INTERESSE PÚBLICO VERSUS ENTRETENIMENTO NOS MEIOS ELETRÔNICOS: O INTERESSE DOS ELEITORES DE PORTAIS DE NOTÍCIA BRASILEIROS POR TEMAS POLÍTICOS E SOCIAIS EM PERÍODO ELEITORAL E NÃO ELEITORAL

June 29, 2017 | Autor: C. Quesada Tavares | Categoria: Jornalismo Online, Jornalismo Político
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ALACIP 2015 - VIII Congreso Latinoamericano de Ciencia Política Del 22 a 24 de julio de 2015 – Lima, Peru http://congreso.pucp.edu.pe/alacip2015/

PANEL ALACIP JOVEN – COMUNICACIÓN POLÍTICA Y ELECCIONES INTERESSE PÚBLICO VERSUS ENTRETENIMENTO NOS MEIOS ELETRÔNICOS: O INTERESSE DOS ELEITORES DE PORTAIS DE NOTÍCIA BRASILEIROS POR TEMAS POLÍTICOS E SOCIAIS EM PERÍODO ELEITORAL E NÃO ELEITORAL1 Camilla Quesada Tavares2 Michele Goulart Massuchin3 RESUMO: A proposta deste paper é discutir como os veículos informativos online contribuem com o debate sobre temas de interesse público e de que maneira notícias sobre política têm disputado a atenção do público com as notícias de entretenimento que possuem menor relevância social. A análise é feita a partir das notícias que são mais acessadas em três grandes portais informativos brasileiros – UOL, Folha.com e G1. Este trabalho analisa se a tendência de segmentação entre os portais – resultado encontrado em pesquisas anteriores - tende a se conservar com o passar do tempo, propondo uma análise comparativa entre os três últimos anos: 2012, 2013 e 2014. Ao todo, foram 3951 notícias analisadas, todas pertencentes às seções “mais lidas do dia”. A metodologia utilizada é quantitativa de análise de conteúdo, sendo que os primeiros resultados com os dados comparativos longitudinais indicam que a segmentação se mantém, mas que questões políticas têm chamado mais a atenção dos leitores em todos os portais de maneira geral. Eleições nacionais e manifestações políticas estão entre as possíveis explicações para o aumento do interesse. PALAVRAS-CHAVE: interesse público, jornalismo, portais de notícias. INTRODUÇÃO Este paper4 tem por objetivo discutir como os veículos informativos online contribuem com o debate sobre temas de interesse público, na medida em que oferecem subsídios para o debate na esfera pública e servem também como fontes de informação, juntamente com o leque de meios de massa disponíveis. Também se pretende observar 1

Trabalho apresentado no VIII Congreso Latinoamericano de Ciencia Política, organizado pela Asociación Latinoamericana de Ciencia Política (ALACIP). Pontificia Universidad Católica del Perú, Lima, 22 a 24 de julho de 2015. 2 Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestre em Ciências Sociais Aplicadas pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e graduada em Comunicação Social – Jornalismo pela mesma instituição. É professora colaboradora do curso de Jornalismo da UEPG e faz parte do grupo de pesquisa em Jornalismo e Política: representações e atores sociais (UEPG), e do Laboratório de Mídia e Democracia (LAMIDE/UFF). E-mail: [email protected]. 3 Doutoranda em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), mestre em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e graduada em Comunicação Social Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Faz parte do Grupo de Pesquisa em Comunicação Política, Partidos e Eleições da UFSCar e do Núcleo de Pesquisa emComunicação Política e Opinião Pública da UFPR. Atualmente é bolsista FAPESP (Fundo de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo). E-mail: [email protected]. 4 A primeira parte desta pesquisa, realizada em 2012, teve apoio financeiro do Instituto de Pesquisa UOL e foi orientada pelo prof. Dr. Emerson Urizzi Cervi. As autoras também agradecem aos alunos de Jornalismo da UEPG, Edgar Ribas e Aline Czezacki Kravutschke, que auxiliaram no processo de coleta de dados diário em 2013 e 2014.

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como as notícias sobre política disputam a atenção do público com aquelas voltadas ao entretenimento e que, portanto, possuem menos relevância. A análise proposta é feita a partir das notícias que são mais acessadas em três grandes portais de notícias brasileiros – UOL, Folha.com e G1. Este estudo analisa se a tendência de segmentação entre os portais – resultado encontrado em pesquisas anteriores, de que alguns atendem ao entretenimento e outros a temas de interesse público5 - tende a se conservar com o passar do tempo, por meio de uma análise comparativa entre os três últimos anos: 2012, 2013 e 2014. O corpus da pesquisa possui 3951 notícias, as quais foram categorizadas a partir do método quantitativo de análise de conteúdo, por meio de um livro de codificação previamente elaborado com base nas discussões teóricas. Os primeiros resultados com os dados comparativos longitudinais indicam que a segmentação se mantém, mas que questões políticas têm chamado mais a atenção dos leitores em todos os portais de maneira geral. Eleições nacionais e manifestações políticas estão entre as possíveis explicações para o aumento do interesse. O paper segue dividido em três partes: uma discussão dos pressupostos teóricos, a apresentação da metodologia utilizada e a análise dos dados. Por fim, apresentam-se as considerações finais. MARCO TEÓRICO Com a internet houve aumento da quantidade de informações disponível para o debate público devido ao maior trânsito de notícias com maior agilidade e rapidez. Potencialmente a rede permite difusão rápida da informação, atualizações contínuas e acesso de qualquer lugar para qualquer site ou blog disponível. Em função dessas características ela está integrada ao processo de debate e com o aumento do número de pessoas conectadas, sua importância na sociedade passou a se destacar, principalmente por poder contribuir com as discussões públicas necessárias em regimes democráticos, principalmente em períodos eleitorais, onde a circulação de informação é um agente importante. Alguns autores, como Blanco (2000), destacam que os meios de comunicação – novos ou velhos - possuem o papel de publicizar os temas que antes pertenciam somente ao mundo privado, mas que eram de interesse público. Segundo 5

