JORNALISMO DO AGRONEGÓCIO: AS VOZES DO CADERNO EXPOINTER 2015 NO JORNAL CORREIO DO POVO

May 26, 2017 | Autor: Luiz Kersck Soares | Categoria: Jornalismo Científico, Agronegócio, Correio do Povo, Jornalismo Rural
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LUIZ HENRIQUE KERSCK SOARES

JORNALISMO DO AGRONEGÓCIO: AS VOZES DO CADERNO EXPOINTER 2015 NO JORNAL CORREIO DO POVO

Porto Alegre 2016

1 LUIZ HENRIQUE KERSCK SOARES

JORNALISMO DO AGRONEGÓCIO: AS VOZES DO CADERNO EXPOINTER 2015 NO JORNAL CORREIO DO POVO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Comunicação Social do Centro Universitário Ritter dos Reis, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Jornalismo.

Orientador: Prof. Me. Leandro Olegário

Porto Alegre 2016

2 AGRADECIMENTOS

Saúdo a Deus e à natureza pelo dom da vida, pelo suporte e providência durante os últimos cinco anos de trabalho. Também recordo o apoio dos familiares e amigos que me ajudaram nesta jornada. Lembro minhas tias Ângela e Rosangela Soares que, com ternura e amor fraternal, conseguiram me providenciar o que precisava para seguir. A meu pai, Paulo Soares, um agradecimento por toda a atenciosidade. A Gabriel Liesenfeld um reconhecimento pela amizade e incentivo. Cumprimento Maureci Junior com um agradecimento especial, pela amizade, parceria e aprendizagens que foram indispensáveis para o curso e para a vida. Por fim, agradeço ao professor Leandro Olegário por me auxiliar na construção desta análise. A todos meu muito obrigado.

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“O infortúnio pode ser adquirido facilmente, tanto quando quiseres, pois reside bem próximo de nós, e o caminho para ele é plano. Mas diante da virtude, em troca, os deuses imortais colocaram o suor. É longa e íngreme a trilha que a ela conduz, e árduo o seu começo. Porém, quando se chega ao cume o caminhar se torna fácil, por mais difícil que antes houvesse sido”. Hesíodo (750 e 650 a.C).

4 RESUMO Esta monografia busca verificar quais as fontes jornalísticas que dão voz às matérias da editoria rural do jornal Correio do Povo. A pesquisa foi construída com base na observação de três edições durante o período da maior feira de agronegócio da América Latina, a Expointer, em 2015. O corpus é composto pelas edições de 29 de agosto, 02 e 07 de setembro daquele ano. Para o desenvolvimento da pesquisa, adota-se como metodologia a Análise de Conteúdo apoiada em técnicas de revisão bibliográfica, documental e entrevista. São exploradas três categorias: fontes do jornalismo, critérios de noticiabilidade e formatos. Assim sendo, o trabalho também irá indicar os principais formatos jornalísticos e critérios de noticiabilidade presentes nas páginas do jornal da editoria rural, a fim de apontar como se dá parte da lógica de seleção das fontes do agronegócio gaúcho, sob a ótica do jornalismo informativo. Percebe-se que o jornalismo rural tem como desafio latente dar múltiplas vozes às suas coberturas. Palavras-chave: Jornalismo do agronegócio. Jornalismo rural. Formatos jornalísticos. Critérios de noticiabilidade. Correio do Povo.

5 LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Valores-notícia para operacionalizar análises de aconecimentos noticiáveis/noticiados ....................................................................................... 31 Quadro 2 – Formatos jornalísticos segundos os principais autores da pesquisa ......................................................................................................................... 40 Quadro 3 – Fontes presentes na edição do dia 29 de agostoErro! Indicador não definido. Quadro 4 – Fontes presentes na edição do dia 02 de setembro ...................... 67 Quadro 5 – Fontes presentes na edição do dia 7 de setembro ........................ 72 Quadro 6 – Formatos jornalísticos presentes na edição do dia 29 de agosto .. 78 Quadro 7 – Formatos jornalísticos presentes na edição do dia 02 de setembro ......................................................................................................................... 79 Quadro 8 – Formatos jornalísticos presentes na eidção do dia 07 de setembro ......................................................................................................................... 83 Quadro 9 - Análise dos valores-notícia da edição do dia 29 de agosto ............ 85 Quadro 10 - Análise dos valores-notícia da edição do dia 02 de setembro .... 85 Quadro 11 – Análise dos valores-notícia da edição do dia 07 de setembro ..... 86

6 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 7 2 O QUE É JORNALISMO............................................................................... 10 2.1 JORNALISMO CONTEMPORÂNEO ........................................................ 14 2.2 O JORNALISMO ESPECIALIZADO: AGRONEGÓCIO.............................. 15 2.2.1 Agronegócio .......................................................................................... 17 3 A NOTÍCIA E SEUS CRITÉRIOS ................................................................. 26 3.1 CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E VALORES-NOTÍCIA ..................... 28 4 AS VOZES DA NOTÍCIA .............................................................................. 32 4.1 CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES NO JORNALISMO ................................ 34 5 FORMATOS JORNALÍSTICOS .................................................................... 38 6 JORNALISMO IMPRESSO........................................................................... 41 6.1 CORREIO DO POVO ................................................................................. 44 6.2 A EDITORIA DE RURAL NO CORREIO DO POVO .................................. 46 7 OPÇÕES METODOLÓGICAS ...................................................................... 55 8 AS FONTES DO JORNALISMO RURAL ..................................................... 61 8.1.1 Discussão da análise ............................................................................ 74 8.2 FORMATOS JORNALÍSTICOS .................................................................. 76 8.2.1 Discussão da análise ............................................................................ 83 8.3 PRINCIPAIS VALORES-NOTÍCIA ............................................................. 84 8.3.1 Discussão da análise ............................................................................ 86 8.4 REFLEXÕES SOBRE A ANÁLISE ............................................................. 88 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 92 10 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 95

7 1 INTRODUÇÃO Na pós-modernidade, onde a conectividade online e o consumo de conteúdos efêmeros são uma nova realidade crescente no comportamento das audiências, é um desafio pensar como realizar coberturas jornalísticas de qualidade, especialmente no jornal impresso, que cativem a atenção do leitor. Este desafio parece ainda mais complicado quando se trata de uma editoria especializada, como o agronegócio. No entanto, os esforços para tornar este tipo de cobertura atrativa para os novos leitores não devem ser ignorados pelo jornalismo. Afinal, é possível verificar a importância do setor rural para a vida da população e economia do RS, uma vez que o campo responde por boa parte da geração de empregos e o Estado do Rio Grande do Sul é um dos principais produtores nacionais de diversos produtos agrícolas. A área responde por 7,11% do Produto Interno Bruto (PIB), e 10,73% em relação ao país, em levantamento realizado no ano de 2010, segundo dados da Fundação de Economia e Estatística do Estado (FEE)1. No primeiro trimestre de 2016, as exportações gaúchas somaram US$ 2,8 bilhões. Deste valor, alguns dos principais produtos enviados ao exterior são frutos diretos ou indiretos do agronegócio. Carne de frango foi responsável por 7,9%, farelo de soja 5,1% e fumo em folhas 9,8%, do geral. Estados Unidos, China e Argentina foram os maiores clientes no período com, respectivamente, 10,6%, 9,7% e 9,1% do total de exportações (FEE)2. Em março de 2016, a agricultura, pecuária, aquicultura, produção florestal e pesca atingiram uma marca superior a US$ 158 milhões em exportação. O valor responde por 16,6% do total, que foi de US$ 1.139,657 no mesmo período (FEE)3. Além disso, a pecuária é a principal fonte de renda de 71 municípios gaúchos. O arroz, soja, leite e frango são os principais produtos

1

Disponível em: http://www.fee.rs.gov.br/indicadores/pib-rs/estadual/destaques/. Acesso em: 16/11/2016. 2 Disponível em: http://www.fee.rs.gov.br/indicadores/indice-das-exportacoes/destaque-domes/. Acesso em: 08/11/2016. 3 Disponível em: http://www.fee.rs.gov.br/indicadores/indice-das-exportacoes/destaque-domes/. Acesso em: Acesso em: 04/10/2016.

8 (FEE, 2015)4. O Rio Grande do Sul, maior produtor do país, com 72,3% de participação no total nacional, aguarda uma produção de 8.207.836 toneladas de arroz (IBGE)5. O agronegócio também tem importância decisiva na geração de empregos formais e informais no Estado. Em janeiro de 2016, houve um ganho de 6.086 postos de carteira assinada no setor, contabilizando um acúmulo de 15.185 postos de trabalho no acumulado de janeiro e fevereiro. O número de habitantes com renda a partir do agronegócio é bem superior se levado em conta trabalhos informais e sem carteira assinada, porém o mapeamento deste tipo de atividade é difícil de ser realizada, segundo a Fundação de Economia e Estatística do Estado (FEE). A partir dos dados expostos é possível observar a relevância do agronegócio na economia e na vida do povo gaúcho. Portanto, é um tema com potencial para chamar a atenção da imprensa e se transformar em pauta que, por sua vez, pode ser traduzido em matérias e reportagens em diversos formatos e em uma sorte de veículos de comunicação. Os conteúdos produzidos serão divulgados e irão chegar à população, em suas diversas camadas, interesses e necessidades informacionais. O objetivo deste trabalho é verificar quais são as principais fontes do jornalismo rural, presentes na cobertura do jornal Correio do Povo, na respectiva editoria. Para isso, a pergunta norteadora é: quais são as fontes que estão presentes na cobertura da editoria rural do jornal Correio do Povo? O primeiro capítulo traz uma explanação teórica acerca da origem do jornalismo e suas principais características, enquanto profissão e prática social, na antiguidade e atualmente. Ressalta-se a importância histórica do jornalismo e sua evolução na sociedade.

No capítulo seguinte, será abordado a notícia e seus critérios. O capítulo pretende dar conta de indicar, através dos principais autores da área, o que 4

Disponível em: http://www.fee.rs.gov.br/wp-content/uploads/2015/09/20150903painel-doagronegocio-no-rs-2015.pdf. Acesso em: 02/10/2016. 5 Disponível em: ftp://ftp,ibge.gov.br/Producao_Agricola/Levantamento_Sistematico_da_Producao_Agricola_[me nsal]/Comentarios/lspa_201603comentarios.pdf. Acesso em: 11/10/2016.

9 são notícias e como o jornalista as seleciona. O arcabouço teórico dispendido neste capítulo é fundamental para a construção deste trabalho. O quarto capítulo trará uma definição das fontes jornalísticas e suas funções no texto informativo, a fim de dar bases para a pesquisa de verificação das fontes do jornalismo rural. O capítulo cinco trará uma breve definição dos principais formatos jornalísticos disponíveis para a produção de conteúdo informativo, permitindo um olhar sistêmico das notícias dispostas nas páginas do objeto analisado. Na sequência será visto uma breve história sobre o jornal impresso, onde também haverá a trajetória do Correio do Povo e entrevista com o editor da editoria rural do Correio do Povo, Danton Júnior, e com Patrícia Meira, que por vários anos trabalhou como repórter e editora do jornal analisado. A metodologia é Análise de Conteúdo apoiada em técnicas de revisão bibliográfica, documental e entrevista. Assim, está inserida no sétimo capítulo do trabalho. Para tanto, foram selecionadas três edições do respectivo impresso: 29 de agosto, 02 e 07 de setembro de 2015. O período selecionado compreende o início, meio e fim da feira do agronegócio gaúcho Expointer. Os principais autores utilizados no trabalho são Nelson Traquina, Nilson Lage, Jorge Medina, Antônio Schmitz e Jorge Pedro Sousa, dentro outros pesquisadores e acadêmicos que contribuíram decisivamente para a produção deste trabalho monográfico. A pesquisa irá contribuir para compreender como se dá parte da cobertura do agronegócio no segundo maior jornal em circulação no Rio Grande do Sul, onde a conclusão do trabalho irá servir para discussões e questionamentos sobre a produção jornalística do tema rural.

10 2 O QUE É JORNALISMO Para explicar o que é jornalismo, eventualmente no seu sentido mais íntimo, citamos Cláudio Abramo (1923-1987). Um dos mais respeitados profissionais da história nacional, o jornalista e escritor brasileiro define a profissão com sua célebre máxima que é, por vezes, encontrada fixada em diversas redações e escritórios do país, principalmente nos anos 80 (ABJ. 2016): “jornalismo é, antes de tudo e sobretudo, a prática diária da inteligência e o exercício cotidiano do caráter”. Se assim é o jornalismo, a prática da profissão vai além da técnica e da cientificidade da práxis. Permeando ares de ideologia, missão e estilo de vida de quem adota o jornalismo para si como profissão. Em um mundo cada vez mais conectado, onde há um excesso informacional, o jornalismo se faz necessário na sociedade para elencar o que é notícia e utilizar o tratamento jornalístico para tornar a informação útil ao público. Bill Kovach e Tom Rosenstiel (2004, p.15) consideram que eventualmente “a definição de jornalismo se tenha pulverizado por ação da tecnologia e que, por isso, tudo agora seja considerado como jornalismo”. No entanto, a informação precisa e bem apurada ainda é requerida pelo interesse público, o que faz do jornalismo essencial nos dias de hoje, pois, segundo Nilson Lage (2011), “o fato, porém, é que a informação deixou de ser apenas ou principalmente fator de acréscimo cultural ou recreação para tornar-se essencial à vida das pessoas.” (LAGE, 2011, p. 21). O jornalismo é visto de muitas maneiras e possui múltiplas funções segundo pesquisadores e estudiosos. Para Sousa (2001) o jornalismo, nas sociedades democráticas, é uma forma de manutenção da igualdade e do empoderamento informacional do povo a partir da divulgação de notícias. O jornalismo é uma forma de comunicação em sociedade. A principal função do jornalismo, nos estados democráticos de direito, é a de manter um sistema de vigilância e de controle dos poderes. Esta vigilância exerce-se através da difusão pública de informação. Informar significa, nesta asserção lata, publicitar os actos dos agentes de poder (o Governo, o Parlamento, os partidos políticos, os agentes económicos, etc.). Informar, nessa mesma asserção, significa ainda analisar esses actos, expor o contexto em que se praticam, explicar

11 as suas consequências possíveis, revelar as suas condicionantes (SOUSA, 2001, p.13)

O jornalismo possui na sua essência a função urgente de informar. Precisa ser necessário para existir. A informação não é apenas um adereço decorativo, é essencial à vida das pessoas. Sousa (2001) adverte que o jornalismo não deve se limitar aos agentes do poder, mas, sim, informar sobre uma sorte de acontecimentos. Jornalismo deve ser comunicação útil. Informar, jornalisticamente falando, também significa noticiar sobre todos os acontecimentos, questões úteis e problemáticas socialmente relevantes, estejam ou não relacionados com a acção dos agentes de poder (SOUSA, 2001, p.13).

Lage (1990) afirma que o jornalismo não pode ser reduzido a uma forma adicional de gênero literário, uma vez que os conteúdos são propostos para informar em larga escala com ênfase para os conteúdos, para o que é informado. “O jornalismo propõem processar informação em escala industrial e para o consumo imediato. As variáveis formais devem ser reduzidas, portanto, mais radicalmente do que na literatura." (LAGE, 1990, p.35). Já conforme Kovach e Rosenstiel (2004) a principal finalidade do jornalismo é fornecer aos cidadãos a informação de que precisam para serem livres e se autogovernarem. Através dos autores, é possível constatar que o jornalismo possui múltiplas interpretações que, por vezes, se confundem com sua função, utilidade prática e científica. O final da idade média foi o marco divisor de águas para uma nova forma de jornalismo primitivo, onde os conteúdos eram transmitidos em forma de canções e histórias, em baladas noticiosas cantadas por trovadores errantes. (Kovach e Rosenstiel, 2004, p.20).

Com efeito, para entender o que é jornalismo é imprescindível entender o que são jornalistas. Conforme aponta Traquina (2008), “o jornalismo parte de uma tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional que remete a um enquadramento de referência para trabalhar” (TRAQUINA, 2008 apud ZELIZER, 1993, p.402). Com o jornalismo mais reconhecido e requerido pela população, como um elo importante entre o conhecimento público e o fato – a notícia-, esta área profissional se organizou ao longo dos últimos séculos desde o início de 1700,

12 observa Lage (2011), mais notadamente a partir do XIX, quando ganhou mais relevância para a sociedade moderna. Neste contexto, conforme afirma Nilson Lage, A sociedade moderna é composta por especialistas. Quem atua em um campo profissional ou tem determinado tipo de vida desenvolve conhecimentos muito profundos de especialidade ou de sua área de interesse, mas tende a ignorar o que se passa em outras áreas. (LAGE, 2011, p.22).

Sousa (2001) explica que uma característica marcante desse grupo é a de que os jornalistas não deveriam se confundir com as matérias, embora às vezes isso aconteça por uma série de fatores. “Ou seja, os jornalistas não se devem aproveitar da sua função para ascenderem ao estrelato. Isto não significa que os jornalistas não possam, até certo ponto, confundir-se com as suas notícias" (SOUSA, 2001, p.14). Traquina (2008) indica que os jornalistas são um grupo especializado que afirma saber o que os outros não sabem, nomeadamente o que são notícias e como produzi-las. Como se conhece hoje nas sociedades democráticas, o jornalismo tem as suas raízes no século XIX, pois foi durante este período que se verificou o desenvolvimento do primeiro “mass media”, a imprensa. A partir do século XIX, com as vicissitudes da revolução industrial na Europa, notadamente na Inglaterra, as relações entre jornalismo e sociedade se transformaram em função da crescente demanda por informações. Lage (2011) afirma que Com a crise do modo de produção feudal o público leitor ampliou-se rapidamente. A organização do trabalho e expansão do comércio exigiu grande número de administradores, capatazes e técnicos, necessariamente alfabetizados. (LAGE, 2011, p.12).

O jornalismo é complexo e possui diversas funções sociais em sua práxis. Ensinar, conscientizar, informar, traduzir são apenas algumas de suas atuais responsabilidades perpetuadas da comunicação jornalística. O jornalismo é, portanto, uma modalidade de comunicação social rica e diversificada. Não há um jornalismo. Há “vários” jornalismos, porque também há vários órgãos jornalísticos, vários jornalistas, várias pessoas que podem ser equiparadas a jornalistas, vários contextos em que se faz jornalismo. (SOUSA, 2001, p.15).

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A importância do jornalismo responde, justamente, pela conexão entre o fato e o público. Nilson Lage (2011) aponta que o jornalismo, através do jornal impresso, por exemplo, é a primeira dica para a compreensão da história, inserção no mundo e investigação da sua história. Deste modo, o jornalismo ganha notoriedade por possuir profissionais dedicados à pesquisa dos temas – fatos – que irão receber tratamento jornalístico. Ao longo das gerações, o jornalismo ultrapassou os limites de ser meramente uma atividade opinativa, utilizada para a criação de romances, obras de entretenimento e textos político-partidários. Com o desenvolvimento do penny press, no século XIX (TRAQUINA. 2008.), o jornalismo passou a ingressar na vida das pessoas de forma definitiva a fim de prestar serviço à sociedade e ao interesse público. Neste cenário, foi nessa época que os jornais começaram a ser vistos como uma fonte de informação e não apenas de propaganda. Segundo Traquina (2008) Lippmann (1922) traz à tona que os media são a principal ligação entre os acontecimentos no mundo e as imagens que as pessoas têm na cabeça acerca destes acontecimentos, antecipando-se ao surgimento da teoria do agendamento, que postulava um poder dos media mais limitado (TRAQUINA, 2008, p,15).

