Introducao a analise de processo estrategia de investigacao de caracter qualitativo em casos particulares

May 28, 2017 | Autor: Joao Carvalho | Categoria: Qualitative methodology, Qualitative Research, Case Study
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Introdução à análise de processo: estratégia de investigação de carácter qualitativo em casos particulares Abstract Este artigo pretende fundamentar a implementação de uma estratégia de investigação de carácter qualitativo denominada de análise de processo. A atual expansão do fenómeno da globalização coloca novos desafios à investigação nas ciências sociais. Neste contexto, a análise de processo distingue-se doutras estratégias de investigação pela capacidade para avaliar relações de causalidade de elevado nível de complexidade em casos particulares. Através da revisão da literatura, o artigo explora a definição da análise de processo, as suas duas principais vertentes, os testes empíricos realizados, bem como as vantagens e limitações inerentes à sua implementação. Palavras chave Análise de processo – métodos qualitativos – mecanismos causais – inferência causal

O progresso do fenómeno social da globalização e o subsequente aumento dos níveis de interdependência observados nas sociedades contemporâneas têm colocado novos desafios à investigação conduzida na disciplina de ciência política. As relações de interdependência podem ser definidas como relações de causalidade recíproca entre dois ou mais fatores, processos ou variáveis, o que torna impossível aferir qual deles teve um papel inicial determinante para a observação do fenómeno social (Hay, 2010). Deste modo, os fenómenos sociais no mundo contemporâneo são caracterizados pela sua crescente complexidade pelo que a sua observação raramente é o resultado da ação de uma única variável independente. Neste novo contexto intensifica-se a necessidade dos investigadores procederem a uma profunda reflexão sobre as vantagens e limitações das estratégias de investigação disponíveis para ultrapassar as dificuldades inerentes ao processo de identificação de relações de causalidade. Assim, o principal objetivo deste artigo consiste em fundamentar a implementação de uma estratégia de investigação com capacidade para avaliar relações de causalidade de elevado nível de complexidade.

Em paralelo aos desafios impostos pelo fenómeno da globalização, a disciplina da ciência política tem sido dominada por um intenso debate sobre os métodos e os axiomas teóricos que suportam a investigação nesta área científica. A reflexão teórica nesta disciplina conheceu um forte impulso com a ascensão do movimento ‘Perestroika’ (Laitin, 2003) e a publicação de três obras seminais no campo de metodologias de investigação intituladas: Designing Social Inquiry (King et al. 1994); Rethinking Social Inquiry (Brady e Collier, 2004; 2010) e Case Studies and Theory Development in the Social Sciences (George e Bennett, 2005). A publicação do primeiro livro na década de 1990 foi recebida com diversas críticas devido à redução do pluralismo metodológico e a imposição de conceitos derivados de métodos quantitativos, tais como a estatística, como fundamentos indispensáveis para aferir o carácter científico de estudos de carácter qualitativo (Brady et al., 2010). No entanto, os seus principais críticos reconhecem que essa mesma obra incentivou os proponentes de estudos qualitativos a apresentarem de forma rigorosa os pressupostos teóricos e métodos de investigação utlizados para fomentar a transparência e a sua potencial reprodução noutros casos (George e Bennet, 2005). Consequentemente, o segundo objetivo deste artigo consiste em estimular a aplicação rigorosa e transparente de uma estratégia de investigação de carácter qualitativo denominada de Análise de Processo (AP). Os estudos de carácter qualitativo têm sido recorrentemente criticados pela ausência de discussão dos fundamentos teóricos e dos métodos de investigação que sustentam essas investigações. Estes problemas têm sido associados com a falta de sistematização dos métodos qualitativos numa teoria unificada, facto esse que incentiva a sua aplicação de forma heterogénea. Para superar estas carências, o presente artigo explora a definição e a as diversas fases do processo de implementação da AP. Simultaneamente, este artigo procura ultrapassar falsas distinções e dicotomias que impedem a acumulação de conhecimento na disciplina de ciência política, tais a dicotomia entre métodos quantitativos e qualitativos (Landman, 2008). Como veremos adiante, a AP reúne vantagens intrínsecas relativamente a outras estratégias de investigação, bem como limitações importantes que devem ser consideradas pelos investigadores em ciência política e relações internacionais. A AP baseia-se no estudo exaustivo de um caso singular, envolvendo uma lógica de investigação complexa e intensiva que é recorrentemente comparada às atividades conduzidas pela figura literária do detetive Sherlock Holmes (Gerring, 2007). A AP tem um vasto campo de aplicação, podendo complementar estudos baseados num vasto número de casos de forma a aferir se a relação de causalidade enunciada através de métodos estatísticos tem um carácter genuíno num caso particular ou se pelo contrário tem uma natureza espúria (Meguid, 2008). A

