Jornalismo, Meio Ambiente e Posicionamento Corporativo: Estudo das reportagens sobre o novo Código Florestal brasileiro no Jornal do Comércio de Porto Alegre

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5º Congresso de Estudantes de Pós-graduação em Comunicação – UFF | UFRJ | UERJ | PUC-RIO Universidade Federal Fluminense, Niterói. 24 a 26 de outubro de 2012.

Jornalismo, Meio Ambiente e Posicionamento Corporativo Estudo das reportagens sobre o novo Código Florestal brasileiro no Jornal do Comércio de Porto Alegre 1

Débora Gallas Steigleder

Resumo Este trabalho analisa as reportagens do periódico gaúcho Jornal do Comércio sobre o novo Código Florestal brasileiro. Objetiva verificar se o meio de comunicação estudado considera os princípios do Jornalismo Ambiental. Apresenta como objetivos específicos as análises dos critérios de noticiabilidade, das fontes e do grau de comprometimento com o interesse público presentes nas reportagens selecionadas. Utiliza como método a Análise Descritiva. Identifica poucos preceitos do Jornalismo Ambiental entre o conteúdo analisado. Conclui sugerindo que o veículo adote mudança de paradigma a fim de se adaptar à prática de conscientização do público. Palavras-chave Jornalismo Ambiental; Código Florestal; Jornal do Comércio; Critérios de Noticiabilidade.

Introdução

Este artigo foi elaborado tendo por base o trabalho de conclusão de curso em jornalismo intitulado “O Meio Ambiente na Visão Mercadológica: Análise dos critérios de noticiabilidade em reportagens sobre o novo Código Florestal Brasileiro no Jornal do Comércio”. A continuidade da vida na Terra depende de práticas sustentáveis. Somente a preservação dos bens naturais pode perpetuar o equilíbrio das relações entre os seres que habitam esse Planeta. Como instrumento de conscientização social e de promoção da cidadania, o jornalismo deve estar engajado na conservação ambiental. Cientes dessa função social do jornalismo, estudamos a abordagem do periódico portoalegrense Jornal do Comércio sobre o novo Código Florestal brasileiro. Nossa escolha 1

Graduada em Comunicação Social - Habilitação Jornalismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em julho de 2012 www.conecorio.org

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pelo veículo justifica-se por todas as reportagens sobre o assunto estarem na editoria de Economia. Sabendo que o próprio Jornal do Comércio denomina-se um periódico voltado ao empresariado gaúcho, temos como objetivo averiguar se há direcionamento da informação para esse público. Para isso, utilizamos os preceitos do Jornalismo Ambiental – prática que visa à clarificação sobre as iniciativas que são prejudiciais à Terra e a todas as formas de vida que ela abrange. Assim, o estudo se justifica pela missão do veículo de informar a sociedade independentemente do posicionamento ideológico de seus leitores, envolvidos com as atividades do mercado financeiro. A pesquisa, portanto, procurou responder os seguintes questionamentos: os interesses econômicos do público-alvo do jornal se sobrepõem ao trabalho de conscientização que o veículo deve apresentar à sociedade? Nesse sentido, o jornal aborda as consequências ambientais da aprovação de uma nova legislação florestal para o País? Como objetivos específicos, identificamos os critérios de noticiabilidade e as fontes presentes em cada matéria, os discursos mais recorrentes e o grau de interesse público observado nas reportagens. Focamo-nos no desenrolar da discussão sobre o Código Florestal em 2011, ano em que o texto tramitou na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. A mudança foi proposta pelo Deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), e acentuou disputas entre ruralistas e ambientalistas. Por provocar conflitos políticos e econômicos e por ameaçar os ecossistemas brasileiros, decidimos analisar a cobertura jornalística sobre a proposta. Os resultados da pesquisa são expressos de forma qualitativa, através da Análise Descritiva. Nosso estudo é realizado à luz das teorias do Jornalismo Ambiental e do pensamento complexo, que defendem que todas as formas de vida estão interligadas e fazem parte de um contexto – e o jornalismo, portanto, não pode ignorar essa constante interação que produz vida. Da mesma forma, também buscamos compreender a ética na conduta de profissionais do campo jornalístico e das empresas de comunicação frente à missão do jornalismo de informar e formar cidadãos com autonomia e conhecimento sobre a realidade de seu lar, o planeta.

