Internet e ativismo: os protestos de junho de 2013 no Brasil
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC Curso de Pós-Graduação em Ciências Humanas e Sociais Dissertação de Mestrado
Internet e ativismo: os protestos de junho de 2013 no Brasil
Adriana Garcia Torres Delorenzo
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências Humanas e Sociais, sob orientação do Professor Doutor Sergio Amadeu da Silveira.
Santo André 2015
Agradeço ao professor Sergio Amadeu da Silveira pelo apoio, ensinamentos e dedicação. Ao companheiro de vida e ideais Renato Rovai. Ao hacker Tiago Pimentel, que, gentilmente, compartilhou seus conhecimentos de programação para a coleta de dados remotos, essenciais para esta pesquisa. Aos meus pais, que sempre me motivaram a ir adiante. E aos professores Cláudio Penteado e Henrique Parra, que compuseram minha banca de qualificação e defesa. Dedico ao Luca que dividiu esta história comigo desde a gestação.
RESUMO
As chamadas Jornadas de Junho de 2013, que levaram milhões às ruas em diversas cidades brasileiras, são o objeto de estudo desta pesquisa. São analisadas as 27 principais páginas no Facebook de junho de 2013, chamadas de autoridades de rede, devido à grande influência que exercem entre os nodos. Analisamos dez publicações no Facebook de cada página que geraram maior engajamento no período, buscando identificar quais foram as estratégias utilizadas por elas. Discutimos esse novo ativismo que surgiu na chamada era da sociedade informacional, principalmente, com a democratização da internet e dispositivos móveis, e as consequentes mudanças no ecossistema comunicacional, conforme apontam Castells, Ugarte e outros autores. O modo de circulação da informação tem alterado as relações sociais, a organização e estruturação das manifestações, como as ocorridas em diversos países do mundo, inclusive no Brasil, convocadas e articuladas essencialmente por meio de plataformas de redes sociais digitais, como o Facebook. Memes e virais se constituem como uma nova forma de linguagem, capazes de engajar centenas de milhares de pessoas. Esse número ilimitado de memes e virais dão vida à memesfera, como conceitua Fernando Fontanella, ou ainda uma lógica hipermemética, segundo Limor Shifman. Por fim, são apontadas as limitações que o Facebook impõe para a circulação das informações, confirmando o potencial de controle das redes digitais.
Palavras-chave: Redes sociais. Internet. Ativismo. Memesfera. Movimentos sociais.
ABSTRACT
The protests of June 2013, which brought millions to the streets in several Brazilian cities, are the object of study of this research. Analyzes the 27 main pages on Facebook at June 2013, called authorities, because of the great influence exerted between nodes. We have analyzed ten Facebook posts of each page that generated greater engagement in the period, trying to identify what were the strategies used by them. We discussed this new activism that emerged in the era of so-called information society, especially with the democratization of the Internet and mobile devices, and the consequent changes in the communication ecosystem as point Castells, Ugarte and other authors. The flow of information so has changed social relations, organization and structuring of events such as those that occurred in several countries, including Brazil, convened essentially and articulated through digital social networking platforms such as Facebook. Memes and virals constitute themselves as a new form of language, able to engage hundreds of thousands of people. This unlimited number of virals and memes give life to memesfera, as conceptualized Fernando Fontanella, or a hipermemetic logic, according to Limor Shifman. Finally, the limitations are pointed out that Facebook imposes to the circulation of information, confirming the potential control of digital networks.
Keywords: Social Networks. Internet. Activism. Memesfera. Social movements.
LISTA DE IMAGENS
IMAGEM 1 - Diagramas de Paul Baran..............................................................................14 IMAGEM 2 - Meme critica a mídia, em especial o programa Fantástico da TV Globo.....100 IMAGEM 3 - Foto que viralizou nas redes, com o slogan do MPL....................................102 IMAGEM 4 - Imagem real e dois memes da campanha eleitoral em 2012.........................103 IMAGEM 5 - Meme postado na página Bueiro Aberto.......................................................104 IMAGEM 6 - Meme mais curtido desta pesquisa...............................................................106 IMAGEM 7 - Meme compara o trem bala em Pequim e em Salvador...............................108 IMAGEM 8 - Meme compara escola e estádio...................................................................109 IMAGEM 9 - Resultados de busca por aplicativos para gerar memes................................111
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 - Sites mais acessados no Brasil em 2013........................................................23 TABELA 2 - Lista das autoridades mais relevantes em junho de 2013..............................68 TABELA 3 - Dez posts mais relevantes da página Inteligente Vida....................................70 TABELA 4 - Dez posts mais relevantes da página Movimento Contra a Corrupção............71 TABELA 5 - Dez posts mais relevantes da página Admiradores Rota.................................73 TABELA 6 - Dez posts mais relevantes da página AnonymousBrasiL................................74 TABELA 7 - Dez posts mais relevantes da página A Verdade Nua & Crua..........................75 TABELA 8 - Dez posts mais relevantes da página Maquiavélico é a Mãe...........................76 TABELA 9 - Dez posts mais relevantes da página Rede Esgoto de Televisão......................77 TABELA 10 - Dez posts mais relevantes da página Anonymous Brasil...............................78 TABELA 11 - Dez posts mais relevantes da página P.U.T.A................................................78 TABELA 12 - Dez posts mais relevantes da página Passe Livre São Paulo.........................80 TABELA 13 - Dez posts mais relevantes da página Bueiro Aberto......................................81 TABELA 14 - Dez posts mais relevantes da página Plínio Comenta....................................82 TABELA 15 - Dez posts mais relevantes da página AnonH4...............................................83 TABELA 16 - Dez posts mais relevantes da página Uma Outra Opinião.............................84 TABELA 17 - Dez posts mais relevantes da página Anonymous Rio...................................85 TABELA 18 - 10 posts mais relevantes da página NINJA..................................................86 TABELA 19 - Dez posts mais relevantes da página Fiscalização Popular dos Transportes Públicos RJ............................................................................................................................87 TABELA 20 - Dez posts mais relevantes da página AnonymousBR....................................87 TABELA 21 - Dez posts mais relevantes da página Geração Invencível..............................88 TABELA 22 - Dez posts mais relevantes da página Occupy Brazil......................................90 TABELA 23 - Dez posts mais relevantes da página Juntos...................................................91 TABELA 24 - Dez posts mais relevantes da página AnonOpsBrazil....................................92 TABELA 25 - Dez posts mais relevantes da página #Nãomecalarei.....................................93 TABELA 26 - Dez posts mais relevantes da página Manifesto POA....................................93 TABELA 27 - Dez posts mais relevantes da página Acorda Meu Povo................................94 TABELA 28 - Dez posts mais relevantes do Partido Comunista Brasileiro..........................95
TABELA 29 - Dez posts mais relevantes da página Se a Tarifa Aumentar São Paulo Vai Parar.......................................................................................................................................96 TABELA 30 - Ranking dos assuntos mais abordados nas postagens mais relevantes de junho de 2013.......................................................................................................................110
SUMÁRIO CAPÍTULO 1 1.1 O mundo mudou...........................................................................................................13 1.2 A comunicação mudou..................................................................................................16 1.3 Novo ativismo...............................................................................................................19 1.4 Justificativa: Por que estudar as Jornadas de Junho de 2013........................................23 1.5 Procedimentos metodológicos......................................................................................27 1.6 Estrutura........................................................................................................................28 CAPÍTULO 2 2.1 A explosão dos protestos...............................................................................................29 2.2 A mudança na opinião pública......................................................................................36 2.3 Dispersão de pautas......................................................................................................41 2.4 Interpretações das Jornadas de Junho...........................................................................44 2.5 Copwatch à brasileira...................................................................................................50 2.6 A fagulha que incendiou a pradaria..............................................................................52 2.8 Internet, fragmentação e novíssimos movimentos sociais...........................................57 CAPÍTULO 3 3.1 Autoridades de Junho de 2013......................................................................................66 CAPÍTULO 4 4.1 Memes e virais: a tônica de junho de 2013...................................................................95 4.2 Estratégiasde viralização............................................................................................102 4.3 Nova forma de recepção e ativismo............................................................................107 CAPÍTULO 5 5.1 Considerações finais....................................................................................................110 5.2 Vigilância e controle: abordagens futuras....................................................................114 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................................................119 ANEXOS............................................................................................................................126
CAPÍTULO 1
1.1 O mundo mudou
Os diagramas publicados por Paul Baran, em 1964, demonstram as mudanças na circulação da informação ocorridas nos últimos anos. Na época, auge da Guerra Fria, Baran, pesquisador da The Rand Corporation, instituição norte-americana sem fins lucrativos e contratada pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos para desenvolver um sistema de comunicação segura, apresentou os desenhos preocupado com a questão da segurança dos computadores e da transmissão de dados, diante da ameaça de ataques nucleares soviéticos. A tecnologia inovadora de Baran de transmissão de telecomunicações acabou contribuindo para o desenvolvimento da Arpanet, considerada a "mãe" da Internet. Conforme Castells (2003, p. 15), o projeto original da Arpanet permitiu que, após 1990, quando foi retirada de seu ambiente militar, fosse expandido com a adição de "novos nós e a reconfiguração infinita da rede para acomodar necessidades de comunicação". Com os desenhos, Baran (1964) comparava as topologias das redes centralizada, descentralizada e distribuída. Ele afirmava que a estrutura centralizada era a mais vulnerável, pois há um único núcleo, que seria responsável por distribuir os dados. Ao destruí-lo, a comunicação seria interrompida. Numa estrutura descentralizada, esse número de núcleos, chamados de nós ou nodos, é maior, porém, da mesma forma, bastaria destruí-los para cessar a comunicação. Tanto a rede centralizada como a descentralizada representam necessariamente redes hierarquizadas e com estruturas de poder bem definidas e concentradas em determinados atores (RECUEROa, 2009). Já a topologia da rede distribuída pressupõe uma horizontalidade. Saindo do universo dos computadores para as relações sociais (UGARTE, 2008), a ilustração dos diagramas pode ser a chave para entender os novos fenômenos sociais e políticos, como as recentes mobilizações em diferentes pontos do planeta. Ugarte (2008) explica como antes do surgimento do telégrafo a informação circulava em uma estrutura centralizada, passando para uma organização descentralizada nos séculos XIX e XX. Ele ainda destaca como a partir do final do século XX e início deste XXI, a internet abriu as portas para mais uma nova mudança: passando de um mundo de poder 13
descentralizado para de poder distribuído.
IMAGEM 1 - Diagramas de Paul Baran mostram a topologia das redes centralizadas, descentralizadas e distribuídas
Segundo Ugarte (2008, p. 17), a "tecnologia, em especial a das comunicações, produz as condições de possibilidade de mudanças na estrutura de poder". Em 1851, a primeira linha de telégrafo propiciou a integração de mercados e interesses econômicos do Reino Unido e França. Um pouco mais tarde, em 1858, o primeiro cabo transatlântico permitiu unir a rede europeia com os Estados Unidos. Com esse impulso na comunicação, abriu-se caminho para a globalização e o imperialismo. Apesar de essa primeira revolução na circulação comunicacional por conta do surgimento do telégrafo (UGARTE, 2008) abrir caminho para que as forças econômicas se unissem, sindicalistas também aproveitaram as novas possibilidades. Em 1864, por meio do telégrafo, foi feita a convocação da conferência que fundaria a Primeira Internacional, dando início ao internacionalismo operário. Portanto, como descreve Ugarte (2008), naquele momento a interconexão de redes centralizadas gerou novos nós não nacionais. E lembrando dos diagramas de Baran, suas 14
estruturas de poder mais pareciam com a de uma rede descentralizada. O auge desse formato se deu após a Segunda Guerra Mundial, quando tínhamos um mundo globalmente descentralizado. Na década de 1960, enquanto a corrida armamentista diante da disputa da Guerra Fria fazia fomentar novos estudos e pesquisas de computadores cada vez mais rápidos e potentes, surgiam também novos personagens: os hackers. Conforme aponta Ugarte (2008), os hackers e sua cultura tiveram grande importância para o desenvolvimento da informática e da transmissão de dados. A ética de trabalho dos hackers baseada no reconhecimento e não na remuneração, na não divisão do trabalho entre castigo e tempo livre, contribuiu para que eles compartilhassem com o mundo os conhecimentos que foram fundamentais para o que viria a ser a internet. "Eles eram aventureiros, visionários, corriam riscos, artistas... e os que mais viam claramente por que o computador era uma ferramenta verdadeiramente revolucionária" (LEVY, 2010, p. 7). Assim, eles acreditavam que as informações deveriam ser totalmente livres, não apropriadas ou controladas por ninguém, por qualquer empresa, instituição ou país. De acordo com Levy (2010), as chamadas primeira geração dos hackers (1960), que se concentravam nos laboratórios do MIT (Massachusetts Institute of Technology), e a segunda (1970), conhecida como os “hackers de hardware”, foram fundamentais para o desenvolvimento da microinformática. Eles acreditavam no empoderamento dos indivíduos sobre as máquinas. E desejavam que todos se beneficiassem das informações e do potencial de ação daquelas máquinas. Não é à toa que a frase "a informação quer ser livre" traduz o ideário hacker (SILVEIRA, 2010). Os hackers conhecem como ninguém os códigos, ou seja, a linguagem dos computadores. E esse conhecimento foi primordial para o desenvolvimento de softwares de código aberto, permitindo que fossem aprimorados de forma colaborativa. De acordo com Castells (2003, p. 25), a rápida difusão dos protocolos entre computadores não teria ocorrido sem a "distribuição aberta, gratuita, de software e o uso cooperativo de recursos que se tornou o código de conduta dos primeiros hackers". E ainda, conforme ressalta Castells, esse caráter aberto foi essencial para o desenvolvimento dos protocolos de infraestrutura da Internet. Dos hackers das décadas de 1960 e 1970 chegamos atualmente em uma sociedade onde, como definem alguns teóricos, por exemplo Lessig (1999), os códigos têm o mesmo papel que as leis, pois são capazes de determinar nossas ações. E graças a eles,
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pesquisadores como Castells (2011) acreditam que vivemos uma mudança de era: da industrial para a informacional. Se a eletricidade e o motor a combustão tornaram possível a sociedade industrial, similarmente, o software possibilita a sociedade da informação global (MANOVICH, 2008, p. 4). Silveira ressalta ainda que o software “tornou-se o intermediário indispensável e cada vez mais presente em boa parte das principais atividades humanas” (2010, p.37). 1.2 A comunicação mudou Segundo Castells (2009, p. 50), a internet está propiciando à sociedade informacional “transcender seus limites históricos de redes como forma de organização e interação social”. De acordo com Castells (2003), hoje todas as atividades sociais, econômicas, políticas e culturais estão sendo estruturadas pela internet, que fez ascender novos padrões de interação social, antes limitados territorialmente. Assim, a internet vem alterando profundamente a forma de interação. Se antes os meios de comunicação de massa tradicionais tinham o monopólio da produção e distribuição da informação, o uso da internet permitiu que se ampliasse consideravelmente a produção e o compartilhamento de conteúdo. Esse fenômeno em que todos são capazes de fazer uma informação circular é chamado por Castells (2009) de autocomunicação de massas. É de massas porque pode alcançar uma multiplicidade de receptores, quando, por exemplo, se carrega um vídeo no Youtube ou quando se posta uma imagem no Facebook. Ao mesmo tempo, é uma autocomunicação na medida em que o próprio remetente tem autonomia para emitir sua mensagem, de muitos para muitos e em tempo real. O difícil é ser ouvido. Voltando às comparações com as topologias das redes, enquanto antes a capacidade de transmitir informações se concentrava em poucos nodos, hoje todos podem ser emissores. Assim, a estrutura mais se parece à rede distribuída. Todos se conectam com todos. Como define Ugarte (2008, p. 24): Com a Internet conectando milhões de pequenos computadores hierarquicamente iguais, nasce a era das redes distribuídas, que abre a possibilidade de passar de um mundo de poder descentralizado a outro mundo de poder distribuído. O mundo que estamos construindo.
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Hoje, há novas redes de informação distribuídas. Os antigos filtros, como governos e a própria imprensa, que controlavam o conteúdo que chegaria aos cidadãos, alteraram a forma de manutenção do controle. Ugarte (2008) diz que a informação do século XX seguia um padrão industrial, onde para se emitir uma opinião ou uma visão de mundo era necessário dispor de um capital suficiente para montar uma fábrica. Assim, a informação era um produto comercializado "exclusivamente pelos cidadãos Kane e os Estados" (UGARTE, 2009, p. 28). "Os meios eram os guardiões da informação." Para o autor, a internet fez surgir uma esfera pública cidadã, não mediada industrialmente. Mas é importante ressaltar que pode ser controlada por Estados e corporações que têm acesso a todo os dados disponibilizados pelos próprios usuários na internet, numa espécie de vigilância oculta (ASSANGE et al, 2013). Ao mesmo tempo em que a internet se tornou uma ferramenta de emancipação, também se tornou um espaço de disputa política. Desconsiderando a questão da vigilância e privacidade, o fato é que o advento da internet tem permitido aos indivíduos a capacidade de se comunicarem facilmente, ampliando a possibilidade das pessoas criarem redes sociais mediadas pelo computador. “Essas redes conectam não apenas computadores, mas pessoas”, afirma Recuero (2009a, p. 17). A possibilidade de expressão e socialização permitidas por ferramentas da internet proporcionaram a atores se construírem, interagirem e se comunicarem com outros atores. Para Ugarte (2008, p. 25), embora haja nodos mais conectados que outros, estamos diante de uma "rede de iguais". Já para Recuero (2009b), é muito difícil que tenhamos redes distribuídas quando focamos sistemas sociais. Na opinião da pesquisadora, há uma tendência de clusterização e centralização da rede. Ela concorda com Ugarte ao dizer que a internet contribuiu para a distribuição de poder. Hoje, há um maior número de nós. Mas as redes sociais na internet tendem a ser hierarquizadas e descentralizadas, não distribuídas (RECUERO, 2009b, on line). Conforme aponta Henry Jenkins (2008), vivemos a “cultura da convergência”. O autor destaca três eixos para explicar essa definição: a convergência dos meios de comunicação – onde velhas e novas mídias coexistem –, a cultura participativa e a inteligência coletiva. Como destaca Jenkins (2008), a expressão “cultura participativa” contrasta com noções mais antigas sobre a passividade dos espectadores dos meios de comunicação. Neste estágio, que ele identifica como convergência de mídias, os fluxos de conteúdos passam por múltiplos suportes midiáticos. Jenkins (2008) reforça a tese de que o
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mundo da comunicação mudou, mas foca seus estudos num olhar mais mercadológico. Para ele, qualquer conteúdo ou narrativa hoje é contada com a forte participação dos consumidores. Ele não discorre como essas mudanças influenciam nas questões de cidadania. No entanto, traz ideias importantes para pensar o cenário atual das mídias, onde os celulares (smartphones) se tornaram fundamentais e a relação entre públicos, produtores e conteúdos foi profundamente alterada. "A convergência altera a relação entre tecnologias existentes, indústrias, mercados, gêneros e públicos" (JENKINS, 2008, p. 41). Jenkins (2008) ressalta ainda que a atual diversificação dos canais de comunicação é politicamente importante porque expande o conjunto de vozes que podem ser ouvidas. O autor compara as possibilidades de participação que a internet propicia com os princípios que regiam a mídia de radiodifusão (um para muitos). Atualmente, na segunda década do século XXI, há maior participação, menos dependência de mensagens oficiais e maior confiança nas soluções coletivas de problemas. Segundo Ramonet (2012), é a partir dessa possibilidade de comunicação, que se consagraram os “web-atores”. De acordo com ele, esta nova realidade do ciberespaço colocou o profissional jornalista e o jornalismo em crise. Antes uma empresa jornalística concentrava a apuração, a redação, a venda de publicidade e a distribuição da notícia. Agora, as pessoas querem ser lidas e escutadas, e utilizam as suas redes para isso. A informação não circula mais em sentido único. A lógica “vertical”, que caracterizava o jornalismo industrial, é cada vez mais “horizontal” ou “circular”. A “revolução da internet”, nas palavras de Ramonet (2012), somada à crise econômica global que teve seu estopim em setembro de 2008, contribuiu para aprofundar a crise do jornalismo. Ramonet fala da proliferação de mídias, o que chama de “massa de mídias” que se contrapõe a “mídia de massas”. Já o francês François Jost (2011) acredita não se trata de uma convergência pacífica entre mídias. Ele defende que, na verdade, as diferentes mídias atualmente estão em disputa, utilizando o termo "luta intermídias". Estudo sobre o jornalismo pós-industrial, produzido pelo Tow Center for Digital Journalism da Columbia Journalism School, de Anderson, Bell e Shirky (2012), discute esse novo momento do jornalismo e debate como essa multidão de produtores de informação consegue coletar e espalhar dados melhor do que os profissionais da imprensa tradicional. Hoje, cidadãos comuns recolhem informações de seu interesse – seja o que for, desde a qualidade do ar ou as condições de trânsito – e as compartilham por meio de computadores
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ou smartphones. Esse cidadão comum também produz fotos, filma e transmite eventos em tempo real via streaming. O jornalista considerado profissional não é mais necessariamente a fonte primária da informação. Mas essa multidão pode ser também acionada pela imprensa tradicional, a partir de uma ação conhecida por crowdsourcing, onde o jornalista consegue descobrir coisas que não conseguiria ou levaria muito tempo na realização de uma reportagem de forma tradicional. 1.3 Novo ativismo Esse novo ecossistema midiático amplia as possibilidades de acesso à informação e permite o que Ugarte (2008) denomina de pluriarquia. Ou seja, as mídias que monopolizavam a representação da realidade e instrumentalizavam a democracia não falam mais sozinhas. O autor identifica a blogosfera como o novo meio de comunicação distribuído, capaz de tornar cada cidadão comum um "jornalista de seu próprio meio" (UGARTE, 2008, p. 30). O autor escreve antes da emergência das plataformas de redes sociais atuais amplamente utilizadas, como o Facebook. Naquele momento que Ugarte escrevia, a blogosfera era a grande rede social. E ele já considerava que todos os cidadãos tinham em mãos as ferramentas para difundir um discurso. O antigo poder de filtrar o que seria noticiado, para ele, agora, estaria no internauta. Ele não levava, porém, em consideração o poder que os algoritmos e protocolos têm, cada vez mais, de filtrar as informações (GALLOWAY, 2004). Com as novas possibilidades de publicação em tempo real na rede, Ugarte (2008, p.55) identifica como todos nós somos potencialmente ciberativistas. "Fazemos ciberativismo quando publicamos na rede esperando que quem nos lê avise outros". O ciberativismo é uma estratégia, que utiliza a técnica de swarming, onde se inicia a discussão de um tema e espera-se que ele seja distribuído, provocando um grande debate social. As consequências são imprevisíveis. Segundo Ugarte (2008), a ideia é que ele desemboque no que denomina de ciberturbas: as mobilizações convocadas neste novo ecossistema de comunicação distribuído. O autor crê que as ciberturbas teriam sido impensáveis sem o nascimento de um novo meio de comunicação distribuído. Essa estratégia de afluência popular (swarming) foi utilizada em Seattle (EUA), nos protestos contra o encontro da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1999. Cada participante é convidado a se
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organizar a partir de sua escolha em pequenos grupos de afinidades, partilhando interesses, planos e objetivos comuns, conforme apontam Malini e Antoun (2013). O crescimento das redes sociais, como o Facebook, tem levado a pensar novas fomas de ativismo político e engajamento cidadão (MARICHAL, 2013). Margets et al (2012), por exemplo, acredita que o ativismo político ganhou dimensões globais nesta primeira década do século XXI. Isso porque a popularização da internet tornou a comunicação e a transmissão de informação mais fáceis. Os autores nomeiam essas ações nas plataformas de redes sociais digitais de microativismo. Já autores como Morozov (2011) falam em "slacktivism". Esta é uma visão mais pessimista que considera que as plataformas de redes sociais como o Facebook facilitam os indivíduos se juntarem e criarem comunidades, mas dificultam ações mais sérias capazes de mudanças estruturais na sociedade. Já Joyce (2010) defende que o Facebook pode ser uma arma poderosa para combater Estados repressivos. Neste caso, podemos citar os exemplos da Primavera Árabe, como na Tunísia, cujos protestos derrubaram o então presidente Ben Ali, que estava há mais de 30 anos à frente do país. Hoje, os novos movimentos em rede e seus eventos recentes utilizam os espaços disponibilizados pelas plataformas de redes sociais digitais, como o Facebook e Twitter, para mobilizar e divulgar suas ações, bem como a violência policial. Foi o que aconteceu no Egito, em janeiro de 2011, e aqui no Brasil, em junho de 2013. Edwards (2014, p. 4650) acredita que é preciso olhar com cautela o papel que essas redes sociais têm nas mobilizações, “porque a tendência é a minoria rica e instruída da população ter acesso à internet”. No entanto, no Egito e em outros países, foram as páginas no Facebook que permitiram a ativistas escaparem da censura do Estado e dos meios de comunicação. Assim também foi na Tunísia, onde a difusão dos vídeos dos protestos e da violência policial pela internet “foi acompanhada da convocação à ação nas ruas e praças das cidades de todo país” (CASTELLS, 2013, p. 25). No início dos protestos, no Egito, o então presidente Hosni Mubarak proibiu o acesso primeiramente às redes sociais, principalmente Facebook e Twitter, e 24 horas depois interrompeu o acesso à internet, além de bloquear telefones celulares. "Ninguém sabe direito se esse blecaute prejudicou ou facilitou a revolução. Há quem ache que facilitou, porque as pessoas tiveram de sair às ruas para se informar dos acontecimentos e, uma vez que você está na rua, você está na rua", escreveu Assange et al (2013, p. 37). De acordo
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com o criador do WikiLeaks, muitos ativistas egípcios só sobreviveram porque a revolução obteve sucesso1. Então, para ter sucesso, é necessário ter uma massa crítica, a coisa tem de acontecer rapidamente e precisa sair vitoriosa, porque, se não sair, aquela mesma infraestrutura que possibilitou um consenso rápido para se desenvolver será utilizada para rastrear e marginalizar todos os envolvidos na promoção desse consenso. (ASSANGE et al, 2013, p.38)
É a partir da emoção que indivíduos se unem partilhando do mesmo sentimento, onde o medo de romper com o status quo se transforma em indignação. Daí surge uma ação coletiva essencial para que se forme um movimento social, de acordo com Castells (2013). Os movimentos são a fonte da mudança social. E começam quando a emoção se transforma em ação. Historicamente para que esse sentimento se espalhasse, mobilizando indivíduos, era preciso que houvesse um mecanismo de comunicação a partir de panfletos, manifestos, boca a boca ou pelos meios de comunicação de imprensa. Mas, atualmente, onde todos são potencialmente ciberativistas, maior é a “possibilidade de formação de um processo de ação coletiva enraizado na indignação, propelido pelo entusiasmo e motivado pela esperança” (CASTELLS, 2013, p. 19). Segundo Castells (2013), em nossa época, as redes digitais, com sua comunicação horizontal, são os veículos mais rápidos, autônomos, interativos, reprogramáveis e amplificadores de toda a história. Nesse contexto, vem surgindo no mundo uma série de mobilizações que trouxeram à tona as relações de poder assimétricas. No início de 2011, o mote das ocupações que tomaram Wall Street e outras cidades questionavam por que 1% do mundo tomava as decisões que afetariam os outros 99%. Na sequência da Primavera Árabe, que derrubou presidentes nos países árabes que há décadas estavam no poder, os occupies reuniram diferentes redes em rede. Na Espanha, em maio de 2011, milhares de jovens foram às ruas com a bandeira da democracia participativa. Eles questionavam o sistema político vigente e repeliam todos os partidos tradicionais. Um pouco antes, em 2008, na Islândia, a Revolução das Panelas conseguiu que uma nova Constituição fosse redigida de forma colaborativa pelos cidadãos, que não chegou a ser aprovada. Castells (2003, p. 115) explica como os movimentos sociais do século XXI 1
O que Assange previa se concretizou. Depois da queda de Mubarak na Primavera Árabe, Mohamed Mursi foi eleito presidente do Egito tendo sido deposto em 2013. Desde então, mais de 15 mil partidários de Mursi foram presos, 1400 pessoas morreram e centenas de ativistas que lutaram na revolução foram condenados à pena de morte ou prisão perpétua.
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manifestam-se na e pela internet. Ele entende os movimentos sociais como “ações coletivas deliberadas que visam à transformação de valores e instituições da sociedade”. De acordo com Castells (2003, p. 115), o movimento social que surge na Era da Informação encontra na Internet seu meio apropriado de organização. E faz uma analogia histórica, comparando o papel da rede mundial de computadores ao que tinham os pubs, que organizavam o movimento operário na Era Industrial: A Internet é mais que um mero instrumento útil a ser usado porque está lá. Ela se ajusta às características básicas do tipo de movimento social que está surgindo na Era da Informação. E como encontraram nela seu meio apropriado de organização, esses movimentos abriram e desenvolveram novas avenidas de troca social, que, por sua vez, aumentaram o papel da Internet como sua mídia privilegiada. Para desenvolver uma analogia histórica, a constituição do movimento operário na Era Industrial não pode ser isolada da fábrica industrial como seu cenário organizacional (....) a Internet não é simplesmente uma tecnologia: é um meio de comunicação (como eram os pubs), e é a infraestrutura material de uma determinada forma organizacional: a rede (como era a fábrica). Pelas duas razões, a Internet tornou-se um componente indispensável do tipo de movimento social que está emergindo na sociedade em rede.
