INTERSECÇÕES E INTERAÇÕES: GÊNERO EM CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS NA AMÉRICA LATINA

June 5, 2017 | Autor: Maria Margaret Lopes | Categoria: Gender Studies, Gender
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PERSPECTIVAS LATINOAMERICANAS EN EL ESTÚDIO SOCIAL DE LA CIÊNCIA. LA TECNOLOGIA YLASOCIEDAD Pablo Kreimer Hebe Vessuri Léa Velho Antonio Arellano (coordinadores)

CYTED

PARTE 4. CUESTIONES EMERGENTES, ACTORES Y PRODUCCIÓN DE CONOCIMIENTO

INTERSECÇÕES E INTERAÇÕES: GÊNERO EM CIÊNCIAS E TECNOLOGIAS NA AMÉRICA LATINA MARIA MARGARET LOPES, REBECA BUZZO FELTRIN, BRUNA MENDES DE VASCONCELLOS Y MARIA DE CLEÓFAS FAGGION ALENCAR

CORPOS INTERNACIONAIS: GÊNERO, CET NOS CONGRESSOS CIENTÍFICOS

“Corpos internacionais” que regulam nomenclaturas e classificações (Donna Haraway, 2013) - os congressos científicos constituem “loci” especiais para se compreender e acompanhar a circulação de pessoas, idéias e práticas científicas e tecnológicas, bem como as relações assimétricas que marcam tais encontros. Con­ siderando que congressos permitem visualizar e acompanhar os “estados da arte” (Dagnino et ai, 1998), as políticas, a construção de culturas científicas, buscamos uma primeira aproximação das temáticas centrais presentes nos Congressos Ibero-a­ mericanos de Ciência, Tecnologia e Gênero (bero) e aquelas de gênero, nas Jornadas Latino-americanas de Estudos Sociais da Ciência e da Tecnologia (esocite). O Ibero e a esocite são os principais eventos de dimensões latino-americanas que contemplam as discussões em Estudos Sociais da Ciência e Tecnologia: o pri­ meiro, relacionando gênero e cts e a esocite, que é o maior e principal evento a impulsionar os estudos de cts na América Latina. Neste texto, priorizamos refe­ renciar, para tornar visível -mas longe de podermos mencionar todas- algumas autoras latino-americanas que apresentaram suas pesquisas nos congressos analisa­ dos e em outras publicações de abrangência latino-americana. Para uma caracterização das escolhas temáticas e identificação de tendências que marcam o campo de gcet nesses congressos, inserimos os trabalhos pesquisa­ dos em “grandes temas”, organizados a apartir da busca das palavras “gênero”, “feminismo”, “feminista”, “mulher/es”, “ciência” e “tecnologia” e as articulações entre elas no título, nas palavras-chaves, nos resumos dos trabalhos ou na leitura dos textos. Evidentemente, parte dos artigos poderia estar classificada em mais de uma categoria simultaneamente, devido a sua natureza interdisciplinar. • Trajetórias/história de mulheres em CET (Ciência e Tecnologia): os trabalhos in­ cluídos nessa temática investigam as reflexões em torno da sub-representação das mulheres nas ciências (mais do que na tecnologia) ou mesmo, em determinados contextos específicos, sua exclusão das práticas e instituições científicas. Tais abordagens ganharam enorme consistência teórica e empí­ rica discutindo as conseqüências científicas dessa sub-representação histó­ rica (Lopes, 2008). Refletem na produção latino-americana as tendências internacionais desses estudos inaugurados nos anos de 1970, que conti­ nuam ainda fundamentais, para a construção de uma nova historiografia das ciências e tecnologias nos diferentes países, que recupere e incorpore