Os primeiros indícios de práticas jornalísticas conhecidas, minimamente organizados e já com uma linguagem jornalística em processo de consolidação, surgiram na Europa durante o século XVII. Toma-se nota que o Aviso de Augsberg, na Alemanha, é considerado o primeiro jornal publicado, em 1609 (TRAQUINA, 2008). Na época, os jornais não tinham publicação diária. Notadamente possuíam publicação semanal. Na Holanda, em Amsterdam, saiu o primeiro jornal impresso com língua inglesa, em 1920. Embora o jornalismo tenha passado por muitas transformações ao longo, sobretudo, dos últimos 300 anos (KOVACH; ROSENSTIEL, 2004), o jornalismo é definido caracteristicamente ao longo de sua existência pela sua finalidade que é a função que as notícias desempenham na vida das pessoas. Assim, embora “[...] as técnicas e a forma de relatar as notícias tenham mudado, já existe uma teoria clara e uma filosofia do jornalismo, decorrente da função das notícias” (KOVACH; ROSENSTIEL. 2004, p.14.) E as notícias, fruto da apuração da pauta jornalística que guia a redação do texto e a ordem do

14 trabalho a ser realizado pelo profissional de comunicação, são uma construção empírica resultado do exercício da profissão através da interpretação da realidade. 2.1 JORNALISMO CONTEMPORÂNEO Com a ascensão da internet e das novas plataformas midiáticas, a sociedade se transformou drasticamente a partir da nova forma de se comunicar, produzir e consumir conteúdos. Ignácio Ramonet (2012) destaca que diversas formas de mídia de comunicação estão sendo transformadas a partir do fenômeno de crescimento exponencial da internet e que reflexos dessa

tendência

estão

reverberando,

principalmente,

nas

plataformas

impressas de comunicação. “O planeta mídia” está sofrendo um traumatismo de amplitude inédita. “O impacto do ‘meteorito internet’, semelhante àquele que fez desaparecer os dinossauros, tem provocado uma mudança radical em todo o ‘ecossistema midiático’ e a extinção massiva dos jornais da imprensa escrita” (RAMONET, 2012, p.15). Logo, com a transformação deste cenário, a realidade de diversos jornais impressos ao redor do mundo se tornaram delicadas, em função da sua sustentabilidade financeira, uma vez que os patrocinadores estão migrando para o meio digital e os jornais impressos possuem cada vez menos audiência. Ramonet (2012) aponta que dezenas de jornais diários estão ameaçados ou falidos, e que este movimento irá influenciar nas práticas jornalísticas contemporâneas. “A própria prática jornalística – atingida por uma crise sistêmica – está para ser reconstruída e reinventada” (RAMONET, 2012, p.16). A mudança do sistema econômico foi drasticamente afetada pelas relações web que, por sua vez, afetam a prática jornalística. Conforme acreditam Kovach e Rosenstiel (2004) o jornalismo é um negócio e os gestores têm a responsabilidade empresarial de respeitar orçamentos e atrair clientes. Ramonet (2012) explica que a mudança sistêmica que ocorre na comunicação jornalística de uma forma geral não é uma crise cíclica ou de evolução “mas do próprio funcionamento estrutural do jornalismo. Todos os seus parâmetros foram comprometidos” (RAMONET, 2012, p.16). Ramonet (2012) cunha o termo Mídia da era Industrial para conceituar o atual momento da comunicação na era web. O autor acredita, ainda, que o

15 jornal impresso, por exemplo, não vá desaparecer. “[...] A informação não circula mais como antes, em unidades controladas, bem corrigidas e formatadas (notas de agências, jornais diários impressos, boletins radiofônicos, telejornais)” (RAMONET, 2012, p.16). Já para Knewitz e Jacks (2011) às mudanças que ocorrem na comunicação são dinamicamente construídas, compondo um ecossistema erigido a partir de rupturas. Isso significa que quando novas formas de produção, armazenamento e transmissão de informações são integradas à vida social, as vigentes práticas de recepção e consumo midiático não são necessariamente banidas, mas passam por rearranjos e têm seus delineamentos redefinidos. (KNEWITZ E JACKS, 2011, p.205).

Ramonet (2012) levantou dados indicativos de que nos Estados Unidos 120 jornais desapareceram. Entre setembro de 2008 e setembro de 2009, a difusão da imprensa escrita caiu aproximadamente 11%. “O mundo do jornal impresso se encontra em uma total aflição. Entre 2003 e 2008, a circulação mundial de jornais diários pagos desabou 7,9% na Europa e 10,6% na América do Norte” (RAMONET, 2012, p.31). No cenário do consumo de informações web o jornalismo contemporâneo se transforma a passos largos. Os meios tradicionais perdem cada vez mais espaços e os próprios jornalistas precisam se reinventar. Ramonet (2012) afirma que o consumo de informação em sites já ultrapassa o da imprensa escrita e que não existe estratégia simples para manter os jornais impressos com viabilidade econômica. “Nos nichos da web, novos sites de informação desenvolvem-se e especializam-se

sobre

assuntos

bem

precisos.

Distinguem-se

várias

tendências.” (RAMONET, 2012, p.77). No novo cenário ainda em construção, iniciativas na web demonstram bons resultados financeiros para diversos setores do jornalismo, onde o jornalismo especializado – ou de nicho – ganha algum destaque.

2.2 O JORNALISMO ESPECIALIZADO: AGRONEGÓCIO Com a profissionalização do jornalismo e o surgimento de nichos de mercado na comunicação, passaram a existir diversas especializações no

16 jornalismo. Jornalismo político, esportivo, econômico, literário e rural, por exemplo, são alguns tipos de especialidades jornalísticas que normalmente são compostas por profissionais dedicados e entendedores do tema, capazes de compreender e reportar as notícias com mais eficiência. Conforme apontam Bueno e Santos (2015), a demanda informacional por assuntos complexos gerou uma evolução natural do jornalismo para responder a questionamentos do interesse de diversas esferas sociais por informações sob demanda. Os nichos de interesse promoveram uma cientificização do jornalismo no país que, segundo Bueno e Santos (2015), fomentou o desenvolvimento de editorias específicas nos impressos, através do chamado jornalismo científico. O jornalismo do agronegócio é uma derivação moderna do conceito de jornalismo Rural. Juan Diaz Bordenave (1983) afirma que comunicação rural é um conjunto de troca de informações entre comunidade, através de diversas plataformas e formas de exposição, que visam tratar dos componentes do setor rural. E Bordenave (1983) ressalta que “os protagonistas principais da comunicação rural são a população rural, o Estado e as empresas relacionadas com a agricultura” (p,6). Silva e Gomes (2014) complementam o arcabouço teórico supracitado indicando que os principais objetivos do jornalismo rural é justamente mediar a complexidade da tecnologia do campo com o dia-a-dia do público leigo. “Um dos objetivos do profissional deve ser o de tornar as mensagens mais acessíveis para um público-alvo que muitas vezes é formado por pessoas com pouca escolaridade” (GOMES E SILVA, 2014, p.13). Não se trata somente do isolamento geográfico, associado às grandes distâncias que às vezes separam fazendas e vilas uma das outras e à precariedade dos transportes ocasionalmente paralisados semanas inteiras pelo estado das estradas em tempo de chuva. Trata-se da in-comunicação socialmente determinada pelo analfabetismo e o baixo nível de instrução. (BORDENAVE, 1983, p.11).

O jornalismo rural dá conta de evidenciar as notícias relacionadas ao campo e à indústria que envolve o agronegócio. Bordenave (1983) indica que existem diversas formas de obter repercussão do tema rural na sociedade, onde o jornalismo impresso é um deles. “Alguns jornais mantêm páginas agrícolas ou suplementos rurais a cargo de algum jornalista geral ou de algum

17 técnico

especializado

em

agropecuária”

(BORDENAVE,

1983,

p.59).

Nascimento (2009) reitera que “além de ser fonte de informação de um público especializado, a pauta do jornalismo rural é consumida por um número significativo de pessoas que moram na cidade” (p,13). Bueno e Santos (2015) lembram, ainda, que a especialização de profissionais e estamentos jornalísticos da grande imprensa promovem o aprofundamento das técnicas específicas para o tratamento de notícias cujo tema é considerado especializado, a partir do engajamento e troca de informações entre jornalistas dos diversos setores da especialização científica da comunicação. Conforme afirmam os autores, Essa situação repercute nos ambientes de formação dos futuros jornalistas, com a implantação de disciplinas obrigatórias ou optativas nos cursos de Jornalismo, e mesmo com a oferta crescente de cursos de extensão e de especialização lato sensu voltados para esses recortes da cobertura. (BUENO; SANTOS, 2015, p.8).

Nesta perspectiva, Nascimento (2009) aponta a importância da formação complementar especializada no setor do agronegócio para qualificar a cobertura especializada. A formação mais abrangente dos jornalistas “que atuam nessa função pode determinar um conteúdo de melhor qualidade editorial, impactando diferentemente a opinião pública sobre a importância do agronegócio para a sociedade”. (NASCIMENTO, 2009, p.4) Nascimento (2009) sintetiza as relações entre jornalismo científico e jornalismo rural, quando afirma que “o Jornalismo Rural é um caso particular do Jornalismo Científico, especialmente quando se reporta à divulgação da pesquisa agropecuária” (p,4).

2.2.1 Agronegócio O termo agronegócio é atribuído aos pesquisadores americanos, da Universidade de Harvard, John Davis e Ray Goldberg (1957) (ARAUJO. 2007, p.16) e deriva do conceito agrobusiness. A nova nomenclatura condensa o total de operações que encorpam a produção e distribuição de suprimentos agrícolas; das operações de produção na fazenda; do armazenamento; do processamento e da distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir deles. (FEIX; LEUSIN. 2015). O termo agronegócio – ainda tomado por

18 seu termo em inglês agrobusiness – começou a ser adotado no Brasil na década de 1980. Feix e Leusin (2015) apontam que as primeiras organizações sistêmicas sobre o assunto surgiram principalmente em São Paulo e no Rio Grande do Sul, quando foram desenvolvidas a Associação Brasileira de Agribusiness (Abag) e o Programa de Estudos dos Negócios do Sistema Agroindustrial, Universidade de São Paulo (Pensa/USP) (ARAUJO. 2007.). Ainda segundo Araújo (2007), somente em 1990 o termo agronegócio começou a ser aceito e utilizado nos livros, textos e jornais. “O que promoveu a criação de cursos superiores de agronegócio, em nível de graduação universitária” (ARAÚJO. 2007, p.17). Com efeito, o agronegócio representa uma visão sistêmica de processos que são classificados como antes da porteira; dentro da porteira e após a porteira. Segundo Araújo (2007) •Os setores "antes da porteira" ou "a montante da produção agropecuária são compostos basicamente pelos fornecedores de insumos e serviços, máquinas, implementos, defensivos, fertilizantes, corretivos, sementes, técnicas de financiamento". •"Dentro da porteira" ou "produção agropecuária" é o conjunto de aldes [sic.] desenvolvidas dentro das unidades produtivas agropecuárias. •"Após a porteira" ou "a jusante da produção agropecuária" refere-se a atividades de armazenamento, beneficiamento, industrialização, embalagem, distribuição e consumo de produtos alimentares, fibras e produtos energéticos provenientes da biomassa. (ARAÚJO, 2007,

p.20). O setor do agronegócio é um dos mais importantes economicamente no mundo, com participação em mais de US$ 6,6 trilhões, o que correspondeu a 22% do Produto Interno Bruto (PIB). Para 2028, o valor estimado é de US$ 10,2 trilhões. (ARAUJO. 2007.). Ainda segundo Araújo (2007), em 2004, no Brasil, mais de 31% do PIB foi compreendido pelo agronegócio. Um valor de R$ 524,8 bilhões, com mais de 40% das exportações relacionadas ao tema. Além disso, a cadeia produtiva do agronegócio emprega cerca de 51% da População Economicamente Ativa (PEA), número que corresponde a 36 milhões de pessoas (ARAUJO, 2007). No Estado do Rio Grande do Sul, a economia baseada no agronegócio é ainda mais relevante se observada localmente. Conforme apontam Feix e Leusin (2015), o Censo Agropecuário 2006, realizado pelo Instituto Brasileiro

19 de Geografia e Estatísticas, 2009, demonstra que no Estado mais de 440.000 mil propriedades trabalham com o setor agropecuário, o que representa a ocupação de mais de 1,2 milhão de pessoas, em um território de 20,3 hectares (FEIX; LEUSIN; 2015, p.6). O Rio Grande do Sul é o maior produtor de arroz no país. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o estado possui 72,3% de participação no total nacional na produção do grão, e estima-se que a região vá produzir 8.207.836 toneladas do produto em 2016. (IBGE, 2016, p.3). O Estado também é um dos maiores produtores de mandioca, fica atrás apenas de Minas Gerais, com uma safra estimada de 4,7 milhões de toneladas para 2016 (IBGE, 2016, p.6). Com a globalização e o avanço das técnicas implementadas no campo, cada vez mais o jornalismo do agronegócio vai virar pauta de outras editorias. “Daqui em diante, as notícias do agronegócio serão matérias em um contexto Intersetorial, ou seja, que mostrem os impactos, benefícios, vantagens do setor para outros públicos, especialmente o consumidor das grandes cidades” (SILVA, 2007, p.29). E seguindo nessa linha de complemento deste raciocínio, Ricardo Cunha (2015) aponta que a comunicação rural foi fundamental para o desenvolvimento da agropecuária nacional entre as décadas de 50 60. “No Brasil, grande parte da evolução do setor agropecuário se deve ao trabalho de agrônomos e de comunicadores que se valeram dos recursos da comunicação rural” (CUNHA, 2015, p.46). Segundo Cunha (2015) em 1899 foram registradas as primeiras tentativas de levar informações para os agricultores em São Paulo, a partir da edição de publicações oficiais e de uma revista da Secretaria da Agricultura. Bordenave (1983) lembra que em 13 de setembro de 1899 foi promulgada a lei n° 676 que serviu para reorganizar o que chamou de “Serviço Agronômico do Estado”. Foi com essa iniciativa, ainda segundo o autor, que a Secretaria de Agricultura assumiu o desafio de produzir conteúdo de comunicação rural. “Em 1900 era iniciada a publicação do Boletim e em 1907 já estavam circulando regularmente 28 folhetos e publicações diversas assim como oito periódicos” (BORDENAVE, 1983, p.24).

20 A era de ouro da informação rural aconteceu na década de 40 e 50 (BORDENAVE, 1983), ainda com uma visão estatal a partir da coordenação do Ministério da Agricultura. Silva (2005) afirma que “na década de 30, aproximadamente 60% do PIB nacional provinha da agropecuária (setor primário) e entre 70% e 80% da população ativa economicamente estava no campo; o setor industrial, por sua vez, tinha menos de 10% desse contingente” (SILVA, 2015 apud BAER 1996; BUESCU, 1985). A relevância do setor para a economia apontado pela autora é um dos fatores que corrobora o interesse da comunicação pelo setor rural nesse período. Com o avanço da internet e a evolução do acesso do público a temas de cunho científico, como, por exemplo, as inovações do campo, o jornalismo científico pode auxiliar a traduzir informações para o público leigo que antes era só de conhecimento dos profissionais do campo. Nascimento (2009) corrobora esse conceito ao afirmar que o jornalismo científico precisa minimizar o distanciamento entre a complexidade da informação em vista da realidade cotidiana. “o jornalismo científico colabora para a compreensão pública da ciência, considerando que a complexidade das inovações tecnológicas interfere na vida das pessoas e, muitas vezes, dificultam a compreensão do mundo cada vez mais multifacetado em que vivem” (NASCIMENTO, 2009, p.3). Bueno (2015) entende que o jornalismo especializado representa a consolidação de um processo vertiginoso de segmentação. Com efeito, cada vez existem mais nichos de especialização jornalística, em função da complexidade social do modo de produção capitalista e do aparelhamento tecnológico. Por fim, Bueno (2015) define o jornalismo especializado como: A prática profissional e também a subárea de estudos e pesquisas em Jornalismo que contemplam o processo de produção jornalística voltado para a cobertura qualificada de temas específicos. Ele se manifesta a partir de fontes reconhecidas como competentes e autorizadas em determinadas áreas de conhecimento, e pela apropriação de um discurso especializado, que incorpora termos e expressões comuns (e muitas vezes exclusivos) dessas áreas. Na maioria dos casos, o Jornalismo Especializado se localiza em espaços (páginas, cadernos, programas, portais etc.) determinados, seja como resultado do trabalho individual de profissionais (jornalistas ou não) capacitados para exercê-lo, seja como fruto do trabalho de um grupo de profissionais, reunidos em editorias específicas. (BUENO, 2015, p.283).

21

Segundo Silva e Gomes (2014) é difícil definir o conceito de jornalismo científico do jornalismo rural. Porém, por reservar características peculiares da cobertura e do tratamento jornalístico, por vezes é possível discernir entre ambos. “O jornalismo rural está mais voltado para as relações entre população rural, associações, agrônomos e técnicos, além de ser pouco reconhecido, pela sociedade civil, como campos de atuação, também do jornalista, pelo menos no Brasil” (SILVA E GOMES, 2014, p.8). Dentro desta perspectiva, Silva e Gomes (2014) levantam uma questão entre a diferença entre jornalismo científico e jornalismo rural, quando problematizam: “Há um conjunto universo mais amplo ao se pensar nas pautas que integram a atividade do jornalista especializado em ciência. Seria então a comunicação rural um subconjunto do jornalismo científico?” (SILVA E GOMES, 2014, p.8). Silva e Gomes (2014) tentam responder esta pergunta quando analisam o público receptor das notícias rurais. Por ser um tema de interesse público de diversas camadas sociais, o misto de técnicas e recursos usados para comunicar é amplo. Esse amplo universo de pautas integra um dos gêneros no campo da comunicação social que é denominado de “jornalismo científico”. Alguns teóricos acreditam que o uso do termo “científico” para designar uma área que busca facilitar o acesso às informações sobre a ciência através de uma linguagem mais simples, tende a ser contraditório, considerando que a semântica dessa palavra está relacionada com o conhecimento institucionalizado, sistemático, disciplinado e ao uso da linguagem rebuscada. (SILVA E GOMES, 2014, p.7).

Por vezes lembrado como jornalismo do agronegócio nas páginas do jornal, Juliana Baptista Nunes (2011) afirma que “o jornalismo em agribusiness é uma formatação moderna do jornalismo rural, que não se limita apenas a divulgar a pesquisa e a produção do campo, mas também os processos que ocorrem antes e após esta produção” (p,6). Neste sentido, o jornalismo praticado pode se remeter aos conceitos de jornalismo de agronegócio, embora algumas editorias, como a do Jornal Correio do Povo, de Porto Alegre RS, usem a nomenclatura rural no topo de suas páginas dedicadas a tratar do campo e da cadeia produtiva que envolve o tema.

22 Ana Paula da Silva (2005) explica que cada vez mais o profissional de comunicação precisa se reinventar para acompanhar os anseios do seu público do campo. Dada esta necessidade crescente de informação especializada, traduzida em demanda efetiva por muitos agentes do agronegócio, é pertinente que os comunicadores se atenham em aperfeiçoar seus produtos a esse público. Para tanto, o primeiro passo é entender os hábitos atuais desses profissionais na busca por informação” (SILVA. 2005, p.1).

Silva e Gomes (2014) afirmam que, no Brasil, o incentivo aos estudos sobre comunicação rural começou em projetos como o I Curso Internacional de Ciências da Informação, organizado por Luiz Beltrão no ano de 1965, em Recife (PE). Porém, nos últimos anos, alguns jornais nacionais de referência deixaram de circular com editorias específicas do agronegócio, como, por exemplo, o caderno Agrofolha, do jornal Folha de S. Paulo e o Suplemento Agrícola,

do

jornal O

Estado de São

Paulo, pararam de

circular,

respectivamente, em 2002 e 2011. (MAIO. 2015) Portanto, embora a editoria de jornalismo do agronegócio seja relativamente nova, mudanças na forma como o setor é acompanhado pela tribo jornalística indicam um decréscimo de importância em relação ao tema nos jornais das grandes cidades. Dantas Maio (2015) justifica este movimento da seguinte forma: [...] Diz respeito à perda de espaço que a editoria registra, especialmente na grande mídia e em jornais de cidades de médio porte. A tendência se ajusta às previsões sociológicas de redução da atividade agrícola tal como era concebida anteriormente à emergência da sociedade em rede (MAIO, 2015, p.26).

Conforme aponta Maio (2015) a mudança na forma de cobrir o setor do agronegócio se dá, especialmente, ainda, pela transformação tecnológica e cultural em desenvolvimento que influencia o setor rural. “A própria atividade do agronegócio

encontra-se

em

pleno

desenvolvimento,

alicerçada

pela

multiplicidade de pesquisas e investimentos em inovações tecnológicas” (MAIO, 2015, p.13.) A autora também ressalta que algumas universidades buscam fomentar a cobertura especializada do jornalismo rural a partir de disciplinas específicas que tratem do tema.

23

A UFMS [Universidade Federal de Mato Grosso do Sul] oferece a disciplina de jornalismo rural, que todos os anos coloca estudantes em contato com o ambiente rural, mas sempre em propriedades próximas à área urbana. A UFMT [Universidade Federal de Mato Grosso] não optou pela comunicação rural em sua grade curricular, mas oferece a disciplina comunicação global, regional e local, que contempla a realidade próxima. A formação diferenciada desses estudantes para atuarem na cobertura jornalística do Pantanal inserese, assim, na proposta curricular das duas instituições. (MAIO, 2015 apud MAIO; SOARES, 2012, p. 161).

Além disso, Nascimento (2009) reforça essa tese ao explicar que a cobertura do agronegócio disputa espaço com outras editorias. E que às vezes os próprios espaços dedicados ao tema não dão conta de realizar a cobertura do rural. “Nem sempre o debate sobre o rural ocupa cadernos agrícolas, os programas rurais específicos na televisão ou no rádio. Em muitos casos, o agronegócio é tratado em editorias de economia ou disputa espaço com pautas variadas”. (NASCIMENTO, 2009, p.5). Com efeito, o cenário não parece promissor para o jornalismo de agronegócio brasileiro, uma vez que a capacidade dos profissionais é colocada em xeque em função da formação disponibilizada sobre o tema nas faculdades. Nascimento (2009) pontua, ainda, que o perfil do profissional de agronegócio é do estudante que já tem interesse pelo tema durante sua formação e que, encontrando a possibilidade de trabalhar na área, acaba por buscar, por seus próprios meios, formas de se qualificar para este segmento do jornalismo. Além da busca por mais espaço sobre a questão rural na mídia, ainda há a deficiência na formação dos profissionais. Os jornalistas que atuam nessas editorias geralmente chegam às faculdades de jornalismo ou às redações com o interesse já firmado na temática do meio rural e buscam a auto-capacitação. (NASCIMENTO, 2009, p.5).