implementação da AP também é frequente no estudo de casos considerados desviantes por investigações com amostras aleatórias ou de grande dimensão, podendo também ser utilizado para testar a validade de teorias de ‘rational choice’ em casos particulares (George e Bennett, 2005). Por fim, a AP tem sido amplamente desenvolvida no âmbito de estudos comparativos com um pequeno número de casos, os quais envolvem a comparação de inferências analíticas extraídas através da análise exaustiva de casos particulares (Hall, 2006). Em suma, este artigo apresenta os fundamentos teóricos que consubstanciam a implementação desta estratégia de investigação nas suas duas principais vertentes: a AP com o objetivo de testar teorias e a AP com o fim de produzir novas teorias. A estrutura deste artigo divide se em seis secções distintas, a primeira das quais aborda a origem, a definição desta estratégia de análise, e a distinção das suas principais vertentes em função dos seus objetivos distintos. Em seguida, a segunda secção examina o desenvolvimento da primeira vertente da AP que tem por base o método dedutivo. A terceira secção do artigo explora o processo de investigação inerente à aplicação da AP orientada para a elaboração de novas propostas teóricas, a qual adota uma racionalidade indutiva. A quarta secção aborda os testes de validade de relações causais disponíveis nesta estratégia de investigação. As últimas duas secções abordam as vantagens e limitações da sua da AP por forma a esclarecer o seu âmbito, que se seguem as conclusões

Definição de análise de processo O conceito de AP surgiu nos EUA na disciplina da psicologia cognitiva, durante as décadas de 1960 e 1970. Este termo englobava então diversas técnicas de investigação orientadas para a examinação das diferentes fases inerentes ao processo de tomada de decisão por parte de seres humanos, com o objetivo de explicar erros e distorções das suas interpretações da realidade (Bennet e Checkel, 2015). A génese desta estratégia de investigação está relacionada com a análise do comportamento humano e da influência de fatores explicativos da sua ação. A crescente utilização da AP na disciplina de ciência política está associada à emergência da teoria do realismo crítico no campo da filosofia da ciência e subsequentemente da corrente de análise denominada de construtivismo (George e Bennet, 2005), apesar de alguns autores defenderem o seu carácter positivista (Hall, 2006). O realismo crítico baseia-se na interpretação de que o contexto estrutural e a agência humana são mutualmente constitutivos da realidade social (Archer et al., 2013). Como tal, esta teoria da filosofia da ciência sugere que os fenómenos sociais são desprovidos de uma existência independente dos seres humanos.

Influenciados por esta corrente da filosofia da ciência, os construtivistas abordam os fenómenos sociais como a consequência de um processo dialético entre o contexto estrutural onde o fenómeno foi observado e a agência dos humanos (Wendt, 1987). Nesta perspetiva, os objetivos estratégicos, as perceções e a ação dos atores sociais intervenientes são considerados potenciais fatores explicativos da relação de causalidade, bem como outros fatores estruturais relacionados com o contexto onde a ação se desenvolve (Hay, 2002, 2016). Consequentemente, os proponentes de estudos qualitativos procuram elaborar interpretações da realidade social que também incluam a análise da atribuição de significado por partes dos atores à sua ação (Hall, 2003). Por fim, os investigadores interessados na identificação de mecanismos causais duvidam que os fenómenos sociais possam ser objeto de generalizações de carácter automático ou que a sua observação seja recorrente em estruturas sociais de larga escala (Johnson, 2006). Após a introdução às origens desta estratégia de investigação, a definição de AP será desenvolvida em seguida. Na atualidade, existe um consenso em torno da proposta elaborada por George e Bennett (2005, p. 206): ‘a análise de processo consiste na tentativa de identificar o processo causal interveniente - a cadeia de eventos ou o mecanismo causal, que interliga a variável independente (ou variáveis) e o resultado da variável dependente’. Assim sendo, a AP assenta na análise de dados empíricos sobre um fenómeno político num caso particular, com o objetivo de desenvolver ou testar hipóteses para explicar a ocorrência desse mesmo fenómeno. A descrição narrativa constituí um ponto fundamental desta estratégia de investigação, suportada pelo estudo exaustivo da sequência de eventos e das relações entre as variáveis enunciadas, bem como de conexões entre variáveis inicialmente omitidas. A AP assemelha-se à análise histórica devido à sua natureza diacrónica e o enfoque longitudinal sobre as diversas fases do fenómeno político (Hay, 2002). Porém, a distinção entre estas duas estratégias de análise deve-se ao ênfase da AP na definição de variáveis independentes e o teste de hipóteses para identificar o mecanismo causal presente no caso selecionado (Hall, 2003). Ademais, este objetivo deve ser alcançado através da apresentação de retratos dos eventos mais relevantes da cadeia causal em vez de se proceder à sua descrição exaustiva (Collier, 2011). O conceito de mecanismo causal referido na definição de AP está relacionado com processos físicos, sociais ou psicológicos através dos quais agentes com capacidade causal operam, e que podem deter um carácter inobservável (o caso de processos cognitivos). Estes processos têm