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efetivamente a contribuição das mulheres e das dimensões de gênero (Ra­ mos Lara, 2005; Fernández Rius, 2011). Carreiras de mulheres em cr e Política Científica e Tecnológica: de cunho mais socio­ lógico, os textos inseridos nessa linha discutem como as relações de gênero têm sido um fator estruturador significativo das instituições e práticas científi­ cas. Produzem dados cientométricos e tratam questões sobre a distribuição de homens e mulheres nas carreiras científicas e tecnológicas, sobre enfrentamento e superação de preconceitos e obstáculos. Problematizam como desigualda­ des e micro-desigualdades se manifestam tanto em função de “segregações territoriais”, devido à escassa presença de mulheres em determinadas áreas tecnocientíficas masculinizadas, quanto em função de “segregações hierárqui­ cas”, traduzidas pelas dificuldades de ascensão de mulheres a cargos de maior responsabilidade e poder (Kochen, 1995; Lombardi, 2008; Alvarez Díaz e Al­ varez, 2011; Velho e Moreira, 2012). Epistemologia/Teorias de gênero e CET: os artigos incluídos nessa linha, de caráter teórico, tratam a forma como as hierarquias de gênero têm direcionado pesqui­ sas, moldando prioridades e teorias científicas. Partindo da revisão da literatura crítica sobre a construção das ciências, de autoras norte-americanas como Evelyn Fox Keller, Sandra Harding, Helen Longino, Anne Fausto-Sterling, Donna Haraway, os textos avançam, a partir das discussões sobre as normativas mertonianas, questionamentos à objetividade, neutralidade, invisibilidade e historicidade de conceitos (Rietti e Maffía, 2005; Pérez Sedeno, 2005; Lopes, 2006; Cabral, 2006; Munévar Munévar, 2011) e consideram a importância dos “referentes intelectuales, marcos de análisis y critérios epistemológicos feministas para los estúdios sociales o culturales de la ciência” (Miqueo et al., 2006:13). Construções científicas/tecnológicas de gênero em saúde, medicina e biotecnologia: aqui, os trabalhos analisam as construções socioculturais das ciências biomédicas, incluindo as definições de doenças/comportamentos “tipicamente” femininos, diferenças genéticas, corporalidades, tecnologias reprodutivas, estereótipos de gênero reproduzidos nos protocolos de atendimento, entre outros (Flores e Blazquez Graf, 2005; Osada e Costa, 2006; Rohden, 2009; Feltrin e Velho, 2010). Educação e GCET: os textos desta linha discutem mecanismos que afastam jovens alu­ nas das disciplinas de matemática, de física e destacam como os marcadores sociais de gênero, raça, classes sociais, idade, sexualidades são representados nas práticas de ensino, nos livros didáticos, reproduzindo estereótipos através da educação formal (Carvalho e Tamanini, 2006; Muzi e Luz, 2010; Arango e Porro, 2010). Divulgação científica e mídia: imagens de gênero e CET. os artigos nessa linha abordam como imagens são (re)produzidas e circulam na mídia, em textos de divulgação científica, na literatura, reforçando padrões comportamentais tradicionais de gênero, sexualidade e contribuindo para a reprodução de pre­ conceitos socioculturais (Santos e Berardo, 2012; Pérez-Bustos, 2010; Bustos Romero, 2011). TICS e usos da CET: as publicações aqui incluídas acompanham tendências de trabalhos internacionais que abordam a inclusão tecnológica de mulheres,