Nesta perspectiva, o agronegócio no jornalismo brasileiro, acima de tudo e sobretudo, responde por uma necessidade. Afinal, o país é um dos maiores produtores agrícolas do mundo. Torna-se pertinente aproximar a concepção de jornalismo agropecuário da prática do jornalismo de proximidade, na medida em que a agricultura ainda cultiva laços profundos com a história, a identidade, a cultura e a sociabilidade de inúmeras localidades. (MAIO, 2014, p.19).

24 Ana Paula da Silva (2005) elencou os principais recursos de comunicação no país na preferência do público para o consumo de informação do agronegócio. O destaque fica por conta da internet, que acaba absorvendo as informações dos demais veículos e oferecendo sínteses noticiosas dos fatos. “Jornais impressos, sobretudo de circulação interestadual, podem estar perdendo importância com a pulverização de seus conteúdos em clippings de sites abertos, o que desestimula, por exemplo, o pagamento de assinatura e o retorno a anunciantes” (SILVA, 2005, p.107). No entanto, embora o jornal impresso atravesse um período de forte turbulência, exemplos de jornalismo praticados no mundo demonstram que ainda existe esperança para resgatar o interesse do leitor por notícias do agronegócio provenientes de jornais que consigam se adaptar ao novo modelo de consumo. Contudo, há sinais de que, gradativamente, os jornais e outros meios tipicamente físicos estão aprendendo a lidar com as estratégias de comercialização de conteúdos na era online, passando a ver este meio como um aliado. Sabe-se, por exemplo, de experiência norteamericana em que a empresa estaria lucrando mais com a assinatura digital do jornal que com a própria comercialização impressa mesmo porque oferece facilidade de arquivo e aprofundamento a notícia (sic.) limitadas no papel. (SILVA. 2005, p.108).

Silva (2005) afirma que na década de 30, aproximadamente “60% do PIB nacional provinha da agropecuária (setor primário) e entre 70% e 80% da população ativa economicamente estava no campo; o setor industrial, por sua vez, tinha menos de 10% desse contingente” (SILVA, 2005 apud BAER 1996; BUESCU, 1985). A relevância do setor para a economia apontado pela autora é um dos fatores que corrobora o interesse da comunicação pelo setor rural nesse período. A fórmula da comunicação em tentar angariar lucro com temas de alta visibilidade não é uma invenção nova. Max Weber (1910), na locução de abertura do Primeiro Congresso de Sociologia em Frankfurt, Alemanha, em 1910, já previu essa possibilidade. Se considerarmos a imprensa em termos sociológicos, o fundamental para toda discussão é o fato de que, hoje em dia, a imprensa é necessariamente uma empresa capitalista e privada que, ao mesmo tempo, ocupa uma posição totalmente peculiar, posto que, ao

25 contrário de qualquer outra empresa, tem dois tipos completamente distintos de clientes. (WEBER, 1910, p.16).

Silva (2005) vai além e afirma, na conclusão de sua dissertação de mestrado, que na cobertura de agronegócio as pautas são selecionadas a partir de seu potencial de venda a anunciantes uma vez que, segundo a autora relata em sua análise, o jornal impresso acaba sendo desprestigiado na preferência do público leitor em detrimento das informações dispostas na internet. Constatar que as empresas de comunicação precisam atender a demanda de públicos dispostos a pagar (assinantes e anunciantes) é um fato! Isto é uma constatação meramente óbvia de uma economia de mercado onde as empresas jornalísticas não tem ousado em busca de públicos não atendidos, em direção a lacunas que, inclusive, poderiam ser lucrativas. Infelizmente, prevalece uma forte concentração nos mesmos setores, nos mesmos assuntos” (SILVA, 2005, p.102).

Para que o jornalista seja protagonista da notícia e possa diversificar as vozes que aparecem na matéria, Gomes e Silva (2014) explicam que o foco principal do comunicador precisa ser o de dedicar parte de sua atenção às famílias e grupos que interferem diretamente nas relações da área rural. A interação entre os atores sociais do campo exige o preparo também dos profissionais de agronomia, para que junto aos jornalistas, ambos possam buscar mecanismos e estratégias para compreender o contexto social, as particularidades, a linguagem e, principalmente, as necessidades que tem o produtor rural do século XXI. (GOMES E SILVA, 2014, p.11).

No entanto, Silva (2007) reitera que a imprensa não se encontra preparada para traduzir as informações provenientes do campo rural. É necessário amadurecer.

26 3 A NOTÍCIA E SEUS CRITÉRIOS E a notícia, resultado do tratamento jornalístico, é o objetivo deste grupo de profissionais que tem como meta informar e mediar a realidade a partir do interesse público. Portanto, notícia é o resultado da apuração do fato. Fato é o acontecimento real, parte do cotidiano, relevante ou não. O que define se um fato vira notícia e se merece se tornar produto jornalístico para ser consumido pelo grande público é o critério de noticiabilidade. Nilson Lage (2001) defende que a notícia, até o período da revolução industrial na Europa, era a comunicação da experiência de fatos importantes. Para o jornalismo, estes fatos se remetiam ao comércio, decisões do governo e sociedade em geral. Lage (2001) aponta que a notícia passou por transformações durante o último século. O pesquisador afirma que “artesanal, a notícia incorporava, de início (e incorpora ainda, nos testemunhos), crenças e perspectivas individuais". Impessoal, tende, nos meios de comunicação social de agora, a produzir-se de modo a eliminar aparentemente crenças e perspectivas. No entanto, a melhor técnica apenas oculta preconceitos e pontos de vista do grupo social dominante” (LAGE, 2001, p.24).

Lage (2001), ao dissertar sobre a teoria da notícia, demonstra não crer na isenção da notícia. O autor ressalta que, embora os aspectos individuais tenham se restringido, a cultura ainda é responsável por moldar e formatar a notícia. Nesse contexto, afirma que realmente mudou o modo de produção da notícia:” crenças e perspectivas nela incluídas não são mais as do indivíduo que a produzia, mas a da coletividade hoje produtora, cujas tensões refletem contradições de classe ou de cultura” (LAGE, 2001, p.24). A notícia, ainda, pode ser referenciada como um gênero jornalístico, onde a categoria seria o de jornalismo informativo. Segundo Medina (2001), o gênero jornalístico correspondente à notícia é normalmente caracterizado pelo padrão lead, que recomenda que as informações principais devam constar na primeira parte do texto, em um formato de pirâmide invertida. O autor destaca que a notícia é “puro registro dos fatos, mas sem entrevistados” (MEDINA, 2001, p.54).

27 Lage (2001) aponta que muitas são as interpretações da notícia, mas que poucas são capazes de discernir o real sentido que esta matéria do jornalismo possui. Assim sendo, Lage (2001) evoca uma lista de diversos autores para mencionar algumas das principais definições do que é a notícia: a) “Se um cachorro morde um homem, não é notícia; mas se um homem morde um cachorro, aí, então, e notícia é sensacional”( Amus Cummings); b) “É algo que não se sabia ontem” (Turner Catledge); c) “É um pedaço do social que volta ao social” ( Bernard Voyenne); d) “É uma compilação de fatos e eventos de interesse ou importância para os leitores do jornal que a publica” ( Neil MacNeil); e) “É tudo o que o público necessita saber; tudo aquilo que o público deseja falar; quanto mais comentário suscite, maior é seu valor; é a inteligência exata e oportuna dos acontecimentos, descobrimentos, opiniões e assuntos de todas as categorias que interessam aos leitores; são os fatos essenciais de tudo o que aconteceu, acontecimento ou ideia que tem interesse humano [...]” (LAGE, 2001, p.26.).

Deste modo, não convencido que a notícia tenha sido explicada nestas célebres frases, Lage (2001) versa que “poderemos definir notícia como o relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante, e este, de seu aspecto mais importante” (LAGE, 2001, p.26). Moreira (2006) faz uma análise dos critérios que auxiliam o profissional do jornalismo para escolher as notícias. Para registrar seus estudos, a autora define a notícia como um texto que possua isenção de valores e rigor. A autora define o conceito de notícia para o jornalismo. “Notícia é a versão jornalística de um fato capaz de ter repercussões” (MOREIRA, 2006, p.24). A notícia, quando considerada como um gênero jornalístico, ressalta suas principais propriedades e características, que são relacionadas à simplicidade e à objetividade. Sousa (2001) destaca que o gênero de conteúdo do tipo notícia é normalmente utilizado como base para a composição das matérias e é considerado um elemento básico do jornalismo. “Representa também informação nova, actual e de interesse geral. É o gênero básico do jornalismo” (SOUSA, 2001, p.232). Com efeito, Sousa (2001) ressalta que não é possível, no entanto, distinguir o que é notícia a partir de critérios rígidos e estanques, uma vez que o limiar entre os gêneros, por vezes, pode ser tênue.

28 Numa notícia, o texto deve ser animado por uma intenção de verdade e de rigor, o que muitas vezes se confunde, erroneamente, com factualidade. Não quero dizer com isto que uma notícia não possa ser predominante ou exclusivamente factual. (SOUSA, 2001, p.232).

A notícia é facilmente identificada quando possui pouco mais de duzentos caracteres, por sua objetividade, mas também pode possuir entrevistas e mais de dois mil caracteres, quando é frequentemente confundida com uma reportagem. 3.1 CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE E VALORES-NOTÍCIA Mesmo com a ascensão da internet e das novas plataformas de comunicação, a função histórica do jornalismo parece inalterada. Filtrar as informações nunca foi tão importante em uma época de excessos informacionais. Neste contexto, o profissional que atua no ramo do jornalismo conta com ferramentas para selecionar o que é ou não notícia. Esse processo de seleção é amparado pelo que os profissionais chamam de critérios de noticiabilidade. Moreira (2006) explica que uma sorte de fatores compõem os critérios de noticiabilidade, como, por exemplo, elementos econômicos, sociais e culturais.

As próprias exigências das demandas produtivas da empresa

jornalística também influenciam no caráter decisivo da escolha do que vai ou não virar notícia. Em 1965, Johan Galtung e Mari Holmboe Ruge publicaram um artigo de 27 páginas no impresso Journal of Peace Research onde dissertaram pela primeira vez sobre os critérios de noticiabilidade, que qualificam um fato para virar notícia. Segundo Galtung e Holmboe (1965), existem diversos fatores e subfatores que podem fazer eventos se tornarem notícias como, por exemplo, frequência, intensidade absoluta, intensidade de aumento, proximidade, escassez, previsibilidade, importância e outros elementos variáveis. A partir deste artigo e da teorização contida no trabalho, entendeu-se que os critérios de noticiabilidade variam conforme região, população e empresa jornalística. Assim, os critérios de noticiabilidade variam e dependem de uma série de combinações. Os próprios autores divergem a respeito do tema. Sousa (2001) diz que a noticiabilidade, por vezes, é contraditória. “Os critérios de noticiabilidade não são rígidos nem universais. Por outro lado, são,

29 frequentemente, de natureza esquiva, opaca e, por vezes, contraditória” (SOUSA, 2001, p.39). Nelson Traquina (2008) explica que os critérios de noticiabilidade são elementos padronizadores que compõem o cabedal dos profissionais de jornalismo e os habilitam para dizer o que é ou não notícia. Este elemento, partilhado universalmente na profissão, fornece a aptidão de um fato merecer tratamento jornalístico. E ser merecedor de ser transformado em matéria noticiável. Muito lembrado nas teorias da noticiabilidade, Moreira (2006) defende que os valores-notícia são apenas um subgrupo que faz parte dos critérios de noticiabilidade. Traquina (2008), ainda, aponta que os valores-notícia são mutáveis e variáveis em relação à sua importância de jornalista para jornalista. Cada profissional dá mais ou menos importância para determinado fato, em função de critérios pré-estabelecidos que sirvam como “óculos para ver o mundo e para construir.” (TRAQUINA. 2008, p.94). Sousa (2001) reforça essa tese, ao afirmar que parte dos critérios que compõem os valores-notícia estão relacionados diretamente a fatores mutáveis e socialmente construídos. ”Além disso, os critérios de valor-notícia mudam ao longo do tempo (assuntos que há algum tempo não seriam notícia são-no hoje)” (SOUSA, 2001, p.39). O mesmo autor elenca, ainda, os critérios encontrados nos percussores do estudo dos critérios de noticialibade, Galtung e Ruge (1965). • Proximidade: o acontecimento próximo a uma determinada região tem mais chances de se tornar notícia. Este critério leva em conta geografia, cultura e interesses sociais. • Momento do acontecimento: um acontecimento recente tem mais chance de se tornar notícia. .• Significância: este critério se remete a proeminência do fato e dos agentes envolvidos. Quanto mais impacto ou relevância o episódio tiver, mais chance de ser notícia. • Proeminência das nações envolvidas nas notícias: países com relevância econômica e política no cenário internacional têm mais chances de se tornarem pautas do jornalismo.

30 • Consonância: um fato que seja facilmente agendado e que responda por uma sintonia com o interesse público ou da imprensa terá mais chances de se tornar noticiável nos media • Imprevisibilidade: este critério se remete a temas que não são previstos, inesperados e, por tanto, impactantes. • Continuidade: muito relacionado ao agendamento. Onde um conteúdo já publicado por reverberar na imprensa novamente • Composição: Quanto mais um acontecimento se enquadrar num noticiário tematicamente equilibrado, ou seja, num noticiário com espaço para diversos temas, mais probabilidades tem de se tornar notícia. • Negatividade: muito associado ao sensacionalismo. A negatividade atrai olhares, por ser trágico diferente. Conforme observamos, os critérios de noticiabilidade são variados no entendimento de cada autor e, mesmo, de cada empresa jornalística. Assim, Silva (2005) define uma tabela com os principais autores e suas respectivas visões sobre os critérios de noticiabilidade. A autora observou uma análise dos principais critérios verificados a partir de autores como Nelson Traquina e Mauro Wolf, além de Carlos Chaparro, Erbolato e Nilson Lage. Para Silva (2005) “no que diz respeito especificamente aos valoresnotícias, o conceito poderia ser demarcado sistematizando-se aspectos apontados de forma ligeira por vários autores” (p,98). Assim, Silva (2005) traz uma proposta de quadro onde se encontram os critérios mais recorrentes em sua avaliação. A ideia originalmente foi utilizada por Érica Franzon na análise das chamadas de dois telejornais, o Jornal Nacional, da TV Globo, e o Jornal da Cultura, da TV Cultura de São Paulo em 2004, sob orientação da própria professora Gislene Silva. Quadro 1 – Valores-notícia para operacionalizar análises de acontecimentos noticiáveis / noticiados IMPACTO: PROEMINÊNCIA Número de pessoas envolvidas (no fato) Número de pessoas afetadas (pelo fato) Grandes quantias (dinheiro)

CONFLITO

Notoriedade Celebridade Posição hierárquica Elite (indivíduo, instituição, país) Sucesso/Herói ENTRETENIMENTO/CURIOSIDADE

31

Guerra Rivalidade Disputa Briga Greve Reivindicação POLÊMICA

Aventura Divertimento Esporte Comemoração

Controvérsia Escândalo

Descobertas Invenções Pesquisas Progresso Atividades e valores culturais Religião PROXIMIDADE

CONHECIMENTO/CULTURA

RARIDADE Incomum Original Inusitado SURPRESA Inesperado

Geográfica Cultura GOVERNO Interesse nacional Decisões e medidas Inaugurações Eleições Viagens Pronunciamentos JUSTIÇA

TRAGÉDIA/DRAMA Catástrofe Acidente Risco de morte e Morte Violência/Crime Suspense Emoção Interesse humano Autor: FRANZON, Érica. 2004. Quadro

Julgamentos Denúncias Investigações Apreensões Decisões judiciais Crimes

1

32 4 AS VOZES DA NOTÍCIA As fontes jornalísticas são imprescindíveis para a produção dos conteúdos noticiosos. Especialistas e autoridades frequentemente são as fontes que fornecem o primeiro contato com a informação. Notadamente, com o avanço da tecnologia, cada vez mais as fontes têm papel decisivo na produção jornalística e na pauta da imprensa, uma vez que, no mundo da web, qualquer um pode produzir conteúdo e conteúdo genuinamente jornalístico. Destarte, a escolha das fontes também influi diretamente na objetividade jornalística. Cada voz que aparece na matéria tem seu próprio interesse e intenção ao disponibilizar determinada informação ou assunto. A decisão do jornalista em ceder mais ou menos espaço para determinadas fontes, também, é um fator que precisa ser observado pela sua importância na construção do sentido do conteúdo de jornalismo. Como um dos principais estudiosos do tema no Brasil, Schmitz (2011) diz que o conceito de fonte é antigo e deriva da antiga mitologia romana. “A etimologia é do latim, fonte: nascente de água. A palavra está relacionada a vários significados e figuras de linguagem” (SCHMITZ, 2011, p.8) Com esta perspectiva, o autor disserta que fonte é aquilo que origina ou produz uma informação. Schmitz (2011) revela que é necessário distinguir entre os termos fonte de informação e fonte de notícia, a fim de poder compreender melhor o tema. A primeira diz respeito à informação propriamente dita, que todos podem ter acesso. Já a segunda se refere à necessidade de haver um veículo transmissor da informação, a fim de comunicar para um determinado público. “A maioria das informações jornalísticas advém de organizações ou personagens que testemunham ou participam de eventos e fatos de interesse da mídia” (SCHMITZ, 2011, p.9). Deste modo, as fontes têm importância decisiva no curso de um conteúdo jornalístico, sobretudo na condução da matéria e da seleção das próprias informações. Para aprofundar o debate, Schmitz (2011) desenvolve uma definição estanque de fontes das notícias, que serve de base para compreender seus estudos e observações. Segundo o autor: Fontes de notícias são pessoas, organizações, grupos sociais ou referências; envolvidas direta ou indiretamente a fatos e eventos; que

33 agem de forma proativa, ativa, passiva ou reativa; sendo confiáveis, fidedignas ou duvidosas; de quem os jornalistas obtêm informações de modo explícito ou confidencial para transmitir ao público, por meio de uma mídia. (SCHMITZ, 2011, p.9).

A relação do jornalismo com a fonte foi drasticamente transformada a partir do crescimento das redes web e das tecnologias. A forma de produzir conteúdos mudou e, cada vez mais, existem agências de conteúdos e assessorias de imprensa. Schmitz (2011) explica que as agências produzem conteúdos com linguagem e critérios jornalísticos, tornando o material altamente relevante para a divulgação. Já as empresas públicas e privadas, em sua maioria, baseiam sua postura na prática de agendamento e do fornecimento de informação institucional, a fim de promover sua marca e ações. Sobre a questão, Schmitz (2011) afirma que: Assim, o jornalismo torna-se apenas o mediador entre quem produz a notícia e o público, devido aos custos para obter a informação, ao enxugamento das redações, à proliferação de assessorias e agências de comunicação e à capacitação das fontes para o relacionamento com a mídia. (SCHMITZ, 2001, p.12).

Portanto, conforme adverte Schmitz (2011), as fontes institucionais usam de recursos como releases estruturados com títulos curtos que são sedutores, pois possuem verbo de ação. Além disso, o conteúdo é composto com lead e outras técnicas jornalísticas que, inclusive, permeiam os manuais de redação. Neste cenário, é importante observar os interesses diferenciados dos jornalistas e das fontes. Pois as fontes, por não possuir valores de objetividade em suas falas podem, explicitamente, delegar cunho opinativo e de interesse próprio em suas falas ou conteúdos. Já o jornalista, delegado de produzir informações isentas, precisa mediar o interesse público sobre a fonte, ou a informação da fonte, com o interesse do sujeito que se dispõem a “falar”. Assim, Schmitz (2011) sintetiza a relação imprensa-fonte: As fontes, por interesse próprio, tratam de informar a sociedade sobre as suas ações ou impedir que se espalhe uma versão inconveniente. O jornalista, no papel de selecionador, considera se o fato é notícia ou não, ou seja, se interessa ou não ao seu público e veem as fontes como colaboradoras da produção jornalística. (SCHMITZ, 2011, p.14)

34 A fonte é imprescindível, ainda, no processo básico de objetividade jornalística. Embora, como já citado, a escolha da fonte representa uma decisão subjetiva, o conteúdo fornecido pela mesma pode auxiliar no processo de confirmação de informações previamente pesquisadas pelo profissional jornalista. Este método, conhecido também como apuração dos fatos, permite dar mais precisão às informações antes de serem dispostas ao público. “Para mediar a realidade, o jornalista se vale do conhecimento das fontes na fase de produção da notícia, quando ele busca a informação para depois informar os outros” (SCHMITZ, 2011, p.14). Na mídia, diversos são os tipos de fontes. Schmitz (2011) buscou em diversos autores as principais definições que, segundo ele, são muito variadas e se transformam a cada manual de redação e teoria de jornalismo. “São díspares as classificações e denominações dos tipos de fontes de notícias por pesquisadores e nos manuais de redação dos principais jornais brasileiros” (SCHMITZ, 2001, p.22). João Canavilhas (2015) afirma que, mais do que nunca, o jornalista é imprescindível no processo de prospecção de fontes realmente sérias e essenciais ao interesse público: O que nós temos hoje é uma tentativa de selecionar informações entre milhões de fontes, isso é o que é verdadeiramente complicado. [...] O jornalista já não tem de simplesmente recolher a informação das fontes e transformá-la em uma notícia. Agora ele tem que procurar a melhor fonte entre milhares, colocar a fonte dentro da notícia e depois ter o trabalho da contextualização com outras fontes escolhidas entre os tais milhares, o que é algo diferente e interessante. (CANAVILHAS, 2015, p.116).