uma natureza contingente e apenas atuam em contextos muito particulares (George e Bennet, 2005, p.137). Nesta perspetiva, as variáveis explicativas têm um carácter interdependente relativamente ao contexto onde operam, uma vez que os seus efeitos desenvolvem-se em interação com outras variáveis intervenientes (Tilly, 2001). Em vez de definirem relações estáticas (se X é observado, logo Y irá ocorrer), os mecanismos causais referem-se a um processo (se X for observado, Y irá ocorrer através dos passos A, B, C) (George e Bennet, 2005, p.141). A AP supõe que as relações de causalidade inerentes aos fenómenos sociais têm um carácter complexo em vez de uma natureza linear, onde o resultado de uma variável dependente resulta da convergência entre diversos fatores e variáveis independentes numa cadeia causal com características particulares. Assim, os mecanismos causais designam sistemas complexos ou formulações teóricas sobre a ação recíproca entre variáveis independentes, que incluem uma referência explícita à relação de necessidade entre as propriedades destas variáveis e o resultado da variável dependente. Este conceito supõe a identificação de variáveis intervenientes que ajudam a explicar a forma como o comportamento das variáveis independentes originam o fenómeno político selecionado, bem como as diferentes fases inerentes à cadeia causal que conduziu a esse processo político. Em vez de examinar a covariação entre as variáveis X e Y, esta estratégia de investigação supõe a presença de diversos fatores causais cuja relevância não pode ser eliminada a priori através de técnicas quantitativas ou pela objetividade do desenho do projeto investigação (Gerring, 2007). Por fim, os mecanismos causais devem ter efeitos uniformes em contextos particulares no curto-prazo, enquanto as consequências em termos agregados, cumulativos e de longo prazo têm um elevado grau de variação em função das circunstancias iniciais e da potencial interação com outros mecanismos causais (Tilly, 2006). No intuito de identificar o mecanismo causal explorado na investigação, o investigador deve conduzir um estudo de caso exaustivo baseado na recolha de observações sobre o processo causal (OPC). Estes dados empíricos devem providenciar informação sobre o contexto, processo ou mecanismo causal aumentando a capacidade do investigador de proceder a inferência analíticas (Brady et al. 2010). As OPCs são consideradas incomensuráveis entre si e podem deter uma natureza qualitativa ou quantitativa. Dado o carácter pluralista da AP, estes dados empíricos podem ser recolhidos através de diversos métodos de investigação. Uma das vantagens desta estratégia consiste na potencial utilização de múltiplas observações para se verificar a validade de uma única inferência, facto que ajuda a explicar o número indeterminado de OPCs referido nos estudos baseados na AP (Gerring, 2007). Porém, a inferência analítica

realizada através da utilização OPCs terá necessariamente um carácter nominal em vez de ordinal. Por fim, a definição de caso empregue na AP pondera a classe de eventos relacionados com o fenómeno político que interessam ao investigador e constituem a unidade de análise do estudo (George e Bennet, 2005). Um caso pode ser constituído por um fenómeno ou entidade política, social, institucional ou individual sobre a qual são recolhidas observações empíricas e posteriormente realizadas inferências causais (Brady and Collier, 2010). Por conseguinte, os casos de estudo podem ser nações, movimentos sociais, partidos políticos ou políticas públicas. A seleção de caso no âmbito da AP realiza-se em função dos objetivos da investigação e das proposições das teorias existentes com base numa lógica de casos cruciais ou de casos desviantes. Na primeira perspetiva, a justificação do caso selecionado baseia-se na correspondência entre as variáveis independentes propostas por uma teoria disponível e o resultado da variável dependente. Esse elevado grau de correspondência tornam o caso selecionado num modelo crucial da validade da teoria testada. Posteriormente, o caso selecionado pode servir de modelo de uma população mais vasta de casos que apresentem características semelhantes, possibilitando a generalização das inferências realizadas sobre o caso particular aos restantes membros dessa população. Em alternativa, o processo de seleção poderá incidir sobre um caso que apresente um comportamento desviante entre as proposições das teorias disponíveis e as observações empíricas recolhidas pelo investigador. O objetivo da investigação sobre um caso desviante consiste na identificação do mecanismo causal que provocou o resultado da variável dependente nesse caso particular ou na avaliação da influência de variáveis independentes que tenham sido inicialmente omitidas pelas teorias existentes. Após esta introdução à AP, as próximas secções irão explorar as suas duas principais vertentes, as quais se distinguem em função dos seus diferentes objetivos: AP com o intuito de testar teorias e a AP com o propósito de produzir novas teorias.