Ver resultados anteriores em: CERVI, E. U. ; MASSUCHIN, M. G. Jornalismo político e interesse do público: as notícias mais lidas do dia e o papel dos portais como fonte de informação política em período eleitoral. In: Daniela Rocha, Luciana Panke, Roberto Gondo Macedo. (Org.). O jornalismo político nos processos eleitorais. Capivari: Nova Consciência, 2013, v. 1, p. 98-120.

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ele, os acontecimentos deixam de ser privados ou de permanecer apenas na esfera política quando recebem visibilidade dos meios de comunicação. A mídia, juntamente com outras variáveis informacionais, compõe o ambiente informacional dos indivíduos (Cervi, 2009). Nas discussões mais recentes sobre democracia, como as feitas por Dahl (2009), Manin (1995) e Miguel (2000), os meios de comunicação ocupam um espaço importante. Dahl (2009) é um dos primeiros autores a estudar a democracia incluindo a presença de fontes diversificadas de informação como uma das condições/exigências para o funcionamento desse tipo de regime. O papel da mídia, seja da internet ou dos veículos tradicionais, dentro dessa discussão sobre mídia e democracia, é oferecer informações que sejam relevantes para que os indivíduos se mantenham informados sobre temas de interesse público. É partindo dessa discussão que se amplia as pesquisas sobre comunicação na internet em períodos eleitorais, pois sabe-se que o novo meio de comunicação tem potencialidades para fazer parte desse leque de veículos responsáveis em publicizar temas de interesse público que são importantes em momentos de decisão política. Em função do impacto que a produção jornalística possui, faz-se necessário, também, discutir as variáveis que interferem no processo de produção. Sabe-se que há diversos fatores que influenciam o trabalho nas redações e que ajudam a explicar – juntamente com fatores externos e contextuais - o porquê de as notícias possuírem determinadas características. As notícias mais lidas – objeto de análise deste estudo - exprimem os gostos e temas mais procurados pelo público que acessa a internet e também explica outras questões, como a contribuição dos grandes portais de notícia na qualidade do debate gerado pela mídia e o quanto a internet, representada pelos grandes portais de notícia, teve um papel relevante na procura por informações referentes à política e eleições, principalmente em 2012. Ao olhar para as notícias mais acessadas em cada dia é possível perceber o quanto os sites têm contribuído para a divulgação de informações, ora de interesse público, ora mais próximas do entretenimento. Essa seção serve como parâmetro daquilo que é mais procurado, e expressa, em parte, os gostos e interesses que o público leitor possui quando acessa a rede a procura de determinado tipo de informação. Parte-se do pressuposto de que, dependendo daquilo que é mais acessado podese dizer que a internet colabora mais ou menos com a qualidade do debate que ocorre na sociedade, pois os dados fornecidos pelas “notícias mais lidas do dia” dão indícios do www.alacipjoven.org

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que aquilo que, de fato, é procurado e absorvido de toda a produção jornalística online feita pelos grandes portais. Isso é importante, principalmente quando se trata de período eleitoral, pois se espera que o público tenha maior interesse por assuntos relacionados à política. Apesar de os portais possuírem conteúdos que abrangem tanto temas de interesse público quanto temas de entretenimento, nem todos os assuntos chamam a atenção dos internautas e o objetivo dessa pesquisa é tentar entender o que tende a ser mais procurado, observando possíveis mudanças ao longo do tempo, comparando 2012, 2013 e 2014. A abordagem das notícias mais lidas também permite tomar estes dados como um dos fatores que interferem na produção jornalística, traduzindo como “interesse do público”. Segundo Zaller (2003), as demandas também auxiliam para explicar as mudanças nos processos de produção das notícias. Juntamente com os fatores internos à redação, as notícias mais buscadas também compreendem um fator de impacto para modificar a rotina de produção dos veículos, pois tem relação com os interesses mercadológicos que também fazem parte dos gates que interferem no processo de produção jornalística (Shoemaker e Voz, 2010). A partir do momento que as pessoas demonstram que preferem ler notícias hard ou soft, a mídia vai, aos poucos, direcionando a produção para aquilo que seu público tem interesse. Isso pode variar de portal para portal e não há dados nesta pesquisa que comprovam tal afirmação, mas parte-se da Teoria do Gatekeeping (Shoemaker e Voz, 2010), apropriando-a para o caso estudado. Seguindo este raciocínio, esse espaço das notícias mais lidas do site é usado também como forma de avaliar e modificar a própria produção, no sentido de direcionar os produtores para aquilo que o público está acessando mais em cada portal (Shoemaker et al., 2010). Dois conceitos chaves para a discussão proposta aqui é de hardnews e softnews. Aqui este conceito é tomado a partir das diferenças temáticas e não na maneira como as notícias são estruturadas, principalmente porque Berrocal, Campos-Domínguez e García, (2012) discutem o fato de notícias políticas com uma narrativa voltada ao entretenimento também possa ter alguma carga de informação. A partir da diferença temática, compreende-se que notícias hardnews são de interesse público e coletivo, ao contrário das softnews, que tratando de entretenimento e celebridades, enfraquece o nível de informação relevante (Zaller, 2003). Essa diferenciação é utilizada na análise para a criação de tipologias distintas de conteúdo, o que também tem relação com o jornalismo rosa, abordado por Humanes (2006), o qual é voltado ao entretenimento e www.alacipjoven.org