4.1 CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES NO JORNALISMO Com esse desafio em mente, Schmitz (2011) buscou classificar os principais tipos de fontes e sua respectiva participação nas formas de se fazer jornalismo. O autor tipifica as fontes e as separa em um quadro, onde elenca a ordem de importância e suas principais características. O autor será a referência desta pesquisa para a análise das fontes que aparecem no jornalismo.

35 Quadro 2 – Matriz de classificação das fontes de notícias segundo Schmitz (2011) Matriz de classificação das fontes de notícias Categoria Primária Secundária

Grupo Oficia Empresarial Institucional Popular Notável Testemunhal Especializada Referencial (SCHMITZ, 2011, p.23).

Ação Proativa Ativa Passiva Reativa

Crédito Identidade Anônima

Qualificação Confiável Fidedigna Duvidosa

Categoria: uma fonte pode ser primária ou secundária. O termo primário e secundário delega a respectiva importância da fonte no texto. Se ela é protagonista do conteúdo ou coadjuvante, complementar à matéria. Segundo Schmitz (2011) a fonte primária “fornece diretamente a essência de uma matéria, como fatos, versões e números, por estar próxima ou na origem da informação” (p,24).

Grupos: ● Fonte oficial: é um dos tipos de fontes mais utilizados e preferidos pela imprensa. A fonte oficial normalmente representa órgãos e instituições governamentais e respondem, na maioria das vezes, ao chamado do interesse público. ● Empresarial: este tipo de fonte tem como meta preservar sua imagem ou divulgar dados oficiais da instituição. A fonte empresarial atua com interesses próprios benefícios quando divulga uma informação, seja para atenuar uma crise, ou para qualificar a imagem da marca. ● Institucional: é um porta-voz que responde por instituições sem fins lucrativos ou grupos sociais. A fonte institucional normalmente é engajada com o tema que está disposta para falar. ● Popular: esta fonte não responde por instituições de qualquer tipo. Pode ser uma testemunha do fato, uma pessoa comum. “Uma fonte popular aparece

notadamente

como

vítima,

cidadão

reivindicador

ou

testemunha” (SCHMITZ, 2011, p.26). ● Notável: artistas, escritores, personalidades, artistas etc. São sujeitos que se destacam por suas práticas específicas e diferenciadas.

36 ● Testemunhal: é a fonte que testemunhou o ocorrido ou possui informações de perto do fato. É a testemunha ocular da história. Schmitz (2011) explica que esta fonte “desempenha o papel de “portadora da verdade”, desde que relate exatamente o ocorrido, a menos que seja manipulada, daí deixa de ser testemunha” (SCHMITZ, 2011, p.26). ● Especializada: essa classificação se remete a especialistas, como professores, pesquisadores e profissionais com notório conhecimento acerca de um tema específico e que possam contribuir para a composição do conteúdo jornalístico. ● Referência: são documentos, estudos, artigos etc. Nessa categoria se incluem materiais online, jornais, revistas, portais, mídias sociais, documentários, dentre outros.

Ação: as fontes podem agir de diversas formas e motivadas a partir de diversos interesses. Schmitz (2011) afirma que as fontes procuram aumentar seu papel ativo dentro da comunicação a partir do uso de técnicas jornalísticas que vão, justamente, ao encontro do interesse dos veículos. “Há uma crescente mobilização das fontes para intervir no jornalismo, agindo proativamente, pois mantêm estruturas de comunicação, tendo entre seus profissionais, jornalistas experientes com passagens por redações” (SCHMITZ, 2011, p.27) ● Proativa: são as fontes preparadas para fornecer material organizado a partir de qualidade jornalística. Assim, possuem diferencial na hora de oferecer seus conteúdos. “Estão permanentemente disponíveis aos jornalistas e fornecem informações com antecedência e de acordo com os critérios de noticiabilidade [...]” (SCHMITZ, 2011, p.28). ● Ativa: essas fontes criam rotinas de contato com a imprensa. Menos ostensivas que a proativa, procuram manter regularidade para divulgar suas informações. ● Passiva: fontes passivas podem ser bibliográficas ou sujeitos que fornecem apenas informações sobre o que o repórter pergunta. ● Reativa: essa fonte reage acredita que a imprensa pode prejudicar sua imagem com a divulgação de informações relativas a si. Portanto, a ignoram e tentam ser o mais discreto possível.

37 Por essas e outras razões, pessoas e organizações agem discretamente, sem chamar a atenção da mídia (low profile) ou para evitar a invasão de sua privacidade, mesmo sendo notórias e detentoras de informações relevantes e de interesse público. (SCHMITZ, 2011, p.29).

Crédito: o crédito se remete à identificação da fonte por sua colaboração na matéria. Neste sentido, Schmitz (2011) afirma que podem ser do tipo Identificada (on) e não identificada (off). No primeiro caso, informações como nome completo, profissão, cargo e função são importantes para credibilizar a fonte e situá-la na sociedade. No entanto, para esta questão, Schmitz (2011) lembra o caráter capitalista da empresa jornalística e afirma que “Se algum empresário dá uma opinião ou depoimento, aparece na legenda, apenas: “diretor da empresa”. Em caso positivo, a fonte não tem nome nem crédito, o que contraria um elemento básico da produção jornalística” (SCHMITZ, 2011, p.30). Isso acontece em função da publicidade espontânea que a imprensa poderia dar para a fonte e sua marca. Se a fonte for não identificada (off) a questão passa por diretrizes da ética jornalística, onde a fonte não é obrigada a se expor. No entanto, usar fonte oculta ou não identificada pode prejudicar a credibilidade da informação fundamentada pela mesma. Por este motivo, recomenda-se utilizar este recurso apenas se a informação for muito impactante e se o jornalista confiar na fonte da informação. Qualificação: conforme indica Schmitz (2011), as fontes podem ser confiáveis, fidedignas ou duvidosas. As primeiras possuem confiabilidade e dificilmente estão mentindo a respeito das informações. O critério para escolher este tipo de fonte é sua capacidade de articulação, seu histórico na mídia ou na sua área de atuação e seu relacionamento como jornalista. As fidedignas se remetem a cargos públicos, executivos de alta patente ou proximidade ao fato. E, por fim, as duvidosas. É a fonte que segundo Schmitz (2011):

38 5 FORMATOS JORNALÍSTICOS Pela sua característica ampla de comunicação, o jornalismo possui diversas formas de produzir conteúdo e entregar a notícia até o seu público receptor. Neste capítulo, serão abordados os principais gêneros jornalísticos, com ênfase no jornalismo impresso, para compreender os principais recortes dos estilos utilizados para a produção dos conteúdos na imprensa. Medina (2001) entende que os gêneros jornalísticos são influenciados pela cultura social onde estão inseridas e que, portanto, devem ser analisadas a partir de um contexto histórico, sendo impossível determinar um conceito universal. Sousa (2001) reforça este conceito ao afirmar que os “os géneros jornalísticos existem em determinados momento de contextos sócio-históricoculturais. Há, certamente, géneros jornalísticos que ainda não viram a luz do dia e outros que já não se praticam” (SOUSA, 2001, p.231). Sousa (2001) também considera, ainda, difícil de definir os gêneros de forma estanque, em função do próprio conceito do que é notícia, uma vez que um texto publicado, se trouxer informações novas, é considerado notícia e, portanto, um tipo básico e particular de gênero jornalístico. Melo e Assis (2016) aludem que o gênero jornalístico é uma composição que permite que o leitor usufrua de certo sentido específico do texto, uma vez que o gênero categoriza o estilo da narrativa. Nessa perspectiva, portanto, os gêneros e suas subdivisões – formatos e tipos – são formas relativamente rígidas, fixas, que definem o modelo de atitude do espectador, antes de este se interrogar acerca de qualquer conteúdo específico, determinando assim, em larga medida, o modo como esse teor é percebido. (MELO; ASSIS, 2016, p.47).

Nessa linha de raciocínio, Melo e Assis (2016) dissertam que os gêneros jornalísticos são unidades da comunicação que reúnem formas diferenciadas e objetam por definir espécies específicas de informação da atualidade. Medina (2001) retrata que estas unidades podem ser múltiplos reconhecimentos pelos pesquisadores e comunicadores ao redor do mundo, a partir da influência decisiva que a cultura local exerce sobre a avaliação dos gêneros jornalísticos. O autor enfatiza que:

39 Existem muitos gêneros nos meios de comunicação de massa. Esse número depende da complexidade e diversidade da sociedade. Para uma sociedade, uma coisa pode ser um gênero e, para outra, um subgênero ou ainda, para uma terceira, poderá ser supergênero” (MEDINA, 2001, p.49).

Assis (2010) discorre sobre os gêneros jornalísticos considerando que este é um recurso para definir a característica do texto a ser divulgado. “É fato, portanto, que as propostas classificatórias dos gêneros que conferem identidade ao jornalismo são suscitadas à luz de diferentes pontos de vista" (ASSIS, 2010, p.16). Medina (2001) também entende que os gêneros servem de alerta para que tipo de conteúdo o leitor irá encontrar nas páginas do jornal, uma vez que, observado o estilo do texto, irá associar códigos e verificar se é uma opinião, interpretação ou notícia, por exemplo. Com certeza servem para orientar os leitores a lerem os jornais, permitindo-os identificar as formas e os conteúdos dos mesmos. Servem, também, como um diálogo entre o jornal e o leitor, pois é através das exigências dos leitores que as formas e os conteúdos dos jornais se modificam. (MEDINA, 2001, p.50).

Melo e Assis (2016) defendem que os gêneros jornalísticos são compostos, essencialmente, por duas características distintas. A primeira diz respeito a sua função social e também por sua capacidade de agrupar diferentes gêneros. Assim, os autores definem os seguintes gêneros e suas funções sociais: • informativo: vigilância social; • opinativo: fórum de ideias; • interpretativo: papel educativo, esclarecedor; • diversional: distração, lazer; • utilitário: auxílio nas tomadas de decisões cotidianas. (MELO; ASSIS, 2016, p.50).

A partir da definição dos gêneros, é possível identificar os formatos jornalísticos que se originam destes conceitos. Nesta pesquisa, será abordado o gênero informativo, segundo os autores referenciados. Melo e Assis (2016) definem que no gênero informativo é possível encontrar os seguintes modelos de formatos jornalísticos: nota, notícia, reportagem e entrevista. Medina (2001) traz um glossário onde define as características dos principais formatos jornalísticos correspondentes ao estilo informativo. Por nota, o autor entende trata-se de “um relato de um acontecimento” (MEDINA.

40 2001, p.54). A notícia, já referenciada neste projeto, é definida por Sousa (2001) como formulado pequeno sobre um fato recente. Medina (2001) disserta que a reportagem é um relato aprofundado de um acontecimento, onde uma das características principais é a presença do repórter no local do fato para a coleta de informações. Sousa (2001) indica que a reportagem é um formato nobre da notícia, onde se conta uma história. Entrevista para Medina (2001) é uma técnica que permite ao leitor que se aproprie da visão, ou ponto de vista, de um sujeito sobre determinado tema ou assunto. Sousa (2001) indica que a entrevista é um gênero jornalístico quando é apresentado à parte, como matéria individual. Ademais, a entrevista é uma das principais técnicas jornalísticas para a obtenção de informações. A partir dos autores, é possível organizar um quadro para sintetizar e simplificar a compreensão

dos formados correspondentes ao gênero

informativo: Quadro 3 – Formatos jornalísticos segundos os principais autores da pesquisa Formato

Descrição teórica

Autor

Nota

Relato de um acontecimento.

MEDINA, 2001, p.49

Notícia

Reportagem

Entrevista

Enquanto gênero jornalístico, a notícia é, essencialmente, um pequeno enunciado reportativo, um discurso sobre um acontecimento recente (ou, pelo menos, de que só no presente se tenha conhecimento), vários acontecimentos ou desenvolvimentos de acontecimentos. Representa também informação nova, atual e de interesse geral. A reportagem é um espaço apropriado para expor causas e consequências de um acontecimento, para contextualizá-lo, interpretar e aprofundar, mas sempre num estilo vivo, que aproxime o leitor do acontecimento, que imirja o leitor na história.

SOUSA, 2001, p.232

SOUSA, 2001, p.259

Permite ao leitor conhecer opiniões e ideias das pessoas envolvidas no ocorrido ou em um determinado assunto.

MEDINA, 2001, p.49

A entrevista, enquanto género jornalístico, corresponde à transposição das perguntas e respostas feitas durante a entrevista, enquanto técnica de obtenção de informações, para um determinado modelo de enunciação.

SOUSA, 2001, p.235.

Autor: SOARES, Luiz Henrique Kersck. 2016. Quadro

Função

Vigilância social (MELO E ASSIS. 2011.p,49)

41 6 JORNALISMO IMPRESSO O jornalismo impresso foi a forma de comunicação mais tradicional, durante séculos, na sociedade antes da ascensão da internet e das novas formas de comunicação de massa. A história da imprensa se confunde com a história do jornal impresso. Os primórdios deste tipo de jornalismo, segundo diversos autores, dão conta de apontar práticas ainda na Roma antiga, onde, conforme disserta Sousa (2001), César ordenava a fixação das Actas Diurnas, em meados de 69 A.C. Os documentos eram fixados pela notória cidade e relatavam sessões do Senado Romano e questões relacionadas à lei. Sousa (2001) considera, ainda, que as Actas sejam as mais remotas antepassadas do jornalismo impresso. “As Actas passaram a referenciar uma panóplia de assuntos, como acontecimentos importantes para o Império, combates de gladiadores, actos públicos da família imperial, etc.” (SOUSA, 2001, p.19). No entanto, foi somente com o desenvolvimento da prensa de Gutenberg, em meados de 1930 e 1940, que a reprodutibilidade técnica de impressos pode ser aprimorada e realizada em uma escala maior do que era possível até o momento. Sousa (2001) lembra que neste período já existiam tipografias com caracteres móveis, mas que a prensa inventada por Gutenberg foi revolucionária para a época e permitiu a expansão de tipografias por toda a Europa. Perles (2007) afirma que Johann Gutenberg foi também o percussor da democratização da escrita e do próprio conhecimento, uma vez que sua invenção permitiu a reprodução de diversas obras que até então eram restritas a determinados públicos privilegiados. O sistema de prensa tipográfica criado por Gutenberg, associado às possibilidades oferecidas pelo alfabeto romano, composto de pouquíssimas letras quando comparado aos inúmeros ideogramas chineses, não somente possibilitou a produção de livros em grande escala, como propiciou o surgimento do jornal. (PERLES, 2007, p.07).

No entanto, o jornal não foi o primeiro material a ser impresso nessa nova e ascendente tecnologia. As primeiras reproduções remetem à Bíblia Sagrada. Perles (2007) apresenta que a Associação Mundial dos Jornais considera que o primeiro jornal do mundo tenha sido o Relationen, em 1605, de Johann Carolus, na Alemanha.

42 Sousa (2001), por outro lado, traz que não se sabe ao certo qual foi o primeiro jornal impresso no mundo. No entanto, o autor lembra que Costella (1984) defende que alguns historiadores consideram que o jornal impresso mais antigo da história é o Noviny Poradné Celého Mesice Zari Léta 1597. Mas outros historiadores preferem dar as honras de primeiro jornal impresso ao semanário Nieuwe Tijdinghen, criado em Antuérpia por Abraão Verhoeven, em 1605. Em 1622, surge em Inglaterra o Weekly News. Em 1611 aparece o Mercure Français” (SOUSA, 2001, p.19).

Difícil, também, é definir qual foi o primeiro jornal impresso diário. Sousa (2001) segue a linha de que o Daily Courant, jornal inglês, em 1709, foi o primeiro a ser publicado todos os dias, exceto domingo. Sousa (2001) lembra, ainda, que foi Koning, em 1812, que acelerou ainda mais a reprodutibilidade dos impressos, a partir da invenção da rotativa. O equipamento permitia mais cópias a um preço menor que a prensa de Gutenberg. No Brasil, o primeiro jornal a circular foi o Correio Braziliense. Na época, em 1808, Portugal não permitia que suas colônias possuíssem prensa. Portanto, segundo Perles (2007), a impressão do jornal era feito em Londres. A primeira edição data de 1º de junho do ano supracitado, por iniciativa de Hipólito José da Costa. Assim, em 10 de dezembro de 1808, surgiu a Gazeta do Rio, que trazia informações sobre ações oficiais governamentais. Segundo Perles (2007) este foi o primeiro jornal impresso em território brasileiro, uma vez que, nesse ano, a família real se refugiou no país, em função dos avanços de Napoleão na Europa. A partir do êxodo da realeza de Portugal, foi direcionada ao Brasil colônia máquinas capazes de imprimir e fundar a origem da imprensa no país. O jornal impresso tem relevância histórica nas sociedades. Foi uma das principais formas de alfabetização do povo, além de ser, muitas vezes, a principal fonte de informação de diversos grupos sociais ao redor do mundo durante muitos anos. Sousa (2001) defende que o jornal impresso possui múltiplas funções e que seu papel na sociedade vai bem além de apenas informar. “Um jornal pode, por exemplo, exercer pedagogia social, informando sobre como contribuir com pequenos gestos para a reciclagem dos lixos ou para a salvaguarda do ambiente” (SOUSA. 2001, p.14). “De início, os jornais

43 demonstravam ter alguma consciência de que parte da missão era educar o povo” (PERLES, 2007, p.8). Na sua origem moderna, o jornal impresso acumulava funções opinativas e ideológicas. Frequentemente, os jornais eram utilizados para propagar ideias políticas e de grupos específicos. Conforme versa Sousa (2001) esse fenômeno se deu no início do século XIX e foi emplacado, sobretudo, pela falta de alfabetização do povo. E sua carência econômica influenciou que os jornais ficassem reduzidos a uma pequena elite das grandes cidades, o que propiciava esse cenário opinativo. Sousa (2001) afirma, ainda, que nesse período histórico o artigo era o gênero jornalístico mais popular. A realidade dos jornais construídos na época veio a mudar a partir de uma série de fatores que aprimoraram a distribuição dos impressos e a linguagem utilizada, que passou a prezar por comunicar para um público mais vasto. Assim, surgiram as primeiras publicações populares, conhecidas como Penny Press. Sousa (2001) disserta que alguns dos fatores que alavancaram este movimento na imprensa foram à expansão das linhas férreas – o que permitiu um avanço em termos de distribuição dos impressos – e o telégrafo, que aumentou a capacidade de difusão das informações. “O telégrafo, a grande inovação técnica daquela época, possibilitava aos jornalistas o envio diário das suas crónicas de guerra” (CANAVILHAS, 2007, p.29). Como conhecemos hoje, o jornalismo impresso possui ares bem diferentes, sobretudo, no que tange a profissionalização dos jornalistas que atuam neste meio. Porém há de se observar que o modelo de negócio do jornal impresso passa por uma crise, a partir da ascensão do jornalismo web e das novas formas que a sociedade consome conteúdo. João Canavilhas (2007) defende que o webjornalismo evoluiu justamente a partir da linguagem do impresso: “desta forma, foi com alguma naturalidade que o jornalismo na web se desenvolveu num modelo muito semelhante ao do jornalismo escrito, adoptando as mesmas técnicas de redacção usadas na imprensa escrita” (CANAVILHAS, 2007, p.27). Com efeito, essa relação mudou em função do aperfeiçoamento e de novas definições da linguagem web, além das mudanças incessantes que ocorrem na esfera do consumidor. Assim, Canavilhas (2007) define a nova relação entre jornalismo impresso e webjornalismo:

44

Compreende-se, pois, que as prioridades do jornalista da imprensa em papel sejam diferentes das prioridades do webjornalista: enquanto o primeiro dá primazia à dimensão do texto, recorrendo a rotinas estilísticas que permitem “encaixá-lo” no espaço definido, o segundo deve centrar a sua atenção na estrutura da notícia, uma vez que o espaço é tendencialmente ilimitado. (CANAVILHAS, 2007, p.33).

Em um debate realizado em 2013 com o comunicador Luis Nassif, Ignacio Ramonet (2013) relatou acreditar que o jornal impresso vai perder expressão em função da internet. Na rede web a comunicação se apresenta mais interativa e atraente aos novos consumidores de conteúdo. Uma vez que o número de jornais está reduzindo ao redor do mundo, o modelo de negócios do jornal impresso é frequentemente questionado. Ramonet (2013) sintetiza a questão, na entrevista à Revista GGN, apontando que: Não há termo de comparação de custos. O jornal impresso exige gráficas pesadas e estoques de papel como se fosse uma indústria; estrutura de distribuição como se fosse um atacadista, colocando os produtos diariamente em centenas de milhares de assinantes e em milhares de bancas. O jornal digital acompanha o assinante em qualquer local que acesse a Internet. O conteúdo não tem limitações de espaço. Tem o hiperlink para remeter a documentos, matérias maiores e outras referências. Pode exibir podcasts e vídeos. Tem a interatividade. (RAMONET, 2012).

