Jornalismo e dispositivos móveis: um estudo sobre os aplicativos de notícias \'UOL Notícias\', \'Estadão\' e \'O Globo Notícias

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE CENTRO DE ESTUDOS EM CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE ARTES E COMUNICAÇÃO SOCIAL

JORNALISMO E DISPOSITIVOS MÓVEIS: UM ESTUDO SOBRE OS APLICATIVOS DE NOTÍCIAS DO UOL, ESTADÃO E O GLOBO

CAROL CORREIA SANTANA

Monografia de Conclusão do Curso apresentada como requisito para obtenção de graduação em Comunicação Social bacharelado Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe. Orientador: Professor Dr. Carlos Eduardo Franciscato

São Cristóvão, fevereiro/2014

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CAROL CORREIA SANTANA

JORNALISMO E DISPOSITIVOS MÓVEIS: UM ESTUDO SOBRE OS APLICATIVOS DE NOTÍCIAS DO UOL, ESTADÃO E O GLOBO

Monografia de Conclusão do Curso apresentada como requisito para obtenção de graduação em Comunicação Social bacharelado Jornalismo da Universidade Federal de Sergipe.

Aprovada em 07 de fevereiro de 2014

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________ Prof. Dr. Carlos Eduardo Franciscato – UFS (orientador)

______________________________________________ Prof. Msc. Jean Fábio Borba Cerqueira – UFS (examinador)

______________________________________________ Prof. Msc. Vitor José Braga Mota Gomes - UFS (examinador)

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DEDICATÓRIA E AGRADECIMENTOS

Dedico este trabalho aos meus pais, Denise e Agnaldo, que me deram apoio, cada um à sua maneira, para que este objetivo fosse concretizado, e que tanto ansiaram e por muitas vezes até se afligiram na espera pela minha formação. Agradeço a Pierre pelos incentivos e por ter feito este trabalho ser menos solitário, pacientemente ficando ao meu lado. Ao meu tio Luciano pela inspiração pela profissão. Agradeço ao meu orientador Franciscato pela paciência e dedicação não só durante a realização deste trabalho de conclusão de curso, mas também nos dois anos de iniciação científica e nas várias disciplinas à minha turma ministradas.

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Resumo Este projeto monográfico tem como foco estudar o jornalismo móvel, que é a manisfestação mais recente de uma reconfiguração do jornalismo em razão do desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação. Os objetos da pesquisa são os aplicativos jornalísticos disponíveis para smartphones UOL Notícias, Estadão e O Globo Notícias. Acreditamos que os aplicativos são representativos e se tratam de uma tendência irreversível na comunicação móvel. São os apps que agora regem a nossa relação com a Internet. A nossa intenção na investigação foi analisar as estruturas dos aplicativos mobile com a pretensão de identificar e descrever aspectos materiais com foco em questões técnicas e de interface, além de obter um panorama geral das ferramentas e poder comparar os três aplicativos de notícias. Palavras-chave: jornalismo móvel; aplicativo; smartphone

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Abstract The following work focuses on the mobile journalism, which is the latest novelty in the process of journalism’s reconfiguration brought by the development of the new communication technologies. The research’s objects are the journalistic applications available for smartphones UOL Notícias, Estadão and O Globo Notícias. We believe that applications are representative and consist in an irreversible trend in mobile communication. The apps now rule our relationship with the Internet. Our intention in the research was to analyze the structures of mobile applications with the intention to identify and describe material aspects with a focus on technical issues and interface in order to get an overview of the tools and compare the three news applications. Keywords: mobile journalism; app; smartphone.

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LISTA DE FIGURAS Figura 1: Intenções de compra e efetiva compra de aparelhos tecnológicos........................... 21 Figura 2: Disponibilidade prevista de serviços móveis........................................................... 24 Figura 3: Mudança entre os modelos de página web e aplicativos para a web....................... 25 Figura 4: Esferas que ilustram a delimitação das terminologias.................................................... 30 Figura 5: Pesquisa de restaurantes próximos no Foursquare................................................... 44 Figura 6: Aplicativos que auxiliam mobile journalists (sistema Android).............................. 48 Figura 7: Aplicativo de O Globo voltado para os repórteres-cidadãos.................................... 50 Figura 8: Representação visual de conceitos da Arquitetura da Informação........................... 52 Figura 9: Visão geral dos aplicativos pesquisados................................................................... 57 Figura 10: Push notifications do UOL Notícias....................................................................... 59 Figura 11: Recurso de geolocalização no aplicativo Estadão.................................................. 59 Figura 12: Personalização de editorias no Estadão e no O Globo Notícias............................ 60

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LISTA DE TABELAS Tabela 1: Características estruturais dos aplicativos................................................................ 58

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LISTA DE QUADROS Quadro 1: Hábitos de consumo da juventude digital............................................................... 20 Quadro 2: Nomenclaturas e definições sobre jornalismo no ambiente das novas tecnologias............................................................................................................................... 28 Quadro 3: Nomenclaturas para jornalismo em mobilidade..................................................... 39 Quadro 4: Rotinas produtivas jornalísticas.............................................................................. 47

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SUMÁRIO Introdução ............................................................................................................................. 11 1 - Internet, redes e comunicação móvel.............................................................................. 14 1.1 - Notas sobre a Sociedade em Rede.......................................................................... 14 1.2 - Trajetória da transformação tecnológica................................................................ 14 1.3 - Comunicação móvel e apropriação social.............................................................. 18 1.4 - Aplicativos .............................................................................................................23 2 - Jornalismo online e jornalismo para smartphones....................................................... 27 2.1 – Jornalismo online................................................................................................... 27 2.1.1 - Características-chave do jornalismo na Internet..................................................30 2.1.2 - Gerações – etapas de desenvolvimento................................................................33 2.1.3 - Jornalismo participativo.......................................................................................36 2.2 – Jornalismo móvel....................................................................................................38 2.2.1 - A geolocalização como recurso nos smartphones................................................42 2.2.2 - Mobile journalists................................................................................................46 2.2.3 - Jornalismo participativo mobile...........................................................................49 3 - Análise dos aplicativos UOL Notícias, Estadão e O Globo Notícias...............................51 3.1 - Metodologia .............................................................................................................. 51 3.1.1 - Categorias de análise...............................................................................................54 3.2 - Análise dos aplicativos...............................................................................................56 3.3 - Características e implicações dos aplicativos no jornalismo móvel...................................................................................................................................62 3.3.1 - Abertura e fechamento da navegação nos aplicativos.......................................................................................................................... 62 3.3.2 - Hipertextualidade em baixa.................................................................................... 63 3.3.3 - Sistema de busca: banco de dados e indexação...................................................... 63

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3.3.4 - Os apps como prolongamentos dos sites.................................................................63 Considerações finais............................................................................................................... 65 Referências bibliográficas......................................................................................................67

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INTRODUÇÃO

A ligação entre jornalismo, tecnologia e mobilidade é histórica e se desenvolve ao mesmo tempo em que se entrelaça com mudanças estruturais de sistemas sócio-técnicos, como os dispositivos móveis digitais da contemporaneidade. Sabemos que as dinâmicas sociais que acompanham as inovações das tecnologias de comunicação e informação projetam diversas mudanças e reestruturações na configuração dos meios de comunicação social. Neste sentido, interessa-nos tentar compreender a cultura da mobilidade e a sua aproximação com os processos de convergência associados ao jornalismo e suas práticas (apuração, produção, edição, distribuição). Esta pesquisa foi concebida em meio a esse contexto das discussões teórico-conceituais sobre a expansão da cultura da mobilidade e suas implicações nas mudanças estruturais nas práticas e reorientação do jornalismo. A inserção da mobilidade no jornalismo a partir dos smartphones tem permitido a emergência de novas práticas, modos de produção e de disponibilização da informação jornalística. A primeira grande novidade da Internet móvel para o jornalismo é que as pessoas passam a estar sempre e em toda parte ao alcance da notícia. É sob esse prisma que o chamado jornalismo móvel, enquanto atividade produzida com o auxílio de aparelhos celulares e/ou confeccionada para os mesmos dispositivos, é a manisfestação mais recente da reconfiguração do jornalismo em razão do desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação. O nosso foco para buscar entender o fenômeno foi estudar os aplicativos jornalísticos disponíveis para smartphones UOL Notícias, Estadão e O Globo Notícias. Acreditamos que os aplicativos são representativos e se tratam de uma tendência irreversível na comunicação móvel. São os apps que agora regem a nossa relação com a Internet e até se parecem com produtos midiáticos na medida em que “oferecem não apenas conteúdo original, mas também um conjunto de ferramentas e funcionalidades online que permitem aos consumidores ver, manipular e ampliar tais conteúdos numa miríade de possibilidades” (CARR, 2011, apud CORRÊA et BERTOCCHI, 2012). No primeiro capítulo, procuramos contextualizar o assunto dentro do novo paradigma tecnológico, localizando mudanças significativas na composição da revolução possibilitada pelas tecnologias da informação e da sociedade em rede. Entendemos que a comunicação

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móvel consiste em uma dessas reviravoltas tecnológicas, pois alterou substancialmente as formas de comunicação e sociabilidade. O uso social da ferramenta vai além da sua função básica de comunicação e passa a ter também funções de produtividade (calculadora, câmera fotográfica) e lazer (jogos, leitor de música). Apesar das inúmeras funcionalidades que os aparelhos celulares hoje possuem, o aspecto mais relevante de difusão e mais interessante para as ciências da comunicação é a união do celular com a Internet. Neste ponto o celular, primordialmente um dispositivo de comunicação individual, passa também a ser um meio de comunicação de massas, na medida em que com ele passamos a ter acesso à imprensa, à rádio e à televisão. Com o celular, a Internet torna-se móvel (FIDALGO e CANAVILHAS, 2009, p. 5).

Ainda no primeiro capítulo abordamos os aplicativos, objetos desta pesquisa, e apostamos que estamos diante de uma mudança de plataforma na Internet, uma transição para um modelo pós Web. O papel da Web na revolução digital está diminuindo progressivamente, pois este novo mundo utiliza plataformas semi-fechadas (os aplicativos) que usam a Internet como transporte e não possuem um browser como exibidor. O modelo iPhone de computação móvel é um dos incentivadores dessa mudança. O jornalismo absorve todas essas transformações e também faz uso de aplicativos para produzir notícias, por exemplo. O maior desafio, porém, reside em adaptar, diagramar ou desenvolver um conteúdo jornalístico específico para os apps, personalizar a experiência da leitura móvel ou, até mesmo, reinventar o formato da notícia. Tudo isto, é claro, aliado ao sucesso comercial da iniciativa móvel e ao aproveitamento do potencial que os aplicativos para smartphones trazem. O segundo capítulo é inicialmente dedicado ao jornalismo online, nascido nos anos 90 e construído para ser consumido a partir de computadores pessoais. O surgimento dos diversos tipos de jornalismo – digital, online, eletrônico, webjornalismo e ciberjornalismo – tem desafiado a sua conjuntura em níveis como “a primazia das notícias, o relacionamento entre o repórter e o leitor e o atual conjunto de habilidades do jornalista” (WARD, 2007, p. 28). Faz-se necessário caracterizá-lo porque o item seguinte, que aborda o jornalismo móvel, de certa forma é um desdobramento do online e também possui algumas aproximações com o gênero.

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Consideramos duas perspectivas ao falarmos do chamado jornalismo móvel: uma é a produção de conteúdo. Isto é, fazer uso do dispositivo móvel para produzir, editar ou postar a notícia. É quando repórter está em condição de mobilidade e realiza o seu trabalho jornalístico do local da notícia com o auxílio dos smartphones. São os mobile journalists ou MoJos. A outra perspectiva é a da difusão e recepção do conteúdo, que se trata do esforço em disponibilizar o conteúdo de forma direcionada aos celulares, fazendo adaptações ou criando conteúdo específico para o meio. É este último aspecto o foco da nossa pesquisa, que analisa três aplicativos jornalísticos em suas estruturas mobile com a pretensão de identificar e descrever aspectos materiais com foco em questões técnicas e de interface. O último capítulo traz os esforços empíricos, interpretativos e conclusivos da investigação. Para desenvolvê-la, consideramos que o jornalismo realizado em redes digitais e mídias móveis se trata de um desafio metodológico de pesquisa em razão da sua complexidade e multidimensionalidade. Assim, optamos por nos servir de uma proposta de aproximação interdisciplinar entre o jornalismo e a Arquitetura da Informação (AI). Elaboramos também categorias de análise para entender melhor quais são as características praticadas, emuladas ou reconfiguradas nas mídias móveis; que tipo de conteúdo é publicado e quais são as estratégias de mídia neste meio. O foco foi investigar a estrutura dos apps e não o seu conteúdo diretamente, apenas na medida em que se constitui como um elemento na estrutura do aplicativo.

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CAPÍTULO 1 – Internet, redes e comunicação móvel

1 .1 – Notas sobre a Sociedade em Rede

A fim de localizar apropriadamente o nosso objeto de pesquisa - como o jornalismo vem utilizando os aplicativos para smartphones e realizando a comunicação móvel - é necessário abordar as mudanças mais recentes na sociedade que garantiram a organização de um novo paradigma tecnológico e um mundo digital. Castells (2001) considera que os grandes avanços tecnológicos (fontes de energia, técnicas de produção, tecnologias de transporte) do final do século XX nos colocam diante de um evento histórico da mesma importância da Revolução Industrial, que altera significativamente as bases da economia, sociedade e cultura. Para o autor, a revolução atual diz respeito às tecnologias da informação, processamento e comunicação. Isto é, o que as novas fontes de energia (eletricidade, combustíveis fósseis e energia nuclear) significaram para as sucessivas Revoluções Industriais, a tecnologia da informação é para revolução atual. Esta transformação tecnológica se expande de maneira exponencial “em razão da sua capacidade de criar uma interface entre campos tecnológicos mediante uma linguagem digital comum na qual a informação é gerada, armazenada, recuperada, processada e transmitida” (CASTELLS, 2001, p. 50). Outra característica da atual revolução é a aplicação de conhecimentos e informação para a geração de mais conhecimento e de dispositivos de processamento da informação, gerando um ciclo de realimentação entre a inovação e o seu uso. Isto é, os usuários da tecnologia passaram a se apropriar dela e a redefini-la. “As novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos”, conclui Castells.

