JORIO, Rafael Russo de. \"Resenha do Filme \'Meu Tempo é Hoje\' (2003)\"

Rafael Russo De Jorio 

RA:122374 

Paulinho Da Viola ­ Meu Tempo é Hoje (2003)   

Em primeiro plano, o filme procura traçar o perfil e a biografia de Paulinho da Viola,  mostrando seus mestres e amigos, sua família, suas influências artísticas e  percorrendo sua rotina discreta e muito peculiar.  Porém, ​ a relação de Paulinho da Viola com a memória​  mostra­se a verdadeira  essência da narrativa do filme. Além da própria descrição da vida do artista,   esse aspecto constrói também uma visão rica e muito ampliada do samba e de sua  importância para a cultura brasileira.  Como declara o próprio Paulinho da Viola no início do filme, ele possui relações  muito vivas com suas influências artísticas de muitas décadas atrás. Além disso, é  difícil pra ele sentir saudades, como um sentimento que ele tem pouca relação.  Essas duas falas tomam uma dimensão cada vez maior e mais clara no decorrer do  filme, além de aguçar o espectador a tentar entender o por quê dessa relação tão  peculiar de Paulinho com a lembrança, com a saudade e com a memória.  A resposta está no samba em si próprio; Na reminiscência de uma cultura que foi  criada e continua se recriando, se rememorando e sendo passada de geração para  geração. E é uma cultura tão viva quanto a relação de Paulinho da Viola com o  samba de Pixinguinha.  Mas existe algo que é extremamente digno de se refletir aqui também: Afinal, qual é  o local do samba entre todas essas experiências filmadas e narradas no filme? Será  que o samba está na voz, nos instrumentos, nas escolas de samba, nos blocos, nos  morros, nas ruas, nos quintais ou ele está nos negros, na conquista de afirmação  social, nos rituais de comilança e bebedeira, na disposição de pessoas numa  grande roda? Na verdade, o local dessa cultura, que ocorre em todo o país, está na  totalidade dessas expressões. O samba é, pois, fruto de ricas tradições e a sua  preservação, como patrimônio cultural nacional, é um dever de consciência.