Internet e Movimentos Sociais: um estudo de caso sobre o ativismo do Movimento Passe Livre no facebook durante os protestos de junho de 2013

May 28, 2017 | Autor: Marianne Malini | Categoria: Movimentos sociais, Ciberativismo, Junho 2013, Movimento Passe Livre
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Internet e Movimentos Sociais: um estudo de caso sobre o ativismo do Movimento Passe Livre no facebook durante os protestos de junho de 20131 Marianne MALINI2 Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES Resumo Este artigo busca analisar o conteúdo textual das postagens presentes na página do facebook do Movimento Passe Livre de São Paulo (MPL-SP), durante as manifestações contra o aumento da tarifa de transportes públicos, ocorridas em junho de 2013, na capital paulista. O intuito é compreender de que maneira a apropriação das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) pelo movimento impactou seus padrões de ação coletiva. Para tanto, foi aplicado método de análise de conteúdo às postagens, sendo identificados os temas abordados e ações do movimento no ambiente online. Este estudo compreende os primeiros resultados de uma análise maior sobre o ciberativismo do MPLSP em junho de 2013, que ainda encontra-se em andamento. Palavras-chave: internet; ciberativismo; movimentos sociais. 1. Introdução Os últimos anos, sobretudo a partir da década 1990, foram marcados por profundas mudanças nas dinâmicas dos movimentos sociais no mundo. A adesão de novas Tecnologias de Informação e Comunicação (nTIC's) por eles fez emergir formas de ação coletiva inéditas, como o ciberativismo ou também denominado ativismo online. O ciberativismo é pautado nas interações produzidas em rede e intermediadas por mídias digitais conectadas à internet. Possui os blogs, microblogs ou sites de redes de relacionamento como os principais recursos táticos na construção de objetivos comuns, processos mobilizatórios e organização de ações coletivas. É um ativismo constituído por autonarrativas, viralizadas nas redes sociais, que oferecem fonte alternativa de informação de fatos, muitas vezes narrados em tempo real, e que difundem as ações de movimentos sociais para além de suas fronteiras locais. No Brasil, práticas ciberativistas têm sido frequentes, sobretudo a partir dos protestos ocorridos em junho de 2013. Estes, além de marcarem a história política do país, somando1

Trabalho apresentado no GP Comunicação Multimídia do XVI Encontro dos Grupos de Pesquisa em Comunicação, evento componente do XXXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Este artigo foi realizado através dos primeiros resultados da minha dissertação de mestrado, ainda em curso. Esta é financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Espírito Santo. 2 Mestranda no Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Pesquisadora do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic). Email:[email protected]

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se a outros dois grandes ciclos de protestos ocorridos anteriormente (diretas já e Fora Collor), também romperam um longo período de ausência de práticas de participação direta, protagonizada pela sociedade civil. Os protestos de junho tiveram sua origem nas manifestações contra o aumento da tarifa de transportes, desencadeadas pelo Movimento Passe Livre de São Paulo (MPL-SP), que teve as redes sociais como sua forte aliada para organização, mobilização e divulgação de fatos ocorridos. Internet e Rua se entrelaçam configurando novos padrões comunicacionais, permitiram uma ampliação de leque de repertórios e de performances em ações coletivas e consolidaram o ciberespaço como ambiente de luta de multidões. Sobre esse contexto de protestos no Brasil que este artigo se debruça e tem a intenção de analisar os discursos narrativos do Movimento Passe Livres de São Paulo (MPL-SP), no facebook, durante junho de 2013. Para tanto, foi aplicado o método de análise de conteúdo em posts publicados pelo MPL-SP em sua página no facebook, entre o período de 01 e 30 de junho de 2013. A análise de conteúdo é um importante método para a compreensão dos temas abordados em textos, onde se busca compreendê-los de forma objetiva, sistematizada e quantitativa. Além disso, é um método que permite ao pesquisador realizar inferências analíticas. Ao total foram analisados 240 posts publicados pelos administradores da página do MPL-SP, sendo todos coletados por meio do aplicativo Netvizz. É importante dizer ainda que este trabalho foi realizado no ambiente do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura, do Departamento de Comunicação Social, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Este artigo abarcará os primeiros resultados desse processo de análise, sendo organizado em três seções. A primeira delas irá realizar um breve debate entorno da apropriação das nTIC’s pelos movimentos sociais, e o surgimento, dentre outros elementos, de formas inéditas de participação política (ciberativismo) e de sociabilidade (cibercultura). Posteriormente, serão abordados os principais marcos históricos do contexto de junho, estritamente relacionado às mobilizações contra o aumento da tarifa em São Paulo. Por fim, a última seção abordará os resultados empíricos o processo de análise do conteúdo dos posts publicados pelo movimento em sua página.