Análise de processo para testar teorias A primeira vertente de AP tem sido recorrentemente utilizada por investigadores envolvidos em debates científicos entre teorias rivais. Baseada no raciocínio lógico dedutivo, a AP com o fim de testar teorias procura identificar o mecanismo causal enunciado pelas teorias disponíveis para explicar a observação da variável dependente no caso selecionado. A validade de cada teoria depende do grau de correspondência entre as suas proposições teóricas e as OPCs

recolhidas sobre o fenómeno social. Uma vez que a AP adota uma interpretação determinística de causalidade em vez de probabilística (Mahoney, 2000), a validade de uma teoria pode ser colocada em causa quando a observação da variável dependente não for acompanhada pela identificação do mecanismo causal enunciado por essa proposta teórica (Munck, 2004). No entanto, esta incongruência não implica a refutação da teoria testada. O investigador apenas poderá demonstrar as limitações dessa proposta teórica e realçar a necessidade de se proceder a estudos adicionais para elaborar uma explicação mais completa do fenómeno social selecionado. Além de permitir a expansão ou delimitação do âmbito de uma teoria em particular, a AP com o fim de testar teorias possibilita a identificação da presença de variáveis independentes omitidas pela teoria testada, ou a avaliação da validade de duas teorias rivais que competem para explicar o mesmo fenómeno num caso particular (George e Bennett, 2005; Hall, 2006). Desta forma, esta vertente da AP pode contribuir para aperfeiçoar as propostas teóricas disponíveis e para a acumulação de conhecimento nas disciplinas da ciência política e relações internacionais. A implementação desta vertente da AP depende obrigatoriamente da seleção de teorias relevantes para a compreensão do fenómeno social selecionado. Na fase preliminar do processo de investigação, deve-se proceder a uma profunda revisão da literatura para identificar uma teoria favorita, bem como outras teorias rivais. Dado o carácter pluralista e determinista da AP, o sucesso desta estratégia de investigação consiste assim na avaliação da validade de mais que uma teoria no caso selecionado (Hall, 2006). Através do raciocínio lógico dedutivo, o investigador terá de extrair as hipóteses sobre o mecanismo causal e os padrões de interação entre as variáveis independentes enunciados pelas teorias selecionadas. Estas previsões devem ter um carácter mutualmente exclusivo relativamente às hipóteses extraídas doutras teorias rivais, ou seja, não podem ocorrer em simultâneo para fomentar a avaliação da sua validade de uma forma rigorosa (George e Bennett, 2005). Uma das dificuldades recorrentemente observadas nesta fase inicial consiste na ausência de uma formulação explícita por parte de inúmeras teorias sobre as observações empíricas que são necessárias identificar para aferir a sua validade. Nestes casos o investigador deve interpretar o mecanismo causal vagamente enunciado pela teoria selecionada e conceptualizar a cadeia causal proposta de forma a poder avaliar a sua presença no caso selecionado. O sucesso da aplicação desta vertente da AP depende em grande parte da consistência do desenho do projeto de investigação, que envolve longas justificações sobre a validade conceptual das opções

tomadas pelo investigador (Blatter e Blume, 2008). Numa segunda fase do processo, o investigador deve recolher OPCs através do estudo intensivo do caso selecionado. Estas observações devem providenciar informação sobre a eventual presença do mecanismo causal enunciado pelas teorias selecionadas. Por outro lado, os dados empíricos devem contribuir para avaliar se a sequência a cadeia causal sugerida por cada uma das teorias foi observada na sua totalidade ou apenas parcialmente. Portanto, as OPCs recolhidas no caso selecionado estão profundamente interligadas com as teorias testadas e englobam dados empíricos relacionados com: a cadeia de eventos que antecede o resultado da variável dependente, as ações dos diversos tipos de atores, declarações dos principais atores sobre o motivo que orientou as suas ações, bem como outras observações que indiquem se a cadeia causal antecipada por cada uma das teorias está presente no caso selecionado (Hall, 2006). Nesta vertente da AP, as OPCs que detenham a capacidade de estabelecer uma relação consistente entre o mecanismo causal enunciado por uma teoria e o efeito da variável dependente detêm maior relevância que outros dados empíricos (Blatter e Blume, 2008). Na última fase da implementação desta vertente de AP, o investigador deve avaliar a correspondência entre as previsões de cada teoria selecionada e as observações recolhidas no caso particular (Hall, 2006). Em alternativa a análises de correlação estatística, a AP afere se a sequência de eventos inerente à observação do fenómeno social no caso selecionado corresponde integralmente à cadeia causal enunciada pela teoria testada. Caso contrário, o investigador deve procurar emendar as proposições dessa teoria ou questionar a sua validade no caso selecionado (George e Bennett, 2005). Ao longo deste processo de validação, o investigador pode identificar mecanismos causais ou variáveis independentes suplementares que detêm um papel relevante, mas que terão sido negligenciadas pelas teorias disponíveis. Portanto, a vertente de AP com o fim de testar teorias pode conter uma componente indutiva e contribuir para a elaboração de novas propostas teóricas para serem posteriormente testadas noutros casos (George e Bennet, 2005). Um dos estudos que se enquadra na vertente da AP para testar teorias consiste no trabalho de John Owen (1994) sobre paz democrática. Inúmeros estudos quantitativos demonstram a existência de uma correlação entre estados democráticos e longos períodos de paz, apesar de omitirem o mecanismo causal que explique a relação causal. Através das teorias existentes, o autor formulou cinco hipóteses para explorar a relação causal entre sistemas políticos liberais,