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com informações pouco relevantes do ponto de vista político e social. O trabalho de Cervi (2009) indica que mesmo em períodos eleitorais, os jornais brasileiros locais optam pela predominância de notícias de entretenimento na primeira página, o que vai ao encontro da proposta de Humanes (2006), da presença deste jornalismo rosa. Uma das questões levantadas neste debate da comunicação produzida pela internet é o caráter de entretenimento que foi modelando esse processo produtivo e, embora tenha começado com a televisão (Holtz-Bacha e Norris, 2001), ganhou espaço na rede (Berrocal, Campos-Domínguez e García, 2012). Embora isso não seja característico de todos os veículos, as notícias caracterizadas por Tuchman (1978) como softnews tendem a se destacar na internet. É como coloca Esteves (2005) sobre o surgimento de um novo gênero chamado infomercial ou infotainment. Ou seja, temas privados passam a tomar o espaço de temas de interesse público. Atualmente são frequentes notícias sobre famosos, fofocas, programas de entretenimento, esportes, entre outros assuntos e já há pesquisadores preocupados em estudar o uso do entretenimento em diversos meios de comunicação (Prior, 2010), principalmente na internet (Berrocal, Campos-Domínguez e García, 2012). Segundo Prior (2010), notícias softs seriam uma maneira de chamar a atenção de pessoas que não se interessam por notícias hard, como política, por exemplo, e levá-las a consumir esse tipo de conteúdo mais relevante por meio de notícias de entretenimento. Pensando em sites informativos, a pessoa que buscaria informações sobre as novelas acabaria entrando em contato com notícias sobre política e economia, por exemplo, e isso contribuiria de alguma forma para que ela fosse minimamente informada sobre o que está sendo discutido nessas áreas. O estudo de Prior (2010) sobre o caso americano mostra ainda que a maior parte do público prefere hardnews às softnews. De acordo com Althus e Tewksbury (2000) a internet não tem sido uma forte concorrente dos jornais impressos como se arriscava dizer na década de 1990. Segundo os autores isso não ocorre, pois o público que acessa o jornal quer um tipo de informação que ele não procura na internet. Quem acessa a rede pode ser, inclusive, o mesmo público que lê jornal. A grande diferença, na perspectiva dos autores, está no conteúdo acessado, pois a informação buscada pelo público majoritariamente jovem na rede é de entretenimento e não notícias propriamente ditas, as quais eles leem nos jornais. Esse trabalho indica, portanto, uma tendência da busca de informações de entretenimento na rede, o que possivelmente terá impacto na produção que vai se adaptar a esse público. www.alacipjoven.org

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Partindo do cenário em que o jornalismo sofreu transformações e tem se utilizado do entretenimento nas notícias, pretende-se, portanto, identificar qual o interesse do usuário brasileiro que acessa os grandes portais informativos, considerando que ele pode optar em acessar notícias de interesse público ou sobre “varidades”. Os resultados permitem discutir o quanto esse espaço de comunicação é utilizado para complementar o debate público a partir do interesse das pessoas pelo que é produzido ou não, na medida em que o maior acesso se dá ao conteúdo denominado como jornalismo rosa (Humanes, 2006). Ou seja, quanto mais as pessoas usam esse espaço para informação de interesse público, mais ele contribui com o debate. Do contrário, a internet não está tendo um papel tão relevante para as discussões públicas na medida em que tende a ser mais procurada para entretenimento e assim, ao invés de agendar temas de interesse público, agenda notícias sobre celebridades e varidades (McCombs, 2010). Se esse espaço for usado apenas para busca de entretenimento, os sites pouco contribuem para o debate, principalmente em períodos eleitorais em que o público poderia se utilizar dessa fonte para se informar sobre política e temas correlatos. Além disso, mesmo com o destaque para notícias soft na internet como a literatura tem chamado a atenção, um dos períodos de análise trata-se do momento de campanha eleitoral, quando a variável informação política tem importância no debate público. Do mesmo modo, há maior produção por parte dos meios de comunicação e, se pressupõe, maior interesse do público pelo assunto. Em função do período analisado, o tema político ganha um destaque especial na análise, pois se procura identificar o lugar do tema política entre os assuntos mais buscados nos grandes portais, comparando entre eles e também ao longo dos anos. No tópico seguinte são apresentadas as escolhas metodológicas da pesquisa proposta.

ASPECTOS METODOLÓGICOS A metodologia escolhida para a análise é quantitativa de conteúdo, já que se considera uma grande quantidade de casos na pesquisa. O corpus de análise considera as notícias mais lidas do dia em três grandes portais – Folha.com, G1 e UOL – totalizando 3951 notícias. Estas notícias foram extraídas diariamente e manualmente – sempre após às 22 horas – durante o período de julho a outubro de 2012, 2013 e 2014. O período compreende os 90 dias de campanha eleitoral em 2012 e 2014, sendo reproduzido também em 2013 para permitir comparações dos dados. Ressalta-se que as notícias extraídas faziam parte da seção “mais lidas do dia”, que trata de uma seleção www.alacipjoven.org

