem$ de$ ser$ necessariamente$estrutural,$cria$ritmos.$Gosto$imenso$da$ideia$de$criar$regras$para$depois$quebráBlas.' Também'reparei'que'dá'sempre'grande'destaque'às'escadas...$ As$escadas$são$sempre$um$elemento$importante,$porque$se$trata$de$vencer$um$obstáculo.$Relacionar$ duas$cotas,$é$sempre$um$momento$fundamental.$Não$é$fácil$desenhar$uma$escada$por$causa$da$ideia$de$ movimento.$Penso$que$todos$têm$experiência$com$escadas$que$se$sobem$mal,$ou$que$se$descem$mal,$e$ escadas$ em$ que$ esse$ esforço$ é$ muito$ diminuído$ porque$ há$ um$ momento$ fluido.$ As$ escadas$ são$ das$ peças$ mais$ difíceis$ de$ desenhar,$ mas,$ ao$ mesmo$ tempo,$ são$ das$ mais$ interessantes$ de$ desenhar,$ porque$se$trata$de$resolver$uma$diferença$de$cotas$e$vencer$um$obstáculo.$! Citando! mais! uma! vez! a! Lina! Bo! Bardi,! numa! conferência! chamada! A' arquitetura' como' movimento.' Nota' sobre' a' síntese' das' artes,! esta! afirma:' “A' arquitetura' é' criada,' ‘inventada' de' novo’,' por' cada' homem' que' ande' nela,' que' percorre' o' espaço,' subindo' uma' escada,' ou' descansando' sobre' uma' 211$

guarda,'levantando'a'cabeça'para'observar,'abrir,'fechar'uma'porta,'sentarEse'ou'levantarEse'e'criar' um'contacto'íntimo'e'ao'mesmo'tempo'criar'‘formas’'no'espaço,'o'ritual'primogénito'do'qual'nasceu'a' dança,' primeira' expressão' do' que' será' a' arte' dramática.' Esse' contacto' íntimo,' ardente,' que' era' percebido' pelo' homem' no' começo,' é' hoje' evitado.' A' rotina' e' os' lugares' comuns' contribuíram' para' que' o' homem' evitasse' reparar' na' beleza' natural' do' ‘moverEse' no' espaço’,' no' seu' movimento' consciente,'dos'mínimos'gestos,'da'menor'atitude...”!o!que!acha?! JMR! M! Isto$ foi$ dito$ num$ contexto$ e$ eu$ concordo$ (...)$ Há$ uma$ questão$ muito$ importante$ no$ espaço$ da$ arquitetura$ e$ que$ muitas$ vezes$ é$ esquecida$ B$ a$ escala$ do$ espaço$ é$ sempre$ uma$ relação$ direta$ com$ o$ corpo.$Mas$muitas$vezes$esqueceBse$que$esse$corpo$está$em$movimento,$não$é$um$corpo$estático.$Isto$ é,$ de$ certa$ forma,$ uma$ crítica$ ao$ Modulor# de$ Le$ Corbusier.# O$ Modulor# de$ Le$ Corbusier$ é$ um$ corpo$ estático$–$embora$tenha$várias$posições,$$é$um$corpo$estático,$não$prevê$ou$não$fala$na$importância$do$ movimento$do$corpo$no$espaço.$Nessa$analogia$à$dança,$uma$das$suas$valências$mais$interessantes$é$ perceber$ como$ é$ que$ um$ corpo$ em$ movimento$ pode$ medir$ o$ espaço$ e$ pode$ definir$ espaços.$ Quem$ trabalha$ para$ a$ dança$ percebe$ essa$ questão,$ que$ podia$ ser$ mais$ central$ na$ arquitetura.$ Devíamos$ perceber$não$só$a$relação$do$corpo$com$o$espaço,$na$medida$do$espaço$como$referencial$do$corpo,$mas$ perceber$ também$ que$ o$ corpo$ se$ movimenta.$ $ A$ escala$ do$ corpo$ é$ muito$ importante,$ mas$ não$ é$ suficiente.$Temos$de$pensar$no$corpo,$nas$várias$expressões$e$simultaneamente$no$movimento,$como$é$ que$este$passa$de$espaço$para$espaço.! Mas!acha!que!o!homem!contemporâneo,!depois!da!revolução!industrial,!das!rotinas,!com!o!trabalho,! tem!perdido!essa!sensibilidade!para!apreciar!a!beleza!natural!de!moverMse!no!espaço?! JMR! M! Sim,$ essa$ ideia$ revelaBse$ nos$ filmes$ do$ Jacques$ Tati.$ Os$ seus$ filmes$ têm$ essa$ critica$ à$ ideia$ da$ rotina$e$do$acto$mecânico,$que$não$envolve$o$prazer$de$descobrir$os$espaços.$Penso$que$se$pode$fazer$ essa$ crítica$ após$ a$ revolução$ industrial,$ uma$ crítica$ à$ ideia$ da$ mecanização$ dos$ movimentos$ e$ do$ quotidiano,$que$não$permite$explorar$o$espaço,$que$é$de$descoberta$e$de$coisas$que$não$têm$a$ver$só$ com$o$diaBaBdia.$Ou$melhor,$têm$a$ver$com$o$diaBaBdia,$mas$faz$com$que$o$que$é$belo$possa$desaparecer$ das$nossas$rotinas.! Em!relação!ao!auditório!do!Centro!de!Artes!Contemporâneas,!numa!conferência!sua!disse!que!haviam! umas!plataformas!móveis.!Que!ideia!tem!em!relação!à!utilização!do!espaço!pela!dança?! JMR! M! Na$ criação$ de$ cenários$ tentei$ sempre$ apostar$ em$ objetos$ muito$ flexíveis$ e,$ portanto,$ na$ possibilidade$do$espaço$ser$mutante$e$os$objetos$poderem$ser$móveis,$variáveis$e$transformáveis.$Esses$

