Jornalismo e Acessibilidade: Experiência da Rádio \"CBN em Libras\" primeiro programa a ser acessível a deficientes auditivos por meio do boletim “Cidade Inclusiva” de São Paulo

June 1, 2017 | Autor: Jonara Medeiros | Categoria: Cidadania, Direitos Humanos, comunicaçãoacessível, rádioeacessibilidade
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Jornalismo e Acessibilidade: Experiência da Rádio "CBN em Libras" primeiro programa a ser acessível a deficientes auditivos por meio do boletim “Cidade Inclusiva” de São Paulo 1

Jonara Medeiros SIQUEIRA2 Joana Belarmino de SOUZA3 Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, PB

RESUMO O artigo tem como concepção central a ideia de processos de produção, circulação e recepção dos conteúdos, buscando uma análise acerca das estratégias acessíveis voltadas a criar um ambiente convergente para internauta/consumidor(a) com deficiência. Partimos da proposição de que o canal estudado passou por adaptação que altera o cenário padrão que é o rádio por sua essência. Neste caso, o programa transita em áudio (transmissão canal CNB São Paulo FM, e na Língua Brasileira de Sinais "Libras" através do canal YouTube, contendo tradução de intérprete no repasse das informações em vídeo). A hipótese inicial também traz uma reflexão sobre a interação entre o público de consumidores de pessoas com deficiência, tendo em vista que a dupla sincronia (áudio e vídeo), contempla diretamente os surdos, cegos e demais ouvintes, sejam pessoas com deficiência ou não. Desse modo também provocando uma agregação e multiplicação no que diz respeito a inclusão e direito humano à comunicação. E por fim, exploramos o campo da midiatização, onde a globalização está diretamente relacionada à maturação e à convergência tecnológica, estabelecendo uma atuação dos meios de comunicação e afetado intensamente as práticas e relações entre os atores sociais individuais e coletivos na contemporaneidade.

Palavras-chave: Jornalismo; Acessibilidade; Rádio; Convergência, Pessoas com Deficiência.

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Trabalho apresentado no DT de Jornalismo, Comunicação e Acessibilidade do Simpósio Nacional de Jornalismo, Participação e Cidadania – João Pessoa - PB – 27 a 28/10/2014

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Jornalista pela UNICAP, especialista em mediação cultural pela (UFPE) e mestranda em Jornalismo pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Pesquisadora em jornalismo, acessibilidade e cidadania. E-mail: [email protected]

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Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo; Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFPB; Pesquisadora em jornalismo, acessibilidade e cidadania. E-mail: [email protected]

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Introdução Desde julho de 2010 a organização não governamental (ONG) Vez da Voz, de São Paulo (SP), firmou uma parceria com a Rádio CBN (SP), para disponibilizar parte do seu conteúdo de áudio na Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS). A inciativa é o primeiro programa a ser acessível a deficientes auditivos por meio do quadro "Cidade Inclusiva", apresentado por Cid Torquato, toda segunda-feira, às 11h. O programa “Rádio em LIBRAS4”, é inédito no Brasil, a ação cria programas na língua de sinais a partir do conteúdo de boletins de rádio na sintonia FM. Desse modo, os surdos podem ter acesso aos conteúdos por meio de vídeos, que são veiculados no canal do canal no YouTube5. A formatação em mais de uma linguagem, possibilita ao jornalismo uma reconfiguração na apresentação dos canais, pensando que o modo "tradicional" não atinge 6 milhões de surdos no País. Desse modo, a iniciativa provoca um modelo que poderá ser experimentado e, possivelmente aplicado para outras rádios e sistemas de comunicação. O redesenho das tecnologias é possível, segundo Castells (2006), por iniciativas dos usuários. O protagonismo cidadão e a contracultura dos movimentos sociais são exemplos desse processo. Esses novos atores impulsionam os usos dos dispositivos comunicacionais (principalmente a Internet e o celular) para a mobilização social.

Segundo a presidente da ONG Vez da Voz, Cláudia Cotes6, a intenção é levar informação a todos, pessoas com e sem deficiência, de uma maneira acessível e democrática. Mais uma barreira de comunicação foi quebrada, e que este seja um exemplo para as empresas de comunicação do país”, afirma Cotes. Na busca por compreender o cenário onde as pessoas com deficiência se encontram, o Censo do IBGE/2010, aponta que quase 46 milhões de 4

Informação disponível em: http://cbn.globoradio.globo.com/colunas/cidade-inclusiva-sp/CIDADEINCLUSIVA-SP.htm , acesso em 23/10/2014, às 21h30.