Notícia, a construção social da realidade

O jornalismo é uma atividade socialmente legitimada a interpretar a realidade através de códigos que sejam reconhecidos pelo público. Para tanto, o jornalista deve se comprometer com a integridade da informação sobre os fatos que narra. www.conecorio.org

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A atividade jornalística produz uma construção social da realidade. Para Traquina, as notícias são resultantes de “[...] processos de interação social entre jornalistas, entre os jornalistas e a sociedade, e entre os jornalistas e as suas fontes de informação” (TRAQUINA, 2004, p.63). Giradi e Massierer (2008, p.5) também ressaltam que os jornalistas são “participantes ativos na construção da realidade”, e não apenas observadores dos fatos. Apesar do posicionamento editorial do veículo para o qual trabalha, o profissional desse campo, então, tem autonomia para buscar a justiça social. Assim, a incapacidade de isenção do jornalismo não lhe retira a responsabilidade em conscientizar. O profissional e a empresa de comunicação devem seguir uma conduta de valorização do interesse público, finalidade da atuação no campo jornalístico.

O papel dos construtores da informação

O alcance dos meios de comunicação permite que, hoje, esses veículos sejam intermediários entre os atores de acontecimentos cotidianos e a opinião pública. Tal visibilidade proporcionada pela imprensa aumenta as cobranças sobre os produtores da informação por relatos fidedignos. Comumente relacionamos o jornalismo a conceitos como objetividade, imparcialidade e neutralidade (FRANCISCATO, 2002, p.2) e o definimos como um porta-voz da opinião pública. Isso porque a atividade jornalística mantém “[...] um compromisso ético com uma ideia de verdade do real” [2] (FRANCISCATO, 2002, p.3). Traquina (2001, p.69) relaciona tal percepção à teoria do espelho, em voga no início do século XX, segundo a qual as notícias refletem diretamente a realidade e que os jornalistas são “[...] simples mediadores que ‘reproduzem’ o acontecimento na notícia” (TRAQUINA, 2001, p.69). O autor (Id.) ressalta que esse conceito é insuficiente e limitado, embora, até hoje, mantenha-se a crença social na credibilidade absoluta do jornalismo por ele acompanhar o desenvolvimento da sociedade: “Estar imerso em um contexto espaço-temporal concreto significa também um vínculo do jornalismo a processos sociais amplos e históricos” (FRANCISCATO, 2002, p.3). Traquina (2004, p.42) traça um paralelo entre o jornalismo e a liberdade, relacionando-o com a manutenção da democracia, uma vez que possui duas liberdades: a positiva, na qual o jornalismo se expressa como ferramenta de ligação entre o poder e o

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Grafia atualizada de acordo com o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. www.conecorio.org

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público, e a negativa, em que protege a sociedade de abusos dos poderosos. Lage (2001, p.21) endossa que a imprensa originou-se de uma necessidade social, e não da simples acessibilidade técnica. Ou seja, as lutas políticas observadas durante a Idade Moderna culminaram na criação de um instrumento de expressão ideológica (TRAQUINA, 2004, p.50). A seguir, destacamos a atuação de profissionais e das empresas jornalísticas para as quais trabalham na manutenção da ética na transmissão de conteúdos de interesse público.

O ethos jornalístico

A atividade jornalística é baseada em limites éticos compartilhados entre os profissionais. Por transmitirem conhecimento através de sua produção, os jornalistas devem se adequar a tais normas de atuação a fim de atenderem as expectativas da opinião pública. O jornalismo é um serviço público por possuir uma série de responsabilidades na manutenção da democracia (TRAQUINA, 2004, p.128).Como as informações que transmitem são de grande interesse social, os jornalistas devem atuar de acordo com uma deontologia identificada com a luta pela liberdade de expressão do pensamento (LAGE, 2001, p.25). A sociedade reconhece esse papel do jornalista para o funcionamento do sistema democrático (TRAQUINA, 2004, p.126), o que exige do profissional a manutenção de uma cultura própria, dotada de um saber especializado, por meio da qual se constitui a notícia identificada com o ideal de representação da realidade (FRANCISCATO, 2002, p.3). A existência de um código deontológico é reconhecida [...] como um atributo indispensável na definição de uma profissão liberal e a sua existência no jornalismo torna insustentável a defesa da posição de que o jornalista é apenas um trabalhador por conta de outrem. (TRAQUINA, 2004, p.119)

O jornalista é, portanto, um ator essencial para a manutenção da liberdade em um sistema social. Porém, sua conduta está intimamente ligada ao posicionamento do veículo de comunicação para o qual trabalha.