1.2 - Trajetória da transformação tecnológica A fim de contextualizar o nosso foco de pesquisa apropriadamente devemos nos lembrar brevemente dos principais acontecimentos da transformação tecnológica no que diz respeito à geração, processamento e transmissão da informação. Castells (2001) acredita que estas etapas da informação fizeram parte de um processo de instalação do paradigma da

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informação, considerando questões e conceitos como a convergência tecnológica, a lógica e o sistema de redes. De acordo com o autor, foi somente na década de 70 que houve o desenvolvimento e a ampla difusão das tecnologias de microeletrônica, computadores e telecomunicações. Pode-se dizer que “a Revolução da Tecnologia da Informação propriamente dita nasceu na década de 70” (2001, p. 64). Possibilitado pela invenção do transistor, o surgimento dos semicondutores se tratou de um passo importante para a microeletrônica pois a partir dele o circuito integrado, iniciativa essencial para o microprocessador, surgiu. Com a tecnologia de fabricação desses componentes acelerada, o serviço evoluía e os preços caíam. Em 1971, a Intel cria o microprocessador e, assim, a capacidade de processar informação passa a ter a sua instalação possível em todos os lugares. Por sua vez, mais avanços tecnológicos são realizados, os componentes se popularizam e tem seus preços reduzidos e as capacidades de integração, memória e a velocidade dos microprocessadores se desenvolvem exponencialmente. Esta situação de avanço da capacidade da computação segue até os dias atuais, pois desenvolvimentos em processamento quando combinados resultam neste progresso. Inclusive, “a miniaturização, a maior especialização e a queda dos preços dos chips de capacidade cada vez maior possibilitaram sua utilização em máquinas usadas em nossa rotina diária, de lavalouças e fornos de microondas a automóveis” (CASTELLS, 2001, p. 60). Já a história do computador tem início em 1946, com o surgimento do primeiro computador de uso geral, rebento da Segunda Guerra Mundial e patrocinado pelo exército norte-americano. A primeira versão comercial do novo aparelho surge em 1951 e a IBM cria a sua máquina em 1953. O que é interessante destacar quanto ao surgimento do computador é quando se inicia, de fato, a sua popularização para os “usuários comuns”, que se dá com o primeiro microcomputador de sucesso comercial, o Apple II, em 1977. O trunfo da Apple em anunciar a difusão do computador rendeu a marca de US$ 583 milhões em vendas em 1982, apenas seis anos após a fundação da empresa. A IBM reagiu e criou a sua versão de nome “computador pessoal” (PC) em 1981. Por sua vez, em 1984, a Apple novamente saiu na frente e lançou o Macintosh, que ambicionava ser de fácil utilização com uma tecnologia baseada em ícones e interfaces com o usuário, buscando ser de navegação minimamente intuitiva. Neste importante rumo de disseminação do computador para a população está a condição fundamental de haver um software adaptado a realizar operações de forma simples e

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compreensível para as pessoas. Este software surge a partir de Bill Gates e a fundação da Microsoft e é inserido no mercado de microcomputadores pessoais como um todo. Vale mencionar que, ao mesmo tempo, estavam ocorrendo avanços nas telecomunicações quanto às tecnologias de integração de computadores de rede (condição para a mobilidade e computadores portáteis), o surgimento de novos dispositivos mircroeletrônicos, tecnologias de transmissão e avanços em optoeletrônica (viabilizando a transmissão por fibra ótica e lasers). Tudo isto formando uma ilustração do que Castells chama de “relações sinérgicas da Revolução da Tecnologia da Informação”, em que cada avanço em um campo tecnológico específico amplifica os efeitos das tecnologias da informação conexas (CASTELLS, 2001, p. 62-63). Entretanto, o principal divisor tecnológico desta era começou a ser desenvolvido em 1969, também nos Estados Unidos. Tratou-se de uma nova e revolucionária rede eletrônica de comunicação que viria a se tornar a Internet e transformar o mundo de forma irreversível. A Internet é a responsável por ligar as redes e se constitui como espinha dorsal da comunicação mediada por computador (CMC). A Internet e a lógica da comunicação em rede criaram as condições tecnológicas para a comunicação horizontal global. Além disso, a configuração dessa tecnologia dificulta imensamente qualquer tipo de censura ou de controle. Como aponta Castells (2001), a Internet nasceu de uma mistura de estratégia militar, cooperação científica e inovação contracultural. Na sua origem está o trabalho da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada do Departamento de Defesa dos Estados Unidos (DARPA), que trabalhava, nos anos 50, na ideia de projetar um sistema de comunicação invulnerável a ataque nuclear. O que a equipe conseguiu obter foi uma rede independente de centros de comando e controle, na qual as mensagens iriam “viajar” e encontrar a sua rota de destino ao longo da rede para serem remontadas e lidas no final. Mais tarde, fundações de apoio à pesquisa e universidades investiram, investigaram e desenvolveram a rede e os componentes necessários para o seu funcionamento em nível global, como a capacidade de transmissão e sistemas operacionais. “Com isso, os computadores puderam não apenas comunicar, mas também codificar e decodificar pacotes de dados que viajavam em alta velocidade pela rede da Internet” (CASTELLS, 2001, p. 376). Assim, o sistema se expandiu e se tornou possível para qualquer lugar onde houvesse linhas telefônicas e computadores com modems.

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A Internet disponibilizou meios tecnológicos a qualquer pessoa com um pouco de conhecimento mais específico e um computador pessoal, o que logo iniciaria uma progressão simultânea de poder crescente e preço decrescente. Neste ponto relacionado à inovação contracultural, também vale destacar que existe um esforço constante e multifacetado para melhorar a Internet, o que a produtividade de cooperação tecnológica na rede conseguiu aperfeiçoar. Também permanece como herança dessa abordagem a informalidade e a capacidade auto-reguladora da rede. A Internet ganhou uma importante força na década de 90, pois as empresas perceberam o seu potencial e, assim, a sua comercialização teve início e cresceu em ritmo rápido. Havia interesse tanto comercial quanto governamental em que a rede se expandisse e este fator contribuiu para que a sociedade ficasse completamente imersa em um cenário tecnológico. Desde os avanços iniciais no Vale do Silício, as descobertas tecnológicas foram rapidamente se expandindo e dando espaço para o aparecimento de outras devido a uma dinâmica autônoma da descoberta, que é inerente à Era da Informação. Com isto, a sociedade tenta a se reaparelhar munida das novas tecnologias da informação para se servir do seu uso. O que sabemos é que a Internet e a comunicação mediada por computador modificaram definitivamente a estrutura da comunicação, na cultura de seus usuários e nos padrões de interação. Castells, que se refere à Internet como uma “ágora eletrônica global” (2001, p. 381), define três características inerentes à rede: penetrabilidade, descentralização multifacetada e flexibilidade. Ele ainda acrescenta as propriedades de interatividade e individualização tecnológica. De forma mais sistemática, o autor apresenta as características que seriam a base da sociedade da informação. A primeira delas é que a informação é a matéria-prima dos novos tempos, ou seja, a tecnologia age sobre a informação. Outro aspecto é a forte penetrabilidade das tecnologias, pois uma vez que a informação é parte de qualquer atividade humana, todos os nossos processos, individuais ou coletivos, são moldados pelos novos meios tecnológicos. Além disso, há as características da lógica e do sistema de redes. A lógica é necessária para “estruturar o não-estruturado” e se refere a um conjunto de relações com interações complexas e modelos imprevisíveis de desenvolvimento originados do poder criativo dessa interação. O sistema de redes diz respeito à flexibilidade, capacidade de reconfiguração e reversibilidade de processos, organizações e instituições na sociedade tecnológica. E, por fim,

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nova sociedade é dotada da convergência de tecnologias, que torna impossível de distinguir trajetórias tecnológicas separadamente, criando uma relação de interdependência. O exemplo é que a microeletrônica, as telecomunicações, os computadores e a optoeletrônica – áreas que, como vimos, se desenvolveram, prosperaram e reconfiguraram uma era – são todos integrados nos sistemas de informação.

1.3 - Comunicação móvel e apropriação social

Atualmente, é importante discutir a comunicação móvel, considerando que os telefones celulares passaram a ocupar um papel crucial no dia a dia contemporâneo. O que se percebe hoje é que os celulares penetraram na vida cotidiana das pessoas como um todo - os aparelhos deixaram de ser acessórios de luxo como nos anos 90 e se tornaram indispensáveis mesmo nas camadas sociais mais pobres - e alteraram substancialmente as formas de comunicação e sociabilidade. Fidalgo e Canavilhas (2009) observam que os celulares evoluíram para se tornar: a) Dispositivos de comunicação, voz e escrita, ou seja, suas primordiais funções básicas. b) Dispositivos de produtividade que substituíram os PDA1s ao terem também as funções de livro de endereços, calculadora, relógio e despertador, máquina fotográfica, agenda, etc. c) Dispositivos de lazer, com jogos, receptor de rádio FM e leitor de música. Recentemente, o Buzzfeed teve um insight elegeu as 30 coisas das quais não precisamos mais por causa dos smartphones - celulares com funcionalidades avançadas ou estendidas através de aplicativos e com capacidade de se conectar a redes WiFi. Esta lista2 nos lembra os objetos que deixamos de ter ou de utilizar de uma maneira “convencional” e passamos a fazê-lo no celular. São eles: telefone, lanterna, agenda telefônica, jornais, revistas, bússola, câmera, bloco de notas, gravador de voz, calculadora, relógio, relógio-calculadora, despertador, cronômetro, despertador de cozinha, correio, video-game portátil, mapas, GPS, enciclopédia, rádio, walkmen, loja de discos, páginas amarelas, menus de comida delivery, 1

A abreviação refere-se a “Assistente Pessoal Digital”, que seria um computador de dimensões reduzidas ou computador de mão. 2 “30 things you no longer need because of smartphones”: http://www.youtube.com/watch?v=HCowytZ0qV4#t=91. Acesso em: 11 de novembro de 2013.

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homem da previsão do tempo, álbum de fotos, capacidade de lembrar de tudo, tédio (porque o smartphone tem a capacidade de entreter das mais diversas formas) e conversas (porque quando não se tem vontade de socializar, o smartphone funciona como uma fuga, pois a pessoa aparente estar ocupada e indisponível). Porém, apesar das inúmeras funcionalidades que os aparelhos celulares hoje possuem, o aspecto mais relevante de difusão e mais interessante para as ciências da comunicação é a união do celular com a Internet, relação surgida aproximadamente em 2003. Neste ponto o celular, primordialmente um dispositivo de comunicação individual, passa também a ser um meio de comunicação de massas, na medida em que com ele passamos a ter acesso à imprensa, à rádio e à televisão. Com o celular, a Internet torna-se móvel (FIDALGO e CANAVILHAS, 2009, p. 5).

Até então, a Internet estava limitada pelas conexões por cabo (como as antigas discadas ou dial up, que eram realizadas através de uma linha telefônica) ou por áreas de cobertura sem fios ou Wi-Fi restritas a pontos domésticos, cafés ou universidades, por exemplo. O surgimento da tecnologia 3G, com lançamento massivo em 2008, foi fundamental para a otimização do acesso à Internet nos smartphones, pois promete velocidade de banda larga. Desde o início da sua oferta, a procura foi intensa e logo alcançou todas as capitais e grandes centros urbanos do Brasil. No momento, encontra-se em fase de implementação a quarta geração de telefonia móvel, a 4G, que é mais rápida e seria mais estável que a 3G. Investimentos em infraestrutura foram realizados e algumas cidades já possuem a tecnologia. O objetivo é realizar uma implantação mais rápida a fim de que o Brasil ofereça cobertura 4G na Copa do Mundo. Hoje, desde que haja cobertura de rede telefônica para celular, há acesso à Internet. É através do celular, com sua liberdade de movimentos, que a transmissão de dados passa a também ser móvel. Fidalgo e Canavilhas (2009) comentam que um estudo sobre o futuro da Internet afirma que, em 2020, os dispositivos móveis serão o principal meio de acesso à Internet e isto significa que a verdadeira massificação da Internet será feita através do celular. A previsão se mostra realista quando consideramos a impressionante difusão do aparelho em todo o mundo. A evolução do celular deu ao aparelho o estatuto de quarta tela, sendo as outras três, o cinema, a televisão e o computador.

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A comunicação sem fios se difundiu com maior rapidez do que qualquer outra tecnologia na história, sendo a telefonia móvel a que teve maior penetração. Um simples exemplo é o caso do Brasil, onde em 2003 o número de celulares ultrapassou o de telefones fixos, e o aumento de comunicações em 10 anos, de 1994 a 2004, foi de 8000% (CASTELLS, 2007, p. 34). Para Castells, mesmo com este aumento surpreendente, há no país algumas barreiras que impedem um crescimento ainda maior da adoção da tecnologia, como as desigualdades sociais e os seus elevados custos em relação a outros países. Ainda assim, os últimos dados da Anatel3 mostram que o país fechou o ano de 2013 com 271,10 milhões de linhas ativas na telefonia móvel, sendo que a banda larga móvel totalizou 103,11 milhões de acessos, dos quais 1,31 milhão de são terminais 4G. A predominância é de linhas pré-pagas (quase 80% do total). Com estes números, o Brasil é o sexto mercado em telefonia móvel no mundo e o primeiro da América Latina (CASTELLS, 2007). Uma pesquisa realizada por Claudia Quadros et al (2013) também demonstra a predileção das gerações Y (18 a 24 anos) e Z (10 a 17 anos) pelo celular, além de uma paixão pelas telas. É interessante analisar as preferências da juventude, pois ela personifica a mudança que as mídias estão trazendo e é, segundo Jenkins (in Quadros), a guardiã das práticas culturais. É por esta razão que os meios de comunicação estão cada vez mais preocupados com segmentos jovens da população, uma vez que os hábitos de consumo informativos tendem a se perpetuar na vida adulta. Para Castells (2007), são os jovens que buscam influências para mudar a sociedade ao invés de se adaptar a ela. Segundo Quadros, o hábito do jovem contemporâneo é caracterizado pelo consumo simultâneo de múltiplas mídias e “o celular é um dos dispositivos que viabiliza a convergência entre meios ao promover a junção de diversas possibilidades de comunicação” (QUADROS et al, 2013, p. 146). É por esta razão que ele é o dispositivo digital que tem se infiltrado mais rapidamente na vida desta geração, como podemos ver a seguir no quadro 2: Quadro 1 – Hábitos de consumo da juventude digital

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Fonte: http://www.anatel.gov.br/Portal/exibirPortalInternet.do. Acesso em: 28 de janeiro de 2014.