212$

foram,$numa$grande$parte$das$minhas$cenografias,$os$meus$princípios.#No$Arquipélago$B$Centro$de$Artes$ Contemporâneas$ surgiu$ a$ possibilidade$ de$ fazer,$ conforme$ pedido$ no$ programa,$ um$ espaço$ multifuncional$e$eu$achei$que$podia$fazer$um$teatro$com$carácter$experimental$e$flexível.$Procurámos$ fazer$ um$ espaço$ multifuncional,$ que$ se$ pudesse$ formatar$ de$ acordo$ com$ os$ espetáculos.$ Portanto,$ desenhámos$ $ uma$ plateia$ móvel$ e$ que$ pode$ configurar$ várias$ cenas$ e$ uma$ teia$ corrida$ que$ permite$ suspender$ cenários$ em$ qualquer$ ponto$ da$ sala,$ com$ um$ sistema$ de$ cordas$ e$ contrapesos.$ Com$ esta$ última$ideia$optámos$por$não$deixar$esse$sistema$oculto,$que$normalmente$é,$mas$a$trabalhar$à$vista$do$ público,$ fazendo$ $ eventualmente$ parte$ dos$ movimentos$ dos$ intérpretes$ e$ possibilitando$ as$ mudanças$ de$ cena.$ Reforçámos$ a$ ideia$ de$ entrar$ numa$ espécie$ de$ palco,$ sendo$ esse,$ não$ só$ um$ espaço$ dos$ intérpretes,$mas$também$um$espaço$do$público.$(...)$Do$ponto$de$vista$cénico$também$tirámos$partido$ desses$elementos,$que$não$são$decorativos,$porque$têm$um$fim,$mas$transpõem$uma$imagem$que$está$ associada$aos$mecanismos$de$mutação.$Em$certa$medida,$também$$filtram$a$luz,$com$um$conjunto$de$ cordas$e$de$berços$que$constituem$uma$espécie$de$cortina$de$luz.! Qual!é!a!sua!posição!em!relação!ao!labor!artesanal,!acha!que!a!tecnologia!nos!espaços!cénicos!tem! trazido!muitas!vantagens?! JMR! M! $O$que$é$curioso$nos$teatros$de$raiz$italiana,$portanto$convencionais,$que$têm$origem$no$século$ XVI$ou$século$XVII,$como$o$Teatro$de$São$João$no$Porto,$é$que$são$as$novas$tecnologias$que$permitem$ usar$aquele$espaço$de$uma$outra$maneira.$Essa$é$também$uma$forma$de$atualizar$o$edifício,$mantendo$ a$ mesma$ estrutura$ espacial,$ o$ que$ pode$ ser$ uma$ vantagem.$ No$ entanto,$ eu$ continuo$ a$ achar$ que$ os$ sistemas$ mais$ artesanais$ funcionam$ muito$ bem$ e$ aquilo$ que$ procurámos$ foi$ usar$ esses$ mecanismos,$ que$já$existem$desde$o$século$XVII,$mas$que$são$muito$apurados$e$por$isso$se$mantêm$até$aos$dias$de$ hoje.$ TrataBse$ de$ sistemas$ muito$ bem$ feitos$ e$ que$ funcionam$ B$ $ portanto,$ não$ estamos$ a$ falar$ de$ sistemas$primitivos,$estamos$a$falar$de$sistemas$que$à$data$eram$muito$evoluídos$e$que$nos$dias$de$hoje$ ainda$funcionam.$AgradaBme$imenso$qualquer$sistema$que$seja$mais$operativo$e$que$possa$fazer$parte$ de$uma$relação$direta$com$os$intérpretes,$como$acontece$com$a$possibilidade$de$qualquer$intérprete$ poder$manobrar$uma$teia,$com$um$simples$gesto$de$subir$e$descer$uma$corda.$Não$quer$dizer$que$não$ concorde$ com$ a$ tecnologia.$ Por$ exemplo,$ o$ som$ foi$ uma$ das$ tecnologias$ que$ mais$ evoluiu.$ Uma$ das$ situações$ que$ mais$ me$ incomoda$ no$ teatro$ é$ a$ impossibilidade$ de$ ouvir$ de$ forma$ consistente$ ou$ o$ esforço$que$os$intérpretes$fazem$para$falar,$que$se$torna$inverosímil.$É$necessário$ter$um$som$que$não$ se$sinta$que$é$amplificado,$porque$não$funciona$ou$porque$tem$muito$ruído.$Portanto,$hoje$em$dia$já$se$ conseguem$resolver$esses$problemas,$com$equipamentos$que$evoluíram$imenso….$Também$a$nível$de$ luz,$se$conquistou$muito,$porque$existem$hoje$projetores$fantásticos$e$é$possível$operar$a$teia$a$partir$ de$ um$ sistema$ informático,$ de$ forma$ mais$ confortável.$ Acho$ que$ faz$ sentido$ ter$ essa$ tecnologia$ de$ 213$