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feita pelos próprios veículos e disponibilizadas nos portais, considerando a quantidade de acesso às notícias publicadas. Portanto é um ranking apresentado e disponibilizado pelos portais e não definido pelos pesquisadores. A seleção contava sempre com 5 notícias ranqueadas, as quais iam sendo alteradas conforme o índice de acesso ao portal e suas publicações. A opção pelo período eleitoral permite observar – num momento em que há maior interesse por política – o quanto a internet é usada como fonte de informação sobre o tema. Por ser considerado o período em que o tema político se aproxima mais dos cidadãos comuns, parte-se do pressuposto de que aqui teríamos o “máximo” de buscar por notícias sobre política. Com isso, os resultados permitem discutir o papel da internet no debate público e sobre temas políticos. A proposta é que se possa responder as seguintes perguntas com a análise: (1) a segmentação e as diferenças entre os portais permanecem ao longo dos três anos quanto a prioridade de acessos?; (2) como os grandes portais de notícia contribuem com o debate público, considerando as notícias mais acessadas pelos cidadãos conectados e as diferenças entre hardnews e softnews? (3) como as notícias sobre política aparecem entre as mais lidas, considerando os anos eleitorais e não eleitorais e sua permanência ao longo do tempo? Para responder tais questões, as notícias extraídas dos portais foram codificadas a partir de um livro de códigos previamente elaborado com uma série de características a serem observadas. Para este paper optou-se por uma abordagem comparativa dos três períodos considerando as diferenças quantitativas ao longo do tempo e também o tema das notícias. Trabalha-se com a divisão entre hardnews e softnews (seguindo as diferenças teóricas apresentadas na discussão teórica) e uma segunda separação entre temas sociais, políticos e de entretenimento (para ter uma dimensão da presença do tema política). Como a variável ‘tema’ é categórica, optou-se pela apresentação dos dados por meio de gráficos e tabelas, com auxílio do teste de Qui-Square e dos resíduos padronizados. Segue a análise no próximo tópico.

ANÁLISE DE DADOS E DISCUSSÃO A primeira análise que se apresenta diz respeito à quantidade de notícias hard e soft buscada em cada portal de notícia. Os dados dos anos de 2012, 2013 e 2014 foram agrupados neste momento para proporcionar uma visão geral do interesse do leitor no período, sendo que temas hard englobam política, questões sociais e econômicas; e soft abrange celebridades, entretenimento e esportes. A tabela 1 traz os resultados. www.alacipjoven.org

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Tabela 1 – Percentual de temas hard x soft em cada portal6 PORTAL Folha

G1

UOL

Hard News Soft News Total Hard News Soft News Total Hard News Soft News Total

Frequência 888 372 1260 912 258 1170 444 801 1245

% Válido 70,5 29,5 100,0 77,9 22,1 100,0 35,7 64,3 100,0

Fonte: Elaboração própria (2015)

Os dados indicam que no total dos dados dos três anos, os leitores preferiram buscar mais notícias de cunho hard nos portais G1 e Folha (77,9% e 70,5% respectivamente) e procuraram por mais temas soft no portal UOL (64,3%). Os achados vão de encontro com os resultados encontrados em outros trabalhos realizados pelas autoras, que mostraram que Folha e G1 tendem a ser procurados para os leitores se informarem sobre notícias que impactam no cotidiano, e que o UOL tende a ser procurado mais para entretenimento7. É possível indicar, a partir desta diferença, que no que diz respeito ao interesse do leitor há diferença no perfil de conteúdo buscado em cada portal: enquanto em um o leitor busca notícias de entretenimento, nos outros dois a busca se dá por temas de interesse público. Um exemplo de notícias buscadas na Folha que ilustram a temática geral hard é "OMS lança estratégia para combater ebola nos próximos meses", do dia 22 de agosto de 2014. No caso do UOL, um exemplo de notícia soft pode ser vista em " Humorista de Ratinho troca TV pela rua e declara ódio a Gilberto Barros", do dia 5 de setembro de 2014. Embora possa haver mudanças no interesse ao longo do tempo - o que veremos mais para frente -, de maneira geral ainda se predomina a tendência hard para os dois primeiros portais e a de soft para o último. Verifica-se que de fato há uma segmentação entre os veículos, embora isso fique mais destoante no caso do UOL em relação aos outros dois. Observa-se, neste caso, que os temas de interesse privado – que não oferecem informação substancial ao debate público – acabam ocupando espaço de temas de maior relevância, conforme defende Esteves (2005). Além disso, o consumo maior de notícias soft pode interferir no 6

As noticias que não se enquadravam nas duas categorías foram excluídas da análise. Para conhecimento, foram 64 casos ausentes na Folha; 174 no G1; e 75 no portal UOL. 7 Ver resultados anteriores em: Tavares, C.; Massuchin, M.; Ribas, E. O que mudou no interesse da audiencia onlin entre 2012 e 2013? Análise comparativa das “noticias mais lidas do dia” de cinco portais brasileiros. In: VI Congreso WAPOR Latinoamérica – Universidad Diego Portales, 18 a 20 de junho de 2014.

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processo produtivo, servindo como um gate que pode orientar o portal na produção de notícias mais ou menos informativas, de acordo com o interesse do leitor - embora não se possa fazer nenhuma afirmação nesse sentido a partir dos dados apresentados. O que já fica evidente, no entanto, é que o perfil diferenciado do conteúdo se mantém. Para ilustrar essas diferenças, apresenta-se o gráfico a seguir.