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Fonte: (QUADROS et al, 2013, p. 149).

É perceptível a importância que os aparelhos celulares conquistaram no cotidiano dos jovens. Enquanto a maioria dos brasileiros ainda consome a televisão, os jovens preferem o celular. Outro dado que chama a atenção é o fato de que para a Geração Y o celular é a plataforma mais utilizada e ultrapassou até mesmo o computador com acesso à Internet. Prova do crescente desejo de possuir um celular são os dados do Ibope sobre a efetiva compra de celulares, televisões e computadores e as intenções de compra no ano anterior dos mesmos objetos no Brasil e na América Latina. Destacamos aqui que no Brasil houve uma conversão de 258% no caso dos celulares, sendo que os números referentes aos computadores e televisões foi significativamente menor, como mostra a figura 1: Figura 1 – Intenções de compra e efetiva compra de aparelhos tecnológicos

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Fonte: Ibope – Um novo cenário para o consumo de mídia. Disponível em: http://www.ibope.com.br/pt-br/conhecimento/Infograficos/Paginas/Um-novo-cenario-para-oconsumo-de-midia.aspx. Acesso: 26/11/2013.

Todo este cenário de reconfiguração e difusão do telefone celular, as múltiplas possibilidades de consumir conteúdo, entretenimento ou notícia também tem transformado a forma de fazer jornalismo. Em tempos de convergência midiática o celular reconfigura: “(...) as práticas sociais de mobilidade informacional pelos espaços físicos das cidades. Trata-se da ampliação da conexão, dos vínculos comunitários, do controle sobre a gestão do seu espaço e tempo na fase pós-massiva da comunicação contemporânea” (LEMOS apud QUADROS et al, 2013, p. 150). A mobilidade faz com que surjam novas interações e estruturas no contexto das pessoas e das informações. O jornalismo, por sua vez, também herda essas transformações em seus processos e é forçado a ter o seu papel, perfil profissional e relação com a audiência redefinidos. A introdução das tecnologias da mobilidade caracteriza no âmbito das rotinas produtivas contemporâneas interferência no sentido de redimensionamento das funções exercidas, da dinâmica das narrativas construídas sob à égide da mobilidade e o surgimento de novos meios e

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modos de emissão ou de distribuição das notícias de forma expandida (SILVA, 2013, p.35).

Desta forma, estamos diante do chamado jornalismo móvel digital, que abordaremos no segundo capítulo. Para explorar esta mudança tecnológica em questão no jornalismo, focamos a pesquisa no trabalho desenvolvido pelo UOL no que concerne à sua presença jornalística e informacional através de aplicativos para os smartphones.

1.4 – Aplicativos

Os aplicativos se configuram como uma tendência irreversível na comunicação móvel e, por sua vez, têm sido utilizados pelas redações jornalísticas preocupadas em informar através da Web e dos smartphones. Com o boom do uso dos smartphones, passou a também existir um mercado e uma demanda muito grande em torno dos aplicativos, este mini-software direcionado à execução de determinadas tarefas. Em sua maioria, os apps, como são apelidados, são construídos a partir das tecnologias HTML, CSS, JavaScript e Objective-C e adquiridos, gratuitamente ou não, através da loja relacionada ao sistema operacional do celular, como a App Store (do sistema iOS, da Apple) e a Google Play (loja oficial do sistema Android). É importante lembrar que o nosso foco neste trabalho é o uso desta ferramenta nos smartphones, mas os aplicativos também podem ser utilizados no computador pessoal a partir da mesma lógica. Hoje, os aplicativos fazem parte, intrinsecamente, dos avanços nas tecnologias móveis, da alta taxa de penetração móvel na sociedade e já não mais detêm a exigência de que para saber fabricá-lo é necessário saber programar. Exemplo disso é o recém criado projeto do MIT, o AppInventor4. Trata-se de uma plataforma que coloca, ao alcance de todos, a possibilidade de criar aplicativos para celulares sem a necessidade de ter conhecimentos de programação, utilizando uma metodologia visual que facilita o desenvolvimento do aplicativo. Assim, a confecção dos aplicativos deixa de estar restrita a um pequeno grupo de entendidos de programação e o público mais geral passa a participar e a interagir com a nova tecnologia desde o seu início. De certa forma, esta inovadora iniciativa lembra os tempos em que mecanismos semelhantes foram criados para que “qualquer pessoa” também pudesse produzir um site na Web ou um blog para atender e alocar as suas próprias ideias.

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Visitar http://www.redunx.org/web/app-inventor-pt.

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Uma pesquisa5 do ConsumerLab, da empresa Ericsson, apontou as dez maiores tendências de consumo para 2014 e o posto de número um foi ocupado pelos aplicativos. De acordo com a análise, não só a Internet e os smartphones são responsáveis pelas mudanças em como a sociedade se comunica, mas também os aplicativos, que nos ajudam a transformar e a melhorar o nosso dia a dia. A pesquisa, realizada em São Paulo, Pequim, Nova Iorque, Londres e Tóquio, concluiu que os consumidores acreditam que os serviços móveis possibilitados pelos aplicativos influenciam na satisfação em realizar atividades como comprar, comer em restaurantes ou comunicar-se com autoridades. Em razão disto, os próprios usuários de smartphones prevêem que haverá um grande aumento de variados serviços e atividades possíveis de serem realizados através do celular (e suportados por aplicativos) nos próximos anos.

Figura 2 – Disponibilidade prevista de serviços móveis

Fonte: 10 Hot Consumer Trends 2014: http://www.ericsson.com/res/docs/2013/consumerlab/10-hot-consumer-trends-report-2014.pdf. Acesso em 12 de dezembro de 2013.

Utilizar os apps para realizar grande parte das atividades no mundo contemporâneo – aplicativos para o e-mail, redes sociais, jornais, agregadores de notícias, podcasts, comunicação, jogos – nos coloca diante de uma constatação. Quem a traz são Chris Anderson e Michael Wolff (2010), com o artigo “The Web Is Dead. Long Live the Internet”, que afirma que a Web está em declínio e os aplicativos é que agora regem a nossa relação com a Internet. Com 22 anos de existência, a Web não é integrante da revolução digital, pois este novo mundo utiliza plataformas semi-fechadas (aplicativos) que usam a Internet como transporte e não possuem um browser como exibidor. Para os autores, isto é trazido pelo modelo iPhone 5

Relatório disponível em: http://www.ericsson.com/res/docs/2013/consumerlab/10-hot-consumer-trendsreport-2014.pdf. Acesso em: 12 de dezembro de 2013.

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de computação móvel, pela mudança de HTML para XML (com maior amplitude no entendimento de diferentes linguagens), de JavaScript para Objective-C, mas principalmente pela mudança de comportamento do consumidor, que acha mais prático utilizar um aplicativo, que já contém as informações buscadas em vez de ainda ir procurá-las, e que se encaixa melhor na sua vida de forma móvel. Em resumo, “as much as we love the open, unfettered Web, we’re abandoning it for simpler, sleeker services that just work” (ANDERSON & WOLFF, 2010). Isto é, há quem aposte que estamos diante de uma “Pós Web-Page Era”, em que a relação antiga entre cliques, URL’s e páginas web está sendo desafiada. Para Hannes Lilljequist, da agência sueca Sthlm Connection, a “appificação” da web pode ser ilustrada da seguinte forma:

Figura 3 – Mudança entre os modelos de página web e aplicativos para a web

Fonte: The appification of the web. Disponível http://www.sthlmconnection.se/en/blog/appification-web. Acesso em: 11 de dezembro de 2013.

em:

O que a imagem mostra é a transformação do modelo clássico de website (à esquerda) para o modelo de aplicativo web (à direita), onde o usuário mais “alfabetizado nesse contexto” constrói a sua própria interface e puxa/envia dados de/para o servidor do aplicativo. Esta mudança traz vantagens na navegação e na experiência online, pois abre espaço para aplicativos mais interativos, com melhor resposta e mais focados no seu objetivo.

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The old static, portal type web page feels increasingly outdated. Instead, we are increasingly aiming for an online experience that has a clear goal and is both empowering and simple at the same time – an interface that exposes just the right information depending on the user’s context, and responds instantaneously and intelligently to user actions ( LILLJEQUIST,

2012). No que concerne ao jornalismo, tudo indica que as empresas jornalísticas deverão, cada vez mais, ter o seu conteúdo direcionado para os apps, acessíveis por dispositivos móveis, e que reduzem o peso de páginas web no celular. Além disso, para Nicholas Carr, os aplicativos possuem outras razões para continuar se disseminando no campo midiático:

Hoje, como resultado da computação em nuvem e de outros avanços, os apps se parecem muito com produtos midiáticos. Eles são sustentados por publicidade, aceitam assinaturas, são atualizados constantemente e o conteúdo que disponibilizam é tão importante quanto suas funcionalidades. (...) Oferecem não apenas conteúdo original, mas também um conjunto de ferramentas e funcionalidades online que permitem aos consumidores ver, manipular e ampliar tais conteúdos numa miríade de possibilidades (CARR, 2011, apud CORRÊA et BERTOCCHI, 2012).

Além de desenvolver e disponibilizar conteúdo a partir dos aplicativos, o jornalismo faz uso desse mecanismo também na fase de produção da notícia. Isto é, os repórteres fazem uso de aplicativos para capturar áudio, vídeo e imagem, fazem o upload de informação do local do fato ou de qualquer lugar fora da redação e realizam uma cobertura móvel – são os chamados mobile journalists, aos quais vamos nos dedicar mais adiante. O maior desafio, porém, reside em adaptar, diagramar ou desenvolver um conteúdo jornalístico específico para os apps, personalizar a experiência da leitura móvel ou, até mesmo, reinventar o formato da notícia. Tudo isto, é claro, aliado ao sucesso comercial da iniciativa móvel e ao aproveitamento do potencial que os aplicativos para smartphones trazem.

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CAPÍTULO 2 – Jornalismo online e jornalismo para smartphones

2.1 - Jornalismo Online

A Internet, mesmo em pouco tempo, foi capaz de mudar a forma como nos comunicamos, nos relacionamos com o mundo, nos expressamos, adquirimos conhecimento, apreendemos a realidade, etc. O jornalismo que, desde a criação da prensa gráfica, tem forte relação com as inovações tecnológicas, encontra também na Internet um meio promissor de se reinventar. O jornalismo praticado no ambiente digital possui uma nova configuração. Suas pautas, apuração, textos e apresentação diferem do jornalismo “convencional”. Inclusive, existem manuais6 específicos acerca das particularidades do jornalismo na Internet. O texto e o título das matérias devem ser produzidos de modo a contribuir com a navegação nos cibermeios, a necessidade da infografia multimídia deve ser avaliada, a hierarquização dos dados apresentados tem que ser refletida, entre outros exemplos. O surgimento dos diversos tipos de jornalismo – digital, online, eletrônico, webjornalismo e ciberjornalismo – tem desafiado a sua conjuntura em níveis como “a primazia das notícias, o relacionamento entre o repórter e o leitor e o atual conjunto de habilidades do jornalista” (WARD, 2007, p. 28). Considerando a existência de várias terminologias para a atividade jornalística produzida e pensada para a Web, é importante discorrer um pouco sobre elas e fazer adequadamente distinções para melhor compreendê-las. É importante lembrar que, apesar de várias pesquisas sobre o tema “jornalismo na Internet” terem sido feitas, a utilização das nomenclaturas se dá de forma confusa, muitas vezes como se se referissem a objetos iguais. As pesquisas norte-americanas utilizam mais os termos jornalismo online ou digital. Já as espanholas optam por falar em jornalismo eletrônico. Alguns pesquisadores já se dedicaram a estudos voltados para estabelecer definições de cada termo, mas as proposições nunca foram adotadas por todos consensualmente. Buscamos em Mielniczuk (2003) uma sistematização que toma como base os meios tecnológicos através dos quais as informações são trabalhadas. Bardoel e Deuze observam que esse viés é bastante importante quando tratamos da realidade da Internet: “In the context of

6

Ver “Manual de Laboratório de Jornalismo na Internet”, de Marcos Palacios e Beatriz Ribas.

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the Internet, a definition must have a technological dimension, since the practice of journalism online is in its essence hardly different from any kind of other journalism” (BARDOEL & DEUZE, 2001, p. 3). Portanto, este foi o fator determinante para elaborar uma definição de cada tipo de prática jornalística, conforme o quadro a seguir: Quadro 2: Nomenclaturas e definições sobre jornalismo no ambiente das novas tecnologias

Nomenclatura

Definição

Jornalismo eletrônico

utiliza de equipamentos e recursos eletrônicos

Jornalismo digital ou

emprega tecnologia digital, todo e qualquer procedimento que implica no tratamento de dados em forma de bits

Jornalismo multimídia Ciberjornalismo

envolve tecnologias que utilizam o ciberespaço

Jornalismo online

é desenvolvido utilizando tecnologias de transmissão de dados em rede e em tempo real

Webjornalismo

diz respeito à utilização de uma parte específica da Internet, que é a web

Fonte: Mielniczuk (2003, p. 4).

Primeiramente, o mais abrangente de todos é o jornalismo eletrônico porque sabemos que o jornalismo utiliza em termos de aparelhagem equipamentos de natureza eletrônica, quer sejam analógicos ou digitais. “Assim, ao utilizar aparelhagem eletrônica seja para a captura de informações, seja para a disseminação das mesmas, estaria-se exercendo o jornalismo eletrônico” (MIELNICZUK, 2003, p. 2-3). Por sua vez, dentro do âmbito eletrônico existe a tecnologia digital, que seria composta por câmeras fotográficas digitais, gravadores, ilhas de edição de imagem nãolineares, softwares, suportes de armazenamento de informação como CD’s, DVD’s, pendrives, HD’s, entre outros. É nesse ambiente que se pratica o jornalismo digital ou multimídia, que é exercido através dessa tecnologia apresentando interação com os consumidores do seu produto, a notícia. A principal característica é a possibilidade de manipulação de dados digitalizados de som, imagem e texto. O ciberjornalismo naturalmente está associado à ideia de ciberespaço, que consiste em um “espaço hipotético ou imaginário no qual se encontram imersos aqueles que pertencem

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ao mundo da eletrônica, da informática”. (MIELNICZUK, 2003, p. 3). Para André Lemos o ciberespaço pode ser visto como: o lugar onde estamos quando entramos num ambiente virtual (realidade virtual), e como o conjunto de redes de computadores, interligadas ou não, em todo o planeta (BBS, videotextos, Internet...). Estamos caminhando para uma interligação total dessas duas concepções do cyberespaço, pois as redes vão se interligar entre si. (...) (LEMOS apud MIELNICZUK, 2003, p. 3).