em vez de democráticos, e a ausência de conflitos armados. O mecanismo causal proposto sugere que a observação deste padrão se deve à presença das teorias normativas e constrangimentos institucionais inerentes a democracias liberais. Através da aplicação da AP em quatro casos nos quais os Estados Unidos da América estiveram perto de declarar guerra a outro estado liberal, o autor sugere que o liberalismo conduz a uma ideologia específica que orienta a política de negócios estrangeiros e as instituições desses sistemas políticos. Ao longo da investigação, o autor analisou diversas observações (discursos de atores políticos de ideologia liberal e as suas opiniões em jornais diários) em diferentes fases do processo causal para avaliar a congruência das suas previsões, bem como de teorias rivais. Após esta revisão da definição e implementação da AP com o objetivo de testar teorias, a próxima secção deste artigo irá abordar a segunda vertente da AP.

Análise de processo para propor uma nova teoria A segunda vertente da AP tem como objetivo a elaboração de uma nova teoria sobre um fenómeno político através da identificação do mecanismo causal num caso particular. Apoiado no raciocínio lógico indutivo, estes estudos partem dos dados empíricos recolhidos através do estudo de caso exaustivo para construir um hipotético mecanismo causal que explique o resultado da variável dependente e possa ser generalizável a outros casos. Normalmente, esta vertente da AP tem sido desenvolvida a partir de casos de estudo considerados desviantes, bem como fenómenos sociais cujo estudo tenha sido negligenciado pela comunidade científica ou sobre os quais não existem ainda teorias disponíveis (Bennet e Checkel, 2015). O seu principal objetivo consiste na elaboração de uma teoria parcimónia sobre o mecanismo causal que gera um fenómeno social que seja potencialmente observado noutros casos para além daquele inicialmente selecionado. No entanto, o âmbito destas conclusões deverá ser delimitado com precisão pelo investigador para que estas constituam generalizações de carácter contingente e restringidas a uma população particular de casos. Na primeira etapa do processo de implementação desta vertente de AP, deve-se procurar efetuar uma recolha exaustiva de dados empíricos sobre o fenómeno social no caso selecionado. A pesquisa realiza-se com base numa sequência temporal retroativa, ou seja, tem início no momento em que o resultado da variável dependente foi observado, procurando estabelecer a cadeia causal que antecedeu e originou esse fenómeno. A justificação do início

da investigação deve ser providenciada na introdução do estudo (Blatter e Blume, 2008). Neste período, o investigador deve recolher um vasto número de dados empíricos de um leque diversificado de fontes de informação para prevenir potenciais enviesamentos na pesquisa. Os dados empíricos recolhidos devem considerar fatores estruturais e agenciais que tenham estado presentes na cadeia causal inerente à observação do fenómeno social. Desta forma, a investigação poderá construir uma análise equilibrada desta dualidade analítica, prevenindo potenciais omissões das preferências dos atores sociais ou de fatores estruturais relacionados com o contexto onde decorreu a agência desses atores. Numa segunda fase da investigação, o investigador necessita de selecionar quais dos dados empíricos podem deter o carácter das OPCs para posteriormente proceder ao processo de indução do mecanismo causal que gerou o resultado da variável dependente. Esta fase da investigação tem um carácter extremamente interpretativo dada a ausência de proposições específicas de uma teoria que orientem e fundamentem essa categorização. Consequentemente, o posicionamento ontológico e ideológico do autor detém um maior nível de influência nesta fase da investigação em comparação a outras estratégias de investigação (Gerring, 2007). O carácter interdisciplinar da AP nas suas duas vertentes possibilita a dedução de hipóteses preliminares de teorias doutras disciplinas das ciências sociais que estejam potencialmente relacionadas com o objeto de estudo para conduzir a avaliação preliminar dos dados empíricos (Checkel, 2015). Após a identificação das OPCs que antecederam a variável dependente, deve-se procurar formular hipóteses preliminares sobre o mecanismo causal que explique a observação da variável dependente através de um processo de tentativa e erro. As hipóteses que apresentem níveis de consistência mais elevados poderão ser formuladas de forma parcimónia para examinar a sua validade novamente. Esta vertente da AP também contém uma componente dedutiva que envolve o teste dos mecanismos causais propostos pelo investigador. No intuito de aumentar a confiança relativamente à sua validade, o mecanismo causal proposto pode ser testado em relação a novos dados empíricos extraídos do caso particular do qual foi derivado (Mahoney, 2012). Porém, um dos problemas recorrentes na formulação das conclusões de estudos sobre casos desviantes consiste no risco de se proceder à excessiva generalização do mecanismo causal identificado no âmbito da investigação (“complexificação baseada em casos extremos”, Collier et al., 2004). Consequentemente, os investigadores devem evitar exagerar a relevância causal de fatores específicos ou idiossincrasias inerentes ao contexto do caso selecionado.