ponta$ num$ teatro$ nacional$ onde$ se$ faz$ todo$ o$ tipo$ de$ espetáculos.$ No$ diaBaBdia$ de$ uma$ companhia$ profissional$não$me$parece$que$seja$absolutamente$necessário.$Existe'uma$situação$que$é$interessante$e$ que$também$já$acontece$na$arquitetura$portuguesa$B$uma$componente$marcadamente$artesanal$e$que$ nos$permite$sermos$reconhecidos$por$isso,$por$ser$muito$particular.$Isso$permiteBnos$fazer$muito$com$ muito$ pouco,$ porque$ estamos$ dentro$ dos$ processos$ de$ como$ se$ constrói$ e$ materializa$ soluções,$ e$ permiteBnos$ desenhar$ tudo,$ porque$ em$ países$ como$ a$ Suíça$ e$ outros$ muito$ evoluídos$ tecnicamente,$ não$ desenhas$ e$ pormenorizas$ muito.$ Nesses$ países,$ escolhes$ os$ modelos$ e$ aplicas,$ mas$ não$ te$ permitem,$por$exemplo,$desenhares$uma$caixilharia.$Em$Portugal,$ainda$existe$uma$relação$forte$com$ quem$ constrói,$ com$ as$ oficinas$ e$ profissionais,$ porque$ o$ território$ é$ muito$ pequeno$ e$ porque$ ainda$ trabalhamos$ de$ forma$ artesanal.$ Quando$ contactamos$ com$ outras$ realidades,$ os$ arquitetos$ estrangeiros$ ficam$ positivamente$ muito$ surpreendidos.$ Eu$ acho$ que$ essa$ forma$ artesanal$ $ é$ uma$ qualidade,$mas$penso$igualmente$que$as$novas$tecnologias$são$importantes.$ Outro&exemplo&é&o&vídeo.&Na&história&dos&últimos&cem&anos,&e&na&cenografia&em&particular,&tem&havido& uma$tendência$para$sair$do$telão$pintado,$do$espaço$bidimensional$para$o$espaço$tridimensional.$Hoje$ em$dia$conseguimos$trabalhar$de$forma$diferente$com$o$vídeo$ou$a$partir$de$imagens$fabulosas,$o$que$ não$se$conseguia$fazer$antes,$porque$não$havia$tecnologia$para$isso.$Essas$imagens$são$muito$bonitas$e$ bem$ feitas,$ mas$ não$ é$ um$ campo$ que$ me$ interesse,$ porque$ interessaBme$ mais$ a$ relação$ com$ a$ arquitetura$e$interessaBme$pouco$a$questão$da$imagem.$InteressaBme$mais$relacionarBme$com$o$espaço$ da$arquitetura$e,$portanto,$procuro$sempre$criar$um$espaço$tridimensional$numa$relação$direta$com$os$ intérpretes.$! Durante!a!conferência!no!Porto,!disse!que!o!auditório!que!projetou!para!o!Centro!de!Artes!foi!muito! condicionado!por!razões!financeiras,!se!não!tivesse!esse!condicionamento!o!que!que!lhe!acrescentava! ou!mudava?! JMR!M!Há$duas$coisas$que$eu$teria$feito.$Uma,$que$era$já$ideia$de$projeto,$era$baixar$a$caixilharia$para$o$ lado$ da$ praça,$ de$ forma$ a$ que$ pudesse$ ser$ completamente$ aberta,$ e$ que$ agora$ só$ é$ visualmente.$ No$ projeto,$na$fase$de$estudo$prévio,$quando$ganhámos$o$concurso,$tínhamos$os$vidros$a$descer$para$o$sob$ palco$ e,$ portanto,$ conseguíamos$ criar$ esse$ efeito$ de$ transpor$ para$ fora.$ Mas$ não$ tivemos$ orçamento$ para$ isso.$ Essa$ é$ uma$ solução$ que$ não$ conseguimos$ implementar,$ para$ minha$ grande$ pena,$ porque$ assim$a$relação$direta$com$a$praça$é$apenas$visual.$A$outra,$era$ter$mais$pé$direito,$sobretudo$quando$a$ bancada$(feita$de$praticáveis$e$quarteladas)$trabalha$acima$do$nível$do$pavimento.$A$altura$do$edifício$ foi$determinada$pela$altura$da$préBexistência$e,$portanto,$se$fosse$agora,$tinha$encontrado$outra$forma$ de$ resolver.$ (indicando# uma# imagem# do# exterior# onde# relaciona# as# duas# construções)$ O$ edifício$ ainda$ 214$