O movimento zapatista, no México, já em meados de 1990, conseguiu, segundo Castells (2003, p.115), congregar apoiadores para a sua causa por meio de redes eletrônicas. No final da década, em 1999, o protesto contra a Organização Mundial de Comércio em Seattle reuniu milhares de ativistas de variadas causas. Foram meses de debate na internet para que diferentes grupos tomassem a decisão de ir até Seattle tentar impedir a reunião da OMC. Castells (2003, p. 117) considera esse evento um “exemplo paradigmático desse novo tipo de movimento social”. Conhecido como a “Batalha de Seatlle”, o protesto reuniu sindicalistas, ambientalistas, feministas, entre outras redes ligadas por suas bandeiras. Eram diferentes grupos em rede unidos contra a globalização sem representação popular. Dois anos após Seattle, outro movimento reuniu milhares contra a globalização em Porto Alegre, em 2001, no primeiro Fórum Social Mundial. Assim como Seattle, a Internet teve grande destaque na organização e congregação de redes para a participação no evento. Os participantes relatam que, na época, as listas de e-mail tiveram grande importância. No auge de políticas neoliberais na América Latina, os movimentos sociais articulavam forças para alterar as relações de poder estabelecidas, visando à mudança social. “Essas redes, que emergem da resistência de sociedades locais visam superar o poder de redes globais reconstruindo assim o mundo a partir de baixo”, escreve Castells (2003, p. 119). Edwards (2014) analisa como a globalização fez surgir novos movimentos sociais 22
em rede, que ela conceitua como um ativismo transnacional. Enquanto a globalização altera as fronteiras da circulação das pessoas, bens, capital e ideias, surgem os movimentos globais que utilizam mecanismos para sair do nível nacional para o global. Para Maria da Gloria Gohn (2013a, p. 108), os movimentos sociais voltaram a ter visibilidade e centralidade no século XXI, "como atores que pressionam por processos de mudança social e reinventam as formas de fazer política, a despeito de muitos analistas afirmarem o contrário”. Segundo Gohn, os novos movimentos organizados pela internet na era da sociedade informacional mudaram a forma de ver a política e suas instituições. Os novos movimentos, de acordo com ela, estão reformulando a pauta das demandas e repolitizando-as de forma nova, na maioria das vezes, independentemente das estruturas partidárias. Já Jeffrey Juris (2004) analisa o que chama de "movimentos sociais em rede", que teriam surgido após as manifestações em Seatlle, em 1999. Segundo o autor (2004, p. 355), os ativistas estão construindo “novas formas organizacionais que são baseadas em redes, e que expressam e refletem a rede como um ideal político e cultural emergente”. Junto com outros pesquisadores, Juris, Feixa e Pereira (2009) classificam os movimentos sociais como velhos (old social movements), novos (NSM, ou new social movements) e novíssimos (new new social movements). Os primeiros, surgidos na primeira metade do século XIX, estariam ligados à emergência da sociedade industrial. Os segundos nasceram após a Segunda Guerra Mundial. E, por fim, os novíssimos movimentos são os situados nesse espaço global em rede. Estes combinam marchas e manifestações com as convocações ocorridas de forma distribuída pela Internet. 1.4 Justificativa: Por que estudar as Jornadas de Junho de 2013 Esta pesquisa pretende contribuir com os estudos e a compreensão do novo ativismo na sociedade informacional, que tem conseguido mobilizar milhares de pessoas em diversas partes do planeta. Claro que as mobilizações não encontram conexões diretas entre si, mas apresentam similaridades no uso de plataformas de redes sociais para a sua convocação. São por meio de páginas e perfis no Facebook, Twitter e Youtube, entre outros, que cidadãos comuns disseminam conteúdos que viralizam nas redes, causando emoção e indignação. Portanto, este trabalho busca ainda entender como se dão esses novos movimentos sociais
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em rede. Para isso, tomamos como objeto de análise os protestos ocorridos no Brasil em junho de 2013. Na ocasião, milhares de pessoas foram às ruas. As manifestações chamadas de "Jornadas de Junho" foram consideradas, até então, as maiores desde as mobilizações pelas Diretas Já. O que acontecia no Brasil para que tantos indivíduos estivessem com disposição para protestar? Para Castells (2013), os protestos do Brasil aconteceram sem que ninguém esperasse. E milhares de pessoas conectadas em rede e enredadas na rua deram seu grito de indignação. Mas indignação a quê? Conforme mostra Castells (2013), o colapso econômico junto com a falta de democracia foram as principais causas da onda de manifestações deste início de século XXI, em países como a Islândia, Tunísia, Espanha, Estados Unidos, entre outros. No Brasil, chama a atenção o fato de que em 2013 completávamos o período mais longo de efetiva democracia, com eleições diretas, e um mercado de trabalho aquecido. Em 2013, o Brasil apresentou o menor índice de desemprego desde 2002. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de trabalhadores com carteiras assinadas no País subiu 11 milhões e meio entre 2003 e 2013. Neste ano, a taxa de desemprego ficou em 4,3%. O menor da série histórica da pesquisa, que começou a ser realizada em 2002, nas seis maiores regiões metropolitanas brasileiras. Naquele ano, o índice chegou a 12,4%. Diversos pesquisadores têm buscado compreender o que levou a explosão de junho de 2013. O Movimento Passe Livre, primeiro convocador dos protestos contra o aumento das passagens de transporte coletivo propunha uma bandeira revolucionária: a tarifa zero no transporte. Junho que começou com essa pauta da mobilidade urbana acabou se transformando num evento polifônico, onde diversas reivindicações encontraram vazão, por meio de cartazes nas ruas e memes no Facebook. Este trabalho também vai dar sua contribuição sobre como funciona esta plataforma de rede ainda pouco estudada no País, porém muito utilizada. Em setembro de 2013, o Facebook divulgou que tinha 1,19 bilhão de usuários ativos. Naquele ano, segundo dados da própria empresa, 728 milhões de pessoas utilizavam a rede social diariamente, em média. E o Brasil, foi o segundo país que teve mais usuários entrando na plataforma a cada dia, atrás apenas dos Estados Unidos. Eram 76 milhões de usuários em 2013, sendo que 47 milhões utilizavam a plataforma todos os dias. Para comparar, o Twitter registrou 241 milhões de usuários ativos no quarto trimestre de 2013 em
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todo o mundo, também segundo a própria empresa. Ainda de acordo com o microblog, em março de 2013, 33,3 milhões de brasileiros possuiam conta no Twitter, no entanto, não divulgado quantos destes eram realmente ativos. Segundo o site Alexa, que compara as páginas mais acessadas na internet, em 2013, o Facebook foi o segundo site mais visitado no País, atrás apenas do Google Brasil. O Twitter ficou na 14ª posição, atrás de outras plataformas como o Linkedin e o Youtube. Este fato é mais uma justificativa deste trabalho, como o Facebook é a rede mais utilizada, entendê-la nos ajudará a compreender as novas formas de ativismo e engajamento. TABELA 1 - Sites mais acessados no Brasil em 2013 1º
Google Brasil
2º
Facebook
3º
Google
4º
YouTube
5º
Universo Online
6º
Globo
7º
Windows Live
8º
Yahoo!
9º
Mercado Livre Brasil
10º
Wikipédia
11º
iG
12º
Terra
13º
Linkedin
14º
Twitter Fonte: Alexa
Para além de entendermos esse novo ativismo em redes distribuídas e a explosão de mobilizações nas ruas, que conectam o ciberespaço com os espaço urbano, buscaremos entender as estratégias de engajamento utilizadas por diversos nós identificados no Facebook. Como destaca Recuero, toda a interação de atores com outros atores nas plataformas de redes sociais digitais deixam rastros que "permitem o reconhecimento dos padrões de suas conexões e de suas redes sociais" (2009a, p. 23). Os rastros deixados no Facebook pelos principais atores de junho de 2013 nos parece um campo fértil a ser explorado e estudado. Este trabalho se justifica ainda ao propor uma contribuição sobre como esse novo ativismo e movimento social citados anteriormente tiveram sua 25
representação no Brasil naquele mês de junho de 2013. Vamos identificar como se deram os chamamentos, quais estratégias foram utilizadas, quais foram as pautas que tiveram maior apelo na rede e quem foram os principais atores, ou como vamos chamar: ou como vamos chamar: autoridades, segundo o grau de influência sobre outros nós da rede. Esta pesquisa, em nosso entender, contribui ao adentrar num meio de comunicação novo e ainda pouco estudado no Brasil. Por ser uma empresa privada, o Facebook não disponibiliza os dados publicamente, até por conta de uma questão de privacidade de seus usuários. Empresas de marketing digital especializam-se cada vez mais para atuar nessa ferramenta, bolando estratégias de ação para o aumento de vendas. Monitorar o Facebook, no entanto, não é mais permitido. O Facebook alterou seus algoritmos em março de 20152, colocando em crise diversas empresas que trabalhavam com monitoramento de dados para definição de estratégias de marketing. Como um modelo de negócios rentável, o Facebook busca oferecer um novo produto de venda de pacotes de dados e inteligência. Soma-se às barreiras do Facebook, a emergência de novas plataformas de redes sociais fechadas, como o WhatsApp e Snapchat, onde não é possível ter acesso a mensagens de seus usuários. Apesar de o Facebook já estar sendo estudado pelo marketing, ele se tornou uma ferramenta maciça de debates políticos (SILVEIRA, 2014). É natural que esse espaço seja amplamente usado por empresas, políticos, governos e sociedade civil. Todos enfrentam as barreiras da própria ferramenta para conseguirem ser ouvidos. Se por um lado, a emergência da internet e suas plataformas de redes sociais permitiram a multiplicação de vozes e maior pluralidade informativa, não são todos os conteúdos que são mostrados aos usuários. Conforme salienta Silveira (2014), o Facebook é uma rede privada onde estão ocorrendo debates públicos, o problema é que a empresa filtra os conteúdos, inteferindo na "formação da opinião pública interconectada". Silveira (2014) cita estudo realizado pela agência de publicidade Ogilvy, em 2012, onde é estimado o limite de alcance das publicações feitas pelos usuários da rede em 16%, sendo que no ano seguinte, em 2013, apenas 6% dos amigos de um perfil ou página visualizavam o que era postado. Outro dado trazido por esta pesquisa é que no caso de páginas com mais de 500 mil fãs, o conteúdo só é visualizado por 2%. O Facebook justifica que os filtros por meio de seu algoritmo, chamado Edge Rank, busca com essas medidas priorizar os posts mais relevantes e manter a rede atrativa. Assim, há formas de fazer com que publicações subam no ranking do Facebook e apareçam para 2
Um novo desafio nas redes sociais: a crise do monitoramento. Disponível em http://goo.gl/mL8AvD Acesso em 24 Ago 2015.
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mais usuários. E aquelas postagens que recebem o maior número de curtidas, compartilhamentos e comentários acabam aparecendo mais. Há também outra forma de conseguir com que o conteúdo seja mais visto: pagando. Neste trabalho, vamos estudar quais conteúdos geraram mais engajamento no Facebook durante o mês de junho de 2013, quando a plataforma se tornou um dos principais espaços de debate, convocação para os protestos e denúncias de violência policial. Dessa forma, mais uma vez se justifica a relevância desta pesquisa. Vamos identificar como as principais páginas daquele período se comportaram como envangelizadoras, pautando as reivindicações e mantendo a emoção e indignação vivas. 1.5 Procedimentos metodológicos Há uma série de artigos e pesquisas que citam como as plataformas de redes sociais digitais têm contribuído para a convocação de protestos. Isso ocorreu em diversas cidades e não é novidade. Mas há poucos estudos aprofundados sobre como ocorreu esse ativismo e quais discursos foram utilizados para que a mobilização fosse construída. Neste trabalho, vamos estudar como se deu esse processo num período delimitado de tempo: junho de 2013. Optou-se por realizar um estudo de caso daquele período. Trata-se de um "método de pesquisa, que contribui, de forma inigualável, para a compreensão que temos dos fenômenos individuais, organizacionais, sociais e políticos" (YIN, 2001, p.21). Ainda de acordo com Yin, a necessidade pelo estudo de caso surge do desejo de compreender fenômenos sociais complexos. "O estudo de caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e significativas dos eventos da vida real" (Ibidem, 2001, 21). Por isso, considera-se um método adequado para investigar fenômenos contemporâneos. Yin classifica os estudos de caso em descritivos, explanatórios e exploratórios, e explica quando cada um deve ser utilizado. Para a definição, é preciso observar o tipo de questão proposta pela pesquisa, a extensão de controle que o pesquisador tem sobre eventos contemporâneos efetivos e o grau de enfoque em acontecimentos histórios em oposição a contemporâneos. Neste trabalho, vamos utilizar a estratégia de estudo de caso descritivo, onde pretendemos, por meio de levantamento de dados e análise, descrever o que ocorreu em junho de 2013. Além do mais, segundo Yin, o estudo descritivo busca traçar uma sequência de eventos ao longo do tempo descobrindo seus principais
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fenômenos. Vale destacar ainda que esta pesquisa se propõe descritiva porque não é possível apontar explicações finais sobre o que ocorreu. Ao longo deste trabalho, seguimos as seguintes etapas: a) identificação de quem foram os principais atores, nós, hubs e autoridades no Facebook no período; b) pesquisa bibliográfica sobre acontecimentos similares em outras cidades e sobre como se dá o novo ativismo em redes distribuídas e a organização dos movimentos sociais em rede; c) descrição de quais foram as etapas desse movimento e as suas dinâmicas específicas; d) seleção das principais publicações das autoridades identificas no Facebook; e) análise das autoridades nas redes no período e como eles influenciaram; f) reflexão sobre os resultados. Estudo realizado por Pimentel e Silveira (2013) identificou quais foram as principais autoridades naquele mês que contribuíram para que os eventos fossem ganhando adesões. Foi utilizado para a análise um software chamado Gephi, que define as autoridades a partir do número de compartilhamentos de suas postagens. Entre 5 e 21 de junho de 2013, foram feitas buscas por postagens públicas a partir de páginas e perfis do Facebook, por meio de requisições à API (Application Programming Interface; ou Interface de Programação de Aplicativos, em português) da rede. O estudo mapeou quais foram as páginas e perfis que tiveram uma atuação relevante em todos os atos realizados na cidade de São Paulo. Nesta pesquisa optamos por selecionar para análise todas as autoridades mapeadas, exceto as páginas de veículos da mídia tradicional. Identificamos como a lógica distribuída das redes permitiu a emergência de atores que Pimentel e Silveira (2013) chamam de “nós pobres”. São perfis cujas mensagens tiveram grande relevância, tornando-se autoridades imediatas, conseguindo viralizar suas próprias narrativas. Destaca-se ainda que os veículos de mídia tradicionais atuaram como broadcasting, ou seja, apenas postando seus conteúdos, não interagindo com outros atores, nem dialogando com as redes. Em vez de influenciarem os rumos das mobilizações, ocorreu o contrário. Os veículos tiveram que mudar suas linhas editoriais, pressionados pelas manifestações. Nesta pesquisa selecionamos as dez publicações mais relevantes, ou seja, que geraram maior engajamento, de cada autoridade e analisamos quais estratégias de discurso foram utilizadas e quais pautas foram divulgadas. Como nossa análise baseia-se na Teoria dos Grafos, vale ressaltar que um grafo é a representação de uma rede, constituído de nós e arestas que conectam esses nós (Recuero, 2009). Os indivíduos e suas interações nas redes
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sociais podem ser observados por meio de um grafo. A partir dessa teoria, é possível estudar os padrões de conexões no ciberespaço e compreender suas dinâmicas e composição dos grupos sociais. 1.6 Estrutura No Capítulo 2 discutimos o novo ativismo propiciado pela internet, em especial nas plataformas de redes sociais. Abordamos as novas mobilizações provocadas por esse ativismo e como se organizam os movimentos sociais em rede na sociedade informacional e de controle, como conceituam diversos pesquisadores, principalmente, Castells (2011), Gohn (2013), Edwards (2014), Galloway (2004). Por fim, adentramos em junho de 2013, referenciando os pesquisadores que já se debruçaram sobre aquele período e buscando entendê-lo. Em seguida, no Capítulo 3, apresentamos 27 autoridades mapeadas no Facebook em junho de 2013 e o levantamento de dados coletados. Notamos que, no período, foram surgindo novas microlideranças e grandes nós de autoridades. Essas autoridades disputaram as narrativas com as dos grandes veículos de mídia tradicional. Para análise, selecionamos as dez postagens que mais geraram engajamento de cada página, totalizando 270 publicações analisadas. O Capítulo 4 traz a análise dos resultados, buscando compreender quais foram as estratégias de discurso para promover o engajamento e quais pautas e bandeiras foram disseminadas. Foram publicados memes? Utilizou-se a estratégia do humor? Links de mídia tradicional? E, por fim, o Capítulo 5, sem a pretensão de esgotar o assunto, deixará suas contribuições para futuras pesquisas na área.
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CAPÍTULO 2
2.1 A explosão dos protestos Iniciamos este capítulo trazendo uma breve descrição de como se deram as manifestações ocorridas em junho de 2013, em especial, na cidade de São Paulo. Começamos em 2 de junho de 2013. Nesta data foi decretado o aumento das passagens de ônibus, metrô e trens na capital paulista, que passariam de R$ 3 para R$ 3,20, um aumento de 0,20 centavos, ou 6,67%. Mobilizações contra reajustes das tarifas de transporte coletivo nas capitais brasileiras não eram novidade toda vez que eram anunciados. Em 2003, em Salvador, houve uma série de protestos em resposta à subida de preço das passagens que durou todo o mês de agosto. Aquelas manifestações ficaram conhecidas como a Revolta do Buzu e foram fundamentais para a formação do Movimento Passe Livre (MPL), que, dez anos depois, viria a ser o primeiro convocador das Jornadas de Junho. De acordo com artigo escrito coletivamente por membros do MPL-SP, intitulado "Começou em Salvador, não vai terminar em São Paulo" (2013), cerca de 40 mil pessoas teriam participado das ações na capital baiana naquele ano. O movimento acredita que qualquer pessoa que tenha entre 24 e 34 anos hoje em dia e que morava na cidade com certeza aderiu às manifestações. A experiência da Revolta do Buzu, que baseava suas ações em assembleias horizontais, passou a servir de exemplo para outros jovens de diferentes cidades. Um documentário sobre os protestos, de Carlos Pronzato3, foi exibido nos anos seguintes para diversos grupos de estudantes em escolas, entidades estudantis, entre outros locais, inspirando a luta pela tarifa zero e disseminando esse conceito. Começavam a surgir comitês pelo passe livre em várias cidades. E no ano posterior à luta em Salvador, foi a vez de Florianópolis assistir aos protestos contra o reajuste das tarifas. O movimento da capital catarinense foi chamado de Revolta das Catracas. Os estudantes ocuparam terminais, bloquearam a ponte que dá acesso à ilha e conseguiram forçar o poder público municipal a revogar o aumento. Com esse histórico, em 2005, na quinta edição do Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre, ocorreu a plenária de fundação do MPL, iniciando um ciclo de diversas 3
Disponível em https://youtu.be/dQASaJ3WgTA Acesso em 26 set. 2015
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mobilizações até 2013, com algumas conquistas. Em Vitória, por exemplo, em julho de 2005, o aumento da tarifa foi revogado. Em 2009, conseguiram a aprovação do passe livre estudantil no Distrito Federal. Em 2011, as mobilizações barraram o aumento em Teresina. Em 2013, o movimento conseguiu a revogação do aumento em Taboão da Serra, em janeiro; em Porto Alegre, em abril; e, por fim, em mais de cem cidades, após as Jornadas de Junho. Portanto, em quase uma década, a partir de sua formação, o movimento vinha trabalhando em escolas, bairros e comunidades, fazendo alianças com outros movimentos sociais, como o de moradia e saúde. Ou seja, havia um trabalho de divulgação da bandeira pela tarifa zero muito anterior à atuação nas redes digitais. A página do MPL-SP no Facebook, por exemplo, só foi criada em 5 de junho de 2011. O foco do movimento é a defesa pela gratuidade das passagens, com base num projeto de tarifa zero formulado pela Prefeitura de São Paulo, no início da década de 1990, no governo de Luiza Erundina, na época do Partido dos Trabalhadores (PT). O MPL defende o transporte como "um direito fundamental para a efetivação de outros direitos, na medida em que garante o acesso aos demais serviços públicos" (MPL, 2013, p. 16). Em São Paulo, no ano de 2013, após o anúncio do aumento, o primeiro ato convocado pelo MPL-SP foi chamado para o dia 6 de junho, e contou com a adesão de partidos políticos como o PSOL e o PSTU e movimentos como o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) e o Sindicato dos Metroviários. A convocação foi feita pelo Facebook, sendo que a primeira publicação com o chamado foi em 14 de maio. O post anunciava o ato para as 17h em frente ao Theatro Municipal, no Centro de São Paulo. Trazia ainda a frase que era o mote do movimento: "Se a tarifa aumentar, São Paulo vai parar", e o link para o evento criado na própria rede social. O primeiro ato contra o aumento partiu da região central da cidade, seguiu para a Avenida 9 de Julho, depois para a 23 de Maio e a Paulista. Como ressalta Gohn (2014), esse primeiro protesto aconteceu em pontos-chave para a circulação e visibilidade na cidade. O saldo do primeiro grande ato foi de 15 manifestantes detidos e pelo menos oito feridos. O Jornal Nacional cobriu ao vivo o final do protesto direto da Avenida Paulista, de helicóptero, e o repórter narrava a chegada do pelotão do batalhão de choque e o disparo de bombas de gás lacrimogêneo contra os manifestantes. No mesmo dia, o comandante da operação policial, coronel Reynaldo Simões, declarou à imprensa: "Essas pessoas não estão a fim de se manifestar, mas sim de fazer bagunça" (JUDENSNAIDER et al., 2013, p. 21).
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A estimativa é que cerca de seis mil pessoas tenham participado do primeiro protesto, segundo o MPL, e aproximadamente duas mil, de acordo com a Polícia Militar. Conforme relatam Judensnaider et al, no dia seguinte ao primeiro ato, os principais jornais do País trouxeram uma cobertura negativa, condenando o vandalismo dos manifestantes. O governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), deu declarações de apoio à ação policial: "Não é aceitável o que foi feito. É uma atitude totalmente absurda e a polícia tem de agir. A polícia não pode se omitir." Diante da repercussão, o MPL, por sua vez, divulgou uma nota para se defender das acusações de vandalismo e depredação do patrimônio público. O movimento atribuía o início da violência à polícia e dizia que as depredações tinham sido uma reação à repressão policial. Afirmava ainda que elas só haviam começado após "repressão brutal e prisões, realizadas na região da Avenida Paulista", conforme reprodução de Judensnaider et al. (2013, p. 36). O MPL também reforçava que não incentivava a violência, mas não tinha como controlar a "frustração e revolta de milhares de pessoas com o poder público e com a violência da polícia militar". Nesse dia 7 de junho, houve ainda uma tentativa de conversa de um assessor da Prefeitura de São Paulo com uma integrante do MPL. Como o convite do assessor falava em uma conversa entre cidadãos, o movimento negou-se a participar do encontro, exigindo uma reunião oficial de movimento social e governo municipal, onde fosse debatida a revogação do aumento. Assim, as negociações não avançaram. E neste cenário, somada à repercussão do primeiro protesto focada na violência policial, foi convocado um novo ato para 24 horas depois, no Largo da Batata, em Pinheiros. Gohn (2014, p. 263) observa que esse segundo ato inaugura o Largo da Batata como "um novo point importante para protestos sociais". A principal novidade é que os manifestantes partiram da praça em direção à Marginal Pinheiros, assim uma das duas grandes vias expressas de São Paulo ficou parada em plena hora do rush, como destacam Jundesnaider et al. (2013, p. 37): Embora a cidade estivesse relativamente acostumada a manifestações nas avenidas do centro, não havia muitos precedentes de passeatas que tentassem bloquear vias expressas ̶ muito menos uma tão essencial como a Marginal Pinheiros, considerada a segunda via da América do Sul em volume de tráfego de veículos.
O segundo ato convocado pelo MPL-SP contra o aumento das tarifas reuniu cerca de 32
5 mil pessoas, segundo a Polícia Militar. Mais que o dobro do primeiro. A atuação da polícia foi pontual e terminou sem feridos e prisões, apesar de terem sido disparadas bombas de gás lacrimogêneo contra manifestantes. Nesse segundo protesto, surgem, nas ruas, em especial em plena Marginal Pinheiros: os Black Bloc. Conforme ressalta Solano et al. (2014. p.164), naquele dia o MPL teve a ajuda de "jovens vestidos de preto, mascarados com equipamentos antigás, que pararam equipamentos da CET". Para Solano et al., a tática Black Bloc começava a ser apresentada ao grande público, e, segundo os autores, foi o principal catalisador do processo das mobilizações de junho. Ainda de acordo com Solano et al. (2014, p.162), o diálogo do MPL com os anarquistas adeptos da tática Black Bloc não era novidade. Esses jovens vestidos de preto inspirados na estética punk já haviam atuado no começo dos anos 2000 em protestos antiglobalização. Segundo Solano et al, são jovens em geral de classe C, trabalham desde os 14, 15 anos, filhos da "nova classe consumidora" que "começou a ter poder de compra depois do lulismo e têm acesso à universidade trabalhando para pagá-la, aderindo ao Fies ou Priuni. Eles acreditam na violência como meio de expressão. E argumentam que os protestos pacíficos não geram resultado político nenhum. Descrentes com as instituições, eles apostam na radicalização para provocar alguma mudança. O segundo ato, do dia 7 de junho, ainda revelou a ira de alguns setores da sociedade, inlcusive apontanto um sentimento de antipetismo, que viria a se tornar mais forte depois de junho de 2013. O promotor de justiça Rogério Leão Zagallo, da 5ª Vara do Júri de São Paulo, postou mensagem em seu perfil no Facebook que acabou gerando grande repercussão. Irritado por estar parado duas horas no trânsito devido ao protesto, por conta de "um bando de bugios revoltados parando a Avenida Faria Lima e a Marginal Pinheiros", ele continuou incitando que a polícia matasse os manifestantes, conforme reprodução de Judensnaider et al. (2014, p. 38): Por favor, alguém poderia avisar a tropa de choque que essa região faz parte do meu Tribunal de Júri e que se eles matarem esses filhos da puta eu arquivarei o inquérito policial. Petistas de merda. Filhos da puta. vão fazer protesto na puta que os pariu... Que saudade da época em que esse tipo de coisa era resolvida com borrachada nas costas dos medras...
Dois dias depois, no domingo, 9 de junho, o promotor usou novamente seu perfil no Facebook para se manifestar, após a polêmica de seu primeiro texto. Disse que foi um desabafo porque estava irritado parado no trânsito enquanto tinha compromissos, no entanto 33
continuou criticando o fato de o protesto impedir o direito de ir e vir das pessoas. Isso mostra como aponta a manifestação do dia 7 colocou um dilema para a sociedade: "Os jovens queriam se manifestar, mas a cidade queria seguir adiante em seu cotidiano. O direito de quem deve prevalecer?" (SOLANO et al., 2014, p. 164). Na segunda-feira, 10 de junho, a Corregedoria-Geral do Ministério Público do Estado de São Paulo instaurou Reclamação Disciplinar para apuração dos comentários divulgados pelo promotor. E o Centro Acadêmico da Universidade Mackenzie, onde Zagallo era professor, também divulgou nota criticando a conduta do promotor e cobrando apuração do Ministério Público. Ele acabou sendo suspenso por 15 dias e demitido da universidade. Na mesma data, a Juventude do PT, partido do prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, declarou apoio à luta contra o aumento das passagens e a participação no terceiro ato, que seria realizado no dia seguinte, 11 de junho. A manifestação, na Avenida Paulista, ocorreu sob forte chuva e reuniu cerca de 5 mil pessoas, de acordo com a Polícia Militar, e 15 mil, para os manifestantes. O ato foi marcado por confrontos. "Contra tarifa, vandalizam centro e Paulista." Esta foi a chamada de capa do jornal Folha de S. Paulo do dia seguinte, 12 de junho. Segundo o jornal, no protesto mais violento até então, ativistas haviam atacado ônibus e estações de metrô e enfrentado a polícia: "As ruas da região central de São Paulo viveram ontem um clima de guerra durante o mais violento protesto contra a alta da tarifa do transporte coletivo, que durou mais de cinco horas". Os manifestantes partiram da Avenida Paulista, desceram a Rua da Consolação e seguiram em direção ao Centro. O primeiro confronto teria começado no terminal Parque Dom Pedro 2º. Solano et al. (2014, p. 165) narram como começou: A PM fez uma barreira para impedir os manifestantes de entrarem no terminal. Depois do impasse, alguns deles tentaram ingressar pelo lado de trás. Para variar, ninguém sabia direito o exato motivo das primeiras bombas terem sido lançadas. Mas a primeira serviu como anúncio para o bombardeio que se seguiu. (...) Eu me lembro dos torpedos cruzando o céu na praça da Sé, eu tentando encontrar um abrigo antiaéreo na paisagem do centro, totalmente vulnerável. Policiais solitários que se desgarravam do grupo eram perseguidos por jovens mascarados. A tática Black Bloc mostrava seu espírito ousado e com raiva. Eu nunca havia testemunhado jovens correndo atrás de policiais em um protesto, e aquilo me impressionou.
No dia seguinte, 12 de junho, uma foto na capa do jornal Folha de S. Paulo mostrava um policial ensaguentado assustado segurando um revólver tentando se levantar do chão, o 34
que ajudou a deixar a população indignada com os manifestantes (Ibidem). Um vídeo que mostrava o policial sendo agredido por manifestantes viralizou nas redes sociais. O mesmo veículo publicou entrevista com Nina Cappello, 23, estudante de Direito e uma das organizadoras do Movimento Passe Livre. "Não temos controle. A manifestação se transformou numa revolta popular", disse ela. O saldo do terceiro ato foi de 20 pessoas presas e, conforme relatam Judensanider et al. (2013), duas pessoas foram atropeladas por um automóvel no meio da manifestação. O motorista fugiu sem prestar socorro. E ainda houve depredações de estações de metrô, agências bancárias e da sede do Partido dos Trabalhadores, cujo prédio teve seu muro pichado e vidros quebrados. O MPL ligou para lideranças do partido para se desculpar por não ter conseguido conter os manifestantes. Após o terceiro ato, disseminaram-se nas redes sociais relatos de violência. Conforme salienta Judensnaider et al. (2013), houve uma disputa de narrativa do terceiro ato: de um lado relatos de vandalismo dos manifestamtes, de outro da violência policial. Os principais jornais de São Paulo e praticamente toda a imprensa tradicional atribuíram o início da violência aos manifestantes, questionando a legitimidade dos protestos e tratando os participantes como criminosos. A única ressalva foi uma matéria na Folha com críticas à prisão de um repórter do jornal enquanto cobria o protesto na Paulista, junto com um fotógrafo do site Uol. De Paris, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, elogiou a atuação do policial "ferido por manifestantes no protesto contra a tarifa". A PM divulgou uma nota condenando as manifestações e dizendo que a instituição agiria sempre com o rigor da lei para preservar a segurança da população. Pelo Twitter, o governador corroborou a nota da polícia, dizendo que era dever agir quando houvesse vandalismo e baderna. Alckmin estava na capital francesa junto com o prefeito Fernando Haddad. Ambos representavam a candidatura da cidade de São Paulo à Expo 2020, que não viria a ser eleita. Haddad, assim como Alckmin, condenou a violência e disse que não iria dialogar com manifestantes que fazem uso da violência. "Isso não é compatível com a vida democrática. Não é liberdade de expressão", disse. Assim seguiu o dia seguinte ao terceiro ato, com condenações de violência por diversos parlamentares e analistas da mídia tradicional. Como lembra Judensnaider et al. (2013), no Jornal da Globo, exibido na emissora no fim da noite, o ultraconservador Arnaldo
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Jabor criticou os manifestantes, suas reivindicações e os chamou de "ignorantes políticos". "Revoltosos de classe média não valem 20 centavos", disse ele. A quarta-feira, 13 de junho, amanheceu com a expectativa do quarto grande ato contra o aumento da tarifa. Os principais jornais do estado pediam uma atuação ainda mais incisiva por parte da polícia. Tanto a Folha de S. Paulo como o Estado de S. Paulo publicaram editoriais clamando o rigor das autoridades e que a polícia colocasse um ponto final nessas manifestações. Os protestos eram caracterizados como atos de vandalismo e depredações de baderneiros. Contudo, a Folha publicou também um artigo do MPL na seção Tendências e Debates, que traz artigos de opinião assinados. O movimento defendia a revogação do aumento, argumentando que 37 milhões de brasileiros são excluídos do sistema de transporte público. E que o transporte seria o terceiro maior gasto da família brasileira. Defendiam também que as ações violentas da polícia militar é que estavam acirrando os ânimos e provocando os manifestantes, por isso os atos estavam se transformando em revolta popular. Sustentavam que o transporte é um direito e que a decisão de baixar a tarifa era política e não técnica. "A população já conquistou a revogação do aumento da tarifa em Natal, Porto Alegre e Goiânia, falta São Paulo", terminava o movimento. Por outro lado, diversas matérias anunciavam que a PM prometia atuação mais dura no quarto grande ato. E assim, nesse clima, teve início a manifestação, marcada para as 17h, em frente ao Theatro Municipal. Devido à grande tensão, comerciantes fecharam as lojas do centro mais cedo e trabalhadores da região foram dispensados. Na Praça do Patriarca, próxima ao local da concentração, foi montada uma operação militar. Manifestantes foram revistados e cerca de 40, detidos antes do início do protesto, por portarem vinagre. O líquido ajudaria a aliviar os efeitos das bombas de gás lacrimogêneo. Com as prisões pelo porte de vinagre, há quem denomine os protestos de junho de 2013 de Revolta do Vinagre ou Batalha do Vinagre. O ato seguiu tranquilo pelas ruas do centro, com as palavras de ordem "Vem pra rua, vem, contra o aumento" sendo uma das mais entoadas. Segundo os organizadores, 20 mil pessoas participaram do protesto, e cinco mil, para a polícia. Os manifestantes subiram a Avenida Ipiranga em direção à Rua da Consolação, onde havia uma barreira da polícia militar. Neste momento, instalou-se um impasse. Integrantes do MPL tentaram ligar para o comandante da operação, mas não tiveram sucesso, apesar de ter sido combinado
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anteriormente. Neste momento, Judensnaider et al. (2013, p. 95) narram o que ocorreu: No meio do impasse, sem qualquer motivo aparente, a tropa de choque surge na altura da Rua Maria Antônia, palco de confrontos durante o período militar. Aos gritos de "Sem violência!", os manifestantes rogam a não intervenção do Choque, ao que são respondidos com bombas de concussão, gás lacrimogêneo e tiros de balas de borracha. O quarto grande ato contra o aumento da tarifa é marcado, a partir de então, por uma violência policial sem precedentes no período democrático. (...) Na tentativa de dispersar o protesto, a região torna-se praça de guerra: manifestantes são perseguidos e alvejados com balas de borracha e bombas de concussão, as quais atingem também transeuntes e jornalistas que cobriam os protestos.