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YouTube é um site que permite que seus usuários carreguem e compartilhem vídeos em formato digital. Foi fundado em fevereiro de 2005 por três pioneiros do PayPal, um famoso site da internet ligado a gerenciamento de transferência de fundos. Fonte: Wikipédia

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Fonoaudióloga, Mestre de Cerimônia, Palestrante em Media Training e Empreendedora Social. Claudia Cotes é presidente da ONG Vez da Voz, que luta pela inclusão da pessoa com deficiência em São Paulo.

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brasileiros têm algum tipo de deficiência: mental, motora, visual ou auditiva. Esse número corresponde a 24% da população total do país. Há fontes que citam que as perdas auditivas na população mundial estão acima de 57 milhões. Os dados também apontam que 4,6 milhões de pessoas possuem deficiência auditiva7. O índice aproximado de surdos, no país, é de aproximadamente 5,7 milhões de pessoas. Aproximadamente 30% dos surdos brasileiros não sabe ler português. Os restantes 70% sabem ler português mas nem todos têm entendimento claro desta língua. Nesse sentido, com percentuais do Censo que revelam a cada ano os números de uma parcela da população crescente a cada dia, que naturalmente sai da sua condição de minoria, para ocupar um lugar de igualdade, por vezes, projetadas por experimentações como a Rádio em Libras. Numa era de convergência onde muito da acessibilidade no mundo se evolui por conta dos dispositivos tecnológicos é evidente o cenário do jornalismo no ciberespaço, com uma verdadeira mudança na estrutura do texto, do discurso, alterada por conta das interações com o público, o receptor ativo, que é deficiente, que está na rede e questiona os formatos, modelos e conteúdos. Como nenhum outro meio de comunicação, o rádio vem se fazendo plural, porta-voz da diversidade rural e urbana, da metrópole e da província, abrindose à heterogeneidade dos territórios e das regiões, a suas desigualdades e suas diferenças. (MARTÍN-BARBERO, 2004, p. 309)

Hoje, percebemos, como chama atenção Dominique Wolton, que o receptor não é esse ser tão previsível, estático. O Rádio, neste caso, é uma canal de interação direto e instantâneo, Impossível falar de vitória da comunicação sem falar daquele a quem ela se dirige: o receptor. Na realidade, o receptor complica tudo, raramente está onde o esperamos, compreendendo em geral, algo diferente do que lhe dizemos ou gostaríamos que compreendesse pelo som, pela imagem ou pelo dado. Ele é a caixa preta (WOLTON, 1999, p.32).

O jornalismo é um bem comum à sociedade e tem na sua abordagem científica signos e normas voltados para a disseminação da informação a partir de contrapontos críticos. 7

Por deficiência auditiva entende-se a diminuição da capacidade de percepção normal dos sons. É considerado surdo o indivíduo cuja audição não é funcional na vida comum, e parcialmente surdo, aquele cuja audição, ainda que deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva.

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O direito à comunicação significa também o direito a ter presença e participação. Não somente acesso à informação, mas, muito mais que isso, ter acesso aos meios de produção da informação. Trabalhamos hoje com novos modelos de comunicação que ultrapassam o modelo distributivo e permitem mais participação e interatividade, visto que qualquer pessoa que tenha acesso aos meios torna-se comunicador (a). (SELAIMEN, 2004, p.23)

Rádio em Libras e sua proposta inovadora como mídia acessível A proposta inicialmente foi de uma gravação-piloto, que logo repercutiu na CBN, num contato entre Claudia Cotes (ONG Vez da Voz) e Cid Torquato (Cidade Inclusiva - CBN SP), o quadro já acontecia e Claudia fez a proposta de gerar o conteúdo em Libras, disponibilizando para interação, na internet, todas as semanas.