tem$ uma$ teia$ que$ é$ visitável,$ com$ dois$ metros$ de$ altura$ para$ se$ conseguir$ andar,$ (indicando# numa# imagem),$portanto$o$tecto$da$sala$está$limitado.$! Já!visitou!o!espaço!em!utilização?! JMR!–!Já$e$resulta$bem.$Na$revista$CulturAçores$vêmBse$as$várias$formas$de$utilização.$O$João$Fiadeiro$ fez$ lá$ uma$ residência$ e$ naqueles$ espaços$ desenvolveu$ um$ trabalho$ que$ é$ muito$ bonito$ e$ que$ vale$ a$ pena$ver.$! Acha!que!a!falta!de!espaços!como!este!está!a!condicionar!o!desenvolvimento!da!dança!em!Portugal?! JMR! M! Se$ houvesse$ mais$ espaços$ provavelmente$ haveria$ outro$ tipo$ de$ espetáculo,$ embora$ para$ fazer$ digressão$se$tornasse$mais$complicado,$porque$depois$esses$espaços$não$existiriam$em$todo$o$país.$No$ trabalho$ do$ Rui$ Horta,$ que$ é$ muito$ interessante,$ ele$ procura$ sempre$ espaços$ não$ convencionais.$ Por$ outro$ lado,$ quando$ trabalha$ em$ espaços$ convencionais$ leva$ o$ público$ para$ o$ palco.$ Nesse$ sentido,$ trabalha$ o$ espaço$ de$ forma$ oposta,$ para$ que$ possa$ haver$ uma$ relação$ entre$ intérpretes$ e$ público.$ É$ nesse$compromisso$que$é$absolutamente$necessário$trabalhar$B$no$mesmo$espaço$B$a$plateia$e$o$palco$ não$ devem$ ser$ espaços$ distintos.$ O$ Rui$ Horta$ tem$ feito$ um$ trabalho$ muito$ importante$ e$ muito$ interessante$sobre$essa$matéria.! Existem!muitos!espaços!como!este?! JMR! M! Não,$ eu$ penso$ que$ há$ muito$ poucos.$ Há$ quem$ trabalhe$ no$ espaço$ público,$ embora$ não$ seja$ a$ mesma$coisa.$O$melhor$exemplo$na$dança$contemporânea$é$o$Rui$Horta.$A$Madalena$Vitorino$também$ é$ pioneira,$ $ porque$ fez$ um$ trabalho$ muito$ interessante$ em$ espaços$ não$ convencionais$ e$ trabalhou$ muito$essa$ideia.$(Isso#torna#o#trabalho#de#um#arquiteto#complicado)$Pois,$os$artistas$procuram$sempre$ outros$espaços.$A$minha$tese$de$doutoramento$tem$um$capítulo$importante$que$fala$da$intervenção$em$ espaços$não$convencionais$e$do$trabalho$do$Rui$Horta! Agora!para!finalizar,!como!é!que!imagina!a!sua!carreira!de!arquiteto!sem!a!cenografia,!acha!que!seria! muito!diferente?! JMR! M! É$ uma$ boa$ questão.$ Acho$ que$ sim,$ quer$ dizer,$ eu$ acho$ que$ a$ experiência$ acumulada,$ seja$ na$ cenografia,$seja$na$reabilitação,$é$sempre$importante$na$forma$como$te$posicionas$hoje.$É$muito$difícil$ pensar$que$todas$as$experiências$que$tive$não$são$importantes$na$forma$como$encaro$os$projetos$hoje$ e,$ portanto,$ dificilmente$ seria$ igual.$ Mas$ tenho$ a$ certeza$ que$ se$ encontrasse$ uma$ outra$ forma$ de$

215$

expressão,$também$poderia$ser$importante$na$minha$forma$de$trabalhar.$O$que$me$parece$interessante$ no$caso$da$cenografia$é$a$possibilidade$de$experimentação$ser$muito$grande.$Há$muitas$coisas$que$se$ desenham$e$se$constroem$e$que$depois$nem$sequer$vão$para$o$palco,$porque$não$resultam$ou$não$são$ interessantes,$ e$ fazBse$ outra$ coisa$ B$ há$ mesmo$ esta$ capacidade$ de$ experimentação.$ Por$ outro$ lado,$ também$ é$ muito$ interessante$ a$ ideia$ de$ construir$ peças$ que$ são$ efémeras,$ e$ que$ não$ têm$ a$ componente$perene$da$arquitetura,$mas$que$simultaneamente$são$peças$muito$desenhadas$em$função$ dos$intérpretes$e$de$uma$forte$relação$com$o$corpo.$Eu$digo$sempre$isto,$que$não$deixa$de$ser$curioso:$a$ cenografia$que$eu$faço$é$sempre$em$função$dos$intérpretes.$Estou$habituado$a$medir,$a$verificar$se$um$ interprete$é$baixo,$alto,$forte,$...$$Quando$trabalho$em$arquitetura,$desenho$o$espaço$a$partir$da$minha$ relação$com$os$espaços$e,$portanto,$desenho$a$partir$do$meu$corpo.$Quando$trabalho$em$cenografia,$ faço$ o$ contrário$ –$ começo$ por$ medir$ o$ corpo$ dos$ intérpretes$ e$ desenho$ para$ aquele$ corpo.$ Mas$ não$ deixa$de$ser$central$esta$minha$persistência$pela$questão$da$relação$dos$objetos$ou$a$relação$do$espaço$ e$o$corpo,$sendo$coisas$diferentes,$mas$o$que$me$permite$esta$articulação.$Eu$diria$que,$quase$sempre,$ transporto$ temas$ da$ arquitetura$ para$ o$ espaço$ cénico,$ isto$ é,$ não$ consigo$ fazer$ coisas$ a$ fingir.$ Por$ exemplo,$se$a$Olga$Roriz$me$pede$uma$pedra,$eu$douBlhe$uma$pedra.$Não$faço$uma$bola$de$esferovite$e$ finjo$que$é$uma$pedra,$não$consigo$fazer$isso.$Outro$exemplo,$não$consigo$desenhar$um$espaço$estando$ sentado$ passivo$ na$ plateia,$ isto$ é,$ não$ estou$ apenas$ preocupado$ com$ aquilo$ que$ se$ vê$ do$ lado$ do$ público.$ Estou$ preocupado$ com$ a$ construção$ dos$ objetos$ com$ rigor$ construtivo,$ embora$ eles$ tenham$ uma$frente$e$um$verso,$o$lado$visto$pelo$público$e$o$lado$escondido.$Para$mim$eles$devem$ter$o$mesmo$ rigor$ construtivo,$ a$ mesma$ importância$ daquilo$ que$ é$ visto,$ porque$ a$ questão$ vivencial$ é$ muito$ mais$ importante.$Portanto,$remeto$sempre$para$a$questão$de$que$fazer$cenografia$é$criar$uma$casa$para$os$ intérpretes.$Para$mim$é$tão$importante$aquilo$que$não$se$vê,$como$aquilo$que$se$vê,$e$isso$tem$muito$a$ ver$com$a$formação$em$arquitetura.$Acredito$na$verdade$dos$materiais,$naquilo$que$se$quer$fazer$com$ os$materiais,$e$não$numa$ideia$que$é$exatamente$cenográfica.$Por$isso$é$que$digo$que$sou$muito$pouco$ cenógrafo,$que$pode$fingir$uma$coisa$que$não$é,$e$isso$nunca$fiz$B$o$meu$campo$referencial$é$claramente$ a$arquitetura.$$ Usar$o$tema$da$arquitetura$e$transportáBlo$para$o$palco$permiteBme$uma$liberdade$que$na$arquitetura$ não$ tenho,$ porque$ posso$ experimentar$ e,$ como$ já$ disse,$ explorar$ coisas$ que$ não$ têm$ a$ ver$ com$ o$ quotidiano.$ Na$ cenografia$ não$ tenho$ de$ dar$ respostas$ do$ tipo$ do$ quotidiano,$ ligadas$ a$ uma$ função,$ posso$remeter$para$outras$coisas,$desde$que$isso$faça$parte$do$movimento$e$da$coreografia$ou$daquilo$ que$ se$ quer$ comunicar.$ Na$ arquitetura$ tenho$ necessariamente$ de$ dar$ resposta$ às$ situações$ do$ diaBaB dia.$Na$cenografia$não$tem$de$ser$desta$forma,$existe$um$carácter$muito$simbólico$dos$materiais$e$dos$ espaço,$que$me$agrada,$porque$não$corresponde$necessariamente$a$uma$visão$funcionalista.$Não$é$que$ 216$