GRÁFICO 1 - Portais x temas Fonte: Elaboração própria (2015)

Com o gráfico é possível perceber a amplitude entre os temas hard e soft em cada portal. O que mais apresenta diferença é o G1, onde se tem 258 notícias consideradas soft ao longo dos três anos, e 912 classificadas como hard. Ou seja, o G1 foi o mais procurado para obter informação relevante do ponto de vista do público e o menos procurado para obter informação ”leve”, caracterizada principalmente por notícias de variedades/entretenimento. Os leitores da Folha buscaram por 372 matérias soft e por 888 hard. Embora a amplitude seja menor, ainda é possível verificar que a procura por temas que impactam na vida social e política é muito maior do que a busca por aqueles que não possuem essas características. Já para o UOL a posição se inverte. No eixo inferior estão as notícias de cunho hard, que totalizaram 444, ao passo que a grande procura foi por temas soft, tendo um total de 801 matérias identificadas no

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período. Esse é o portal que apresenta menor amplitude, embora o número de notícias de entretenimento tenha sido praticamente o dobro daquelas consideradas hards. Esses dados proporcionam uma visão geral dos portais, mas que não permitem, ainda, ver diferenças ao longo do tempo. Para conseguir identificar as diferenças entre os períodos, se houve maior ou menor procura por um tema específico em cada portal, apresenta-se a tabela 2. TABELA 2 – Segmentação dos portais quanto ao tipo de conteúdo ao longo do tempo PORTAL Folha Tema

Hard News

Soft News

Total G1

Tema

Hard News

Soft News

Total UOL

Tema

Hard News

Soft News

Total

Freq. % Resíduo Freq. % Resíduo Freq. % Freq. % Resíduo Freq. % Resíduo Freq. % Freq. % Resíduo Freq. % Resíduo Freq. %

2012 261 62% -2,1 160 38% 3,2 421 100% 257 68,2% -2,2 120 31,8% 4,0 377 100% 115 26,9% -3,0 312 73,1% 2,2 427 100%

Ano 2013 319 74,5% 1,0 109 25,5% -1,5 428 100% 314 80,1% 0,5 78 19,9% -0,9 392 100% 161 38,4% 0,9 258 61,6% -0,7 419 100%

2014 308 74,9% 1,1 103 25,1% -1,7 411 100% 341 85% 1,6 60 15% -3,0 401 100% 168 42,1% 2,2 231 57,9% -1,6 399 100%

Total 888 70,5% 372 29,5% 1260 100% 912 77,9% 258 22,1% 1170 100% 444 35,7% 801 64,3% 1245 100%

Folha: Chi-Square: 21,872 (sig 0,000) G1: Chi-Square: 33,754 (sig 0,000) UOL: Chi-Square: 22,797 (sig 0,000) Fonte: Elaboração própria (2015)

Essa tabela possibilita identificar que o interesse do público dos portais apresentou mudanças ao longo do tempo, ainda que os perfis identificados se mantenham. O teste Chi-Square nos mostra qual portal apresentou a relação mais forte na mudança da distribuição, sendo que o maior valor foi obtido pelo G1 (33,754). Isso significa dizer que a busca por notícias de temas diferentes variou mais nesse portal no que nos demais, com um aumento do interesse por notícias hard e uma diminuição www.alacipjoven.org

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bastante significativa das notícias soft. Todos os testes para a relação entre as duas variáveis foram significativos (sig:0,000), mas alguns apresentaram mais mudanças do que outros. Para complementar, os resíduos padronizados indicam a força da relação entre as categorias das variáveis temas e ano, válido apenas para os casos onde o valor é maior ou menor que +/- 1,96. Nota-se, por exemplo, que os resíduos positivos significativos para a categoria soft dos três veículos se concentram em 2012 (3,2, 4,0 e 2,2). Dos três anos, a maior parte das notícias de entretenimento foi mais procurada em 2012, em relação aos outros períodos, o que reafirma a tendência da diminuição da procura por temas soft e aumento da procura por temas hard ao longo do tempo. Já as notícias hard tiveram baixa presença entre as mais lidas em 2012 se comparado aos outros anos, já que têm os resíduos negativos nos três portais. Isso fica bastante evidente no G1, onde se percebe uma diferença clara entre nas notícias soft. Os resíduos indicam que há uma forte relação entre notícias soft e o ano de 2012 para o portal (4,0) ao passo que isso muda ao longo do tempo. Em 2014, o resultado encontrado é bastante diferente (-3,0), o que significa dizer que naquele ano o portal teve tendência em ser menos procurado pelos leitores para se informaram sobre notícias mais leves em relação à 2012 e 2013. No UOL o caso foi similar ao G1, mas no que concernem às notícias hard. Se em 2012 o portal tinha pouca relação com essa temática (-3,0), em 2014 verifica-se uma mudança na orientação de quem busca por notícias com esse foco (2,2). Retoma-se aqui o resultado obtido anteriormente, de que este é o portal mais buscado para entretenimento. Mas foi nele que se identificam as maiores mudanças com uma tendência de diminuição pela busca desse tipo de conteúdo, sendo substituído por temas hard que antes apareciam menos. Nota-se ainda que, mesmo onde os resíduos não estão acima do valor mínimo estipulado de +/-1,96, há uma inversão dos sinais dos resíduos, o que já denota uma tendência nos resultados de que cresce a procura por notícias de interesse público e diminui o interesse por entretenimento. Ainda para ilustrar essas mudanças apresentam-se os próximos gráficos, que indicam a relação de cada portal com os temas ao longo dos três anos. Associado aos gráficos também se apresenta algumas explicações para as mudanças identificadas.

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GRÁFICO 2 – Distribuição de temas por ano na Folha Fonte: Elaboração própria (2015)

No caso do portal da Folha, o gráfico reafirma os dados trazidos pela última tabela de que há uma tendência de queda na busca por informações soft ao mesmo tempo em que cresce o interesse por notícias hard. Conforme foi citado acima, pode-se lançar algumas hipóteses explicativas para essas diferenças, como o contexto político e social. A distribuição do G1 indica o mesmo padrão, conforme mostra o gráfico 3.