Para Gohn (2014, p. 280), o quarto ato contra o aumento demonstrou o despreparo das forças policiais para atuar em "cenas de conflitos coletivos e difusos, assim como a incapacidade dos poderes constituídos de dialogar/negociar com lideranças dos manifestantes". O saldo do dia foi de 192 prisões de manifestantes e inúmeros feridos, entre eles, jornalistas e fotógrafos que cobriam o protesto. Neste dia, o Jornal Nacional, depois de apresentar falas de Alckmin e Haddad contrários à violência como já haviam dito anteriormente, fez um link ao vivo com o repórter César Galvão direto do confronto. E, naquele momento, as imagens mostravam estudantes sentados pedindo paz sendo alvejados com bombas pela polícia. "O discurso contrário às manifestações é abalado, assim, por cenas explícitas de abuso policial" (JUDENSNAIDER, 2013, p. 97). 2.2 A mudança na opinião pública Podemos dizer que naquele quarto ato contra o aumento, se, por um lado, a polícia seguiu a risca o que a mídia tradicional pregava em seus editoriais do dia, a opinião pública mudou. E, por incrível que pareça, o programa de jornalismo policial de José Luiz Datena indicou essa mudança ao vivo. Enquanto ele esbravejava que aquele protesto era baderna, que impedia a via pública e outras falas do gênero, Datena perguntou ao telespectador: "Você é a favor desse tipo de protesto?" E, como destaca Viana (2013, p.54), "alguma coisa saiu do lugar quando os números apareceram de cabeça para baixo". O apresentador passou a repetir a pergunta, de outras formas, mas o resultado dava que a maioria estava apoiando o protesto: 1.020 contra 895. "Será que nós formulamos mal a pergunta?", questionava Datena, inconformado. E, por fim, novos resultados ainda mais surpreendentes: 2.321 37
diziam ser a favor e 986, contra. Datena passou a dizer que a manifestação era, enfim, um "show de democracia". Enquanto ocorria a repressão policial, disseminaram-se pelas redes sociais digitais uma enxurrada de relatos e comentários sobre a violência. Segundo Gohn (2014), o quarto ato iniciou um segundo momento das Jornadas de Junho, quando o impacto das imagens e os relatos da violência policial marcaram uma virada na opinião pública. Enquanto até então a mídia tradicional pedia mais ação da polícia e tratava os manifestantes como baderneiros, nas redes digitais, não era bem assim. Estudo da Interagentes 4 analisou uma amostra de 63.494 postagens, no dia 13 de junho, e a partir da análise qualitativa revelou que a percepção dos usuários da rede social em relação às manifestações era positiva. Das postagens analisadas, 62% transmitiam um sentimento favorável ao protesto que ocorria naquele momento. Somente 16% eram mensagens negativas e 22% foram classificadas como neutras, ou seja, eram reprodução de links com notícias sem comentários com a posição do autor da publicação. O levantamento da Interagentes ainda mostrou os temas mais recorrentes nas mensagens do dia 13: 27% apoiavam a manifestação contra o aumento das passagens; 19% criticavam a violência policial; 13% sugeriam a adesão dos autores ao movimento, com convocações para os protestos, notas do MPL, confirmação nos eventos e fotografias pessoais nos atos. Publicações contrárias aos protestos somaram 10%. Outros 9% foram mensagens com críticas à cobertura dos grandes veículos de comunicação. E ainda 7% diziam que os manifestantes praticavam vandalismo, 5% afirmavam que protestar contra o aumento da tarifa era irrelevante e 6% criticavam a postura do Partido dos Trabalhadores e Fernando Haddad em relação às manifestações. E 2% criticavam o PSDB e Geraldo Alckmin. Por fim, 2% das postagens avaliavam que o direito democrático deveria ser exercido pelo voto e não em manifestações públicas. Conforme destacam Judensnaider et al. (2013), o jornal da Globo News, das 22h, deu o sinal da mudança na cobertura da mídia que se instalaria a partir de então. A apresentadora Renata Lo Prete ressaltava, pela primeira vez, que era preciso diferenciar os manifestantes pacíficos dos baderneiros e comentava a diversidade de pautas nos protestos. "Temos um primeiro sinal da dispersão de pautas colocadas em curso pela imprensa" (Ibid, p. 100). Enquanto isso, nas plataformas de redes sociais, viralizavam mensagens, como o vídeo publicado no Facebook por Marcel Barri com cenas de jovens na Praça do Ciclista (na 4
Disponível em http://interagentes.net/?p=76 Acesso em 20 jul 2015.
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esquina da Avenida Paulista com a Rua da Consolação) gritando "Sem Violência!" e sendo gratuitamente atacados pela tropa de choque. Outro vídeo postado pelo PSTU mostrava a polícia agredindo um grupo de jornalistas. E ainda um outro vídeo, este disponibilizado no Youtube, trazia imagens de um policial quebrando o vidro da viatura, supostamente para incriminar os manifestantes. Conforme destaca Judensnaider et al. (2013, p. 101), os inúmeros relatos e vídeos que viralizaram nas redes sociais revelaram a violência policial e fizeram "deslocar o eixo temático da manifestação da questão da tarifa para o direito de se manifestar". Sobre essa capacidade de viralizar mensagens nas redes sociais digitais, o estudo da Interagentes aponta a emergência de atores que podem ser considerados "nós desprivilegiados". As mensagens ganham rapidamente relevância e se espalham de maneira viral não por conta do tamanho anterior da rede do nó, mas pela capacidade de "ter dito algo que catalizou reações". Outro fato importante é que as 63.494 mensagens públicas coletadas no Facebook, para a realização do estudo citado, foram postadas por 52.843 perfis diferentes, o que revela a ausência de uma única organização hierárquica ou a existência de centros de informação verticalizados, como ocorre com movimentos tradicionais. "A baixa média de mensagens por pessoa e o grande número de pessoas engajadas sugerem um padrão de cobertura viral dos acontecimentos. Isso mostra ainda que a mobilização contou com o padrão de liderança distribuída".5 Assim, no dia seguinte ao quarto ato contra o aumento das tarifas continuaram se espalhando relatos de violências e parte da mídia tradicional começou a denunciar os abusos. Foi o caso do jornal Folha de S. Paulo, cuja repórter Giuliana Vallone foi atingida no olho por uma bala de borracha. Sua foto estampou a capa do jornal do dia 14 de junho. O veículo ainda trazia o caso de um casal sendo expulso de um bar na Avenida Paulista arbitrariamente por policiais. O colunista da Folha Elio Gaspari ainda escreveu artigo assegurando que "os distúrbios" haviam começado por conta da ação da polícia. Ou seja, uma cobertura bem diferente dos atos anteriores, quando, em editorial, o jornal pedia postura firme da polícia. Mas essa mudança de posicionamento não foi acompanhada pelo O Estado de S. Paulo, que continuou tentando justificar a inegável violência. "Não vi nenhuma manifestação violenta ao meu redor, não me manifestei de nenhuma forma contra os policiais, estava usando a identificação da Folha e nem sequer estava gravando a cena. (...) Tomei um tiro na cara." Este é um trecho do depoimento da 5
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repórter da Folha Giuliana Vallone, em seu Facebook. O fotógrafo Sérgio Silva, da agência Futura Press, também foi atingido por uma bala de borracha no olho esquerdo, enquanto cobria a manifestação do dia 13, mas não teve a mesma sorte de Giuliana. Ele passou por uma cirurgia, mas acabou perdendo a visão e até o fechamento deste trabalho buscava na justiça a reparação do Estado pelo dano que sofreu. Os protestos ganharam repercussão internacional, sendo que o jornal El País denunciou a violência policial. O prefeito de São Paulo Fernando Haddad naquele momento criticou a atuação da polícia: "Não resta dúvida que a imagem que ficou foi a de violência policial". E entidades ligadas aos direitos humanos também se manifestaram condenando a truculência. Conforme aponta Secco (2013), a repressão policial desencadeou uma onda de solidariedade ao MPL. E isso se refletiu no número de participantes nos atos que se seguiram e na cobertura da imprensa tradicional. Ele observa, por exemplo, que os dois primeiros atos convocados pelo MPL conseguiram arregimentar um número de pessoas que refletia a capacidade de mobilização do movimento, de cerca de duas mil pessoas. Ele acredita que os ataques a jornalistas e a composição dos manifestantes, cujo perfil era mais de jovens de classe média, podem ter facilitado a solidariedade ao movimento. "A direita midiática se viu forçada a apoiar os manifestantes ─ mas com sua própria pauta. Por isso, o decisivo não foi a violência tão natural contra trabalhadores organizados, e sim sua apropriação pela imprensa" (SECCO, 2013, p. 74). O número de participantes confirmados no Facebook na manifestação do dia 13 era de cerca de 30 mil; e o número de confirmações do quinto grande ato contra o aumento da tarifa: mais de 200 mil. Conforme apontam Judensnaider et al. (2013), o apoio às manifestações cresceu não só na cidade de São Paulo, mas em todo o Brasil. Para o dia 17 de junho, também foram convocadas manifestações em dezenas de cidades do País e outras pelo mundo, em solidariedade. As hashtags #mudabrasil, #changebrazil e #ogiganteacordou já indicavam a "exaltação à mobilização popular e à nacionalização dos protestos" (Ibid, p. 137). Nota-se, sobretudo, uma mudança no discurso dos meios em especial de duas maneiras: eles param de identificar o movimento com os partidos políticos da extrema-esquerda; e, adicionalmente, sugerem que sob a insatisfação com o preço das passagens escondem-se muitas outras insatisfações. (Ibid, p. 139)
Na opinião de Lima (2013, p.92), a primeira reação da "velha mídia" no início das 40
jornadas de junho foi de condenar o movimento, criminalizando-o. Mas, em seguida, mudou radicalmente a cobertura, passando a transmitir em tempo real os acontecimentos. Para ele, houve uma clara tentativa de cooptação, e também uma tentativa de instigar e pautar as manifestações. Lima ressalta como foram sendo introduzidas bandeiras e reivindicações "alheias à motivação original dos manifestantes". Judensnaider et al. (2013) também chamam a atenção como a imprensa passa a dar destaque a essa difusão de pautas, porém, no quarto ato contra o aumento não era possível perceber a existência de outras reivindicações. Segundo eles, a manifestação havia sido pautada pela luta da redução da tarifa. Para os autores, a solidariedade devido à violência policial ampliaria a pauta somente para o direito à manifestação. No entanto, uma postagem no Facebook do MPL veio de encontro a essa suposta tentativa de ampliação das bandeiras, além do passe livre. "Não é por 20 centavos. É por direitos." Com esse novo mote, a mobilização poderia ser entendida além da mobilidade urbana, não só a luta do transporte como um direito, mas uma luta por todos os direitos sociais. "É difícil determinar qual a relação entre o discurso espontâneo das redes sociais e a ação planejada dos meios de comunicação de massa." (Ibid, p.149) No entanto, como observam os pesquisadores, parte da imprensa tradicional vê nas manifestações indícios que vão além da pauta dos transportes. Outra parcela dos meios, como a revista Veja, "menosprezam a pauta original e propõem aos manifestantes que abracem causas sugeridas por eles". Essa transformação da cobertura da imprensa foi observada por muitos analistas e pesquisadores e explorada em diversos artigos. Feres et al. (2013), por exemplo, analisam quantitativamente a cobertura das manifestações de junho de 2013 nos principais jornais brasileiros: O Globo, Folha de S. Paulo e Estado de S. Paulo. Eles concluem que os três veículos tiveram um comportamento similar: Começaram por rechaçar as manifestações como irresponsabilidade de vândalos e baderneiros. Passaram por um momento de reavaliação a partir do qual condenavam o vandalismo da banda podre das manifestações enquanto elogiavam as críticas à política. Finalmente focaram grande parte da responsabilidade pelas manifestações na suposta falência das instituições políticas, no governo federal e na figura de Dilma. (FERES et al., 2013, p. 16)
Para os autores, o restante do noticiário reforçava a ideia de uma crise econômica e política, marcada pela incompetência do governo federal. Esse processo de desvalorização 41
da política teria começado, segundo eles, ainda em 2005, com o chamado escândalo do Mensalão. Eles ainda destacam que o julgamento do caso pelo Supremo Tribunal Federal se deu em 2013, quando houve uma campanha massiva de desvalorização da política, "com foco no PT, na presidência e em seus principais personagens, incluindo o ex-presidente Lula". De acordo com Venício de Lima (2013, p. 90), há uma cultura consolidada no Brasil de desqualificar a política em si e seus atores. Essa cultura, diz Lima, seria reforçada diariamente pela "velha mídia", sobretudo a TV. Outro estudo que analisou a cobertura da mídia e os protestos foi realizado pelo coletivo de comunicação Intervozes, publicado em 2014. O coletivo considera que a comunicação social foi um dos elementos-chave de junho de 2013, tanto os meios mais recentes, com as plataformas de redes sociais e os smartphones, quanto os meios tradicionais. Assim como Feres et. al., o levantamento do Intervozes também considerou os três jornais citados. O Intervozes (2014) divide as manifestações de junho em cinco fases: (1) fase preparatória, (2) fase de eclosão, (3) fase de nacionalização, (4) fase de difusão e (5) fase de desmobilização. Segundo o estudo, houve uma mudança de enfoque da cobertura principalmente após a segunda fase. O que levou isso a ocorrer, de acordo com o coletivo, foi o alto número de registros de casos de violência policial, que atingiu, inclusive, repórteres que cobriam os protestos, e ainda a nacionalização das manifestações. Ampliou-se a quantidade de matérias sobre os atos e, segundo o Intervozes (2014, p.15), "o jornalismo formal acaba se transformando também em elemento difusor". E eles corroboram a interpretação de Lima (2013), de que num primeiro momento houve uma reação de condenação e, à medida que o fenômeno se alastrou, a velha mídia alterou sua posição, passando para uma tentativa de cooptação. 2.3 Dispersão de pautas Na segunda-feira, 17 de junho, aconteceu o quinto protesto, porém diferente dos anteriores. A imprensa havia consolidado o apoio às manifestações. Um exemplo é o pedido de deculpas do colunista da Globo, Arnaldo Jabor6: "Sim, errei na avaliação do primeiro dia das manifestações contra o aumento das passagens em São Paulo. (...) Essa energia do Passe 6 Arnaldo Jabor condena os protestos http://www.youtube.com/watch?v=luLzhtSYWC4 Arnaldo Jabor assume o erro e enaltece os protestos http://www.youtube.com/watchv=o-Xv9QYG_YU Acesso: 13 Ago 2015
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Livre tem que ser canalizada para melhorar as condições de vida do Brasil." E, em seguida, ele listava uma série de "problemas" do País, como a "terrível" ameaça da PEC 37, "que acaba com a prática do Ministério Público, que pode reverter as punições do Mensalão, que pode acabar com o processo de morte de Celso Daniel". Para na sequência fazer perguntas como "por que o PAC não andou? Por que a inflação está voltando?". E a conclusão: "O Passe Livre pode nos ajudar a responder essas perguntas". O colunista da revista Veja Ricardo Setti, um pouco antes do ato, publicou, em seu blog na revista, um artigo onde pedia desculpas aos leitores por ter chamado os manifestantes de baderneiros e dizia que havia exagerado. Mas, por fim, convocava as pessoas para o ato do dia, o que era saudável numa democracia. Assim como a imprensa mudou a cobertura dos protestos, o quinto ato, realizado no Largo da Batata, também foi diferente. A começar pelo número de pessoas, muito maior que os anteriores. Cem mil pessoas, segundo os organizadores, e 65 mil, de acordo com pesquisa do instituto Datafolha. Segundo Locatelli (2013), muito havia mudado, por exemplo, na internet já estavam vendendo o "kit protesto", contendo um apito, a máscara de Guy Fawkes e a bandeira do Brasil. Locatelli (Ibid, p. 363) descreve sua impressão naquele quinto ato: No começo do protesto daquele dia, ao chegar ao largo da Batata, percebi que os manifestantes não eram os mesmos dos outros atos. Imperceptível antes, o nacionalismo estava presente, com músicas como "eu sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor". A hostilidade aos partidos também começava a dar as caras, com os gritos "sem partido" e "abaixa a bandeira". Ao meu lado, militantes que carregavam bandeiras do PSOL e do PSTU foram expulsos, enquanto tentavam argumentar que não eram oportunistas, estavam ali desde o primeiro dia. Faixas contra o PT, como "Lulladrão, seu lugar é na prisão", pela redução da maioridade penal e contra a corrupção marcavam presença no protesto.
Naquele dia, a Rede Globo cancelou a exibição das novelas das 18h e das 19h para transmitir ao vivo os protestos. A então apresentadora do Jornal Nacional, Patrícia Poeta, leu um editorial, onde o MPL era citado pela primeira vez, e disse que a TV Globo defendia o direito dos cidadãos de protestar pacificamente. Naquela mesma noite, dois integrantes do MPL participaram do programa Roda Viva, da TV Cultura. Locatelli (2013) chama atenção ainda para o trajeto do ato. O objetivo do MPL era tomar a ponte Estaiada, que leva o nome de Octavio Frias de Oliveira, fundador da Folha de S. Paulo. Trata-se de um símbolo da economia paulistana que escancara a prioridade aos
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automóveis na mobilidade urbana. A via foi projetada sem espaço para pedestres ou bicicletas e por lá não passa qualquer linha de ônibus. Além das milhares de pessoas que participaram do ato na capital paulista, ocorreram manifestações em mais de 30 cidades brasileiras, incluindo 13 capitais (JUDENSNAIDER, 2013). Ao contrário dos protestos anteriores, estes autores também observam a ampliação das pautas, antes predominantemente contra o aumento das tarifas. "A ideia do gigante que acordou chega, enfim, às ruas" (Ibid, p.164). E a cobertura da imprensa posteriormente ao quinto ato destacou justamente a difusão da pauta. Durante o ato, o instituto Datafolha realizou uma pesquisa sobre o perfil dos manifestantes: a maioria das pessoas teria entre 26 e 35 anos, participava pela primeira vez da manifestação (71%), havia sido informada do ato pelo Facebook (81%) e 84% afirmavam não ter preferência partidária. No dia seguinte ao protesto, 18 de junho, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad e o MPL participaram de reunião com o Conselho da Cidade, criado no início da gestão do prefeito para debater pautas com caráter consultivo. E a pauta daquele dia foi a redução da tarifa. Os conselheiros se colocaram favoráveis à revogação. Haddad discorreu sobre os impactos orçamentários. Nesse mesmo dia, as passagens são baixadas em Cuiabá, João Pessoa, Pelotas, Montes Claros, Foz do Iguaçu, Porto Alegre e Recife. E também nesse dia, mais um protesto: o sexto grande ato contra o aumento, com concentração na Praça da Sé. Foram cerca de 50 mil pessoas e a manifestação se dividiu em duas: uma parte se dirigiu até a prefeitura, na Praça Ramos de Azevedo. Outra seguiu em direção à Avenida Paulista. Parte do grupo que foi até a prefeitura tentou invadir o prédio. Outros manifestantes tentaram detê-los e foram agredidos. Nos arredores, lojas foram saqueadas, edifícios foram depredados e um veículo da Rede Record, incendiado. Conforme relatam Judensnaider et al. (2013), a prefeitura chamou a policia militar para conter a situação e tardou a ir. Só apareceu depois de três horas. "A distinção entre vândalos e manifestantes e a dispersão das pautas são as características mais enfatizadas na cobertura das manifestações nos meios de comunicação" (Ibid, p. 202). "Nesse dia a presença dos Black Blocs foi registrada por todos os meios de comunicação que cobriram os atos" (GOHN, 2014, p. 305). No dia seguinte, 19 de junho, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, e o governador do Estado, Geraldo Alckmin, anunciaram juntos a revogação do aumento. Em 20 de junho, ainda houve um ato, o sétimo. Segundo estimativas divulgadas na imprensa,
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mais de 1 milhão de pessoas participaram de protestos nesse dia em pelo menos 25 capitais. Em São Paulo, houve confrontos com militantes do PT que foram às ruas com camisetas e bandeiras do partido (GOHN, 2014, p. 317). No dia 21 de junho, o MPL anunciou que não convocaria mais manifestações. Conforme aponta Gohn, a partir dessa data "o foco da cena, na mídia, foi o governo federal". O mês de junho encerrou-se com várias manifestações contra a Copa das Confederações, principalmente nas cidades onde eram realizados os jogos. Em junho, foram realizadas 1.301 prisões em 15 capitais, só em São Paulo foram 218 (Ibidem). 2.4 Interpretações das Jornadas de Junho Após o mês simbólico neste início de século XXI no Brasil, diversos pesquisadores se voltaram ao tema, analisando o que ocorreu naquele período e por que dezenas de milhares de pessoas foram às ruas. Ortellado (2013, p. 223) considera a derrubada do aumento das tarifas de transporte coletivo uma das mais importantes conquistas do movimento social brasileiro desde o fim do regime militar: “Seus efeitos materiais são muito relevantes (meio bilhão de reais anuais em subsídios para a população), mas também se estabeleceu o precedente: a luta direta produziu uma vitória”. Para ele, a experiência de junho, deixa dois legados opostos: “o da dispersão processual e o da fértil conjugação de processo e resultado na luta contra o aumento”. Valorizar mais o processo do que o resultado tem sido uma das principais características desses movimentos das últimas décadas que têm aflorado em diversos países articulados pelas redes da internet e de forma autônoma em relação a partidos e instituições, segundo o pesquisador. O processo é o meio pelo qual atuam, “a horizontalidade, a democracia direta, assim como a criatividade de suas ações, que dão a eles o sabor e o sentido. As lutas são ao mesmo tempo experiências vivas de uma democracia comunitária e espaço de autoexpressão contracultural”. Parra (2013) apontou nove rastros deixados pelos protestos: 1) Controvérsias sobre as motivações e estratégias dos movimentos. O autor ressalta como todos os analistas foram pegos de surpresa, sem poder antecipar ou explicar o que se passava. 2) A vitória contra o preço da tarifa. Neste ponto, observa-se como a política venceu a gestão técnica. A política não pode estar limitada às contas de uma planilha de custos. 3) Quem estava nas ruas. As Jornadas de Junho foram heterogêneas e o que ocorreu em São
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Paulo foi diferente do que estava acontecendo no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife ou Porto Alegre. 4) Conflitos dos canais de mediação. Os governos não sabiam quem convocar para negociar. A presidente Dilma Rousseff conversou com militantes do MPL, mas que não se consideravam os representantes do movimento. O governo federal tentou reaproximar o diálogo com movimentos, até então perdidos nos últimos anos. O governo estadual, de Geraldo Alckmin (PSDB), reprimiu e adotou o discurso de que se tratavam de vândalos depredando patrimônio público. E o governo municipal de Fernando Haddad (PT), em seu primeiro ano de gestão, demorou a entender que o pensamento gerencial não dava as respostas que as ruas queriam. 5) De vândalos e baderneiros a manifestantes. Até o final do dia 13 de junho, os protestos foram violentamente reprimidos pela polícia. No entanto, o jogo adquiriu outros contornos. A mídia tradicional, que defendia a repressão pesada aos manifestantes, tentou atacar os governos municipal e federal. “O forte repúdio coletivo expresso nas ruas à violência policial sinalizou um claro limite à ação do governo estadual do PSDB e sua polícia” (PARRA, 2013, p. 145). 6) Novas ações e táticas. Os movimentos sociais reaprenderam a ocupar ruas, rodovias e espaços governamentais, fechando, por exemplo, a Rodovia Dutra e acampando em câmaras municipais. 7) Redes Digitais X comunicação de massa. As lutas pela redução da tarifa e contra a violência policial foram fatores que levaram muitos às ruas. A comunicação nas redes sociais manteve-se bastante distribuída, com muitos nós e centros de irradiação. As redes digitais tiveram papel importante para levar as pessoas às ruas. No entanto, após as Jornadas de Junho, houve diversas convocações para uma greve geral em 1º de julho, que não tiveram força apesar de milhares de confirmações. 8) Crise no sistema de representação política. A grande imprensa corporativa tentou estabelecer a narrativa de que as revoltas eram contra partidos já que houve conflitos nas ruas contra manifestantes que carregavam bandeiras. Esse fato levou os diversos grupos engajados nas lutas contra a tarifa a reavaliarem seus próximos passos. 9) Novo ciclo estético-político das manifestações. Novos atores, grupos e expressões, diferentes das manifestações do início dos anos 2000, foram às ruas em 2013. “Enquanto Che representava o indivíduo herói que inscreve seu nome pessoal na história social, os
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Anonymous podem ser qualquer um e ao mesmo tempo todos nós” (PARRA, 2013, p. 149). Ao mesmo tempo, os Black Bloc se constituíram como grupo político apenas na ação. E chama a atenção que a multidão de indivíduos foi às ruas com seus próprios cartazes escritos a mão; na internet, as frases viralizavam em memes. E tudo isso aconteceu de repente. Apesar de protestos recentes terem ocorrido em outras partes do mundo, ninguém esperava que eles chegassem ao Brasil. "As irrupções sociais não conhecem sismógrafos capazes de antecipá-las" (AMARAL, 2013, p.8). No entanto, pesquisadores tentam entender o que levou o país a entrar em ebulição. Ricci e Arley (2014) apontam três possíveis causas para a explosão por aqui. A primeira delas, segundo os autores (2014, p. 44), seria os “sinais de esgotamento do modelo estatal-desenvolvimentista montado pelas gestões Lula. Não sinais de falência, mas de desequilíbrio interno”. Para os autores, o modelo lulista baseava-se na atualização do estatal-desenvolvimentismo, apoiado no forte centralismo da condução e fomento dos investimentos produtivos e consumo interno. Nesse ponto, Ricci e Arley destacam a inclusão pelo consumo conquistada no período, mas alertam que a demanda por serviços públicos de qualidade é mais complexa que o direito ao consumo. A segunda causa, de acordo com Ricci e Arley (2014, p. 54), seria a “emergência da hegemonia conservadora na cultura nacional, não apenas oriundas das classes mais abastadas, mas envolvendo, também, os segmentos sociais que ascenderam em sua renda e consumo no último período”. Essa onda conservadora vinha das classes médias tradicionais que se ressentiam pelo rebaixamento da qualidade de vida, ao mesmo tempo em que as camadas sociais menos abastadas, muitas vezes, adotam o ideário das classes mais altas como novo referencial de valores e padrão de vida. Por fim, como terceira causa, Ricci e Arley (2014, p. 59) apontam o “desgaste acelerado das instituições públicas, em especial, as de representação política formal”. Os autores citam duas pesquisas do Ibope, realizadas em julho 2012 e no mesmo mês em 2013. Nesta edição, o levantamento mostrou que todas as 18 instituições avaliadas pelo instituto se tornaram menos confiáveis. A Presidência da República foi a que apresentou a maior queda na confiança no período, de 21%. O Congresso Nacional e os partidos políticos estavam nas piores posições no ranking de confiança nas instituições. No entanto, é importante observar que a pesquisa de julho de 2013 foi realizada após os protestos, sendo que a queda na confiança pode ser uma consequência das manifestações. Na opinião de Nobre (2013), as revoltas de junho de 2013 têm muito em comum com
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as duas grandes manifestações de massa da redemocratização: as Diretas Já e o movimento pelo impeachment de Collor. Segundo o professor, em 1984, não se tratava apenas de uma luta para conquistar o direito de votar, e, em 1992, não era somente tirar o presidente. Em 2013, não foi só a luta contra o aumento das tarifas ou do questionamento dos megaeventos, as mobilizações trouxeram diveras frustrações e aspirações. Porém, como aponta Nobre (2013), junho traz consigo uma disputa de narrativas, ao contrário de 1984 e 1992, quando havia uma narrativa única. Não é de um movimento que se trata, mas de vários. As interpretações divergem sobre o que aconteceu. A ideia mesma de que seja possível um "relato dos fatos" é questionável. As interpretações divergem também sobre o sentido do que aconteceu. São diferentes as dinâmicas de manifestação nas diferentes partes do país, em cada cidade, em cada parte da cidade onde ocorrem protestos. Manifestações surgem como irrupções, grandes, pequenas, isoladas, reunidas. Quando se reúnem em grandes massas, têm forma de ondas. Dependendo de qual onda se pega, a passeata pode ter sentidos opostos, inconciliáveis. (NOBRE, 2013, p.17)
Outro apontamento de Nobre é que, ao contrário das grandes manifestações anteriores, junho de 2013 mostrou que a pauta não era mais a transição para a democracia, mas sim o seu aprofundamento. O autor argumenta que desde 1988 um acordo de governabilidade "blinda o sistema político contra a sociedade" (2013, p. 62). O nome dessa blindagem, segundo ele, é o pemedebismo. E junho traz o questionamento a esse sistema partidário, onde no fundo, todos os partidos querem ser, na verdade, um PMDB, que sempre está no governo, qualquer que seja o governo. "O pemedebismo minou a formação política de toda uma geração", critica (Ibidem). E em junho, predominantemente, os jovens estavam nas ruas, como demonstrou pesquisa do Datafolha citada. Já Peixoto (2014, p. 139) acredita que “o que houve foi uma ampla manifestação por direitos do consumidor, muito longe de uma aspiração plena por direitos de cidadania”. Ele compara os protestos a um “recall do eleitor-cliente contra deputados e senadores. E do telespectador-cliente contra o jornalismo midiático”. Para ele, há uma tendência de nos tornarmos cada vez mais consumidores e menos cidadãos. E assim, haveria cada vez menos a possibilidade de se fazerem mudanças profundas na sociedade, privilegiando-se mais as necessidades de consumo individuais. O autor justifica sua opinião ao observar que as manifestações não questionavam o sistema econômico, a proeminência do capital financeiro ou a relação capital-trabalho. “Mudanças estruturais demandariam organização, propostas mais elaboradas e dificuldade na hora de serem expressas na forma de slogans publicitários 48
tão ao gosto da nova geração” (Peixoto, 2014, p. 142). Junho de 2013, para Peixoto (2014), só conquistou duas vitórias: a suspenção do aumento de 0,20 centavos na tarifa de ônibus e metrô em São Paulo e outras cidades, e a não aprovação do Projeto de Emenda Constitucional 37. O pesquisador acredita que essa relação das manifestações de junho de 2013 com a questão do consumo está ligada ao fato de que em geral foi para a rua a geração Y, que cresceu num mundo digital e globalizado, acostumada com estratégias de marketing e publicidade. Um dos pontos de acordo entre os manifestantes era “o desprezo e a reprovação contra os políticos eleitos pelo voto direto que não atendem às expectativas de seus eleitores” (Peixoto, 2014, p. 140). A mídia tradicional também foi criticada, acusada de manipulação, “a mesma mídia que sistematicamente apresenta políticos como corruptos, debocha deles em programas de humor e vive denunciando privilégios e abusos” (Ibidem). No entanto, a mídia criticada e expulsa de protestos, que, inclusive, teve carros queimados durante protestos, considera-se sujeito das manifestações. Peixoto (2014, p. 140) traz como exemplo a retrospectiva de 2013 na Rede Globo de Televisão, em que o jornalista Sérgio Chapellin disse: “Fomos às ruas para transformar o Brasil”. Transformar o país era o que acreditava estar fazendo parte dos manifestantes que participaram das Jornadas de Junho. Peixoto (2014) analisou os cartazes presentes nos protestos e os dividiu em quatro grupos. Um deles trazia mensagens, onde se fazia um autoelogio, tais como: “Nós somos o futuro do Brasil”. Também havia os cartazes com humor e poesia, por exemplo, “Odeio bala de borracha, joga halls”. Outros traziam demandas mais ou menos específicas, entre elas, reivindicavam “não à PEC 37” e a “cura para a fome”. Por fim, tiveram aqueles que apontaram o futebol, em especial a Copa das Confederações, para pedir saúde e educação: “Fome, miséria e opressão o Brasil é pentacampeão”. Peixoto (2014, p. 143) tem uma visão um tanto quanto cética e pessimista não só das chamadas Jornadas de Junho, mas também dos benefícios trazidos pela internet e redes sociais: “Assim como o capital cuja finalidade maior é expandir-se, a tônica da era dos computadores é a da acumulação, desvinculada de qualquer compromisso com a inclusão ou com avanços sociais que signifiquem emancipação”. Diferente da análise de que a mobilização estaria mais para consumo do que cidadania, o que se viu durante os protestos, em várias partes do País, foi o surgimento de organizações horizontais para debater ações políticas. Pereira (2014) afirma que as
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manifestações de 2013 ocorridas no Brasil foram peculiares pelo caráter difuso das organizações que estavam na liderança dos movimentos, em relação às pautas e à organização das jornadas. Ele analisa o papel desenvolvido no período pela Articulação Nacional de Comitês Populares da Copa (Ancop) e de seus comitês locais nas cidades-sede da Copa do Mundo de 2014, em especial o Comitê popular dos atingidos pela copa-BH (Copac-BH). Trata-se de uma “organização horizontal, sem lideranças e cargos, que reúne atingidos direta e indiretamente pela Copa Fifa 2014”, que começou a desenvolver suas ações em 2011 e teve um papel relevante nas manifestações de junho de 2013. Assim como nas manifestações do Occuppy, em Belo Horizonte também foram criadas as Assembleias Populares Horizontais (APH). “Procuramos ser o menos burocrático possível, é um espaço de encontro, de divulgação do que as pessoas estão fazendo. Muitas pessoas esperam que a gente dê um norte, mas não é um espaço deliberativo”, disse o professor Francisco Foureaux, em entrevista à autora7. Foureaux ainda informou que a cada assembleia a dinâmica era discutida, cada uma tinha um formato próprio. O local escolhido para a realização dos encontros era o Viaduto Santa Tereza, como definiu Foureaux, “um espaço esquecido pela prefeitura”. Segundo Pereira (2014), a APH foi ganhando centralidade nas funções de organização e discussão das mobilizações na cidade. Pereira (2014) coletou dados (postagens e comentários) referentes à página do Comitê popular dos atingidos pela Copa do Mundo de Belo Horizonte (Copac-BH) no Facebook entre os dias 17 e 30 de junho, com o intuito de compreender como se dão as articulações entre participação política e internet. “Em acordo com parte da literatura do campo, reconhecemos que há uma mudança fundamental entre as organizações de movimentos sociais formais e as manifestações que acontecem em rede, através da utilização da internet” (PEREIRA, 2014, p. 17) De acordo com Pereira (2014), o Copac cumpriu um papel relevante para a constituição da rede conectiva, sendo um dos organizadores das Assembleias Populares Horizontais. Sua página tinha a função de permitir que identidades individuais pudessem se manifestar. O autor identificou como ocorrem diferentes formas de mobilização: ações online que favorecem as ações off-line; ações que ocorrem especificamente no mundo digital; e por último, ações híbridas que ocorrem em ambos espaços.