A responsabilidade da empresa jornalística

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A empresa jornalística é produto da concentração do capital em grandes corporações observada ao longo do século XX. Esse posicionamento provoca conflitos entre o dever ético do fazer jornalístico e a necessidade cada vez mais crescente do lucro organizacional. O jornalismo pode ser considerado um negócio, pois todas as empresas jornalísticas encaram “a tirania do balanço econômico final” (TRAQUINA, 2001, p. 78). Mais do que as demais corporações, as organizações jornalísticas dependem da verba de publicidade, fato que as deixam suscetíveis aos interesses dos anunciantes. Na empresa jornalística, “[...] de um lado está a cultura profissional de prestar serviço à comunidade; de outro, as restrições ligadas à organização do trabalho” (GIRARDI; MASSIERER, 2008, p.5). O dever das empresas, no entanto, precisa orientar a sua atuação, pois, historicamente, elas passaram a ser reconhecidas como espaços de serviço à comunidade por “[...] produzir, para um público amplo, disperso e diversificado, uma reconstrução discursiva do mundo com base em um sentido de fidelidade entre o relato jornalístico e as ocorrências cotidianas” (FRANCISCATO, 2002, p.3). Girardi e Massierer (2008, p.3) endossam tal conceito, afirmando que as notícias possibilitam a tomada de consciência da população. Traquina complementa que, na democracia, o jornalismo possibilita a troca de opiniões entre os diversos grupos sociais (TRAQUINA, 2004, p.129). Concluímos, assim, que os proprietários de empresas jornalísticas, apesar de perseguirem o sucesso mercadológico, devem estar cientes de que seus veículos são espaços de diálogo entre a opinião pública. Portanto, mais do que apresentar lucros, o jornalismo precisa cumprir com a função de intermediário entre o poder e a sociedade.

Critérios de noticiabilidade: a seleção dos fatos

As variações entre as rotinas de produção de cada veículo, o espaço para noticiar determinado acontecimento e as ferramentas técnicas disponíveis, entre outros elementos, influenciam diretamente na constituição da notícia como produto final. A escolha dos acontecimentos a serem narrados está relacionada com tal estrutura dos meios de comunicação. Os critérios de noticiabilidade são categorias de seleção, edição e hierarquização das informações em um noticiário (SILVA, 2005, p.96), e relacionam-se intrinsecamente com a cultura organizacional e profissional dos jornalistas – onde a notícia é retirada de seu contexto www.conecorio.org

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original e recomposta no espaço do noticiário (WOLF, 1999, p.244). “As notícias são socialmente construídas, e os critérios de noticiabilidade são resultantes deste partilhamento e consenso de valores em uma comunidade” (FRANCISCATO, 2002, p.8). A seleção dos acontecimentos, portanto, é afetada pelo contexto em que ocorre, pela subjetividade do autor, o jornalista (FRANISCATO, 2002, p.4), e pelas tensões ideológicas dos permanentes diálogos da sociedade através do campo jornalístico. Os imperativos econômicos e as influências de proprietários e leitores também influenciam a construção do noticiário (TRAQUINA, 2004, p.125-126). Porém, mesmo que o veículo de comunicação dependa dos detentores do poder, este não pode deixar de cumprir sua função como instituição social (Ibid., p.114). Os critérios de noticiabilidade são permeados pelos valores-notícia, que são definidos como as características de um fato isolado (SILVA, 2005, p.98). Os valores-notícia possibilitam o processo de escolha e edição das informações e auxiliam na definição dos critérios definitivos, que englobam o fato em seu contexto. A autora (Op. cit, p.99) também lembra que a seleção participa de todas as etapas da construção da notícia, da atribuição de valores-notícia à hierarquização das informações no noticiário, e, portanto, também é fundamental para entendermos a noticiabilidade. Apesar de esses critérios serem flexíveis, eles sempre se relacionam a uma série de elementos, como público, formato do produto jornalístico, concorrência e meio de comunicação em que a notícia é veiculada (WOLF, 1999, p.200). Em nossa pesquisa, identificamos os seguintes critérios de noticiabilidade. a) Atualidade: relaciona-se com a corrida pelo instantâneo (LAGE, 2001, p.92), mas é relativa: depende da periodicidade do veículo (WOLF, 1999, p.207). b) Continuidade e ruptura: enquanto alguns acontecimentos exigem cobertura intensa que acompanhe seu desdobramento, outros saem da pauta jornalística quando são ofuscados por assuntos mais atuais (FRANCISCATO, 2002, p.11). c) Normalidade e anormalidade: trata-se do que é convencional e do que não é. Fatos extraordinários devem ser esclarecidos ao público e fatos ordinários podem ser noticiados por refletirem valores comuns partilhados (FRANCISCATO, 2002, p.12). d) Importância e interesse: os noticiários abarcam tanto notícias essenciais e urgentes como informações relacionadas com o entretenimento e a descontração, que despertam curiosidade (WOLF, 1999, p.217). e) Proximidade e distância: é mais provável que haja interesse por um acontecimento que ocorre em um espaço geográfico próximo, por ajudar o público a entender o contexto em que vive (FRANCISCATO, 2002, p.13), mas a proximidade cultural também é www.conecorio.org