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desde jovens até idosas; debatem questões sobre os usos/apropriações da cet e as relações de gênero, especialmente do uso das tecnologias de informação e comunicação (tic) pelas mulheres (Rapkiewicz, 1998; Justo Suarez, 2005; Castellanos, Canino e Vessuri, 2006; Oliveira, 2010). • Recursos naturais, desenvolvimento e saberes populares: trata-se de uma linha inova­ dora a partir dos estudos cts, cujos artigos discutem temas relacionados ã inclusão social, debatendo as formas tradicionais de construção do conheci­ mento, os papéis de gênero em questões de propriedade da terra e diferenças socio-econômicas nas comunidades. As dimensões de gênero são problematizadas a partir de: “novas” sujeitos epistêmicos - mulheres indígenas na acade­ mia, afrodescendentes; de novas práticas: agroecologia, água, habitação popu­ lar, tecnologia social, saberes tradicionais, artesanato e soberania alimentar; questão ambiental (Vizcarra 2005; Aray et al., 2011; Almeida, 2012; Estébanez, Suedi e Turkenich, 2012). Os Iberos se realizam bianualmente, tanto no continente latino, como europeu. Têm suas origens no I Congresso Multidisciplinar “Ciência y Genero” de 1996, em Madri, liderado por Eulália Perez Sedeno, espanhola, Silvia Kochen e Diana Mafía, argentinas, e pelas 44 autoras que contribuíram com seus trabalhos (Alcalá y PerezSedeno, 2001). O II Congreso Internacional Multidisciplinario Mujeres, Ciência y Tecnologia, foi realizado em Buenos Aires, em 1998. Os demais ocorreram no Panamá, 2000; Madri, 2002 (Pérez-Sedeno et al., 2006); México 2004 (Blazquez Graf e Flores, 2005); Zaragoza 2006 (Miqueo et al. 2008) ; Havana, Curitiba 2010 (Car­ valho, 2011); Sevilha, 2012. Com os objetivos de reunir e incentivar o intercâmbio para as discussões sobre a situação das mulheres e as relações de gênero em ciências, nas políticas científi­ cas, na tecnologia e desenvolvimento e repensar a própria prática científica a partir do feminismo, esses congressos de carácter interdisciplinar, têm cumprido o papel central de aglutinar um conjunto expressivo de pesquisas. Consideramos particularmente os últimos eventos de 2006, 2010 e 2012, cujos conteúdos comple­ tos podem ser acessados online. Inúmeros fatores intervêm na participação dos congressos, desde o apelo das localidades, os financiamentos, etc., mas o “efecto de país sede” (Dagnino, et al., 1998) é marcante em todos eles e, há uma concen­ tração de presenças dos países nos quais o evento já foi realizado e onde o campo apresenta maior consolidação: Espanha, Brasil, México e Cuba. A título de exem­ plo, no VIII Congresso no Brasil, 89% dos trabalhos foram de autoras dos países latino-americanos e do Caribe, enquanto que nos congressos realizados na Europa, predomina a presença de pesquisadoras espanholas, sendo ainda reduzida a par­ ticipação de pesquisadoras portuguesas. Nas três edições, a produção se concentra nas análises relacionadas às carreiras cientificas e à política científica e tecnológica nos diferentes países. Proporcionalmen­ te, este tema representou 44% dos artigos apresentados em Zaragoza, 22% no Brasil, e 36% em Sevilha. Seguem-se as produções relacionadas à educação e GCyT e divulgação científica e mídia: imagens de gênero, representando 15% do trabalhos

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apresentados nos eventos. Em Sevilha, estes temas estiveram mais presente do que nos congressos anteriores, atingindo o segundo lugar, com 22% dos trabalhos apresentados. Na linha construções científicas/tecnológicas de género em saúde, medicina e biotecnologia a saúde foi privilegiada como eixo específico de trabalho em Zara­ goza, e é o terceiro tema mais presentes nos congressos, tendo sido apresentados 12 artigos em Zaragoza (2o. lugar), 16 no Brasil (ler. lugar) e 21 em Sevilha (3er. lugar). Acompanhando as tendências dos estudos de gênero e sexualidades, nesse último congresso a temática de cunho epistemológico que ganhou maior destaque foi como as ciências constroem o gênero a partir das vivências dos transexuais e hermafroditas. As discussões sobre Epistemologia/Teorias de género e CeT estão em quarta posição entre os trabalhos apresentados nesses congressos. Presença destacada em Sevilha, foram 17 exposições, das 143 do evento; no Brasil, foram 5 (de 150) e em Zarago­ za 6 (de 90). Em uma visão geral dos congressos, as reflexões teóricas sobre a área continuam se concentrando-se na produção espanhola (Andreu Munoz, 2012), embora não faltem as contribuições latino-americanas. As seções Perspectivas de gé­ nero en epistemología y filosofia de la ciência y la tecnologia, no congresso de Madri, 2002 e a mesa redonda Corpos e diferenças no evento de Curitiba, 2010, exemplificam como seguindo as tendências internacionais do campo, as pesquisas migraram das análises de teorias feministas sobre ciência, para as análises da Tecnologia y control social de los cuerpos sexuados (Maffia, 2011). Os trabalhos sobre TICS e usos da CET e Recursos naturais, desenvolvimento e saberes populares, estão presentes de forma minoritária. Um eixo específico para apresen­ tação de trabalhos sobre Redes científicas, 77CSfoi introduzido 110 Congresso de Cuba. A respeito do enfoque de redes e, em particular, de redes de conhecimento, Ro­ salba Casas Guerrero e Matilde Luna Ledesma (2011) também consideram que “tiene una aplicación limitada” em sua análise da esocite de 2008, do Rio de Ja­ neiro. E quanto a trabalhos sobre usos da CET e Recursos naturais, desenvolvimento e saberes populares, ainda que não surgissem em número significativo - aproximada­ mente 30 nos 3 Iberos -, merecem destaque na medida em que colocam em evi­ dência “outras” sujeitos epistêmicos e seus conhecimentos: afrodescendentes e indígenas, pescadoras, agricultoras, operárias, imigrantes, moradoras das favelas, artesãs, jovens, etc. E abordam temáticas comuns aos ects que se referem às rela­ ções entre cientistas e grupos sociais, políticas públicas de ciência e tecnologia, regionalização e localização espaço-temporal de fenômenos técnico-científicos, redes de conhecimento (Arellano Hernádez e Kreimer, 2011). Vale ressaltar que esses trabalhos são contribuições dos países latino-americanos e caribenhos (Hardy Casado et dl. 2006; Vasconcellos e Velho, 2010). A organização do congresso em determinado país, apoiado em coletivos de pesquisadoras com produção consolidada em diferentes áreas, tem sido capaz de contribuir de forma significativa para que se visibilize a produção bibliográfica em GCF.T na região, e inclusive amplie ou modifique aqueles que são os temas tradi­ cionalmente pensados nos eventos e suas principais linhas de pesquisa. No Con­ gresso de Zaragoza, entre as organizadoras, as historiadoras da saúde privilegiaram