A definição básica de ciberespaço (LÉVY, 2009) engloba um lugar que não possui centro nem diretrizes ou conteúdo particular e que aceita todos ao mesmo tempo; um ambiente provido de integração e interconexão, que propicia estabelecimento de sistemas cada vez mais interdependentes, universais e transparentes. Segundo Levy, é: (...) o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de redes hertzianas e telefônicas clássicas), na medida em que transmitem informações. Consiste de uma realidade multidirecional, artificial ou virtual incorporada a uma rede global, sustentada por computadores que funcionam como meios de geração de acesso (LÉVY, 2009).

Inserido nessa configuração, o ciberjornalismo seria o tipo de jornalismo produzido com o auxílio de possibilidades tecnológicas existentes na cibernética ou no ciberespaço. “A utilização do computador para gerenciar um banco de dados na hora da elaboração de uma matéria é um exemplo da prática do ciberjornalismo”. (MIELNICZUK, 2003, p. 4). O jornalismo online está relacionado à ideia de conexão em tempo real, com fluxo de informações contínuo e praticamente instantâneo. A autora lembra que nem tudo que é digital é online, apesar de que o acesso e a transferência de dados online utilizam a tecnologia digital. Por fim, o webjornalismo diz respeito a uma parte mais específica da Internet, a Web, que, é responsável pela organização da informação e dos arquivos da rede mundial. A Web nos faz conhecer e ter acesso à Internet de uma maneira mais amigável, com interação entre páginas, hipertextos e possibilidade de identificação das páginas, por exemplo. É fundamental destacar que as categorias deste tipo de jornalismo não são excludentes ou rígidas. As práticas e os produtos elaborados por um determinado jornalismo podem perpassar e enquadrar-se ao mesmo tempo em distintas classificações. Inclusive, a rotina de um jornalista contemporâneo afinado com esta nova realidade contém atividades que se enquadram em todas as terminologias definidas.

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Figura 4: Esferas que ilustram a delimitação das terminologias

Fonte: Mielniczuk (2003, p. 5).

2.1.1 - Características-chave do jornalismo na Internet

Apesar da existência dos diferentes tipos de jornalismo apontados acima, o jornalismo exercido no ambiente da Internet possui quatro características-chave segundo Bardoel e Deuze (2001). Para os autores, são elas: convergência (ou multimidialidade), interatividade, customização do conteúdo e hipertextualidade. A interatividade é um item de grande destaque para os teóricos, pois as notícias online têm o potencial de fazer com que o leitor/usuário também exerça uma parte ativa da experiência de diversas maneiras: through direct or indirect e-mail exchange between the journalist or staff and the user, through a bulletin board system available on the newssite, through a ‘send your comments’-option box underneath each news story or, more recently, through Web chat possibilities (...) (BARDOEL & DEUZE, 2001, p. 5).

A customização do conteúdo também é uma característica de elementos relacionados à audiência. A customização está associada à “personalização” e à “individualização” do

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conteúdo. “This would not mean adapting the paper or the program to the perceived needs and wants of a faceless audience probed by marketing research firms. This means putting ajournalistic product together to cater for the individual citizen” (BARDOEL & DEUZE, 2001, p. 6). Isso poderia ser feito como no caso da CNN, que permite que o usuário monte a sua própria homepage, escolhendo os tópicos ou serviços que devem aparecer na página, por exemplo. Essa característica é de grande relevância nos serviços da Internet de uma maneira geral. O Google revelou oficialmente que pode utilizar as informações dos sites que costumamos visitar para nos oferecer pesquisas e anúncios publicitários mais direcionados e certeiros. Mesmo não se tratando de um caso jornalístico em si, podemos perceber a necessidade de um conteúdo personalizado para o usuário da Internet. A característica-chave da hipertextualidade permite que o jornalismo online insira hiperlinks para outros conteúdos com o objetivo de completar ou enriquecer o conteúdo original (no caso, uma notícia). Pode-se, em uma notícia sobre a ocorrência de um terremoto, por exemplo, adicionar links para outras páginas que tratem da explicação científica para a existência de terremotos, ou os maiores terremotos já ocorridos, etc. Nesse caso, caberá ao usuário ir mais além na sua leitura sobre o tema ou não. Já a convergência (ou multimidialidade) se refere à união, à concorrência dos formatos de mídia tradicionais – imagem, texto e som – para a história que é contada online. O grande trunfo, nesse caso, é a autonomia que é conferida ao usuário no momento de apreender a notícia. O indivíduo passa a ter a possibilidade de manejar imagem, texto e som: “the option to choose between the respective elements of the story and offers the journalist to ‘play around’ with these elements: every single story can have a different angle, a different way of telling the story” (BARDOEL & DEUZE, 2001, p. 7). Analisando estas características como um todo, os autores Bardoel e Deuze (2001) reforçam a ideia da transformação da relação entre jornalista e leitor/usuário a partir da nova realidade da interatividade e da participação. O jornalismo tradicional, hierárquico e paternalista é compelido a dar espaço à emancipação da audiência, formada por um tipo de usuário mais educado e evoluído que é agora consumidor e produtor dos conteúdos. “Journalism will become a profession that provides services not to collectives, but first and foremost to individuals, and not only in their capacity as citizens, but also as consumers, employees and clients”. (BARDOEL & DEUZE, 2001, p.10).

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Marcos Palacios (2002) também faz a sua contribuição em relação às especificidades do

jornalismo

online.

Para

ele,

são

seis

as

características-chave:

multimidialidade/convergência, interactividade, hipertextualidade, personalização, memória e actualização contínua. As quatro primeiras basicamente retomam os conceitos de Bardoel e Deuze, sendo “personalização” equivalente à “customização do conteúdo”. Sobre a memória, Palacios (2002) argumenta que a Web é um ambiente mais propício para que haja o acúmulo de informações do que em outras mídias. A quantidade de informação produzida anteriormente e disponível para o leitor é muito maior no jornalismo online. Na Web “abre-se a possibilidade de disponibilizar online toda informação anteriormente produzida e armazenada, através da criação de arquivos digitais, com sistemas sofisticados de indexação e recuperação da informação” (PALACIOS, 2002, p. 7). A partir da recuperação de arquivos através dos mecanismos de busca, com múltiplos cruzamentos de palavras-chave e datas, sem limitação de espaço para a quantidade de informação armazenada, com rapidez de acesso e alimentação do arquivo, o jornalismo na Internet passa a ter “a sua primeira forma de Memória Múltipla, Instantânea e Cumulativa” (PALACIOS, 2002, p. 7). Com todas essas possibilidades, Palacios acredita que a memória provoca uma ruptura em relação aos suportes midiáticos anteriores à Internet. A atualização contínua, que Palacios também chama de instantaneidade, diz respeito à rapidez que o usuário tem de acessar as informações, mas também à facilidade de produção e disponibilização do jornalista. Essa vantagem é propiciada pela digitalização da informação e pelas tecnologias telemáticas (conjunto de tecnologias de transmissão de dados possibilitado pelos recursos das telecomunicações). “Isso possibilita o acompanhamento contínuo em torno do desenvolvimento dos assuntos jornalísticos de maior interesse” (PALACIOS, 2002, p. 4). Essa característica-chave é mais fácil de ser percebida com as chamadas “Últimas Notícias” (breaking news), que a todo momento são atualizadas com os últimos acontecimentos. Acerca das seis características-chave, é importante ressaltar a observação de Palacios, que lembra que elas se tratam de potencialidades oferecidas pela Internet ao jornalismo desenvolvido neste ambiente:

(...) tais possibilidades abertas pelas Novas Tecnologias de (NTC) não se traduzem, necessariamente, em aspectos explorados pelos sites jornalísticos, quer por razões conveniência, adequação à natureza do produto oferecido

Comunicação efectivamente técnicas, de ou ainda por

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questões de aceitação do mercado consumidor. Estamos a falar, fundamentalmente, de potenciais que são utilizados, em maior ou menor escala, e de forma diferente, nos sites jornalísticos da Web (PALACIOS, 2002, p. 2).

2.1.2 - Gerações – etapas de desenvolvimento A fim de compreender melhor o processo de desenvolvimento do jornalismo na Internet, utilizamos a classificação de etapas de desenvolvimento de Pavlik, Silva Jr e Palacios, apresentada por Luciana Mielniczuk (2003). Logo de início devemos ressaltar que essas classificações não são rígidas e permitem uma visão relativizada: Não se trata de uma divisão estanque no tempo e tais categorias também não são excludentes entre si, ou seja, em um mesmo período de tempo, podemos encontrar publicações jornalísticas para a web que se enquadram em diferentes gerações e, em uma mesma publicação, podemos encontrar aspectos que remetem a gerações distintas (MIELNICZUK, 2003, p. 6).

Primeiramente, a autora apresenta o panorama elaborado por Pavlik, que divide as fases do webjornalismo em três fases. A primeira fase é quando há o domínio de um conteúdo produzido originalmente para um tipo de meio (que Pavlik chama de “modelo-mãe). Isto é, o material seria produzido, na verdade, para o jornal impresso, por exemplo. Já a segunda fase contaria com conteúdos produzidos voltados, de fato, para a rede. Os jornalistas, então, passam a utilizar hiperlinks para outros sites, algum recurso multimídia, como fotos e vídeos, e até “some customization of sites and information, where readers create their one own personal news categories, stock listings, and other content” (PAVLIK apud MIELNICZUK, 2003, p. 7). Enfim, na terceira fase a Web passa a ser percebida como um suporte que deve ser melhor aproveitado com conteúdos próprios. Assim, surgem os conteúdos noticiosos voltados especificamente para a Web, possibilitando novas formas de contar e ler histórias a partir na navegação multimídia. Como vimos, a classificação de Pavlik leva em consideração a questão do conteúdo no jornalismo desenvolvido na Internet. Já as etapas sugeridas por Silva Jr se baseiam em como são disseminadas as informações jornalísticas na rede. O seu “modelo” também é composto por três fases e baseado na observação do desenvolvimento dos sites dos jornais. A primeira delas é chamada “transpositiva”, quando os sites dos jornais seguiam exatamente a formatação e a organização do impresso, ou seja o jornal impresso era a referência primeira para o modelo online. O segundo nível de desenvolvimento é o “perceptivo”, quando alguns

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recursos das tecnologias de rede passam a ser aproveitados. “Nesse estágio, permanece o caráter transpositivo, posto que, por rotinas de automação da produção interna do conteúdo do jornal, há uma potencialização em relação aos textos produzidos para o impresso. Gerando o reaproveitamento para a versão online.” (SILVA JR. apud MIELNICZUK, 2003, p. 7). Porém, nesse momento, os jornalistas já percebem melhor a necessidade de uma adequação à rede. Por fim, a terceira fase trata-se da “hipermidiática”, que é um estágio mais recente onde há “o uso de recursos mais intensificado hipertextuais, a convergência entre suportes diferentes (multimodalidade) e a disseminação de um mesmo produto em várias plataformas e/ou serviços informativos”. (SILVA JR. apud MIELNICZUK, 2003, p. 7). Mielniczuk (2003) também se refere a um modelo de classificação utilizado em trabalhos de pesquisa do GJOL-FACOM/UFBA7, desenvolvido por Marcos Palacios. Nesta classificação o webjornal é levado em consideração a partir do seu produto. De acordo com a autora, dessa forma entende-se que a classificação pode ser expandida para a esfera da produção e disseminação das informações. Novamente, são três as etapas: Webjornalismo de primeira geração ou da fase da transposição – Trata-se de quando os produtos disponibilizados na Web eram simples cópias do jornais impressos. Ocorria apenas uma transferência do meio impresso para o digital. “Este parco material era atualizado a cada 24 horas, de acordo com o fechamento das edições do impresso” (MIELNICZUK, 2003, p. 8). Nesse momento, parecia não haver preocupação quanto às possibilidades oferecidas pela plataforma digital, uma vez que a apresentação das narrativas jornalísticas se dava da mesma maneira que no jornal impresso. Webjornalismo de segunda geração ou da fase da metáfora – É quando começa a haver um esforço para adequar, mesmo que minimamente, os produtos jornalísticos ao ambiente digital. Segundo a autora, isto se deve a um maior conhecimento e técnica a respeito da Internet. As interfaces dos produtos na Web são desenvolvidas tendo como ponto de partida o modelo do jornal impresso. Mesmo ainda muito atreladas ao jornal impresso, novas experiências começam a ganhar lugar tentando explorar as potencialidades da plataforma digital tais como:

(...) links com chamadas para notícias de fatos que acontecem no período entre as edições; o e-mail passa a ser utilizado como uma possibilidade de 7

Sobre Grupo de Pesquisa em Jornalismo Online (GJOL-FACOM/UFBA) ver o site www.facom.ufba.br/jol.

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comunicação entre jornalista e leitor ou entre os leitores, através de fóruns de debates; a elaboração das notícias passa a explorar os recursos oferecidos pelo hipertexto; surgem as seções ‘últimas notícias’(MIELNICZUK, 2003, p. 9)

Esta fase é constituída por jornais impressos que já eram detentores de credibilidade e rentabilidade, mas que decidiram também marcar território na Internet, que sempre se mostrou ser uma tendência na qual valia à pena apostar. Webjornalismo da terceira geração ou da fase da exploração das características do suporte Web – Neste momento, passam a existir as iniciativas editoriais e empresariais voltadas exclusivamente para o ambiente da Internet, buscando dar conta das suas especificidades. Começam a surgir sites jornalísticos sem vínculo com jornais impressos: Um dos primeiros e, talvez, principal exemplo desta situação (setor editorial unindo-se ao empresarial) seja a fusão entre a Microsoft e a NBC, uma empresa de informática e uma empresa jornalística de televisão, ocorrida em 1996 (Estado, 1997). O www.msnbc.com é um site de jornalismo mas que não surgiu como decorrência da tradição e da experiência do jornalismo impresso (MIELNICZUK, 2003, p. 9).