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importante, pois facilita “[...] a penetração de mensagens provenientes de produtos hegemônicos” (LAGE, 2001, p.94). f) Identificação: a identificação social diz respeito à novidade que se insere nas classes mais altas para cumprir um “ciclo de popularização” (LAGE, 2001, p.96). Já a identificação humana prevê a universalização do particular (Ibid., p.98). g) Intensidade: é quantificada, aferida em números e indicada pelo cúmulo – situação inusitada, que gera mais emotividade (LAGE, 2001, p.97). h) Ineditismo: situações improváveis são sempre observadas no noticiário, pois o desconhecido precisa ser explicado. Porém, é necessário ter cuidado na abordagem, pois fatos extremamente ilógicos podem ser inverossímeis (LAGE, 2001, p.97). O jornalismo, a conscientização e a preservação dos bens naturais Acreditamos que a prática do Jornalismo Ambiental corresponda diretamente ao interesse público por promover a conservação da vida. O jornalista, portanto, deve possuir uma visão abrangente dos problemas do planeta para transmiti-los à sociedade. Nesse sentido, o pensamento complexo precisa fazer parte da atividade jornalística. Essa teoria, segundo Morin, pressupõe que a divisão cartesiana do conhecimento inviabiliza o diálogo. Para o autor, vivemos em uma “realidade multidimensional” (MORIN, 2000, online), e estudar dimensões separadamente nos afasta do mundo em que vivemos. Por isso, complementa Capra, a fim de compreendermos as propriedades dos organismos, devemos considerá-los em seu contexto (CAPRA, 1997, p.31). A teoria sistêmica é princípio essencial no estudo do pensamento complexo. Em um sistema, os elementos interagem entre si, em relação ao centro e ao ambiente externo (CAPRA, 1997, p.126). A ecologia se vale de tais relações transdisciplinares para defender a proteção aos ecossistemas. O princípio de “auto-eco-organização” (MORIN, 2000, on-line) ilustra a importância do equilíbrio ambiental: todos os organismos são, simultaneamente, autônomos e dependentes – ou seja, somos todos produtos e produtores, e tal dinâmica está atrelada à existência da ecosfera (LUTZEMBERGER, 1999, p.11). A Ecologia Profunda de afirma que a interdependência necessária entre indivíduos e comunidades deve ser preservada através de iniciativas sustentáveis, através das quais o meio ambiente permaneça inviolável e garanta a sobrevivência das gerações futuras (CAPRA, 1997, p.16). Desse modo, destacamos neste trabalho as contribuições de uma teoria holística para que o exercício do jornalismo promova a cidadania. Também contextualizamos a importância do Código Florestal a fim de entender a responsabilidade da imprensa na cobertura do tema. www.conecorio.org

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A comunicação social e o saber ambiental

O Jornalismo Ambiental se apropria de conceitos do pensamento complexo para democratizar a comunicação e propor ao público reflexão sobre a importância da preservação do meio ambiente para todas as formas de vida. Para isso, os profissionais da área devem contextualizar os acontecimentos e conduzir o jornalismo à função pedagógica. Segundo Trigueiro (2006, on-line), “[...] enxergar sistemicamente significa perceber essa teia infinita de relações que emprestam sentido aos temas ambientais, e que poderiam oxigenar a notícia com abordagens menos imediatistas e mais abrangentes”. Nesse sentido, o Jornalismo Ambiental deve realizar um diálogo entre pontos de vista distintos, que tragam diferentes dados. Isso é possível graças à pluralidade de fontes (GIRARDI; MASSIERER, 2008, p.1). Segundo Bueno, o jornalista ambiental precisa fugir dos interesses das fontes primárias (oficiais ou hegemônicas) e trazer o contraponto de entidades da sociedade civil (BUENO, 2004, on-line). Para o autor (Id.), o jornalismo das grandes empresas de comunicação, que almejam o crescimento de audiência a poucos esforços, ainda aborda assuntos ambientais de maneira sensacionalista, destacando o tema somente quando ocorrem desastres naturais. O compromisso da mídia de massa no Brasil com o modelo agroexportador, apoiado na ‘big science’, a tem colocado num dilema: seguir o que indicam os olhos e a razão ou ceder à lógica do capital, que sugere (ordena?) apostar, cegamente, no lucro. Invariavelmente, ela tem preferido a segunda opção, mais cômoda e mais rentável. (BUENO, 2004, on-line)