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o tema da saúde e ressaltaram a necessidade de incentivar temas anteriormente ausentes, como meio-ambiente e subjetividade das científicas. Em Havana foram ainda introduzidos novos eixos temáticos como: Tecnologias emergentes, paz y desarrollo: las mujeres al debate; Género, câmbios climáticos y Desarrollo Sostenible. Las Mujeres y el Agua; Las Mujeres en el Desarrollo Local; Otros saberes, otras culturas, reconociendo valores y diferencias. Em Curitiba, as organizadoras, com pesquisas concentradas nas relações de Gênero e Tecnologia, e educação tecnológica, introduziram novos eixos como: Design, tecnologia e gênero, Inovações tecnológicas (biotecnologia, nanotecnologia) e Gênero, Ciência e tecnologia: inclusão/exclusão. Em Sevilha emergiu, entre outros, o tema: El contrato social y moral de la ciência: las mujeres en la ciência espanola de la de­ mocracia a la dictadura. As considerações esboçadas indicam que no conjunto, as pesquisas em gcet ainda dedicam grande parte às trajetórias, às carreiras científicas e tecnológicas e às temáticas relacionadas a desdobramentos da áreas da saúde, área que tradicio­ nalmente foi de interesse dos estudos feministas. Também apontam que as pesqui­ sas começam a incorporar de forma mais ampla “las epistemologías feministas que abogan por la posicionalidad dei conocimiento y que se han alimentado de los feminismos chicanos, negros y poscoloniales, que han hecho aportes importantes a esta comprensión de la ciência y la tecnologia como constructos culturales con­ tingentes” (Pérez-Bustos, 2011:264). Em relação à esocite - a primeira edição de 1995, antecedeu em um ano a primeira reunião que deu origem aos Iberos. Esse foi um periodo em que prolife­ raram a nível internacional no âmbito dos estudos feministas e de gênero as aná­ lises críticas, fortemente influenciadas pelos questionamentos das bases da autori­ dade inigualável assumida pelas ciências e tecnologias nas culturas ocidentais (Lopes, 2006). Nesses debates, as feministas buscaram articular e ocupar, nas pa­ lavras de Fox-Keller: “[...] uma posição intermediaria entre os estudos sociais das ciências que tendiam para uma dissolução de todas as fronteiras delimitadoras das ciências na direção de estudos contextualistas culturais, de linguagem, institucionais, políticos e sua inclinação cada vez maior para a necessidade de maior atenção às amarras lógicas e empíricas que tornam as assertivas cientificas tão determinantes para os cientistas, como às proezas tecnológicas que as tornam tão determinantes para o mundo como um todo” (Fox-Keller, 1992:3).

Tais posturas teóricas que se nuançaram com o passar dos anos, seguramente contribuíram para um certo distanciamento dos campos disciplinares que se con­ solidavam. Mas também não faltaram posicionamentos buscando maior aproxima­ ção dos campos disciplinares como os de Donna Haraway, Susan Star, Sarah Franklin, Emily Martin, Nelly Oudshoorn, que influenciam até hoje o campo na América Latina, particularmente no que se refere às Epistemologia/Teorias de gênero e CyT e Construções científicas/tecnológicas de gênero em saúde, medicina e biotecnologia, como indicam as bibliografias dos trabalhos consultados. Sobre essas aproximações, em sua análise sobre as Perspectivas de los estúdios so-