Um dos estudos que demonstra a aplicação da AP com o fim de construir teorias consiste na investigação sobre a utilização de armas nucleares por parte dos EUA no período após a Segunda Guerra Mundial (Tannenwald, 1999). A autora deste estudo propunha que esta hipótese nunca foi observada nos processos de decisão liderados pelos Presidentes dos EUA devido à presença de constrangimentos normativos. Estes obstáculos refletiam a presença de um ‘tabu nuclear’ derivado da rejeição massiva por parte da opinião pública americana, sobretudo após a disseminação pública das consequências deste tipo de armamento. Através da aplicação da AP em quatro casos de conflito armado envolvendo os EUA, a investigação apresenta dados empíricos que comprovam o incómodo dos diferentes Presidentes dos EUA e dos seus conselheiros perante a perceção de uma atitude claramente negativa da opinião pública relativamente à utilização de armas nucleares. Aliás, este estudo demonstra que os Presidentes dos EUA evitavam realizar quaisquer referências sobre esta opção com receio que estas deliberações se tornassem do domínio público. A próxima secção explora a forma como os investigadores que utilizam a AP nos seus estudos avaliam a validade das inferências causais realizadas.

Testes de inferências causais em AP Uma vez que a AP é baseada numa interpretação determinística de causalidade, a identificação de uma relação causal entre variáveis independentes e dependente nesta estratégia de investigação depende da observação de condições de necessidade e suficiência (Mahoney, 2000). Aliás, o carácter nominal das inferências analíticas extraídas através da implementação de AP têm maior vocação para facilitar a avaliação deste tipo de relações do que para providenciar estimativas numéricas da magnitude dos efeitos causais (Bennett e George, 2005). Relações de necessidade identificam uma variável independente cuja presença é fundamental para se observar o resultado da variável dependente, uma vez que a ausência da primeira impede a ocorrência da segunda (Brady e Collier, 2010). Portanto esta conexão supõe que “X é condição necessária de Y se Y não ocorre sem que X ocorra” (Almeida et al.; 1973). Por sua vez, relações de suficiência definem variáveis independentes cuja presença é um requisito obrigatório para produzir o resultado da variável dependente, ou seja a presença do fator causal identificado é suficiente para gerar a observação da variável dependente (Brady e Collier, 2010). Numa perspetiva positivista, esta relação pode ser definida como: “X é condição necessária de Y se, sempre que X ocorre, Y também ocorre” (Almeida et al.; 1973) enquanto os investigadores de carácter qualitativo destacam o carácter contingente das relações de

causalidade identificadas pelas suas investigações (Tilly, 2006). A validade das inferências causais realizadas na AP depende da capacidade probatória das OPCs extraídas através da análise exaustiva do caso particular em vez do número de observações que confirma a hipótese testada. Tal como outras estratégias de investigação relacionadas com a lógica Bayesiana, a AP admite que o valor probatório de um dado empírico pode ser variável, enquanto a validade de uma explicação de um caso pode ser validada ou rejeitada com base numa OPC singular (George e Checkel, 2015). Os testes disponíveis para averiguar a inferência causal de investigações neste âmbito podem ajudar a estabelecer: se um evento ou processo específico foi observado, se outro evento ou processo específico ocorreu depois de ter sido observado o primeiro, e por fim, se o evento ou processo anterior foi causado pelo primeiro evento (Mahoney, 2012). A partir da investigação desenvolvida Van Evera (1997) em torno das condições de necessidade e suficiência causal, os proponentes da AP desenvolveram um conjunto de testes para avaliar as inferências causais realizadas pelas suas investigações, os quais englobam: “straw-in-the-wind-tests”, “hoop tests”, “smoking gun tests”, e “doubly decisive tests” (Bennett, 2010; Collier, 2011). Porém, estes testes raramente tem um carácter explícito nos estudos publicados, uma vez que estas considerações são desenvolvidas implicitamente pelos investigadores ao longo do processo de investigação para examinar a validade das suas inferências causais (Mahoney, 2012). A primeira categoria de testes aumenta a plausibilidade de uma teoria através do teste da sua principal previsão em relação às OPCs recolhidas num caso particular, permitindo a avaliação da validade da hipótese testada de forma geral. Porém, os “straw-in-the-wind-tests’ não detêm um carácter determinante dada a sua incapacidade de enfraquecer a admissibilidade de hipóteses rivais. Em paralelo, os “hoop tests” envolvem o exame de OPCs que comprovem a existência de uma relação de necessidade entre variáveis independente e dependente, conferindo um elevado grau de certeza relativamente à validade da hipótese testada. No entanto, este teste também é desprovido de um carácter determinante por não fazer referência a uma relação de suficiência. Caso não seja possível identificar OPCs que sustentem a observação dessa relação, a hipótese ensaiada poderá ser descartada pelo investigador porque se elimina a possibilidade de se observar uma relação causal com a variável dependente. Os “smoking gun tests” fazem referência à condição ou combinação de fatores cuja presença seja suficiente para a observação do resultado da variável dependente. Como Collier (2011, p. 827) descreve, ‘esta metáfora sugere que um suspeito encontrado na posse de uma arma