Neste estágio, o material jornalístico já apresenta, por exemplo: recursos em multimídia, como áudios e vídeos, recursos de interatividade, a partir de chats, enquetes e fóruns de discussão, opções de configuração para possibilitar a personalização do leitor, utilização do hipertexto como recurso para possibilitar diferentes narrativas jornalísticas, atualização contínua do site jornalístico como um todo e não só na seção de “últimas notícias”, entre outros. Com esta nova configuração, o jornal online contém mais abertura para a interação e a participação do leitor, assim como mais suportes e ferramentas para a construção dos materiais que vão para a rede. Webjornalismo de quarta geração ou de base de dados – Essa fase do webjornalismo parte dos pressupostos de que as atividades e os produtos do ciberjornalismo são estruturados em bases de dados, sendo que esta base também faz parte do fenômeno da convergência (BARBOSA, MIELNICZUK, LARRONDO, 2008). A quarta geração é caracterizada por um nível elevado de especialização das equipes de cibermeios e pelo trabalho multidisciplinar realizado entre as áreas de jornalismo e informática. De acordo com as autoras, o cenário envolve: acesso através de banda larga, proliferação de plataformas móveis, ampla adoção de recursos da Web 2.0, incorporação de sistemas que habilitam a participação efetiva do usuário na produção de peças informativas, produtos diferenciados

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criados e mantidos de modo automatizado, sites dinâmicos, narrativas multimídia, aplicação do tagging para a documentação, publicação e recuperação de informações, emergência do conceito de geolocalização de notícias, etc. Já os bancos de dados (BDs) são responsáveis por sustentar a produção e a distribuição dos conteúdos, integrar distintas plataformas (impresso, TV, rádio, Web, móveis, entre outras), além de armazenar, classificar, relacionar, recuperar e apresentar informações. O jornalismo digital em base de dados (JDBD): “é o modelo que tem as bases de dados como definidoras da estrutura e da organização, bem como da apresentação dos conteúdos de natureza jornalística, de acordo com funcionalidades e categorias específicas, que vão permitir a criação, a manutenção, a atualização, a disponibilização e a circulação de produtos jornalísticos digitais dinâmicos” (BARBOSA, MIELNICZUK, LARRONDO, 2008, p. 4).

2.1.3 – Jornalismo participativo O jornalismo tradicional tem sido vastamente influenciado por um ambiente que propicia a colaboração entre produtor e consumidor, a criatividade e a partilha de conteúdos. este cenário em que a participação é um dos elementos essenciais da cultura digital, o utilizador/consumidor surge como um ator ativo na semeadura de informação, deixando de ser meramente um receptor passivo, para se tornar um produtor de conteúdos. As pessoas, mesmo sem ser profissionais, são participantes que interagem, dotados de uma cultura participativa, se expressam e possuem comprometimento cívico com forte incentivo para a criação e partilha. Para Deuze (2006), o engajamento sempre existiu nas relações sociais, mas somente com o desenvolvimento da tecnologia foi possível que emergisse uma organização social com este elemento. Em resumo, temos três tipos de comportamento relacionados à participação, engajamento e bricolagem (no sentido de construção própria): In the proliferation and saturation of screen-based, networked and digital media proliferate and saturate our lives our reconstitution is expressed as: 1. active agents in the process of meaning-making (we become participants); 2. we adopt but at the same time modify, manipulate, and thus reform consensual ways of understanding reality (we engage in remediation); 3. we reflexively assemble our own particular versions of such reality (we are bricoleurs) (DEUZE, 2006, p. 8).

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De acordo com Primo e Träsel (2006), existem quatro fatores que favorecem o desenvolvimento do jornalismo participativo: a) Maior acesso à Internet e interfaces simplificadas para publicação e cooperação online: trata-se do fato da Internet estar mais intuitiva e fácil do que era antigamente; além do custo reduzido dos computadores pessoais e da presença de lan houses. b) Popularização e miniaturização de câmeras digitais e celulares: estes dispositivos facilitam imensamente o registro de imagens e vídeos e a divulgação de fatos mais próximos da ideia de tempo-real. c) A “filosofia hacker” como espírito de época: o pensamento de código livre desde o início da Internet esteve impregnado em seu desenvolvimento. Esta ideia de contribuição horizontal, de certa forma, foi absorvida pela lógica estrutural da rede e influenciou ideais jornalísticos, como o pensamento de que a informação é um bem coletivo e deve ser construído como tal. d) Insatisfação com os veículos jornalísticos e a herança da imprensa alternativa: os leitores, dotados de uma posição mais crítica quanto à mídia tradicional e enxergando problemas de qualidade no material jornalístico por razões políticas e empresariais, utilizam as “brechas” concedidas pela Web para se expressar. Definindo o que chamam de webjornalismo participativo como “práticas desenvolvidas em seções ou na totalidade de um periódico noticioso na Web, onde a fronteira entre produção e leitura de notícias não pode ser claramente demarcada ou não existe” (PRIMO e TRÄSEL, 2006, p. 10), Primo e Träsel percorrem uma questão importante sobre a caracterização desse “tipo” de jornalismo. A primeira diz respeito à noção de gatewatching em contraposição à de gatekeeping. Basicamente, esta ideia está relacionada à situação atual de existência de um grande fluxo de informações disponível em meio a uma enorme capacidade de armazenar essa quantidade de dados na Web. Somado a isso, emerge também o acesso facilitado às fontes primárias dos acontecimentos – o que fragilizaria relativamente a legitimação do jornalista enquanto mediador (PRIMO & TRÄSEL, 2006). Bruns (2011) acredita que como o jornalista não tem mais condições de fazer a curadoria tradicional (gatekeeping) da torrente de material noticioso e das vastas informações que teriam potencial de virar notícia, entra em cena o gatewatching, que permite ao jornalista:

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(...) participar em um esforço distribuído e folgadamente organizado de observar – de acompanhar – quais as informações que passam por estes canais; quais são os comunicados para imprensa que são feitos pelos atores públicos, quais são os relatórios que são publicados pelos pesquisadores acadêmicos ou pelas organizações da indústria, quais são as intervenções que são feitas pelos lobistas e políticos (BRUNS, 2011, p. 6).

Tal circunstância faria do gatekeeper, acostumado ao descarte próprio da lógica dos meios em que há limite de espaço, um gatewatcher, que teria sua atuação deslocada da coleta para a seleção de informações: um conceito personificado, por exemplo, na figura-geral do “blogueiro”. A partir dessa mudança, também cresceria a margem para ideias como a que afirma que a participação vem para cuidar dos espaços que não seriam alcançados pela “velha” mídia: seu papel principal seria “cobrir o vácuo deixado pela mídia tradicional” (PRIMO & TRÄSEL, 2006, p. 8). Afinal de contas, jornalistas simplesmente nunca terão a capilaridade que tem o seu próprio público – o qual, num ambiente descentralizado, ainda fiscalizaria e corrigiria as informações colocadas pelo veículo.

2.2 - Jornalismo móvel

A introdução da mobilidade no jornalismo a partir dos smartphones tem permitido a emergência de novas práticas, modos de produção e de disponibilização da informação jornalística. A primeira grande novidade da Internet móvel para o jornalismo é que as pessoas passam a estar sempre e em toda parte ao alcance da notícia. É sob esse prisma que o chamado jornalismo móvel, enquanto atividade produzida com o auxílio de aparelhos celulares e/ou confeccionada para os mesmos dispositivos, é a manisfestação mais recente da reconfiguração do jornalismo em razão do desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação. O que nos referimos aqui como “jornalismo móvel” ainda não teve o seu conceito expandido ou mais delimitado academicamente. Alguns autores definiram a atividade como “jornalismo de bolso”, “imprensa móvel”, “jornalismo digital móvel”, “jornalismo de notícia móvel” e “jornalismo móvel” (SILVA, 2008). Independentemente do prenome que dermos, o que devemos ter em mente é que o componente mobilidade abre espaço para uma nova perspectiva e que o jornalismo móvel não é necessariamente uma ponte do jornalismo multimídia. Além disso, convém considerarmos duas perspectivas para o entendimento desta prática:

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a) Difusão e recepção de conteúdo: trata-se do esforço em disponibilizar o conteúdo de forma direcionada aos celulares, fazendo adaptações ou criando conteúdo específico para o meio. As iniciativas ocorrem quando a empresa jornalística adapta o site do seu portal Web para encaixar na tela do celular, quando acessado através de um browser ou, mais interessante, quando cria um aplicativo para o acesso de notícias ou informações. Este é o foco deste trabalho, que analisa os aplicativos jornalísticos do UOL, Estadão e O Globo. b) Produção de conteúdo: refere-se a quando é o repórter que se encontra em condição de mobilidade e realiza o seu trabalho jornalístico do local da notícia com o auxílio dos smartphones. A esta perspectiva foi dada a alcunha de MoJo, um acrônimo de mobile journalism ou de mobile journalist. Dessa forma, quando nos referirmos a MoJo, estamos falando do jornalismo móvel voltado para a produção de conteúdo, apesar da tradução englobar as duas perspectivas. Estas duas perspectivas se complementam como esferas vinculadas ao jornalismo móvel de forma que uma é mais voltada para o profissional, que utiliza os aparatos tecnológicos móveis como ferramenta para criar e emitir notícias; enquanto a outra se refere à possibilidade de um conteúdo enquadrado no celular, por exemplo, e do acesso ao conteúdo informativo através de SMS, sites móveis ou aplicativos. Algumas nomenclaturas surgiram a respeito desta prática ainda em fase emergente. O quadro a seguir as traz expostas para nominar o fenômeno com suas proximidades terminológicas e iluminar a compreensão da influência dos dispositivos móveis no jornalismo contemporâneo. Quadro 3 – Nomenclaturas para jornalismo em mobilidade

Nomenclaturas para jornalismo em mobilidade Jornalismo 3G

Jornalismo de bolso

Especificidade do uso de modem com conexão 3G embarcado em notebooks, celulares ou smartphones para a produção de conteúdos. A tecnologia de terceira geração é o demarcadora do terreno. A prática caracteriza-se fortemente pela portabilidade dos dispositivos e o celular, que cabe no bolso ou na palma da mão, representa a principal ferramenta. Da mesma forma, conexão 3G ou 4G faz a

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Jornalismo de mochila

Jornalismo locativo [Jornalismo hiperlocal]

Jornalismo multimídia

Jornalismo drone

interface com as redes para disseminação da produção. Essa modalidade constitui-se do uso de mochilas para carregar notebooks, câmeras profissionais, gravadores digitais, microfones e outros acessórios que permitam uma cobertura completa em termos de uso de recursos de captação, edição e envio. Esta estratégia de produção é a mais antiga e já acontecia entre a década de 1960 e 1970 (DEUZE, 2007) com repórteres fotográficos. Na década de 1980 a TV Gazeta de São Paulo utilizou os “repórteres-abelhas”, como se denomina hoje os videorepórteres. Utiliza tecnologias móveis digitais para produção de conteúdos e mapeamentos. Evidencia-se exatamente pela demarcação da geolocalização do lugar da publicação gerando uma camada nova de informação através da combinação do GPS, da tecnologia móvel com 3G e do uso de mapas digitais como Google Maps. Portanto, “o lugar” ou “o local” são proeminentes na apropriação em termos do uso dos dispositivos. Neste sentido, as comunidades, o hiperlocal evidenciam-se como valor de noticiabilidade. Este termo, comum já na década de 1990, institui-se com duas acepções principais: 1. para nomear os jornalistas que atuem em um ou mais veículos de comunicação no sentido multiplataforma. 2. Assume um caráter multitarefa com habilidades de trabalho com vários dispositivos móveis e aplicações para gerar conteúdos multimídia (texto, audio, imagem, vídeo). Entretanto, essas funções podem ser exercidas sem necessariamente o repórter estar em condições de mobilidade, o que vai se diferenciar de jornalismo móvel. É uma nova modalidade, surgida principalmente em 2011, com a finalidade de realizar coberturas jornalísticas através de aeronaves não tripuladas, para captação de imagens aéreas de manifestações e de ambientes de difícil acesso. Em 2004, em Viena, já havia sido experimentado. O jornalismo drone se baseia mais em

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tecnologias de localização como GPS e câmeras digitais portáteis para captura de imagens do alto . É um trabalho baseado em conhecimento de hackers e ainda pouco disseminado. Jornalismo móvel digital é um sentido mais perene e que engloba, de alguma forma, todas as outras referências. Sua especificidade está na ampliação do trabalho jornalístico em condições de mobilidade a partir do uso de tecnologias móveis digitais conectadas. Favorece a apuração, a edição e o envio do material produzido diretamente do lugar do acontecimento através das redes sem fio disponíveis.

Jornalismo móvel

Fonte: (SILVA, 2013, p. 107).

Considerando que a informação noticiosa se concentra cada vez mais na Internet e que os acessos à rede são feitos, como vimos, cada vez mais a partir dos celulares, é cristalino entender que o acesso às notícias é e será feito cada vez mais a partir dos smartphones. Se a presença de uma empresa de comunicação na Internet se tornou trivial e, inclusive, inaugurou categorias de jornalismo (jornalismos digital, online, webjornalismo e ciberjornalismo), o mesmo parece já acontecer com versões online específicas para celular. Percebem-se esforços e apostas nas versões para celular por parte de vários órgãos de comunicação, seja por meio de versões acessíveis através dos browsers (Safari nos iPhones e Chrome, Firefox, Dolphin, etc nos de sistema Android) ou por aplicativos específicos, que são uma forte tendência. A partir dessa nova configuração, podemos nos utilizar da expressão que afirma que temos disponíveis “todos os jornais no bolso”. Graças à permanente conectividade à Internet, podemos dizer que, servindo-nos dos nossos celulares que transportamos sempre conosco, podemos aceder, em qualquer momento e em qualquer parte onde estejamos, a todos os jornais online (FIDALGO e CANAVILHAS, 2009, p. 13).