Como referenciado, o jornal ainda reserva sua importância, sobretudo para um público leitor mais exigente, que preza por matérias mais completas e ainda está acostumado com o papel. Além disso, o avanço da internet ainda não acontece em locais do campo ou de regiões afastadas dos grandes centros metropolitanos, o que dá força a meios tradicionais de comunicação – impresso, rádio e TV.

6.1 CORREIO DO POVO O jornal objeto empírico de estudo deste projeto é o Correio do Povo, o mais antigo do estado do Rio Grande do Sul em circulação e um dos primeiros do Brasil, com mais de 120 anos. O Correio do Povo foi fundado em 1º de outubro de 1895, pelo jornalista Francisco Antonio Viera Caldas Junior.

Na

época em que foi lançado, o Estado gaúcho passava por disputas políticas bipartidárias. A maioria das publicações tinham interesses políticos e

45 econômicos. Segundo Correio do Povo (2005) Caldas Junior, aos 26 anos, decidiu fundar o jornal com objetivo de prestar informação de interesse público, sem levar anseios políticos nas páginas do jornal. Não era pouca coisa para uma época em que todos os jornais representavam alguma corrente política, religiosa ou filosófica. A Federação era positivista e defendia o governo do presidente do Estado, Júlio de Castilhos. O Jornal do Comércio nutria clara simpatia pelo Partido Liberal. O Deutsche Volksblatt, editado em alemão, era católico. Somente na Capital, o jornal de Caldas Júnior disputava mercado com outros sete diários. (CORREIO DO POVO, 2005, CADERNO ESPECIAL).

Na sua primeira edição, o jornal possuía quatro páginas e dois mil exemplares. Em quase quatro anos o Correio do Povo já era o jornal de maior circulação na capital gaúcha, Porto Alegre. O fundador do jornal decidiu usar essa marca como slogan do impresso, estampando no topo do jornal a frase: o jornal de maior circulação e tiragem do Rio Grande do Sul. Embora o jornal tivesse obtido sucesso após sua fundação, Caldas Júnior veio a óbito em 1913, o que levou o jornal a passar por diversas crises. Segundo edição especial do Correio do Povo (2005), a empresa jornalística foi assumida pelo filho e sucessor Breno Alcaraz Caldas. Este foi responsável por implantar medidas de gestão e jornalismo que levaram o jornal a sua fase de ouro nos anos 40, 50 e 60. Nesta fase, o jornal era o mais lido entre os diários do Estado. “O Rio Grande do Sul passou a se informar pelo Correio, e o jornal assumiu o papel que cumpre até hoje: o de representar os interesses do Estado e da população gaúcha” (CORREIO DO POVO, 2005, EDIÇÃO ESPECIAL). Durante o período, o jornal Correio do Povo se tornou referência no Estado. “Os gaúchos demonstravam sua confiança no jornal repetindo a frase que se tornaria um slogan não-oficial: Se deu no Correio, é verdade” (CORREIO DO POVO. 2005. EDIÇÃO ESPECIAL). Com o sucesso, o jornal seguiu investindo e apostando em tendências. Em 1936, o jornal lança a Folha da Tarde; Folha Esportiva em 1949-1963 e Folha da Manhã, que perdurou até 1980. Os diários introduziram no Estado o formato de jornal tabloide, que é menor e mais prático. No Rio Grande do Sul, o formato de jornal impresso tabloide é predominante. O grupo de comunicação

46 apostou, ainda, na Rádio Guaíba AM (1957) e no canal de televisão aberta TV2 Guaíba (1979). Em 1979, foi a vez da TV2 Guaíba, mas a emissora de televisão veio num mau momento. Desde meados da década de 70 que a Caldas Júnior enfrentava dificuldades financeiras. Um a um, os jornais foram fechando. E, em 16 de junho de 1984, o que parecia impossível para a maioria dos gaúchos aconteceu: o Correio do Povo deixou de circular. (CORREIO DO POVO, 2005, EDIÇÃO ESPECIAL).

Após o fechamento do jornal, o impresso voltou a circular em 1986, sob o comando do empresário Bastos Ribeiro, que quitou as dívidas da empresa Caldas Júnior.

Um ano depois, o jornal aderiu ao modelo tabloide em

definitivo. Neste período, o jornal apostou em coberturas de eventos classificados como “genuinamente gaúchos”. Segundo o próprio jornal (2003) a Expointer e o Acampamento Farroupilha se tornaram foco do jornal durante a realização

destes eventos.

Nesta fase, ainda, o

jornal passou

por

implementação de melhorias tecnológicas. A redação é totalmente informatizada e dispõe de sistemas criados ou adaptados especialmente para as necessidades do jornal. Toda a fotografia e o tratamento de imagens são digitalizados, e os repórteres fotográficos trabalham apenas com câmeras digitais. (CORREIO DO POVO, 2005, EDIÇÃO ESPECIAL.).

Atualmente, o jornal é impresso a partir de rotativas distribuídas em Porto Alegre, Carazinho e São Sepé. O jornal realiza sua própria distribuição e, segundo a empresa, chega em 95% das casas antes das 7h da manhã. Além de cobrir todo o Estado do Rio Grande do Sul, a publicação impressa é distribuída para o Oeste e o Litoral de Santa Catarina, bem como, para o Oeste do Paraná.

6.2 A EDITORIA DE RURAL NO CORREIO DO POVO Uma das editorias mais tradicionais e antigas do jornal Correio do Povo é a Rural. A respectiva editoria é responsável por cobrir assuntos do campo, com ênfase em assuntos do interior do Estado, e do Brasil. Anualmente, um dos temas destaques desta editoria é a feira de agronegócio Expointer, que é realizada na cidade de Esteio, no Parque de Exposições Assis Brasil.

47 Danton Júnior (2016), jornalista há 12 anos, atual editor-assistente da editoria Rural do Correio do Povo, e coordenador da equipe de reportagem da Expointer 2016, destaca que o tema rural é um dos mais importantes para a empresa e que ganha destaque nos investimentos e deslocamento de pessoal. O editor defende, ainda, que a importância da editoria é enfatizada principalmente no interior do Estado, onde está o principal público consumidor das notícias do campo e rotatórias que favorecem a distribuição logística do jornal. O Correio do Povo tem três rotativas. Uma em Porto Alegre, em Carazinho e outra em São Sepé. À noite a gente está dormindo e de madrugada os “caras” estão distribuindo o jornal para todo o Estado a partir destes três pontos, isso faz com que tenhamos uma capilaridade no interior do Estado que outros jornais não tem. Então o Correio do Povo acaba chegando a lugares que tu nem imagina, em estradas de chão, zonas rurais e sítios pequenos. Talvez o jornal não seja o mais lido em Porto Alegre, mas no interior é muito forte. (DANTON JÚNIOR, 2016).

Danton Júnior (2016) também lembra que a importância do tema para a empresa se traduz no deslocamento de profissionais para coberturas no interior do Estado em feiras e eventos do agronegócio. “Tu também pode ver pela cobertura que fazemos na Expointer e Expodireto. Na Expodireto deslocamos uma boa equipe de quatro a nove jornalistas, isso ilustra também como é uma área prioritária” (DANTON JÚNIOR, 2016). A rotina do repórter de agronegócio é diferenciada das outras editorias, principalmente em dias de feiras como a Expointer, onde a equipe de reportagem passa até dez dias em pleno envolvimento com o ambiente, fontes e pautas. A jornalista Patrícia Meira (2016), com a experiência de quem trabalhou por mais de 20 anos na cobertura no setor rural - dos quais 12 anos foram como repórter e, posteriormente, editoria-assistente e editora de rural do Correio do Povo - se refere a este tipo de prática como jornalismo de imersão, que é caracterizado, segundo a repórter, como uma atividade onde o trabalho “nunca acaba”. “Parece que tu está sempre apagando um incêndio. Você vai para casa e fica com a feira na cabeça. Tu pensa nos números, se estão corretos e isso tira até o sono” (MEIRA. 2016). Meira (2016) relata que em uma cobertura como a Expointer o repórter trabalha até dez horas por dia. Do ponto de vista do cansaço, a ex-editora de rural do Correio do Povo afirma que o repórter precisa “esquecer que tem vida” e focar no trabalho.

48 Figura 1 – Casa do Correio do Povo na Expointer

Crédito: divulgação Correio do Povo

Na cobertura de 2016, Danton Júnior (2016) esclarece como foi a organização da equipe e logística para a cobertura do evento. Os profissionais que vão atuar na feira possuem uma base de operações chamada Casa do Correio do Povo, onde existem salas de reunião, redação e refeição para os profissionais. Segundo Meira (2016) a Casa do Correio é um fator que favorece a redação e a logística do trabalho do repórter, mas que deixa, por outro lado, a equipe muito vulnerável ao assédio das fontes no local, que tentam pautar a equipe. Danton Júnior (2016) versa que normalmente são quatro pessoas na editoria, um número que já foi maior. Trata-se de um editor, dois editoresassistentes e uma repórter. Os dois editores também produzem reportagem. O editor faz a pauta pela manhã e deixa essa demanda para a equipe que chega à tarde. No turno da manhã, apenas Danton Júnior chega à redação. À tarde o resto da equipe. Meira (2016) conta, a partir de sua experiência como repórter e editora do rural do Correio do Povo, que o repórter nunca sai da redação com menos de sete pautas e a missão de estar atento a qualquer oportunidade de notícias

49 que apareça pela feira. A jornalista também lembra que uma das principais dificuldades encontradas neste tipo de cobertura era a própria comunicação entre a equipe. Por um bom tempo nós trabalhávamos sem celulares, mesmo quando já estava disponível, porque o jornal não disponibilizava. Hoje todo mundo já tem, de uns três anos para cá. Era um problema, pois tínhamos que andar o parque inteiro para falar como editor. A comunicação da equipe era defasada, essa realidade veio a mudar na redação de uns quatro anos para cá. (MEIRA, 2016).

Especificamente na Expointer, Danton Júnior (2016) indica que o número de repórteres é maior. Aos quatro jornalistas da equipe fixa, são adicionados profissionais de outras editorias e estagiários. Em 2015, foram cedidos dois repórteres da editoria Geral e um repórter e dois estagiários do Online. “A equipe é maior justamente para dar conta desta cobertura que fazemos dos julgamentos. Temos cinco páginas de jornal para preencher, então uma equipe com quatro pessoas seria um problema” (DANTON JÚNIOR, 2016). Patrícia Meira (2016) relata que a atenção dada ao tema rural já foi maior no jornal e que, com o enxugamento da redação, os profissionais que atuam na editoria têm menos experiência na cobertura do setor rural. Esse movimento se traduz em profissionais com menos fontes de informação e conhecimento técnico sobre os principais temas que permeiam o agronegócio. Segundo defende Meira (2016), ainda, a adição das redes sociais à cobertura jornalística também é um problema para uma equipe enxuta, uma vez que o repórter acumula funções e pode perder o foco específico no jornal impresso. Agora tem uma exigência que tu poste no Instagram, Facebook e Twitter ao mesmo tempo em que tu está correndo com sete pautas para o impresso. Ao invés de tu prestar a atenção no que a fonte está falando, tu está pensando na foto para o site. Não está pensando na próxima pergunta. (MEIRA, 2016).

Patrícia Meira (2016) relata que a principal dificuldade do repórter na Expointer é a pauta. Ela aponta que um repórter mal pautado não consegue extrair boas notícias. É importante que o editor consiga produzir um bom briefing para o jornalista responsável por cobrir determinado assunto. Além disso, Meira (2016) diz que a rotina de cobertura é extenuante, também, em função da organização da feira, uma vez que os eventos dificilmente

50 acontecem no horário. Esse movimento cria um efeito dominó, que impede o repórter de executar o seu planejamento diário de cobertura.

Mas a

especialista em cobertura do agronegócio faz uma ressalva ao excesso de auxílio que o editor pode fornecer ao repórter para a produção da pauta. Segundo Meira (2016) o repórter precisa preservar a autonomia em busca das informações do setor rural. A jornalista critica a cobertura dos últimos anos, afirmando que o Jornal Correio do Povo não consegue extrair notícias impactantes. Meira (2016) reconhece que o impeachment e a atual conjuntura política têm pautado a mídia e extraído espaço de editorias tradicionais como a rural, mas defende que é necessário aprofundar mais as pautas e cobrir temas com relevância. “Outra coisa que eu não vejo mais é pauta crítica. É só pauta que joga com a torcida, ninguém diz que é mentira, ninguém questiona que não abre o número.” (MEIRA, 2016). Cada ano que passa parece que não tem mais notícia. Existiu a Expointer da soja transgênica, do MST, do pecuarista contra Olívio Dutra, dos demitidos da Emater e etc. Nos últimos três anos, foi a Expointer do nada. É uma cobertura que te absorve, te tira o sangue e parece que não teve nada. (MEIRA, 2016)

Danton Júnior (2016) relata que a cobertura da editoria Rural possui três eixos estratégicos. 1) A questão econômica é uma das áreas abordadas pela cobertura do campo no jornalismo da editoria rural do jornal Correio do Povo. Segundo Júnior (2016), a agropecuária é um movimento pautado em função da sua importância na geração de empregos e na movimentação econômica. Nesta área, a cobertura realizada dá conta de noticiar balanços comerciais, exportações e importações. Além disso, Júnior (2016) diz que narrar a história dos produtores e de seus investimentos também faz parte do aspecto econômico. 2) No segundo eixo, Danton Júnior (2016) destaca a política agrícola. É um segmento que tem muita informação dentro do governo, nos ministérios. Procuramos sempre estar em contato com estas fontes. São decisões que saem do gabinete e acabam influenciando toda a profissão do campo. Não é à toa que na Expointer sempre tem ministros, secretários. (JÚNIO, 2016).

51 3) O terceiro aspecto da cobertura, segundo Danton Júnior (2016), é que a cobertura do jornal Correio do Povo é uma forma de narrar a evolução tecnológica das implementações do campo. Danton Júnior (2016) afirma que são realizados muitos esforços para acompanhar o desenvolvimento tecnológico e traduzir histórias desses fenômenos. O editor-assistente Danton Júnior (2016) explica que o jornal Correio do Povo adota o termo rural para suas páginas e não o termo agronegócio. Segundo o editor, o termo rural denota uma cobertura mais próxima aos pequenos produtores e empreendedores rurais. O agronegócio, por outro lado, se remete mais a empresas do ramo e tem uma visão mais institucional e menos humana. “A que nós temos uma ênfase bastante grande na agricultura familiar, na questão do trabalhador. Acredito que isso justifica o fato da gente usar esse termo rural” (DANTON JÚNIOR, 2016). Meira (2016) versa que não acredita em uma total relevância do conceito de agronegócio para a cobertura da editoria de rural dos jornais. A jornalista afirma que rural e agronegócio são apenas questões semânticas diferentes. O foco da cobertura em ambos os casos é o campo. Em feiras do agronegócio como a Expointer, são diversos os sujeitos e protagonistas interessados em dar voz às matérias. Diversos setores e trabalhadores do campo se reúnem em um mesmo local para divulgar suas raças, produtos e inovações no campo. Neste aspecto, Danton Júnior (2016) destaca que o Correio do Povo busca dar voz, sobretudo, ao produtor envolvido nos julgamentos de raças. O jornalista explica que este é um dos principais critérios da equipe no local. “Acho que é o nosso principal diferencial é essa questão da raça. Pela importância que tem esses julgamentos na questão da seleção genética da pecuária” (DANTON JÚNIOR, 2016). A jornalista Patrícia Meira (2016) ressalta que o foco da cobertura do Jornal Correio do Povo nos últimos anos vem sendo repetida e que não traz inovações. Ela afirma que o número de profissionais atuando na cobertura é aquém ao necessário para a produção de reportagens de alto nível, mas que o aspecto positivo da inserção de pessoas novas na editoria e do auxílio de profissionais estagiários – que vem da universidade e são novos no mercado –

52 seriam que estes profissionais poderiam propor formas de inovar no modo de fazer jornalismo e na fórmula da cobertura. Durante a feira, diversas fontes possuem assessoria de comunicação. O trabalho especializado de jornalistas e comunicadores visa emplacar releases e notícias acerca de seus clientes. Neste sentido, Danton Júnior (2016) defende que o Jornal Correio do Povo não usa releases como principal recurso para produzir o texto e provoca: “se fosse para baixar releases não precisaríamos de repórteres”. (DANTON JÚNIOR, 2016). A nossa ideia na rural foi que a gente não baixa release, nem em situações extremas. A gente repercute. A gente sempre tem um viés de repercutir uma informação diferente ponto de vista, dificilmente tu vai ver uma matéria de abertura com uma fonte só. A mesma coisa acontece com o release. Nós podemos usar uma informação, mas se fosse pra baixar release não seriam necessários repórteres. (DANTON JÚNIOR, 2016).

Vivendo os dois lados do jornalismo – o de repórter e editora e o de assessora de comunicação – Meira (2016) afirma que muitas vezes jornalistas entram em contato para pedir releases e entrevistas por e-mail ou redes sociais, o que a repórter rechaça como uma prática jornalística de qualidade. “É preciso estar com a fonte. Caso contrário, ela pode dizer o que quiser e tu não pode questionar. Para mim como assessora é ótimo, como jornalista não acredito nessa prática” (MEIRA, 2016). Danton Júnior (2016) relata que o repórter de rural do Correio do Povo se prepara para as reportagens a partir do uso de fontes. O jornalista explica que no setor rural as fontes são abundantes e normalmente especializadas. Tem uma série de entidades do setor que tem um corpo qualificado de pessoal que, “volta e meia”, temos acesso, como universidades. Então a gente tem uma boa lista de telefones e então estamos sempre em contato com esse pessoal o que acaba facilitando (DANTON JÚNIOR, 2016).

Danton (2016) disserta a respeito do futuro do jornalismo impresso e sua relação com o setor rural. O comunicador versa que o público do campo está se modificando e que o atual leitor do Correio do Povo no interior do Estado está ficando “velho”. O principal desafio é conseguir novos assinantes e que o público jovem, descendente dos trabalhadores rurais tradicionais do interior do Estado, continue interessado no campo.

53

O que me preocupa é quem vai substituir essa geração do campo hoje. A população rural está com uma idade elevada e os filhos não querem assumir a propriedade. Acho que isso vai determinar o futuro do jornalismo, vai alterar completamente essa lógica de ter uma presença maciça no interior. Depende muito de ter atores lá. De gente que pega o Correio do Povo e lê tomando um chimarrão. Não tenho a resposta, vamos ter que ver nos próximos anos como vai se comportar, principalmente com relação à sucessão rural” (DANTON JÚNIOR, 2016).

Patrícia Meira (2016) revela que, após ingressar na assessoria de imprensa e trabalhar com clientes relacionados ao campo, ela percebeu que os profissionais rurais estão mais conectados à web do que supunha. E que o jornalismo impresso talvez não seja mais uma prioridade no campo. O cara lá da ponta quer saber a informação antes de sair o jornal. Eu achei que o agricultor não estava conectado às mídias sociais. Mas a verdade é que estão usando o Whatsapp pra usar vídeos e postar no face. Então eu acho que eles estão bem, o que limita é o sinal de internet na área rural: sinal de celular e internet. Então o dilema é que não tem quase nada no online do rural do Correio do Povo. Primeiro tem que rejuvenescer a pauta, tem que ter matérias interativas. Mas como criar isso sem o rural no online? (MEIRA, 2016).

Danton (2016) afirma que um dos atuais desafios da editoria rural do Correio do Povo é se comunicar com o público da cidade, com a utilização de uma linguagem acessível e pautas que aproximem o homem da cidade com o campo. Hoje eu vejo uma preocupação cada e maior do consumidor de saber da onde vem a carne que ele está comendo. Se o arroz que ele está comendo foi produzido de uma forma sustentável, se a carne foi produzida dentro do bem estar animal. Acho que cada vez mais o público da cidade está voltando os olhos para a questão de como estão sendo produzidos os alimentos. (DANTON JÚNIOR, 2016).

“As fontes do jornalismo rural são especializadas. Não vejo o desafio de tentar comunicar para o público da cidade” (MEIRA, 2016). Patrícia Meira (2016) entende que o público da cidade não está interessado em consumir notícias cotidianas e sazonais do campo. A jornalista exemplifica sua afirmação dizendo que “a notícia do arrozeiro interessa para o produtor de arroz. Não sei nem se alguém fora dessa área vai se interessar pela matéria” (MEIRA, 2016). Com essa perspectiva, a repórter afirma que o objetivo do Correio do Povo na editoria rural é comunicar para o público do campo. Porém entende que o

54 público alvo do jornal mudou, em função dos anunciantes do jornal. Atualmente, ela diz enxergar uma linguagem voltada para o produtor agrícola familiar, bem como, também constata mais espaço nas páginas para este tipo de cobertura.