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2. O ciberespaço como palco de lutas políticas A criação de uma rede global de computadores, em 1984, permitiu que nascesse um espaço de comunicação e de circulação de informações entre indivíduos, sem que houvesse a necessidade de presença física. O ciberespaço, ou popularmente denominado internet, passou a se configurar em “um território virtual de trocas, ação coletiva e produção comum de linguagens” (ANTOUN; MALINI, 2013, p.19). Por meio da web 2.0 - segunda geração de serviços online – maiores estímulos interacionais foram proporcionados aos usuários da internet, sendo oferecida uma série de serviços, capazes de produzir novas formas de publicação, compartilhamentos e organização de informação na rede (D´ANDRÉA; ALCÂNTARA, 2009). Foi nesse contexto, por exemplo, que se originaram o facebook, twitter, instagram, dentre outros. Muito além da ampliação de compartilhamento de informações, a convergência entre informática e comunicação, que foi intensificado no século XXI, também fez ascender novas práticas culturais e de sociabilidade, que passaram a levar em consideração para sua existência às tecnologias digitais (LEMOS, 2005). A internet hoje é parte fundamental de uma crescente parcela da população. E as redes sociais não são, como se costumava conceituar, uma alternativa à vida “real”, mas um componente desta, e “tornam-se cada vez mais instrumentos coordenadores de eventos no mundo” (SHIRKY, 2011, p. 37). O uso constante de nTIC’s em ações coletivas contemporâneas têm potencializado profundas modificações nos movimentos sociais, tais como: a diversidade de atores envolvidos em mobilizações sociais; a diminuição drástica de recursos para mobilização da ação coletiva, ampliando sua capacidade de difusão de informações; a ampliação da rede de interações entre grupos e atores políticos; a constituição de novos repertórios de ação coletiva; a ampliação da dimensão de movimentos à esfera global; o surgimento de novos processos identitários, dentre outros fatores. Javier Toret (2015), argumenta que a apropriação das nTIC's pelos movimentos sociais resultou numa multidão conectada. Ou seja, na grande capacidade que os movimentos hoje possuem de conectar objetivos comuns, cérebros e corpos de grande número de sujeitos. Ao refletir sobre as ações coletivas na contemporaneidade, assume importância o estudo de processos discursivos, entendidos aqui como:

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discursos, falas e linguagens de auto compreensão e de interpretação dos autores societários acerca de sua própria ação, das possibilidades e restrições do campo de atuação e de suas interações com atores sociais, instituições e agentes estatais (STEINBERG, 2012, p.92 apud CARLOS, 2012)

A ênfase nos processos discursivos permite desvendar as maneiras pelas quais elementos de linguagens são utilizados pelo movimento para a produção e manutenção das ações coletivas ao longo do tempo. Por meio das narrativas criadas no ambiente online, por exemplo, é possível apreender principais temas debatidos na rede, além do reconhecimento de participantes ativos em debates, difusão de informação e nos processos mobilizatórios. Embora o ciberativismo tenha tido como uma das suas expressões o hackativismo, que acompanhou o desenvolvimento da internet já na década de 80, foi em 1990 que o uso das nTIC’s foi intensificado pelos movimentos sociais. Teve como marco histórico a insurreição zapatista, em Chiapas no México, no ano de 1994. Liderado pelo Exército de Libertação Nacional do México (EZLN), o movimento se opunha a assinatura do Tratado de Livre Comercio da América do Norte, e por meio da internet tornava público ao mundo, o que acontecia em Chiapas. Tal estratégia evitou expressões mais violentas no campo local, assim como tornou a questão mundialmente conhecida. [..] cercado e isolado pelos mass media, o subcomandante Marcos, utilizando a internet, rompe o cerco e se torna o primeiro movimento de comunidades tradicionais a utilizar as redes digitais para sensibilizar a opinião publica internacional (SILVEIRA, 2010, p.32).