eu$não$entenda$a$arquitetura$dessa$maneira,$antes$pelo$contrário,$mas$as$questões$e$as$respostas$do$ diaBaBdia$são$questões$da$arquitetura$e$na$cenografia$existe$essa$liberdade.$É$isso$que$me$interessa$na$ cenografia$ B$ testar$ limites,$ mas$ de$ uma$ forma$ que$ eu$ acho$ que$ é$ particularmente$ interessante.$ Fazer$ este$trabalho$é$testar$os$limites$da$arquitetura$B$é$perceber$que$o$espaço$efémero,$o$espaço$simbólico,$ o$espaço$representativo,$também$pode$ser$arquitetura.$Mas$claramente$transporto$sempre$aqui$temas$ da$arquitetura$porque$é$isso$que$me$interessa,$é$esse$confronto$com$uma$nova$realidade,$sendo$que$a$ arquitetura$e$a$cenografia$são$coisas$diferentes.$! ! !

217$

!

Índice!de!Imagens! Fig.!1!M!Lyonel$Feininger:$A$catedral$do$Socialismo,$capa$do$manifesto$da$Bauhaus!$In#MOMA$[em$linha].$ Nova$Iorque:$2015.$[consult.$2015B09B09].$Disponível$na$Internet:$ http://www.moma.org/collection/works/63072$$ $ $ $ $$$_____________$P.$125$ Fig.!2M$Originalmente$Colégio$de$Artes$Aplicadas,$1904,$projetado$por$Henry$van$de$Velde,$convertido$à$ Escola$Bauhaus$de$Weimar#in'Bauhaus!Online$[em$linha].$[consult.$2015B09B01].$Disponível$na$Internet:$ http://bauhausBonline.de/en/atlas/werke/weimarBacademyBofBartBbuilding$ $$$$_____________$P.128$ Fig.!3M$Escola$Bauhaus$em$BerlimBSteglitz,$projetado$por$Howard$Dearstyne,$em$1932$in'Bauhaus!Online$ [em$linha].$[consult.$2015B09B01].$Disponível$na$Internet:$http://bauhausBonline.de/en/atlas/werke/theB bauhausBbuildingBinBberlinBsteglitz$$$$ $ $ $ $$$$$$$$$$$$$$$$$$$_____________$P.128$ Fig.!4M$Fotografia$de$Luci$Moholy,$projeto$de$Walter$Gropius,$Edifício$da$Bauhaus$em$Dessau,$1926$in# Bauhaus!Online$[em$linha].$[consult.$2015B09B01].$Disponível$na$Internet:$http://bauhausB online.de/en/atlas/werke/bauhausBbuildingBdessau$ $ $ $ $$$$_____________$P.128$ Fig.!5M$Fotografia$de$László$MoholyBNagy$Varandas$da$Bauhaus,$Dessau#in#VALDIVIESO,$Mercedes$–$La! Bauhaus!de!fiestas!1919M1933.!Barcelona:$Fundació$la$caixa,$2005,$p.85$ $$$$_____________$P.130$ Fig.!6$Walter$Gropius/Adolf$Meyer:$Fábrica$Fagus$Alfeld$del$Leine,$1911$in$WICK,$Rainer$B$La!pedagogía! de!la!Bauhaus.$Madrid:$Alianza$Editorial,$1998.$P.32$$ $ $ $$$$_____________$P.130$ Fig.!7M!Seigfried$(1926)$Giesenschlag$no$seu$estúdio$na$residência$de$estudantes$em$Dessau$ in#VALDIVIESO,$Mercedes$–$La!Bauhaus!de!fiestas!1919M1933.!Barcelona:$Fundació$la$caixa,$2005,$p.73 $ $ $ $ $ $ $ $ $ $$$$_____________$P.130$ Fig.!8M!Eric$Consemuller$ou$T.$Lux$Feininger,$danças$da$Bauhaus$1929$In#WILK,$Christopher$–$Modernism:! designing!a!new!world.$London:$V&A$Publications,$2006,$p.112$ _____________$P.132$ Fig.!9M$Eric!Consemuller$(1927)$o$Grupo$de$teatro$no$terraço$da$Bauhaus,$Dessau#in'ACKERMANN,$Ute$$ [et.al.]$–$Bauhaus.!Madrid:$Konemann,$2000,$p.$534$$ $ $ $$$$_____________$P.132$ Fig.!10M!Oskar$Schlemmer:$plano$geral$do$trabalho$mural$nas$oficinas,$Weimar$1923$in$WICK,$Rainer$B$La! pedagogía!de!la!Bauhaus.$Madrid:$Alianza$Editorial,$1998.$P.42$ $ $$$$_____________$P.136$

