Joana REgo: \"...O dia conseguido é...\"[MFLambert].pdf

May 26, 2017 | Autor: M. Lambert | Categoria: Painting, Arte Contemporanea, Pintura, Arte contemporáneo, Mulheres Artistas
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JOANA REGO – texto Galeria Municipal de Matosinhos

“Nenhuma imagem substituirá a intuição da duração, mas muitas imagens diferentes, retiradas das ordens de coisas muito diversas, poderão, concorrendo no seu movimento, dirigir a consciência exactamente para o ponto em que a intuição se torna inteligível.” Henri Bergson “…Entesouro frases. Por exemplo: - Imagens são palavras que nos faltaram. - Poesia é a ocupação da palavra pela Imagem. - Poesia é a ocupação da Imagem pelo Ser.” Manoel de Barros

Ossip Mandelstam falava-nos da “…tua imprecisa imagem de ansiedade”, ao evocar a intensidade de um vislumbre de nevoeiro, evocando a figura Divina…1. A imagem – como conceito – carrega em si o peso de uma tradição iconolatra que, não raramente, subsistiu a cismas e querelas. A imagem enreda-se em “interpretações enevoadas” que, precisamente devido a essa translucidez de visibilidade proporcionam riqueza de entendimento e imaginação…para além das palavras, se bem que ludibriando-as e afagando-lhes anima e sopro. As palavras dos poetas que acima se celebram corroboram essa infinita grandeza: a abertura que a palavra encaminha para um universo de imagens que persistem por si só mas que lhes podem ser unidas. John Cage alertava-nos, na sua “Conferência sobre o Nada”: “…Mas agora temos os silêncios e as palavras fazem – ajudam a fazer – os silêncios.”2 Decida-se, com a propriedade que se possa: as imagens, quanto as palavras, necessitam de intervalos, exigem silêncios para atingirem a alma dos espectadores, dos leitores… É certo que a “Ciência dos homens” se traduz nas palavras (Omar Kadhayam dixit) mas não deixando de presentificar, na sua escrita, a visualidade que a sabedoria das suas palavras transportavam (“As palavras transportam-nos”…parafraseando, agora, Alexandre O’Neill3). As palavras têm ressonância nas imagens e vice-versa. Mas são ressonâncias criadoras, gerando mais e mais campo de visão e pensamento. Não estarei a enxergar bem ao longe e o perto torna-se – por tão próximo – difícil para exercer a objectividade que carece o “ver”. Por isso, distancio-me das imagens e procuro-as como se elas se tivessem perdido na peregrinação visual que cada poeta ou escritor lhes conferiu. Vou baralhar as letras do alfabeto, recombinar as palavras que Joana Rêgo lhes afectou e transfigurar (metaforicamente) as imagens pintadas. Reata-se uma revolta de palavras e de imagens, desta vez “à ma façon…” No alfabeto que decorei em criança – desculpem-me, se for disso caso incluo todas as letras que não existem em português mas que eu gosto e uso: k de “kunst”, w de “wunderkamera” e y de “you”…Ou seja, acredito em letras que só existem nos idiomas de outrem…pois neles eu reencontro as diferenças que me fazem ser mais eu. Não é caso de pintar essas letras estrangeiras (que se olham com “olhar estrangeiro”, parafraseando Nelson Brissac), todavia vivo-as, quanto baste, na 1

Ossip Mandelstam, Guarda minha fala para sempre, Lisboa, Assírio & Alvim, 1996, p. 117 CF. John Cage, “Conferência sobre o nada”, Silence: Lectures and Writings, Wesleyan Paperback, 1973 3 CF. Alexandre O’Neill, “Há palavras que nos beijam”, No Reino da Dinamarca, 1958 2