Após o movimento zapatista no México, desencadeou uma série de revoltas pelo mundo. No Brasil, os protestos de junho de 2013, eclodido a partir das manifestações contra o aumento da tarifa de transportes em São Paulo, protagonizado pelo MPL-SP, gerou forte adesão popular, e teve ocorrência em diversas cidades do país. 2.1 - Contra o aumento da tarifa: breve histórico dos protestos do MPL-SP em junho de 2013 O Movimento Passe Livre de São Paulo (MPL-SP) - movimento social autônomo, apartidário, horizontal e independente, cujas lutas reivindicam um transporte público gratuito e de qualidade. -, tomou as ruas da capital paulista em oposição ao aumento da tarifa de transporte público em R$0,20. Violentamente reprimido pelas forças policiais paulistanas e, num primeiro momento, sem apoio das mídias tradicionais, se apropriou da internet como um espaço de mobilização, organização e relato dos fatos ocorridos nos seus atos em rua.

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Figura 1: no canto esquerdo a imagem representa a atuação repressiva da Polícia Militar de SP, como uso de gás lacrimogênio. Na imagem à direita, o esquema tático armado pela Polícia Militar contra as manifestações. Fonte: MPL-SP.

“Se a tarifa não baixar, a cidade vai parar” difundia-se na internet, por meio de posts, comentários e tweets. Estes produzidos não apenas pelo movimento, mas também por cidadãos comuns, que estavam presentes ou não nas manifestações urbanas. Ocupar as ruas e conseguir maior adesão popular era a ordem do movimento até que o aumento da tarifa fosse revogado. O anuncio por parte do Governo do Estado do aumento da tarifa de transporte público em São Paulo, de R$ 3,00 para R$3,20, ocorreu no dia 02 de junho de 2013. Após a notícia, foram organizadas pelo MPL-SP protestos em rua, que fora denominados por ele de “grandes atos”. Ao total foram sete, ocorridos entre os dias 06 e 20 de junho de 2013.

Figura 2: Linha histórica dos Protestos do MPL-SP em junho de 2013. Fonte: elaboração própria.

Os quatro primeiros grandes atos do MPL-SP estiveram restritos à cidade de SP. Posteriormente, ganharam uma dimensão nacional, onde no dia 17 de junho várias cidades pelo país demonstravam apoio ocupando as ruas. Houveram ainda expressões de apoio advindas de outros países, por meio de imigrantes brasileiros.

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Narrar os fatos, seja de casa ou da rua, tornava-se um dos papéis fundamentais dos manifestantes e apoiadores dos protestos. Nascia no período uma forte atividade de construção de autonarrativas, que foi estimulada pelo MPL-SP mobilizando a população a registrar o momento histórico, em especial a truculência policial. O 5° Grande Ato do MPL-SP, no dia 17 de junho de 2013, já recebia reflexos da notoriedade do movimento tanto na internet, quanto nos veículos de massa. Nesta data iniciavam as primeiras manifestações nacionais, que em seu primeiro momento, ocorreram em apoio ao MPL-SP. Entre os dias 17 e 21 de junho de 2013 ocorreram protestos diários em várias cidades, mobilizando milhares de pessoas, ao abordar o centro da cidade Rio de Janeiro (RJ), no dia 17 de junho, que reuniu cerca de 250 mil pessoas; e a ocupação da Esplanada em Brasília, também em 17 de junho, que carregavam em si o forte desejo por reformas políticas e indignação aos atos de corrupção, incluindo não apenas o poder Executivo brasileiro, mas também o legislativo e o Judiciário. A difusão e comoção das manifestações em todo país gerou uma multiplicidade de demandas políticas, tais como em melhorias de serviços públicos, fim da impunidade e da corrupção no país, assim como a ampliação de direitos de minorias e posicionamentos contrários à copa - este estimulado pela abertura da copa das confederações, em 15 de junho de 2013. O Movimento Passe Livre ganhava corpo, e junto a forte adesão popular teve que lidar com a uma multiplicidade de atores políticos e de pautas que iam além do seu objetivo central, que era a revogação do aumento da tarifa. No dia 19 de junho de 2013 foi revogado o aumento da tarifa dos transportes em São Paulo. O MPL-SP, que organiza o seu 7° grande ato (20 de junho), o mantém em caráter comemorativo. No dia 21 de junho, organizadores do movimento anunciam a retirada do MPL-SP dos protestos de 2013. Repudiam qualquer tipo de violência entre manifestantes, sejam eles partidários ou não, e ainda posicionam-se contrários a pautas conservadoras no interior do movimento. No dia 21 de junho ainda, a presidente Dilma Rousseff realiza um discurso nacional em relação às manifestações, ressaltando sua a obrigação em “escutar a voz do povo”. Porém,