55 7 OPÇÕES METODOLÓGICAS O jornalismo do agronegócio, que deriva do termo agribusiness, é considerado novo e eventualmente não é bem compreendido pelos atuais meios de comunicação. No Estado do Rio Grande do Sul, levando-se em conta a relevância do tema rural, é notório no jornal analisado – Correio do Povo – a existência de uma editoria com frequência diária que trata do tema de forma exclusiva. Além disso, a temática rural envolve diversas camadas da sociedade e, por abranger interesse amplo, pelas próprias características e necessidades informacionais de cada esfera da comunidade, o jornalismo praticado precisa compreender um discurso que propicie o compartilhamento informacional de forma clara para todos estes interessados. Com esse desafio em mãos, o profissional de jornalismo precisa se desdobrar para explicar os fatos, sem vulgarizar as informações e, ao mesmo tempo, dar conta de envolver em suas temáticas o homem do campo e da cidade. Assim, com a utilização de fontes especializadas e oficiais, que tratam de forma técnica os assuntos do campo, o jornalismo atual parece não conseguir tornar muitas das informações do campo facilmente compreensíveis aos leitores da cidade. Esta prática pode acabar reduzindo até mesmo o interesse dos leitores urbanos em consumir tais matérias. Conforme citado no capítulo 3, o Correio do Povo, segundo maior jornal em circulação do estado do Rio Grande do Sul, é um jornal impresso de publicação diária fundado em 1895 pelo jornalista sergipano Caldas Júnior (1868-1913). No início de sua circulação, o jornal era no formato standard e circulou ininterruptamente por 89 anos, quando retomou a sua normalidade no ano de 1986. Atualmente, o veículo pertence ao grupo de comunicação Record, desde 2007, e é disponibilizado em formato tabloide. Em 10 de outubro de 2015, o jornal iniciou o processo de digitalização de seu acervo. Todas as edições começaram a ser disponibilizadas no site oficial do grupo Record para consulta dos assinantes. A empresa Celulose RioGrandense patrocinou a iniciativa que irá escanear mais de 120 anos de história do jornal, totalizando um número superior a 1,5 milhão de páginas. Este trabalho monográfico debruçar-se-á seus esforços para analisar o jornal impresso Correio do Povo, do grupo Record, para observar os principais

56 protagonistas que dão voz às matérias do respectivo jornal na editoria do agronegócio. A verificação dos valores notícia e gêneros jornalísticos, usados nas páginas do jornal, na editoria rural, serão, ainda, matéria de estudo. Para tanto, a análise irá contemplar o jornal Correio do Povo a partir da edição do dia 29 6 de agosto de 2015, 027 de setembro e 078 de setembro do mesmo ano. O trabalho tem como problema indicar quais são as principais fontes jornalísticas que ilustram e contam a história do campo gaúcho nas páginas do jornal Correio do Povo, durante a Expointer 2015. Assim, a pesquisa pretende apontar: qual é a importância da cobertura do agronegócio para o respectivo impresso e como se dá essa cobertura. Nesse sentido, a pergunta norteadora é quais são as fontes que protagonizam as matérias do jornal Correio do Povo nas páginas da editoria rural, durante a Expointer 2015. A respectiva análise monográfica tem como proposta o uso do método científico de análise de conteúdo, de forma qualitativa. Neste contexto, Herscovitz (2010) ressalta algumas sugestões para a criação de tópicos jornalísticos para serem utilizados na composição da linha da pesquisa. O item 4, que se remete a critérios de noticiabilidade na imprensa, o tratamento e a seleção das fontes da informação – item 5 – são relevantes para o trabalho. Herscovitz (2010) destaca que, após definir as perguntas e hipóteses do projeto no âmbito da análise de conteúdo, é necessário observar como o pesquisador irá analisar o motivo da pesquisa. No âmbito da técnica de análise de dados, Herscovitz (2010) traz Weber (1990) para explicar que o autor: Recomenda a utilização de textos inteiros como unidades de registro no caso de manchetes, editoriais, notícias e reportagens curtas para a contagem de frequências de categorias de conteúdos manifestos. (HERSCOVITZ, 2010, p.135.).

Justamente,

esta

observação

da

autora

revela

características

fundamentais para esta análise, uma vez que serão analisadas matérias

6

Disponível em: http://correiodopovo.digitalpages.com.br/#/edition/50293?page=16§ion=1. Acesso em: 17 nov. .2016 7 Disponível em: http://correiodopovo.digitalpages.com.br/#/edition/50293?page=16§ion=1. Acesso em: 17 nov. .2016 8 Disponível em: http://correiodopovo.digitalpages.com.br/#/edition/50365?page=1§ion=1. Acesso em: 17 nov. .2016

57 noticiosas do jornal Correio do Povo, para identificar as fontes jornalísticas, formatos jornalísticos e espaço dado às matérias que aparecem na editoria relacionada ao tema agronegócio gaúcho. Com efeito, o respectivo trabalho se baseia, como citado, na técnica de análise de conteúdo. Segundo Herscovitz (2010), a análise de conteúdo jornalística pode ser traduzida por: Um método de pesquisa que recolhe e analisa textos, sons, símbolos e imagens impressas, gravadas em veiculadas em forma eletrônica ou digital encontrados na mídia a partir de uma amostra aleatória ou não dos objetos estudados com o objetivo de fazer interferência sobre seus conteúdos e formatos enquadrando-os em categorias previamente testadas, mutuamente exclusivas e passíveis de replicação. A identificação sistemática de tendências e representações obtém melhores resultados quando emprega ao mesmo tempo a análise quantitativa [...] e a análise qualitativa [...]. (HERSCOVITZ, 2010, p,127).

A análise irá contemplar o conteúdo contido nas matérias jornalísticas do jornal Correio do Povo, a fim de observar valor notícia presente nas matérias, além das fontes jornalísticas e gêneros das matérias. Por sua vez, a análise de conteúdo pode ser utilizada a partir de estudos exploratórios, descritivos ou explanatórios. Herscovitz (2010) afirma que “os pesquisadores que utilizam a análise de conteúdo são como detetives em busca de pistas que desvendam os significados aparentes ou implícitos dos signos e das narrativas jornalísticas” (2010, p.127). Sendo assim, é possível compreender o processo de concepção da produção das notícias publicadas no impresso analisado, a partir de uma pergunta (sentença interrogativa) ou hipótese (sentença afirmativa) que fará a conexão entre teoria e investigação (HERSCOVITZ, 2010, p.127). Nesta análise de conteúdo, o método explorado será o descritivo, pela característica do tema jornalismo do agronegócio que é analisado e que se configura como um assunto pouco explorado. Conforme explica Antonio Carlos Gil (2008): Algumas pesquisas descritivas vão além da simples identificação da existência de relações entre variáveis, pretendendo determinar a natureza dessa relação. Neste caso tem-se uma pesquisa descritiva que se aproxima da explicativa. Por outro lado, há pesquisas que, embora definidas como descritivas a partir de seus objetivos, acabam

58 servindo mais para proporcionar uma nova visão do problema, o que as aproxima das pesquisas exploratórias. (GIL, 2008, p.28).

O tema jornalismo do agronegócio e o exame das notícias relacionadas ao assunto no impresso diagnosticado exige uma visão ampla e conectada com a práxis e cabedal específico do pesquisador, pois, desta forma, a investigação poderá agregar novas tendências e ponderações acerca do objeto checado. Conforme aponta Gil (2008). [...] ao contrário do que ocorre nas pesquisas experimentais e levantamentos em que os procedimentos analíticos podem ser definidos previamente, não há fórmulas ou receitas predefinidas para orientar os pesquisadores. Assim, a análise dos dados na pesquisa qualitativa passa a depender muito da capacidade e do estilo do pesquisador. (GIL, 2008, p.175).

Nesta análise as técnicas de coleta de dados se remetem ao método de pesquisa bibliográfica e a documental. Os principais autores que serão trabalhados aqui, no aspecto bibliográfico, para compreender os conceitos de jornalismo, são Nilson Lage, Nelson Traquina e Bill Kovach e Tom Rosenstiel. A área documental ficará por conta de Rodrigo Daniel Feix e Sérgio Daniel. Também é importante ressaltar outros autores relevantes para este trabalho, como, por exemplo, Pedro Sousa, Jorge Medina e Fabiano Moreira Além do Instituto Brasileiro de Estatística e Geografia (IBGE), que vão dar conta de responder questões sobre agronegócio e o setor rural, e o próprio jornal Correio do Povo. Segundo Gil (2008) uma das principais vantagens do pesquisador em usar o método de pesquisa bibliográfica é “de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente” (GIL, 2008, p.50). Gil (2008) também afirma que a metodologia de pesquisa bibliográfica beneficia o pesquisador, que precisa coletar muitos dados dispersos pelo que ele chama de “espaço”. Sobre a técnica, o autor explica que: A pesquisa bibliográfica é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Parte dos estudos exploratórios podem ser definidos como pesquisas bibliográficas, assim como certo

59 número de pesquisas desenvolvidas a partir da técnica de análise de conteúdo (GIL, 2008, p.50).

Já a pesquisa documental, que segundo Gil (2008) assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica, tem como diferença primordial a questão que envolve as fontes. Segundo o autor: A única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa (GIL, 2008, p.51).

O projeto usará o jornal Correio do Povo como um dos elementos de análise, além de artigos e sites. Portanto, conforme aponta Gil (2008), “documentos oficiais, reportagens de jornal, cartas, contratos, diários, filmes, fotografias, gravações etc.” (p,51), são materiais que se enquadram no perfil de pesquisa documental. Esta monografia alicerçar-se-á sobre três categorias de análise: fontes do jornalismo rural, gêneros jornalísticos e valores notícia. No aspecto das fontes do jornalismo rural, serão observados as fontes que ilustram as matérias do respectivo jornal analisado, a partir da fundamentação teórica embasada no estudioso de comunicação Antonio Aldo Schmitz (2011), através do título Fontes de notícias: Ações e estratégias das fontes no jornalismo. O respectivo autor define as funções e principais características das fontes no jornalismo. Os formatos jornalísticos indicam, além do estilo de redação, quantas fontes e o espaço dedicado a cada matéria nas páginas do jornal. Para esta abordagem, Jorge Medina (2001), Pedro Sousa (2001) e Melo e Assis (2016) são os principais teóricos que auxiliam a compreender o tema, que irá analisar os tipos de matérias informativas que aparecem no impresso na editoria de Rural. Os critérios de noticiabilidade são os “óculos” do jornalista para definir o que é ou não notícia. É um dos temas mais estudados e tem forte impacto no jornal impresso. O respectivo trabalho observará obras de Nilson Lage (2001), Pedro Sousa (2001), Fabiane Moreira (2006) , Nelson Traquina (2008) e, ainda, memórias de Johan Galtung e Mari Holmboe Ruge (1965), para indicar os mais

60 recorrentes critérios de noticiabilidade presentes nas matérias que abordam o agronegócio. No próximo capitulo, será dado sequencia neste trabalho com a análise do objeto a partir das categorias e opções metodológicas mencionadas neste capítulo.

61 8 AS FONTES DO JORNALISMO RURAL Para analisar as fontes do jornalismo rural no jornal Correio do Povo foram selecionadas matérias informativas referentes à 38º Expointer, realizada em 2015, nas páginas da editoria rural do respectivo impresso analisado. A primeira edição observada é de sábado 29 de agosto de 2015. O impresso foi publicado com 24 páginas. Além disso, também foi objeto de estudo a edição do dia 02 de setembro, que foi lançada com 28 páginas. Já a edição de encerramento da feira, de 7 de setembro do mesmo ano, contou com 20 páginas. Em 2015, o Correio do Povo completou 120 anos. Do montante de páginas analisadas da publicação do dia 29 de agosto, três páginas (12;13;14) abordaram a temática rural no jornal, com destaque para a inauguração da Expointer e publicidade de patrocinadores do veículo. A capa do jornal traz meia página de foto e título sobre a matéria principal da editoria naquele dia, chamada “Começa a Grande Feira do Agronegócio”. Figura 2 – Capa do jornal Correio do Povo do dia 29 de agosto de 2015

Fonte: CORREIO DO POVO, 2015

62 O quadro abaixo ilustra os textos jornalísticos e suas principais características, com foco na observação das fontes que aparecem nas matérias. Neste capítulo, serão observadas, também, fontes com citação indireta ou fontes mencionadas no texto, como, por exemplo, instituições financeiras ou sites de pesquisa. Quadro 3 – Fontes presentes na edição do dia 29 de agosto Fontes do jornalismo presentes na edição do dia 29 de agosto de 2015 Conteúdo

Página

38º Expointer: cotações

12

Mangalarga da início às provas hoje

12

Começa a grande feira do agronegócio

12

Proteção ao público reforçada

12

Remate Vendramim fatura R$ 2,5 milhões

14

Primeiras vendas antecedem o evento

14 14

Fonte Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (Emater) Diretor Financeiro do Núcleo Riograndense de criadores de raça mangalarga, Laércio Leumann. Secretário da agricultura, Ernani Polo. Sargento do Batalhão do Corpo de Bombeiros, Álvaro do Nascimento.

Oficial, primária.

Empresarial, primária.

Oficial, secundária.

Oficial, primária.

Sem entrevista. Presidente da Saci Agroindústria, Fabiano Jeziorsk. Presidente da Fetag, Carlos Joel.

Programação do dia

14.

Sem entrevista.

Outros destaques

14

Sem entrevista.

14

Presidente da associação de criadores de gado holandês, Marcos Tang.

Expoleite será lançada hoje

Tipo de fonte

Empresarial, primária. Institucional, secundária.

Empresarial, primária.

Autor: SOARES, Luiz Kersck, 2016.

Através da análise da edição impressa do jornal Correio do Povo no dia de abertura da 38º Expointer, é possível constatar que a maioria das fontes faz parte do grupo oficial e empresarial. Por natureza característica destas fontes, conforme Schmitz (2011), as fontes empresariais e oficiais tendem a ser

63 especializadas em determinados assuntos. Além disso, é possível observar que boa parte das fontes é primária, ou seja, é parte fundamental da matéria e contribuiu decisivamente para a construção do texto. Assim, nota-se a ausência de fontes do povo. “Uma fonte popular aparece notadamente como vítima, cidadão, reivindicador ou testemunha” (SCHMITZ, 2001, p.26). Neste caso, as fontes do povo se caracterizariam pelos visitantes da feira, que não apareceram, como citado, em nenhuma das matérias analisadas até aqui. Ou seja, não aparecem pessoas do local, que pudessem testemunhar suas experiências ou, ainda, compartilhar informação para gerar identificação com o público urbano. No gráfico abaixo, é possível observar a quantidade percentual dos tipos de fontes utilizadas. Gráfico 1 – Percentual de fontes presentes nos conteúdos jornalísticos da editoria rural do Correio do Povo

Vozes do jornalismo rural

Institucional 14% Oficial 43% Empresarial 43%

Autor: SOARES, Luiz Kersck. 2016.

O que também chama a atenção é o número reduzido de matérias frente à editoria Rural: duas páginas foram reservadas em sua totalidade para divulgar marcas de empresas patrocinadoras, totalizando nove conteúdos informativos. Meira (2016) alerta para o enxugamento da redação do Correio do Povo. E também enfatiza que o objetivo do jornal é comunicar quase exclusivamente para o público do campo. Com esta perspectiva e observando

64 os dados apurados, nesta primeira edição nota-se um conteúdo especializado tratado com fontes especializadas empresariais, oficiais e institucionais. As fontes contribuíram com dados de suas respectivas instituições. Deste modo, não houve uma preocupação em pautar o público presente. O trabalho também optou por analisar a edição do dia 02 de setembro de 2015, por caracterizar a edição do quinto dia de cobertura da feira Expointer. A respectiva edição observada possui 28 páginas, das quais seis são dedicadas ao tema agronegócio. Uma página e meia foi utilizada para patrocinadores e as demais totalizaram 30 conteúdos informativos. Figura 3 – Capa do jornal Correio do Povo do dia 02 de setembro de 2015

Fonte: CORREIO DO POVO, 2016

Chama a atenção nesta edição que não há chamada na capa para os conteúdos da editoria rural. Na tabela abaixo, é possível verificar os conteúdos jornalísticos e as vozes presentes nas matérias. Quadro 4 - Fontes presentes na edição do dia 02 de setembro Vozes do jornalismo presentes na edição do dia 02 de setembro de 2015

65 Conteúdo

Página

Cotações

11

Mais de 196 mil pessoas Programa trata do uso e manejo do solo

Dia de observar as máquinas

Sindimate vai construir sede Jaguaretê repete conquista Americano julga Charolês

Vitória obtida sob orientação nutricional

Uruguaiana leva título no Braford

Abag aposta em queda de juros

Do cerro alcança 1º grande campeonato Dobradinha no Polled Hereford São Paulino campeão da lle de France Santo Ângelo vence prêmio de raça ideal

Fonte Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (Emater)

Tipo de fonte Oficial, primária.

11

Sem entrevista,

11

Secretário da agricultura, Ernani Polo.

Oficial, primária.

Representante de empresa do ramo de eucaliptos e pinus, Alcimar Hoepers,

Empresarial, secundária.

Gerente de vendas de máquinas agrícolas da Plantare, Fabrício Luís Muller.

Empresarial, secundária.

11

Presidente do Sindicato da Indústria do Mate no Estado do Rio Grande do Sul, Gilberto Heck.

Institucional, primária.

12

Cabanheiro, Rafael Borghesi.

12

Juiz de julgamento, Rafael William

11

Especializada, primária. Especializada, secundária.

Proprietário da Cabanha Agropecuária Paraiso, Rafael Facco.

Especializada, primária.

Esposa de Rafael Facco.

Especializada, secundária.

Proprietário da Estância Anjo da Guarda, Frederico Ormazabal Sastre

Especializada, primária.

Diretor da Associação Brasileira do Agronegócio, Eduardo Daher

Institucional, primária.

Diretor da Associação Brasileira do Agronegócio, Luiz Cornacchioni

Institucional, primária.

12

12

12

12

Produtor Jair de Lima

12

Criador e expositor, Jorge Martins Bastos.

Especializada, primária. Especializada, primária.

12

Proprietário Cabanha São Paulino, Luiz Alfredo Horn.

Especializada, primária.

12

Proprietário Cabanha Escondida, José de Inácio de Andrade.

Especializada, primária.

66

Expositor, José Luiz Pons.

Lançamento do Rural Show

14

Sem entrevista

Santa Gertrudis

14

Sem entrevista

Especializada, primária.

Produtor, Miguel Sobucki.

Especializada, primária.

Subsecretário do parque de exposições, Sérgio Foscarini

Empresarial, secundária.

Falta de sinal prejudica negócios no parque

14

Julgamento leilões e provas

14

Sem entrevista.

Égua de Santa Rosa vence no Crioulo

14

Sem entrevista.

Programação

14

Sem entrevista.

Vitória por milésimos nas seis balizas

14

Presidente da Associação Gaúcha de Cavalo Árabe, Leonardo Lamachio.

Institucional, secundária.

Alerta para a atualização da pecuária

14

Engenheiro agrônomo, Maurício Nogueira.

Especializada, primária.

Manual orienta boas práticas

15

Sem entrevista

Ex-ministros debatem crise

15

Sem entrevista.

Pedidas penas mais duras para o abigeato

15

Deputado, Afonso Hamm

Oficial, primária.

Presidente da Associação e Sindicato Rural de Bagé, Rodrigo Borba.

Institucional, secundária.

67

Presidente do Sindicato Rural de São Luis Gonzaga, Maurício Caíno.

Institucional, secundária.

Chefe da Divisão de Defesa Agropecuária da Superintendência Federal da Agricultura, Ana Lucia Stepam.

Oficial, secundária.

Jurado argentino, Carlos Rullán.

Especializada, secundária. Especializada. Primária.

Angus: título é de milonga

15

Maufer comprova crescimento

15

Presidente da Associação Brasileira de Cavalos Crioulos, Luiz Laitano.

Institucional, primária.

Leilão fatura mais de R$ 23 mil

15

Presidente da Associação Brasileira de Criadores de Corriedale, Elisabeth Lemos.

Institucional, secundária.

Lote de embriões por R$ 13 mil

15

Diretor de eventos da Associação Brasileira de Hereford e Braford, Celso Jaloto

Institucional, primária.

Produtor, Roberto Machado.

1º vice-presidente da Farsul, Gedeão Pereira Diretor executivo da Associação Debates Correio do Brasileira de Hereford e Braford, Povo: Sanidade 16 Fernando Lopa animal além da Vice-presidente do Conselho aftosa Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul, José Arthur de Abreu Autor: SOARES, Luiz Henrique Kersck, 2016. quadro 2

Oficial, primária. Institucional, primária.

Oficial, primária.

É notório observar que a edição do dia 02 de setembro possui um número maior de conteúdos informativos sobre o agronegócio do que as outras edições analisadas. São 30 conteúdos ao todo, dos quais foram constadas seis falas oficiais, quatro empresariais, 14 especializadas e dez institucionais. O número de fontes especializadas chama a atenção. Conforme Júnior (2016) um diferencial do Correio do Povo são os julgamentos de raças. E estas estão presentes nas páginas observadas. Assim, foram entrevistados produtores e profissionais especializados relacionados ao campo. Não foram constadas, novamente, fontes do povo. No gráfico abaixo é possível observar de forma sucinta a divisão e escolhas das fontes nas páginas do rural do respectivo impresso analisado.

68 Gráfico 2 – Percentual de fontes presentes nos conteúdos jornalísticos da editoria rural do Correio do Povo

Vozes do jornalismo rural Oficial 18% institucional 29% Empresarial 12%

Especializada 41%

Autor: SOARES, Luiz Kersck, 2016.