7 Junho de 2013: o mês que não terminou in: Revista Fórum nº 127, outubro/2013.
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2.5 Copwatch à brasileira Ivana Bentes (2014) chama a atenção para o surgimento de uma mídia-multidão em processo, como já havia ocorrido em outros países, por exemplo, na Espanha, no Egito, nos Estados Unidos e na Turquia. Ela dialoga com o conceito trazido por Hardt e Negri (2004). Para estes autores, a multidão seria a alternativa viva diante da época atual de globalização e guerra permanente, que eles denominam de Império. Essa multidão a que eles se referem pode ser encarada como uma rede, formada por uma multiplicidade de atores, com diferentes identidades, como culturais, de etnias, gêneros, orientações sexuais. Porém, essa multidão age pelo comum, mantendo suas diferenças internas, ao contrário do conceito antigo de povo, que foramaria uma voz una, e da classe operária. Para Bentes, as Jornadas de Junho provocaram a emergência da mídia-multidão, com as transmissões ao vivo dos protestos (streaming). Esse fenômeno produz uma experiência “catártica”, que leva milhares de pessoas a estarem nas ruas junto com o “sujeito político multidão”. Bentes (2014) ressalta como a Mídia Ninja, um dos principais coletivos que transmitia os protestos ao vivo pela internet, acabou pautando a mídia corporativa e os telejornais, ao filmar os confrontos entre polícia e manifestantes: Estamos vendo surgir nas ruas uma multidão capaz de se autogovernar a partir de ações e proposições policêntricas, distribuídas, atravessadas por poderes e potências muitas vezes em violento conflito, mas que constituem uma esfera pública em rede, autônoma em relação aos sistemas midiáticos e políticos tradicionais e que emergiu e se espalhou num processo de contaminação virótica e afetiva instituindo e constituindo uma experiência inaugural do que poderíamos chamar das revoluções P2P ou revoluções distribuídas em que a heterogeneidade da multidão emerge em sinergia com os processos de auto-organização (autopoiesis) das redes. (BENTES, 2014, p. 332).
Essa mídia-multidão ou cinema de rua ou ainda insurgente é movida pela urgência e função (informar, mobilizar, comover e disputar sentido). São imagens que colocam “a marca de quem afeta e é afetado de forma violenta, colocando o corpo/câmera em cena e em ato” (BENTES, 2014, p. 333). O corpo que filma combate e foge, enfrenta o inimigo (polícia), o tumulto, o corre-corre, a euforia e o pânico da multidão. Outra função desse corpo-câmera é a vigilância. A câmera é também uma ferramenta/arma para vigiar o inimigo (registrar os policiais e suas agressões aos manifestantes). Como reforça Bentes (2014, p. 334), essa é a “diferença do midiativismo para o jornalismo de relato que dá a notícia e vai embora alheio
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às suas consequências”. O midiativista das Jornadas de Junho usou o “poder/potência de exposição on line contra as autoridades policiais, com o monitoramento dos muitos e a multidão em tempo real”. Essa prática de vigiar a polícia com câmeras e fotos, usada em junho, principalmente pela Mídia Ninja, é conhecida como “Copwatch”, nos Estados Unidos e Canadá. Nesses países, há uma rede de ativistas copwatchers que acreditam que filmar a atividade da polícia nas ruas é uma forma de prevenir a violência e truculência policial. Nos Estados Unidos, a prática é usada em diversas situações, não só em protestos. No Twitter, o perfil @copwatch, por exemplo, traz a seguinte mensagem: “Os policiais nos vigiam. Vamos pegar câmeras e vigiar os policiais.”8 Os vídeos acabam sendo disseminados pelas redes. A atuação da Mídia Ninja durante as manifestações de junho reinventaram essa prática no Brasil, segundo Bentes (2014, p. 335), ao transmitir ao vivo as manifestações e a atuação da polícia para reprimi-las. A audiência – ou pós-telespectador – interage com o cinegrafista/performer das ruas: “As transmissões ao vivo funcionam como um ‘material bruto’ que vai sendo editado, montado, coletivamente e ao vivo”. Constitui um espectador mobilizado, que participa pelo chat e vive a experiência da transmissão – “transe e missão”. Outra observação em relação às transmissões ao vivo dos protestos é como os fatos são ressignificados diante da mídia corporativa. Enquanto a TV faz tomadas aéreas de helicópteros, com âncoras e especialistas sentados em estúdios, o midiativista está nas ruas e sujeito à “direção da realidade”. Um exemplo deste copwatch brasileiro, de junho de 2013, foi a prisão do Ninja Filipe Peçanha, o Carioca, como relatou: Comigo, 10.000 pessoas assistiam à transmissão da PósTV. Desde as 14h eu estava com a equipe da Mídia NINJA em campo transmitindo o primeiro dia da visita do Papa ao Rio de Janeiro. Às 20h30 o policial à paisana me puxa pelo braço. A comoção foi muito grande. Maior do que podia imaginar. Centenas de pessoas cercaram o carro da polícia enquanto confiscavam meu celular a força e tentavam partir para a 9 DP.9
Bentes (2014, p. 336) observa ainda como no carro da polícia, o ninja grita “Eu preciso de um smartphone, minha bateria está acabando” e imediatamente um desconhecido lhe passa o seu celular. “A câmera é usada como arma de combate, ostensiva ou escondida, é um dos principais alvos do inimigo”, diz Bentes (2014, p. 337). As imagens são o testemunho 8
Tradução livre: The cops watch us. We get cameras to watch the cops.
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Relato no Facebook: https://www.facebook.com/midiaNINJA/posts/207055739452579 Acesso 09 de outubro 2014.
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de uma ação arbitrária e truculenta da polícia. Um guia10, produzido em colaboração com as entidades Advogados Ativistas, Artigo 19 e Witness, orientava como as pessoas deveriam filmar as ações policiais durante os protestos. “Se gravados no momento certo e com as informações necessárias para se constituir uma prova, vídeos podem fornecer provas contundentes e acelerar processos de responsabilização de agentes do Estado”, diz o material. 2.6 A fagulha que incendiou a pradaria Foi uma questão urbana, a do transporte, que deu início aos protestos de junho de 2013, no Brasil. Para alguns pesquisadores, faz todo sentido que isso tenha ocorrido. Para Maricato (2013), quem acompanha de perto a realidade das cidades brasileiras não estranhou as manifestações que impactaram o País. Segundo a urbanista, a vida nas cidades brasileiras piorou muito a partir dos últimos anos da década passada. Em entrevista à autora11, Maricato fala sobre a condição de vida insuportável das cidades brasileiras. Um dos principais pontos é a imobilidade urbana: “O transporte, sem dúvida nenhuma, é o primeiro ponto, porque ele afeta todo mundo, das camadas de mais baixa renda até as de mais alta renda, com exceção dos que andam de helicóptero”. Ela aponta o elevado tempo médio gasto com transporte e os impactos causados com o incentivo ao transporte individual, além dos gastos públicos com a Copa do Mundo e as Olimpíadas, entre outras razões: O tempo médio das viagens em São Paulo era de 2 horas e 42 minutos em 2007. Para um terço da população, esse tempo é de mais de três horas, ou seja, uma parte da vida se passa nos transportes, seja ele num carro de luxo ou num ônibus ou trem superlotado – o que é mais comum. (MARICATO, 2013, p. 24)
De acordo com Dulley (2004), as cidades, hoje, são o principal ambiente dos seres humanos. Estimativas das Nações Unidas12 preveem que até 2050, 89% dos habitantes da 10 Guia Como filmar a violência policial em protestos. Disponível em http://artigo19.org/wp-content/uploads/2014/06/GUIA-WITNESS-R02-web.pdf Acesso em 9 de outubro de 2014. 11 Ermínia Maricato: “As cidades estão insuportáveis”. Disponível em: http://www.revistaforum.com.br/blog/2013/08/erminia-maricato-as-cidades-estao-insuportaveis/ Acesso em 10/10/2014 12 Estado de las ciudades de America Latina y el Caribe 2012. Disponível em http://www.onuhabitat.org/index.php?option=com_docman&task=cat_view&gid=362&Itemid=18 Acesso em 28/8/2014
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América Latina viverão em cidades, o que exigirá maior infraestrutura para dar conta de atender com serviços públicos de qualidade a todos os cidadãos. Por outro lado, para Fabio Josgrilberg (2010), é no espaço urbano que pode se dar a proximidade necessária para a percepção mais crítica das diferenças sociais, sejam elas alimentadas por realidades locais ou pelas forças do capitalismo global e seus instrumentos técnicos. Josgrilberg também aponta que a cidade é um campo fértil para o desenvolvimento de articulações sociais e questionamentos de situações de desigualdades. Com as redes de informação e comunicação potencializadas pela internet, amplia-se a aproximação das pessoas na urbe e eleva-se a percepção dos paradoxos e ambiguidades da vida urbana. Essa questão trazida por Josgrilberg pode ser uma oportunidade para as cidades brasileiras. Para Klink e Rolnik (2011), as metrópoles brasileiras apresentam marcas de um modelo de desenvolvimento urbano excludente e predatório, insustentável do ponto de vista socioambiental e econômico. A partir do uso da internet, nessa nova forma de comunicação, baseada na participação, o cidadão pode protagonizar soluções para o seu ambiente, transformndo-se em sujeitos do espaços social onde vivem. Henry Lefebvre (2008) critica o caráter alienante de tornar os problemas urbanos uma questão meramente administrativa, técnica, científica. Segundo o autor, essa pretensão mantém um aspecto fundamental da alienação dos cidadãos: o fato de serem mais objetos do que sujeitos do espaço social, fruto de relações econômicas de dominação e de políticas urbanísticas por meio das quais o Estado ordena e controla a população. Em oposição a essa perspectiva administrativista, Lefebvre politiza a produção social do espaço: assume a ótica dos cidadãos (e não a da administração), assentando o direito à cidade na sua luta pelo direito de criação e plena fruição do espaço social. O Movimento Passe Livre defende que ao focar na luta pela tarifa zero busca a retomada do espaço urbano. "A cidade é usada como arma para sua própria retomada: sabendo que o bloqueio de um mero cruzamento compromete toda a circulação, a população lança contra si mesma o sistema de transporte cáotico das metrópoles" (MPL, 2013, p. 16). Esse sistema de transporte prioriza os automóveis, e como alerta Peschanski (2013), nesse sentido a luta pela tarifa zero traz um componente utópico. Isso porque vivemos no Brasil sob forte pressão das montadoras que chegam a chantagear governos locais e federais com a ameaça de demitir trabalhadores. Se por um lado, o movimento luta por um sistema de transporte público e gratuito, as montadoras têm interesse em manter a dependência dos
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carros. Por outro lado, Pechanski observa como os custos de um sistema de transporte focado no automóvel individual são repassados aos cidadãos e ao Estado. Enquanto cada um arca com o custo de seu carro particular, que recebem, por diversas vezes, redução de impostos para serem produzidos, os custos com a saúde pública por conta de doenças respiratórias, acidentes, sem contar o estresse de horas perdidas em longos congestionamentos, não recaem para a indústria. Para este autor, junho mostrou que esse equilíbrio "político, supraclassista e suprapartidário que sustenta a sociedade do automóvel" não é inabalável e é um dos principais desafios dos movimentos sociais (PESCHANSKI, 2013, p. 63). Vale destacar, conforme Löwy (2009), que o Brasil nunca conheceu uma revolução social. A independência de 1822 foi um assunto entre pai e filho. A Proclamação da República, um pronunciamento militar contra D. Pedro II. A "Revolução de 1930", um conflito entre oligarquias regionais. A queda de Getúlio em 1945 e o fim do Estado Novo foi outro assunto decidido por militares. A tomada de poder em 31 de março de 1964 foi um "golpe militar reacionário e antipopular patrocinado pelos Estados Unidos" (2009, p. 533). E a redemocratização, em 1985, "deu-se sem rupturas: os militares decidiram entregar o governo novamente aos civis, mas não permitiram eleições diretas, apesar de enorme pressão popular" (Ibidem). Para Löwy (2009, p. 533), "não tivemos revoluções no Brasil, apenas alguns movimentos de rebelião que, em certa medida, podem ser considerados revolucionários no sentido amplo da palavra". Entre os movimentos, ele cita Canudos, a greve geral de 1917 em São Paulo, a Coluna Prestes (1924-1927), a Ação de Libertação Nacional (ALN), fundada por Carlos Marighella, em 1964, e o MR-8, que remetia à figura de Che Guevara, assassinado em 8 de outubro de 1967. Durante a ditadura, houve grande movimentos, como as greves operárias de 1978 e 1979 e a grande mobilização popular pelas eleições diretas em 1985. Nas duas últimas décadas, Löwy aponta como episódios de luta popular a derrubada do presidente Fernando Collor, e a mobilização contra o pagamento da dívida externa em 2006, com o apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Para ele (2009, .p 541), o movimento social que mais se aproxima de uma visão social revolucionária é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Houve ainda, segundo Löwy, em novembro de 1965, um levante civil-militar em Natal (RN), liderado por Prestes e a ANL, que levou a alguns dias de um "efêmero governo revolucionário". De acordo com
Löwy (2009, p. 538) foi o único que o Brasil conheceu. Três dirigentes
comunistas assumiram o poder em Natal por poucos dias e não tiveram tempo de fazer muitas
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coisas, mas, curioso é que como destaca Löwy: "decretaram a gratuidade dos transportes públicos para grande alegria do povo de Natal". Bandeira que anos depois seria o estopim de centenas de protestos pelo País. Hoje é cada vez mais demandas urbanas que estão no centro dos movimentos sociais no Brasil, segundo Maria da Gloria Gohn (2013b, p. 565): "A questão social brasileira, neste novo século, está sediada nas grandes cidades e não mais no campo". A pesquisadora acredita que questões como a qualidade do ar, trânsito, segurança, atingem todas as classes sociais e que os problemas sociais e ambientais levaram a uma retomada dos movimentos sociais urbanos. "Eles lutam pela inclusão social e demandam condições de habitabilidade na cidade" (Ibidem). Ela divide os movimentos sociais urbanos atuais no Brasil em três subeixos: 1) movimentos sociais nucleados pela questão da moradia; 2) movimentos contra a violência urbana; 3) movimentos sociais em áreas sociais e prestação de serviços públicos: educação, saúde e setor de transportes. Além dos movimentos ao redor da questão urbana, Gohn (2013b) mapeia nove outros eixos dos movimentos sociais brasileiros na atualidade: movimentos em torno da questão do meio ambiente (urbano e rural); movimentos identitários e culturais (gênero, etnia,gerações); movimentos de demandas da área do direito; movimentos ao redor da questão da fome; mobilizações e movimentos sociais na área do trabalho; movimentos decorrentes de questões religiosas; mobilizações e movimentos rurais; movimentos sociais no setor de comunicações; movimentos sociais globais. Vainer acredita que os protestos de junho vieram para desfazer "o paradoxo de uma sociedade urbana que, nos últimos dez a 20 anos, viu os movimentos sociais rurais dominarem as pautas dos movimentos populares" (2013, p. 35). Vainer observa que a partir dos anos 1990 havia uma espécie de "ruralização da luta social", com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos Atigidos por Barragens (MAB) e as resistências de povos tradicionais que buscam a conservação de seus modos de vida e de seus territórios. No entanto, ele alerta que multiplicavam-se militantes e organizações engajadas nas lutas urbanas "diferenciadas, dispersas e fragmentadas". Ele compara o que ocorreu no Brasil, em junho, com uma metáfora dita por Mao Tse-Tung: "Uma fagulha pode incendiar uma pradaria". Para Vainer, essa pradaria são as nossas cidades. Elas estavam prontas para incendiar-se. Sobre as condições das cidades, Harvey (2013) analisa como elas se tornaram verdadeiras zonas de conflitos, principalmente com a globalização e o neoliberalismo. Nos
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países em desenvolvimento, como o Brasil, as cidades chamadas de "globais" apresentam similaridades, sendo "divididas socialmente entre as elites financeiras e as grandes porções de trabalhadores de baixa renda, que por sua vez se fundem aos marginalizados e desempregados" (HARVEY, 2013, p. 29). Os bairros ricos são atendidos por toda sorte de serviços, tais como escolas caras, campo de golfe, quadras de tênis e patrulhamento particular 24 horas por dia, que se emaranham em ocupações ilegais, onde a água é disponível somente em fontes públicas, nenhum sistema sanitário existe, a eletricidade é privilégio de poucos, as ruas se tornam lama quando chove e o compartilhamento dos espaços domésticos é a norma. Cada fragmento parece viver e funcionar autonomamente, atendo-se com firmeza àquilo que foi possível agarrar na luta diária pela sobrevivência. ( BALBO, 2003, apud HARVEY, 2012, p. 29)
Mike Davis chama a atenção para uma "nova ordem urbana" (2006, p. 18) em curso no mundo, em que a população dessas áreas irá aumentar nos países em desenvolvimento, provocando uma desigualdade cada vez maior, tanto dentro das cidades, como entre elas. Em muitos casos, a população rural, de acordo com o pesquisador, não precisará migrar para áreas urbanas, a cidade migrará até eles, que serão engolidos pela urbanização. Porém, Davis constata que grande parte do crescimento das cidades nos países em desenvolvimento se dá em favelas, por isso, ele coloca como sinônimos "urbanização" e "favelização". Iasi (2013) ainda observa outra consequência dessa cidade neoliberal ou global, que vivem contradições cotidianamente invisíveis pelas profundas desigualdades. Enquanto elas surgem como grafites coloridos em muros cinzas e feios, as pessoas vivem em seus casulos individuais, que formam um "coletivo serial no qual prevalece a indiferença mútua" (Ibid, p. 42). Mas alguns indivíduos escapam dessa serialidade e tentam agir negando parte ou o todo da ordem estabelecida. São os movimentos sociais, os sindicatos, os partidos de esquerda e outras formas de luta coletiva, na visão do autor, que permitem a passagem da serialidade para a explosão das massas. É da capacidade de imaginar uma outra cidade possível, que surge a luta pelo direito à cidade, como explica Harvey (2013, p. 33): "Se nosso mundo urbano foi imaginado e feito, então ele pode ser reimaginado e refeito". Para ele, o direito à cidade não é lutar somente por acesso ao que já existe, é fazer a cidade diferente e não pode ser concebido somente como um direito individual. O autor leva em consideração o fato de como é possível lutar por algo diferente se estamos imersos em experiências que mostram que na história urbana a calma e a civilidade sempre foram exceção. Ou ainda onde geram intolerância, segregação, 57
marginalidade e exclusão. Ele recorre a Marx, para nos permitirmos sermos utópicos, para vislumbramos alternativas de mundos urbanos, e por que não sonharmos com uma cidade sem catracas, como trouxeram à tona os militantes do MPL? Harvey cita Lefebvre, que foi quem trouxe esse conceito de direito à cidade, para indicar como devemos fazer se determinarmos que a cidade não se conforma com os nossos desejos. Para ele, a saída é a mobilização social e a luta política/social. E vale lembrar que antes mesmo de junho de 2013 no Brasil, na Turquia, em maio, o anúncio de que o Parque Taskim Gezi, daria lugar à reconstrução de um quartel e à construção de um centro comercial desencadeou uma onda de protestos. Para muitos pesquisadores, a conexão entre muitas mobilizações recentes não vai além da influência das novas tecnologias e suas plataformas de redes sociais, que fizeram despontar os novos movimentos sociais em rede ou novíssimos movimentos. Para Žižek, no entanto, o caso da Turquia e do Brasil mostram que na verdade há um mal-estar maior. Ele acredita que há um sentimento fluido de desconforto e descontentamento e discorda de quem diz que não há um movimento de insatisafação global e que não há qualquer conexão entre as mobilizações recentes ocorridas em várias partes do mundo. É fácil observar como essa particularização de protestos ajuda os defensores da ordem mundial existente: não há nenhuma ameaça contra a ordem global como tal, e sim problemas locais específicos. Aqui, no entanto, deve-se ressucitar o bom e velho conceito marxista de totalidade -- neste caso, da totalidade do capitalismo global. (...) o que unifica tantos protestos em sua multiplicidade é que são todos reações contra as múltiplas facetas de globalização capitalista. (ŽIŽEK, 2013, p. 104)
2.7 Internet, fragmentação e novíssimos movimentos sociais Há pesquisadores que analisam até que ponto as mobilizações em rede das últimas décadas, como a que ocorreu em junho de 2013 no Brasil, se constituíram em movimentos sociais. E ainda como as manifestações foram um exemplo de um novo ativismo online que obteve sucesso, ao levar milhares de pessoas às ruas, ter revogado aumento de passagens e, ainda, ter pautado o governo federal. Por conta das manifestações, a presidente Dilma Rousseff anunciou cinco pactos a favor do Brasil, com propostas para a responsabilidade fiscal, reforma política, transporte público, saúde e educação. Entre as ações que foram implementadas estão o programa Mais Médicos, que contratou profissionais estrangeiros para atuar no SUS, em especial em áreas carentes onde havia falta de médicos, e a aprovação do 58
projeto do governo no Congresso que prevê a destinação de 75% dos royalties do petróleo extraídos do pré-sal para a educação e 25% para a saúde. Outra conquista em resposta aos protestos foi a derrubada na Câmara dos Deputados da PEC 37 e o arquivamento do projeto da chamada "cura gay". É inegável que o ativismo digital teve um papel importante para que as mobilizações se desenrolassem, e saíssem do Facebook para as ruas. Castells (2013) observa que os movimentos sociais exercem ao longo da história o contrapoder, produzindo novos valores, numa tentativa deliberada de alterar as relações de poder. Para isso, precisam de uma comunicação autônoma, livre do controle dos que detêm o poder institucional. Na sociedade em rede, as redes sociais da Internet oferecem a possibilidade dos movimentos coordenarem suas ações livres de governos e corporações midiáticas. Além disso, os movimentos se relacionam com a sociedade em geral por meio das ocupações de espaços urbanos, seja pela ocupação de prédios abandonados, simbólicos, praças e avenidas, reivindicando sua própria cidade. O espaço público dos movimentos sociais é construído como um espaço híbrido entre as redes sociais da internet e o espaço urbano ocupado: conectando o ciberespaço com o espaço urbano numa interação implacável e constituindo, tecnológica e culturalmente, comunidades instantâneas de prática transformadora (CASTELLS, 2013, p. 16).