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ciales de la ciência y la tecnologia ainda nos anos iniciais do (1995), já apontava que internacionalmente

esocite,

Isabel Licha

“en los últimos anos ha ganado mucha audiência el subcampo de los que tienen una perspectiva feminista de la tecnologia, bajo el llamado enfoque dei “feminismo cultural”, y que se desarrolla desde princípios de los ochenta. En estos estúdios se analizan básicamente dos tipos de problemas, a saber: a] el limitado acceso de las mujeres a las insütuciones científicas y técnicas, que constituyen estúdios típicos sobre la marginalidad de la mujer en las actividades de ; y ô] estúdios que exploran el carácter sexuado de la tecnologia, es decir, la tecnologia como cultura masculina. [...] Estos estúdios tienen una gran afinidad con lo que hacemos en América Latina, sobre todo porque son temas que permiten rela­ cionar la ciência y la tecnologia con el desarrollo, con el cambio social y con los problemas de democracia, justicia y equidad” (Licha, 1995:133). esc

cyt

De fato, estes são os principais desafios propostos pela esocite: [...] afianzar definitivamente los “Estúdios Sociales de la Ciência y la Tecnologia en Améri­ ca Latina” y tematizar publicamente el papel de los conocimientos científicos y tecnológicos en la Región, sus usos frente a sociedades que necesitan la movilización de la para re­ solver antiguas e importantes cuestiones, como la democratización, la desigualdad, el crecimiento y la cohesión social, entre otros ( , 2010). cyt

esocite

Nesse sentido, os temas sugeridos para as edições da esocite se conectam com demandas específicas latino-americanas, como é o caso das temáticas Ciência, Tec­ nologia, Sociedade e 0 futuro da América Latina, propostas em Campinas, La construcción de la tecnociencia en la sociedad latinoamericana contemporânea, em Toluca, Ciência y tecnologia para la inclusión social, em Buenos Aires, e Balance dei campo esocite en América Latina y desafios, na Cidade do México, para citar alguns exemplos. Os países que sediaram mais de uma vez a esocite - México, Argentina e Brasil - são os mesmos que apresentam produção mais consolidada em cts. Novamente, o “efecto do país sede” se repete sobre as temáticas e concentração da produção, como ocorre nos Iberos. Cabe destacar, que trabalhos sobre gênero em esct têm sido apresentados de forma constante, desde a primeira e em todas as edições esocite como mostra a tabela. Em 2000, em Campinas, foi organizada a primeira mesa redonda especifi­ camente sobre “Ciência, Tecnologia e Gênero na Iberoamerica: problemas e pro­ postas”, que contou com a coordenação de Eulália Perez Sedeno, e foi seguida pela organização em Toluca (México, 2004) da mesa “Género y Tecnociencia”, com sete trabalhos apresentados, centrados nas Carreiras das mulheres e Política Cien­ tífica e Tecnológica. Sem qualquer intenção de um estudo quantitativo, cabe apontar que a cada edição, a esocite vem conquistando um número maior de participantes. Mesmo considerando este aumento do número de trabalhos apresentados nas três últimas edições - em 2008: 228, em 2010: 255 e, em 2012: 291 - e sem descartar a possi-

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bilidade de que pesquisas contemplem as relações de gênero sem identificá-las claramente, observa-se que a proporção de publicações, explicitamente sobre a temática gcet, não atingiu ainda 1% da produção total dos eventos. TABELA 1. DISTRIBUIÇÃO DOS TRABALHOS POR TEMAS E EVENTO TEMAS / ANO DO EVENTO »995 / LOCAL ARG 1

Trajetórias / História de mulheres e ct Epistemologia / Teorias de gênero e ct Construções científicas / tecnológicas de gênero - saúde, medicina e biotecnologia Divulgação científica e mídia: imagens de gênero Tic / usos da cet por gênero Recursos naturais, desenvolvimento e saberes Educação e gcet Carreiras de mulheres em cte Política Científica e Tecnológica Total

