Is Capoeira a sport?

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DISCIPLINA EDC238 – CAPOEIRA DOCENTE: AMÉLIA CONRADO

A CAPOEIRA, UM ESPORTE?

ALAN RICARDO DOS SANTOS COSTA ALICE WATMANN

Salvador 2013

Alan Ricardo dos Santos Costa Alice Watmann INTRODUÇÃO Este estudo tem o propósito de despertar um novo olhar sob a esportivização da capoeira e a sua caracterização, antes e depois de ganhar características esportivizadas. Então partiremos do principio da sua esportivização até um breve histórico da capoeira para então chegarmos a uma conclusão de como e porque a capoeira pôde se tornar esporte, sendo uma forte manifestação cultural brasileira. O CONCEITO DA ESPORTIVIZAÇÃO O que é esporte? Geralmente, esporte é considerado como atividade motora física que ao estar praticada, melhora as habilidades e as capacidades físicas. Segundo Comitê Olímpico Alemão, o exercício duma atividade diária como limpeza, passar à ferro ou a criação de animais não conta como esporte porque a atividade física deve ter como objetivo a realização da prática física em si mesmo. 1 O presente artigo vai-se basear na definição dos esportes do filósofo, professor da educação física e de estudos olímpicos em diversas universidades e co-autor de varias publicações Jim Parry que é natural da Inglaterra.2 Conforme Parry, esportes são caracterizados por competições baseados em regras onde as capacidades físicas são contestadas. São superiormente mais formais, sérios, competitivos, organizados e institucionalizados como os jogos donde originalmente provêem. O esporte é: 

Institucionalizado - o futebol, por exemplo, é institucionalizado, entre outros, pela Federação Internacional de Futebol Associado (FIFA).



Caracterizado por concursos.



Os praticantes do esporte têm a obrigação de respeitar certas regras.



Devem respeitar aos oponentes.

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Fonte: Comitê Olímpico Alemão http://www.dosb.de/de/organisation/philosophie/sportdefinition Acesso em: 04.09.2013 2 Fonte: http://www.leeds.ac.uk/arts/people/20048/philosophy/person/869/jim_parry Acesso em 04.09.013. 1



Os desportistas escolhem livremente a pratica do seu esporte. 3

O que é esportivização? A esportivização hoje na atualidade surge com muitas práticas corporais. Para elas se cria regras unificadas, formas de competição e instituições. Segundo artigo “A esportivização da Educação física no ambiente escolar” (2013) até nas aulas de educação física existem essas tendências de esportivização. Práticas corporais como ginástica geralmente são utilizadas apenas como aquecimento, enquanto a aula de educação física no Brasil está dominada por competições de futebol, vôlei, basquete, etc.4. O desenvolvimento da esportivização surgiu, segundo Soares (1996), a partir da ditadura militar no Brasil em 1964. Neste tempo destaca o vínculo existente entre a esportivização dos movimentos corporais e o papel de militarizar a sociedade brasileira5. O povo deveria de acostumar-se às regras e obedecê-las. Através do estabelecimento de instituições esportivas, o governo poderia controlar melhor à população e exercer o seu poder. Brincadeiras populares, jogos, danças e danças tradicionais, portanto, foram empurrados para trás. Um exemplo da esportivização é a capoeira, patrimônio cultural brasileiro que é considerado como jogo, dança e arte marciais, mas que já em alguns lugares só tem a conotação de esporte de competição.

citação original: “Sports are rule-governed competitions wherein physical abilities are contested. They are more formal, serious, competitive, organizes and institutionalized than the games from which they often sprang. Such as definition is useful as a crude startin-point, because it begins to suggest certain characteristics of “sport” as so defined: Institutionalization (suggesting lawful authority, contest, (suggesting “Contractt o contest”, obligation to abide by the rules, that the activity was freely chosen, that due respect is owed to opponents as cofacilitators, and so on.” (PARRY Jim, Ethics and Sports, 2013, p. 205) 4 Fonte: http://www.efdeportes.com/efd133/a-esportivizacao-da-educacao-fisica.htm Acesso em: 04.09.2013 3