A ação inédita, com uma equipe pequena, contava com um

produtor de áudio da CBN, que enviava o arquivo de áudio por e-mail. Em seguida Claudia atuava como cinegrafista, na sua residência; onde captava as imagens da tradução com o intérprete Fabiano Campos; e finalizando o material, a edição de imagem, com Rogério Souza. Toda semana, a produção se repetia, como um trabalho colaborativo, e contato com mais profissionais intérpretes. Este projeto durou 6 meses, e terminou por conta de inviabilidade financeira, mesmo após esse longo período, não conseguirem recursos financeiros para continuar com o programa na Libras. O Rádio em Libras teve uma média de 60 programas disponíveis na rede no YouTube, com visualições que oscilam de 6.127 a 60 acessos por vídeo, concluindo do maior para o menor número. Após a finalização da parceria, o Cidade Inclusiva continua na ativa, somente pelo meio tradicional, na sintonia FM e contato com apenas as interações na internet através do site da emissora. Nesse sentido, o rádio mostra-se um meio rapidamente flexível, segundo Martín Barbero, em dois sentidos: tecnológico e sócio-político. (...) a FM, alterando a aparelhagem e os custos tecnológicos, possibilita uma grande diversificação das emissoras de uma mesma cadeia, dedicadas por inteiro a segmentos precisos de uma audiência, não só por gêneros – musicais ou noticiosos – mas também por segmentos de idade e de gostos e por outra parte a conexão via satélite possibilita a instantaneidade da notícia de qualquer parte do mundo (MARTÍN-BARBERO, 2002, p. 70).

A flexibilidade sócio-política está apoiada na gestação de emissoras locais,

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Comunitárias e até mesmo comerciais, nesse caso abordado pela CBN São Paulo, por meio do Rádio Libras por iniciativa da ONG Vez da Voz, “através das quais movimentos sociais de bairros ou locais ou Ongs encontram no rádio outra possibilidade de novo espaço público: já não para ser representada, mas para ser reconhecidas por suas próprias linguagens” (MARTÍN-BARBERO, 2002, p. 70). O filósofo espanhol resume assim que o rádio capta a densidade e a diversidade de condições de existência do popular. É neste contexto de contradições entre signos, convivência conflituosa de diferentes modos de ser e mediações de tecnologias comunicativas que vem inserir-se o protagonismo do rádio, como canal de resgate da trajetória de seu uso social, compreendendo como a emissora, mesmo comercial que tanto cria impedimentos por formatos padronizados aplicados ao mercado, promove a tradução dessa realidade de acessibilidade de modo tão simples e amplo, captando

a

diversidade,

adequando-se,

desta

maneira,

ao

papel

contemporâneo do rádio. O direito à comunicação significa também o direito a ter presença e participação. Não somente acesso à informação, mas, muito mais que isso, ter acesso aos meios de produção da informação. Trabalhamos hoje com novos modelos de comunicação que ultrapassam o modelo distributivo e permitem mais participação e interatividade, visto que qualquer pessoa que tenha acesso aos meios torna-se comunicador (a). (SELAIMEN, 2004, p.23)

A possibilidade de acesso ao conteúdo por meio da imagem, ou seja, uma tradução do áudio (programa gravado) por meio da Libras, que é uma língua por sinais, visual, faz uma alinhamento direto com a oralidade do tempo do rádio. A transmissão tradicional promove uma conversa imaginária entre locutor e

ouvinte,

criando

uma

sensação

de

companhia

e

intimidade.

Os

apresentadores do rádio, geralmente, falam como se estivessem se referindo a cada receptor individualmente, reforçando essa característica. Essa oralidade desenvolve mais duas características no rádio, o diálogo mental (PRADO, 1989) e a criação da imagem acústica (ORTRAWIANO, 1985; McLEISH, 1996).

Já a criação de imagem acústica acontece quando o ouvinte concebe mentalmente as figuras apresentadas por uma dramatização ou descrição de uma mensagem radiofônica, reforçada pelos efeitos sonoros que criam cenários. Essa imagem é moldada pelo repertório simbólico e pelo universo 5

 

cultural do receptor. Quando uma mensagem radiofônica promove essa relação, consegue um profundo envolvimento, identificação e atenção dessa mídia. A comunicóloga Marta Maia considera que: (...) a construção de cenários mentais pelos radiouvintes, bem diferente da televisão que estimula o elemento sensorial da visão, pode ser encarada como um aspecto democratizador do rádio na medida em que as imagens podiam ser construídas a partir das referências individuais e coletivas de um indivíduo. (MAIA, 2003, p. 118)