1996 VEN 2

1998 2000 MEX í? BRA 4

2004 MEX

P,

2006 COL 6

2008 BRA 7

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2010 ARG 8

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2012 MEX q

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Diversos eixos temáticos da última esocite como: Tecnologia, innovación, aplicaciones, riesgos y problemas sociales - Implicaciones en el medio ambiente, ou Papel de la Ciência y la Tecnologia en el Desarrollo Local y Regional; Políticas de Ciência, Tecnologia e Innovación - Diseno de Políticas: fundamentos y concepciones; Participación Pública, Democratización e Implicaciones Éticas - Comunicación y Divulgación cet coincidem com os dos Iberos, que à diferença das esocite, incorporam os marcadores de gênero a essas abordagens. Quanto aos trabalhos sobre gcet nas esocite, Epistemologia/ Teonas de gênero e cet é um tema comum aos Iberos e os mais freqüentes continuam sendo: Educação e GCET e Construções científicas/tecnológicas de gênero em saúde, medicina e biotecnologia, com 8 trabalhos em cada e Carreiras de mulheres em CT e Política Cien­ tífica e Tecnológica, presente em todas as esocite, exceto 1998, com 18 trabalhos. A priorização concedida a Carreiras de mulheres em CT e Política Científica e Tecno­ lógica foi uma tendência que se inverteu em ambos os congressos, assim como Episiemologia/Teorias de gênero. Partindo da perspectiva dos ects, De Filippo et al. (2002) apontaram que as duas áreas de maior freqüência entre as 57 apresentações do II Congresso de Multidisciplinar “Ciência y Genero” de 1996, de Buenos Aires,

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correspondiam às temáticas tradicionais do campo de estudos de gênero (mujer y conocimiento; epistemologia) e que Más afines a una perspectiva , también se destacaron los trabajos referidos al impacto de la ciência y la tecnologia en mujeres y la historia de mujeres en la ciência. Los diagnós­ ticos sobre participación de mujeres en sectores institucionales (por exemplo, en universi­ dades o en organismos de promoción de la ciência) no superan el 5% dei total de trabajos presentados (op. cit., p. 346). cts

Nesses estudos sobre Carreiras, se os marcadores de diferenças de classes sociais, e idade começam a surgir, os de raça e etnicidade continuam particularmente inexpressivos nos dois eventos. Especificamente sobre a inclusão das análises que levem em conta as interseccionalidades de gênero e raça em carreiras científicas, já existe uma produção no Brasil (Silva, 2008) e, em função da recente iniciativa do CNPQ de introduzir raça como um campo que pode ser preenchido nos currí­ culos lattes, certamente esses estudos poderão vir a contar também com esses marcadores de diferenças fundamentais para as análises de políticas científicas e tecnológicas. Em vários artigos, especialmente dos Iberos, enfatiza-se a importância da pro­ dução em espanhol, já que a maior parte dos estudos em gcet é publicada em inglês (Blazquez Graf y Flores, 2005; Miqueo, 2011). Mesmo diante dessas iniciati­ vas no sentido de divulgar pesquisas latino-americanas em idioma espanhol (menos em português), permanece a tendência em priorizar, no uso de bibliografias inter­ nacionais, especialmente as norte-americanas, em detrimento das latino-america­ nas, apesar de que a produção vem se ampliando. Os artigos em ambos eventos, que em geral se referem a situações e análises de seus próprios países, elencam um número crescente de autoras e autores pouco conhecidos fora de seus países -o que lhes dá visibilidade-, mas o caráter regional ou nacional das pesquisas, os circunscrevem ao âmbito local, não ultrapassando os limites de seus países de origem. Outra questão a ser destacada é que praticamen­ te não se encontrou trabalhos que resultem de pesquisas de cooperação regional, o que pode indicar que não há ainda um diálogo ou uma rede de cooperação fortemente estabelecida entre pesquisadoras latino-americanas da área de gcet. A marginalidade das pesquisas sobre tecnologia nos dois eventos é uma questão que permanece, apesar das expectativas de Isabel Licha {op. cit.) quanto às afini­ dades dos estudos das teóricas de gênero e tecnologia com o que fazemos na América Latina. A incorporação das discussões sobre tecnociência, suas apropria­ ções e crítica social, sobretudo em suas dimensões de gênero é pouco visível nos trabalhos consultados. Os poucos trabalhos encontrados na área, referem-se às intersecções entre gênero e tics. Uma tendência positiva dos trabalhos em gcet apresentados na esocite, é que além de mesas redondas específicas, esses se distribuem por diferentes áreas disci­ plinares. Essa distribuição não favorece a visibilidade da temática em seu conjunto e ainda não permite considerar uma incorporação expressiva das questões envol­