GRÁFICO 3 – Distribuição de temas por ano no G1 Fonte: Elaboração própria (2015)

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O gráfico do G1 assemelha-se muito ao da Folha, com exceção de que o crescimento na procura por notícias hard e diminuição da procura por conteúdo soft foi identificada nos três anos de maneira contínua. Dessa forma, no primeiro ano pesquisado a diferença entre temas é bem menor do que a identificada nos anos seguintes, lembrando que aqui o predomínio também sempre foi das notícias hard. O destaque fica por conta do ano de 2014, onde se teve maior procura por temas hard e menor por temas soft. Comparado a 2012, o número das matérias soft acessada pelos leitores caiu pela metade, havendo uma diferença muito mais expressiva entre os dois tipos de notícias. Já o gráfico do UOL nos mostra uma tendência de diminuição da amplitude entre notícias hard e soft, ao contrário dos outros dois portais, conforme mostra o gráfico 4. Se nos dois primeiros portais há uma tendência de aumento da diferença entre a procura por temas hard e soft, no caso do UOL a orientação é em diminuir. Isso porque o portal foi bastante procurado para consumo de notícias soft em 2012, tendo uma baixa procura por temas mais “duros”. O que se verifica é que há uma disposição em mudar esse cenário. Em 2013 constata-se grande diferença em relação ao gráfico do ano anterior, orientação que segue em 2014. O número de notícias acessadas de temática soft caiu de 312 para 231, ao passo que notícias hard passaram a aparecer de maneira mais frequente entre as mais lidas, saltando de 115 para 168. O UOL mantém a predominância por entretenimento, mas diminuindo essa tendência e ampliando a busca por temas de interesse público. Inclusive essa tendência chama bastante a atenção, porque os outros portais tiveram sempre uma tendência pelo interesse público, sendo que, mesmo no portal em que se concentra a busca por entretenimento houve uma acentuada procura por temas hard, ressaltando essa tendência ao longo do tempo. Enquanto alguns trabalhos mostram a apropriação do entretenimento pela internet (Berrocal, Campos-Domínguez e García, 2012), o público tem demonstrado um retorno ao papel do jornalismo enquanto fonte de informação de interesse público. Pode-se dizer, então, que até o momento, o interesse dos leitores tem mudado gradativamente ao longo dos anos, deixando de consumir notícias mais fracas do ponto de vista da relevância social, para se informar sobre assuntos de cunho político e/ou social.

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312

258

231

168 161

115

GRÁFICO 4 - Distribuição de temas por ano no UOL Fonte: Elaboração própria (2015)

Alguns acontecimentos podem explicar as diferenças encontradas até então. O ano de 2013 foi marcado por protestos e grande insatisfação popular relacionada ao transporte, saúde e corrupção, impulsionados principalmente pelos investimentos realizados para a Copa do Mundo que aconteceria no ano seguinte - que os manifestantes diziam que eram muito altos comparados com os problemas em outras esferas que deveriam receber tanto investimento quanto -, e pelo início das prisões dos políticos condenados pelo mensalão (Tavares, 2013). Isso pode ter impulsionado a busca por informações hard. Outra possível explicação para o contínuo aumento do interesse por esse tipo de conteúdo refere-se ao início das investigações da Operação Lava Jato (que se deu em março de 2014) e o período eleitoral daquele ano, onde os eleitores brasileiros foram às urnas escolher presidente, governadores, deputados estaduais e federais, e senadores. A disputa para presidente no Brasil foi bastante acirrada e incomum, devido principalmente à morte prematura de um dos principais candidatos, Eduardo Campos, posteriormente substituído por Marina Silva. Essas duas vertentes explicativas podem ter gerado esse aumento de interesse por temáticas hard, ao mesmo tempo em que houve queda na busca por temas soft.

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A fim de detalhar esses resultados e dar atenção mais específica à temática política, os temas foram divididos entre político, interesse público e entretenimento. O objetivo é identificar onde se concentra o interesse por política e se tem alguma relação com os períodos eleitorais, ou seja, se isso é um fator que pode aumentar o interesse pelo assunto. O portal da Folha – embora com percentuais considerados ainda baixos continua sendo o local que os leitores mais acessam para buscar temas de interesse político, concentrado maior percentual em relação aos demais portais, especialmente em anos eleitorais (2012-2014). Os temas de interesse público estiveram presentes entre as mais lidas em especial no G1, apesar de haver variação no período. Já os temas de entretenimento continuam predominando no UOL, embora apresentem diferenças no período e indiquem tendência de queda na procura com o passar dos anos. Para testar se essas diferenças indentificadas ao longo dos três anos são significativas, apresenta-se o resultado do teste Chi-Square. A variação entre as categorias é confirmada pelo teste nos três portais, indicando que o que apresentou relação mais forte na mudança de distribuição foi novamente o G1 (66,060). Todos os testes deram significativos (sig 0,000), apesar de algumas relações apresentarem-se mais fortes do que outras. Os resíduos padronizados trazem os valores, que são válidos em caso de serem maiores ou menores do que o valor estipulado de +/- 1,96. No caso da Folha, há mudanças e os temas políticos, por exemplo, aparecem mais em 2014. O resíduo dá significativo em 2013 e 2014, onde no primeiro caso as notícias sobre política tenderam a ser menos acessadas pelos leitores (-3,2), ao passo que no ano seguinte identifica-se maior procura por elas (2,0). Da mesma forma, há uma concentração de temas de interesse público em 2013, com resíduo positivo de 3,5. Já os temas de entretenimento se concentram em 2012. O destaque aqui se dá para as concentrações em períodos diferentes para cada tema, principalmente de política – foco da análise – em 2014, ano eleitoral para presidente, mas como pouco destaque em 2012, sem resíduo positivo, apenas dentro da média. O portal G1 apresenta duas relações de destaque: os temas de entretenimento que possuíam alta concentração no ano de 2012 (4,0) teve acentuada queda em 2014, conforme indica o resíduo negativo de -3,0. O outro destaque se dá para os temas políticos, que possuem forte relação com o ano de 2014 (4,2). Isso significa dizer que as pessoas que acessaram o portal neste período têm deixado de consumir notícias de entretenimento e passaram a dar mais atenção para matérias caracterizadas por temas