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http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT1%20PDF/HISTORIO GRAFIA%20DA%20EDUCA%C7%C3O%20F%CDSICA%20NO%20S%C9CULO%20DO% 20ESPET%C1CULO.pdf Acesso em 04.09.2013 2

CAPOEIRA, DA ORIGEM À ESPORTIVIZAÇÃO A capoeira tem origem genuinamente afro-brasileira, por ter os primeiros registros de execução no Brasil e ser desenvolvida por africanos e seus descendentes na época do Brasil colonial. Muitos escravos foram trazidos da Angola, que era também colônia de Portugal e o desenvolvimento da capoeira se deu dentro deste contexto de exploração e domínio da mão de obra escrava dos africanos. Então, a capoeira se desenvolve como uma luta com elementos de dança e jogo. Ao principio os negros angolanos eram os que dominavam melhor esta “arte”. Por isto a capoeira tradicional é conhecida como capoeira angola. A esportivização da capoeira teve início com a criação da capoeira regional, que foi sistematizada, normatizada e recodificada por Manoel dos Reis Machado, também conhecido como mestre Bimba, em conseqüência disto a capoeira regional difere da angola na ludicidade, espontaneidade. Sobre a diferença entre capoeira angola e capoeira regional Manoel dos Reis Machado diz em 1928: “Eu criei, completa, a regional, que é o batuque misturado com a angola, com mais golpes, uma verdadeira luta, boa para o físico e para a mente”. (Merege Barbosa parafraseando Mestre Bimba, 2009). Com a fundação da sua academia de capoeira regional em 1932 na cidade de Salvador da Bahia, Brasil, mestre Bimba começou o processo da institucionalização da capoeira e a criação de varias escolas de capoeira. A prática de capoeira, que antes foi realizada nas ruas, desde então foi transferido pelas academias e até nas regras de mestre Bimba foi proibido pelos alunos participar nas lutas da rua. O objetivo de mestre Bimba com a criação de capoeira regional foi sacar a capoeira da marginalidade e aumentar a sua popularidade em toda a população. Para ser aceitada oficialmente, Bimba presentou capoeira como esporte, e, entre outras coisas, criou novas regras e normas, desenvolveu um treinamento de capoeira e tentou nomear todos os movimentos executados. A esportivização de capoeira avançou com o primeiro e segundo simpósio brasileiro de capoeira na cidade de Rio de Janeiro. O objetivo foi padronizar os nomes dos golpes, o sistema de graduação de alunos e os critérios para a graduação de mestres. Aparentemente o segundo simpósio em 1969 não aconteceu de acordo com as ideias de mestre Bimba de modo que ele voltou decepcionado para Salvador antes do fim do evento. Em 1937 a Secretaria de Educação, Saúde e Assistência Pública do Estado da Bahia reconheceu oficialmente a academia de mestre Bimba e ele recebeu um certificado 3