218$

! Fig.! 11M$Isadora! Duncan#in' Isadora! Duncan! [em$linha].$[consult.$2015B06B03].$Disponível$na$internet:$ http://www.isadoraduncan.org/theBfoundation/aboutBisadoraBduncan$ $$$$_____________$P.140$ Fig.!12M!Oskar$Schlemmer,$A#escada#de#Bauhaus.$1932,$óleo$sobre$lona$grossa,$161x113cm#in# ACKERMANN,$Ute$$[et.al.]$–$Bauhaus.$Madrid:$Konemann,$2000,$p.$238$ $$$$$$$$$___________$P.142$ Fig.!13M!Poster:$Das#Triadische#Ballet$(Ballet$Triádico)$1924$Litografia,$colorido$com$tempera,$montado$ num$cartão$81x56cm$Bühnen$Archiv$Oskar$Schlemmer,$collection$U.$Jaina$Schlemmer$in#WILK,$ Christopher$–$Modernism:!designing!a!new!world.$London:$V&A$Publications,$2006,$p.135$$$_____$P.144$ Fig.!14M!Os$figurinos$do$Ballet#Triádico$na$revista$Wieder#Metropol,$MetropoBTheater,$Berlim,$1926,$ fotografia$de$Ernst$Schneider,$Bühnen$Archiv$Oskar$Schlemmer$in#ACKERMANN,$Ute$$[et.al.]$–$Bauhaus.$ Madrid:$Konemann,$2000,$p.$542$ $ $ $ $ $ $$$$_____________$P.144$ Fig.!15M!As$leis$do$homem$orgânico#in!SCHLEMMER,$Oskar;$GROPIUS,$Water;$MOLNÁR,$Falkas$B#The! Theatre!of!the!Bauhaus.$Berlim:$GROPIUS,$Walter;$WENSINGER,$Arthur$S.$1961.$P.24!!__________$P.148$ Fig.!16M!Arquitetura$ambulante#in#SCHLEMMER,$Oskar;$GROPIUS,$Water;$MOLNÁR,$Falkas$B#The!Theatre! of!the!Bauhaus.$Berlim:$GROPIUS,$Walter;$WENSINGER,$Arthur$S.$1961.!P.26$ $$$$$$____________$P.149$ Fig.!17M!A$marioneta#in#SCHLEMMER,$Oskar;$GROPIUS,$Water;$MOLNÁR,$Falkas$M'The!Theatre!of!the! Bauhaus.$Berlim:$GROPIUS,$Walter;$WENSINGER,$Arthur$S.$1961.!P.26$ $ $$$$$$$____________$P.150$ Fig.!18M$Organismo$Técnico#in$SCHLEMMER,$Oskar;$GROPIUS,$Water;$MOLNÁR,$Falkas$B#The!Theatre!of! the!Bauhaus.$Berlim:$GROPIUS,$Walter;$WENSINGER,$Arthur$S.$1961.$P.27$ $$$$$$$____________$P.151$ Fig.! 19M$Desmaterialização$in' SCHLEMMER,$Oskar;$GROPIUS,$Water;$MOLNÁR,$Falkas$B#The! Theatre! of! the!Bauhaus.$Berlim:$GROPIUS,$Walter;$WENSINGER,$Arthur$S.$1961.$P.26$ $$$$$$$____________$P.152$ Fig.!20M$Heirich$von$Kleist’s:$über$das$marionettentheater#in!Kleist!Museum![em$linha].$[consult.$2015B 06B03].$ Disponível$ na$ internet:$ http://www.kleistBmuseum.de/kleistBmuseum/webB archiv/ausstellungenB2011/$ $ $ $ $ $ $$$$$$$____________$P.153$ Fig.! 21M$ Homem$ gerador$ de$ espaço# in! SCHLEMMER,$ Oskar;$ GROPIUS,$ Water;$ MOLNÁR,$ Falkas$ B# The! Theatre!of!the!Bauhaus.$Berlim:$GROPIUS,$Walter;$WENSINGER,$Arthur$S.$1961.$P.24$$$_________$P.154$