Gohn destaca ainda como as manifestações contemporâneas, nos diferentes locais do mundo, utilizam espaços públicos para serem realizadas, em geral, em locais estratégicos de acesso, quando não é propriamente o local que impulsiona os protestos, por exemplo, o caso da Praça Taskim, na Turquia (2014, p. 1088). Sobre junho, especificamente, Gohn (2014) denomina o que aconteceu como "revolta dos indignados". Para ela, as manifestações atuais não querem ser nominadas como movimentos, mas os participantes autodenominam-se como pertencentes a coletivos. Contudo, ela observa que encontrar eixos identitários ou unidade nas manifestações é impossível, pois se tratam de blocos diferenciados internamente. São fragmentados. Protestos que ocorreram anteriores a junho de 2013 já indicavam a existência de novas causas e grupos/coletivos mobilizados por liberdades individuais, como as demandas de direitos sexuais e reprodutivos até o poder de dispor do próprio corpo (SAKAMOTO, 2013). Entre essas manifestações, podemos citar o Existe Amor em SP, que levou cerca de 20 mil pessoas à Praça Roosevelt, no centro da capital paulista, em outubro de 2012. “São 59
pedestres, ciclistas, trabalhadores, desempregados, artistas, ativistas, cidadãos de todos os bairros que estão se encontrando, articulando e descobrindo que, juntos, podem ocupar a rua em nome de uma cidade mais pública, humana, inclusiva e gentil”, dizia a página do evento no Facebook13. Ou ainda os protestos em abril de 2013 em diversas cidades brasileiras contra a permanência do deputado Marco Feliciano (PSC) na Presidência da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal. Hall explora como a crise de identidade fragmenta o sujeito pós-moderno, que assume identidades diferentes em diferentes momentos. Elas não são unificadas ao redor de um "eu" coerente (2011, p. 13). Pelo contrário, são até contraditórias e deslocadas continuamente. Não há uma única identidade do nascimento até a morte, há uma multiplicidade cambiante e desconcertante. O autor analisa os processos que levaram a essa fragmentação, por exemplo, o impacto dos novos movimentos sociais que surgiram nos anos 1970, como o feminismo, movimentos juvenis contraculturais e antibelicistas, pela paz, por direitos civis, entre outros. Criava-se assim uma identidade para cada movimento. Hall analisa ainda o impacto da globalização para a construção da identidade, já que ela desloca as identidades centradas nas culturas nacionais, tornando-a mais plural. A globalização não destroi as identidades nacionais, mas produz novas simultâneas: globais e locais. Surgem, por exemplo, movimentos de reafirmação de raízes culturais e culturas híbridas. Assim esse conceito de "novos movimentos sociais", pós-década de 1970, diferencia-se dos movimentos sociais tradicionais que pressupõem uma identidade centrada na classe social, definida a partir do mundo do trabalho. Essa questão da identidade é importante para a definição do que é um movimento social. Segundo Gohn (2008), uma característica básica de um movimento social é possuir identidade, ter opositor e articular-se ou fundamentar-se em um projeto de vida ou de sociedade. E como afirma a pesquisadora, "questões como a diferença e a multiculturalidade têm sido incorporadas para a construção da própria identidade dos movimentos" (2011, p. 336). Segundo Ricci (2013), o conceito europeu de Novos Movimentos Sociais (NMS), do final do século XX, falava em ações coletivas associadas à luta por interesses orientados para a mudança na esfera social e cultural, o que sugere a permanência das ações, não a mobilização durante algum tempo. O fato é que haveria certa permanência que distinguiria os movimentos sociais de 13 Disponível em https://www.facebook.com/events/433169650073617/. Acesso: 19/5/2013
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meras e passageiras mobilizações sociais. Neste sentido, as manifestações de junho seriam caracterizadas como mobilizações, não como movimentos sociais. Ocorre que as sociedades contemporâneas se caracterizam justamente pela mutação acelerada e pela fragmentação social. (RICCI & ARLEY, 2013, p. 83)
Alguns pesquisadores analisam os movimentos sociais que surgiram com a globalização e assumem um caráter transnacional. Eles surgiram a partir das redes digitais da sociedade da informação. Como exemplo, há a luta antiglobalização. Segundo Edwards (2014, p. 3161), hoje os novos movimentos sociais utilizam três mecanismos: ambiental; relacional e cognitivo. O mecanismo ambiental é baseado no fato de que os Estados nacionais como centro de poder e de governo estão dando espaço a um poder global, cujas instituições e organizações vêm sendo construídas desde a Segunda Guerra Mundial. Em 1944, foi criado o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI). Em 1945, as Nações Unidas. Em 1993, a União Europeia, com moeda comum e um Parlamento único que decide leis sobre políticas econômicas, fiscais e sociais. Em 1995, a Organização Mundial de Comércio (OMC), que expandiu e protegeu a liberdade das corporações para fazerem negócios além das fronteiras nacionais. Em 1997, ocorreu o primeiro encontro do Grupo dos Oito (G-8), reunindo as economias mais fortes do mundo (EUA, Reino Unido, Japão, França, Alemanha, Itália, Canadá e Rússia). Outros atores participam dessa governança global, como as corporações
multinacionais
e
a
sociedade
civil
organizada
e
organizações
não-governamentais, que, em geral, trabalham em torno das Nações Unidas ou até mesmo financiadas por multinacionais. Os movimentos sociais usam como estratégias ambientais, por exemplo, externalizar bandeiras. Ou seja, problemas nacionais são levados a esferas internacionais, como cortes internacionais, como no caso de repressão, direitos humanos e questões de saúde pública. As mudanças climáticas são um bom exemplo, pois são ao mesmo tempo pautas locais, já que os impactos acontecem nos territórios, e globais – a atmosfera talvez seja o maior bem comum do planeta. De acordo com Edwards, a difusão da democracia também é uma estratégia capaz de globalizar uma mobilização (2014, p. 3240). Foi o que aconteceu na Tunísia e em outros países que viveram a “primavera árabe”. O país foi o primeiro do Oriente Médio a passar por um ciclo de protesto contra o governo, em janeiro de 2011. A rebelião se espalhou por nações da região, como Síria, Egito e Argélia. Os protestos tunisianos pró-democracia eram comunicados pela internet via redes sociais (Twitter, Facebook, Youtube) e pelo canal Al 61
Jazeera. Os mecanismos relacionais se baseiam justamente nessas novas mídias (internet, redes sociais e comunicação móvel), a circulação de pessoas (migração) e a governança global, que envolve uma gama de entidades da sociedade civil. Entre as pautas deste segmento estão a pobreza, direitos humanos, igualdade de gênero, etc. Já os mecanismos cognitivos referem-se à construção de um senso de identidade coletiva entre bandeiras locais e nacionais. Conforme Edwards (2014), os movimentos antiglobalização ou altermundistas são um dos mais discutidos no mundo, envolvendo ativistas dos hemisférios norte e sul. Os zapatistas, em 1994, com seus exércitos e zonas autônomas foram responsáveis pelo primeiro movimento da era informacional (Castells) contra a governança global, ao contestar a introdução do Nafta (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio). Seguido pela Batalha de Seattle, em 1999, que levou 75 mil ativistas às ruas. Desde Seattle, os ativistas antiglobalização [AGM - The alternative globalization movement] vêm mobilizando pessoas contra encontros do G-8, Banco Mundial e FMI, entre outros. Os ativistas antiglobalização também estiveram envolvidos na criação do centro de mídia independente (Indymedia), em 1999, que permitiu a produção de suas próprias informações sobre os protestos, em contraposição às mensagens das mídias de massa tradicionais. Edwards (2014) aponta quatro pontos das teorias clássicas sobre os movimentos sociais – Comportamento coletivo (pré-1970), Teoria da Mobilização de Recursos (pós-1970), Teoria do Processo Político (pós-1970), Teoria dos Novos Movimentos Sociais (pós-1970), Teoria do Confronto Político (pós-2001) – e que são aceitas hoje para entender o que eles significam: a) Movimentos sociais são coletivos, que somam esforços para a mudança social, em vez de esforços individuais; b) Movimentos sociais existem ao longo de um período de tempo, engajando-se em uma questão conceitual contra um adversário poderoso, ao invés de serem eventos pontuais; c) Os membros de um movimento social não só trabalham juntos, mas compartilham uma identidade coletiva; d) Movimentos sociais estão ativamente em busca da mudança por meio de protestos. Nesse sentido, Junho de 2013 não se constituiu em um movimento social, mas sim um
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período de mobilizações ou de revolta, que reuniu, sim, movimentos sociais, como o MPL. Carty (2015) traz ainda caracteríticas importantes para completar a definição dos movimentos sociais. Citando Charles Tilly (2004), ela aponta três elementos fundamentais: campanhas de longo prazo organizadas coletivamente e que fazem reivindicações a autoridades ou a um alvo definido; repertórios, que são táticas utilizadas por um grupo em um determinado ambiente sociopolítico; e, por fim, o que ela chama de WUNC, das iniciais das palavras: worthiness, unity, numbers and commitment. Donk et al. (2004) destacam que há um consenso entre pesquisadores sobre a definição de movimentos sociais de que eles mantêm uma estrutura e organização. Para os autores, no entanto, não se trata de uma organização, mas uma rede, ou até uma rede de redes, que mantém um senso de identidade coletiva. Assim como Tilly, eles também enfatizam a questão de não se tratar de campanhas de curta duração, como campanhas para mudar uma lei existente ou substituir um líder político. Os movimentos sociais buscam mudar uma ordem social (e política) existente. Portanto são três elementos-chave: a mudança social, a estrutura de rede baseada na identidade e os meios de protesto. Segundo os autores, é fundamental para a existência de um movimento social a centralidade na comunicação, isso porque é preciso que haja interação entre os membros (internamente) e que suas bandeiras sejam externalizadas. Eles ainda alertam como grupos de cidadãos, movimentos sociais e organizações têm hoje a possibilidade de alcance como nunca antes a partir do uso das novas tecnologias de informação. Os autores diferenciam o conceito de novos movimentos sociais para o momento atual. Os movimentos de hoje seriam os novissímos14. Assim, os velhos movimentos sociais, do século XIX, estão ligados à emergência da sociedade industrial, muitas vezes percebido como masculino, adulto e baseado na luta de classes, conforme explicam Feixa, Pereira e Juris (2009). Já os novos movimentos pós-anos 1960 relacionam-se ao surgimento de novos modos de ação coletiva na era da mídia de massa e das contraculturas, e seriam "multiclasses" e "multigêneros". Por fim, os novissímos15 movimentos sociais surgiram a partir do ano 2000, com novos modos de ativismo coletivo em uma era de redes globais e cibercultura, e dando sequência à metáfora seriam mais intergeracionais, transexuais e com luta entre as classes. Gohn (2103b) acredita que as categorias rede e mobilização social dominam o debate contemporâneo sobre os movimentos sociais. No Brasil, ela considera que as práticas e as 14 Tradução de "newest social movements". 15 Tradução de "'new new' social movements".
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experiências locais têm relevância. Porém, alerta, nem todas as ações coletivas desenvolvem laços de pertencimento, consciência de resistência ou o desejo de emancipação social. Gohn (2013b, p. 2144) destaca que há no Brasil um novo associativismo “localizado prioritariamente no urbano, e ele é novo na forma de se organizar, nas demandas e nas práticas desenvolvidas”. Esse movimento seria ativo e propositivo, articulado com essa nova esfera pública impulsionada pelas redes sociais digitais – “que cria espaço de interlocução, debates, proposições”. Ele recebe como herança os movimentos sociais dos anos 1970 e 1980, com destaque para a ala progressista da igreja católica e organizações populares. Novas formas de organização têm sido criadas como fóruns específicos, transversais ou transnacionais, assim como novas redes temáticas têm se formado, em articulações eventuais ou mais permanentes, onde se juntam movimentos de moradia, saneamento, transporte, de jovens, mulheres, negros, grupos culturais, atividades artísticas e ativistas ambientais, sindicais etc fazendo dos problemas sociais e das políticas públicas tema e objeto renovado de ação. (GOHN, 2013b, p. 2156).
Para Carty (2015), as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) estão mudando a estrutura e as táticas dos movimentos sociais, sendo que a tecnologia e as redes sociais digitais alteraram profundamente sua forma de organização e participação. Isso explica, segundo Carty, porque nos últimos anos vem surgindo uma explosão de protestos em várias partes do mundo protagonizados por jovens que trazem consigo uma nova visão de futuro e desejam mudanças radicais na economia e na política. Ela ainda destaca que a emergência de mídias alternativas contribuíram para o pensamento crítico, engajamento político e organização coletiva. No entanto, ela alerta que assim como esses novos espaços de comunicação abertos pela Internet estão sendo explorados por movimentos sociais progressistas, também há movimentos reacionários. Sem contar o uso da Internet por autoridades contra ativistas. O fato é que, como destaca Carty (2015), as NTIC têm permitido da forma mais rápida e fácil como nunca antes, que ativistas se somem ou boicotem uma causa. Ou simplesmente publiquem uma mensagem que gere simpatia para a causa. E as ferramentas vão se aprimorando. Por exemplo, vão das listas de email, às petições online, aos grupos de emails, ao Facebook, seus grupos, páginas, ao WhatsApp e até Snapchat. É importante notar que poucas campanhas se tornam efetivas e se tornam persistentes, este ponto é essencial para se tornar um movimento social. Por isso, segundo Carty, a maioria desse novo ativismo gera "flash campaings", que poderíamos traduzir livremente como campanhas de flashes (2015, p. 64
14). Hoje grande parte das ações coletivas em prol de diferentes causas são organizadas online. Margetts et al (2012) também ressalta que apesar dessa facilidade de se engajar individualmente, poucas dessas ações obtêm sucesso, como a mudança política. Para os autores, as novas plataformas na Internet trouxeram uma nova lógica de como ocorrem as ações coletivas, ao facilitar o encontro de pessoas que não se conhecem e permitir pequenas ações participativas. De acordo com os autores, as mobilizações políticas offline dos movimentos tradicionais, em geral, têm sucesso quando há uma liderança que dá início às ações de engajamento. Esses líderes exercem influência para que outros se juntem à mobilização. Eles sugerem que no ambiente online também há esses "starters", que seriam os equivalentes aos líderes. Porém, não precisa ter as mesmas características, como comprometer-se em organizar a coordenação, custos e ser carismático. É preciso apenas dar a partida para a distribuição da informação. E a mobilização terá mais propensão a ter sucesso quanto maior o número de "starters". Poderíamos compararar com o que o marketing digital denomina "influenciadores". Segundo Michaek Wu16, o poder de influenciar depende da credibilidade do influenciador que pode ser medida pelo grau de conhecimento em determinado assunto que o faz referência e da "bandwidth", que seria a habilidade do influenciador de transmitir o conhecimento pelas redes sociais digitais. Já a probalidade de alguém ser influenciado depende: a) relevância (a informação correta), ou seja, se forem consideradas spam as informações serão ignoradas; b) timing (o tempo certo): a informação é passada no momento em que as pessoas precisam daquilo; c) alinhamento (no lugar certo): se o público-alvo do influenciador está num canal de mídia social diferente, a informação vai demorar muito para chegar (ou nunca chegará) a ele; e d) confiança (a pessoa certa):o público-alvo precisa confiar no influenciador. "Note que confiança é a base da amizade. E as pessoas tomam decisões a partir de opiniões de amigos em que confiam", diz Wu. A métrica para medir o que se denominou “autoridade” neste trabalho, foi extraída do software Gephi que organiza grafos contendo as relações entre nós da rede. Com isso, é possível estimar o peso do conteúdo de páginas e perfis nas redes sociais digitais, a partir do número de compartilhamentos das postagens, definindo assim os principais influencadores no ambiente online. Ou seja, nos novíssimos movimentos sociais, perfis e páginas que conseguem ter seus conteúdos compartilhados para o maior número de nós acabam se 16 The 6 Factors of Social Media Influence. Disponível em https://goo.gl/gM32Fq Acesso em 1 Out 2015
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tornando microlideranças. Isso foi o que aconteceu em junho de 2013, como veremos no Capítulo 3. Como a Internet deixa rastros, é possível identificar quem foram essas principais autoridades ou influenciadores, que contribuíram para que um maior número de pessoas se engajassem em causas levadas aos protestos nas ruas, e quais estratégias foram utilizadas.
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CAPÍTULO 3 3.1 Autoridades de Junho de 2013 O Movimento Passe Livre de São Paulo, embora tenha sido o primeiro convocador dos protestos na capital paulista durante junho de 2013, não foi o grande ator das redes no período analisado. Houve uma série de influenciadores ou autoridades em junho de 2013, que fizeram com que as informações se espalhassem nas redes sociais digitais, principalmente o Facebook, a plataforma mais utilizada na época. Estudo realizado por Pimentel e Silveira (2013) identificou quais foram as principais páginas que contribuíram para que os eventos fossem ganhando adesões. Entre 5 e 21 de junho de 2013, foram feitas buscas por postagens públicas a partir de páginas e perfis do Facebook, por meio de requisições à API (Application Programming Interface; ou Interface de Programação de Aplicativos, em português) da rede. A partir daí, o estudo considerou as postagens mais compartilhadas, detectando “as mensagens de alto capital social que circularam pelas redes”. Os dados foram importados para o aplicativo Gephi, software para a visualização e análise de grafos de redes. O grafo apresenta o conjunto de pontos ou nós ligados por retas (arestas). Cada página ou perfil é um nó que se liga a outras pelas arestas. Quanto maior o número de arestas, mais importante é o nó. O estudo citado utiliza o algoritmo de análise de redes chamado Hyperlink-Induced Topic Search (Hits), desenvolvido por Jon Kleinberg, que atribui dois valores a cada nó (hub e autoridade): A autoridade estima o valor do conteúdo de cada página ou nó a partir do número de compartilhamentos de suas postagens. Os hubs avaliam o valor de suas ligações (links) para outras páginas ou nós. Dito de outra forma, enquanto um bom hub representa um nó que aponta para muitos ‘nós’ da rede, uma boa autoridade é apontada por diversos outros hubs. Em suma, um nó de rede (pessoa ou página) que tenha seus posts muito replicados tem uma grande autoridade. Já quem compartilha muitos posts de outros perfis tem um valor de hub mais elevado. (Pimentel e Silveira, 2013, on line).
Assim, o estudo mapeou quais foram as páginas e perfis que tiveram uma atuação relevante nos seis grandes atos realizados na cidade de São Paulo. No primeiro deles, em 6 de junho, por exemplo, as três primeiras autoridades foram: a página do jornal O Estado de S. Paulo, seguida pelo Passe Livre de São Paulo, AnonymousBrasil e da Mídia Ninja. Observa-se que estas duas páginas aparecem entre as autoridades nos demais atos. Outros 67
veículos de mídia tradicional também se fizeram presentes. A partir desse estudo nota-se como as manifestações, inicialmente convocadas pelo Passe Livre São Paulo, tomaram um outro rumo, ampliando-se as lideranças de forma distribuída. Foram surgindo novas microlideranças e grandes nós de autoridades, como os diversos coletivos Anonymous; Movimento Contra a Corrupção; A Verdade Nua & Crua, entre outras páginas. Essa lógica distribuída das redes permitiu a emergência de atores, que Pimentel e Silveira (2013), chamam de “nós pobres”. São perfis ou páginas cujas mensagens tiveram grande relevância, tornando-se autoridades imediatas, conseguindo viralizar suas próprias narrativas. Essas narrativas, assim como as transmissões das manifestações em tempo real, disputaram com as dos grandes veículos de mídia tradicional. Durante as manifestações do dia 13 de junho, a cobertura em tempo real realizada pelos próprios actantes que estavam nas ruas enfrentando a polícia militar de São Paulo, competiam com as narrativas da chamada mídia (imprensa, rádio e TV). A repercussão dos milhares de vídeos e imagens postados pelos protagonistas criaram imediata solidariedade dos amigos nas redes e crescente indignação. (Pimentel e Silveira, 2013).
Destaca-se ainda que os veículos de mídia tradicionais atuaram como broadcasting, ou seja, apenas postando seus conteúdos, não interagindo com outros atores, nem dialogando com as redes. Em vez de influenciarem os rumos das mobilizações, ocorreu o contrário. Os veículos tiveram que mudar suas linhas editoriais, pressionados pelas manifestações. Segundo Malini (2013), a maioria dos perfis de veículos de comunicação tradicionais possui autoridade na rede, mas não centralidade. Em geral, esses perfis divulgam informações valiosas e privilegiadas sendo retuitadas e compartilhadas por muita gente nas redes sociais, se constituindo como autoridades. Os perfis oficiais das mobilizações também acabam sendo autoridades, pois publicam informações exclusivas e estratégicas, como a convocação dos protestos. Mas existe outra medida, de acordo com com a análise de redes baseadas em grafos, que é a centralidade. Ela estima o poder de influência na produção da opinião pública. Mensura a capacidade de um nó (perfil ou página) ser capaz de atrair conexões, ser ponte para outras pessoas, articular mundos. Como a mídia tradicional não interage, só divulga conteúdos, seus perfis perdem centralidade. Quanto maior a conexão e influência, mais forte será um perfil na rede. Portanto, um perfil pode se tornar um hub de rede quanto maior for sua interação e conversa. Esse papel fica com os ativistas; são eles que
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têm maior centralidade. Tanto é que no estudo da Interagentes, a maioria dos hubs são perfis pessoais e as autoridades são páginas. Neste trabalho analisamos os principais conteúdos publicados pelas autoridades de junho que alcançaram milhares de nós. As páginas foram escolhidas a partir do estudo citado. Para esta análise, chegamos a 27 páginas. Da lista total do estudo, excluímos as páginas de mídia tradicional, uma vez que nosso objetivo era identificar quais foram as estratégias utilizadas pelos ativistas nas redes digitais, no caso, no Facebook. Em cada página, foram selecionadas como amostra as dez postagens mais relevantes, ou seja, as que tiveram maior engajamento (soma de curtidas, comentários e compartilhamentos), consequentemente maior alcance. Também foram excluídos perfis pessoais. Assim identificamos 27 microlideranças com uma narrativa própria da rede. As postagens foram classificadas em memes ou virais, o tipo de conteúdo (vídeo, imagem, texto) e o assunto a que se refere, conforme a lista a seguir: 1. Crítica a partidos políticos 2. Crítica a políticos 3. Crítica à corrupção 4. Crítica à realização da Copa das Confederações e grandes eventos 5. Motivação/convocação para os protestos 6. Crítica à violência policial 7. Direito à cidade (transportes, educação, saúde) 8. Crítica à mídia tradicional 9. Promoção da página ou coletivo 10. Outros Em relação à diferenciação entre meme e viral, adotamos a definição trazida por Shifman (2014). Um meme seria uma unidade cultural que passa de pessoa para pessoa, por cópia ou imitação, com base na teoria de Richard Dawkins, no livro O gene egoísta, de 1976. São ideias que apresentam a capacidade de se multiplicar na sociedade, que são frequentemente compartilhadas. Na Internet, os memes se espalham rapidamente, com o potencial de compartilhamento das plataformas de redes sociais digitais. No entanto, diferentemente de um viral, o meme na Internet é sempre uma coleção de textos (SHIFMAN, 2014, p. 581). Enquanto um viral corresponde a uma única unidade que é espalhada por muitas pessoas, seja uma foto, um vídeo ou um texto, o conteúdo memético é criado
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conscientemente, a partir de imitações ou recriações criadas pelos próprios internautas. Conforme explia Shifman (2014, p. 773), muitos virais nascem e são enterrados como virais. Outros, no entano, evoluem para memes. De acordo com a autora, um elemento fundamental dos memes da internet é a intertextualidade, ou seja, trazem informações que se relacionam entre si de forma complexa, criativa e surpreendente. Em nossa classificação, consideramos memes, conteúdos criados a partir de softwares como o photoshop, ou as inúmeras ferramentas disponíveis gratuitamente on line. Os memes são montados conscientemente e contêm intertextualidade e uma mensagem. No caso do uso político, em campanhas eleitorais e pelos movimentos sociais, os "memes são uma importante forma de expressar opiniões e subverter a ordem estabelecida". (SHIFMAN, 2014, p. 1509). Em nossa análise, consideramos o número de curtidas, compartilhamentos e comentários. A soma dessas três ações são importantes, pois nos fornece o número de engajamento das postagens. Ao comparar a soma de engajamento das dez postagens mais relevantes, chegamos a um número total, que pode ser usado para comparar quais páginas mobilizaram uma maior quantidade de pessoas (nós ou perfis) no Facebook, em junho de 2013. TABELA 2 - Lista das autoridades mais relevantes em junho de 2013* 1
INTELIGENTE VIDA
884.937
2
MOVIMENTO CONTRA A CORRUPÇÃO
349.999
3
ADMIRADORES ROTA
337.993
4
ANONYMOUSBRASIL
241.552
5
A VERDADE NUA & CRUA
212.060
6
MAQUIAVÉLICO É A MÃE
212.022
7
REDE ESGOTO DE TELEVISÃO
206.893
8
ANONYMOUS BRASIL
119.992
9
P.U.T.A
110.205
10
PASSE LIVRE SÃO PAULO
98.630
11
BUEIRO ABERTO
91.412
12
PLÍNIO COMENTA
81.052
13
ANONH4
72.425
14
UMA OUTRA OPINIÃO
64.542
15
ANONYMOUS RIO
54.805
16
NINJA
45.961
70
17
FISCALIZAÇÃO POPULAR DOS TRANSPORTES PÚBLICOS RJ 43.722
18
ANONYMOUSBR
29.746
19
GERAÇÃO INVENCÍVEL
28.539
20
OCCUPY BRAZIL
26.982
21
JUNTOS
26.933
22
ANONOPSBRAZIL
17.467
23
#NÃOMECALAREI
14.265
24
MANIFESTO POA
14.085
25
ACORDA MEU POVO
10.467
26
PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO
10.121
27
SE A TARIFA AUMENTAR SÃO PAULO VAI PARAR
5.671
*Classificadas pelo número total de engajamento dos dez posts mais relevantes.