sabedoria de poetas como Rainer Maria Rilke ou Paul Éluard, nas pinturas, artefactos e outras coisas mais, arrumadas (?) sem catalogação, nas câmaras maravilhosas dos Habsburgos e em todos aqueles a quem eu digo “tu”, pensando na sua residência de identidade. Aceito que as sistematizações são imprescindíveis, os paradigmas epistemológicos de serem louvados (tanto quanto interpelados), os modelos de raciocínio incontornáveis e assim por diante. A organização do pensamento em geral é um bem, é uma táctica, não somente de combate mas de prevenção intelectual a males diversos tanto quanto pode minimizar sintomas e maleitas afectivas e societárias. Talvez uma dessas doenças que contamina quer palavras, quer imagens, seja a “verdade” ou seja a “mentira”; melhor dizendo, o que se pense sejam a correspondência verdadeira entre conceito e imagem bem como a afinidade autêntica entre conceito e palavra. Relembrem-se os exercícios requintados, tão prezados na literatura visual do barroco (e do rocócó), que se externalizavam em deslumbres labirínticos, em formas geométricas (triângulos, quadrados…) complexificadas, exigindo uma decifração de significados e enredando, sobrepondo ou reflectindo (simetria especular) as letras, palavras ou frases: anagramas, palíndromos, epigramas…eram modalidades de valência e qualificação excelsas que tiveram continuidade numa das vertentes transversais designada mais comummente como “poesia visual” ou, poder-se-ia, avançar com a expressão: “ picturalidade poiética”. Uma outra vertente decorre dos primeiros caligramas (termo resultante da contracção de caligrafia+ideograma) atribuíveis a Símias de Rodes, persistindo ao longo da cultura ocidental – designadamente com os poemas – desenhos de Rabelais no séc. XVI – e, usufruindo de uma significativa relevância, nos inícios do séc. XX, através de autores como Guillaume Apollinaire (1918), Almada Negreiros (1920) e Ana Hatherly… Na presente série de Joana Rêgo, o Abecedário possui uma carga iconográfica que é sobremaneira prioritária. Não é um vocabulário visual sem mais. Também pode cumprir as funções de um vocabulário visual mas restrito e peculiarmente singular. As letras convocam, numa versão liberta de constrições estéticas, a funcionalidade de letras capitulares, despojadas de sacralidade e dogma gregários para acederem a valências pessoais que servem a particularidade psico-afectiva e cognitiva da artista. A deliberação, a intencionalidade, a capacidade selectiva foi dirigida – presumo que muito provavelmente por dois factores primordiais: 1. a presencialidade dos elementos visuais/signos ao longo da pintura desenvolvida pela artista; 2. a remanescência, a persistência, o impacte pensado e sensacionado que a artista relacionou, associou às letras, depois de um levantamento de palavras solicitado a pessoas que contactou. É um vocabulário visual para fruição, numa acepção que se associaria a uma presentificação deslocada, em termos de auto-retrato consignados em objectos e atributos de funcionalidade sociológica. Seguindo esse direccionamento, decidi implementar possíveis correspondências, adequações, ambiguidades, confrontos…enfim, estabelecer a reunião de potenciais epistemológicos, procedimentos estéticos e, sobretudo, de actos semânticos, propiciando assim uma ars combinatória, desenhada como segue: A

de ABRIGO

N

de NÃO LUGAR

G

de GUARDAR

B

de BRANCO

Q

de QUASE

O

de ORIGAMI

C

de COISAS

G

de GUARDAR

E

de ET CETERA

D

de DIFERENÇA

U

de UTOPIA

S

de SABER

Matéria e espaço; Casa, sedentarização Matéria: monocromia, simbologia Matéria e espaço; Objectos, continente vs conteúdo Acto: ideias, palavras, objectos; vocabulário visual. (Deleuze)