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reafirma a importância da garantia da lei e da ordem nacional. Ressalta os avanços nos serviços públicos em seu governo, e afirma maiores investimentos nos próximos anos, assim como a necessidade de melhor controle da corrupção. Sobre a copa, sinaliza a relevância da cordialidade e receptividade histórica do brasileiro.

3. O ativismo do Movimento Passe livre de São Paulo (MPL–SP) no Facebook Durante o mês de junho, foram publicados 240 posts. Conforme visualizado no gráfico abaixo, os picos de postagens do movimento estiveram concentrados no período em que ele atuou nas ruas, sendo os dias dos cinco primeiros grandes atos contra o aumento da tarifa, foram os que obtiveram maior volume de postagens. O dia 13 de junho foi a data que o MPL-SP mais realizou posts em sua página. Isto pode ser justificado pelo fato desse dia ter sido um dos mais violentos, dentre os ocorridos em junho, e que estimulou grande número de posts relacionadas à ação truculenta da polícia nas ruas.

Gráfico 1: Volume de posts publicado pelo MPL-SP, em junho de 2013. Fonte: página MPL-SP no facebook.

Cabe contextualizar ainda, que até esse dia, havia se instaurado uma disputa entre narrativas produzidas sobre os atos do MPL-SP, onde de um lado o movimento chamava atenção com a publicação de cenas de violência policial em sua página; e de outro, a grande mídia que construia a imagem de um movimento intransigente e violento, pautada por depoimentos de membros do poder público. Após 13 de junho, as narrativas do MPL-SP e das grandes mídias se “homogeneizaram”, sendo um combustível aos processos de comoção, adesão e apoio ao movimento, que já

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haviam sido iniciados na internet, mas que ganhou corpo, quando se difundiu pela grande mídia as imagens da truculência policial contra jovens manifestantes que lutavam por causas sociais nas ruas. Daí em diante, o apoio ao movimento se generalizou, potencializando ainda mais o ato do dia 17 de junho, o maior ocorrido no período, com a presença de 100 mil pessoas na Avenida Paulista, em SP. Fora isso, inúmeras outras manifestações ocorreram no país, num primeiro momento, em apoio às lutas do MPL-SP, mas que já eram constituídas de múltiplas pautas. Ao analisar quais os conteúdos dos posts publicados pelo MPL-SP em sua página, identificou-se que eles estiveram associados a seis principais intenções: crítica ao governo, apoio a outros movimentos, divulgação de informativos, presença/atuação nas ruas e mobilização.

Gráfico 2: volume de posts por categoria Fonte: página MPL-SP no facebook.

Como já esperado, os atos públicos do MPL-SP, pautaram as suas postagens no mês de junho em sua página, podendo ser demonstrado pela predominância de três grandes categorias, que juntas contabilizaram 70,4% dos conteúdos dos posts do período, sendo elas: mobilização, presença/atuação nas ruas e organização do movimento. As seguir os resultados de cada intencionalidade do movimento listados será analisado de forma particularizada.

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Mobilização

Os posts associados a processos mobilizatórios do MPL-SP, corresponderam a 28,8% do total publicado em sua página. Eles identificam tanto atos de mobilização ocorridos na internet, quanto nas ruas. Tabela 1: Subcategorias de mobilização para ato público MOBILIZAÇÃO Mobilização para ato público

N° ABSOLUTO 69

% 28,8

Ação de Panfletagem

1

0,4

Mobilização para uso de outras mídias sociais

2

0,8

Total Fonte: página MPL-SP no facebook.