1 INTELIGENTE VIDA17 A página Inteligente Vida foi fundada em 19 de fevereiro de 2011. Em geral, as postagens trazem mensagens como citações curtas, assinadas ou não. Em junho de 2013, postagens motivando as pessoas a irem às ruas atingiram um número alto de engajamento. Na liderança, uma foto com pessoas protestando e a frase: "Deixe aqui o seu 'curtir' parabenizando a população que está lutando por um Brasil melhor e deixando o futebol de lado!". Já a segunda traz uma foto da presidente Dilma Rousseff assistindo a um jogo na Copa das Confederações. "Falta de respeito é não ter educação, saúde e transporte". A terceira, do dia 16 de junho, traz uma lista de motivos para protestar. Diz que não é só por 0,20 centavos. "Não saímos do Facebook, mas estamos indo para as ruas, ainda conectados o que é muito melhor; a internet é o nosso QG!", diz a postagem. Em seguida, uma imagem com a mensagem "Calma. É aos poucos que a vida vai dando certo.", do dia 25 de junho. Esta mesma imagem foi publicada em 20 de outubro de 2015, porém os números de engajamento são muito menores (4.793 curtidas, 2.536 compartilhamentos e 48 comentários). Isso pode ser resultado inclusive da política do próprio Facebook que restringe a circulação das postagens por meio de algoritmos. Ou ainda indicar como em junho de 2013, a rede social foi mais utilizada ativamente pelos usuários. TABELA 3 - Dez posts mais relevantes da página Inteligente Vida 17 https://www.facebook.com/inteligentevida
71
Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
18/6
Meme
Motivação protestos
aos 308.914
35.621
2.363
346.898
2º
16/6
Meme
Motivação protestos
aos 18709
97086
573
116.368
3º
15/6
Meme/Texto e vídeo
Motivação protestos
aos 24347
70833
1726
96.906
4º
25/6
viral
Outros
32532
35779
911
69.222
5º
19/6
Meme
Motivação
28523
30232
480
59.235
6º
25/6
viral
Outros
20777
24568
329
45.674
7º
14/6
meme
Crítica à mídia
9688
34380
398
44.466
8º
3/6
meme
Outros
12017
27188
269
39.474
9º
27/6
viral
Outros
15560
17484
348
33.392
10º
27/6
viral
Outros
16511
16565
226
33.302 884.937
2 MOVIMENTO CONTRA CORRUPÇÃO18
Em 3 de fevereiro de 2010, a página Movimento Contra a Corrupção já estava no Facebook. É a mais antiga entre as autoridades deste trabalho. E um post naquela data gerou alto número de engajamento. Trata-se de um meme com a foto de Obama e a seguinte frase: "Coitado do povo brasileiro. Lá o salário mínimo é um quarto do nosso, os caras pagam num carro quase o triplo do nosso e ainda pagam quase o dobro no litro da gasolina do que nós e os políticos roubam o povo na cara dura e não acontece merda nenhuma". A publicação obteve 148.455 compartilhamentos, 14.988 curtidas e 529 comentários. Como é a primeira publicação da página pode indicar que houve impulsionamento pago na postagem. A próxima postagem só ocorre em 10 de julho de 2012, quando é inserida uma capa para a página com a frase: "É tempo de dizer basta". A imagem recebeu 649 compartilhamentos, 151 curtidas e 21 comentários. Em seguida, a página deixa claro que voltou. "Primeira publicação do MCC", 18 https://www.facebook.com/MovimentoContraCorrupcao
72
diz post também no dia 10 de julho de 2012. TABELA 4 - Dez posts mais relevantes da página Movimento Contra a Corrupção Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
27/6
foto/viral
motivação
18816
31144
382
50342
2º
29/6
foto/viral
crítica políticos (Dilma)
22958
21144
634
44736
3º
28/6
meme
direito à 11385 cidade/Copa
30749
381
42515
4º
28/6
meme
Copa/corrup 15873 ção
23497
763
40133
5º
30/6
viral/foto
motivação/p 21766 romoção
12502
609
34877
6º
30/6
meme
Crítica políticos
a 13257
16565
922
30744
7º
29/6
meme
Crítica político (José Dirceu)
a 9638
17645
262
27545
8º
30/6
meme
corrupção
9309
17440
546
27295
9º
30/6
meme
crítica políticos
7256
18387
489
26132
10º
30/6
foto em motivação tempo real
15630
9448
602
25680 349999
3 ADMIRADORES ROTA19 A página Admiradores Rota foi criada em 2012. Segundo a descrição da página, o objetivo é "enaltecer e somar um número crescente de pessoas que compartilham da mesma admiração à Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). Não é uma página oficial da instituição, nem vinculada a ela. Diz ainda que busca divulgar os trabalhos da Polícia Militar do Estado de São Paulo. No mês de junho, a página conseguiu um alto número de engajamento, sendo que das dez postagens mais relevantes, sete são memes, e três, virais. A imagem que obteve o maior número de engajamento é a mesma da página Inteligente Vida, o 19 https://www.facebook.com/admiradoresrota
73
que mostra que a imagem foi bastante replicada no período. TABELA 5 - Dez posts mais relevantes da página Admiradores Rota Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
22/6
meme/foto com texto
Motivação
84207
9.564
1.195
94.966
2º
15/6
meme
motivação
5.820
32.425
409
38.654
3º
15/6
meme
Copa/corrupção
3878
34272
189
38339
4º
18/6
meme
motivação
10929
23964
712
35605
5º
17/6
meme
motivação
3882
22142
239
26263
6º
30/6
meme
direito cidade/copa
à 2965
19891
150
23006
7º
19/6
viral
outros/promoção 3249 polícia
18464
663
22376
8º
16/6
meme
direito cidade/Copa
17082
205
21002
9º
19/6
viral
outros/promoção 12704 da polícia
5895
343
18942
10º
21/6
viral
direito à cidade
13539
184
18840
à 3715
5117
337993
4 ANONYMOUSBRASIL20 A página AnonymousBrasil, criada em junho de 2012, é uma das representantes da ideia no Brasil e também uma das que obtiveram destaque em junho de 2013. Nota-se que seus números de engajamento são bem superiores ao do Passe Livre São Paulo. A página utiliza memes e estratégias para gerar engajamento. Por exemplo, a publicação mais relevante no período fala sobre a derrubada da PEC 37, mas traz um questionamento ao público: "Qual seria o próximo passo para os protestos?". Essa estratégia também é utilizada no post do dia 21, após o pronunciamento de Dilma Rousseff. "Qual sua opinião sobre o pronuciamento da presidente?", questionam. E deu resultado, pois o número de comentários foi bem superior aos demais posts. É importante observar ainda que a temática da tarifa zero não faz parte de nenhum dos posts mais relevantes. Todas as publicações exaltam o "Brasil ter acordado" e trazem a questão da corrupção. 20 https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil
74
TABELA 6 - 10 posts mais relevantes da página AnonymousBrasil Rankin g
Data
Tipo de post
Assunto
1º
25/6
Texto/pergunta
Corrupção
2º
23/6
Meme
3º
15/6
4º
Curtidas Compartilhamentos
Engajamento total
3.233
6.166
35.509
Críticas a 16.242 corrupção/políticos/ mídia
14.527
541
31.310
Meme
Crítica Copa
6.628
21.991
288
28.907
21/6
Texto/pergunta
Crítica a políticos
9.407
652
17.080
27.139
5º
19/6
Meme
Motivação protestos
aos 19.255
6.501
221
25.977
6º
14/6
Meme
Motivação protestos
aos 8.168
14.249
259
22.676
7º
23/6
Foto real
em
tempo Motivação protestos
aos 16.142
4.832
246
21.220
8º
17/6
Foto real
em
tempo Motivação protestos
aos 13.636
4.361
471
18.468
9º
17/6
Memes/Álbum
aos 11.480
5.379
417
17.276
10º
20/6
Meme/Mosaico de Crítica à violência 7.623 fotos policial
4.918
529
13.070
Motivação protestos
25.787
Comentários
241.552
5 A VERDADE NUA & CRUA21 A Verdade Nua & Crua foi fundada em 1º de outubro de 2012. Não há descrição na página, apenas um link para um site com o mesmo nome. Há um perfil para contato de “Daniel Silva”, que se diz proveniente de São Raimundo das Mangabeiras, no Maranhão. Embora haja muitas postagens contra o preconceito e condenando a violência policial, a temática contra a corrupção e o Partido dos Trabalhadores é recorrente. Antes de junho de 2013, as postagens já tinham alto engajamento. Publicação em defesa da redução da maioridade penal de 2 de novembro de 2012, por exemplo, obteve cerca de 47 mil compartilhamentos. A postagem diz: “Se você acha que todas as pessoas deveriam cumprir pena pelos seus crimes, inclusive os adolescentes, compartilhe”. No meme, há um diálogo: “Atira você porque eu fiz 16 anos ontem”. Em 1º de março de 2013, há outro post com número expressivo de compartilhamentos. Uma montagem com a foto da 21 https://www.facebook.com/AVerdadeNuaECruaOficial/
75
favela da Rocinha no Rio de Janeiro ao lado de uma imagem de Brasília, com a seguinte frase: "Tirar os bandidos da Rocinha foi moleza, quero ver quem consegue tirar os de Brasília". O meme recebeu 787 curtidas, 69 comentários e 8.626 compartilhamentos. Em junho de 2013, os dez posts com maior alcance foram memes e apenas uma foto/viral. Vários também foram postados em outras páginas. O de maior engajamento no período defende a diminuição no número de deputados e a redução de seus salários. TABELA 7 - Dez posts mais relevantes da página A Verdade Nua & Crua Ranking Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
26/6
meme
crítica a políticos
6822
37517
292
44631
2º
28/6
meme
crítica à Copa
8484
28029
249
36762
3º
25/6
meme
motivação
5318
16061
178
21557
4º
29/6
meme
crítica a políticos
5441
14372
265
20078
5º
27/6
meme
crítica a 5931 políticos/outros (cultura do brasileiro)
12689
291
18911
6º
28/6
meme
crítica à 8101 mídia/motivação
7007
451
15559
7º
28/6
meme
crítica à mídia
3185
11435
240
14860
8º
26/6
meme
corrupção
2927
10283
148
13358
9º
27/6
meme
crítica a políticos
3514
9460
245
13219
10º
28/6
foto/viral
crítica políticos/cidade (acessibilidade)
a 6588
6264
273
13125
212060
6 MAQUIAVÉLICO É A MÃE22 A página iniciou suas postagens em setembro de 2012, com memes produzidos a partir da imagem de Nicolau Maquiavel, autor de O Príncipe, publicado em 1532. A descrição da página diz: "Rir um pouco da vida, rir mais dos outros, rir mais ainda de si próprio. Entre uma coisa e outra, filosofar um pouco, que ninguém é de ferro". A maioria dos memes utiliza o recurso do humor. Em junho de 2013, a página conseguiu índices altos de engajamento, como com o post do dia 17, que obteve mais de 40 mil compartilhamentos. 22 https://www.facebook.com/Maquiaveliconao/
76
TABELA 8 - Dez posts mais relevantes da página Maquiavélico é a Mãe Ranking Data
Tipo de post
Assunto
1º
17/6
meme
crítica a políticos
2º
24/6
viral/vídeo
3º
27/6
4º
Curtidas Compartilhamentos 10814
Comentários
Engajamento total
40179
153
51146
crítica à Copa e a 2909 políticos
23698
652
27259
meme
Crítica à Copa
3586
21091
77
24754
30/6
meme
Crítica Copa/motivação
3732
17507
60
21299
5º
23/6
meme
crítica à mídia
3609
14681
68
18358
6º
21/6
meme
crítica 4385 políticos/cidade(saúde )
13468
240
18093
7º
18/6
meme
crítica a políticos
3308
9675
168
13151
8º
18/6
meme
motivação/outros(sem 3726 violência)
9320
69
13115
9º
2/6
meme
outros (crítica cultura do Brasil)
à 3291
9625
102
13018
10º
14/6
meme
motivação
7804
3708
317
11829 212022
7 REDE ESGOTO DE TELEVISÃO23 A página, fundada em 2011, diz ser "contra todo tipo de transmissão manipuladora, seja ela através de radio, televisão, livros, IGREJAS ou revistas... NÃO SOMOS UMA PAGINA ANTI GLOBO, RECORD, SBT, IURD ou BANDEIRANTES!!!!!! Somos uma pagina anti mídia manipuladora, ou seja, todas as emissoras são abordadas aqui". As postagens mais relevantes de junho de 2013 trazem, além de críticas à forma como a mídia tradicional estava cobrindo os protesto, denúncias de violência policial e fotos das manifestações, que viralizaram na rede, como a do rapaz segurando um cartaz onde diz: "Nossos heróis são os professores e não os jogadores". Esta imagem foi publicada em diversas páginas. TABELA 9 - Dez posts mais relevantes da página Rede Esgoto de Televisão Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas
Comparti-
Comen-
Engaja-
23 https://www.facebook.com/redeesgotodetelevisao/
77
lhamentos
tários
mento total
1º
27/6
vídeo
crítica a políticos 4277 (Porta dos Fundos)
23190
813
28280
2º
28/6
foto/viral
motivação/crítica mídia
à 10806
14765
214
25785
3º
30/6
foto/viral
violência policial
10540
13180
1154
24874
4º
30/6
meme
violência policial
7792
16614
319
24725
5º
26/6
meme
Copa
5274
17387
279
22940
6º
24/6
vídeo
violência policial/mídia
4976
13539
930
19445
7º
30/6
meme
crítica à mídia
7282
8904
777
16963
8º
25/6
meme
corrupção
6427
9719
631
16777
9º
28/6
meme
cidade (educação)
5384
8166
184
13734
10º
27/6
foto/viral
cidade (educação)/Copa
6510
6732
128
13370 206893
8 ANONYMOUS BRASIL24 Esta é uma página que segue a ideia dos Anonymous no Brasil. Criada em dezembro de 2011, a página traz a seguinte descrição: "Esta é uma célula Anonymous sem fins lucrativos, buscamos apenas difundir a ideia Anonymous, compartilhar informações e levar adiante os problemas do Brasil e do mundo!" A maioria das mensagens é meme, com críticas a problemas do País e aos políticos. TABELA 10 - Dez posts mais relevantes da página Anonymous Brasil Ranking Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
21/6
meme
cidade(educação)/moti 6289 vação/mídia
19823
170
26303
2º
19/6
meme
corrupção
1772
12672
83
14538
3º
26/6
meme
crítica a políticos
2769
11614
91
14485
4º
27/6
meme
motivação/promoção
4314
8007
193
12519
5º
21/6
texto
crítica (Dilma)
políticos 6547
4777
423
11754
6º
22/6
vídeo
mídia
2362
7924
78
10372
24 https://www.facebook.com/AnonBRNews/
78
7º
20/6
foto/viral
motivação
3504
5803
51
9364
8º
23/6
meme
corrupção
2470
5137
36
7647
9º
27/6
meme
violência policial
2371
4120
75
6573
10º
20/6
meme
outros (defesa PM)
3797
2510
127
6437 119992
9 P.U.T.A25 Fundada em setembro de 2011, a página P.U.T.A diz não ser um partido político e nem estar vinculada a nenhum deles. O objetivo da página é "proporcionar a difusão, discussão e crítica da política e da cultura nacionais de maneira libertária". Entre os dez posts mais relevantes de junho de 2013, nove são memes com críticas a política ou políticos e à corrupção. TABELA 11 - Dez posts mais relevantes da página P.U.T.A Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
16/6
meme
crítica políticos
a 3472
26917
161
30550
2º
18/6
meme
crítica partidos 4462 políticos
16859
228
21549
3º
18/6
meme
crítica a 6927 políticos/corrup ção
11702
85
18714
4º
19/6
meme
motivação/corru 1923 pção
5937
78
7938
5º
17/6
viral/foto
motivação
4002
2155
134
6291
6º
16/6
meme
motivação
3974
1870
112
5956
7º
21/6
meme
crítica políticos
586
4534
27
5147
8º
21/6
meme
crítica 1344 políticos/corrup ção
3693
26
5063
9º
20/6
meme
corrupção
1406
3134
13
4553
10º
18/6
meme
crítica partido 1675 político
2723
46
4444 110205
25 https://www.facebook.com/putaoficial
79
10 PASSE LIVRE SÃO PAULO26 A publicação que mais gerou engajamento na página do Movimento Passe Livre São Paulo foi em 20 de junho de 2013, dia seguinte ao anúncio de que o aumento das tarifas na capital paulista seria revogado. O post traz uma foto de protesto, onde manifestantes seguram uma faixa com a mensagem: "Tarifa Não". No texto, o movimento exalta a luta das últimas semanas que derrubou o aumento. "Não foi o Movimento Passe Livre, nem nenhuma outra organização, que barrou o aumento. Foi o povo." E anunciam que a caminhada do MPL continuará rumo a um transporte sem tarifas. E ainda reforçam que a manifestação daquele dia estaria mantida: "Além de comemorar a vitória popular, sairemos às ruas em solidariedade às lutas das demais cidades do país e em apoio a todos os companheiros presos, detidos e processados durante os atos contra o aumento, contra a criminalização do movimento." Da amostra de junho selecionada, observamos que a página publicou postagens essencialmente sobre a questão do transporte e convocação para as manifestações. O Passe Livre - SP se manteve focado em sua bandeira de luta, que é a tarifa zero. Em geral, a página utilizou fotos dos próprios protestos, sozinhas, ou com textos sobre a imagem com data e local das manifestações. As únicas excessões são montagens com logo do movimento e dados dos atos, como dia e local, e uma foto-montagem com Alckmin e Haddad, convocando para protesto em defesa da revogação do aumento. Esta foi a única postagem classificada como meme. A página, fundada em 2011, não utiliza hahstags, recursos usuais nas redes sociais digitais, em suas dez postagens mais relevantes. TABELA 12 - Dez posts mais relevantes da página Passe Livre São Paulo Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
20/6
viral/foto de protesto + texto
Motivação/ Direito à cidade
14.620
4.421
1.951
20.992
2º
17/6
viral/foto com texto Motivação/ + texto + link Direito à evento cidade
6.691
8.943
723
16.357
3º
18/6
viral/foto com texto Motivação/
7.236
6.940
612
14.788
26 https://www.facebook.com/passelivresp
80
+ texto + link evento 4º
19/6
5º
14/6
6º
17/6
7º
19/6
viral/texto
8º
21/6
9º
10º
Direito à cidade
Meme/foto-montag Motivação/ em com Alckmin e Direito à Haddad + texto cidade
5.042
3.550
1.175
9.767
Motivação/ Direito à cidade
4.138
2.502
528
7.168
vira/imagem com Motivação/ logo do Passe Livre Direito à e convite ato cidade
3.301
3.128
360
6.789
Motivação/ Direito à cidade
3.528
1.417
1.209
6.154
viral/foto + texto
Motivação/ Direito à cidade/pro moção da página
2.301
1.609
1.771
5.681
7/6
imagem
Motivação/ Direito à cidade
2.429
2.876
223
5.528
17/6
imagem
Motivação/ Direito à cidade
2.982
2.094
330
5.406
viral/foto +texto
98.630
11 BUEIRO ABERTO27 A página nasceu em 2012 e não traz descrição, apenas: "Na dúvida...Não curta!". Traz em suas principais publicações do período memes e virais. Estes repetidos de outras páginas. Entre os assuntos, críticas à Copa das Confederações, a políticos e à violência policial. A que gerou maior engajamento critica à mídia, mais especificamente à suposta manipulação dos fatos. Trata-se de um meme com o logo do programa dominical Fantástico, da Rede Globo, e a frase: "Cuidado! Neste domingo vamos te convencer sobre o que você deve a respeito das manifestações nas ruas". TABELA 13 - Dez posts mais relevantes da página Bueiro Aberto Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
27 https://www.facebook.com/BueiroAberto/
81
1º
23/6
meme
crítica mídia
à 1843
23000
133
24976
2º
25/6
meme
crítica políticos
a 1958
12011
517
14486
3º
26/6
viral/foto
Copa
2708
6284
163
9155
4º
26/6
meme
crítica a 1876 político (Maluf)/corr upção
5701
93
7670
5º
30/6
viral/foto
Copa
1816
5033
144
6993
6º
28/6
meme
Copa
2290
4268
156
6714
7º
21/6
meme
Copa
331
5565
24
5920
8º
22/6
viral/foto
motivação
2469
2871
59
5399
9º
24/6
meme
motivação
1610
3677
69
5356
10º
30/6
meme
violência policial
1372
3339
32
4743 91412
12 PLÍNIO COMENTA28 A página fundada em 2012 é inspirada em Plínio de Arruda Sampaio, ex-candidato à Presidência da República pelo PSOL. A maioria das publicações da página é de memes com a foto de Plínio e frases, com humor. Esses memes fizeram grande sucesso nas redes sociais. Entre os temas, críticas à mídia, à violência policial e, principalmente, defesa de partidos políticos. TABELA 14 - Dez posts mais relevantes da página Plínio Comenta Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas
1º
9/6
meme
crítica mídia
2º
16/6
meme
direito à (transporte)
3º
21/6
meme
outros partidos)
4º
16/6
texto
violência policial
5º
13/6
texto
violência policial
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
4878
10267
170
15315
cidade 3579
10903
295
14777
4989
189
8746
2666
5269
240
8175
2543
4901
273
7717
(liberdade 3568
28 https://www.facebook.com/PlinioComenta/
82
6º
21/6
meme
outros partidos)
(liberdade 1923
4188
186
6297
7º
14/6
meme
violência policial
2723
3019
126
5868
8º
6/6
meme
motivação
1924
3034
40
4998
9º
16/6
meme
Copa/político (Dilma)
2116
2739
108
4963
10º
13/6
meme
crítica à mídia
2176
1944
76
4196 81052
13 ANON H429 Esta é mais uma página da ideia Anonymous, fundada em 2012. As dez postagens mais relevantes da página em junho de 2013 são essencialmente memes e apenas uma imagem. Esta traz um manifestante com a máscara de Guy Fawkes segurando um cartaz onde diz: "Professor te desejo o salário de deputado e o prestígio de um jogador de futebol". Já o meme de maior engajamento compara as manifestações com a Revolução Francesa. "Você que acha que R$ 0,20 não é motivo para ir às ruas e mudar tudo, sabe qual foi o estopim da Revolução Francesa? O preço do pão". É a única referência entre as postagens à questão do transporte, as demais fazem críticas aos gastos com os estádios para a Copa e aos políticos. TABELA 15 - Dez posts mais relevantes da página AnonH4 Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
19/6
meme
motivação
1027
18093
45
19165
2º
6/6
viral/foto
copa/motivação
965
7453
39
8457
3º
27/6
meme
político 550 (Maluf)/corrupçã o
5951
54
6555
4º
18/6
meme
motivação
1554
4810
89
6453
5º
28/6
meme
Copa
482
5686
37
6205
6º
20/6
meme
Copa/cidade
365
5820
16
6201
7º
17/6
meme
motivação
649
5136
63
5848
8º
22/6
meme
Copa/motivação
708
4066
43
4817
9º
23/6
meme
crítica à mídia
634
3838
243
4715
29 https://www.facebook.com/AnonH4/
83
10º
27/6
meme
motivação
311
3689
9
4009 72425
14 UMA OUTRA OPINIÃO30 A página foi fundada no final de 2010, em sua descrição diz: "É preciso ter UMA OUTRA OPINIÃO a respeito de tudo o que a sociedade engessou como certo. É preciso ter opinião contra qualquer preconceito e discriminação, pela efetivação do direito à igualdade. Por
aqui
encontram-se
muitas
bandeiras,
por
uma
sociedade
mais
justa.
Eu não preciso ser mulher para lutar contra a misoginia, e eu luto. Eu não preciso ser gay para lutar contra a homofobia, e eu luto. Eu não preciso ser negro para lutar contra o racismo, e eu luto. Eu não preciso ser deficiente, para lutar por acessibilidade, e eu luto. Eu não preciso ser faminto para lutar contra a fome, e eu luto. Eu não preciso ter câncer ou aids para lutar contra tais doenças, e eu luto. Eu não preciso ser atéia ou muçulmana para lutar por tolerância religiosa, e eu luto. Lute também. Curta e compartilhe uma outra opinião". Em junho de 2013, a postagem de maior alcance e que viralizou na rede traz um texto condenando a cobertura da imprensa tradicional sobre o protesto realizado em 11 de junho, que acabou com violência policial no Terminal Parque Dom Pedro, região central de São Paulo. "Os jornais não vão dizer que a passeata seguiu o caminho praticamente delimitado pela força policial até ser encurralado em frente ao terminal", diz trecho. TABELA 16 - Dez posts mais relevantes da página Uma Outra Opinião Ranking Data
Tipo de post
Assunto
1º
12/6
foto e texto
violência policial crítica à mídia
2º
14/6
meme
violência policial
3º
14/6
foto/viral
4º
13/6
5º
Curtidas Compartilhamentos e 6816
Comentários
Engajamento total
14360
439
21615
2410
6615
30
9055
motivação
5494
2676
173
8343
meme
motivação
2147
4919
74
7140
7/6
meme
motivação
1656
2243
34
3933
6º
14/6
foto/viral
motivação
2171
1227
39
3437
7º
20/6
meme
outros partidos)
2553
40
3040
8º
7/6
meme
outros (citação)
1693
18
2918
(liberdade 447 1207
30 https://www.facebook.com/umaoutraopiniao
84
9º
27/6
meme
outros (citação/Mujica)
922
1626
30
2578
10º
18/6
meme
crítica a (Feliciano)
político 302
1981
201
2484 64542
15 ANONYMOUS RIO31 A página Anonymous Rio é mais uma representante da ideia dos Anonymous no Brasil. Em atividade, desde 2011, a página em sua descrição diz ser a representante da ideia no Rio de Janeiro e pede a colaboração de todos no envio de denúncias. "Unidos como UM, divididos por ZERO!", dizem. Na amostra analisada, as postagens de maior engajamento trouxeram fotos de protestos acompanhadas de textos com motivação aos seguidores para participarem das manifestações e apenas dois memes. TABELA 17 - Dez posts mais relevantes da página Anonymous Rio Ranking
Data
Tipo de post
1º
30/6
viral/foto
2º
30/6
3º
Assunto Copa
Curtidas
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
4328
4528
210
9066
foto em motivação tempo real
4232
2630
185
7047
30/6
meme
motivação
2285
4002
112
6399
4º
30/6
viral/foto
violência policial
3008
3053
104
6165
5º
29/6
viral/foto
crítica mídia
à 1530
3969
59
5558
6º
27/6
foto em motivação tempo real
3015
2206
121
5342
7º
28/6
meme
motivação
1257
2835
14
4106
8º
30/6
texto
motivação
2987
582
337
3906
9º
27/6
texto
violência policial
2335
1172
131
3638
10º
28/6
texto
políticos
2425
715
438
3578 54805
31 https://www.facebook.com/anonymousrio
85
16 NINJA32 O coletivo Ninja (Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) ganhou repercussão com as transmissões em tempo real (streaming) direto dos protestos de junho de 2013, feitas com um celular. A rede foi lançada oficialmente em março de 2013. Em 5 de agosto daquele ano, o jornalista Bruno Torturra e o fundador do coletivo Fora do Eixo Pablo Capilé participaram do programa Roda Viva, na TV Cultura, para falar da experiência do Ninja, principalmente as transmissões direto das manifestações. Em sua página do Facebook, fotos tiradas em tempo real e postadas durante os protestos foram os posts que mais tiveram repercussão no período. Não houve memes. Tabela 18 - 10 posts mais relevantes da página NINJA Ranking Data
Tipo de post Assunto
Curtidas
Compartilha- Comen- Engajamentos tários mento total
1º
17/6
Foto em Críticas à Copa tempo real
4.587
9.505
153
14.245
2º
17/6
Foto em Direito à cidade tempo real
4.852
8.465
197
13.514
3º
17/6
Foto em Copa/Direito tempo real cidade
à 1.624
2.650
81
4.355
4º
26/6
Foto
912
154
2.943
5º
15/6
Foto em Copa tempo real
1.135
1.440
51
2.626
6º
19/6
Foto em Copa tempo real
889
1.010
114
2.013
7º
17/6
Foto em Motivação tempo real
1.005
788
13
1.806
8º
17/6
Foto em Direito à cidade tempo real
846
682
32
1.560
9º
19/6
Foto em Copa do Mundo tempo real
874
562
65
1.501
10º
13/6
Foto em Violência policial tempo real
418
948
32
1.398
Crítica à violência 1.877 policial
45.961
32 https://www.facebook.com/midiaNINJA
86
17 Fiscalização Popular dos Transportes Públicos RJ33 A página foi fundada em fevereiro de 2013. Em junho obteve destaque com memes relacionados à temática da mobilidade urbana. O de maior destaque, por exemplo, compara o preço da passagem em 2004 e em 2013. "Para quem acha que 0,25 centavos não justificam quebra-qubra, faça as contas analfa", diz o meme, que compara o aumento das tarifas com o salário mínimo. TABELA 19 - Dez posts mais relevantes da página Fiscalização Popular dos Transportes Públicos RJ Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
11/6
meme
Cidade (Transporte)
1217
20052
245
21514
2º
20/6
meme
Cidade (Transporte)
703
10362
77
11142
3º
15/6
meme
cidade/Copa/político (Dilma)
169
3732
6
3907
4º
13/6
meme
Cidade (Transporte)
187
2230
9
2426
5º
19/6
meme
Cidade (Transporte)
132
1119
2
1253
6º
13/6
meme
cidade/motivação
23
735
3
761
7º
24/6
meme
cidade/transporte
98
641
10
749
8º
17/6
meme
crítica políticos/motivação
86
607
5
698
9º
13/6
meme
crítica à mídia
11
652
0
663
10º
4/6
meme
cidade (transporte)
49
555
5
609 43722
18 ANONYMOUSBR34 Mais uma página da ideia Anonymous no Brasil. Fundada em 2011, descreve-se assim: "Quando todos acordarem, os políticos não irão dormir". Das páginas que seguem a ideia analisadas, é a que obteve menos engajamento em junho de 2013, considerando os dez 33 https://www.facebook.com/Fiscaliza%C3%A7%C3%A3o-Popular-dos-Transportes-P %C3%BAblicos-no-Rio-de-Janeiro-462419097156748/ 34 https://www.facebook.com/AnonimosBR/
87
posts mais relevantes. TABELA 20 - Dez posts mais relevantes da página AnonymousBR Ranking Data
Tipo de post
Assunto
1º
30/6
texto
crítica Copa/motivação
2º
30/6
foto/viral
crítica a (Dilma)
3º
28/6
meme
motivação/mídia
4º
29/6
link/com pergunta
5º
30/6
6º
Curtidas à 5859
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
2694
540
9093
609
42
2788
1803
656
32
2490
mídia
906
1243
268
2417
texto
Copa
1905
91
288
2284
28/6
meme
Copa
1413
766
82
2261
7º
30/6
texto
motivação
1738
328
96
2162
8º
29/6
meme
motivação
1536
572
22
2130
9º
28/6
meme
crítica a político 656 (Dilma)/Copa
1406
65
2127
10º
28/6
link/mídia progressista
crítica a político (Lula) 1171
504
319
1994
políticos 2137
29746
19 GERAÇÃO INVENCÍVEL35 Esta página foi fundada em outubro de 2012. Em sua descrição, diz que se trata de um grupo formado pela sociedade civil. Diz ainda que é uma página com conteúdo informativo e jornalístico. No entanto, entre as postagens mais relevantes de junho, não não há referência a matérias de veículos ou links de mídia, mas há principalmente memes e virais, alguns dos quais também foram postados em outras páginas analisadas. Não há qualquer referência à questão da mobilidade urbana. A corrupção e a luta para barrar a PEC 37, além de críticas à realização da Copa das Confederações, estão entre os principais temas. TABELA 21 - Dez posts mais relevantes da página Geração Invencível Ranking 1º
Data 26/6
Tipo de post meme
Assunto corrupção
Curtidas 392
Compartilhamentos 7524
Comentários 11
Engajamento total 7927
35 https://www.facebook.com/GeracaoInvencivel
88
2º
25/6
viral/foto
corrupção
1448
2444
114
4006
3º
29/6
meme
motivação
424
2554
11
2989
4º
30/6
meme
Copa/violên 718 cia policial
2078
48
2844
5º
27/6
viral/foto
Crítica Copa
à 767
1652
64
2483
6º
30/6
viral/foto
Crítica Copa
à 893
1171
48
2112
7º
30/6
meme
mídia
611
1285
16
1912
8º
28/6
meme
motivação
628
1128
28
1784
9º
30/6
foto em motivação tempo real
627
705
22
1354
10º
27/6
viral/foto
422
697
9
1128
motivação/ Copa
28539
20 OCCUPY BRAZIL36 A página foi criada em setembro de 2011, e assim se descreve: "Essa pagina não tem como objetivo inicial levantar nenhuma bandeira, promover nenhuma ideia específica, promover nenhuma atividade ilegal, falar em nome de alguma organizacao ou país ou organizar uma ocupação, e somente para informar, divulgar e mostrar suporte ao ocupantes da Wall St e aos Protestos Contra a Corrupção em todo o Brasil e contra um inimigo em comum: a corrupção gerada por um sistema falho". A principal postagem do mês de junho é uma foto de uma garota segurando um cartaz, onde diz: "Não sou cinderela, quero transporte depois da meia-noite". A maioria das publicações traz memes ou imagens virais, no entanto, a postagem do dia 26 de junho alcançou um número bem acima da média de engajamento do período. TABELA 22 - Dez posts mais relevantes da página Occupy Brazil Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
1º
26/6
viral/foto
direito cidade
2º
23/6
foto
motivação
3º
22/6
meme
motivação
Curtidas à 4212
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
11090
78
15380
1040
1018
51
2109
1028
657
31
1716
36 https://www.facebook.com/OccupyBrazil/
89
4º
21/6
meme
motivação
1043
371
72
1486
5º
27/6
meme
Copa
631
753
62
1446
6º
30/6
meme
copa
719
434
10
1163
7º
22/6
viral/foto
motivação
388
538
65
991
8º
23/6
meme
violência policial
367
591
17
975
9º
23/6
viral
motivação
494
365
34
893
10º
25/6
meme
violência policial
471
343
9
823 26982
21 JUNTOS37 O Juntos define-se como um "coletivo de uma juventude que luta por um futuro diferente e esta página um espaço para divulgação, reflexão e ação de todos os jovens que não toleram injustiças". A página foi fundada em 2011. Das publicações mais relevantes de 2013, a maioria é meme, inclusive publicados em outras páginas também. TABELA 23 - Dez posts mais relevantes da página Juntos Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
19/6
meme
motivação/c 1983 rítica políticos (Feliciano)
5405
118
7506
2º
27/6
meme
motivação/d 845 ireito à cidade
2922
32
3799
3º
18/6
foto em motivação tempo real
2283
1218
47
3548
4º
25/6
meme
motivação
767
1314
94
2175
5º
18/6
meme
corrupção
671
1120
14
1805
6º
19/6
meme
violência policial
646
1046
48
1740
7º
18/6
foto/viral
motivação
1151
499
42
1692
8º
25/6
meme
violência policial
639
930
22
1591
9º
25/6
meme
crítica mídia
1006
17
1586
10º
30/6
viral/foto
Copa
547
16
1491
à 563 928
37 https://www.facebook.com/JuventudeEmLuta
90
26933
22 ANONOPSBRAZIL38 Esta é mais uma página da ideia Anonymous, também fundada em 2012. Assim como as outras que constam na lista de autoridades, as amostras das mensagens maior alcance revelam que a estratégia utilizada é a publicação de imagens virais e memes. TABELA 24 - Dez posts mais relevantes da página AnonOpsBrazil Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
19/6
viral/foto
motivação
1649
2109
56
3814
2º
20/6
viral/foto
motivação
1432
1030
56
2518
3º
23/6
meme
políticos
549
1380
8
1937
4º
28/6
foto/viral
direito cidade
à 692
867
35
1594
5º
27/6
foto/viral
violência policial
803
667
70
1540
6º
23/6
meme
motivação
877
541
27
1445
7º
21/6
viral/foto
promoção
892
320
89
1301
8º
21/6
meme
políticos
610
606
18
1234
9º
23/6
meme
outros
584
491
11
1086
10º
22/6
meme
crítica políticos (Dilma)
825
147
26
998
17467
23 #NÃOMECALAREI39 A página iniciou suas postagens em dezembro de 2011. As primeiras publicações referem-se a um aumento de 61% dos salários de vereadores de Belo Horizonte, aprovado por eles mesmos na Câmara Municipal. Entre os objetivos da página, os autores dizem: "Espalhar sementes, e que elas encontrem fertilidade com o adubo do pensamento. Desejamos uma sociedade sem falsas emoções que embotam as mentes da grande massa. Queremos escolas dignas do ensino, comida, saúde e todas as outras necessidades básicas 38 https://www.facebook.com/Anonopsbrazil 39 https://www.facebook.com/naomecalarei/
91
acessível a todos. Nós, chamados de ideologistas, que fazemos da informação nosso campo de batalha regozijamos textos, artes e pensamentos, queremos acesso de qualquer pessoa a estes meios a ponto de que todas possam suprir suas necessidades básicas de informação não manipulada". TABELA 25 - Dez posts mais relevantes da página #Nãomecalarei Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
30/6
foto em violência policial tempo real
718
3435
55
4208
2º
21/6
meme
crítica à mídia
489
3403
21
3913
3º
20/6
meme
motivação
499
819
32
1350
4º
22/6
meme
mídia
221
511
30
762
5º
22/6
meme
outros (liberdade 511 partidos)
164
60
735
6º
24/6
meme
outros (liberdade 302 partidos)
380
46
728
7º
30/6
texto
violência policial
417
217
38
672
8º
22/6
texto
críticas a políticos
229
410
27
666
9º
23/6
meme
crítica à mídia
208
434
9
651
10º
22/6
meme
crítica à mídia
214
342
24
580 14265
24 MANIFESTO POA40 A página Manifesto POA foi fundada em setembro de 2012 e se descreve da seguinte forma: "Resistir é nossa razão de existir". A principal temática das postagens mais relevante é a violência policial. E apenas três memes foram publicados. TABELA 26 - Dez posts mais relevantes da página Manifesto POA Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
26/6
foto
violência policial
946
2186
143
3275
2º
17/6
meme
motivação
893
1493
19
2405
40 https://www.facebook.com/ManifestoPoa/
92
3º
19/6
meme
motivação
304
914
45
1263
4º
18/6
foto/viral
violência policial
784
424
18
1226
5º
26/6
foto/viral
cidade 738 (transporte)
425
10
1173
6º
20/6
texto
violência policial
708
335
96
1139
7º
26/6
foto/viral
mídia
489
588
38
1115
8º
24/6
link/vídeo
violência policial
129
843
17
989
9º
25/6
meme
violência policial
354
374
27
755
10º
26/6
foto/viral
motivação
333
393
19
745 14085
25 ACORDA MEU POVO41 A página está ativa desde 2012, e descreve-se desta forma: "Informação é ferramenta de mudanças. Viralize todo e qualquer tipo de ação que prejudique nosso país. Espalhe, solte a voz. Esta página foi criada com o objetivo de abrir os olhos dos brasileiros para a constante corrupção brasileira! Pequena, grande, média... É tudo corrupção!" E a temática da corrupção é a principal nos dez posts de maior alcance em junho de 2013. TABELA 27 - Dez posts mais relevantes da página Acorda Meu Povo Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
30/6
foto/viral
violência policial 318
2617
29
2968
2º
26/6
foto/viral
crítica políticos/cidade (acessibilidade)
187
1369
18
1574
3º
26/6
meme
corrupção
119
1030
11
1160
4º
30/6
foto/viral
corrupção/copa
159
805
7
971
5º
29/6
foto/viral
outros (desigualdade)
185
606
52
843
6º
25/6
texto
crítica políticos
160
587
32
781
7º
26/6
texto+foto
crítica à Copa
183
470
8
661
8º
26/6
foto
corrupção
117
472
11
600
41 https://www.facebook.com/povomeuacorda
93
9º
25/6
meme
crítica a políticos 82 (Roseana Sarney)
373
10
466
10º
30/6
texto+foto
Copa/cidade
341
27
443
75
10467
26 PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO42 Esta é a única página de um partido político que conseguiu se tornar uma autoridade relevante em junho de 2013. A página compartilhou muitos memes. Entre as dez postagens de maior alcance, nove são de conteúdo memético. Os principais temas das postagens analisadas são a defesa de partidos políticos, a denúncia de violência policial e crítica à mídia. A imagem que está entre as dez selecionadas traz um carro da TV Globo pichado com a palavra "lixo". TABELA 28 - Dez posts mais relevantes do Partido Comunista Brasileiro Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
1º
21/6
meme
outros partidos)
2º
11/6
meme
3º
28/6
4º
Curtidas
Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
(defesa 520
1667
25
2212
motivação
245
1467
13
1725
meme
violência policial
207
653
7
867
13/6
meme
violência policial
239
555
18
812
5º
26/6
meme
crítica à mídia
243
543
9
795
6º
14/6
meme
crítica mídia/políticos
à 199
587
5
791
7º
10/6
meme
outros/direitos humanos
198
539
13
750
8º
24/6
meme
violência policial
236
465
24
725
9º
13/6
viral/foto
crítica à mídia
320
389
14
723
10º
18/6
meme
outros partidos)
(defesa 252
451
18
721
10121
42 https://www.facebook.com/PartidoComunistaBrasileiroPcbOficial/
94
27 SE A TARIFA AUMENTAR SÃO PAULO VAI PARAR43 Esta página foi criada em 22 de maio de 2013, justamente para lutar contra o aumento da tarifa que na época já havia sido anunciado pela prefeitura de São Paulo. A primeira publicação da página diz: "O prefeito Fernando Haddad (PT) já anunciou o aumento da passagem de ônibus para o dia 1º de Junho. Além do valor atual (R$3,00) ser um dos mais altos do país, essa medida vai contra as necessidades dos usuários do transporte público paulistano que enfrentam diariamente a superlotação, demora nos pontos, baixa velocidade nos corredores e longos engarrafamentos. O mesmo acontece com usuários do Metrô e dos trens da CPTM, que também terão aumento conforme anunciado pelo governador Geraldo Alckmin. (...) Somente através de mobilização e luta popular iremos barrar o aumento!" É importante observar que as postagens mais relevantes da página se deram na primeira quinzena de junho, quando a pauta da revogação do aumento das tarifas era predominante nos protestos. TABELA 29 - Dez posts mais relevantes da página Se a Tarifa Aumentar São Paulo Vai Parar Ranking
Data
Tipo de post
Assunto
Curtidas Compartilhamentos
Comentários
Engajamento total
1º
14/6
meme
direito à cidade 46 (transporte)
1302
18
1366
2º
14/6
meme
motivação
313
868
34
1215
3º
10/6
meme
Transporte/crítica 201 a político (Haddad)
797
25
1023
4º
12/6
meme
violência policial 115
337
34
486
5º
11/6
foto real
191
108
9
308
6º
13/6
meme (charge)
crítica 124 políticos/violênci a policial
155
20
299
7º
15/6
meme (charge)
crítica violência 136 policial
129
3
268
8º
11/6
foto em tempo motivação real
181
56
15
252
9º
11/6
foto em tempo motivação real
117
99
18
234
tempo motivação
43 https://www.facebook.com/spvaiparar/
95
10º
10/6
meme
motivação
74
145
1
220 5671
3.2 Rede de pessoas articuladas Considerando que as redes sociais digitais são compreendidas como uma rede de computadores que conecta uma rede de pessoas (RECUERO, 2009), os dados apresentados neste capítulo mostram como as 27 páginas analisadas articularam milhares de indivíduos em junho de 2013. O Facebook dispõe de uma política de identidade real, que busca verificar a autenticidade de perfis, impedindo a existência de perfis falsos e duplicados. Segundo dados trazidos por Jarrah et al. (2012), o Facebook estimava, em 2011, que entre 5 e 6% de seus 901 milhões de usuários ativos fossem falsos. A plataforma foi criado originalmente em 2004 para conectar pessoas conhecidas e os chamados laços latentes (HAYTHORNWAITE, 2005), ou seja, indivíduos que têm algum tipo de conexão off-line, e utilizam a rede social digital para mantê-la. No entanto, hoje é possível a criação de perfis públicos e páginas públicas, onde se pode interagir e compartilhar conteúdos de outros usuários. Veremos a seguir os tipos de conteúdos que geraram mais engajamento. Mas já podemos afirmar como o facebook funcionou como um mediador entre as conexões entre pessoas, que fluíram na internet em junho de 2013.