Podemos dizer que a primeira iniciativa voltada para os smartphones foi adaptar o conteúdo do tamanho da tela do computador para a tela do celular, ou seja, de 15 a 17 polegadas para, em média, 3,5 polegadas (que é o caso do iPhone). Inicialmente, em semelhança com o que aconteceu nos primórdios do jornalismo online, houve uma adaptação meramente da forma a fim de possibilitar o enquadramento na tela. Isto por si só já traz grande vantagem, pois une o conteúdo da versão impressa, que muitas vezes ainda é transposto para a versão online (totalidade), a instantaneidade inerente à versão online

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“tradicional” e a virtude da ubiquidade por oferecer a notícia de forma móvel, pois a promessa de uma informação atual e contínua se realiza efetivamente pela primeira vez. (FIDALGO e CANAVILHAS, 2009). Uma tecnologia que foi absorvida pelo jornalismo móvel foi oferecer o serviço de pull e push de notícias. Através dela, podemos consultar notícias por livre iniciativa (pull) ou por iniciativa do próprio aplicativo na forma de um aviso ou alarme (push). Assim, o consumidor altera a forma de receber notícias, algumas vezes optando pela consulta própria e outras por ser alertado sobre o que está acontecendo e que pode ser do seu interesse. É necessário ter em mente que o formato noticioso no jornalismo móvel tem, necessariamente, que ser curto pois, além do fator limitador do tamanho reduzido da tela, está a maneira com a qual os usuários consomem as notícias. A informação é recebida durante o que os autores Fidalgo e Canavilhas chamam de “fragmentação cotidiana dos indivíduos”. Isto é, as pessoas consultam as notícias e utilizam o smartphone durante momentos mortos de espera ou em intervalos entre atividades, por isto que este não é o meio mais apropriado para leituras longas, exibição de relatórios gráficos ou vídeos extensos. Outro ponto cuja necessidade já percebemos a partir do jornalismo na Internet é o compartilhamento e a tendência social das notícias e dos próprios aplicativos. As notícias são remediatizadas e recirculam na esfera social da Internet e constatamos que muitos leitores chegam à informação a partir da indicação de outros usuários, normalmente mais próximos da sua realidade. O forte caráter viral presente na Internet em que as pessoas repassam links, notícias, sugerem vídeos nas redes sociais tende a aumentar com a comunicação móvel, e o jornalismo precisa saber dar conta também desse desejo social dos indivíduos. 2.2.1 - A geolocalização como recurso nos smartphones Uma das mais significativas possibilidades do jornalismo para os smartphones é a mudança no contexto de produção e de recepção das notícias no âmbito da geolocalização, possibilitada pelo GPS e pelos aplicativos de mapas (Google Maps, Google Earth) disponíveis nos celulares inteligentes. Com isto, “os contextos culturais, linguísticos, religiosos, sociais e políticos da informação noticiosa ganham novos contornos com a identificação precisa de tempos e lugares (...)” (FIDALGO e CANAVILHAS, 2009, p. 17). Ao mudar de país, cidade ou até mesmo de bairro, os consumidores devem notar uma mudança no contexto de recepção

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da notícia e ter uma seleção diferente de informações contando com um claro novo item que impulsiona e melhora a capacidade de personalização da experiência de se informar. Partindo do mesmo recurso, a publicidade também pode se beneficiar bastante da geolocalização, sugerindo produtos e serviços mais certeiros ao consumidor. O e-commerce está cada vez mais focado em dispositivos móveis, pois as pessoas querem consumir de forma local, sob medida e em tempo real, para satisfazer uma necessidade imediata e específica. Iniciativas como o microtargeting, que consiste em identificar perfis de usuários e oferecerlhes experiências digitais de consumo contextualizadas e customizadas, desenvolvem novos recursos e ganham ainda mais território e importância. As características “social” e “localização” dos celulares já desenvolveram até uma relação de simbiose e foram apelidadas de So-Lo-Mo – a combinação de “social”, “local” e “mobile” – e vemos que mais do que nunca o mundo não existe sem isso. Tal conjuntura não se deve meramente à tecnologia, mas sim ao comportamento dos usuários, pois são as pessoas que se apropriam da tecnologia, compartilham, influenciam e são influenciadas, em uma rede de relacionamentos (social); dão mais importância ao que está ao seu alcance e que podem usufruir rapidamente (local); e querem tudo isso onde estiverem, na hora que desejarem, em uma ampla experiência totalmente conectada (mobile). O fator ‘geolocalização’ inaugura até uma tipologia referente ao tipo de jornalismo que pode ser exercido considerando este recurso, o chamado jornalismo locativo (SILVA, 2009). Ele nada mais é do que um jornalismo para ou construído com o uso de smartphones que utiliza tecnologias que permitem inserir tags de geolocalização disponibilizadas pelo GPS e aplicativos que demarquem o lugar. Assim, as notícias passam a retratar um contexto comunitário e a proximidade do leitor. Um exemplo que Silva nos traz é a parceria entre o Google e o The New York Times. Enquanto o Times disponibiliza as notícias, o Google oferece uma plataforma em que exibe as notícias geolocalizadas, possibilitando uma dinâmica que não seria possível no jornalismo tradicional. Mais que esta iniciativa, está a constatação de que já surgiu uma nova geração de aplicativos e softwares que utilizam a localização física como uma das grandes diferenças na comunicação móvel. Um exemplo é o aplicativo Twinkle, uma interface do Twitter para iPhone, que além de postar e ler os tweets normalmente, incorpora a função de listar os tweets

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de pessoas próximas ao usuário. A partir disso, a localização pode determinar o critério de leitura do conteúdo se o usuário assim desejar. Lançado em 2009, o Foursquare, o aplicativo mais popular no setor, consegue unir geolocalização, rede social e serviços úteis no mesmo pacote. Ele permite que o usuário faça check-in nos lugares aonde vai (que são identificados pelo GPS e pela triangulação por torre de celular), opine e dê dicas sobre estabelecimentos, veja onde os amigos têm ido e “curta” os seus status, poste fotos dos lugares que visitou, encontre cafés, lojas, restaurantes, museus e os mais variados estabelecimentos perto de si. Figura 5 – Pesquisa de restaurantes próximos no Foursquare

Fonte: captura própria em 28 de dezembro de 2013.

Com esta figura podemos entender melhor como funciona a busca geolocalizada do Foursquare juntamente com as interações dos amigos. Existe até mesmo um comentário que informa a senha da rede WiFi do restaurante que se encontrava mais próximo no momento da captura da tela. O empresariado e a publicidade já se utilizam razoavelmente do aplicativo. Promovem os seus estabelecimentos nas buscas e criam promoções como “faça o seu check-in, compartilhe nas redes sociais e tenha um desconto de 10%”, por exemplo. O jornalismo, por

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sua vez, tem feito uso do Foursquare mais na etapa de coleta de dados e produção da notícia, quando o jornalista exerce o papel de mobile journalist (MoJo), ao qual vamos nos ater mais a frente. Porém, já adianto que as possibilidades no caso do Foursquare são grandes: verificar quais lugares estão bombando em um determinado momento, pois um número alto de checksin em um lugar pode indicar um acontecimento jornalístico; encontrar fontes para a cobertura de um evento; encontrar fotos de um evento noticiável, etc. Os apps, que constituem uma realidade na forma como nos relacionamos com a Internet, passaram a incorporar o quesito da geolocalização nos serviços que já ofereciam (o Instagram passou a oferecer a possibilidade de tagear fotos, o Facebook a fazer o mesmo com postagens, etc) ou passaram a existir baseados nesta tarefa de localizar. É o caso de aplicativos voltados para serviços e utilidades, como o que tem a funcionalidade de chamar o táxi mais próximo (Taxijá), ou o que compartilha o tráfego em tempo real e informações como a ocorrência de blitz ou acidentes (Waze), ou até o que localiza o carro no estacionamento (ParkBuddy). Todos baseados na geolocalização. Aplicativos como o Google Now8 ou o Aviate9 (comprado pela Yahoo), seguem a mesma linha, mas tratam-se de assistentes pessoais inteligentes que têm como função organizar a rotina do usuário, mostrando previsões do tempo, trânsito e notícias de acordo com cada perfil. As ferramentas vão além de apenas mostrar as informações ao usuário e também tentam prever necessidades e fazer recomendações. O que podemos depreender é que agora que a questão geográfica passou a ser muito potencializada pela comunicação móvel em formatos nunca antes vistos, a localização se transformou em mais um elemento que imerge a sociedade em um ambiente de ubiquidade (PELLANDA, 2009). O autor conclui que relações entre pessoas, informações e espaços físicos foram conectadas de forma inédita. O tópico da conexão do espaço físico, com os dispositivos GPS, e a ligação always on dos aparelhos com a Internet representam uma mutação na ecologia midiática. Tratam-se de possibilidades que reformulam o próprio entendimento anterior do ciberespaço, onde a questão do espaço geográfico era um elemento ausente. A conexão dos espaços físicos e virtuais cria novos tipos de informações que potencializam os dois ambientes (PELLANDA, 2009, p. 96).

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Assistir: Introducing Google Now: http://www.youtube.com/watch?v=pPqliPzHYyc http://getaviate.com/

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2.2.2 – Mobile journalists A compreensão deste tópico envolve o conceito de jornalismo móvel no âmbito da produção de notícias. Trata-se do uso de tecnologias móveis digitais (tablets, netbooks, câmeras digitais ou, o nosso foco, smartphones), juntamente com a infraestrutura de conexão sem fio (WI-Fi, 3G, 4G, bluetooth), feito pelo repórter para executar as tarefas essenciais do jornalismo - apuração, produção, edição, compartilhamento - em condições de mobilidade (SILVA, 2013). A esta perspectiva foi dada a alcunha de MoJo, um acrônimo de mobile journalism ou de mobile journalist. Este tipo de jornalismo não é exclusivo do tempo presente em que vivemos, pois mesmo nas décadas de 60 e 70 a experiência da mobilidade foi realizada de maneira teleanalógica com o telégrafo sem fio, gravadores de rolo e câmeras portáteis da época. Inclusive, temos que lembrar que o trabalho de campo dos repórteres desde sempre foi altamente móvel. Porém, a evolução do gênero foi marcada pelos surgimentos da digitalização e de dispositivos tecnológicos como o notebook. Entretanto, só podemos falar em jornalismo móvel de fato a partir dos anos 2000, quando os aparelhos tecnológicos são combinados com redes sem fio ubíquas (Wi-Fi, 3G, etc). É importante sinalizar que foi apenas a partir daí que o jornalismo móvel digital foi consolidado na teoria e na prática. Agora, o MoJo continua em andamento e se beneficiando das tecnologias de alta velocidade (redes 4G, LTE) e de alta definição (full HD) e da popularização dos smartphones, que são lançados com crescente capacidade de processamento e com telas de diversos tamanhos. “Nesta conjuntura, a modalidade alcança seu desenvolvimento pleno e pode ser transposto para redes de televisão sem os problemas de transmissão até então verificados (baixa velocidade de conexão e de resolução de imagem)” (SILVA, 2013, p. 109). O jornalismo móvel desafia o modelo tradicional de produção de notícias na medida em que desencadeia novos processos vinculados à rotina produtiva, à relação com a audiência e o surgimento de novas práticas advindas da apropriação de gadgets no fazer jornalístico. Entendemos que esta prática pode representar mudanças na organização das empresas de comunicação, nas funções jornalísticas, nos conteúdos gerados e nos suportes de produção e disponiblização de notícias. Além disso, a introdução das tecnologias de comunicação móvel não afeta somente o processo de produção da notícia, mas até a percepção do que é notícia tanto pelos produtores quanto pelos consumidores.

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Segundo Firmino da Silva (2007), a partir de um ambiente móvel de produção – uma interface entre o espaço urbano e o espaço virtual -, é necessário que haja um rearranjo nas empresas de comunicação a fim de melhor operacionalizar os fluxos de trabalho. O autor aposta em uma organização de trabalho em que um profissional acumula uma série de funções como pauteiro, repórter, fotógrafo e editor em contraposição à divisão de trabalho que ocorre na rotina produtiva tradicional. É o que vemos no Quadro 3: Quadro 4 – Rotinas produtivas jornalísticas

Rotinas produtivas jornalísticas Tradicional

Contemporânea

Caracterização

Definição de funções

A produção jornalística baseia-se primariamente num ambiente estático com dependência da redação física para o desenvolvimento das atividades. Os equipamentos e material de apoio compreendem computadores de mesa, scanners de mesa, releases via fax, telefones fixos, dicionários e manuais de redação impressos A produção jornalística pode se basear num ambiente móvel caracterizado pelo uso intensivo de dispositivos móveis e conexões sem fio para acesso permanente ao ciberespaço e, consequentemente, a bancos de dados. As tecnologias utilizadas são Palm, smartphones, celulares, notebooks, cartões de memória, gravadores e câmeras digitais, GPS e outras. Outra característica é a mobilidade pelo espaço urbano e intensificação da relação híbrida do espaço

A produção é feita a partir de editorias (política, cultura) em que cada profissional exerce uma função jornalística específica como fotógrafo para fotos, repórter para as matérias, editor para a edição, diagramador para diagramação

A produção se concentra, basicamente, num único profissional que converge para si uma série de funções como repórter, pauteiro, editor, fotógrafo

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físico com o virtual Fonte: (SILVA, 2007, p. 7).

Hoje para auxiliar o trabalho do mobile journalist existem aplicativos – mais uma vez reforçando a influência e importância dessa forma de ligação com os dados e à Internet – que executam tarefas básicas da rotina e de processos do jornalismo. A câmera fotográfica foi substituída pela câmera do celular, o gravador de fita ou mesmo digital foi substituído por um aplicativo que grava e gere gravações, o livro preto de contatos pela agenda telefônica, bloco de notas ou post-it app dos smartphones, etc. Os desenvolvedores de aplicativos já atentaram até mesmo para o nicho existente de jornalistas mobile e atenderam suas demandas de ter uma rotina de trabalho facilitada. Figura 6 – Aplicativos que auxiliam mobile journalists (sistema Android)

Fonte: 13 Android apps for mobile journalists. Disponível em: http://thenextweb.com/apps/2011/08/05/13-android-apps-for-mobile-journalists/#!rh8sR. Acesso em: 30 de janeiro de 2013.