72

30,0

As mobilizações no facebook ocorriam por meio de compartilhamento de link de eventos, de imagens ou folders produzidos pelo movimento. Já a mobilização ocorrida nas ruas, era feita através de panfletos, que eram divulgados anteriormente na página do movimento. A ação de panfletagem foi feita em terminais rodoviários.

Figura 3: Exemplos de panfletos divulgados na página do MPLS-SP durante os atos. Fonte: página MPL-SP no facebook

Presença/Atuação nas Ruas O relato dos fatos registrados nas ruas marcaram os posts produzidos pelo MPL-SP, correspondendo a 23,3% do seu total. Os posts de presença/atuação nas ruas são constituidos de links de notícias, imagens ou videos compartilhados sobre as ações do MPL-SP ocorridas nas ruas. Inclui-se nesta categoria ações do movimento em seus

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protestos, os relatos repressão policial, como também outras atividades como protocolo de documento e reuniões com o poder público, conforme pode ser vista abaixo. Tabela 2: Subcategorias de presença/atuação nas ruas. PRESENÇA/ATUAÇÃO NAS RUAS Realização de Ato Público

N° ABSOLUTO 28

% 11,7

Reunião com o Poder Público

2

0,8

Protocolo de documento

1

0,4

Repressão Policial

22

9,2

Participação em programa de TV/Entrevista cedida Total Fonte: página MPL-SP no facebook

3 56

1,3 23,3

Chama atenção o elevado número de posts que relataram os atos de violência policial, correspondendo a 9,2% do volume total de posts produzidos pela página. Por muitas vezes, as publicações sobre a repressão policial foram feitas em tempo real, mas, acima de tudo, feitas através de compartilhamentos de links, videos e/ou imagens compartilhadas entre usuários na internet. Organização do Movimento A esta categoria estão associados os posts que designam a organização do movimento para os protestos de rua, assim como a manutenção que realizava na página. Corresponde, ao total, 18,3% dos posts publicados no período. Durante aos protestos de 2013, alguns acontecimentos foram exigindo do movimento esclarecimentos. A principal maneira encontrada por ele foi através de notas públicas. Elas eram formuladas pelos membros da organização do movimento, e divulgadas em sua página. Mensagens diretas aos usuários também foram utilizadas, porém com frequência menor, conforme pode ser observado na tabela a seguir.

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Tabela 3: Subcategorias de organização do movimento. N° ABSOLUTO 23

(%)

Pedido de Imagens/vídeos de atos

6

2,5

Divulgação da equipe de apoio nas ruas

4

1,7

Mensagem aos seguidores da página

4

1,7

Pedido de doações para fianças

3

1,3

Alteração de capa da página

2

0,8

Pedido de registro de queixas de violência policial

2

0,8

Total Fonte: página MPL-SP no facebook

44

18,3

ORGANIZAÇÃO DO MOVIMENTO Divulgação de Nota Pública

9,6

A colaboração do usuário a página foi solicitada pelo movimento, muito em detrimento das prisões que aconteciam nas ruas, quando houve a necessidade de obtenção de recursos para as fianças dos detidos. Além disso, o movimento intencionava reunir o máximo de provas de atos de violência policial, e pediu ao “curtidor” da página que colaborasse com imagens e vídeos que os comprovassem. E mais do que isso, pedia para que fossem dado queixas contra os abusos, por parte de quem havia sido agredido. Essa atitude dos organizadores foi muito importante para potencializar a construção de autonarrativas na internet sobre os fatos ocorridos nas ruas, sendo utilizadas para confrontar com aquelas produzidas, sobretudo num primeiro momento, pela grande tradicional. Outro ponto importante, presente nos posts, foi a divulgaçao por parte do movimento de localização e presença de equipes de apoio nos protestos. Houve um amplo apoio de enfermeiros, realizando os primeiros socorros de feridos, assim como de advogados incubidos de intermediarem dos casos de prisões ocorridas nas ruas. Como medida administrativa da página, foi identificado a mudança constante da capa do facebook. Uma performance online, advinda de outros momentos de confronto político, que sinalizavam um estado ativo do movimento à luta contra o aumento da tarifa. Normamente, se compunha de imagens, que retratavam cenas de ações em rua, acompanhadas de frases intimidatórias ou de suas palavras de ordem, normalmente enderaçadas a líderes do poder público municipal e estadual. Informativos A grande funcionalidade da internet está em sua capacidade de falar para muitos. Por esse motivo, que a página do facebook foi um importante meio de comunicação para o