A interação, neste caso de dupla linguagem (vídeo e áudio), ganham amplamente na configuração de um ambiente agregador, multifacetado por acessibilidade. O rádio também traz as seguintes características, segundo a comunicóloga brasileira Gisela Ortrawiano (1985): • Penetração: maior abrangência geográfica de emissão. • Mobilidade: - do emissor: pode ser transmitido de diversos locais. - do receptor: pode ser escutado em qualquer lugar. • Baixo custo: aparelho barato e investimento de instalação de uma rádio menor do que o de uma emissora de televisão ou de um jornal com gráfica. • Imediatismo: rápida produção. • Instantaneidade: o ouvinte recebe a mensagem no momento que transmite. • Autonomia: pode escutar na ausência de energia elétrica. • Simultaneidade: fazer várias atividades ao mesmo tempo da escuta. • Rapidez: de emissão e recepção. São características que possibilitam essa mídia estabelecer relações peculiares com seus receptores. Assim como as demais mídias eletrônicas, o rádio e o vídeo se caracterizam por possuir um emissor que produz uma mensagem recebida simultaneamente por vários receptores. No entanto, essa definição está longe de sintetizar o processo promovido por essa relação, principalmente no que tange à recepção. Para melhor compreender essa relação dos ouvintes e telespectadores, com essa mídia, vão ser apresentadas quatro investigações na linha de estudos da recepção. Numa pesquisa realizada em Córdoba, Argentina, a comunicóloga Cristina Matta (2005) observou que se podem analisar três dimensões de recepção: a discursiva que leva em conta a situação e a competência dos 6

 

receptores; a de consumo, que reflete suas necessidades, desejos e experiências que geram um sistema de adesões e rejeições; e a cultural, que são as práticas especificamente significantes e as relações com outros sistemas não especificamente significantes. Enquanto o presente trabalho sobre o uso social a dupla linguagem (áudio e vídeo na Libras) hospedados, ambos na internet, a experiência se situa nesta última dimensão, a pesquisa da argentina leva em conta o consumo. A autora Nelia Del Bianco indica uma série de possibilidades de ambiências no rádio, como informação distribuída via imagens e textos escritos, além do sonoro, multiprogramação de conteúdo, etc... A base da constatação da autora é a transformação do sinal sonoro em bits digitais: com a mudança do modelo de transmissão, é possível agregar outros serviços. Daí, ela discorre sobre o desaparecimento da audiência massiva e a diversificação da oferta de canais, desde que seja atendida a tríade legislação – radiodifusores – acessibilidade do consumidor (BIANCO, 2001, p.27-28).

Os outros serviços, apesar da possibilidade, passariam a ser oferecidos? Para isso, seria necessário criar uma demanda por parte do público. Mas, com a crescente mobilidade do acesso à internet, qual a relevância destacada para esses serviços hoje, ligados a um aparelho receptor de rádio? Afinal, boa parte deles está cada vez mais difundida entre usuários de telefone celular. Dentre as inúmeras possibilidades da época, essa é justamente a que não foi cogitada em profundidade: a fusão completa do rádio dentro do ambiente de rede digital. Anos mais tarde, em artigo para o livro O novo rádio, a autora retoma o assunto, Em um ambiente multimídia, os produtores terão de diversificar a forma de apresentação dos conteúdos e integrá-los a novos formatos de distribuição digitais, como celular e aparelhos MP3, entre outros. Ao conviver com outros serviços de áudio, terão de se integrar a cadeias de serviços de informação, entretenimento e comércio eletrônico, o que representará uma nova sinergia em busca de parcerias e alianças estratégicas com provedores de conteúdo, para desenvolver serviços complementares e agregar valor à programação do rádio. (BIANCO, 2010 a: p.102)

A autora aponta ainda a necessidade de pensar em novas estruturas programáticas, o que se torna uma questão de sobrevivência do rádio digital frente à grande oferta de produtos sonoros (BIANCO, 2010 a: p.104). A afirmação parece completar pensamento que encontramos em outro texto da autora, de certa forma contemporâneo a essas novas indagações, quando