Observando os números do gráfico, fica visível a intenção de atender ao público do campo, além de dar visibilidade aos produtores do evento. A linguagem utilizada nos títulos das matérias, embora não seja objeto específico de análise deste trabalho, demonstra conteúdos técnicos de origem do campo, que não são facilmente compreendidos pelos leitores da cidade. Neste contexto, as fontes escolhidas para protagonizar as matérias são em sua maioria primárias e especializadas, o que reitera um direcionamento do conteúdo para uma audiência de nicho voltada para o campo. Na imagem abaixo, por exemplo, é possível observar os destaques dados a fontes oficiais e institucionais que ocuparam duas colunas da página 16.

69 Figura 4 – matéria de destaque do Correio do Povo no dia 02 de setembro.

Fonte: CORREIO DO POVO, 2016.

Já a edição lançada no dia 7 de setembro de 2015 contou com 20 páginas, das quais duas foram dedicadas à editoria rural (7;8) Nas duas páginas foi constatado um número de doze matérias que tratam do tema rural, excluindo-se nesta observação a capa, que mencionou a feira com uma foto de duas colunas e uma chamada “Começa a Festa da Tradição”, referindo-se ao Parque Maurício Sirotsky, em Porto Alegre.

70 Figura 5 – Capa do jornal Correio do Povo do dia 07 de setembro de 2015.

Fonte: CORREIO DO POVO, 2016.

O quadro abaixo sintetiza os conteúdos jornalísticos e as fontes presentes nas matérias. Quadro 5 – Fontes presentes na edição do dia 07 de setembro.

Vozes do jornalismo presentes na edição do dia 07 de setembro de 2015

Conteúdo

Página

Fonte

Tipo de fonte

71

Cotação

07

Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (Emater)

Banrisul e Oliveiras

07

Fonte não identificada

07

Governador do Estado. José Ivo Sartori.

Oficial, primária

07

Secretario da Agricultura, Ernani Polo.

Oficial, Primária

07

Secretário da agricultura, Ernani Polo.

Oficial, Primária

7

Presidente do sistema Farsul, Carlos Sperotto

Oficial, Primária

7

Presidente da Comissão de Feiras e Exposições da Farsul, Francisco Schardong

Oficial, Primária

7

Sem entrevista.

8

Presidente do grupo Record/RS, Reinaldo Cilli.

Empresarial, secundária

8

Governador do Estado, José Ivo Sartori.

Oficial, secundária

8

Presidente do sistema Farsul, Carlos Sperotto

Oficial, secundária

Oficial, primária

Clima de satisfação no final da Expointer

Público superior ao de 2014

Farsul destaca parcerias para a feira

Campeões da Paleteada

Produtores homenageados pelo CP

72

8

Secretário do desenvolvimento rural, Tarcísio Minetto.

Oficial, secundária

8

Ex-diretor do grupo Caldas Júnior, Carlos Ribeiro.

Empresarial, secundária

8

Secretário da agricultura, Ernani Polo.

Oficial, secundária.

8

Secretário do Cooperativismo do Ministério da Agricultura, Caio Rocha.

Oficial, secundária

8

Diretor Executivo do Correio do Povo, Cleber Nascimento Dias.

Empresarial, secundária

Agricultor, Leonardo Rosa

Especializada, primária

8

Coordenador de vendas da Massey Ferguson, Guilherme Leite.

Especializada, primária

Empresa apresenta banco ecológico

8

Empresário, Ildo Lange.

Empresarial, primária

Mauri Fonseca é bicampeão

8

Cavaleiro Mauri Fonseca.

Especializada, primária

Campeões do La Rienda

8

Sem entrevista.

Gurizada boa de lida

8

Sem entrevista

Domingo foi dia de investimento

Autor: SOARES, Luiz Kersck, 2016. quadro 3

73 Nesta análise, foi possível constatar uma predominância massiva de fontes oficiais e empresariais. Ao todo, 12 fontes oficiais, 4 fontes empresariais e 3 especializadas dão vozes aos conteúdos. A opção por fontes especializadas direciona o conteúdo para um público que entende da linguagem do campo e que, principalmente, mantém seu interesse sob pautas que traduzam diretamente a sua realidade. O homem da cidade pode não ter interesse por pautas como “Banrisul e Oliveiras”, “Produtores homenageados pelo CP”, por exemplo. Gráfico 3 – Percentual de fontes presentes nos conteúdos jornalísticos da editoria rural do Correio do Povo.

Vozes do jornalismo rural

Especializada 16% Empresarial 21%

Oficial 63%

Autor: SOARES, Luiz Kersck, 2016.

Nesta edição também é possível constatar uma predominância de fontes especializadas, com foco no tipo empresarial e, sobretudo, oficial. Os dados indicam que o jornal deu preferência para fontes oficiais e empresariais, com uma busca por fontes especializadas e autoridades públicas. Com essa perspectiva, as fontes do jornalismo rural identificadas até aqui têm um perfil especializado e discurso institucional, o que não dialoga, necessariamente, com o público da cidade. Assim, as vozes que não aparecem – do povo – indicam que o jornal não procurou enquadrar os conteúdos para agregar valor de interesse público para o homem da cidade. Conforme Danton (2016), existe a diferença entre o homem do campo e da cidade. Segundo o editor-assistente da editoria rural do Correio do Povo, o homem da cidade não parece se

74 interessar por conteúdos que não digam respeito a sua realidade diária. Assim, as matérias não brindam a audiência das grandes cidades com pautas de interesse relevante que possam trazer novidades que chamem a atenção do público que não vive da agricultura. Segundo Meira (2016) é importante que haja uma renovação no tipo de cobertura. Assim, abordar autoridades estatais e líderes de sindicatos e grandes produtores não traz à tona o objetivo de aproximar o público urbano dos assuntos do campo. Bem pelo contrário, tende a afastá-lo, a partir de notícias que privilegiam o referencial técnico, onde as fontes especializadas são primárias ou secundárias e exercem função decisiva na construção do texto.

8.1.1 Discussão da análise Diferentemente da edição do dia 29 de agosto, a edição do dia 07 de setembro traz um maior número de fontes oficiais, de 63%. Enquanto a edição do dia 29 de agosto aponta 43%. Em contrapartida, o número de fontes empresariais diminuiu na edição do dia 07 de setembro: de 43% para 21%. A edição que traz mais matérias e, consequentemente, fontes jornalísticas, mostrou-se ser a publicação do dia 02 de setembro. Analisando uma edição do início da feira, do meio e do final, observa-se que as fontes do jornalismo não mudaram em sua essência. Conforme já havia dito Patrícia Meira (2016), a busca do jornalismo na cobertura foi por fontes especializadas, que conhecem o assunto do campo e, portanto, usam uma linguagem específica. Meira (2016) critica a cobertura realizada na feira, por entender que as matérias não são relevantes para impactar o interesse público. E, observando os títulos e as fontes presentes nas matérias, nota-se uma busca por oferecer vitrine para autoridades públicas e produtores rurais. Conforme defendeu Danton (2016) foi constatado, sim, uma busca por trata das questões da agricultura familiar, uma vez que algumas fontes eram produtores e criadores deste ramo. No entanto, o objetivo de aproximar o homem da cidade com o do campo não foi identificado nas três edições analisadas. Relembramos que decisão do jornalista em ceder mais ou menos espaço para determinadas fontes, também, é um fator que precisa ser

75 observado pela sua importância na construção do sentido do conteúdo de jornalismo. Assim: As fontes, por interesse próprio, tratam de informar a sociedade sobre as suas ações ou impedir que se espalhe uma versão inconveniente. O jornalista, no papel de selecionador, considera se o fato é notícia ou não, ou seja, se interessa ou não ao seu público e veem as fontes como colaboradoras da produção jornalística. (SCHMITZ, 2011, p.14).

Com esta perspectiva, podemos entender que as fontes do jornalismo presentes na análise das edições do dia 29 de agosto, 02 de setembro e 07 de setembro de 2015, no jornal Correio do Povo, são fontes especializadas no assunto rural. Não foram constatadas fontes populares, o que, de acordo com a análise, pode não beneficiar a comunicação com a população da cidade – presumidamente, menos íntima dos assuntos do campo. A ideia clara é fornecer conteúdo para um nicho entendedor dos assuntos agrícolas. No entanto, é coerente observar que o jornal cumpre com os requisitos para a cobertura do agronegócio, uma vez que compreende os conceitos do campo e abre espaço a estes assuntos. Lembramos Nascimento (2009, p.04), que afirma: “o Jornalismo Rural é um caso particular do Jornalismo Científico, especialmente quando se reporta à divulgação da pesquisa agropecuária”. Já Juliana Baptista Nunes (2011) pondera que a cobertura contemporânea de agronegócio incorpora uma gama de assuntos. Neste aspecto, as notícias, embora não apresentassem fontes populares, conseguiram trazer uma sorte de assuntos do campo. O que caracteriza uma cobertura antes da porteira, de produção agropecuária e depois da porteira, conforme sintetizam alguns autores referenciados. “O jornalismo em agribusiness é uma formatação moderna do jornalismo rural, que não se limita apenas a divulgar a pesquisa e a produção do campo, mas também os processos que ocorrem antes e após esta produção” (NUNES, 2011, p.6). Para complementar o trabalho de análise, no próximo capítulo será tratado dos gêneros jornalísticos presentes nas páginas do jornal analisado durante o período observado até aqui.

76 8.2 GÊNEROS JORNALÍSTICOS Para analisar parte importante da cobertura do agronegócio no jornal Correio do Povo, este subcapítulo dará conta de observar os principais formatos jornalísticos que aparecem nas páginas do respectivo impresso. Conforme referencial teórico, referenciado no capítulo 2.4, a pesquisa se restringirá a contemplar o gênero informativo, dentro dos quais se destacam os formatos: notícia, reportagem, nota e entrevista. Além disso, também será pontuado o espaço estimado dado para cada matéria, a fim de, na discussão final do capítulo, observar quais assuntos obtiveram mais destaque. Sousa (2001) e Medina (2001), além de Mello e Assis (2011) nos brindaram com seus saberes para referenciar este capítulo sobre formatos jornalísticos. As edições observadas foram de 29 de agosto de 2015, 02 de setembro e 07 de setembro de 2015, na cobertura realizada pelo Correio do Povo na Expointer daquele ano. Para uma melhor organização e síntese dos dados, o quadro abaixo indica as matérias, o formato e o tamanho estimado dedicado ao conteúdo jornalístico. Para esta análise, serão levados em conta conteúdos informativos que tenham a presença de fontes jornalísticas com citação direta, ou seja, com entrevista através de citação direta. Conteúdos sem fontes, já mencionados no capítulo predecessor, não irão aparecer nesta parte da pesquisa de análise, uma vez que o principal intento é correlacionar esta temática com as fontes do jornalismo rural. Assim, o formato nota não será contemplado. O foco da análise será o de notícia, reportagem e, se houver, entrevista. Além disso, também não serão observados conteúdos jornalísticos com fontes de sites ou arquivo, como, por exemplo, Emater. Embora Medina (2001) afirme que notícia não possuiu entrevista, o projeto levará em conta, conforme fundamentação, a linha de pesquisa de Sousa (2001), que entende a notícia como um relato inferior a dois mil caracteres e que traga atualidade. Abaixo, um exemplo de notícia com pouco mais de 1550 caracteres, com espaços, incluindo legenda da foto, extraído da edição do dia 29 de agosto de 2015.

77 Figura 5 – Matéria com pouco mais de 1500 caracteres.

Fonte: CORREIO DO POVO, 2016

Conforme Gil (2008), a designação do espaço será observada a partir da sensibilidade do pesquisador. A pesquisa qualitativa sugere esta avaliação, assim, o tamanho de colunas e a distribuição de fotos serão os principais referenciais para esta definição. O objetivo é mensurar, quantitativamente, parte do espaço dedicado aos textos em que aparecem as fontes do jornalismo rural. [...] Ao contrário do que ocorre nas pesquisas experimentais e levantamentos em que os procedimentos analíticos podem ser definidos previamente, não há fórmulas ou receitas predefinidas para orientar os pesquisadores. Assim, a análise dos dados na pesquisa quantitativa passa a depender muito da capacidade e do estilo do pesquisador. (GIL, 2008, p,175). Quadro 6 –Formatos jornalísticos presentes na edição do dia 29 de agosto. Formatos jornalísticos presentes na edição do dia 29 de agosto de 2015 Conteúdo Página Formato Tamanho estimado Três colunas com pouco menos da Começa a grande 12 Notícia metade da página. feira do agronegócio Destas, duas colunas dividem mais da

78

Mangalarga dá início às provas hoje

12

Notícia

Proteção ao público reforçada

12

Notícia

Primeiras vendas antecedem o evento

14

Notícia

Expoleite será lançada hoje

14

Notícia

metade de seu espaço com uma fotografia. Ocupa duas colunas. Porém possui um tamanho reduzido. Se não houvesse fonte, poderia ser considerada uma nota. Duas colunas de texto: com uma foto no topo, que igualmente ocupa duas colunas. Três colunas de texto que ocupam menos da metade da página. Com uma foto que ocupa mais da metade das duas colunas. Duas colunas de texto. As colunas ocupam menos de ¼ da página.

Autor: SOARES, Luiz Kersck, 2016. quadro 4

Foram observadas cinco notícias. Os conteúdos possuem pouco espaço nas páginas do jornal, também em função do espaço físico reduzido, à medida que havia publicidade cercando o conteúdo. Foram constatadas seis imagens de patrocinadores publicitários – em diversos formatos e em tamanhos, por vezes, maiores que as matérias – , são eles: Banco do Brasil, Sindicalc, Massey Ferguson, patrocinadores da Expointer, Senar RS e DB. A notícia de destaque da edição foi “Começa a grande feira do agronegócio”, que traz uma fonte oficial, conforme observado no capítulo anterior. As matérias são curtas e, com exceção da “Expoleite será lançada hoje”, todas tem ao menos uma foto. Seguindo a análise, agora será contemplada a edição do dia 02 de setembro de 2015. Quadro 7 – Formatos jornalísticos presentes na edição do dia 02 de setembro. Formatos jornalísticos presentes na edição do dia 02 de setembro de 2015 Conteúdo Página Formato Tamanho estimado Programa trata Três colunas e uma foto, que ocupa do uso e 11 Notícia metade de duas colunas da matéria. manejo do solo Dia de Duas colunas de texto pequenas observar as 11 Reportagem em relação aos demais materiais máquinas dispostos na página.

79 Duas colunas de texto pequenas. Tamanho semelhante a matéria “Dia de observar as máquinas”. O texto ocupa pequeno espaço no topo da página. Se não houvesse fonte, poderia ser considerada uma nota. Ao lado do texto, uma foto. O texto ocupa pequeno espaço no topo da página. Três colunas de texto. Com uma foto que ocupa duas colunas deste conteúdo.

Sindimate vai construir sede

11

Notícia

Jaguaretê repete conquista

12

Notícia

12

Notícia

12

Notícia

12

Notícia

Duas colunas mescladas de texto e uma foto no topo da notícia.

12

Notícia

Uma coluna de texto, considerada reduzida em relação aos outros materiais.

12

Notícia

Duas colunas de texto, com foto configurada “ao quadrado” da 2º coluna.

12

Notícia

Formato semelhante à matéria anterior mencionada: duas colunas de texto, com foto configurada “ao quadrado” da 2º coluna.

12

Notícia

Formato semelhante às duas últimas matérias mencionadas.

12

Notícia

Formato semelhante as três ultimas matérias citadas.

14

Reportagem

Três colunas

14

Notícia

Uma coluna de texto, que cerca duas matérias.

15

Notícia

15

Notícia

15

Notícia

15

Notícia

15

Notícia

16

Reportagem

Americano julga Charolês Vitória obtida sob orientação nutricional Uruguaiana leva título no Braford Abag aposta em queda dos juros Do cerro alcança 1º grande campeonato Dobradinha no Polled Hereford São Paulino Campeã da lle France Santa Ângela vence prêmio da raça ideal Falta de sinal prejudica negócios do parque Alerta para atualização da pecuária Pedidas penas mais duras para o abigeato Angus: título é de Milonga Maufer comprova crescimento Leilão fatura mais de R$ 23 mil Lotes de embriões a R$ 13 mil Debates Correio do Povo: sanidade animal além da aftosa

Autor: SOARES, Luiz Kersck, 2016.

quadro 5

Três colunas de texto, com um box que ocupa um espaço dentro das duas primeiras colunas. Duas colunas de texto. No topo da notícia uma foto. Foto e um pequeno texto distribuído em uma coluna, com uma foto no topo. Formato semelhante a da matéria anterior, com exceção que a foto fica no final da matéria. Foto e um pequeno texto distribuído em uma coluna, com uma foto no topo. Foto do tamanho de meia página. Abaixo, três colunas de texto que descem até o final da página. Além de duas colunas no quanto direito da página, com fotos e falas destaques dos entrevistados.

80

Figura 6 – Pág.15 do dia 02 de setembro de 2015 apresenta a matéria principal da edição “sanidade animal além da aftosa”.

Fonte: CORREIO DO POVO, 2016.

Foi possível constatar que os recursos utilizados na diagramação e divisão dos espaços das notícias foram os mesmos para a maioria dos conteúdos. O que, novamente, reitera um dos pontos focos do jornal, segundo Danton (2016) que é o de cobrir os julgamentos. Na página 12 foram identificadas oito matérias relacionadas a julgamentos, de nove existentes. Os títulos trazem, sobretudo, termos técnicos, e o espaço e o formato são repetidos: textos enxutos e uma pequena entrevista com o produtor ou proprietário do animal. Foi constada uma reportagem “Dia de observar as máquinas”, na página 11, que, embora seja pequena, foi um conteúdo que não

81 trouxe os critérios clássicos para definir uma notícia. Foi um micro esforço para situar o leitor no ambiente da feira, é um híbrido entre notícia e reportagem. Na análise a relevância do tema e a factualidade são decisivos para definir o que é notícia e reportagem, em função das matérias trazerem conteúdos altamente especializados que não fazem parte do grande interesse público. A distribuição das matérias também ilustra a prioridade do jornal. Na figura 4 é evidente a procura por dar voz às fontes especializadas, uma vez que, até mesmo, foi criado um box de texto para dar evidência aos depoimentos das autoridades. Podemos destacar alguns títulos da edição analisada, como, por esemplo: “Angus: título é de Milonga”; “Maufer comprova crescimento” e “Pedidas penas mais duras para o abigeato”. Os títulos são técnicos e as matérias não se aprofundam nos termos. Um leitor da capital dificilmente vai se interessar por um tema que no título já não lhe esteja claro o conteúdo da matéria. Este é um dos princípios do jornalismo. Apenas uma reportagem na página 15, que traz espaço e destaque, como já citado, para autoridades do setor rural. As demais matérias encontradas na edição correspondem a notícias curtas. As fotos ficaram mais presentes nas notícias sobre julgamentos. Para seguir em direção à discussão dos dados, segue abaixo uma figura que demonstra a quantidade de publicidade envolta nas páginas da editoria do dia 02 de setembro. E na sequência o início da análise da edição do dia 07 de setembro.

82 Figura 7 – Pág.11 do dia 02 de setembro de 2015, com quase metade do espaço ocupado por uma publicidade.

Fonte: CORREIO DO POVO, 2016.

Quadro 8 - Formatos jornalísticos presentes na edição do dia 07 de setembro. Formatos jornalísticos presentes na edição do dia 07 de setembro Conteúdo Página Formato Tamanho estimado Três colunas de texto Clima de satisfação e uma foto, que 7 Notícia no final da Expointer divide espaço com duas colunas. Duas colunas de Público superior ao 7 Notícia texto e foto no topo de 2014 da notícia. Três colunas de texto Farsul destaca e uma foto, que parcerias para a 7 Notícia compreende espaço feira de duas destas colunas. Foto relativamente Produtores grande que ocupou 5 homenageados pelo 8 Reportagem colunas, embasada CP por um uma coluna de texto no canto

83

quadro 6

Domingo foi dia de investimento

8

Notícia

Empresa apresenta banco ecológico

8

Notícia

Mauri Fonseca é bicampeão

8

Notícia

esquerdo da página. Duas colunas de texto e uma foto que ocupa parte do espaço da primeira coluna. Duas colunas de texto e uma foto ocupando metade da segunda coluna. Duas colunas de texto e uma foto em quase toda a primeira coluna.

Autor: SOARES, Luiz Kersck., 2016.

Na observação da edição do dia 29 de agosto nota-se que o espaço dedicado às noticias foi maior. A diagramação foi semelhante a das outras duas edições observadas. A principal notícia foi “produtores homenageados pelo CP”. Esta matéria dá ênfase em seu espaço para uma foto com os convidados do jornal – autoridades especializadas no assunto rural. Os julgamentos também compreenderam algum espaço nesta edição. Os títulos novamente são especializados e remetem a conhecimentos específicos do campo. Na discussão da análise, é possível relacionar os dados das três edições e estabelecer ainda mais clareza a observação.