E

de ET CETERA

C

de COISAS

R

de REPETIÇÃO

F

de FRESCO

H

de H2O

X

de XAROPE

G

de GUARDAR

A

de ABRIGO

S

de SABER

H

de H2O

F

de FRESCO

B

de BRANCO

I

de IR

M

de MEMÓRIA

P

de PAUSA

J

de JOGAR

T

de TEMPO

G

de GUARDAR

L

de LETRAS

C

de COISAS

Z

de ZUMBIDO

M

de MEMÓRIA

S

de SABER

R

de REPETIÇÃO

N

de NÃO LUGAR

B

de BRANCO

P

de PAUSA

O

de ORIGAMI

J

de JOGAR

D

de DIFERENÇA

P

de PAUSA

B

de BRANCO

U

de UTOPIA

Q

de QUASE

D

de DIFERENÇA

T

de TEMPO

R

de REPETIÇÃO

L

de LETRAS

C

de COISAS

S

de SABER

I

de IR

Q

de QUASE

T

de TEMPO

M

de MEMÓRIA

I

de IR

U

de UTOPIA

Q

de QUASE

N

de NÃO LUGAR

V

de VELUDO

A

de ABRIGO

M

de MEMÓRIA

X

de XAROPE

H

de H2O

G

de GUARDAR

Z

de ZUMBIDO

P

de PAUSA

R

de REPETIÇÃO

Matéria, tempo e espaço; Diversidade, incompletude Sensação, sentido Acto, continente vs conteúdo Sensação, sentido; elemento cosmogónico Acto, errância vs sedentarização, viagem Acto, lúdico, combinatória vs aleatório Transversalidade de presença na pintura vs pensamento Acto, sentimento, sensação, temporalidade e espaço; identidade Ausência, errância vs sedentarização Acto, dobragem – le pli (Deleuze); lúdico Acto, temporalidade, consciência e abdicação Acto vs ideia; ausência/possibilidade; contingência (R.Rorty) Acto: ideias, palavras, objectos; vocabulário visual. (Deleuze) Acto: ideias, palavras, objectos; vocabulário visual. Autores. Cronos vs Kronos; medição e rigor; subjectividade e simbologia Acto; ideologia (Th.More; Henry Thoreau; Ebenezer Howard; Aldous Huxley…); simbologia e hermetismo Acto e identidade; espaço, tempo, sensação, sentido Sensação, sentido Sensação, sentido, simbologia.

Nem sempre concordo com o aforismo de Manoel de Barros: “Acho que o nome empobreceu a imagem.” Embora lhe reconheça persistência (e pertinência) em tantos casos. Olhando, vendo, observando as pinturas desta série, discordo mesmo! Cada tela é um depoimento autónomo; é página de um diário visual que a palavra seleccionada não arrasou, nem empobreceu ou limitou. Como ocorre com os

depoimentos, associados entre si adquirem um impulso que os arrasta para direcções anteriormente impensadas. Algo de idêntico sucederá com as unidades que integram um diário recolector de imagens… traduzindo exigências que se convocam e subsumam, avançando para suposições iconológicas (não somente iconográficas) e explorando conceitos divergentes, talvez. Cada espectador que visite a mostra poderá estipular as suas relacionalidades entre as letras, os objectos pintados e as incontornáveis ideias subjacentes. A polissemia verbico-visual expandir-se-á sem obstáculos que não os da sua capacidade de imaginação e saber, devidamente circunstancializados nos correspondentes contextos formativos – eixos espacio-temporais específicos. Cada associação concretizada poderia originar uma combinatória, uma sequência, quase uma assemblage de imagens pintadas, organizando projecções semânticas genuínas para aquele que as decida. Assim, essas imagens pintadas possuem diferentes níveis de verdade: a verdade com que a pintora as configurou; a verdade que a obra adquire pela sua autonomia pós-concretização; a verdade (no plural, leiase) que os espectadores lhe conferem. Hans Belting intitulou uma das suas obras mais recentes sob a sugestiva afirmação: A verdadeira imagem. O autor alemão, todavia, quebra tal assertividade, conferindo-lhe um subtítulo na forma interrogativa: Acreditar em imagens? (2005/ed.fr.2007). É certo. Desde há muito tempo que sei que não se deve acreditar em/nas palavras ou, pelo menos, não podemos ter certeza quanto à correspondência entre o que as palavras transportam, dizendo, e aquilo que o pensamento enunciador lhes deliberou – verbalizando ou escrevendo. Não se trata de questionar, nas palavras em si, o que seja de mentira ou verdade, realidade ou ilusão…mas também….porque não confessá-lo? A fidelização semântica das palavras em unidade, diverge da infinita afectação de proximidades em termos de sintaxe que é incessante e eterna – quanto à sua pragmática idem. Maravilhoso ser possível a incerteza do valor das palavras e saber quanto para a generalidade contribui a heterogeneidade de autor que potencializa e actualiza as ditas palavras… tratando-as com esmero e rigor. (Uf! Aristóteles que me desculpe tais incursões…) Mentir também pode ser caso de imagens. Assim, o sublinhou Laurent Gervereau (2000) titulando o seu brilhante estudo de Les images mentent: histoire du visuel au XXI.éme siècle. Curioso e sintomático, se atendermos (e na sequência quase lógica) de um livro anterior que, muito sistematicamente, enunciava e orientava o público no âmbito de uma educação estética e cultural Voir, Comprendre, Analyser les Images (1994). Se, num primeiro momento, tentarmos proceder somente de acordo com a modalidade de Ver/Voir, as 23 letras de Joana Rêgo, respondem-nos não ser possível; precisará atender-se ao segundo momento, a modalidade de Compreender/Comprendre e, ainda, será incontornável aceder ao terceiro momento, na ordem da referencialidade do Analisar/Analyser. Portanto, distinguem-se enquanto conteúdos iconográficos directos: 1. 2. 3. 4. 5.