de professor de educação física. Com isso, a academia de mestre Bimba foi a primeira escola de capoeira oficialmente reconhecida. Em 1973 a capoeira também é vinculada à Confederação Brasileira de Pugilismo (CBP). A partir deste momento a esportivização torna-se mais disseminado. A capoeira esportivizada é fragmentada, pois em concebida com tecnicismo, e desenvolvimento das capacidades biomotoras em detrimento da historicidade, ludicidade e principalmente subjetividade do jogo. Segundo (Alves LP, Montagner PC; 2008) a transformação da capoeira em esporte veio em meio a um momento de conturbação dos movimentos sociopolíticos no Brasil na década de 60, quando acontecem os primeiros campeonatos de capoeira, ainda sob o regime militar com a imposição da ditadura que também manipulou os esportes para atenuar as mobilizações sociopolíticas contra o governo. Em 1985 a capoeira foi incluída no mais importante e representativo evento esportivo estudantil brasileiro, o Jogos Escolares Brasileiros (JEB’s), que valorizava a eficiência dos golpes e defesas ignorando muitos outros elementos importantes da copeira, contribuindo para consolidar o processo de esportivização. A ESPORTIVIZAÇÃO DA CAPOEIRA EM DEBATE São muitos os praticantes de capoeira que são contra a esportivização da capoeira, alegando vários motivos: a perda da essência da capoeira, descarte do contexto históricocultural, intenção de superação sobre os outros capoeiristas, a supervalorização da técnica e das capacidades biomotoras e até mesmo o risco da quebra da supremacia brasileira uma vez que o aperfeiçoamento dos esportes também depende de planejamento, emprenho e investimento nas ciências do esporte, um domínio que outros países já possuem. Porém os defensores da esportivização da capoeira alegam que a capoeira terá maior difusão na mídia com os campeonatos, popularização como uma ginástica higienista, projeção internacional como um esporte brasileiro, maior abertura para pesquisas cientificas, além de o capoeirista ter a possibilidade de viver do esporte como professor ou praticante mantido pelo marketing.

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Os argumentos postos em debate, dos opositores e defensores da “capoeiraesporte” são refutáveis, tanto que o aspecto que um opositor pode considerar negativo um defensor pode considerar positivos, ambos com suas justificativas persuasivas dando origem a um debate de infinitos argumentos. A CAPOEIRA E A CONCEPÇÃO DE ESPORTE DE ACORDO COM A FILOSOFIA ANALITICA, DO TEMPLO À FEIRA E OS VALORES DO OLIMPISMO A filosofia analítica, dentro da concepção do olimpismo6 define alguns critérios básicos para determinar se uma pratica corporal é ou não é esporte. Uma filosofia objetiva se atende todos os critérios da filosofia analítica é esporte, se não atende apenas um critério, não pode ser considerado esporte. Jim Parry caracteriza bem estes critérios, que são: esforço físico, habilidade, regras, ser institucionalizado, também é necessário ter pelo ao menos um adversário e compartilhamento de valores esportivos. É claro que podemos abrir esta objetividade do Jim Parry, para uma serie de polêmicas para na porta de um botequim qualquer. Mas a questão é que estes critérios não dão margem a subjetividade. Desta forma fica claro, que xadrez não é esporte porque não existe um esforço físico significativo envolvido, já que cada peça pesa menos de 5 gramas, assim como montanhismo também não, porque não se tem um adversário. Dentro desta perspectiva filosófica, temos uma posição bem clara quanto a este debate. Acreditamos que a capoeira é um símbolo de resistência do negro afro-brasileiro, contra a escravidão. A capoeira se manifesta como esportes em vários momentos principalmente na capoeira regional. Porém a capoeira não é esporte pelo fato do companheiro de jogo não ser considerado adversário e pela ausência de regras bem definidas; mas lembrando que a capoeira como qualquer outra pratica corporal pode ser transformada em esporte e passar a atender todos os critérios da concepção de esporte dentro da filosofia analítica. A capoeira esportivizada sem dúvidas se submete ao sistema capitalista que tende a explorá-la e retroceder ao regime de escravidão não muito diferente do Brasil colônia.

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Olimpismo: É uma concepção filosófica criada pelo Barão Pierre de Coubertin, que tem como princípios fundamentais, o respeito aos outros e aos princípios éticos fundamentais universais, e muitos outros valores da moral esportiva.