fumegante deve ser culpado. No entanto, os intervenientes desprovidos de uma arma fumegante poderão não estar inocentes’. Este teste indica assim uma relação de suficiência entre variável independente e resultado da variável dependente, mas não comprova o critério de necessidade que permitiria determinar a validade de inferência causal. Embora seja desprovido de um caracter determinante, a autenticidade das hipóteses rivais é substancialmente reduzida quando a hipótese testada é validada por um “smoking gun test”. Em contrapartida, a ausência de OPCs que comprovem a presença da relação causal enunciada no caso selecionado reduz a possibilidade da hipótese testada ser observada e reforça simultaneamente a potencial validade das hipóteses rivais. Os investigadores que identificam hipóteses validadas através de “smoking gun tests” procuram dados empíricos adicionais no caso selecionado que sejam uma repercussão necessária da presença do mecanismo causal referido na hipótese testada. Por fim, os “doubly decisive tests” providenciam um alto nível de capacidade de inferência porque podem confirmar uma hipótese e simultaneamente eliminar as suas rivais. Desta forma, obedecem aos critérios de necessidade e de suficiência, embora a sua aplicação seja bastante rara nas ciências sociais porque implica a aplicação de testes múltiplos. Em suma, os testes para avaliar relações de causalidade disponíveis no âmbito da AP utilizam OPCs relacionadas com o mecanismo causal testado para examinar as inferências causais realizadas através do estudo de caso em profundidade. As seguintes seções desenvolvem os principais benefícios e limitações inerentes à aplicação da AP como estratégia de investigação de natureza qualitativa.

Vantagens da Análise de processo Os estudos de um caso singular são frequentemente criticados pela falta de graus de liberdade devido ao enfoque num só caso, opção essa que supostamente reduz a validade das inferências causais propostas por essas investigações (King et al. 1994). Porém, um estudo de caso singular pode conter múltiplas OPCs e a AP possibilita a utilização de diversas observações para aferir a validade de uma única inferência (Gerring, 2007). Aliás, o conhecimento profundo do investigador sobre o contexto onde o fenómeno ocorreu, bem como das teorias disponíveis sobre esse mesmo, aumenta a capacidade de inferência do investigador e a sua aptidão para examinar a validade de hipóteses rivais. Desta forma, a AP permite avaliar se a relação de causalidade enunciada tem um carácter espúrio ou se obedece a condições de necessidade e de suficiência. As relações espúrias sucedem-se quando existem variáveis correlacionadas que

aparentam ter uma relação causal, quando na realidade foram geradas por uma variável antecedente (Mahoney, 2000). A AP tem a capacidade de abordar fenómenos sociais causais originados por relações de equifinalidade, ou seja, efeitos de causalidade múltipla e conjuntural (George e Bennett, 2005). Por conseguinte, o resultado da variável dependente pode ser interpretado como o resultado da ação combinada de mais que uma variável independente (Hall, 2003). Em paralelo, a observação de um fenómeno social com características semelhantes em casos diferentes pode ser consequência da ação de mecanismos causais distintos. Esta característica da AP obriga o investigador a adotar uma perspetiva pluralista relativamente a outras teorias rivais, cuja validade não pode ser eliminada a priori. Portanto, as duas principais vertentes de AP permitem o estudo de eventos altamente complexos e a examinação de um vasto número de variáveis independentes através da análise intensiva num caso singular (George e Bennet, 2005). Em consequência da perspetiva longitudinal inerente a esta estratégia de investigação, a AP possibilita a análise de fenómenos sociais gerados por relações de “path dependence” e suporta investigações que incidem sobre “critical junctures” (conjunturas críticas). As relações causais de “path dependence” definem situações nas quais o leque de opções disponível para um decisor político é severamente limitado por uma deliberação realizada no passado (Pierson, 2000). Consequentemente, essa decisão teve efeitos cumulativos a longo-prazo que aumentam consideravelmente os custos de potenciais alterações ou a eventual reversão da opção inicial por parte dos atores sociais. Por sua vez, as “critical junctures” são definidos como períodos temporais curtos nos quais existe uma elevada probabilidade das opções e ações dos atores sociais afetarem consideravelmente o resultado da variável dependente (Cappocia e Kelemen, 2007). Em suma, a AP permite analisar de que forma os resultados da variável dependente foram influenciados por fatores causais observados no passado, e como esses restringiram a ocorrência doutros potenciais resultados (George e Bennett, 2005). A quarta principal vantagem desta estratégia de investigação em relação a outros paradigmas, consiste na ponderação equilibrada de fatores relacionados com a estrutura social e a agência dos atores sociais envolvidos nesse processo (Bennet e Checkel, 2015). O conceito de estrutura aborda o contexto no qual o processo político foi observado e adquiriu significado, o qual é definido por relações específicas de poder que preexistem à emergência dos atores sociais. Por sua vez, a agência dos atores intervenientes refere-se à sua conduta ou ação nesse mesmo contexto, que é interpretada como sendo orientada pela persecução dos objetivos estratégicos

dos atores (Wendt, 1987; Hay, 2002). Os estudos que abordam a agência dos atores sociais têm necessariamente de explorar a influência das ideias desses indivíduos sobre a sua interpretação da realidade social e das suas ações (Tilly, 2006). Portanto, a AP considera a ideologia dos agentes causais como potenciais variáveis independentes para entender a ocorrência do fenómeno social selecionado. Após a examinação dos principais benefícios desta estratégia de investigação qualitativa, a próxima secção apresenta as suas principais desvantagens.