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vendo os marcadores gênero e suas intersecções com raça, etnia ou classe social nas diversas áreas. Isto reforça uma tendência positiva do campo relacionada à sua não “guetização”, ou seja, de incentivar a introdução de análises que contemplem os marcadores de gênero em um diálogo direto em diversas áreas específicas de conhecimento. A frequência constante de trabalhos em gcet especialmente nas últimas edições da ESOCITE deve-se, especialmente, a uma produção sistemática, concentrada em algumas autoras latino-americanas na área. No caso das autoras brasileiras que participam nos eventos e concentram esta produção, fundamentam-se nas pesqui­ sas desenvolvidas em programas de Pós-Graduação, como o de Tecnologia da utfpr, em função da atuação profícua das pesquisadoras do Núcleo de Gênero e Tecnologia. Das 375 dissertações defendidas desde o início deste programa até o final de 2012, 30 são em gênero e tecnologia (8%), sendo a primeira de 2000. No doutorado mais recente, das 5 teses defendidas, uma é da área de gcet. A se des­ tacar a produção especialmente relacionada à educação profissional e tecnológica, ensino de matemática e de engenharias, relações de gênero no trabalho: no setor eletrônico, representações masculinas na indústria de confecção, mercado de tra­ balho para engenharias. Sobretudo, cabe destacar nessas dissertações, abordagens inovadoras que acompanham tendências internacionais contemplando design e mídia, tecnologia e prazer, narrativas tecnológicas e desapropriação familiar na construção de hidrelétrica, entre outros. Tais temáticas inovadoras se inserem, por exemplo, em perspectivas abordadas pelos trabalhos de Wiebe Bijker e Karin Bijsterveld sobre a experiência holandesa das cmva em que “mujeres están involucradas de una forma muy minuciosa en temas de diseno tecnológico. Elias no disenan las casas pero critican el proyecto punto por punto” (Boczkowski, 2000). A mesma linha de abordagem inovadora está presente também no Programa de Pós Graduação em Política Científica e Tecnológica do dpct, da unicamp, com temáticas envolvendo a intervenção de mulheres em projetos de economia solidá­ ria, construção de casas populares, em áreas tradicionalmente masculinas da car­ reira acadêmica ou ainda sobre a trajetória de mulheres nas ciências. Nos últimos anos, há uma tendência de concentração de pesquisas em temáticas de saúde, relacionadas especialmente à biomedicalização e corporalidades e comportamento das mulheres (obesidade, menopausa, doenças genéticas), além de outras temáticas como educação, política científica (sistema de recompensa, processo de institucio­ nalização, carreiras) e o processo de Construção Social da cet. Sem ignorar que existem outros programas que incorporam os ects, o ppg/pct é o único programa de pós-graduação constituído nessa área no país e, no nível de doutorado, o único em âmbito latino-americano, que está abrigado num depar­ tamento de igual nome e interesse, o que oferece uma solidez institucional ao ppg-pct dificilmente encontrada por outros programas congêneres, no país e mesmo no exterior (Bonacelli, 2012:3). O programa, iniciado como mestrado em 1988, registrou até 2012, 195 dissertações defendidas. Sete delas (3.59%) se inserem explicitamente na temática de gcet, sendo a primeira de 2000. Quanto ao douto­ rado, iniciado em 1995, registrou até 2012, 93 teses defendidas, sendo 6 (6.45%)