219$

Fig.! 22/23M$ Carl$ Fieger,$ Primeira$ fase$ do$ projeto# in! PRIETO$ LOPEZ,$ Juan$ Ignacio$ –$ Teatro! Total:! la! arquitectura!teatral!de!la!vanguardia!europea!en!el!período!de!entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$ Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$Doutoramento.$P.$172$ $ $$$$$$$____________$P.162$ Fig.! 24M$ Walter$ Gropius:$ Teatro$ Total,$ segunda$ fase# in! PRIETO$ LOPEZ,$ Juan$ Ignacio$ –$ Teatro! Total:! la! arquitectura!teatral!de!la!vanguardia!europea!en!el!período!de!entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$ Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$Doutoramento.$P.$172$ $ $$$$$$$____________$P.162$ Fig.! 25M$ Walter$ Gropius:$ Teatro$ Total,$ segunda$ fase# in! PRIETO$ LOPEZ,$ Juan$ Ignacio$ –$ Teatro! Total:! la! arquitectura!teatral!de!la!vanguardia!europea!en!el!período!de!entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$ Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$Doutoramento.$P.$172$ $ $$$$$$$____________$P.162$ Fig.! 26/27/28M$ Walter:$ Bauersfeld:$ Zeis$ (Primeiro$ Planetário)$ 1922$ in! PRIETO$ LOPEZ,$ Juan$ Ignacio$ –$ Teatro!Total:!la!arquitectura!teatral!de!la!vanguardia!europea!en!el!período!de!entreguerras.$Coruña:$ Escola$Técnica$Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$Doutoramento.$P.$174$ $$$$$$$____________$P.164$ Fig.! 29/30/31M$ Walter:$ Bauersfeld:$ Zeis$ (Primeiro$ Planetário)$ 1922$ in! PRIETO$ LOPEZ,$ Juan$ Ignacio$ –$ Teatro!Total:!la!arquitectura!teatral!de!la!vanguardia!europea!en!el!período!de!entreguerras.$Coruña:$ Escola$Técnica$Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$Doutoramento.$P.$174$ $$$$$$$____________$P.164$ Fig.! 32/33M$Axonometria$e$vista$do$interior$Teatro$Total$configuração$à$italiana$com$proscénio$e$caixa$ cénica#in!PRIETO$LOPEZ,$Juan$Ignacio$–$Teatro!Total:!la!arquitectura!teatral!de!la!vanguardia!europea! en! el! período! de! entreguerras.$ Coruña:$ Escola$ Técnica$ Superior$ de$ Arquitetura,$ 2013.$ Tese$ de$ Doutoramento.$P.$180B181$ $ $ $ $ $ $$$$$$$____________$P.166$ Fig.!34/35M$Axonometria$e$vista$do$interior$Teatro$Total$configuração$em$arena$central$(circo)#in!PRIETO$ LOPEZ,$Juan$Ignacio$–$Teatro!Total:!la!arquitectura!teatral!de!la!vanguardia!europea!en!el!período!de! entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$Doutoramento.$P.$180B181 $ $ $ $ $ $ $ $ $ $$$$$$$____________$P.166$ Fig.!36/37M$Axonometria$e$vista$do$interior$Teatro$Total$configuração$à$tetro$isabelino#in!PRIETO$LOPEZ,$ Juan$ Ignacio$ –$ Teatro! Total:! la! arquitectura! teatral! de! la! vanguardia! europea! en! el! período! de! entreguerras.$Coruña:$Escola$Técnica$Superior$de$Arquitetura,$2013.$Tese$de$Doutoramento.$P.$180B181 $ $ $ $ $ $ $ $ $ $$$$$$$____________$P.166$