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movimento. Nela diferentes informativos foram compartilhados, correspondendo a 15,4% dos post publicados na página do MPL-SP. Tabela 4: Subcategorias de Informativo INFORMATIVOS Informe sobre o MPL

N° ABSOLUTO 14

% 5,8

Informe sobre ações de outros movimentos

9

3,8

Informe sobre manifestações de apoio ao MPL-SP

7

2,9

Informe sobre a tarifa/transporte

4

1,7

Informe sobre conquistas políticas

2

0,8

Dicas aos manifestantes

1

0,4

Total Fonte: página MPL-SP no facebook

37

15,4

Dentre o conjunto de informativos compartilhados pelo movimento, encontram-se dicas a manifestantes, informações sobre o Movimento Passe Livre, notícias e artigos sobre tarifas e transporte, revogações de aumento de tarifa e informes de demais protestos ocorridos em outros coletivos do MPL, assim como demais movimentos sociais.

Crítica ao Governo Esta categoria constitui-se dos posts aos quais tiveram os membros do poder público como alvo de reclamações e críticas na condução das questões de transporte na cidade de São Paulo, assim como na postura frente aos atos de junho de 2013. São posts direcionados, mais especificamente, a Fenando Haddad e a Geraldo Alckmin, ambos prefeito e governador de SP. Ao total, correspondeu a 2,9% dos posts publicados na página.

Apoio a Outros Movimentos Apoio a outras Organizações de Movimentos Sociais (OMS) ou a eventos e protestos espontâneos criados por moradores da cidade de SP foram realizados pelo MPL-SP, durante junho de 2013. Correspondeu, a 10,0% de suas postagens. Tabela 5: Subcategorias de Apoio a Outros Movimentos APOIO A OUTROS MOVIMENTOS Mobilização na página para ato público

N° ABSOLUTO 19

% 7,9

Participação em eventos/atos de outros movimentos

5

2,1

Total Fonte: página MPL-SP no facebook

24

10

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As práticas de apoio realizadas pelo MPL-SP eram feitas por meio de ações tanto na internet, quanto nas ruas. No ambiente online, assumiu importante papel para outras organizações, mobilizando seus “curtidores” para atos públicos e eventos. Por meio de compartilhamento de eventos ou conteúdos de divulgação de outros movimentos, fornecia apoio às lutas sociais, que na maioria das vezes eram transversais às causas de transporte, como demandas na área de moradia e infraestrutura local. Outra ação de apoio, ocorria nas ruas. O MPL-SP participava de eventos, como debates de encontros culturais, assim como de processos mobilizatórios, como ocupações e protestos. Quando essa categorização dos conteúdos dos posts visualizada ao longo de todo período de junho de 2013, foi possível perceber os constantes esforços mobilizatórios do MPL-SP ao longo de suas ações em rua, sobretudo nos dias que antecederam seu primeiro grande ato. O elevado pico de informativos no dia 03 de junho tem a ver com as primeiras manifestações, desencadeadas por estudantes secundaristas, contra o aumento da tarifa na cidade. Estas funcionaram como uma espécie de faíscas ao que viria a ocorrer em junho, sendo apoiadas na rede e nas ruas pelo MPL-SP. Este fez inúmeras postagens informando sobre os atos dos estudantes ocorridos em São Paulo.

Gráfico 3: Volume de posts versus intencionalidade, em junho de 2013 Fonte: página MPL-SP no facebook

Os relatos decorrentes da presença/atuação do movimento nas ruas, grande parte potencializada pelos relatos de violência policial, atingiu os maiores picos de postagens durante o período de análise. Dia 06, 13 e 17 de junho foram os atos que geraram maior produção de posts associados à presença e atuação nas ruas.

