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JAVALIS NO BRASIL Equipe Javali no Pampa Série Cadernos Técnicos Javalis no Brasil - Edição 02 – Criação de Porcos Domésticos Soltos
CRIAÇÃO DE PORCOS DOMÉSTICOS SOLTOS Marcelo Wallau, Eridiane Lopes da Silva, Nilson Molinos, La Hire Mendina Filho e Tiago Xavier dos Reis A criação de porcos soltos ainda é uma práti-
acuados ou em época reprodutiva, podendo atacar
ca comum em diversas regiões do país. Com o
causando ferimentos (Figura 1) e até a morte de
aumento da população de porcos asselvajados
animais domésticos.
em vida livre, esta prática põe em risco a integri-
Criar porcos soltos também aumenta a oportun-
dade física e sanitária dos animais domésticos e
idade de cruzamento com a população selvagem.
favorece um aumento significativo na população
Além de expor os porcos domésticos, contribui pa-
de javalis.
ra o aumento populacional e no melhoramento genético da população de javalis (Figura 2). Os
O Problema
porcos
domésticos
foram
selecionados
para
Os principais motivos pelos quais os javalis
crescimento rápido e maior capacidade reproduti-
são atraídos para os arredores das sedes rurais
va. Os híbridos entre javalis e porcos domésticos
são resíduos de alimento, lavouras, hortas, e
(javaporcos), por sua vez, tendem a ter tamanho e
pela criação de porcos, especialmente quando as fêmeas estão em cio. Criar porcos domésticos soltos agrava o problema, pois atrai ainda mais os javalis e aumenta a exposição dos porcos a estes. Os javalis podem ser animais extremamente agressivos, especialmente quando A B Figura 2: Fetos de javali abatida no mesmo local da foto 1. Os fetos malhados (A) são do mesmo fenótipo do cachaço doméstico que é criado solto, indicando que houve exposição do animal doméstico com o selvagem (B), pondo em risco o rebanho suíno da propriedade e outros animais que estão em contato (Foto: Tiago dos Reis).
peso maior, melhor adaptação ao ambiente e melhor eficiência reprodutiva (maior número de Figura 1: Cachaço doméstico, criado solto, visitando uma das cevas para controle de javalis. Algumas das manchas pretas no dorso são ferimentos provavelmente causados durante briga com os javalis que também frequentavam a mesma ceva (Foto: Nilson Molinos).
leitões por leitegada, e mais partos por ano). Isto faz com que os riscos e danos causados por javalis em regiões em que existe criação de porcos soltos sejam maiores, e exige que os métodos de
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controle usados sejam redimensionados para a
porcos domésticos soltos, principalmente durante
captura de porcos bem maiores e bem mais for-
a noite, e eliminar potenciais fontes de alimento
tes. Isso aumenta riscos de ineficiência ou fugas
que possam atrair os javalis. O mais adequado é
das jaulas e gaiolas, aumenta o risco de acidentes
manter os porcos domésticos em uma estrutura
com pessoas e aumenta a quantidade de comida
própria (chiqueiro), com cercas fixas resistentes
que estes animais consomem diariamente.
(tela e arame farpado na volta de fora, fixas ao solo com cimento, por exemplo) e bem resguarda-
Os javalis podem ser portadores de diversas
dos. Encerras menores (como cocheiras) podem,
doenças que são prejudiciais aos porcos (como a
inclusive, ser usadas para guardar os porcos do-
leptospirose e pseudoraiva), outros animais (como
mésticos à noite. O segundo ponto é evitar a acu-
a pseudoraiva para os cães e brucelose e tubercu-
mulação de resíduos de alimentos (ração, vísce-
lose para os bovinos e ovinos) e ao homem (como
ras, lavagem, etc) nos arredores e mesmo dentro
a toxoplasmose e a leptospirose). Estudos realiza-
do chiqueiro. O javali é atraído pelo cheiro e pode
dos pela Fundação Estadual de Pesquisa Agrope-
detectar a disponibilidade de alimento a grandes distâncias. O terceiro passo, para desencorajar a aproximação dos porcos selvagens, é o uso de uma segunda barreira ao redor do chiqueiro, como uma cerca elétrica. Colocar entre 2 e 3 arames eletrificados entre 30 e 90 cm do solo (sempre atentando à vegetação, para evitar aterramentos) a uma distância de, aproximadamente, 5 metros da cerca do chiqueiro ajuda a previnir o contato do javali com os porcos domésticos, sendo suficiente para evitar a transmissão de algumas doenças. Em período de cio das porcas domésticas, no
Figura 3. Javali capturado e criado na soga junto ao rebanho ovino. Além de ser ilegal a captura e cria de javalis, é um risco de contaminação e predação do rebanho (Foto: La Hire Mendina Filho).