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políticos, pelo menos no último ano eleitoral. Já os temas de interesse público ficaram dentro da média, não apresentando grandes variações. TABELA 3 – Temas específicos x ano PORTAL Folha

Temas Políticos

Temas de Interesse Público

Temas de Entretenimento

Total G1

Tema

Temas Políticos

Temas de Interesse Público

Temas de Entretenimento

Total UOL

Tema

Temas Políticos

Temas de Interesse Público

Temas de Entretenimento

Total

Freq. % Resíduo Freq. % Resíduo Freq. % Resíduo Freq. % Freq. % Resíduo Freq. % Resíduo Freq. % Resíduo Freq. % Freq. % Resíduo Freq. % Resíduo Freq. % Resíduo Freq. %

2012 112 26,6% 1,3 149 35,4% -3,5 160 38% 3,2 421 100% 22 5,8% -0,4 235 62,3% -2,1 120 31,8% 4,0 377 100% 20 4,7% -1,7 95 22,2% -2,5 312 73,1% 2,2 427 100%

ANO 2013 68 15,9% -3,2 251 58,6% 3,5 109 25,5% -1,5 428 100% 6 1,5% -3,8 308 78,6% 1,6 78 19,9% -0,9 392 100% 16 3,8% -2,4 145 34,6% 2,2 258 61,6% -0,7 419 100%

TOTAL 2014 116 28,2% 2,0 192 46,7% -0,1 103 25,1% -1,7 411 100% 47 11,7% 4,2 294 73,3% 0,4 60 15% -3,0 401 100% 50 12,5% 4,3 118 29,6% 0,3 231 57,9% -1,6 399 100%

Folha: Chi-Square: 56,035 (sig 0,000) G1: Chi-Square: 66,060 (sig 0,000) UOL: Chi-Square: 46,611 (sig 0,000) Fonte: Elaboração própria (2015)

O UOL também apresenta mudanças significativas entre suas distribuições, ainda que tenha concentração em entretenimento em relação aos outros portais. Os temas de entretenimento apresentam relação positiva com o ano de 2012; em 2013 o destaque são os temas de interesse público (2,2); e 2014 foi marcado pela alta concentração de temas políticos entre os principais interesses dos leitores (4,3). www.alacipjoven.org

296 23,5% 592 47% 372 29,5% 1260 100% 75 6,4% 837 71,5% 258 22,1% 1170 100% 86 6,9% 358 28,8% 801 64,3% 1245 100%

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O que se observa, de maneira geral, é a crescente atenção que notícias de cunho político e social vêm despertando nos leitores dos três portais. Houve uma grande concentração de política em todos os portais no ano eleitoral de 2014, algo que não é identificado em 2012, principalmente por se tratarem de eleições locais mais próximas dos leitores, porém mais distante da cobertura dos portais nacionais. Os resultados indicam, sobretudo, que há uma tendência na mudança do interesse da audiência que acessa esses portais, fazendo com que a internet tenha um papel importante no que diz respeito a munir os leitores com informações relevantes para o debate público, e não apenas servir como fonte de informação de notícias sobre variedades, já que estas vêm caindo. Com o objetivo de tornar a diferenciação entre os anos mais clara, ilustramos os dados nos gráficos a seguir, que mostram como os três portais tiveram comportamentos similares, com concentrações nos mesmos anos quanto aos mesmos temas, ainda que apresentem perfis diferentes.

GRÁFICO 5 – Ano x concentração de temas políticos Fonte: Elaboração própria (2015) Podemos observar que os temas políticos tiveram maior procura em 2014, e foram muito pouco buscados em 2013. Mais uma vez, lança-se a hipótese de que o ano eleitoral tenha contribuído com o aumento de interesse dos leitores em procurar notícias relacionadas a essa temática. Porém, quando se olha para o gráfico de 2012, observa-se www.alacipjoven.org

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que houve menor procura comparada a 2014, menos na Folha que se mantém mais equilibrada. Duas questões podem ser levantadas aqui: 1) a eleição de 2012 era municipal, portanto deve ter despertado menor interesse dos leitores em buscar temas políticos na rede, visto que eles são mais próximos da população e muitas vezes não estão contemplados nas páginas dos portais; 2) a Folha manteve um percentual muito próximo em 2012 e 2014, o que talvez se explique por ela ser um veículo com sede em São Paulo e ter uma grande produção de notícias que envolvem a cidade/região, embora seja de abrangência nacional. Dessa maneira, os leitores teriam onde buscar informações políticas da sua localidade no portal. Vale destacar ainda que a Folha conservou o perfil político, por isso aparece com menores diferenças entre os três anos. Se 2014 foi o ano de concentração das matérias de política, 2013 é onde os temas de interesse público apareceram mais, como segue no gráfico.