Limitações da análise de processo Tal como é amplamente reconhecido pelos investigadores proponentes da AP, as conclusões extraídas através da implementação desta estratégia de investigação têm um alcance bastante reduzido (Checkel, 2015). O ênfase colocado na identificação de mecanismos causais significa que as generalizações extraídas devem ter um carácter específico a determinados contextos ou a uma categoria particular de um fenómeno social (George e Bennett, 2005). Os investigadores que aplicam esta estratégia de investigação sacrificam a parcimónia das suas conclusões para conseguir elaborar propostas teóricas com maior capacidade de precisão relativamente a uma população específica de casos (Hay, 2002). Assim, as conclusões da implementação da AP podem ser consistentes com as explicações históricas de um caso em particular e com os padrões teóricos observados noutros casos, mas são desprovidas de carácter probabilístico ou universal. O objetivo final da implementação desta estratégia de investigação tem assim um âmbito mais modesto e intermédio que outros paradigmas de investigação. Uma das principais dificuldades durante a implementação desta estratégia de investigação consiste na identificação de um padrão casual ininterrupto que relaciona as variáveis independentes com o resultado da variável dependente. Por conseguinte, basta uma das variáveis independentes ter um comportamento desviante daquele inicialmente proposto por uma teoria para que a validade dessa proposta possa ser questionada. Esta possibilidade aumenta assim o risco dos estudos baseados na AP fracassarem, dada a facilidade de se verificarem desfasamentos entre as propostas teóricas e a ação das variáveis independentes enunciadas. Por outro lado, o teste de teorias rivais através da implementação da AP pode deter um elevado grau de dificuldade em casos nos quais as teorias especificam mecanismos causais com um carácter complementar em vez de mutualmente exclusivo. O exame de duas teorias rivais pode ainda ser dificultada pela ausência de dados empíricos disponíveis que permitam realizar essa apreciação.

Outro dos desafios recorrentemente verificados ao longo da execução desta estratégia de investigação consiste na dificuldade em identificar os dados empíricos que devem ser classificados como OPCs e que indicam o mecanismo causal presente no caso selecionado (Checkel, 2015). A utilização de OPCs obriga o investigador a proceder à classificação dos dados empíricos e a realizar raciocínios complexos sobre inferências causais sem o suporte de instruções específicas, as quais estão disponíveis noutras estratégias de investigação rivais (Collier et al., 2010). No entanto, a literatura sobre AP não aborda esta dificuldade, bem como o nível de detalhe requerido para se realizar inferências causais. Por fim, a implementação desta estratégia de investigação exige uma intensa disponibilidade por parte do investigador para a executar de forma rigorosa dado o seu carácter altamente laborioso (Hay, 2002).

Conclusões Este artigo apresentou uma revisão da literatura que visou apresentar a definição de AP, as suas duas principais vertentes, os testes utilizados para avaliar a validade das inferências causais, e das suas principais vantagens e limitações. A AP destaca-se pela capacidade para examinar fenómenos sociais marcados por relações causais de elevado nível de complexidade. Por este motivo, os estudos na ciência política podem utilizar esta estratégia de investigação para superar os crescentes desafios gerados pelo desenvolvimento da globalização. No entanto, a AP não constitui uma solução miraculosa para os obstáculos inerentes à elaboração e execução de um projeto de investigação, contendo limitações importantes que não podem ser negligenciadas pelos investigadores. A implementação de uma das suas duas principais vertentes deverá ser assim selecionada em função da questão de investigação e dos objetivos que orientam esse projeto. Por fim, a natureza pluralista da AP estimula a elaboração de projetos de investigação tanto de carácter

interdisciplinar,

como

intradisciplinar.

No

atual

contexto

de

crescente

compartimentalização das ciências sociais, a AP permite o teste de validade de teorias de disciplinas para além da ciência política para se compreender os fenómenos sociais. A AP com o objetivo de construir novas teorias políticas pode ser aplicada para elaborar novas propostas inspiradas noutras disciplinas das ciências sociais, como a economia, a psicologia social ou a filosofia. Em paralelo, o carácter transversal desta estratégia de investigação pode também estimular o desenvolvimento de estudos que integrem o contributo das diversas subdisciplinas inerentes à ciência política. Desta forma, a AP permite realizar uma síntese dos contributos dos

investigadores que se focam exclusivamente no estudo de partidos políticos, políticas públicas ou comportamentos eleitorais. Em suma, a AP pode contribuir para reverter a atual tendência de crescente especialização nas ciências sociais, bem como das diversas áreas de interesse que constituem a ciência política.

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