Casa para humanos, casa de/para pássaros; Paisagem em extensão - mar ou rio; Fragmentos singulares de natureza: relva, árvore, arbustos, flores; Barcos: efectivos ou lúdicos - associáveis à prática do origami; Objectos (vulgo coisas) com atribuições nominativas directas, metafóricas e transposicionais: caixas, relógio, frascos, lombadas de livros…; 6. Figuras através de elementos/unidades do corpo: presentificados, representativos ou enunciadores “vestígios”, indiciais e simbólicos (figuras enquanto alvos para prática de tiro…; 7. Policromias de valência cinestésica: pantones (obedecendo a uma radicação inicial: azul, verde e encarnado, vão progredindo e regredindo em distintas tonalidades) assemelhando-se a notações musicais…;

8. Elementos geométricos simples que articulam a outros elementos constituindo uma base ideolgramática para extensibilidade de percepção visual: círculos concêntricos, p.ex.; 9. Sinais visuais mediatizados, obedecendo a funcionalidades específicas nos objectos do quotidiano e profissionais: pause; letras dos catálogos de oftalmologia, respectivamente; 10. Composição gráfica como planta de arquitectura; 11. Insectos, mais concretamente, moscas... Intencionalmente, até aqui, abstive-me de referenciar directamente o que respeita às incursões de letras, palavras e frases nas telas. E o facto de cada tela ter um cúmplice: uma barra rectangular onde se inscreve a letra e a decisão conceptual que lhe assiste (e reassegura) a respectiva consignação identitária. Embora a orientação predominante seja a de uma fruição visual (imediata), na sua morfologia conveniente e plural, associa-se intrinsecamente ao registo de palavras e/para um derradeiro desvelamento de imagens – quer num, quer noutro caso, deparamo-nos com objectivos estéticos cimentados. Atendendo à História da Arte e retrocedendo até ao séc.XVII, através da obra de Poussin, relembre-se quanto os pintores procuraram fontes escritas para conferir às suas composições de pintura um fundamento real, transposicional. Por outro lado, em finais do séc. XIX, alguns escritores conduziram a escrita para o campo plástico, chegando a ilustrar os seus textos. À época, alguns artistas davam às suas reflexões escritas um carácter menos técnico, tornando-as mais criativas e desenvolvendo-as com uma assunção pictural. As vanguardas de princípios do séc. XX conduziram, sob certa perspectiva, a um grau quase máximo de confusão, sobrepondo o encontro entre artes – especialmente pintura – e literatura – sobretudo a poesia. Assim, foi intensificado, ampliado o campo de reflexão para historiadores e críticos, mas também para comissários de Exposições, que capturaram a vantagem de assentar em imagens a presença e sentido dos textos nas obras de arte. Nesta série, tanto como na obra desenvolvida pela pintora, ao longo da última década, a presença da escrita foi tomada como acto e não como um fim em si. A escrita não surge como estratégia exclusiva para desentranhar a sua endógena força comunicacional. A escrita reivindica, pois, a imagem, sendo esta, uma não-serviçal fanática… Consoante as séries, e atendendo à investigação teórica que lhes subjaz, a autora privilegia diferentes dimensionamentos, vertentes potencializadoras de interrelacionalidade escrita-imagem. A palavra usufrui de um valor designativo, remetendo para si-mesma - em termos de significância e, simultaneamente, de extrapolação. Tal, não significa que privilegie uma dimensão mimetizante, restritiva entre o escrito e o pintado (biunívoco). Antes viabiliza polissemias visuais, pois nas pinturas, predominando um ênfase pictural que é enxertado, injectado na palavra, por assim se entender tal cumplicidade. A palavra dirige-se a motivos visuais simples ou compósitos, acrescentando-lhes efabulações que ultrapassam a sua opacidade imagética directa. Tais acepções, que não se esgotam na radicação imaginária da matéria - reafirme-se - procedem da mundivivência da pintora embora comungando com explicitações de fidelização gregária. Como escrevi, anteriormente, ao analisar o valor plástico das palavras em certas vertentes das artes visuais, este exprime-se em aspectos como: o o o o o