220$

Fig.! 38M$Museu$de$Arte$São$Paulo$in! OLIVEIRA,$Olivia$de$–$Lina! Bo! Bardi:! obra! construída.$São$Paulo:$ Editora$G.$Gili,$Lta,$2014.$P.$61$ $ $ $ $ $ $$$$$$$____________$P.168$ Fig.! 39M$ Disposição$ dos$ quadros$ in! PERESSOTTI,$ Magdalena$ –$ Una! casa! a! la! vista.$ Catalunha:$ Universidade$Politécnica$de$Catalunya,$2009.$P.25$ $ $ $ $$$$$$$____________$P.168$ Fig.! 40M$ Proximidade$ entre$ arte$ e$ public$ in! PERESSOTTI,$ Magdalena$ –$ Una! casa! a! la! vista.$ Catalunha:$ Universidade$Politécnica$de$Catalunya,$2009.$P.26$ $ $ $ $$$$$$$____________$P.168$ Fig.! 41M$ Desenho$ de$ Lina$ do$ vão$ in! OLIVEIRA,$ Olivia$ de$ –$ Lina! Bo! Bardi:! obra! construída.$ São$ Paulo:$ Editora$G.$Gili,$Lta,$2014.$P.$3$ $ $ $ $ $ $$$$$$$____________$P.168$ Fig.!42M$Vista$para$o$palco$in!OLIVEIRA,$Olivia$de$–$Lina!Bo!Bardi:!obra!construída.$São$Paulo:$Editora$G.$ Gili,$Lta,$2014.$P.$75$ $ $ $ $ $ $ $$$$$$$____________$P.172$ Fig.!43M$Planta$Auditório$in!OLIVEIRA,$Olivia$de$–$Lina!Bo!Bardi:!obra!construída.$São$Paulo:$Editora$G.$ Gili,$Lta,$2014.$P.$66$ $ $ $ $ $ $ $$$$$$$____________$P.172$ Fig.!44M$Desenhos$de$lina$das$várias$configurações$do$auditório$in!PERESSOTTI,$Magdalena$–$Una!casa!a! la!vista.$Catalunha:$Universidade$Politécnica$de$Catalunya,$2009.$P.28$$ $$$$$$$$$$$__________$P.174$ Fig.! 45M$ Cenografia$ de$ Appia$ in! DIAS,$ Marina$ –$ El! spacio! a! escena! del! teatro! moderno! al! contemporâneo! (parte! 02).! Arquitextos$ [Em$ linha].$ 129.00$ (2011).$ [Consult.$ 2015B08B13].$ Disponível$ em:!http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.129/3752$ $$$$$$$$$$$__________$P.176$ Fig.!46M$Transposição$da$cenografia$de$Appia$no$espaço$cénico$in!PERESSOTTI,$Magdalena$–$Una!casa!a! la!vista.$Catalunha:$Universidade$Politécnica$de$Catalunya,$2009.$P.28$$ $$$$$$$$$$$$$$$$$ $ $ $ $ $ $ $ $ $$$$$$$$$$$$ $$$$$$$$$$$$$_________$P.176$ Fig.!47M$Lina$Bo$Bardi,$estudo$do$teatro$20.000$in!Bo$Bradi,$Lina$–$Contribuição!propedêutica!ao!ensino! da!Arquitetura.!São$Paulo:$Marprint$Editora$Fotolito$e$Gráfica,$Lta,$2002.$P.63$ $ $$$ $ $ $ $ $ $ $ $ $$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$$________$P.180$ Fig.!48M$Lina$Bo$Bardi,$estudo$do$teatro$20.000$in!Bo$Bradi,$Lina$–$Contribuição!propedêutica!ao!ensino! da!Arquitetura.!São$Paulo:$Marprint$Editora$Fotolito$e$Gráfica,$Lta,$2002.$P.63$ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $ $$$$$$$$$$$$$ $$$$$$$$$$$$$$$________$P.180$

221$

Fig.! 49M$ Cenografia$ Pedro# e# Inês,# Companhia$ Nacional$ de$ Bailado$ in! ArchDaily$ [em$ linha].$ [consult.$ 2015B09B16].$ Disponível$ na$ Internet:! http://www.archdaily.com.br/br/01B58218/cenografiaBeB arquiteturaBpedroBeBinesBjoaoBmendesBribeiro/58218_58230$$ $$$$$$ $$$$$$$$$$$$$$$________$P.184$ Fig.! 50M$ Cenografia$ Pedro# e# Inês,# Companhia$ Nacional$ de$ Bailado$ in! ArchDaily$ [em$ linha].$ [consult.$ 2015B09B16].$ Disponível$ na$ Internet:! http://www.archdaily.com.br/br/01B58218/cenografiaBeB arquiteturaBpedroBeBinesBjoaoBmendesBribeiro/58218_58223$$ $$$$$$ $$$$$$$$$$$$$$$________$P.184$ Fig.! 51M$ Cenografia$ Pedro# e# Inês,# Companhia$ Nacional$ de$ Bailado$ in! ArchDaily$ [em$ linha].$ [consult.$ 2015B09B16].$ Disponível$ na$ Internet:! http://www.archdaily.com.br/br/01B58218/cenografiaBeB arquiteturaBpedroBeBinesBjoaoBmendesBribeiro/58218_58226$$ $$$$$$ $$$$$$$$$$$$$$$________$P.186$ Fig.!52M$Arquipélago$–$Centro$de$Artes$Contemporâneas$in!ArchDaily$[em$linha].$[consult.$2015B09B16].$ Disponível$ na$ Internet:$ http://www.archdaily.com.br/br/762180/arquipelagoBcentroBdeBartesB contemporaneasBmenosBeBmaisBarquitectosBplusBjoaoBmendesBribeiroBarquitecto$$$$$$$$$$$________$P.188$ Fig.!53M$Arquipélago$–$Centro$de$Artes$Contemporâneas$in!ArchDaily$[em$linha].$[consult.$2015B09B16].$ Disponível$ na$ Internet:$ http://www.archdaily.com.br/br/762180/arquipelagoBcentroBdeBartesB contemporaneasBmenosBeBmaisBarquitectosBplusBjoaoBmendesBribeiroBarquitecto$$$$$$$$$$$________$P.190$ Fig.! 54M$ Black$ box,$ Centro$ de$ Artes$ Contemporâneas$ in! ArchDaily$ [em$ linha].$ [consult.$ 2015B09B16].$ Disponível$ na$ Internet:$ http://www.archdaily.com.br/br/762180/arquipelagoBcentroBdeBartesB contemporaneasBmenosBeBmaisBarquitectosBplusBjoaoBmendesBribeiroBarquitecto$$$$$$$$$$$________$P.190$ Fig.! 55M$ Esquisso$ do$ sistema$ de$ plataformas$ do$ teatro$ do$ Arquipélago$ in! Entrevista$ realizada$ a$ João$ Mendes$Ribeiro$no$dia$27$de$Agosto$de$2015,$no$seu$atelier$em$Coimbra.$ $$$$$$$$$$$$$_________$P.192$ Fig.!56M$Teatro$Schaubuhne$de$Enrik$Mendelson,$em$Berlim$in!!“Schaubuhne!Lehniner!Platz”#[Em$linha].$ Berlim:$ OISTAT,$ 2010.$ $ [Consult.$ 9$ Junho$ 2015].$ Disponível$ em$ WWW:$
Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.