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4. Considerações Finais Maior parcela dos posts do MPL-SP esteve associada à mobilização da população para seus atos, relatos de sua atuação/presença nas ruas, assim como de elementos intrínsecos a organização do movimento. Independente do volume e intencionalidade dos posts, eles possuíam algo comum: a combinação de textos com imagens, vídeos e links. Nas imagens haviam mensagens de ordem ou de apelo frente à truculência da atuação da polícia nas ruas. Os textos carregam histórico de lutas, posicionamentos, esclarecimentos, estratégias e indignação. Dentre a importância do uso do facebook pelo movimento no período, deve-se citar a sua potencialidade na criação de autonarrativas de lutas, como ocorreu com o MPL-SP. Além disso, é enorme sua capacidade de acúmulo histórico. Isto no sentido de que seus posts, comentários, imagens, links e vídeos narraram um lado da história (do movimento), e estão arquivados no ambiente da página. No que tange ao volume de publicações realizadas na página, pode-se detectar que seu volume estava associado aos confrontos do movimento com seu opositor, como exemplo marcante foi à presença de picos de postagens relacionados à repressão policial. Na medida em que haviam ameaças ao movimento, o volume de posts publicados subia. A atuação do MPL-SP, durante os protestos, não gerou campanhas específicas no facebook, mas sim no twitter e no instagram. Durante os atos de rua, o MPL-SP divulgou em sua pagina, por meio de dois posts a hashtag #REVOGAOAUMENTO, solicitando que a mesma ganhasse audiência no twitter e no instagram. Fato curioso é que o MPL-SP não tinha conta no twitter em 2013, este apenas feito em 17 de janeiro de 2015. Porém, foi ele quem delegou a hashtag a ser utilizada no microblog, com o intuito de indexar conteúdos sobre seus atos, assim como ser um ponto de comunicação entre os militantes. Cabe dizer ainda, que a análise das postagens do MPL-SP no facebook fornece indícios de uma tipologia de posts publicados pelo movimento no período. Neste momento foram identificados quatro tipos de posts: mobilizatório, informativos, confrontacional e institucional. Os posts de tipo mobilizatórios e informativos foram o que mais se destacaram no período. Mas chamou atenção os posts confrontacionais, marcados pela

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mensagem direta a opositores e estabelecimento de um clima de tensão e ativo a lutas sociais. A performance online de trocas das imagens da capa da página, assim como críticas a abordagens midiáticas e a governos são exemplos deles. Cabe dizer ainda, que este primeiro contato com o conteúdo tornou latente o esforço de ampliação do período de análise de conteúdo dos posts publicados pelo MPL-SP, para além de junho de 2013. Um exemplo claro diz respeito ao primeiro ato do movimento, ocorrido em 6 de junho. Se tomarmos apenas o mês de junho de 2013, será insuficiente compreender todo o esforço mobilizatório que o MPL-SP fez em maio. De um total de 104 posts em maio, 61 tiveram caráter mobilizatório. Fora isso, o contato com os dados de junho indicou a existência de ciclos de protestos contra a tarifa anterior a junho. Ocorreram na região metropolitana de São Paulo, entre outubro de 2012 e abril de 2013, que precisam ser melhor investigado, quanto ao seu potencial contexto de oportunidade política para a ação do MPL-SP em junho de 2013. 5. Referências Bibliográficas D’ANDREA, Carlos F. B.; ALCANTARA, Lívia M.. Movimentos Sociais na Web 2.0: a experiência da ocupação Dandara. Revista de C. Humanas, Vol. 9, N°2, p. 291-301, jul./dez, 2009. LEMOS, A. CIBER-CULTURA-REMIX. In Seminário “Sentidos e Processos” dentro da mostra “Cinético Digital”. São Paulo, Itaú Cultural, ago. 2005. Disponível em: Acesso em: 31 maio. 2016. MALINI, Fábio; ANTOUN, Henrique. @internet e #rua: ciberativismo e mobilizações nas redes sociais. Porto Alegre: Sulina, 2013. PEREIRA, Marcus Abílio. Internet e mobilização política – os movimentos sociais na era digital. Teoria & Sociedade, n. 18, 2, jul-dez., 2010, p. 10-33. PROFETA, D.;ZULUAGA, J.; DÍASZ, H. E.; HONDURAS, C.; BERTE, M. L..Nueva Sociedad en la Web 2.0: seleción de entradas del blog Nuso. Revista Nueva Sociedad,, n° 235, Quito: 2011. SHIRKY, Clay. A Cultura da participação – Criatividade e generosidade no mundo conectado. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.

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