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Bianco considera a viabilidade e necessidade da digitalização do sinal de radiodifusão sonora: A resposta ao questionamento está no fato de que não digitalizar significa deixar de participar do código comum que é a base da convergência. Esse aspecto é um pouco diferente de estar presente em outros suportes. Indica ter em si os dispositivos tecnológicos que permitam abertura para a convergência com outros meios dentro da mesma linguagem e, de algum modo, apropriando-se das vantagens advindas dessa condição a exemplo da melhoria da qualidade de som, novos usos e funcionalidades para o aparelho receptor de rádio, incluindo dados associados que possam fornecer mais riqueza a programação. (BIANCO, 2010b, p. 561)

Nélia Del Bianco considera hoje que as dificuldades da definição do padrão digital devem redundar em políticas públicas que visem atender a maior parte dos atores políticos envolvidos no processo de transição, a saber, governo, emissores, indústria de equipamentos, comunitários, sociedade civil. A internet como ambiente para construção de conteúdos acessíveis no jornalismo O Brasil desponta, no cenário internacional, como um dos países onde o acesso da população à internet e às redes sociais vem crescendo, principalmente nos últimos cinco anos. De acordo com um estudo de Ibope/ Nielsen, em dezembro de 2009, o país possuía 67,5 milhões de internautas. Significa dizer que havia, naquele mês, mais de 30% do

contingente

populacional brasileiro na “rede”. A pesquisa também revelou que o país ocupa a quinta posição no ranking das conexões à internet. Portanto, podemos falar que estamos às portas de uma revolução intensa no ato de apreender a realidade, o tempo e as ações cotidianas. Na era da interação mediada pelo computador e do surgimento de novas formas de interação e socialização com a possibilidade do compartilhamento de saberes e conhecimentos quase que imediato por meio das potencialidades abertas com tal navegação, é cada vez maior a compreensão de que as identidades sociais estão sendo forjadas, também, com a participação das pessoas no Ciberespaço. O estudo do Ibope/Nilsen, de 2009, também constatou que: 27,5 milhões acessam regularmente a Internet de casa, número que sobe para 36,4 milhões se considerados também os acesso do trabalho (jul/2009). 38% das pessoas acessam à web diariamente; 10% de quatro a seis vezes por semana; 21% de duas a três vezes por semana; 18% uma vez por semana. 8

 

Somando, 87% dos internautas brasileiros entram na internet semanalmente 8.

Dias (2003) considera a acessibilidade como a possibilidade de qualquer pessoa, independente do tipo de tecnologia de navegação, ser capaz de interagir com sites, compreendendo as informações neles contidas de forma integral. Freire (2003) menciona que os recursos da tecnologia da informação e comunicação integram recursos verbais e não-verbais que caracterizam as interfaces

dos

programas

de

computador,

possibilitando

analisar

o

funcionamento discursivo da linguagem. Para além da produção de imagens que retratam a realidade cotidiana das culturas onde transitam, pelos meios de comunicação de massa, o importante é perceber que o processo comunicativo muitas vezes mediado pelas

tecnologías

e

ferramentas

disponíbiulizadas

pelas

redes,

vem

propiciando a emergência de novas sensibilidades e conexões. No caso dos manuais, hoje digitais, disponíveis gratuitamente e na rede,

diversas

organizações e jornlistas estão compreendendo a importancia dessa participação em seu dia a dia. Estão descobrindo as potencialidades reais e imediatas de interação, fenômeno que dialoga com o pensamento de Henry Jenkins (2006): Ainda estamos aprendendo como exercer esse poder - individual ou coletivamente - e ainda estamos lutando para definir as condições sob as quais nossa participação será permitida. Parte do que precisamos fazer é descobrir como - e por que - grupos com diferentes formações, projetos, pontos de vista e conhecimentos podem se ouvir e trabalhar juntos pelo bem comum. Temos muito o que aprender. (JENKINS, 2006, p. 381)

O Ciberespaço9 pode definido como um lócus não apenas técnico de interconexão na rede mundial de computadores, a internet. Trata-se de um ambiente que possibilita o encontro e o compartilhamento de informações, ideias e conteúdos por meio de vários suportes/ferramentas. Uma das referências nesse campo, a obra do pesquisador Pierre Levy (1999), intitulada “Cibecultura”, compreende o ciberespaço para além da infra-estrutura material 8

http://info.abril.com.br/noticias/internet/brasileiro-e-o-que-maisacessa-redes-sociais-12052010-23.shl. Acesso: 03/10/2014, às 18h. Disponível

em:

9

A palavra, de origem americana, foi usada, pela primeira vez, por Willian Gibson, ao denominar um mundo de redes digitais e um lócus que possibilita o encontro mundial e que congrega o hipertexto, a multimídia interativa, a simulação, a realidade virtual, dentre outros. 9

 

da comunicação, mas, um conjunto de técnicas que estão sendo desenvolvidas em meio ao desenvolvimento desse novo modo de ser e estar no tempo e no universo. Todavia, o papel mais importante que a mídia desempenha decorre do poder de longo prazo que ela tem na construção da realidade através da representação que faz dos diferentes aspectos da vida humana – das etnias (branco/negro), dos gêneros (masculino/feminino), das gerações (novo/velho), da estética (feio/bonito) etc. – e, em particular, da política e dos políticos (LIMA, 2006, p.55).

Para além da virtualidade que, por vezes, emerge como mais real e pulsante do que a base material das relações sociais, o ciberespaço tem possibilitado a interação mediada pela tecnologia, o acesso de diversos segmentos potencialmente excluídos de lugares convencionais do jornalismo, como rádio, televisão e jornais. Martín-Barbero (2003) discute a interpenetração da comunicação, tanto na cultura, quanto na tecnologia. Notamos que é imprescindível, nesse proceso, a aproximação da teoria com o cotidiano da apropriação dessa comunicação e dessa técnica pelos sujeitos envolvidos, também buscando desvendar

o

que

eles

estão

fazendo

com

o

que

experimentam/aprendem/compartilham. A sociedade contemporânea (dita “pós-industrial”) rege-se pela midiatização, quer dizer, pela tendência à virtualização das relações humanas, presente na articulação do múltiplo funcionamento institucional e de determinadas pautas individuais de conduta com as tecnologias da comunicação. (SODRÉ in MORAES, 2006, p. 20-21).

Partimos do pressuposto de que sem o exercício da liberdade de expressão, por conta das barreiras da exclusão social, agravadas com a alta concentração dos meios de produção dos bens simbólicos nas mãos poucos grupos de mídia no Brasil, as pessoas surdas ficam cerceadas de desenvolver suas potencialidades comunicativas.

Diante de tal constatação, notamos a

inserção.... Na internet, argumenta Pierre Lévy, as pessoas subordinam sua expertise individual a objetivos e fins comuns. "Ninguém sabe tudo. Todo o conhecimento reside na humanidade." A inteligência coletiva refere-se a essa capacidade das comunidades virtuais de alcançar a expertise combinada de seus membros. O que não podemos fazer ou saber sozinhos, agora podemos fazer coletivamente. E a organização de espectadores no que Lévy chama de

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comunidades de conhecimentos permite-lhes exercer maior poder agregado em suas negociações com produtores de mídia. (JENKINS, 2006, p. 56)

Conclusões Provisórias O estudo, ainda que numa perspectiva bastante exploratória, demarca questões de importância no cenário atual do rádio-jornalismo e a força dos processos de convergência midiática para capturar audiências específicas, no caso particular, as audiências com deficiência auditiva. A experiência da CBN, embora tenha tido somente seis meses de duração, merece um estudo que investigue a capacidade de formular um contrato de leitura para fisgar a audiência da comunidade surda. Por outro lado, o modo como a experiência se estruturou, demonstra que a produção de conteúdos acessíveis ainda não se consolidou como uma política programática nos meios de comunicação, mas antes, realiza-se na base da colaboração, das parcerias, da sensibilidade de apresentadores ou participantes de equipes de trabalho, independentemente dos processos de gestão e de propriedade dos veículos. Tais experiências, embora sejam fundamentais para alfabetizar o ambiente jornalístico para a acessibilidade, são sazonais, sem duração, não estabelecendo uma rotina tão importante para a consolidação dessas estratégias. Cremos que acessibilidade aos conteúdos jornalísticos exige uma abordagem de convergência, e sobretudo o trabalho interdisciplinar de jornalistas, informáticos e comunidades de consumidores que se beneficiam de tais estratégias.

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