entanto, é extremamente complicado manter os cachaços selvagens longe do chiqueiro. Neste caso, mesmo a cerca elétrica pode não ser suficiente para evitar o contato, sendo necessária uma
cuária do RS mostram que 9 em cada 10 porcos
ação mais proativa de controle. O interessante,
ferais testados estavam contaminados com leptos-
diante disso, é que se cria uma oportunidade de
pirose. Por isso, criar porcos soltos ou permitir a
controle estratégico, visto que os cachaços selva-
proximidade dos javalis pode por em risco a sani-
gens serão atraídos para os arredores do chiquei-
dade dos rebanhos domésticos (Figura 3). Vale
ro pelos hormônios liberados no cio da fêmea. Du-
lembrar que a captura de javalis para criação ou
as maneiras para efetuar o controle: uma jaula
cruzamento com porcos domésticos é proibida por
com dois compartimentos separados ou o tiro es-
lei (§ 1°, Artigo 25 do Decreto Federal nº
tratégico. No primeiro caso, pode-se fazer uma
6514/2008).
gaiola mais comprida, com uma separação no
Como agir
meio para colocar a porca em cio ali dentro, ou um
Agir preventivamente é a melhor maneira de
cercado menor dentro de uma jaula curral (Figura
atacar o problema. O principal ponto é não deixar
4). O cachaço selvagem tenderá a entrar na jaula 2
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Em todos os casos, é preciso ter muito cuidado, porque os javalis podem ser animais extremamente agressivos, principalmente em época de reprodução, e podem atacar qualquer pessoa ou animal que se aproximar. Caso veja um javali nas proximidades da casa ou chiqueiro, não se aproxime e nem use os cães para afugentá-los, pois pode estar colocando a sua vida e dos seus animais em risco. O mais prudente é esperar que o animal se afaste, ou, se for viável, tentar fazer o abate (tiro) oportunamente. Para tanto, é necessário treinaFigura 4. Jaula utilizada para capturar um cachaço, usando uma porca doméstica no cio como atrativo. A porca fica separada em uma área cercada dentro da jaula. (foto: Alexandre Guerra de Guerra).
mento prévio com manejo de armas e técnicas de caça, além de ter o equipamento adequado e documentação necessária.
para aproximar-se da porca, e, neste momento,
Em regiões infestadas por javalis e javaporcos,
ativa o gatilho da porta e é preso. No entanto, esta
seria conveniente adotar como estratégia a não
técnica pode por em risco o animal doméstico, prin-
criação de suínos domésticos nas propriedades
cipalmente se o cachaço for muito grande e agres-
rurais por um prazo de 5 a 10 anos. Esta medida
sivo. A segunda opção é semelhante ao “tiro de
auxilia diretamente na redução da velocidade de
espera”, na qual o atirador fica rondando o atrativo
crescimento do tamanho das populações de porcos
(alimento ou, neste caso, a porca em cio) até o ca-
ferais (javalis, javaporcos e porcos domésticos
chaço se aproximar do chiqueiro e propiciar o tiro
"alçados") na região, o que impactará positivamen-
(para mais informações sobre o posicionamento do
te na redução dos riscos e danos causados por es-
tiro, veja o volume 1 da Série Cadernos Técnicos
tes animais às pessoas, aos rebanhos produtivos,
Javalis no Brasil). Este método exige maior envolvi-
às lavouras, à saúde pública e ao meio ambiente,
mento, pois o atirador terá que ficar rondando, du-
beneficiando produtores rurais e a sociedade em
rante a noite, até conseguir fazer o abate. O uso de
geral.
armadilhas fotográficas pode auxiliar a identificar o
Seja consciente, não ajude a criar o inimigo, e
horário que o animal está frequentando o chiqueiro
não ponha o seu rebanho e sua família em risco.
e facilitar o controle.
Referências: Kuhn, R., J.G. Moreira, T.D. Rosa, M.R. Loiko, R.O. Rodrigues, e F.Q. Mayer. 2014. Investigação da frequencia de leptospirose em javalis de vida livre no estado do Rio Grande do Sul. p. 24. In Brito, K.C.T. (ed.), III SICIT - Salão de iniciação científica e inovação técnica. FEPAGRO, Porto Alegre. Timmons, J., J.C. Cathey, D. Davis, N. Dictson, e M. Mcfarland. 2011. Feral Hogs and Disease Concerns. Texas A&M AgrilLife Extension.
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