GRÁFICO 6 – Ano x concentração de temas de interesse público Fonte: Elaboração própria (2015)

Quando se olha para o gráfico dos temas de interesse público, verifica-se que ele é mais homogêneo na distribuição, mas do total de notícias que se enquadram nessa temática, grande parte esteve concentrada no ano de 2013, seguido por 2014 e depois

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2012. Como já foi mencionado anteriormente, essa ligeira alta pode ter se dado em função de o ano não ser eleitoral e as pessoas estarem mais atentas a outras questões de relevância social que não envolvem política, necessariamente, mas têm impacto no debate. A temática entretenimento, por outro lado, concentrou-se no ano de 2012, tendo uma queda em 2013 e 2014, como podemos verificar no gráfico 7.

GRÁFICO 6 – Ano x concentração de temas de entretenimento Fonte: Elaboração própria (2015)

A queda da concentração de noticias de entretenimento ao longo dos anos indica que o interesse do leitor vem caindo, enquanto que temas políticos e de interesse público vêm ganhando mais atenção. Apesar disso, ainda não é possível se falar em um padrão, principalmente porque o aumento da procura de notícias por temas políticos e sociais pode ter sido impulsionado por acontecimentos específicos de cada contexto, como, por exemplo, as eleições acirradas de 2014 e as denúncias de corrupção envolvendo empresas públicas, sendo necessário um acompanhamento longitudinal de um período mais longo para observar se a tendência aqui observada se mantém. Por outro lado, nos últimos dois anos, pode-se dizer que a internet vem contribuindo mais para fomentar o debate público, visto que os temas de entretenimento têm deixado de

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ser procurados ao passo que os demais vêm ganhando atenção do leitor. Desenvolve-se melhor esse argumento a seguir, nas conclusões.

CONCLUSÕES O objetivo principal deste paper foi investigar se houve mudanças no interesse do leitor no acesso de notícias diárias e se há perfis diferentes entre os portais. Para isso, analisou-se as notícias da seção "mais lidas do dia" dos portais Folha, G1 e UOL, comparando os anos de 2012, 2013 e 2014. O que fica evidente é que, de fato, os portais têm uma segmentação: a Folha, ao longo dos três anos, é o veículo mais procurado para buscar informações de cunho político; o G1 concentra a procura por temas de interesse público e o UOL ainda é lembrado no momento de consumir notícias de entretenimento. Isso mostra que há diferentes padrões pela busca de informação na rede, o que diferencia os portais enquanto fonte de informação e, principalmente, na sua função dentro do debate público. Identificou-se que Folha e G1 foram acessados para consumo de matérias hard em mais de 70% dos casos, enquanto que o UOL ainda manteve-se como a principal fonte de informação soft (64,3%). Outra informação relevante oferecida por esta análise diz respeito a uma tendência geral de queda na busca por notícias mais leves nos três portais. Neste caso, destaca-se o UOL por ser o portal a apresentar menor amplitude entre notícias hard e soft no ano de 2014. A partir disso, pode-se concluir que de fato as notícias soft estão dando lugar para notícias hard - pelo menos no acompanhamento feito até o momento, nestes portais específicos. Isso demonstra uma mudança no comportamento dos leitores, o que pode ser motivado por fatores inerentes à realidade social, como foi abordado. E mostra que ainda que cresça o entretenimento na rede, o leitor destes portais está mais disposto a buscar informação de interesse público. E, por fim, quando olhamos para as temáticas específicas e o lugar do tema político no interesse dos leitores, também se observa diferenças entre os veículos e anos. Como antecipamos, a Folha ainda é o principal veículo - dentre os três - procurado para notícias com tema político. O G1, talvez pelas características da divisão do site e produção das matérias, mantém-se como principal fonte de informação de temas de interesse público, mesmo em anos eleitorais. Já o UOL se manteve como o local da busca de informação de entretenimento, embora seus percentuais venham caindo ao longo do tempo, com destaque significativo para o ano de 2014. Outra questão que ficou evidente é que os temas políticos têm ganhado maior atenção dos leitores em www.alacipjoven.org

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todos os portais, o que leva a pressupor que o maior consumo de notícias com essa temática proporciona argumentos substanciais para o debate público e torna os portais uma fonte importante de notícias em períodos eleitorais. Ainda que se conclua que as notícias hard têm chamado mais a atenção do leitor em dois dos três portais analisados com tendência crescente ao longo dos anos, ainda há bastante conteúdo soft entre as buscas do público, o que vai de encontro com o que Berrocal, Campos-Domínguez e García (2012) falam quando mencionam que a rede é um lugar onde esse tipo de conteúdo tem se disseminado. Os números são altos e vale ressaltá-los, já que a discussão sobre infoentreteniemnto tem se destacado na literatura mais recente (Gonzalo, García e Campos-Domínguez, 2012; Prior, 2010; Carpini e Williams, 2001). Por outro lado, o consumo de notícias de maior relevância vem se tornando uma realidade entre os sites informativos brasileiros. Se isso é resultado de conjunturas específicas ou é um padrão que tende a se manter, apenas o acompanhamento sistemático da produção nos próximos anos poderá comprovar. Porém, os dados indicam uma retomada dos temas de interesse público, o que é positivo para a circulação de informação em período eleitoral e para o debate público mesmo em outros períodos, quando a internet vem ganhando mais destaque entre os meios de comunicação. Mesmo que a televisão ainda seja o meio mais usado para buscar informações, segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia (PBM, 2014), a internet pouco a pouco passa a uma fonte de informação mais reconhecida e utilizada. Ao ser procurada pelos indivíduos para se informar sobre temas de relevância político e social, tem-se um avanço do jornalismo digital enquanto ator importante do debate.

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