96
CAPÍTULO 4 4.1 Memes e virais: a tônica de junho de 2013 A partir dos dados é possível observar como memes e virais foram utilizados em junho de 2013 por diversas páginas no Facebook, alcançando milhões de pessoas. Esta estimativa não é exagerada, pois foram dezenas de milhares de compartilhamentos. Quando um perfil compartilha uma postagem, pelo menos parte de seus amigos a visualiza. Em relatório divulgado pelo próprio Facebook44, em setembro de 2012, os posts alcançavam entre 5 e 40% dos amigos (em caso de perfis) ou seguidores (em páginas). Nesse relatório, foram anunciadas mudanças no algoritmo da rede social, chamado de Edge Rank, que limita a visualização de publicações. Este é um dos grandes segredos do Facebook, que não divulga a fórmula desse algoritmo. Apenas pessoas internas conhecem como o EdgeRank funciona extamente. Um edge, para o Facebook, seria uma ação realizada na rede social, uma curtida, um compartilhamento ou um comentário. Quanto mais "edges" a postagem receber, mais ela vai circular no feed das pessoas. Uma lógica que pareceria natural (se não soubessemos que é controlada). E acaba filtrando a circulação dos conteúdos dentro da rede, calculando quais informações aparecem para cada usuário. Outra análise da agência Ogilvy45 com 106 páginas de marcas apontou que o alcance médio dos posts orgânicos passou de 12,1% em outubro de 2013 para 6,2% em fevereiro de 2014. A cada cem fãs, apenas 12 visualizam a publicação, mas se ela for curtida e compartilhada por estes 12, ela vai ganhar edges e subir no ranking. O tempo da postagem também é um fator que conta no ranking, posts antigos não aparecem mais no feed, os novos são privilegiados. Voltar atrás no tempo e encontrar postagens antigas na rede social, é uma tarefa que exige paciência. Os mecanismos de busca não funcionam para postagens. Embora o conteúdo seja mediado pela plataforma, as facilidades de publicação de conteúdo por qualquer cidadão, fazem com que um número ilimitado de páginas, perfis e postagens estejam online. Aliás, o Facebook só existe por causa da criação de conteúdo dos usuários, que geram valor para a empresa. "São os usuários que criam e produzem valor para o Facebook, e este se posiciona como força organizativa e parasitária da riqueza produzida 44 https://social.ogilvy.com/facebook-algorithmic-change-to-decrease-reach-on-brand-page-posts/ Acesso em 17 agosto 2015. 45 http://www.proxxima.com.br/home/social/2014/03/06/Pesquisa-comprova-diminui--o-do-alcance-org-nicodos-posts-de-marca-no-Facebook.html Acesso em 20 outubro 2015.
97
pelos usuários na internet" (JARRAH et al., 2012, on line). Em nossa análise podemos observar que das 27 páginas que se destacaram na rede em junho de 2013, apenas quatro delas correspondem a movimentos offline: Movimento Passe Livre São Paulo; Ninja; Juntos e Partido Comunista Brasileiro. O restante surgiu da ação exclusiva na internet, sendo que, com exceção das páginas que representam a ideia dos Anonymous (seis páginas), as demais nasceram exclusivamente no Facebook, utilizando uma linguagem própria das redes. Poderíamos arriscar dizer que as páginas Juntos e Partido Comunista Brasileiro só conquistaram o destaque na plataforma no período porque também adotaram essa linguagem, diferente do Passe Livre, que foi o primeiro grupo a convocar os protestos. Nota-se que a maioria das postagens mais relevantes da página do movimento foi a própria convocação para os atos. É claro que cada área da internet possui formas de hierarquia e controle, conforme aponta Poster (2002). E apesar da enorme quantidade de conteúdos disponibilizados pelos usuários, nem todos alcançam o status de viralizarem ou até de serem copiados, refeitos ou manipulados, em ações chamadas de remix ou mimicry. E foram unidades carregadas de significados, principalmente imagens, que disputaram a narrativa das manifestações daquele período. É impossível analisar quantas imagens foram postadas, compartilhadas e curtidas naquele mês, impraticável também identificar quantas se tornaram virais ou memes. Como já explorado anteriormente, nos dois primeiros capítulos deste trabalho, o ecossistema comunicacional se alterou profundamente nas últimas duas décadas. O advento da internet e as novas tecnologias de informação e comunicação propiciaram a multiplicação de webatores (RAMONET, 2012) ou ciberativistas (UGARTE, 2008). E se antes as corporações midiáticas dominavam todos os processos da circulação das informações, hoje já não é bem assim. Os conteúdos se espalham sem passar por mãos e mentes de profissionais especializados. Essa mudança culminou com a proliferação de blogs e páginas e perfis em diferentes redes sociais. Das 270 postagens analisadas, pudemos observar como nenhuma delas trouxe um link sequer para veículos da mídia tradicional. Pelo contrário, quando ela apareceu foi para ser criticada. Foram diversos memes e virais abordando a "manipulação" da imprensa tradicional. Esse foi um tema recorrente. Somente na página Bueiro Aberto, foram quase 23 mil compartilhamentos. O número médio de amigos por usuário norte-americano na rede social era, em 2013, de 334, segundo estudo do Pew Research Center46. Considerando essa quantidade, poderíamos supor que 33 amigos de cada um desses 46 http://www.meioemensagem.com.br/home/midia/noticias/2014/03/11/Facebook-os-motivos-para-a-queda-n
98
perfis que compartilharam o meme viram a postagem, portanto o alcance foi, no mínimo, de 759 mil pessoas. Isso em apenas um post. IMAGEM 2 - Meme critica a mídia, em especial o programa Fantástico da TV Globo
Como observamos na análise os formatos de conteúdo também mudaram com disseminação do uso de plataformas de redes sociais. Para Jenkins (2008), há uma disputa entre a cultura do espalhável e a do grudento dos meios de comunicação tradicionais. Diante dessa enorme quantidade de conteúdo gerado pelo próprio usuário, por que algumas informações se espalham mais do que outras? "Grande parte dos conteúdos que ganham relevância na Web são de qualidade técnica duvidosa, sendo que talvez o maior exemplo disso são os memes", aponta Fontanella (2009, p. 3): A enorme quantidade de “conteúdo gerado pelo usuário” que caracteriza o advento da chamada Web 2.0 muitas vezes parece se constituir de uma vasta quantidade de piadas internas de mau gosto, vídeos mal produzidos, fotos mal batidas e mensagens pessoais – um conjunto de produtos que raramente atingiria qualidade e relevância mínimas para circular além de um grupo mais próximo de amigos.
o-alcance.html Acesso 20 outubro 2015.
99
E nessa disputa de narrativas, a forma como se dá a participação política e o ativismo da sociedade civil também mudou, e memes e virais são utilizados em campanhas e causas. Isso ficou demonstrado na campanha eleitoral de 2008, quando um vídeo não oficial produzido por membros da campanha de Barak Obama viralizou nas redes, ou seja, alcançou um elevado número de visualizações (SHIFMAN, 2014). Conforme aponta a autora, o vídeo acabou sendo abraçado pela campanha oficial e os principais atores difusores da peça foram um pequeno número de blogs que inflamaram esse processo de viralização, exercendo grande influência. Isso mostra que um pequeno grupo de hubs pode ter um papel importante no processo de viralização. Segundo Shifman (2014), a ação política digital contemporânea reúne duas lógicas, tanto a velha da ação coletiva, associada a recursos de organização e formação de identidades, como a ação conectada. E cada vez mais as pessoas compartilham suas opiniões e críticas na rede. Além de protestos serem organizados digitalmente por milhões de pessoas comuns. A autora ainda destaca como os memes são importantes nesse processo, compartilhando slogans e estimulando milhões para a causa. É o caso do conhecido "We are the 99%", que se tornou um meme, ou seja, uma ideia que se espalha. O slogan bem-sucedido do movimento de protestos Occupy Wall Street, inciado em setembro de 2011, nos Estados Unidos, trazia à tona a desigualdade entre os 1% mais ricos e o restante da população e a participação assimétrica na tomada de decisões econômicas e políticas. De acordo com Shifman (2014, p. 773), ao mesmo tempo em que esse slogan cria uma apropriação personalizada, é universal. Faz todos serem únicos, mas estarem numa situação similar. Isso garantiu que a frase corresse o mundo, fazendo com milhões se identificassem com ela, e estivesse em inúmeros memes. No Occupy Wall Street, a revista canadense Adbusters, uma das primeiras a convocar os protestos, motivou seus leitores a criarem memes ressignificando símbolos do consumo capitalista para algo novo e subversivo. Um exemplo de meme espalhado nas redes mostra uma bailarina no topo da estátua icônica do touro de Wall Street. Em junho de 2013, também foram produzidos alguns slogans, que se destacaram na rede, principalmente trazidos pelo Movimento Passe Livre: Se a tarifa não baixar São Paulo vai parar; Não é por centavos, é por direitos; Vem pra Rua. No caso do slogan da figura 3, observamos que, assim como a frase-mote do Occupy Wall Street, também é gerado um setimento de apropriação, onde o indivíduo está representado pela cidade, se sentindo parte
100
dela, e com força para mudá-la. Afinal, quem para a cidade são as pessoas. IMAGEM 3 - Foto que viralizou nas redes, com o slogan do MPL
Shifman ressalta que memes e virais se tornaram importantes ferramentas para a participação política e cidadã na internet. Ela lista três funções dos memes: 1) forma de persuadir ou de defesa política; 2) ação de base, para empoderar e coordenar ações cidadãs; 3) formas de expressão e discussão pública, ou seja, é uma maneira de expressar opiniões políticas. Muitas vezes os memes políticos se originam de uma foto de atores políticos relacionados a polêmicas, ou fazem uma justaposição com bastidores da política e seus efeitos reais. Outros são produzidos quando se percebe uma foto artificialmente manipulada ou ainda um ângulo ou close considerado ridículo. No Brasil, antes de junho de 2013, os memes políticos já se espalhavam pelas redes sociais. Um que viralizou foi feito a partir de uma situação inusitada do ex-candidato à Presidência da República pelo PSDB, José Serra, em 2012, quando concorria à eleição para a prefeitura de São Paulo. Ele foi chutar uma bola em uma atividade na periferia e o seu sapato voou. Foram inúmeros memes parodiando a situação. Foram criados tumblrs47 e os memes ganharam repercussão, pautando a imprensa tradicional. Matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo48, em 25 de setembro de 2012, por exemplo, diz que os memes são a "nova charge política". Naquela eleição, foram vários os memes e imagens que viralizaram nas redes, turbinadas por apoiadores e influenciadores de cada candidato.
47 Plataforma de blogging que permite aos usuários publicarem textos, imagens, vídeo, links, citações, áudio e "diálogos". 48 http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,memes-sao-a-nova-charge-politica-imp-,935442 Acesso em 1 agosto 2015.
101
IMAGEM 4 - Imagem real e dois dos inúmeros memes
Embora o humor seja muito comum nos memes, não são todos que são engraçados. Segundo dados divulgados pelo Google49, em 2014, seis entre os dez vídeos mais assistidos no Youtube pelos brasileiros eram de conteúdo humorístico – apenas dois deles eram memes (um nacional) e os demais eram produções feitas por canais de humor. Com base no que nos 49 Disponível em http://googlebrasilblog.blogspot.com.br/2014/12/youtuberewind-2014-celebrando-o-que.html Acesso em 12/10/2015.
102
diz Shifman (2014), o meme é sempre um conjunto de conteúdos, um contexto. Diferente do viral, que é uma unidade cultural, seja uma foto, vídeo ou texto, espalhada pelas redes. O meme traz em si sentidos e referências. Segundo Caparroz (2013, p. 8), "é necessário que o internauta recorra a seu conhecimento de mundo e à sua capacidade de interpretação e de organização das ideias; ou seja, são fundamentais a intertextualidade e o interdiscurso". Por isso, para interpretá-los é necessária uma certa experiência de letramento, conforme aponta Knobel e Lankshear (2007, p.5): Em geral os conteúdos on-line carregam diversos tipos de construção de significados. Em muitos casos, os significados não são inteligíveis para as pessoas em geral, apenas alguns grupos de 'insiders' entendem e podem compartilhar.
Em junho de 2013, da amostra selecionada, quase não houve memes com a utilização de humor. Há apenas alguns exemplos. Um dos motivos para isso, talvez seja os assuntos das postagens. A maioria traz denúncias, seja de violência policial, corrupção, condições precárias em relação ao transporte, saúde e educação, à mídia, ou posts que procuravam motivar as pessoas a lutarem, a participarem das manifestações. Publicações nessa linha foram comuns, mesmo após a revogação do aumento das tarifas em São Paulo e em outras cidades e a derrubada da PEC 37. IMAGEM 5 - Meme postado na página Bueiro Aberto
103
A imagem 5 é um exemplo de meme que conseguiu juntar o humor com a crítica à Fifa, comparando um hot dog, com os estádios construídos com o padrão da federação. Outra postagem de humor é um vídeo do grupo Porta dos Fundos, divulgado pela página Rede Esgoto de Televisão, no dia 27 de junho de 2013, alcançando mais de 23 mil compartilhamentos. O Porta dos Fundos é mais um exemplo de grupo que ficou conhecido pelas redes. Em agosto de 2012 os integrantes divulgaram o primeiro vídeo no Youtube. Em seis meses, o vídeo viralizou na rede alcançando a marca de 30 milhões de visualizações no site de compartilhamentos de vídeos. 4.2 Estratégias de viralização "Todos os dias somos expostos a milhares de informações. Muitas deixamos passar. Algumas, nós lemos. Outras, compartilhamos" (SHIFMAN, 2014, P. 678). Descobrir o que faz um indivíduo compartilhar ou não um conteúdo é algo complexo. No entanto, para que algo viralize na rede é necessário que a mensagem cause algo que toque e faça agir, compartilhando-a para mais pessoas. Shifman cita pesquisa de Katherine e Milkman (2012), que analisaram sete mil artigos do jornal New York Times publicados on line. Eles identificaram quais deles geraram maior engajamento. A partir daí, eles apontam algumas tendências que fazem o conteúdo ser mais compartilhado, o que denominam de 6 Ps (Six Ps, em referência a: 1) positivity and humor; provoking emotions; packaging; prestige; positioning; participation). Os autores identificaram que postagens com teor positivo e bem-humoradas geram mais engajamento, como por exemplo, "um elefante raro dando à luz a gêmeos em um cenário tropical" (SHIFMAN, 2014, p.691). São conteúdos que fazem quem vê a postagem dar um sorriso. Outro ponto é o conteúdo provocar emoções, como exemplos, maravilhas naturais, descobertas científicas e histórias de pessoas que superaram adversidades. O terceiro P refere-se à "embalagem" das publicações, no sentido de que histórias simples e claras se espalham melhor do que complexas. Isso porque facilita o entendimento. Como exemplo, vídeos que resumem problemas complexos ou polêmicos de forma simples e rápida, apresentando solução. Uma quarta característica seria o prestígio. Quanto mais famoso e conhecido é o autor da postagem, maior o número de pessoas que vão querer espalhar o conteúdo. Basta ver como frases atribuídas a autores conhecidos se espalham
104
rapidamente na rede. Por fim, os autores destacam o posicionamento, que significa direcionar a história num espaço e tempo ideal. É importante pensar a localização da mensagem na plataforma de rede social adequada para alcançar os atores certos, como, por exemplo, estratégias de distribuição para selecionar o público-alvo da mensagem: "hubs" (pessoas com alto número de conexões com outros nós) e "bridges" (pessoas que se conectam com outras redes que não estão conectadas) (SHIFMAN, 2014, p. 740). O último P refere-se à participação. Segundo a autora, diz respeito mais para virais de política ou campanhas comerciais. São conteúdos que buscam ativar o engajamento dos internautas. É importante destacar que encontramos essas características em diversos memes e virais de maior engajamento de junho de 2013, analisados neste trabalho. Na imagem 6, por exemplo, o internauta é convidado a curtir. E deu resultado, esse foi o meme mais curtido de toda a nossa análise. Somente na página Inteligente Vida foram quase 309 mil curtidas. O mesmo meme foi replicado na página Admiradores da Rota, onde foram mais 84 mil curtidas. A montagem inclui ainda outros elementos de motivação, destacando que quem está lutando está de parabéns. Essa estratégia positiva também gera uma apropriação e identidade. IMAGEM 6 - Meme mais curtido desta pesquisa busca gerar o engajamento
Mais do que entender por que um conteúdo é viralizado, Shifman ainda nos provoca a
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pensar quando um conteúdo é memetizado. Hoje, já existem uma série de memes de sucesso, e existem inúmeros repositórios na Internet. A autora aponta características bem comuns. Uma é a justaposição de imagens mostrando incongruência entre dois ou mais elementos. Outra é a reapropriação de uma pessoa num cenário original, colocada em outro contexto. É usual também memes que trazem um movimento congelado de uma pessoa em uma determinada atividade, num close. Diversas postagens que apresentaram maior engajamento em junho de 2013, utilizarm o recurso da justaposição de imagens, como as imagens 7 e 8. IMAGEM 7 - Meme faz uma justaposição, comparando o trem bala em Pequim e em Salvador
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IMAGEM 8 - Meme compara escola e estádio
Conforme aponta Shifman, provocar emoção é uma das tendências que levam a um post ser mais compartilhado. No caso de junho de 2013, muitas das postagens mais relevantes reforçavam aspectos negativos do País para gerar indignação e revolta, e assim motivar a lutar. Esse era o principal sentimento, seja nas postagens críticas aos gastos com a Copa das Confederações e Copa do Mundo, que seria realizada no ano seguinte, seja nas críticas à corrupção. Entre as temáticas abordadas nas publicações, das 270 postagens analisadas, apenas 17 não tratavam de nenhum assunto das dez categorias utilizadas para classificação: duas na página #Nãomecalarei em defesa dos partidos políticos; uma postagem da página Maquiavélico é a Mãe, que defende a não violência; duas postagens na página Uma Outra Opinião, sendo que uma é favorável aos partidos políticos e outra traz uma frase do ex-presidente do Uruguai José Mujica; uma na página Anonymous Brasil a favor da Polícia Militar; duas do Partido Comunista Brasileiro pela liberdade dos partidos políticos; e uma na Acorda Meu Povo, contra a desigualdade social. Na página Admiradores Rota, duas postagens exaltam a Polícia Militar. E na página Inteligente Vida, cinco publicações trazem citações positivas.
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Conforme mostramos na tabela 30, as postagens mais relevantes que viralizaram no Facebook trouxeram mensagens motivando as pessoas a irem para as ruas, exaltando a luta por um país melhor, comemorando conquistas como as revogações de aumento na tarifa, derrubada da PEC 37 e fotos dos protestos. Em segundo lugar, críticas a políticos foram bastante recorrentes. Entre os citados, estão: a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula, o deputado federal Marco Feliciano, o governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral, a então governadora do Maranhão Roseana Sarney, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o governador do estado Geraldo Alckmin e Paulo Maluf. Em seguida, aparecem críticas relacionadas à Copa das Confederações, como os gastos com estádios. TABELA 30 - Ranking dos assuntos mais abordados nas postagens mais relevantes de junho de 2013 * 1º
Motivação/convocação para os protestos
89
2º
Crítica a políticos
42
3º
Crítica à realização da Copa das Confederações e grandes eventos
40
4º
Direito à cidade (transportes, educação, saúde)
39
5º
Crítica à violência policial
32
6º
Crítica à mídia tradicional
30
7º
Crítica à corrupção
21
8º
Outros
20
9º
Promoção da página ou coletivo
3
10º
Crítica a partidos políticos
2
* Ranking feito a partir do número de vezes que o assunto apareceu, muitas vezes uma mesma postagem apresenta mais de um assunto.
A análise mostra que as postagens de maior engajamento se deram na segunda fase dos protestos de junho (GOHN, 2014), após o dia 13, quando o impacto das imagens e os relatos da violência policial marcaram uma virada na opinião pública. Isso pode mostrar que houve um crescimento no engajamento durante o mês de junho, indicando que após a segunda fase ele cresceu, ao mesmo tempo em que as manifestações também se ampliaram. E assim como as pautas se dispersaram nas ruas, também se dispersaram nas redes. A temática da reivindicação pela redução do aumento das tarifas deu lugar a outras. A questão do transporte ficou restrita a três páginas: Movimento Passe Livre São Paulos, Se a tarifa aumentar São Paulo vai parar e Fiscalização dos Transportes Públicos RJ. Nota-se ainda que 108
a página do MPL, considerado principal movimento convocador no início dos protestos, ficou na décima posição no ranking geral de engajamento. As outras duas ocuparam 27ª e 17ª respectivamente. 4.3 Nova forma de recepção e ativismo Já apontamos tendências que mostram o que leva uma postagem a ser viralizada nas redes. Um viral pode ou não vir a se tornar um meme, e um meme pode ou não derivar-se de um viral, ou conter parte dele. Shifman (2014) destaca três atributos da viralização de uma postagem: a) o modo de difusão de pessoa para pessoa; b) a velocidade, que foi aprimorada pelas redes sociais digitais; c) o amplo alcance conseguido por múltiplas plataformas de rede. Uma diferença entre memes e virais é a forma de engajamento gerada no receptor. Um viral prevê uma ação passiva, no sentido de que a unidade será repassada adiante. Já um meme supõe que houve um angajemento ativo, que dependeu da ação criativa das pessoas. Como aponta Fontanella (2009), os memes emergem na internet estimulados pelas novas tecnologias de produção e distribuição. É cada vez mais fácil fazer memes, colando imagens, colocando textos sobre elas, e o que mais a imaginação criar. Não é necessário conhecimentos profissionais de softwares como o Photoshop, há uma quantidade enorme de ferramentas disponíveis online. Uma busca no Google 50 das palavras-chave "meme generator" encontrou mais de 5 milhões de resultados. IMAGEM 9 - Resultados de busca por aplicativo para gerar memes
50 Pesquisa realizada no Google em 10 setembro de 2015.
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A lógica dos memes está associada à própria cultura digital contenporânea, onde "a cultura do remix é a peça central do processo criativo contemporâneo, já que as ferramentas tecnológicas disponíveis hoje permitem a qualquer pessoa possibilidades criativas jamais sonhadas" (LEMOS, 2005, p.17). Nesse sentido, vivemos numa cultura do "cortar e colar", criada pela liberdade da internet em encontrar a imagem que desejar em um segundo e conseguir colar em qualquer outra, numa espécie de bricolagem ou "colagem livre" (LESSIG, 2005, p.66). "Estamos criando uma tecnologia que pega a magia da Kodak, mistura com imagens em movimento e som, adiciona espaço para comentários e dá a oportunidade de difundir essa criatividade para qualquer lugar", destaca Lessig (2005, p. 69), que alerta para os perigos que as leis de direitos autorais podem ter ao bloquear essa criatividade. Vale lembrar que a maioria dos memes e virais compartilhados em junho de 2013 foram produzidos a partir de fotografias e imagens provavelmente com direitos autorais. Shifman (2014, p. 1034) ressalta como fazer um meme se tornou incrivelmente simples. E aponta que hoje "as novas mídias transformam práticas ocultas e mundanas (como cantar em frente ao espelho) em uma cultura altamente visível". A autora defende que vivemos uma lógica hipermemética, onde em quase todos os grandes eventos públicos são gerados um enorme fluxo de memes. Vale destacar que a autora apresenta nove gêneros de meme: Reaction Photoshop; Photo Fads; Flash Mob; Lipsynch; Misheard Lyrics; Recut Trailers; Lolcats; Stock Character Macros; Rage Comics. É importante destacar, no entanto, que acreditamos que é impossível limitar a criatividade das redes em nove categorias. Os memes se inovam e renovam a cada dia numa quantidade ilimitada de formas. Fontanella (2009) propõe a utilização do conceito de memesfera, que se aproxima do difundido termo blogosfera. Segundo este autor, a palavra meme é usada hoje de forma coloquial para definir um conjunto bastante heterogêneo de fenômenos. Um meme da internet constitui uma ideia que se espalha de forma viral, caracterizada pela combinação de permanência de um elemento replicador original (a ideia reproduzida) e pela mutação, fruto da seu aproveitamento por diferentes usuários para a criação de novas versões de memes. O meme é o resultado direto da utilização de softwares de edição de imagem, vídeo e texto e da possibilidade de compartilhamento em rede, e frequentemente envolvem a apropriação de um repertório conhecido por um grupo ou comunidade, como eventos com alguma repercussão ou produtos da indústria cultural. (FONTANELLA, 2009)
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Ele volta ao conceito de Richard Dawkins sobre gene para explicar o que um meme deve ter para ser bem-sucedido: fecundidade; longevidade e fidelidade na cópia. Shifman (2014) complementa ainda como essas três propriedades são aprimoradas na Internet. A transmissão online permite uma exatidão de cópia como em nenhuma outra mídia é possível. Em relação à fecundidade, é inegável a facilidade da Internet de difundir uma informação para um grande número de nós. E essas informações podem ser armazenadas indefinidamente em inúmeros arquivos. Em nossa análise pudemos observar que os formatos de postagens que geraram maior engajamento foram imagens meméticas ou virais. Isso pode indicar o crescimento do uso de samartphones. Em junho de 2013, 59,7% dos 76 milhões de usuários ativos no Brasil no Facebook acessavam a rede tanto por computadores, como por dispositivos móveis, segundo dados da empresa51. Portanto imagens com textos curtos onde não se gasta muito tempo para ver parece ser a preferência dos usuários, pelo menos naquele período. Associa-se ainda uma atividade que é constitutiva da Internet: o compartilhamento (SHIFMAN, 2014). Felice (2011, on line) aponta que vivemos hoje numa nova forma de interação, consequência da inovação tecnológica "que altera o modo de comunicar e seus significados, estimulando, ao mesmo tempo, inéditas práticas interativas entre nós e as tecnologias de informação". Para ele, os protestos realizados em diversos países do mundo organizados essencialmente pela Internet e suas plataformas de redes sociais digitais exprimem uma experiência de cidadania tecnológica e de um tipo de ação social informativa realizada por um tecnoator. Felice utiliza o termo net-ativismo para explicar essa nova forma intensiva de interação na rede, entre indivíduos, territórios e tecnologias digitais. Para os movimentos sociais, essa nova forma de interação permite impulsionar a ação e organização. Os movimentos têm em mãos a possibilidade de alcance muito grande se conseguirem utilizar recursos meméticos e virais para as suas causas, somando ativistas digitais que podem compartilhar seus slogans e bandeiras. Ser ativista hoje é fazer “qualquer ação positiva (fazer algo) que tenha implicações concretas, e geralmente imediatas, sobre seus alvos” (ASSIS, 2006 p. 14).
