Araújo ,Santos, Farias, França, Silva, Gomes, Tedesco, Padilha, Belian
INVESTIGAÇÃO SOBRE INOVAÇÕES PEDAGÓGICAS PROTAGONIZADAS POR DOCENTES EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO UNIVERSITÁRIO NO BRASIL Raul Amaral de Araújo1, Rayanne Angela Albuquerque dos Santos2, Romerita Silva Farias3, Rozelma Soares de França4, Tatyane Souza Calixto da Silva5, Roseane Lins Vasconcelos Gomes6, Patricia Cabral de Azevedo Restelli Tedesco7, Maria Auxiliadora Soares Padilha8, Rosalie Barreto Belian9 Universidade Federal de Pernambuco
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Resumo: O objetivo deste trabalho foi compreender concepções e práticas sobre inovação pedagógica em uma instituição universitária, na perspectiva dos docentes, por meio de estudo descritivo com abordagem qualitativa. Destacamos iniciativas que rompem com a transmissão de conteúdos, proporcionando autonomia aos educandos, e que buscam uma rearticulação entre teoria e prática. Palavras-chaves: universitária.
educação
superior;
prática
pedagógica;
docência
Introdução Este trabalho discute os resultados de uma pesquisa institucional realizada com o objetivo de compreender as concepções e as práticas relativas à inovação pedagógica de professores da Universidade Federal de Pernambuco, instituição 1
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de ensino superior federal, localizada no estado de Pernambuco, região nordeste do Brasil. Tal pesquisa foi estimulada por inquietações dos docentes e da gestão da universidade citada, buscando melhorar a qualidade do ensino e para tal, tentando conhecer o cenário relacionado à inovação pedagógica, no contexto de seu ensino de graduação. Essas reflexões estão inseridas num processo de mudanças paradigmáticas que envolvem o ensino e a aprendizagem nas diversas universidades brasileiras, que vivenciam um processo de transição entre um paradigma educacional tradicional e um paradigma educacional emergente (BEHRENS, 2005; MASSETO, 2012; LEITE, ZABALZA, 2012). O paradigma tradicional tem como figura central o docente, tido como detentor e transmissor do conhecimento, centralizando-se no ensino aos educandos, que teriam um papel passivo nesse contexto, passando por avaliações rotineiras e de cunho somativo (BEHRENS, 2005; MASSETO, 2012). O paradigma emergente, por outro lado, enfatiza o papel dos educandos, não descartando a importância dos docentes na construção do conhecimento. Neste paradigma, há uma ação sinérgica entre os atos de ensinar e de aprender, que devem ser realizados colaborativamente entre esses atores, tendo o suporte de avaliações formativas, visando o crescimento intelectual e humano dos educandos e dos docentes, não sendo apenas um meio de aprovações ou reprovações (BEHRENS, 2005; MASSETO, 2012). Métodos A presente pesquisa foi realizada por meio de um estudo descritivo e transversal, com abordagem qualitativa e amostragem de cunho censitário, realizado com docentes da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Os dados foram coletados por meio de formulário eletrônico enviado a todos os docentes da UFPE. Foram incluídos na pesquisa os docentes que responderam ao formulário, compondo uma amostra de 206 participantes. À época, a universidade contava com cerca de 2.600 professores, lotados em três campi e em 105 cursos de graduação. No formulário constavam três questões: 1) Versava sobre a realização de ações, projetos ou práticas inovadoras no ensino da graduação, sendo uma pergunta 2
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filtro para a questão seguinte; 2) Solicitava aos docentes que descrevessem experiências exemplificadoras de suas práticas inovadoras; 3) Nessa questão, os docentes caracterizavam o que entendiam como prática docente inovadora. A análise das informações obtidas ocorreu por meio da análise de conteúdo (BARDIN, 1977), sendo que as unidades de registro foram agrupadas em sete categorias temáticas dadas a priori, conforme categorização de inovações pedagógicas sugerida por pesquisadora na área educacional (CUNHA, 2008), além de pressupostos educacionais delineados com base na educação superior (MASSETO, 2012; LEITE, ZABALZA, 2012). Estas categorias estão assim distribuídas: 1) Ruptura com a forma tradicional de ensinar e aprender; 2) Gestão participativa; 3) Reconfiguração dos saberes; 4) Reorganização da relação teoria e prática; 5) Perspectiva orgânica no processo de concepção, desenvolvimento e avaliação da experiência desenvolvida; 6) Mediação; e 7) Protagonismo. Resultados e discussões Nesta seção, abordaremos as inovações pedagógicas, de acordo com as categorias delimitadas por Cunha (2008), tendo em vista que tais inovações emergem de rupturas com a forma tradicional de ensino, assentada na transmissão de conhecimentos (FREIRE, 2011). Tais rupturas requerem mais que a incorporação de novidades, até mesmo as tecnológicas. Desse modo, o desenvolvimento e a consolidação de inovações pedagógicas exigem esforços tanto dos educadores, quanto dos educandos, para que ambos perpassem para novos modos de ensinar e de aprender, indo além de técnicas e métodos de ensino, para promover uma verdadeira mudança paradigmática. Diante disso, destacamos as categorias referentes à Ruptura com a forma tradicional de ensinar e aprender, e à Reorganização da relação entre teoria e prática (Tabela 1), fazendo-nos vislumbrar um distanciamento da influência exercida pela ciência moderna no meio educacional, no que diz respeito à disjunção, redução e simplificação dos saberes, aspectos diretamente relacionados à supervalorização de teorias em detrimento da prática (MORIN, 2013). Tabela 1 - Distribuição das categorias sobre inovação pedagógica na Universidade Federal de Pernambuco. Recife-PE, Brasil, 2014 3
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Categorias sobre inovação pedagógica Ruptura com a forma tradicional de ensinar e aprender Reorganização da relação teoria e prática
n (%) 113 (34,1%) 96 (29%)
Mediação
38 (11,5%)
Protagonismo
38 (11,5%)
Reconfiguração dos Saberes
31 (9,4%)
Perspectiva orgânica da experiência desenvolvida
10 (3%)
Gestão Participativa
5 (1,5%)
As duas categorias supracitadas têm importância nas mudanças ligadas à transição entre o paradigma educacional tradicional e o emergente, não só quanto à religação entre os saberes, à necessidade de reformar os modos de pensamento, de conhecimento e de ensino, como também quanto à revisão da relação entre teoria e prática no contexto educacional, fatos ressaltados pelos participantes do estudo. Nessa perspectiva, tem-se o educando com um papel mais ativo, tornando-se protagonista na construção do conhecimento, que requer outros saberes além daqueles priorizados pela ciência moderna, que eram passíveis de experimentação e quantificação. Também observamos o protagonismo dos próprios docentes, seja na proposição de mudanças em métodos e técnicas de ensino, seja ousando em sua prática profissional por admitir pressupostos diferentes daqueles em que foram formados academicamente. Por outro lado, as categorias referentes à Gestão participativa e à Perspectiva orgânica no processo de concepção, desenvolvimento e avaliação da experiência desenvolvida, que são diretamente relacionadas, foram descritas por poucos docentes, tanto em suas práticas pedagógicas, quanto em suas conceituações sobre práticas docentes inovadoras. Isto pode significar que a cogestão do processo ensino-aprendizagem por educandos e educadores, de modo crítico e reflexivo, ocorreria apenas pontualmente, apesar desta colaboração ser imprescindível à consolidação de práticas pedagógicas inovadoras. 4
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Nesse sentido, é importante a inclusão dos educandos na gestão pedagógica do processo ensino-aprendizagem, tendo em vista o desenvolvimento e a consolidação de práticas pedagógicas inovadoras, assim como a busca por tornálos protagonistas no cenário acadêmico. Considerações finais Os docentes pesquisados referiram efetuar práticas pedagógicas inovadoras, principalmente no tocante à ruptura com as formas tradicionais de ensinar e aprender, denominadas por Paulo Freire como educação bancária (FREIRE, 2011), além de buscarem em sua prática profissional uma revisão da relação entre teoria e prática. Esses resultados são importantes considerando as mudanças necessárias às demandas advindas com o remodelamento da sociedade, que se assenta cada vez mais na troca de informações. No entanto, medidas institucionais que incentivem e deem suporte às práticas inovadoras são indispensáveis, seja para consolidar as inovações pedagógicas iniciadas, seja para fomentar o crescimento e desenvolvimento de novas ações e atitudes docentes e discentes, de modo a formar educandos capazes de responder às demandas da sociedade. Referências Bardin, L. (2011). Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70. Cunha, M. I. (2008). Inovações pedagógicas: o desafio da reconfiguração de saberes na docência universitária. Universidade de São Paulo: Pró-Reitoria de Graduação. Behrens, M. A. (2005). O paradigma emergente e a prática pedagógica. Petrópolis: Vozes. Freire, P. (2011). Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra. Leite, C., & Zabalza, M. (2012). Ensino superior: inovação e qualidade na docência. Porto: Centro de Investigação e Intervenção Educativas. Masetto, M. T. (2012). Docência na universidade (11ª ed.). Campinas: Papirus. Morin, E. (2013). A religação dos saberes: o desafio do século XXI (11ª ed.). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil. 5