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em gcet. Claramente inseridas na intersecção dessas áreas de estudo em função dos perfis das orientadoras, bibliografia utilizada e temáticas desenvolvidas, tais produções seguem tendências presentes na produção internacional de gênero. E amplamente reconhecido que as atividades inovadoras de pesquisa se concen­ tram nos programas de pós-graduação (Velho y Velloso, 2001). No caso de estudos de gênero, estas pesquisas se realizam majoritariamente no âmbito de programas de áreas disciplinares tais como Antropologia, Educação, Sociologia, História, submetidas às condicionantes e principais vertentes das áreas onde predominam os enfoques de gênero relacionados à sexualidade e saúde, violência, ainda distan­ ciados dos quadros conceituais dos estudos de cts. Também no âmbito das pes­ quisas que intercruzam relações de gênero, ciência e tecnologia, tomando por base referências mencionadas em apresentações nos congressos, as possibilidades de consolidação e ampliação dessas interações estão nos programas de pós-graduação que incorporam os esct.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os levantamentos realizados evidenciam múltiplos aspectos de interação, ainda que pontuais e dispersos entre os públicos, as temáticas, os interesses presentes nos dois eventos. A maioria das pesquisadoras que participa com artigos de gênero no esoCITE, participa também no Ibero, e principalmente uma jovem geração de pesqui­ sadoras em gct tem marcado presença em ambos os eventos. A possibilidade de maiores intersecções e interações conteudísticas está coloca­ da, desde o início dos eventos, já que ambos, Ibero e esocite, se voltam para os estudos sociais da ciência e tecnologia na América Latina, mesmo que a partir de diferentes referenciais teóricos internacionais. Um incentivo na esocite à discussão de gct poderia aproximar as autoras que apresentam temáticas semelhantes no Ibero e ainda se distanciam ou se aproximam tangencialmente das esferas centrais do debate. Da mesma forma, o Ibero pode ser visto como um espaço privilegiado para a maior consolidação do campo dos esct. Esses levantamentos de caráter indicativo e qualitativo sinalizam que as pesquisas nas articulações entre os estudos de gênero e cts, têm se concentrado nos pro­ blemas e demandas de conhecimento locais e nesse sentido continuam de certo modo, reforçando a tendência já apontada de que “la comunidad latinoamericana de investigación en cts está concentrando sus esfuerzos, predominantemente, en la realización de estúdios descriptivos en el nivel micro” (Dagnino et ai, op.cit.:252). O que não quer dizer que não reivindiquem estar contribuindo para perspectivas mais críticas ou “autônomas”, “que se orientan hacia la búsqueda de objetos y abordajes proprios de America Latina. Estos trabajos intentan dar cuenta de cuestiones que serían “propias de la región” (Arellano Hernádez y Kreimer, op.cit.: 12). Como o conhecimento científico e tecnológico é situado, determinado pelas condições históricas de sua produção, os estudos comparativos, as cooperações em

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pesquisas, a mobilidade nas pós-graduações se colocam como possibilidades de consolidação dos estudos em gct. Há muitas identidades, mas as condições latino -americanas de produção científico-tecnológica são diferentes entre nós, bem como dos países europeus e essas iniciativas podem revelar as especificidades tanto dos contextos onde ocorrem os processos técnicocientíficos, como do conhecimento que é produzido sobre eles (Carvalho, 2011). Muito longe de serem exaustivas, as reflexões apresentadas buscam visibilizar que Los análisis desde la perspectiva de género constituyen, no obstante, un campo de trabajo de importancia crucial que revela interesantes aspectos de las interacciones entre la sociedad y la actividad científicotecnológica y se plantea seriamente el reto de la reforma educativa (González Garcia y PérezSedeno, 2002:1). !#

Pablo Kreimer, Hebe Vessuri, Léa Velho y Antonio Arellano (coordinadores)

Este libro toma el desafio de mostrar algunas cuestiones importantes so­ bre el desarrollo de la ciência y la tecnologia en las sociedades de América Latina miradas a través de los investigadores dei campo de los estúdios de Ciência, Tecnologia y Sociedad (crs) de la región. La intención es presentar diversos textos que cubren un conjunto de temáticas presentes en la región, o que contribuyen a abrir nuevas pers­ pectivas en los estúdios sociales de la ciência, Ia tecnologia y el conocimiento en América Latina. Se pone el acento en el estado dei arte dei campo cts en la región latinoamericana, así como en una revisión crítica acerca de los enfoques disponibles para el estúdio social de la ciência y la tecnologia desde nuestra región, en el contexto general de la globalización económica y social. Esta obra constituye una colección única de información sobre los as­ pectos institucionales y organizativos de las ciências naturales y sociales en la región latinoamericana, resultado dei dinamismo alcanzado por el cam­ po cts en esta parte dei mundo, reflejando las orientaciones, enfoques y tradiciones que se fueron constituyendo en los últimos decenios. Los ar­ tículos ponen en evidencia el rico y abundante crecimiento de la producción de conocimiento en este campo, por lo que esperamos que contribuya a enriquecer los debates y la comprensión dei papel social de la ciência y la tecnologia en nuestro continente.

ISBN 978-607-03-0608-2 FORO CONSULTIVO CIENTÍFICO Y TECNOLÓGICO, AC

DISENO DE PORTADA: MARÍA LUISA MARTÍNEZ PASSARGE

PERSPECTIVAS LATINOAMERICANAS EN EL ESTÚDIO SOCIAL DE LA CIÊNCIA, LA TECNOLOGIA Y LA SOCIEDAD

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