Introdução Esquema Corporal

May 31, 2017 | Autor: Gabriel Barreiros | Categoria: Anatomy
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Esquema corporal é a consciência do corpo como meio de comunicação consigo mesmo e com o meio. É um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança e do adulto, posteriormente. É a representação relativamente global, científica e diferenciada que o indivíduo tem de seu próprio corpo.
Ajuriaguerra apud Freitas (1974) referindo-se à importância dos estudos sobre o corpo, escreve que é com o corpo que a criança elabora suas experiências vitais e organiza sua personalidade. Para o autor a noção de esquema corporal é considerada como uma noção de âmbito fisiológico, que pode ser entendida como a imagem mental do corpo registrada em nível cerebral, em função da integração das percepções e da elaboração das respectivas praxias. Pode-se dizer, portanto, que o esquema corporal (ou somatognosia) é de extrema importância para o indivíduo, e mais ainda para a criança em desenvolvimento. A integração das diversas percepções (visual, olfativa, auditiva, etc) funciona como um instrumento, que colabora para a formação da imagem mental que a criança registrará em seu sistema nervoso. Essa imagem servirá de referência para que a criança desenvolva sua individualidade (eu x outro).
Diversas abordagens pedagógicas utilizam-se de alguns conceitos da psicomotricidade para composição de metodologias de ensino, especialmente com crianças. Essas abordagens utilizam como premissa o próprio conceito de esquema corporal, e desenvolvem suas atividades visando o aprimoramento da somatognosia de seus alunos:
Muitos procedimentos de aprendizagem se apoiam precisamente em um marco de referência que inclui a noção clássica de psicomotricidade, o conhecimento implícito que o sujeito possui de seu próprio corpo, estático e em movimento, e sua relação com os objetos externos. O desenvolvimento da somatognosia, normalmente, se realiza posterior ao uso dos diversos componentes corporais: assim, por exemplo, uma criança de cinco anos possui uma notável capacidade manipulativa, entretanto, suas gnosias digitais se mostram bastante imaturas (PAULA, BEBER, BAGGIO & PETRY, 2006).
Freitas (2008), define esquema corporal como a imagem tridimensional que todos têm de si mesmos. Autores que estudam o esquema corporal referem que o mesmo exprime-se em imagens. Alguns autores, entre eles Pick apud Freitas, incluem o elemento ótico em sua definição de esquema corporal: para este pesquisador, aspectos perceptivos visuais seriam integrados às sensações cutâneas, permitindo um representação do espaço. "Trata-se de uma combinação de imagens, onde as sensações cutâneas, mais ou menos reveladoras da vida orgânica poderiam unir-se a aspectos visuais susceptíveis de representá-lo. O corpo está, então, vinculado ao espaço." (FREITAS, 2008).
Outros autores, entretanto, excluem do esquema corporal qualquer elemento ótico. Para eles, a somatognosia consistiria em uma espécie de intuição do conjunto (este conjunto entendido como as sensações às quais o corpo estaria submetido), sendo que toda nova impressão elementar uniria-se a este universo somático, transformando-o, e mudando a relação existente entre corpo e espaço. "O esquema corporal corresponde à totalização e à unificação constante das sensibilidades orgânicas e, particularmente, das impressões posturais." (FREITAS, 2008).
O esquema corporal não é mais do que uma condição elementar do ato. O espaço do corpo, ou espaço proprioceptivo, é diferente do espaço exterior. Entretanto, um ato ou uma ação só pode realizar-se quando uma adaptação ao espaço ótico e uma adaptação à natureza dos objetos se unem ao gesto. Deste modo, o esquema corporal não se restringe às imagens que o compõem, mas transforma-se em uma relação entre o espaço gestual e o espaço dos objetos, o da acomodação motora ao mundo externo.
De acordo com Fonseca (1997), diversas áreas do conhecimento se dedicaram ao estudo da somatognosia (esquema corporal). Dentre elas, podemos destacar quatro, que abordam o tema sob diferentes aspectos: perspectiva neurológica, mais centrada no estudo das multirrelações das sensações, das emoções e das percepções com as ações e concomitantes co-construções; perspectiva psicanalítica, mais enfocada nos estudos do Eu Corporal, da singularidade das introjeções-projeções do indivíduo, do simbolismo corporal, da personalogia, etc, desenvolvendo os paralelismos funcionais entre a noção do corpo e a emergência do EU, entendendo o indivíduo, e necessariamente a sua ontogênese e disontogênese, como uma emanência do corpo; perspectiva fenomenológica, mais orientada para o estudo da corporalidade e da sua espacialidade-temporalidade, do posicionamento da subjetividade espacial do indivíduo no mundo, da auto-referência da consciência e sua presença existencial dinâmica, sublinhando o papel do corpo como instrumento de compreensão do envolvimento e dos vários ecossistemas que lhe dão forma e coerência; perspectiva psicológica, mais direcionada para o estudo dos prelúdios do pensamento, para a aquisição da inteligência espacial pré-operacional e operacional, ou seja, para o papel integrador dos mecanismos gnósicos e práxicos, da apropriação do objeto e do outro, da síntese sistêmica do opticograma (espaço extra-pessoal) e do somatograma (espaço pessoal).
A noção de somatognosia, emerge como sinônimo de sentimento de existência, sentimento que equivale a cinestesia, entendida como contígua à própria noção do Eu, um verdadeiro testemunho da sua consciência histórica, onde se integram os processos evolutivos mais significativos da sua construção. Trata-se de uma representação ativa e dinâmica do corpo o espaço, subentendendo a postura e os seus segmentos corporais e o seu revestimento cutâneo próprio, através dos quais o indivíduo se encontra em contato com o mundo envolvente, para nele agir com eficácia e harmonia. (FONSECA, 1997).

A somatognosia compreende, portanto, um modelo corporal plástico, com singularidade própria e locação intra-individual intrínseca, com o qual nos reconhecemos no que somos, um componente inseparável do psíquico, cujo substrato neurológico principal de integração, parece situar-se no córtex parietal, a que corresponde a 2ª unidade funcional de Luria (1965, 1975).
Seguno Fonseca (1997), pode-se aplicar os conceitos desenvolvidos por Luria nas questões relacionadas a esquema corporal. A seguir, um breve resumo: áreas primárias, geneticamente predeterminadas e sem diferenciação hemisférica, cuja disfunção provoca assomatognosias, isto é, a perda ou alteração da capacidade para identificar estímulos táteis, cinestésicos ou propioceptivos; áreas secundárias, onde se produzem análises, sínteses, retenções e integrações da informação recebida das áreas primárias, com base em processos simultâneos e sequenciais, não verbais e verbais, já hemisfericamente especializados; e por último, áreas terciárias, onde se verificam equivalências e associações multissensoriais metacomponenciais que têm a sua origem na aprendizagem experencial e na interação sócio-histórica e contextual onde o indivíduo se desenvolve em termos evolutivos, holísticos e sistêmicos.



FREITAS, Neli Klix. Esquema corporal, imagem visual e representação do próprio corpo: questões teórico-conceituais. Ciência & Cognição, v. 13, n. 3, pp. 318-324, nov. 2008.

FONSECA, Vitor. Uma abordagem neuropsicológica à somatognosia. Infanto-Revista Neuropsiquiatria da Infância e Adolescência. v. 5, n.1, pp. 4-15, 1997.

PAULA, Giovana Romero; BEBER, Bárbara Costa; BAGGIO, Sandra Boschi e PETRY, Tiago. Neuropsicologia da aprendizagem. Rev. psicopedag. [online], vol.23, n.72, pp. 224-231, 2006.


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