O primeiro aplicativo se trata de um simples gravador que promete gravações de qualidade e acesso simples e instantâneo aos arquivos, possibilitando o envio, a renomeação ou a deleção a partir de um só toque. Já o v-Recorder também é um gravador, mas a sua função é gravar conversas telefônicas, o que é muito útil considerando que várias entrevistas são realizadas via telefone. O terceiro aplicativo permite que o usuário ouça as informações da polícia, brigada de incêndio e alertas climáticos. Assim, se houver alguma breaking story acontecendo, pode-se chegar à cena mais rapidamente. Há também a possibilidade de ajustar

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as configurações de alerta para receber notificações sempre que muitas pessoas estiverem ouvindo um scanner em particular, pois pode ser uma indicação de que algo fora do comum está acontecendo. É bom advertir que a legalidade desta ferramenta depende da cidade onde é utilizada. A possibilidade de oferecer um conteúdo em diversos formatos (texto, áudio, vídeo, imagem) e, ainda, fazê-lo de maneira rápida, desafiando o conceito de tempo-real e de deadline é uma diferença fundamental no MoJo. A ambição pelo estreitamento do tempo necessário para a realização do trabalho jornalístico traz um fato revelador sobre como os efeitos de uma tecnologia são perceptíveis em uma determinada tarefa. Consideramos que um modo necessário de perceber os efeitos da tecnologia sobre ojornalismo é identificar como fatores de ordem técnica estabeleceram possibilidades e limitações no tempo da produção jornalística. Aspectos tecnológicos condicionaram o ritmo e a velocidade da produção em diferentes épocas do desenvolvimento do jornalismo. Este condicionamento não se resume a uma ideia contemporânea de produtividade e eficiência, mas se refere principalmente às possibilidades que os incipientes recursos técnicos estabeleciam para que a produção pudesse mesmo cumprir suas etapas, sua regularidade de circulação e sua busca de garantir o caráter recente das notícias (FRANCISCATO, 2005, p.48).

2.2.3 - Jornalismo participativo mobile

Para o jornalismo participativo, a popularização e a miniaturização de câmeras digitais e celulares por si só já se constitui em um elemento motivador do alargamento da participação do cidadão na Internet. Os aparelhos trazem a possibilidade de fazer fotos e vídeos de qualquer lugar e de maneira simples por qualquer pessoa e o jornalismo desenvolveu estratégias para aproveitar esse material digital gerado por pessoas que antes tinham a função de apenas leitoras e passaram a ser produtoras também. Além disso, os dispositivos móveis em sua configuração atual, dispondo de aplicativos próprios para realizar o envio de notícias (VC Globo.com ou O Globo Eu-Repórter) e conectados a partir de uma infraestrurura sem fio, impulsionam ainda mais esta modalidade de jornalismo. Dentro do jornalismo digital estas condições expandem a produção para lugares onde verdadeiramente acontece a notícia (o espaço urbano) e com a participação cada vez maior de repórteres cidadãos munidos com seus equipamentos portáteis. O app EuRepórter, em sua descrição na App Store, convida: “Buraco na rua? Reclame. Carro

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estacionado na calçada? Fotografe. Um momento inesquecível? Registre. Com o Eu-Repórter, você pode escrever, fotografar e enviar notícias para o Globo na hora em que acontecem”. Figura 7 – Aplicativo de O Globo voltado para os repórteres-cidadãos

Fonte: App Store.

Por haver múltiplos canais de participação do usuário com finalidades e estruturas diferentes em projetos colaborativos, abordamos aqui como enquadramento a perspectiva que poderíamos denominar de “jornalismo participativo móvel” por se constituir numa colaboração que, de qualquer forma, envolve dispositivo móvel no processo seja no envio do conteúdo, principalmente, na sua produção (SILVA, 2013, p. 145). Um fator interessante quanto ao jornalismo possibilitado por dispositivos móveis é que ambos, jornalistas e cidadãos, possuem basicamente condições semelhantes de produção. Mesmo smartphones ou netbooks de última geração podem fazer parte da organização jornalística e do inventário de usuários comuns. Da mesma forma que existe essa paridade de instrumentos, podemos dizer que os produtos advindos dessa atividade também possuem características e níveis semelhantes. Um jornalista e uma pessoa que usam um iPhone para tirar uma foto de um acidente ocorrido no trânsito, por exemplo, vão obter basicamente o mesmo produto com a mesma qualidade.

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CAPÍTULO 3 – Análise dos aplicativos UOL Notícias, Estadão e O Globo Notícias

3.1 - Metodologia

Sabemos que o jornalismo vem passando por mudanças em sua rotina, produção, apresentação de conteúdo ou no âmbito da recepção a partir do contexto da mobilidade. Essa conjuntura é composta de rearranjos de alcance e efeitos globais, típicos da sociedade contemporânea, e traz estruturas comunicacionais próprias e suportes midiáticos particulares. “Além disso, a própria possibilidade de acesso ubíquo acabou modificando o conteúdo publicado e as estratégias de mídia, principalmente nos casos de veículos nativos desse meio (...)” (FIGUEIREDO, 2013, p. 10). O smartphone pode oferecer experiências interacionais vastas e de diferentes modalidades. Levando-se em conta que boa parte das possibilidades seja observada e praticada na Internet, consideramos importante saber até que ponto elas são emuladas, absorvidas ou reconfiguradas nas mídias móveis. Interessa-nos analisar de que maneira o jornalismo feito para dispositivos móveis é realizado e em que medida aproveita os potenciais do suporte através do seu meio nativo, os aplicativos. Além da aposta de que estamos diante de uma mudança de plataforma (da Web 2.0 para a “Appification”), constata-se que desde o lançamento do iPhone, em 2007, diversos veículos de comunicação passaram a entrar para o mundo dos dispostitivos móveis, lançando sites mobile e aplicativos. “Assim como os blogues, o meio nativo da Web, surgiram com características pós-massivas (como a liberação a acentuada do polo de emissão), é possível que a mobilidade esteja no mesmo caminho, com novas formas de consumo e produção” (FIGUEIREDO, 2013, p. 11). Para desenvolver a investigação, consideramos que o jornalismo realizado em redes digitais e mídias móveis se trata de um desafio metodológico de pesquisa em razão da sua complexidade e multidimensionalidade. Estas razões são potencializadas pelo atravessamento da tecnologia pela atividade jornalística, o que garante uma estrutura ainda mais multifacetada. Dessa forma, optamos por nos servir de uma proposta de aproximação interdisciplinar entre o jornalismo e a Arquitetura da Informação (AI) conforme pesquisa desenvolvida por Franciscato e Pereira (2013), que está focada em resolver os problemas básicos de acesso e uso das vastas quantidades de informações disponíveis hoje.

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De acordo com Morville e Rosenfeld (2006, p. 4), a AI pode ser definida como: 1.

O design estrutural de ambientes de informação compartilhada.

2.

A combinação entre sistemas de organização, marcação, pesquisa e navegação incluídos nos sites web e intranets.

3.

A arte e ciência voltada para a construção de produtos da informação e experiências para apoiar a sua usabilidade.

4.

Uma disciplina e uma comunidade emergentes para a prática focada em promover princípios de design e arquitetura para o terreno digital. Segundo os autores, a Arquitetura da Informação é uma prática profissional e um

campo de estudos voltados para a resolução de problemas básicos de acesso e uso das vastas quantidades de informações disponíveis hoje. Um dos profissionais que poderiam exercer a função de arquiteto seriam os jornalistas, pois estão “treinados” a organizar a informação e a classificá-la de acordo com a sua importância. “(…) someone with a background in journalism might have a great sense of how this information could be best organized and delivered. Because of their writing experience, journalists are also good candidates for architecting sites that will have high levels of edited content” (MORVILLE, ROSENFELD, 2006, p. 19). A Arquitetura da Informação procura integrar, a partir do design, os elementos ‘usuário’, ‘conteúdo’ e ‘contexto’. Uma estrutura complexa seria capaz de dar conta desta tarefa e promover o que se chama de “information ecology”. Para tanto, é preciso que se entenda os objetivos em termos de negócio/business da empresa, ter consciência da natureza e do volume do conteúdo e, por fim, compreender as necessidades de busca de informação da audiência/usuários. A imagem a seguir desmonstra contextos em que a AI se insere. Figura 8 – Representação visual de conceitos da Arquitetura da Informação

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Fonte: (MORVILLE & ROSENFELD, 2006, p. 13).

A AI já foi utilizada algumas vezes como norte metodológico em pesquisas em comunicação. Franciscato e Pereira, que analisaram o G1 nacional e o G1 Sergipe sob esse prisma, acreditam que: (...) um dos fundamentos lógicos da Arquitetura da Informação é a adoção do estruturalismo como método por privilegiar a leitura da estrutura dos fenômenos e, dessa forma, indicar um modo de produção e interpretação dos processos comunicacionais na web. (...) o trabalho em AI situa-se na encruzilhada entre estudos de estrutura e de comportamento, demandando pensar a elaboração de “sistemas de pensamento”, em um desafio de promover uma profunda integração entre informação, pessoas e processos (FRANCISCATO, PEREIRA, 2013, p. 48).

Existem quatro caminhos básicos para a estruturação da Arquitetura da Informação para a web. Morville e Rosenfeld (2006, p. 43) fazem a exemplificação a partir do site de uma instituição de ensino (Gustavus Adolphus College, nos Estados Unidos): a) Sistemas de organização: Present the site’s information to us in a variety of ways, such as content categories that pertain to the entire campus or to specific audiences. b) Sistemas de navegação: Help users move through the content, such as the “A–Z Directory” and the “Go Quickly To...” menu of popular destinations. c) Sistemas de busca: Allow users to search the content. Here, the default is set to search the Gustavus site, but one could also search the Gustavus calendar, its directory, or the whole web from the site’s search interface.

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d) Sistemas de nomeação: Describe categories, options, and links in language that (hopefully) is meaningful to users; you’ll see examples throughout the page, some (e.g., “Admission”) more understandable than others (“Nobel Conference”). O nosso foco de pesquisa foi analisar as estruturas dos aplicativos mobile com a pretensão de identificar e descrever aspectos materiais com foco em questões técnicas e de interface. O objetivo foi obter, à luz da Arquitetura da Informação, um panorama geral das ferramentas e poder comparar os três aplicativos de notícias, além de clarear o entendimento sobre os possíveis itens que são necessários em um app jornalístico. A nossa intenção com a pesquisa é investigar a estrutura dos apps e não o seu conteúdo diretamente, apenas na medida em que se constitui como um elemento na estrutura do aplicativo. Isto é, o conteúdo aparece na pesquisa quando buscamos saber como ele é estruturado.

3.1.1 – Categorias de análise

Baseando-se em Figueiredo (2013), foram elaboradas categorias de análise para entender melhor quais são as características praticadas, emuladas ou reconfiguradas nas mídias móveis; que tipo de conteúdo é publicado e quais são as estratégias de mídia neste meio. Consideramos que as propostas do autor são pertinentes porque foram pensadas para investigar aplicativos de smartphones, um objeto novo, que ainda não possui metodologia específica. As categorias de análise descritas a seguir nos auxiliam a identificar e a descrever as características técnicas e materiais dos aplicativos de modo a obter um panorama geral das ferramentas e possibilitar a identificação sobre como o jornalismo vem sendo produzido para este meio. Figueiredo (2013), quando estuda aplicativos jornalísticos a fim de observar possibilidades tecnológicas interativas nas mídias móveis, utiliza as seguintes categorias para nortear sua análise: 

Versão e avaliação na App Store: a versão identifica em que atualização o aplicativo se encontra. As atualizações normalmente elevam o nível de evolução do produto com acréscimo de correções e novas funcionalidades. A avaliação corresponde à média da votação (1 a 5 estrelas) dos usuários na loja da Apple.

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Hyperlinks: trata-se de um elemento básico no jornalismo digital e pode direcionar o leitor para caminhos diversos de leitura, possibilitando novas relações com a informação. No caso dos smartphones, já imaginamos que o seu uso seja reduzido pela dificuldade em clicar utilizando o touchscreen em uma tela pequena.



Comentários: um item praticamente imprescindível em sites e blogs na Web, o espaço de publicação de opiniões destinado aos leitores marca do poder de participação do receptor na Internet.



Fotos e vídeos: a intenção deste item é localizar a presença e o uso de fotos e vídeos nos aplicativos.



Push notifications: ser alertado com notificações sonoras, ícones ou vibrações é uma funcionalidade de grande importância e de forte associação com as potencialidades da mobilidade. Este recurso “pode ser considerado um importante ator não-humano, já que ‘avisa’ o usuário quando uma notícia de última hora foi publicada, dispensando o acesso direto ao aplicativo” (FIGUEIREDO, 2013, p. 15). Levando-se em consideração que existem sinais de que o usuário tenderá a receber notícias personalizadas mais do que fazer o esforço de ir buscá-las, esta é uma funcionalidade promissora, pois o leitor nem precisa abrir o aplicativo em si (apenas se quiser ler a notícia recebida pela notificação).



Geolocalização: este item, como vimos, permite um diálogo entre espaço, usuário e mídia e se constitui como detentor de imenso potencial no caso das mídias móveis porque personaliza a experiência de consumir notícias e permite uma relação de integração maior entre o usuário e a cidade. Buscamos identificar nos aplicativos de que forma ela aparece, mesmo que não seja a partir das notícias, como veremos.



Personalização de editorias: a ferramenta é um importante recurso de personalização e permite ao usuário indicar a preferência quanto ao que vai ler. Ele pode eleger as editorias que lhe são interessantes e construir a sua própria “capa” ou “página inicial” do aplicativo de notícias com notícias apenas das editorias que previamente selecionou.

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Visualização horizontal: esta “forma de visualização” na verdade se trata da característica da auto-rotação. A maneira usual de utilizar o celular é fazê-lo verticalmente. A possibilidade de girar a tela é uma característica particular da comunicação móvel. No caso da leitura de notícias, permite que a leitura seja feita com linhas de texto maiores e menos quebradas.



Arquivamento de notícias: esta função é importante principalmente quando consideramos a forma com a qual utilizamos o celular para consumir notícias, normalmente em momentos mortos de espera. Dessa forma, os usuários podem marcar e selecionar notícias que querem ler depois, em um momento mais apropriado e com maior atenção.



Tamanho da fonte: a possibilidade de alterar as dimensões da fonte pode parecer um recurso trivial, mas pode ser significativo para utilizadores de smartphones com telas pequenas. O controle do tamanho da fonte não é novidade e é bem comum em websites para PC’s.



Compartilhamento: é detectável a forte tendência social que os aplicativos em geral possuem, mas as próprias notícias jornalísticas são remediatizadas e recirculam na Internet através do compartilhamento realizado pelos leitores. O caráter viral presente na Internet, praticamente pede – e para isso, também exige ferramentas – que os conteúdos sejam preparados para ser difundidos na rede. Por esta razão, buscamos nos apps a possibilidade de compartilhamento das notícias por e-mail e nas redes sociais (Facebook, Twitter, etc).



Previsão do tempo personalizada: trata-se da possibilidade de escolher a cidade que será mostrada nesta seção ou da detecção a partir da geolocalização da cidade onde o usuário se encontra para que tenha sua previsão do tempo exibida.