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Um dos autores deste texto, Alan Ricardo dos Santos Costa, é atleta universitário e acumula participações em olimpíadas universitárias do Brasil, está a se tornar o atleta da Universidade Federal da Bahia, com o maior número de participações em jogos universitários da história. Com a participação deste ano, ele viu algumas coisas mudarem nas olimpíadas universitárias, principalmente o regulamento que passou a não aceitar atletas com idade superior a 24 anos de idade. A grande burocracia do comitê organizador move mudanças no regulamento. Mobilização com este propósito só acontece caso de extrema relevância, só aconteceu devido à modalidade xadrez, que além de ter o status de esporte dentro das olimpíadas universitárias do Brasil, é considerada a modalidade “queridinha” dos jogos pela maioria dos dirigentes, tanto é que houve a mudança do regulamento para todas as 8 modalidades participantes. A mudança foi requisitada, pois ficou explicito que todos os campeões da modalidade tinham mais de 28 anos de idade, pois no xadrez experiência faz mais diferença do que em qualquer outro “esporte”. O que Ricardo Costa quer dizer é que uma determinada pratica corporal pode ser considerado esporte em alguns contextos sem mudar as suas características. As peças de xadrez não precisaram ser recheadas com chumbo para o enxadrista fazer um esforço e atender aos requisitos da filosofia analítica descrita pelo Jim Parry. Assim como o xadrez, a capoeira pode ser chamada de esporte em muitos contextos, sem ser descaracterizado, o xadrez não mudou em nada para ser considerado esporte pelo comitê organizador, só foi institucionalizado como esporte, mantendo todas as características anteriores à “esportivização”. Além disso, a capoeira tradicional, conhecida como capoeira angola não foi “esportivizada”. Irena Martinkova7 que assim como o Jim Parry é uma estudiosa do olimpismo, caracteriza o esporte em duas finalidades bem distintas: o esporte “temple” e o esporte “fair”, tradução sugestiva, templo e feira, no esporte templo (local de reflexão), são reforçados valores, a reflexão consciente na cooperação, respeito com os outros participantes, compartilhamento de experiências; enquanto no esporte feira, prevalece o egoísmo, a vitória a todo custo e com sobrepujança ao adversário.

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Irena Martinkova é uma doutora natural da Republica Tcheca, estudiosa do olimpismo.

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CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS A capoeira Angola nesta perspectiva é uma expressão legitima dos princípios fundamentais da filosofia do olimpismo, por aliar esporte, cultura e educação, exaltando as formas equilibradas do corpo, da vontade e do espírito, criando um estilo de vida fundada no prazer, respeitando os princípios éticos fundamentais e universais; criando um ambiente harmonioso capaz de promover uma sociedade pacífica preocupada com a preservação da dignidade humana, sem discriminação de raça, religião, sexo, ou posição política. Mas vale a pena lembrar que na palestra concedida por Martinkova na faculdade de educação da Universidade Federal da Bahia, nos dia 12 de agosto de 2013, ela se mostrou favorável ao equilíbrio entre o esporte templo e o esporte feira, por ambos possuírem aspectos positivos e negativos em variados contextos, deixando implícito que o esporte templo não é ideal platônico, mas uma possibilidade viável, até mesmo porque todos nós que praticamos e esportes e não vivemos das praticas esportivas, somos contemplado pelo templo. REFERÊNCIAS Alves, L. P., Montagner PC. A esportivização da capoeira: reflexões teóricas introdutórias. Conexões. 2008; 6: 510-21.5. BAPTISTA, Tadeu João Ribeiro. A Esportivização da capoeira: da cultura de massa à indústria cultural. Revista Movimenta v.3 n4 2010. McNamee, M. J.; Parry, S. J. Ethics and Sports. 2013. SOARES, C. L. Educação física escolar: conhecimento e especificidade. Rev. Paul. Educ. Fís., São Paulo, supl.2, p.6-12, 1996. Sites http://www.dosb.de/de/organisation/philosophie/sportdefinition Acesso em 04.09.2013 http://www.leeds.ac.uk/arts/people/20048/philosophy/person/869/jim_parry Acesso em 04.09.013. http://www.efdeportes.com/efd133/a-esportivizacao-da-educacao-fisica.htm Acesso em 04.09.2013 http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/jornada/jornada7/_GT1%20PDF/HIS TORIOGRAFIA%20DA%20EDUCA%C7%C3O%20F%CDSICA%20NO%20S%C9C ULO%20DO%20ESPET%C1CULO.pdf Acesso em 04.09.2013

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