8.2.1 Discussão da análise Os espaços dedicados aos conteúdos nas três edições apresentam apenas noticias. Destas, todas trazem à tona fontes especializadas do jornalismo rural. A predominância de notícias ficou por conta dos julgamentos. A disposição das notícias, em relação ao espaço físico do jornal, foi parecida nas três edições observadas, sem grandes variações, sendo que as matérias de destaque são debates com especialistas. Um ponto positivo da cobertura é o número de fotos em quase todas as matérias, seja para ilustrar as raças ou os personagens que dão voz ao conteúdo. Mas o espaço dedicado foi especializado e indica que matérias que tratam de falar sobre autoridades oficiais e institucionais tiveram mais espaço que os produtores. As fontes populares ficaram totalmente de fora das três edições. Não foi constatado espaço nas matérias para visitantes da feira ou figuras alheias ao cenário do agronegócio no dia-a-dia. A edição do dia 02 de setembro é a que

84 mais traz julgamentos, enquanto a do dia 29 de agosto e 07 de setembro trazem mais notícias com fontes institucionais. A figura 4 é emblemática e demonstra a importância e o espaço dado pelo jornal a visibilidade de fontes oficiais e institucionais. A agricultura familiar também foi pouco contemplada se observado o espaço dado às notícias. Até aqui, observa-se que o jornal não mediu esforços para atender a classe do campo e dar voz a personalidades da política e das empresas gaúchas ligadas ao campo. Para finalizar a análise, o subcapítulo 6.1 dará conta de observar os principais valores-notícia presentes nas notícias e reportagens destacadas, a fim de compreender a seleção das fontes e o critério para a escolha dos temas segundo os valores notícia dos conteúdos jornalísticos apresentados no jornal.

8.3 PRINCIPAIS VALORES-NOTÍCIA Este trecho do capítulo tem o objetivo de averiguar os valores-notícia presentes nas edições do dia 29 de agosto, 02 de setembro de 07 de setembro do Correio do Povo, do ano de 2015. Para observar os valores-notícias, iremos usar a proposta de Érica Franzon (2004), a partir da avaliação e sensibilidade do pesquisador, conforme salienta Gil (2008). Assim, cada notícia poderá apresentar mais um valor-notícia ou apenas um, conforme indicação do quadro 1, referenciada no capítulo 2.1. Serão examinados, ainda, conteúdos jornalísticos que possuam entrevista com citação direta das fontes, a fim de complementar a análise no sentido de observar as fontes do jornalismo rural. A primeira edição analisada será a do dia 29 de agosto demonstrou cinco notícias com o uso de fontes do jornalismo. O quadro abaixo indica os principais critérios de noticiabilidade verificados Quadro 9 – Análise dos valores-notícia da edição do dia 29 de agosto Análise dos valores-notícia presentes na editoria Rural do Correio do Povo do dia 29 de agosto de 2015 Conteúdo Página Valor-notícia Mangalarga dá início às provas hoje Começa a grande feira do agronegócio Proteção ao público reforçada

12 12 12

Proximidade, cultura, raridade. Proximidade, cultura, raridade, impacto, governo. Proximidade, impacto.

85 Primeiras vendas antecedem o evento Expoleite será lançada hoje Autor: SOARES. Luiz Kersck, 2016.

14 14

Proximidade, cultura. Proeminência. Proximidade, cultura, proeminência, impacto.

quadro 7

Para seguir na análise, observaremos agora a edição do dia 02 de setembro do mesmo ano, no quadro abaixo. Quadro 10 – análise dos valores-notícia da edição do dia 02 de setembro. Análise dos valores-notícia presentes na editoria Rural do Correio do Povo do dia 02 de setembro de 2015 Conteúdo Página Valor-notícia Programa trada do uso e 11 Governo, impacto, manejo do solo proximidade, conhecimento. Dia de observar as 11 Proximidade, impacto. máquinas Sindimate vai construir sede 11 Proximidade, cultura, proeminência. Jaguaretê repete conquista 12 Proximidade, cultura, proeminência. Americano julga Charolês 12 Proximidade, cultura, proeminência. Vitória obtida sob orientação 12 Proximidade, cultura, nutricional proeminência. Uruguaiana leva título no 12 Proximidade, cultura, Braford proeminência. Abag aposta na queda dos 12 Proximidade, proeminência, juros impacto. Do cerro alcança 1º grande 12 Proximidade, proeminência, campeonato cultura. Dobradinha no Polled 12 Proximidade, proeminência, Hereford cultura. São Paulino campeã da lle 12 Proximidade, proeminência, France cultura. Santo Ângela vence prêmio 12 Proximidade, proeminência, de raça ideal cultura. Falta de sinal prejudica 12 Proximidade, impacto, negócios do parque polêmica. Alerta para atualização da 14 Proximidade, impacto, pecuária conhecimento, raridade. Pedidas penas mais duras 15 Proximidade, impacto, para o abigeato polêmica, justiça, governo. Angus: título é de Milonga 15 Proximidade, cultura, proeminência. Maufer comprova 15 Proximidade, cultura, crescimento proeminência. Leilão fatura mais de R$ 23 15 Proximidade, cultura, mil proeminência. Lotes de embriões a R$ 13 15 Proximidade, cultura, mil proeminência. Debates Correio do Povo: 16 Proximidade, cultura, sanidade animal além da proeminência, governo, aftosa impacto. Autor: SOARES. Luiz Kersck, 2016.quadro 8

86

Para seguirmos em direção à discussão da análise, o quadro abaixo assinala a relação de valores-notícia conferidos à edição do dia 07 de setembro. Quadro 11 – análise dos valores-notícia da edição do dia 07 de setembro. Análise dos valores-notícia presentes na editoria Rural do Correio do Povo do dia 07 de setembro de 2015 Conteúdo Página Valores-notícia Clima de satisfação no final 7 Proximidade, impacto, da Expointer cultura, governo, proeminência. Público superior ao de 2014 7 Proximidade, impacto, cultura, governo. Farsul destaca parcerias 7 Proximidade, impacto, para a feira cultura, proeminência. Produtores homenageados 8 Proximidade, proeminência, pelo CP cultura, governo. Domingo foi dia de 8 Proximidade, cultura. investimento Empresa apresenta banco 8 Proximidade, cultura, ecológico raridade, conhecimento. Mauri Fonseca é bicampeão 8 Proximidade, proeminência, cultura Autor: SOARES. Luiz Kersck, 2016.quadro 9

8.3.1 Discussão da análise No primeiro quadro do subcapítulo, podemos constatar que as notícias trazem em comum o fator proximidade, por ser um evento regional que abrange região metropolitana e por envolver profissionais do campo do Estado. Além disso, o valor cultural também está presente em todas as notícias. A proeminência aparece em função das fontes do jornalismo rural associadas a instituições empresariais ou associações como sindicatos ou grupo de produtores. Já fontes oficiais são definidas como governo, uma vez que partilham informações estratégicas ou visão oficial da administração pública. Neste contexto, no primeiro quadro observado, apenas uma notícia não apresenta mais de dois valores-notícia: “Proteção ao público é reforçada”. O que demonstra uma recorrência dos valores-notícia para quase todos os conteúdos. As fontes do jornalismo se relacionam com os valores-noticia como fontes primárias em todos os conteúdos, exceto na notícia “começa a grande feira do agronegócio”. Nas demais matérias, as fontes são primárias e,

87 portanto, delegam valor às notícias seja pela prestação de informações ou, ainda, pelo aspecto de notoriedade e especialização sobre o tema, uma vez que não há fontes populares, apenas especializadas sobre assuntos do campo. A edição do dia 02 de setembro é a que mais possui conteúdo informativo dentre as três edições observadas, como já mencionada no subcapítulo predecessor. Observando os valores-notícia, é possível constatar que o fator proximidade é presente em todos os conteúdos, uma vez que a feira compreende região metropolitana e interior do Estado. Além disso, o fator cultural mais uma vez é marcante, em função dos assuntos remeterem a cultura gaúcha da agricultura. Nesta edição são verificadas diversas matérias que tratam sobre julgamentos de raças o sugere uma repetição de certos valores

específicos

de

notícia,

notadamente:

proximidade,

cultura

e

proeminência. O valor proeminência, além de caracterizar, por vezes, a relevância da fonte, também sugere uma comemoração. No entanto, pela demasia de repetições da fórmula de espaço e entrevistas nas páginas do jornal, o valor fica desgastado e a notoriedade dos personagens não fica tão evidente. Ainda assim, no aspecto das fontes, proeminência e governo são os principais valores-noticia relacionados e trazem informações primárias as matérias, conforme demonstrado na análise das fontes do jornalismo. O quadro 11 indica que as notícias publicadas na edição impressa do jornal trazem, novamente, a questão da proximidade, cultura e proeminência como principais valores-notícia. Nesta edição, por haver mais entrevistas governamentais em função do encerramento da feira, proporcionalmente ao número de matérias publicadas na editoria neste dia observado, o valor-notícia governamental foi recorrente em quase todas as matérias. As fontes especializadas do jornalismo rural definem parte significante dos valores-noticia presentes nesta edição. Os valores-noticia observados nas três edições do jornal Correio do Povo, na editoria rural, dos dias 29 de agosto, 02 de setembro e 07 de setembro de 2015 indicaram a recorrência dos valores-noticia proximidade, cultura, governo, proeminência e, eventualmente, impacto. Proximidade, cultura, governo e proeminência aparecem nas páginas do jornal com frequência, sendo que as duas primeiras estão presentes em quase todos os

88 conteúdos. A análise demonstra que o critério de seleção das notícias permeou por nove valores-noticias diferentes: proximidade, cultura, inusitado, raridade, justiça, governo, proeminência, impacto e conhecimento. As principais matérias das três edições demonstram uma repetição na esfera hierárquica da seleção das notícias: o principal conteúdo do dia 29 de agosto traz Proximidade, cultura, raridade, impacto e governo. Já a edição do dia 02 de setembro, cuja principal manchete é “Debates Correio do Povo: Sanidade animal além da aftosa”, aborda proximidade, cultura, proeminência, governo, impacto. Por fim, a edição do dia 07 de setembro remete à Proximidade, proeminência, cultura, governo, a partir da matéria “Produtores homenageados pelo CP”. Assim, fica evidente que proximidade, cultura, governo e proeminência são os principais critérios de noticiabilidade levados em conta pelos jornalistas e editores para selecionar as matérias que vão para o jornal. Desta forma, observando os 32 conteúdos jornalísticos analisados, constatamos que, dos cinco valores mais recorrentes nas notícias, a proximidade está presente em 100% dos conteúdos, seguido por cultura 68,7%, proeminência 62,5%, impacto 31,2% e governo 21,8%.

8.4 REFLEXÕES SOBRE A ANÁLISE Após analisar as edições do dia 29 de agosto de 2015, 02 e 07 de setembro do mesmo ano do jornal Correio do Povo, o trabalho demonstra que o jornalismo da editoria de rural do impresso analisado cumpre os requisitos teóricos para uma cobertura de jornalismo rural, por trazer conteúdos e temáticas do campo em sua esfera especializada e técnica, com fontes, fotos e mais de dois valores-notícia em cada conteúdo jornalístico. As três edições foram selecionadas por compreenderem períodos chave da cobertura da feira, abrangendo o início, meio e fim de cobertura da exposição Expointer. Confirmou-se que o jornal priorizou a busca por fontes especializadas sobre o assunto do campo, que o modelo de cobertura é padronizado e segue os mesmos valores-notícia, reforçando a visão legada por Meira (2016) em entrevista concedida para a fundamentação da análise.

89 A maior parte dos conteúdos jornalísticos informativos dispostos nas páginas do jornal foi de notícias e trouxe presença massiva de fontes especializadas. As fontes do jornalismo rural são, justamente, pessoas do campo e envolvidas diretamente com a agricultura de alguma forma. Além disso, se observarmos os valores-notícia elencados para a seleção das notícias, vamos notar uma prioridade do jornal pela seleção de autoridades públicas e figuras notórias e proeminentes. Danton (2016) havia destacado que dos objetivos do jornal era cobrir julgamentos. Este assunto está presente no impresso, além da cobertura do aspecto político e empresarial. É relevante observar que a ausência de fontes populares e pessoas que circulam pelo parque não descaracteriza o esforço da cobertura, nem a qualidade das notícias em qualquer sentido. No entanto, reforça a intenção de atender um público altamente especializado, uma vez que os termos de referência utilizados pelo jornal são técnicos e remetem ao campo. O espaço dado às notícias também enfatiza um modelo repetido de cobertura, onde os valores-notícia, as fontes e o espaço convergem para fornecer um modelo padrão de divulgação das notícias. Essa questão é enfatizada pelo objetivo do jornal em divulgar o resultado dos julgamentos e argumentos políticos e empresariais. Para atender ao princípio da objetividade, qualquer jornal precisa dar um espaço equivalente para todas as fontes. A seleção das fontes do jornalismo, pelo aspecto da proeminência e governo, também influenciou no espaço dedicado a cada matéria, uma vez que na maior parte dos conteúdos, que eram notícias, tratavam de divulgar campeões ou dar espaço especial para entrevistas primárias oficiais, empresariais ou especializadas. Desta forma, podemos constatar que o público alvo do jornalismo praticado nas edições é o especializado e que a seleção das fontes do jornalismo, escolhidas a partir dos valores-noticia expostos, influenciaram decisivamente no espaço dedicado às matérias e na fórmula da cobertura. Segundo Meira (2016), a relevância dos conteúdos abordados na Expointer na editoria rural do jornal Correio do Povo são questionáveis, por sua relevância. Porém, o olhar para as matérias indica que a relevância se concentra nos personagens vencedores das provas e desafios da feira a partir dos julgamentos, e, em outra parte, o espaço disponibilizado volta-se para falas de fontes governamentais e empresariais.

90 A ausência de fontes populares ou de pessoas que circularam pelo local dificulta o apelo das notícias ao público da cidade não especializado. Embora o critério cultural e proximidade estejam presentes nas matérias, as fontes selecionadas, a partir do valor de proeminência e de governo, deixam o conteúdo das notícias demasiadamente especializado e podem dificultar uma melhor identificação com o público urbano. Assim, a proximidade e a cultura gaúcha presente no local não foram o bastante para chamar a atenção do público visitante ou da cidade, porém devem chamar a atenção do produtor rural e do especialista em assuntos do campo. Com efeito, a análise sugere que a cobertura do jornal Correio do Povo buscou contemplar um viés econômico e político em suas páginas. Em um evento onde grandes marcas agrícolas e autoridades do Estado estão presentes, o jornalismo praticado deu ênfase para divulgar notícias relacionadas aos meandros econômicos e do poder. Danton (2016) afirma que há um esforço para comunicar com o público da cidade, que não é especializado nos assuntos do campo. Porém a cobertura não atingiu plenamente este objetivo, ou, no mínimo, fez pouco esforço para ser compreendida pelo seu público alvo. O retrato da cobertura lembra, portanto, um caderno especializado de assuntos rurais, com forte visibilidade para produtores, proprietários agrícolas e autoridades do Governo do Estado gaúcho. Tratar de assuntos econômicos e pautar autoridades não é novidade no jornalismo. Como previa Max Weber (1910) o jornalismo atende a dois clientes distintos: o público – a audiência – e os patrocinadores. No jornalismo praticado, a audiência contemplada com as informações foram, justamente, membros do setor agrícola. Dar visibilidade aos especialistas do campo cumpre um papel importante para reforçar uma linha direta de comunicação com um nicho específico de clientes: os produtores agrícolas e membros da categoria, envolvidos direta ou indiretamente nos assuntos rurais. Conforme Meira (2016), assuntos do campo não tendem a interessar a população local. É necessário um apelo maior. Notícias com mais relevância para o meio urbano, traduzidas e com linguagem acessível. Logo, sob o víeis econômico e de mídia espontânea para produtores e autoridades, o jornal obteve êxito e cumpriu um excelente papel no evento.

91 Assim sendo, após a averiguação dos dados, é visível que o jornalismo rural do Correio do Povo visou dar voz a empresários, agentes do governo e produtores rurais presentes no evento. As matérias comunicam diretamente para este tipo de público. Podemos afirmar que o público da cidade não foi contemplado com matérias sobre as temáticas do campo, não atingindo a proposta referida por Danton Júnior (2016) para comunicar com o público leigo da cidade. Mas, por outro lado, deu espaço e voz para uma sorte de matérias sobre julgamentos, assuntos oficiais relacionados ao campo e ações empresariais do setor. Assim, a cobertura não fica descaracterizada, porém, fica com um viés claramente direcionado aos assuntos econômicos e políticos relacionados à feira.

92 9 CONSIDERAÇÕES FINAIS O desafio proposto por este trabalho de análise era observar as fontes do jornalismo rural presentes nas edições do dia 29 de agosto, 02 e 07 de setembro de 2015 no jornal Correio do Povo, na editoria rural do impresso. O período de observação foi selecionado para acompanhar a cobertura de uma das maiores feiras do agronegócio da América Latina, a Expointer. Após quatro meses de trabalhos, o objetivo foi atingido em sua plenitude, uma vez que foi possível averiguar quantitativamente as principais fontes do jornalismo rural presentes no impresso analisado, através, ainda, da complementação de pesquisa a partir da mensuração dos valores-notícia e dos gêneros jornalísticos e espaços dispostos nas páginas do jornal. Para corroborar a análise, ainda, foram utilizadas entrevistas com protagonistas do jornal, através da figura de Meira (2016) e Danton Júnior (2016) que tiveram ou tem relevância para a construção dos conteúdos do jornal na editoria observada. Este trabalho, no entanto, a partir da análise, das entrevistas – além da percepção do pesquisador ao longo do projeto – aponta que o jornalismo tradicional, especialmente o impresso, atravessa um momento de forte turbulência. O enxugamento das redações e os salários baixos pagos pelo setor acabam por gerar sérias dificuldades a este formato, sobretudo, em função da ascensão da tecnologia digital e da transformação no modo de fazer jornalismo. Ao longo da análise, podemos observar que existem esforços e pesquisa para inovar na área da produção de conteúdo, principalmente com o uso da internet. Soluções para o impresso, sem o recurso web, são escassas. Normalmente não se cogita produzir material em jornais e editorias especializadas sem a conectividade da internet para angariar mais público e acompanhar a nova forma de consumo das audiências: conteúdos reduzidos e interativos. O modelo, que é definido por Meira (2016) como “enfadonho”, é uma preocupação que deve ter a atenção deste jornal impresso, pelo menos, na editoria que foi analisada. Entendemos que trata-se de um movimento do jornalismo impresso que também merece a atenção da academia universitária

93 e, consequentemente, da prática no espaço das redações. Na medida em que é difícil traduzir informação para uma grande massa, que converge, cada dia mais, para as novas tecnologias digitais, este trabalho indica um movimento do jornal de papel que o limita a comunicar com um nicho de público. Esta análise visa também provocar jovens universitários e estagiários para que possam inovar e aplicar suas ideias no ambiente profissional, a fim de integrar esforços da velha e nova guarda do jornalismo. Trazer o interesse do leitor leigo sobre assuntos especializados como o do campo, por exemplo, através da interatividade com a internet e outros recursos de linguagem aplicados ao impresso e a técnica de cobertura. Além de alertar os responsáveis pelas empresas jornalísticas sobre a urgência na aplicação de recursos e investimento humano nas redações. Também é relevante que a editoria rural do Correio do Povo, conhecida por sua tradição na cobertura do agronegócio gaúcho, possa tomar um rumo diferente, mais integrador e profundo no seu acompanhamento do campo. Cabe ressaltar que tudo o que usamos no dia-a-dia vem do campo, das florestas, dos recursos naturais. É importante integrar as audiências a estes assuntos. Educar e informar com qualidade, excelência. Porém, com a eminente decadência do jornalismo impresso, cada vez mais os jornais ficam submetidos a investimentos de patrocinadores. Deste modo, a questão que incitamos através deste trabalho gira em torno de algumas perguntas centrais: como comunicar para o público da cidade, economicamente menos envolvido com os assuntos do campo, com a possibilidade de evocar espaços nas páginas do jornal para personagens protagonistas de transações econômicas relacionadas direta e indiretamente aos patrocinadores comerciais do jornal? Ou, ainda, como manter as editorias independentes de seus anunciantes e proporcionar equilíbrio na cobertura? Tais respostas devem nortear futuras pesquisas que visem ampliar o debate sobre estes aspectos. O jornalismo tem importância decisiva na construção cultural de uma sociedade e não pode ser subestimado. Com salários baixos e sucateamento das equipes de reportagem, há o risco de que este cenário seja descaracterizado. O agronegócio gaúcho é decisivo para a economia do RS. A editoria rural tem a responsabilidade de colaborar com a educação, através da

94 disseminação do conhecimento aos produtores, empresários e consumidores, não apenas sobre a origem e processos advindos da produção no campo. O jornalismo precisa dar conta de investigar e apontar problemas ambientais, verificar regularmente denúncias de adulteração nos alimentos, proporcionar ferramentas e mecanismos para que o consumidor possa saber a procedência e a importância dos recursos que chegam até sua mesa. Agronegócio não é só o que se come, mas o que se veste, o que se calça o que se bebe. Daí a relevância de um jornalismo aprofundado e diferenciado. Uma feira como a Expointer é um campo inexplorado de possibilidades para traduzir conteúdos não vistos durante o cotidiano. Talvez o primeiro passo para se pensar e, neste aspecto recomendo um estudo, seria que as editorias rurais construíssem em suas páginas um olhar transversal do conhecimento, permeando toda a cadeia produtiva e fazendo, assim, valer jus o conceito de agronegócio.

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