3.2 – Análise dos aplicativos

Esta parte do trabalho traz os esforços da pesquisa que foi realizada sobre os aplicativos de notícias UOL Notícias, Estadão e O Globo Notícias. Todos os aplicativos estão disponíveis gratuitamente para download, sendo que utilizamos na pesquisa o sistema operacional iOS, da Apple, e o instrumento foi iPhone. O trabalho foi construído para

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observar o jornalismo móvel sob a perspectiva da difusão e recepção do conteúdo. Isto é, o objetivo foi analisar de que forma e em que medida o conteúdo foi reorganizado ou produzido para o formato específico de aplicativo para smartphone e como ele se apresenta. A Figura 9 mostra uma captura de tela da “home” dos aplicativos. À primeira vista já podemos detectar semelhanças nas estruturas dos três apps. Todos possuem o nome no topo e centralizado; dois deles têm o botão de “refresh” ao lado do título; a previsão do tempo está localizada na parte superior da tela, antes das notícias; o Estadão e o O Globo Notícias mostram as cotações da Bolsa de Valores também na parte de cima, antes das notícias e em sistema de letreiro em rolagem lateral; as notícias estão na parte central dos aplicativos; a publicidade está exatamente no mesmo lugar em todos eles (abaixo das manchetes e acima do menu) e possui praticamente o mesmo tamanho de banner; e, por fim, o menu com estrutura também semelhante aparece na base dos aplicativos. Figura 9 – Visão geral dos aplicativos pesquisados

Fonte: captura própria em 8 de janeiro de 2014.

A tabela abaixo mostra aspectos relativamente abrangentes dos aplicativos pesquisados e nos oferece um panorama geral das funcionalidades praticadas. Em seguida, com efeito de análise, descrevemos como as categorias são contempladas, ou em que medida são desenvolvidas nos aplicativos. Evitaremos desenvolver uma análise dos itens “Versão” e “Avaliação na App Store” pela ausência de dados que pudessem indicar aspectos significativos dos objetos estudados, apenas deixamo-los identificados na pesquisa.

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Tabela 1 – Características estruturais dos aplicativos

Aplicativo Versão Avaliação na App Store Hyperlinks

UOL Notícias

Estadão

O Globo Notícias

1.2.20

2.4

1.6.4

1,5 estrela

2 estrelas

1,5 estrela x x

Comentários Fotos

x

Vídeos

x

Push Notifications

x

Geolocalização

x

Personalização de editorias Visualização horizontal Arquivamento de notícias Tamanho da fonte

x

x

x x

x x

x

x

x

x

x

Compartilhamento

x

x

x

Previsão do tempo personalizada

x

x

x

Fonte: pesquisa de campo

Descrição dos aplicativos móveis com base nas categorias de análise: a) Hyperlinks: só foram encontrados hyperlinks na página das notícias em O Globo Notícias, que, por sua vez, só tinham a finalidade de direcionar o leitor para notícias afins/relacionadas em vez de estar, de fato, no corpo da notícia - característica mais relacionada ao papel de promover diferentes caminhos de leitura. Outro agravante é o fato de que, ao clicar no link para uma notícia relacionada, o usuário é direcionado ao site mobile de O Globo, em vez de continuar no aplicativo da empresa. b) Comentários: apesar de ser um item praticamente imprescindível em sites e blogs na Web, o espaço de publicação de opiniões destinado aos leitores é incipiente nos aplicativos mobile. Dos três, apenas O Globo Notícias destinou esta seção ao final de cada notícia, mas durante toda a pesquisa, o item não funcionou, deixando de exibir e sem permitir a publicação dos

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comentários. Já o Estadão se relaciona com esta funcionalidade na seção de mais comentadas, em que apenas exibe os comentários das dez notícias mais comentadas. c) Fotos e vídeos: os três aplicativos possuem galerias de fotos e fotos integradas às notícias. Inclusive, todos dedicam uma seção ao acesso das notícias através das suas fotos. Já no caso dos vídeos, apenas o Estadão não possui a funcionalidade. d) Push notifications: este elemento foi detectado apenas no UOL Notícias, como mostra a Figura 10. Há um aviso sonoro de mensagem e aparece na tela do celular a manchete da notícia. O problema é que o aplicativo não permite personalizar sobre qual conteúdo o usuário irá receber as notificações de nenhuma forma, como, por exemplo, editorias (receber apenas notícias sobre economia) ou localização (receber avisos sobre notícias da sua região e realidade). O leitor recebe as push notifications de todas as notícias que a redação achar importantes. A única possibilidade de escolha que existe é apenas ativar ou desativar este serviço. Figura 10 – Push notifications do UOL Notícias

Fonte: captura própria em 8 de janeiro de 2014

e) Geolocalização: dentre os aplicativos analisados, o UOL Notícias e o Estadão são os que oferecem de alguma forma e medida este serviço. O UOL limita-se a detectar a localização do smartphone para configurar a previsão do tempo mostrada no aplicativo. Já o Estadão tenta oferecer um conteúdo geolocalizado disponibilizando um texto/resumo sobre pontos de

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interesse (centros culturais, pontos turísticos, praças, bibliotecas, etc) apenas da cidade de São Paulo. Este conteúdo está disponível no menu inferior, no ‘Acervo’. Figura 11 – Recurso de geolocalização no aplicativo Estadão

Fonte: captura própria em 8 de janeiro de 2014

f) Personalização de editorias: os aplicativos Estadão e O Globo Notícias são os que permitem escolher editorias de interesse e construir o que as empresas chamam de ‘Meu Globo’ e ‘Meu Estadão’. A ferramenta é um importante recurso de personalização, pois permite que o usuário selecione editorias de interesse e crie a sua própria “home” de notícias selecionadas. Figura 12 – Personalização de editorias no Estadão e no O Globo Notícias

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Fonte: captura própria em 24 de janeiro de 2014

g) Visualização horizontal: nenhum dos aplicativos pesquisados oferece a função da autorotação, o que permitiria que o leitor acessasse o conteúdo de forma horizontal, com frases mais longas e menos quebradas. h) Arquivamento de notícias: todos os aplicativos possuem este recurso, sendo que o UOL oferece a marcação com um ícone contendo uma setinha para baixo (depois elas podem ser encontradas no menu inferior, no sugestivo “Ler depois”); o Estadão a partir do botão “salvar” (que depois vão para a seção de “Favoritos”); e no O Globo Notícias a partir de “guardar” (encontradas depois na seção ‘Meu Globo’, juntamente com as editorias personalizadas salvas). i) Tamanho da fonte: dos aplicativos analisados, apenas o UOL Notícias não oferece esta possibilidade de alteração. j) Compartilhamento: os três aplicativos estão afinados com a necessidade de compartilhar socialmente a notícia e oferecem suporte para que o usuário espalhe o conteúdo por e-mail, Facebook ou Twitter, como vemos na Figura 13: Figura 13 – Compartilhamento de notícias nos três aplicativos pesquisados

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Fonte: captura própria em 24 de janeiro de 2014

k) Previsão do tempo personalizada: esta funcionalidade pode ser realizada de duas maneiras: uma é através da geolocalização, que é quando o smartphone e o aplicativo identificam automaticamente onde a pessoa está e já altera a previsão do tempo para esta localidade. Este é o caso do UOL Notícias. Já a outra forma é a possibilidade de o usuário manualmente alterar a cidade da previsão do tempo, escolhendo o local de onde quer receber a informação da previsão, seja onde ele se encontra ou não. É o que acontece com o Estadão e com o O Globo Notícias.

3.3 – Características e implicações dos aplicativos no jornalismo móvel

Iremos agora discutir as características apresentadas acima a partir de aspectos e desafios próprios do jornalismo digital, particularmente quando este estende-se para ferramentas de plataformas móveis:

3.3.1 – Abertura e fechamento da navegação nos aplicativos

Detectamos que os aplicativos possuem apenas uma pequena parte do conteúdo do site, com poucas notícias selecionadas e com muito menos recursos que os seus portais Web. Isto é, ele reduz a capacidade de acesso ao conjunto de conteúdo disponível na Internet. Além disso, os apps de certa forma “fecham” a navegação do usuário quando consideramos a maneira restrita com a qual ele direciona o acesso aos dados e à informação. Por outro lado,

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expandem em termos de mobilidade porque operam no smartphone, que finalmente garante o acesso à notícia de qualquer lugar (com rede), como discutimos no trabalho.

3.3.2 – Hipertextualidade em baixa

A hipertextualidade, que é um três dos elementos-chave do jornalismo online (junto à multimidialidade e à interatividade), parece perder força no jornalismo móvel. A expansão que o hipertexto traz em termos de maximizar possibilidades de leitura e promover um rompimento com uma seqüencialidade pré-estabelecida, deixando em aberto o final da narração, praticamente deixa de existir nestes aplicativos para jornalismo móvel.

3.3.3 – Sistema de busca: banco de dados e indexação

Notamos também que os aplicativos não possuem um sistema de buscas que pudesse oferecer acesso e a possibilidade de consulta a notícias anteriores. Não há o armazenamento das notícias em um banco de dados e tampouco capacidade de indexação. O jornalismo em banco de dados, como apresentamos, se constitui na quarta e mais recente fase do jornalismo online. O sistema de banco de dados característico da quarta geração é importante porque permite um uso contínuo do arquivo de notícias como parte da sua construção narrativa. É graças à capacidade de indexação do material pregresso que se torna possível montar um sistema baseado em armazenamento de toda a informação jornalística e depois recuperá-la, garantindo uma forma de consultar e resgatar dados na medida das necessidades. No caso dos apps esta funcionalidade não foi considerada a mais adequada ou mais urgente no momento.

3.3.4 – Os apps como prolongamentos dos sites

Os aplicativos de notícias pesquisados parecem funcionar como prolongamentos dos portais de notícias aos quais são vinculados. O conteúdo dos sites passa por uma seleção e então segue reduzido para os apps, assim como nem todas as editorias e menus são transpostos para a mídia móvel. Tivemos a impressão de que os aplicativos não são autônomos e vem embutida a ideia de se o leitor quiser mais informações, mais navegação, interação e até mesmo diferentes editorias, deve recorrer ao site para uma experiência mais completa.

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Em termos de estrutura, os aplicativos quando comparados aos portais “de origem” têm sistemas de organização e nomeação semelhantes. Já os fluxos de navegação, a disposição espacial e a concepção visual são completamente diferentes. Neste sentido, apenas a logomarca é que ajuda a identificar a ligação entre portal e app.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa permitiu observar que parte das funcionalidades intrínsecas ao jornalismo digital é reduzida, simplificada ou desaparece nos aplicativos para a comunicação móvel. É o caso da hipertextualidade, que quase não se apresenta, ou do sistema de busca, que é inexistente. Os comentários, elemento básico de participação do leitor e de interatividade (item-chave do jornalismo online), também foram suprimidos. Há também uma clara redução do conteúdo e do número de notícias quando comparados aos sites Web das empresas jornalíticas. Acreditamos que todas essas abreviações referentes às funcionalidades e ao conteúdo são feitas em razão das características de formato do smartphone como instrumento tecnológico e do seu uso social. Parece-nos que quando a mobilidade inerente ao celular facilita e amplia o acesso à notícia, realmente passa a existir uma implicação da limitação da informação e os editores selecionam uma parte do conteúdo que consideram essencial para o usuário móvel. Sabemos que não faz sentido apresentar um conteúdo tão vasto ou notícias extensas, com infográficos ou diversos percursos de leitura a este tipo de usuário, que lê através de uma telinha no trajeto do ônibus ou no consultório médico. As reduções também fazem sentido quando consideramos os sistemas operacionais e a capacidade de processamento dos smartphones – mais simples e menos potentes comparados aos dos computadores. Por outro lado, existem os novos recursos possibilitados e quase exclusivos dos dispositivos digitais móveis. É o caso das push notifications, da geolocalização e da autorotação. Todas as funcionalidades ainda engatinham nos apps pesquisados e provavelmente irão se desenvolver e ser melhor exploradas, tal qual o caso de evolução do jornalismo online. As notificações por push possuem grande potencial se personalizadas, pois é cada vez mais comum as pessoas se informarem a partir de “assinaturas” que vão compondo um feed de notícias. Outra tendência são os agregadores de notícias como o Flipboard10, que compilam informações selecionadas para o usuário. Dessa forma, receber as notificações sem precisar ir até o aplicativo parece ser uma funcionalidade promissora. A geolocalização é uma das grandes possibilidades dos smartphones e do jornalismo móvel, pois “permite um diálogo entre espaço, usuário e mídia” (FIGUEIREDO, 2013, p. 15),

10

Meet Flipboard: http://youtu.be/v2vpvEDS00o. Acesso em: 27 de janeiro de 2014.

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além de ser um importante recurso de personalização. Em vez de apenas fazer uso da geolocalização para mudar automaticamente a cidade da previsão do tempo, as empresas jornalísticas devem tentar mudar contexto de recepção da notícia ao oferecer uma seleção diferente de informações a partir desta funcionalidade. Aliar geolocalização com conhecimento dos hábitos e preferências do usuário também pode garantir grandes mudanças em termos de personalização, a exemplo do Google Now11, que “aprende” como funciona a rotina do usuário para fornecer informações mais certeiras e úteis. Percebemos que os aplicativos se apresentam como uma extensão, um complemento do acesso aos portais jornalísticos. Trata-se de um produto mais simples produzido para um usuário que utiliza o suporte tecnológico e consome notícias de uma maneira particular. Não sabemos se a intenção é de que o consumidor depois retorne ao portal de notícias em busca de uma informação e navegação mais completas ou se esta formatação presente nos aplicativos é um indicador de mudanças no produto jornalístico, considerando os perfis e desejos do usuário pelo que parece ser uma informação fácil e singela. Acreditamos que supressões como as que foram feitas muitas vezes são válidas a fim de construir um produto mais condizente com o suporte para o qual é fabricado. No mesmo sentido, é preciso pensar e desenvolver formatos que aproveitem ao máximo os recursos dos dispositivos móveis. Ao mesmo tempo, também é necessário refletir a respeito de possíveis transformações no modo de fazer jornalismo a fim de entender seus fenômenos e as condições em que a sociedade e a comunicação se reconfiguram. O uso dos smartphones e o surgimento do modelo baseado em aplicativos já demonstram que mudanças profundas são vivenciadas. Este trabalho buscou contribuir um pouco neste sentido, pois interessa-nos entender os impactos, oportunidades e implicações que estão tomando forma na cultura contemporânea.

11

http://www.google.com/landing/now/

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