assunção intencional do valor plástico da grafia e da carga semântica – por vezes em simultâneo; isolamento da palavra na sua dimensão icónica; desmontagem/dissolução conceptual; atribuição/agregação de significações associadas; aquisição de dimensão simbólica por analogia;

o

agregação de sentido pictural ou matérico: a palavra compacta em si a dimensão pictórica (bidimensional); a palavra concentra-se em matéria, contornada na sua caligrafia “tridimensionalizada” – independente ou dependente, em conformidade ao seu valor semântico;

Do acima mencionado se infere que da presencialidade da palavra pintada, e considerando a sua inscrição no todo da composição, pode advir, pode concretizar-se uma certa estetização dessa mesma palavra. Reconheça-se-lhe valor pictogramático; valor ideogramático e valor psicogramático. A título conclusivo – e evocando argumentações retomadas por Hans Belting4 - sabese que uma das funções da escrita é a fixação da linguagem (depreendendo-se quer a escrita, quer a verbalizada). Acrescente-se que a escrita na pintura tem como consequência a fixação dobrada, ou seja, a fixação do conceito (palavra) e a fixação da imagem estipulada para o mesmo. Sublinhe-se o enriquecimento através das imagens, acedendo até às mais vastas extrapolações semânticas que a artista lhes agregou. Retornando à questão da verdade ou mentira das imagens (e por confronto às palavras que lhes sejam cúmplices, desenvolvam afinidades ou gerem paradoxos…): falar-se de uma imagem “verdadeira” é uma contradição por si só. A imagem tomará como função representar algo que se considera real. No caso de Joana Rêgo, nalgumas situações é plausível essa maior proximidade representacional pois o elemento visual escolhido remete directamente da palavra que lhe foi atribuído. Será quanto baste, uma afinidade semântica, vivificada pela expansão interpretativa e decorrente da percepção estética desencadeada – por sua vez, estimulada pela subjectividade do receptor para lá do proposto pelo emissor/pintor…As imagens versus palavras, nesta série de pinturas, glosam precisamente as equivocidades, as múltiplas leituras percepcionais, configurando um mundo empírico e ideísta, portanto libertador. Repele aferições imediatas para propiciar refutações, portanto, orientando para novas apropriações, sendo um acto e um exercício que privilegiam a subjectividade, não inviabilizando a comunicação…antes iluminando-a.

“O dia conseguido é, pois, para ti*, completamente diverso de um dia tranquilo, de um dia de sorte, de um preenchido, de um dia activo, de um que só a custo se suportou, de um transfigurado pela lonjura do passado – um pormenor bastante aqui e um dia inteiro eleva-se em glória -, também de um qualquer Dia Grande para a ciência, a tua pátria, o nosso povo, os 5 povos da Terra, a Humanidade?”

Fátima Lambert PT/LX/PT, Julho 2009

4

Hans Belting, L’Image Vraie – Croire aux images?, Paris, Gallimard, 2005 * [A ti: “(…/Letra a letra revelado/No mármore distraído/No papel abandonado) …” Jorge de Sena.] 5 Peter Handke, Ensaio sobre o dia conseguido, Lisboa, Difel, 1994, p.11.

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