O ativismo de hoje é fruto da confluência de tradições distintas de mobilização política que assume múltiplas expressões, desde as lutas do movimento operário 51 http://www1.folha.uol.com.br/tec/2013/08/1326267-brasil-chega-a-76-milhoes-de-usuarios-no-facebook-mai s-da-metade-acessa-do-celular.shtml Acesso em 1 novembro 2015
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comunista ou anarquista do final do século XIX até o ciberativismo e o uso sistemático da internet e das tecnologias da comunicação como ambiente e instrumento da mobilização, representado pelas manifestações recentes no Egito, Portugal, Grécia, Chile, Tunísia, Síria, Ucrânia e Palestina, os “indignados” da Espanha, o fenômeno “Occupy Wall Street”, Occupy Gezi Parki na Turquia e as Jornadas de Junho no Brasil. (Ativismo no Contexto Urbano: Diagnóstico para Atuação nas Cidades de Escola de Ativismo, 2014, on line)
4.4 Comportamentos dos actantes Em
nossa análise consideramos três atividades fundamentais propiciadas pelo
Facebook: curtir, compartilhar e comentar. Nas redes sociais, uma curtida e um compartilhamento têm significados diferentes. Em geral, o número de pessoas dispostas a curtir uma postagem é bem superior ao de pessoas dispostas a compartilhá-la (ROVAI, SILVEIRA, 2015). "O compartilhamento traz o meme, a foto, o texto para a página do compartilhador e significa um compromisso mais forte, representando quase que sempre uma adesão à ideia ou mensagem contida na postagem. (Ibidem, on line). Nas postagens analisadas, a maioria teve maior número de compartilhamentos do que curtidas
e
comentários,
exceto
as
páginas:
AnonymousBR,
Anonymous
Rio,
AnonymousBrasil e Movimento Passe Livre São Paulo. Isso indica a disposição dos actantes em aderir a ideia e repassá-la adiante. A única página que conseguiu um elevado número em comentários foi a AnonymousBrasil, em postagens que fizeram perguntas aos usuários. Identificamos ainda que a maioria das postagens que geraram maior engajamento no período traziam como temática a motivação aos protestos ou a convocação para os mesmos. Essas postagens vão desde fotos que mostravam a força das manifestações, seja por estarem lotadas, ou participantes segurando cartazes, até montagens com fotos e frases incentivando a participação ou exaltando os protestos. Seguindo a argumentação de Rovai e Silveira (2015), isso pode explicar o número de compartilhamentos maior do que o de curtidas, pois há uma tendência em compartilhar mensagens positivas.
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CAPÍTULO 5 5.1 Considerações finais Esta pesquisa mostrou que existe um novo ecossistema informacional, conforme aponta Castells (2013), Jenkins (2008), entre outros. A partir da análise das postagens que geraram maior engajamento nas páginas analisadas, identificamos como as plataformas de redes sociais propiciaram o surgimento de novos atores e novas formas de interação e ativismo. E como essas modificações transformaram as dinâmicas dos movimentos sociais e suas formas de organização, que produziram grandes manifestações, como a de junho de 2013 no Brasil. Aqui foi realizado um breve histórico de como as novas tecnologias de comunicação e informação vêm permitindo que cidadãos comuns sejam ao mesmo tempo receptores e emissores de informação. E como essas novas formas de interação foram fundamentais para o surgimento de grandes mobilizações em várias partes do mundo, denominadas de "ciberturbas" (UGARTE, 2008) ou movimentos dos indignados (CASTELLS, 2013). Com nossa análise, pudemos demonstrar como ocorre esse novo ativismo, chamado de microativismo por alguns autores, como Margetts et al (2012), que facilitam o compartilhamento de postagens, sejam memes ou virais, que disputam narrativas com os meios de comunicação tradicionais. Apontamos ainda como esse novo ativismo está representado de forma mais ativa, na medida em que imagens e vídeos são remixados, copiados e transformados em memes, ou de forma mais passiva, quando são apenas repassados pelos usuários a suas redes (SHIFMAN, 2014). As transmissões via streaming diretamente das manifestações também foram fundamentais e fizeram surgir o que Bentes (2014) conceituou como uma mídia-multidão, que utiliza a câmera como ferramenta para vigiar e denunciar o inimigo. Neste caso, representado pela policia, que, ao entrar em confronto com os manifestantes garantiu ainda maior divulgação dos acontecimentos. Neste quesito, vale destacar que num primeiro momento, a mídia tradicional defendeu a repressão contra "os vândalos". E que esses mesmos veículos posteriormente mudaram de opinião impactados pelas narrativas das redes sociais digitais e sua repercussão na opinião pública.
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Diferenciamos os movimentos, entre "novos movimentos sociais" e os "novíssimos" (JURIS et al., 2004). E a partir da análise das páginas, identificamos a geração de "flash campaings", como definiu Carty (2015), em junho de 2013. Também demonstramos como as plataformas, como o Facebook, ampliaram o alcance das pautas dos manifestantes e das convocações para os protestos. Identificamos ainda como a questão dos problemas urbanos e suas consequências são mobilizadoras, podendo ser combustíveis para o início de protestos, fruto inclusive das desigualdades sociais presentes nas chamadas cidades globais (HARVEY, 2013). De certa forma, o que ocorreu no Brasil em junho de 2013 já havia acontecido dias antes na Turquia, quando o Parque Taskim Gezi tornou-se o pivô de grandes protestos. E tanto no Brasil como na Turquia, as redes sociais digitais foram fundamentais para as mobilizações ganharem as ruas. Como aponta Margetts et al. (2012), grande parte das ações coletivas hoje em prol de diferentes causas são organizadas online. No Brasil, o aumento das tarifas levou milhões às ruas em mais de cem cidades, mas a redução da tarifa deu espaço para outras pautas, como a contrária à PEC 37, os gastos com os estádios da Copa do Mundo, à corrupção e principalmente se concentrou na crítica a políticos e a partidos. A mídia tradicional também foi alvo de críticas e de protestos, sendo o sexto assunto mais abordado nas postagens. Ou seja, apesar de a mídia tradicional ter buscado abraçar as pautas das ruas e de certa forma ter conseguido capturar, a partir de sua cobertura, parte das mobilizações, não conseguiu se blindar dos protestos. A análise dos dados apresentados permitem dizer que as postagens de maior engajamento no período não questionavam o sistema econômico, a proeminência do capital financeiro ou a relação capital-trabalho, pautas clássicas dos movimentos sociais tradicionais. E que nossa classificação de nove temáticas foi suficiente para abarcar praticamente todas as postagens analisadas. Também demonstramos como as postagens de maior engajamento no período analisado compreendem memes e virais, coroborando o que afirma Shifman (2014), que os memes são uma importante forma de expressar opiniões políticas. Confirmamos ainda como a lógica distribuída das redes permitiu a existência de páginas que se tornaram autoridades imediatas ao terem seus conteúdos compartilhados por milhares de perfis. Elas funcionam como veículos de transmissão de memes e virais, que, inclusive, não necessariamente foram produzidos pelas próprias páginas, mas compartilhados da rede, de autores desconhecidos. Memes e virais constituíram-se num novo formato de conteúdo disseminado nas
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redes sociais, principalmente o Facebook, que facilitou a guerra memética em junho de 2013. Abordamos ainda como os memes já eram utilizados na política antes daquele mês, como na campanha eleitoral do ano anterior no Brasil e internacionalmente na campanha presidencial norte-americana de 2008. Também apontamos como o Facebook filtra a circulação dos conteúdos orgânicos, funcionando como mediador. Ou seja, postagens pagas podem aparecer mais na rede. Isso já mostra que o Facebook não é uma plataforma neutra de debates políticos. Os algoritmos diminuem cada vez mais o alcance orgânico dos posts, demonstrando que a plataforma é um espaço mercantilizado. Pelas mudanças que o Facebook vem implantando, será cada vez mais difícil conseguir o alcance que as principais páginas de junho de 2013 tiveram de forma orgânica. Concluímos, após analisar as 27 páginas e seus memes e virais, que mais do que convocar as manifestações, o Facebook foi utilizado para motivar que elas continuassem ocorrendo. 5.2 Vigilância e controle: abordagens futuras Embora não faça parte do escopo deste trabalho, é preciso constextualizar que, apesar da facilidade e liberdade individual de compartilhar conteúdos, a internet é um espaço de controle (SILVEIRA, 2010). Trata-se de uma das características fundamentais da sociedade contemporânea (DELEUZE, 1992). Talvez a maior expressão da sociedade de controle, aquela que, segundo Deleuze, seguindo a periodização histórica foucaultiana, suplantaria a lógica e a dinâmica das sociedades disciplinares, construções sociais fundamentais do mundo industrial. No contexto disciplinar o corpo deve ser moldado, no cenário de controle, os corpos precisam ser livres para que possam ser modulados. As sociedades disciplinares exigem limites claros dos espaços físicos, as sociedades de controle não se importam com a dispersão espacial, com a liberdade de movimento, elas buscam nos viventes a captação de suas necessidades de redução das incertezas. Esta busca tipicamente informacional requer conectividade, portanto, exige acesso e presença na rede. A existência na rede só é possível aceitando seus protocolos, portanto, o seu controle. (SILVEIRA, 2010, ON LINE).
Enquanto Michel Foucault, nos anos 1960, lançou o paradigma da sociedade disciplinar, onde a vida social passa a ser vigiada, controlada, normatizada e punida, Deleuze (1992) trouxe uma nova forma de poder. Isso não significa que os dispositivos disciplinares deixaram de atuar, mas que o modelo panóptico de Jeremy Bentham passou a fluir em todo 115
tecido social, por redes flexíveis e moduláveis. Os mecanismos de comando se tornam mais “democráticos", e o poder “é exercido mediante máquinas que organizam diretamente o cérebro (em sistemas de comunicação, redes de informação etc.)” (HARDT, NEGRI, 2001, p. 42). Trata-se da mão invisível do ciberespaço que está construindo uma arquitetura completamente oposta da arquitetura de seu nascimento (LESSIG, 2006, p.4). Para este autor, é preciso garantir que as liberdades essenciais sejam preservadas neste ambiente de perfeito controle que se tornou o ciberespaço, e, principalmente, o Facebook, na medida em que vincula as informações dos usuários em seu próprio banco de dados e apresenta um grande poder de mediação das conexões realizadas na internet. Berners-Lee, considerado o criador da World Wide Web, escreveu, em 2011, que a internet, como a conhecemos hoje está ameaçada. Uma das ameaças seria justamente grandes sites de redes sociais que isolaram as informações postadas por seus usuários do restante da web. Além disso, ele aponta também as tentativas de provedores de internet sem fio que tentam retardar o tráfego de sites com os quais não mantêm acordos e governos ̶ totalitários e democráticos
̶ que monitoram as pessoas, colocando em risco importantes conquistas na
área dos direitos humanos (BERNERS-LEE, 2011, online). Para garantir a web como a conhecemos, Berners-Lee sugere princípios fundamentais: a universalidade e o design. Isso permitiria que qualquer link criado por qualquer pessoa possa funcionar independente do formato de informação (documentos ou dados). Várias ameaças à universalidade da web surgiram recentemente. As empresas de TV a cabo, que também vendem conexão à internet, estão pensando em restringir os downloads apenas ao seu próprio mix de entretenimento. As redes sociais apresentam outro tipo de problema: Facebook, LinkedIn, Friendster e outros sites de relacionamento em geral adicionam valor via informações capturadas quando você entra nos sites – o dia do seu aniversário, seu endereço de e-mail, seus gostos e seus amigos (revelados por links e fotos). Essas redes reúnem os dados em brilhantes databases e utilizam as informações para fornecer serviços de valor agregado – mas apenas dentro dos próprios sites. Se você entrar com seus dados em um desses serviços, não poderá usá-los facilmente em outro site. Cada um é um silo isolado dos outros. Sim, as páginas do seu site estão na web, mas não os seus dados. Você pode acessar uma página com uma lista de pessoas que criou em um site, mas não pode enviar essa lista, ou itens dela, para outro site. (...) O perigo disso é que um site de relacionamento social – ou um portal de busca, ou um navegador – cresce tanto que se torna um monopólio, limitando as inovações. Como acontece desde o início da web, a melhor defesa contra empresas ou governos que tentam “minar” a universalidade são as contínuas inovações criadas pelos próprios internautas. (BERNERS-LEE, 2011, on line)
Conforme apontam Jarrah et al (2012), embora a internet opere numa lógica de redes
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distribuídas, o Facebook como instituição possui características centralizadoras e verticalizadas. As decisões sobre a plataforma são deliberadas pelo conselho administrativo da empresa. Aos usuários da rede cabe criar e produzir valor, na medida em que o Facebook vincula cada vez mais informações dos internautas ao seu banco de dados. O sucesso econômico da empresa é produzido pelos próprios usuários. A plataforma ainda almeja conquistar o máximo de usuários e dados para o seu banco, atingindo a totalidade da internet. A plataforma também desempenha funções de mediação de conteúdos, sendo que "caso alguém queira que um post seja visto por todos os seus amigos e seguidores no Facebook, deve comprar tais visualizações (ROVAI, SILVEIRA, 2015). A plataforma permite fazer anúncios pagos de conteúdos. Com restrições impostas pela plataforma, depois de 2013, quem não tem muitos fãs e seguidores só consegue crescer pagando, a não ser que a causa seja capaz de gerar muita adesão e engajamento rapidamente. "O modelo de negócios do Facebook agigantou a verticalização das campanhas, recolocando o enorme poder do dinheiro e da publicidade paga na comunicação política em rede" (ROVAI, SILVEIRA, 2015, online). Embora os autores abordem as campanhas eleitorais, a afirmação pode ser trazida para outras áreas, como as causas e convocações de movimentos sociais e ativistas. Outro fator que pode influenciar nas mobilizações é que os algotitmos do Facebook somados ao comportamento dos próprios usuários da rede fazem com que sejam criadas bolhas ideológicas. É o que mostrou estudo de Bakshy, Messig e Adamic (2015). Os pesquisadores analisaram 10 milhões de perfis dos Estados Unidos, e concluíram que não há muita diversidade ideológica no mural dos usuários, o que, segundo eles, reflete um comportamento off-line. Vale destacar ainda que no final de 2014, o próprio Facebook admitiu que fez intervenções em 700 mil perfis "para que pudessem ver menos publicações tristes (com palavras negativas) ou felizes (com palavras positivas) de seus amigos"52. O objetivo era verificar se ao longo do tempo isto fazia com que os usuários mostrassem a influência positiva ou negativa nas coisas que escreviam. Matérias sobre a "manipulação" gerou indignação e, por conta da repercussão, o Facebook teve que pedir desculpas. Portanto, as mobilizações futuras poderão apresentar traços diferentes das de junho de 2013. Com essa nova configuração do Facebook, que prioriza os conteúdos pagos, 52 Disponível em: http://brasil.elpais.com/brasil/2014/06/30/tecnologia/1404108700_038585.html Acesso em 30 ago. 2015
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restringindo o alcance orgânico, o número de autoridades poderá ficar restrito às páginas que puderem desembolsar recursos. Para os movimentos sociais e ativistas, ainda há a preocupação da privacidade e a censura. A plataforma retira conteúdos de acordo com seus próprios critérios. "As práticas de censura adotadas pelo Facebook podem ter assumido caráter aberto de controle político", escreveu Martins (2015, online), após a plataforma retirar do ar texto de Patrick Cockburn, publicado no site Outras Palavras, que apontava responsabilidade dos EUA na origem da onda de refugiados que chega à Europa. A privacidade dos dados vem sendo debatida, principalmente após denúncias de Edward Snowden, ex- aanalista da Agência de Segurança Nacional (NSA), sobre violações à privacidade na internet e o programa de espionagem global dos Estados Unidos. Essa preocupação já vem sendo alertada desde o final dos anos 1980, quando surgiram os primeiros cypherpunks. Em 1993, o Manifesto Cypherpunk, escrito por Eric Hughes, já dizia que não se podia esperar que governos e corporações garantissem privacidade por caridade. Por isso, propunha um sistema anônimo onde as pessoas só revelassem sua identidade quando necessário. A criptografia seria a chave para a defesa da privacidade na internet. Hoje a questão da privacidade é uma ameaça para ativistas e movimentso sociais. Sobre pretexto de combate ao terrorismo e outros crimes, são recorrentes as tentativas de acesso aos dados de usuários. Até o fechamento desta pesquisa, por exemplo, tramitava na Câmara dos Deputados no Brasil, o Projeto de Lei (PL) 215/2015, que busca possibilitar que qualquer policial, mesmo sem autorização da Justiça, possa ter acesso aos dados pessoais e de navegação dos internautas. E, ainda, aumenta em até cinco vezes as penas para crimes contra a honra (injúria, calúnia e difamação) cometidos na internet. A internet, nossa maior ferramenta de emancipação, está sendo transformada no mais perigoso facilitador do totalitarismo que já vimos. A internet é uma ameaça à civilização humana. Essas transformações vêm ocorrendo em silêncio, porque aqueles que sabem o que está acontecendo trabalham na indústria da vigilância global e não têm nenhum incentivo para falar abertamente. Se nada for feito, em poucos anos a civilização global se transformará em uma distopia da vigilância pós-moderna, da qual só os mais habilidosos conseguirão escapar. Na verdade, pode ser que isso já esteja acontecendo. (ASSANGE, 2013, p.17)
Diante desse cenário, esta pesquisa deixa contribuições sobre as novas formas de ativismo e as recentes mobilizações organizadas por meio da internet, principalmente suas redes sociais digitais. E aponta possíveis caminhos para futuras abordagens sobre como se
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darão as próximas revoltas, considerando questões sobre o controle, vigilância e a hegemonia ou não do Facebook. Vale lembrar que novas plataformas surgem a cada dia, trazendo mais complexidades. Em 2014, por exemplo, a atividade de comunicação mais realizada pelos internautas brasileiros, segundo a pesquisa53 do Comitê Gestor da Internet, foi o envio de mensagens instantâneas, em chats e em grupos de Whatsapp, que envolveu 83% dos brasileiros conectados. Isso mostra que o Facebook como plataforma poderá perder espaço no País, mas não como empresa. O Facebook já comprou o Whatsapp e o Instagram e está entre as dez maiores empresas do mundo, segundo índice Standard & Poor's 500, com valor de mercado superior a US$ 250 bilhões.
53 A pesquisa pode ser acessada no link: http://cetic.br/tics/usuarios/2014/total-brasil/C5/
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ANEXOS (PRINTS E LINKS DAS POSTAGENS ANALISADAS)
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1 INTELIGENTE VIDA 1º - https://www.facebook.com/100407896713917/posts/474330552654981?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/100407896713917/posts/473638086057561?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/100407896713917/posts/10151416787931160?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/100407896713917/posts/477825292305507?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/100407896713917/posts/474772789277424?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/100407896713917/posts/478030868951616?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/100407896713917/posts/472086172879419?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/100407896713917/posts/467426923345344?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/100407896713917/posts/478991785522191?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/100407896713917/posts/478805458874157?_rdr=p
2 MOVIMENTO CONTRA CORRUPÇÃO 1º - https://www.facebook.com/254329351346007/posts/395739273871680?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/254329351346007/posts/396836897095251?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/254329351346007/posts/395995620512712?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/254329351346007/posts/396338490478425?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/254329351346007/posts/397328223712785?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/254329351346007/posts/397302083715399?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/254329351346007/posts/396766340435640?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/254329351346007/posts/397183210393953?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/254329351346007/posts/397269953718612?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/254329351346007/posts/397178830394391?_rdr=p
3 ADMIRADORES ROTA 1º - https://www.facebook.com/142467302540084/posts/394063790713766?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/142467302540084/posts/390706794382799?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/142467302540084/posts/390585617728250?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/142467302540084/posts/391893250930820?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/142467302540084/posts/391596944293784?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/142467302540084/posts/398320920288053?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/142467302540084/posts/392379077548904?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/142467302540084/posts/391114404342038?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/142467302540084/posts/392596990860446?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/142467302540084/posts/393598077427004?_rdr=p
4 ANONYMOUSBRASIL 1º - https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil/posts/483834145036475
2º https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil/photos/a.332941190125772.79747.332934666793091/482066748546548/? type=3&theater
3º https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil/photos/a.332941190125772.79747.332934666793091/475938232492733/? type=3&theater
4º - https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil/posts/480919425327947
5º https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil/photos/a.332941190125772.79747.332934666793091/478432688909954/? type=3&theater
6º https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil/photos/a.332941190125772.79747.332934666793091/475053175914572/? type=3&theater
7º https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil/photos/a.332941190125772.79747.332934666793091/482220901864466/? type=3&theater
8º https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil/photos/a.332941190125772.79747.332934666793091/477001382386418/? type=3&theater
9º - https://www.facebook.com/media/set/?set=a.477589485660941.1073741833.332934666793091&type=3
10º - https://www.facebook.com/AnonymousBr4sil/posts/479418845478005:0
5 A VERDADE NUA & CRUA 1º - https://www.facebook.com/277043692413461/posts/395463403904822?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/277043692413461/posts/396566427127853?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/277043692413461/posts/395277617256734?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/277043692413461/posts/397141027070393?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/277043692413461/posts/395857283865434?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/277043692413461/posts/396584053792757?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/27703692413461/posts/396663097118186?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/277043692413461/posts/395730623878100?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/277043692413461/posts/396003043850858?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/277043692413461/posts/396577737126722?_rdr=p
6 MAQUIAVÉLICO É A MÃE 1º - https://www.facebook.com/280802145364201/posts/389855731125508?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/280802145364201/posts/392515510859530?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/280802145364201/posts/393757254068689?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/280802145364201/posts/394891660621915?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/280802145364201/posts/392115264232888?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/280802145364201/posts/391371244307290?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/280802145364201/posts/390161911094890?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/280802145364201/posts/390195251091556?_rdr=p
9 - https://www.facebook.com/280802145364201/posts/382771141833967?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/280802145364201/posts/387984431312638?_rdr=p
7 REDE ESGOTO DE TELEVISÃO 1º - http://facebook.com/298280080217390/posts/598374443541284
2º - http://facebook.com/298280080217390/posts/598702570175138
3º - https://www.facebook.com/298280080217390/posts/599697870075608?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/298280080217390/posts/599697740075621?_rdr=p
5º - http://facebook.com/298280080217390/posts/597704450274950
6º - https://www.facebook.com/298280080217390/posts/122745737936723?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/298280080217390/posts/599551693423559?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/298280080217390/posts/597201623658566?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/298280080217390/posts/598586030186792?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/298280080217390/posts/598345723544156?_rdr=p
ANONYMOUS BRASIL 1º - https://www.facebook.com/276935342355328/posts/516395918409268?_rdr=p
2º -
https://www.facebook.com/276935342355328/posts/515981571784036?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/276935342355328/posts/518603934855133?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/276935342355328/posts/518938101488383?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/276935342355328/posts/517066625008864?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/276935342355328/posts/517066625008864?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/276935342355328/posts/516206271761566?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/276935342355328/posts/517519711630222?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/276935342355328/posts/519041351478058?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/276935342355328/posts/516008018448058?_rdr=p
9 PUTA 1º - https://www.facebook.com/249780145059261/posts/533036633400276?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/249780145059261/posts/533920156645257?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/249780145059261/posts/533888546648418?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/249780145059261/posts/534156166621656?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/249780145059261/posts/533691803334759?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/249780145059261/posts/533240456713227?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/249780145059261/posts/534720229898583?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/249780145059261/posts/535012979869308?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/249780145059261/posts/534640603239879?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/249780145059261/posts/533926826644590?_rdr=p
10 PASSE LIVRE SÃO PAULO 1º https://www.facebook.com/passelivresp/photos/a.532772476779008.1073741837.176309402425319/5327725 06779005/?type=3&theater
2º https://www.facebook.com/passelivresp/photos/a.176327119090214.45137.176309402425319/531745216881 734/?type=3&theater
3º https://www.facebook.com/passelivresp/photos/a.176327119090214.45137.176309402425319/531850730204 516/?type=3&theater
4º https://www.facebook.com/passelivresp/photos/a.176327119090214.45137.176309402425319/532578693465 053/?type=3&theater
5º https://www.facebook.com/passelivresp/photos/a.176327119090214.45137.176309402425319/530523537003 902/?type=3&theater
6º https://www.facebook.com/passelivresp/photos/a.176327119090214.45137.176309402425319/531730556883 200/?type=3&theater
7º https://www.facebook.com/notes/passe-livre-s%C3%A3o-paulo/nota-n%C2%BA9-nota-p %C3%BAblica-sobre-as-declara%C3%A7%C3%B5es-do-prefeito/532602840129305
8º https://www.facebook.com/passelivresp/photos/a.176327119090214.45137.176309402425319/533409616715 294/?type=3&theater
9º https://www.facebook.com/passelivresp/photos/a.176327119090214.45137.176309402425319/531742673548 655/?type=3&theater
10º https://www.facebook.com/passelivresp/photos/a.323092204413704.74791.176309402425319/527428733980 049/?type=3&theater
11 BUEIRO ABERTO 1º - https://www.facebook.com/495400383805382/posts/632135293465223?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/495400383805382/posts/633643116647774?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/495400383805382/posts/634055296606556?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/495400383805382/posts/633941359951283?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/495400383805382/posts/635749589770460?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/495400383805382/posts/634812746530811?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/495400383805382/posts/631434650201954?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/495400383805382/posts/632053033473449?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/495400383805382/posts/633125963366156?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/495400383805382/posts/635789683099784?_rdr=p
12 PLÍNIO COMENTA 1º - https://www.facebook.com/463308313691553/posts/581381935217523?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/463308313691553/posts/585031161519267?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/463308313691553/posts/587381727950877?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/463308313691553/posts/585154118173638?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/463308313691553/posts/583331451689238?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/463308313691553/posts/587347581287625?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/463308313691553/posts/583630651659318?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/463308313691553/posts/580326808656369?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/463308313691553/posts/584760798212970?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/463308313691553/posts/583041791718204?_rdr=p
13 ANON H4 1º - https://www.facebook.com/387514937981032/posts/527688293963695?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/387514937981032/posts/522045684527956?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/387514937981032/posts/531117853620739?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/387514937981032/posts/527221927343665?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/387514937981032/posts/531742956891562?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/387514937981032/posts/528373740561817?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/387514937981032/posts/527092160689975?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/387514937981032/posts/528859687179889?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/387514937981032/posts/529434423789082?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/387514937981032/posts/530955833636941?_rdr=p
14 UMA OUTRA OPINIÃO 1º - https://www.facebook.com/273656889336340/posts/535716449797048?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/273656889336340/posts/536483633053663?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/273656889336340/posts/536491493052877?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/273656889336340/posts/536162786419081?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/273656889336340/posts/533801779988515?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/273656889336340/posts/536493149719378?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/273656889336340/posts/538612026174157?_rdr=p
8º https://www.facebook.com/273656889336340/posts/533644966670863?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/273656889336340/posts/541347325900627?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/273656889336340/posts/537933599575333?_rdr=p
15 ANONYMOUS RIO 1º - https://www.facebook.com/231139103603112/posts/567435689973450?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/231139103603112/posts/567357803314572?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/231139103603112/posts/567191363331216?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/231139103603112/posts/567500556633630?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/231139103603112/posts/566982873352065?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/231139103603112/posts/566146203435732?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/231139103603112/posts/566417703408582?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/231139103603112/posts/567498656633820?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/231139103603112/posts/566193590097660?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/231139103603112/posts/566606106723075?_rdr=p
16 NINJA 1º https://www.facebook.com/midiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/194833 024008184/?type=3&theater
2º https://www.facebook.com/midiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/194793 694012117/?type=3&theater
3º https://www.facebook.com/midiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/194824 604009026/?type=3&theater
4º https://www.facebook.com/midiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/197812 667043553/?type=3&theater
5º https://www.facebook.com/midiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/193905 817434238/?type=3&theater
6º https://www.facebook.com/midiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/195170 787307741/?type=3&theater
7º https://www.facebook.com/midiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/194834 807341339/?type=3&theater
8º https://www.facebook.com/midiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/193138 394177647/?type=3&theater
9º https://www.facebook.com/midiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/195180 310640122/?type=3&theater
10º https://www.facebook.com/midiaNINJA/photos/a.164308700393950.1073741828.164188247072662/192042 330953920/?type=3&theater
17 Fiscalização Popular dos Transportes Públicos RJ 1º - https://www.facebook.com/462419097156748/posts/519928604739130?_rdr=p
2º https://www.facebook.com/462419097156748/posts/523422121056445?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/462419097156748/posts/521806381218019?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/462419097156748/posts/521023984629592?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/462419097156748/posts/523362047729119?_rdr=p
6º https://www.facebook.com/462419097156748/posts/520944624637528?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/462419097156748/posts/525356067529717?_rdr=p
8º https://www.facebook.com/462419097156748/posts/522619617803362?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/462419097156748/posts/520742804657710?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/462419097156748/posts/516878045044186?_rdr=p
18 ANONYMOUSBR 1º - https://www.facebook.com/153985948047112/posts/398255433620161?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/153985948047112/posts/398064373639267?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/153985948047112/posts/397020587076979?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/153985948047112/posts/397675010344870?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/153985948047112/posts/398257806953257?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/153985948047112/posts/397254390386932?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/153985948047112/posts/398270560285315?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/153985948047112/posts/397338907045147?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/153985948047112/posts/397069557072082?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/153985948047112/posts/397203533725351?_rdr=p
19 GERAÇÃO INVENCÍVEL 1º - https://www.facebook.com/521551221207650/posts/658910410805063?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/521551221207650/posts/658356107527160?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/521551221207650/posts/659868520709252?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/521551221207650/posts/660730933956344?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/521551221207650/posts/658924774136960?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/521551221207650/posts/660690457293725?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/521551221207650/posts/660541090641995?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/521551221207650/posts/659387874090650?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/521551221207650/posts/660590203970417?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/521551221207650/posts/659325400763564?_rdr=p
20 OCCUPY BRAZIL 1º - https://www.facebook.com/159576054131757/posts/476867499069276?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/159576054131757/posts/475538302535529?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/159576054131757/posts/475085152580844?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/159576054131757/posts/474633659292660?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/159576054131757/posts/477212432368116?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/159576054131757/posts/478653958890630?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/159576054131757/posts/474937722595587?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/159576054131757/posts/475587562530603?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/159576054131757/posts/475605085862184?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/159576054131757/posts/476280212461338?_rdr=p
21 JUNTOS 1º - https://www.facebook.com/217431648269656/posts/632920360054114?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/217431648269656/posts/637028689643281?_rdr=p
3º - https://www.facebook.com/217431648269656/posts/632415500104600?_rdr=p
4º - https://www.facebook.com/217431648269656/posts/636148439731306?_rdr=p
5º - https://www.facebook.com/217431648269656/posts/632314576781359?_rdr=p
6º - https://www.facebook.com/217431648269656/posts/632720330074117?_rdr=p
7º - https://www.facebook.com/217431648269656/posts/632003450145805?_rdr=p
8º - https://www.facebook.com/217431648269656/posts/635905799755570?_rdr=p
9º - https://www.facebook.com/217431648269656/posts/635940276418789?_rdr=p
10º - https://www.facebook.com/217431648269656/posts/638666512812832?_rdr=p
22 ANOOPSBRAZIL 1º - https://www.facebook.com/244582758948791/posts/504474899626241?_rdr=p
2º - https://www.facebook.com/244582758948791/posts/504939456246452?_rdr=p
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23 #NÃOMECALAREI 1º - http://facebook.com/328299340532217/posts/646627785366036
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24 MANIFESTO POA 1º - https://www.facebook.com/374151102658103/posts/492623024144243?_rdr=p
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25 ACORDA MEU POVO 1º - https://www.facebook.com/405398299537344/posts/489806854429821?_rdr=p
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26 PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO 1º - https://www.facebook.com/200234660093102/posts/394142884035611?_rdr=p
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27 SE A TARIFA AUMENTAR SÃO PAULO VAI PARAR 1º - https://www.facebook.com/581033701928743/posts/474831762598995?_rdr=p
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