O trabalho do jornalista ambiental é, justamente, lutar contra tais estigmas e propor uma cobertura mais humanizada e detalhista, que vise à formação de uma nova consciência que seja socialmente partilhada.

Sustentabilidade: a emergência de um conceito

O pensamento sustentável fortaleceu-se a partir da segunda metade do século XX. Após séculos de atividade industrial, a humanidade se deparou com a impossibilidade de regeneração dos bens naturais explorados para fins econômicos. www.conecorio.org

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Da criação do Clube de Roma, em 1968, e da Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, em 1972, em Estocolmo, chegamos à Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente e o Desenvolvimento, que ocorreu em 1992, no Rio de Janeiro. O evento foi um marco nas discussões sobre a viabilidade do desenvolvimento sustentável devido à Agenda 21, um documento elaborado pela sociedade, pelos governos presentes e por movimentos sociais e representantes econômicos (NOVAES, 2005, p.323). Segundo o autor (Id.), o texto fomentou a discussão no Brasil ao longo da década. Porém, o século XXI traz a urgência de uma abordagem mais intensa, tendo em vista a aceleração do processo das mudanças climáticas no planeta e do impacto das tragédias ambientais para indivíduos e comunidades (TRIGUEIRO, 2006, on-line). Cabe ao jornalista, portanto, um posicionamento mais assertivo a respeito da preservação ambiental. A imprensa, por seu alcance e pela confiança que lhe é atribuída, pode e deve comunicar os princípios sistêmicos a fim de garantir a salvação dos ecossistemas.

A importância do Paradigma da Complexidade para o Jornalismo Ambiental

O jornalismo deve utilizar o prestigioso espaço que ocupa na sociedade para propor reflexões acerca do futuro da vida na Terra. Igualmente, de acordo com os preceitos do Jornalismo Ambiental, deve se valer da função educativa para difundir a busca pela sustentabilidade. O Jornalismo Ambiental é uma ferramenta da alfabetização ecológica e, assim, deve se comprometer com a integridade da informação que esclarece o público sobre a existência de sistemas que precisam estar em equilíbrio (LUTZEMBERGER, 1999, p.81). “Ser ecologicamente alfabetizado, ou ‘eco-alfabetizado’, significa entender os princípios de organização das comunidades ecológicas (ecossistemas) e usar esses princípios para criar comunidades humanas sustentáveis” (CAPRA, 1997, p. 218). Para Girardi e Massierer “Essa forma de perceber a realidade como algo que está conectado com tudo, interligado e relacionado é um dos critérios fundamentais do Jornalismo Ambiental para que meio ambiente tenha uma abordagem qualificada na imprensa” (GIRARDI; MASSIERER, 2008, p.3). Por isso, mesmo que a imprensa brasileira tenha investido em coberturas mais frequentes acerca de problemas ambientais como mudanças climáticas, transgênicos e biopirataria, o texto jornalístico a respeito desses assuntos precisa www.conecorio.org

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ser menos raso e menos envolvido com as pretensões comerciais do veículo de comunicação (BUENO, 2004, on-line). Os interesses das empresas que sustentam as organizações jornalísticas podem ser uma barreira para a produção de uma cobertura ambiental abrangente e qualificada (LOOSE, 2008, p.293). Constrangimentos profissionais também impedem os jornalistas de elaborar um texto mais engajado devido às consequências de um posicionamento em favor da vida diante das aspirações mercadológicas da empresa (GIRARDI E MASSIERER, 2008, p.7). “No entanto, não se pode deixar o público desprovido de informação contextualizada e sob diferentes pontos de vista por causa desse interesse privado” (LOOSE, 2008, p.299). O jornalismo ambiental, portanto, não é neutro: busca, sim, formar uma militância consciente das ameaças do homem à natureza e capaz de impedir intervenções cada vez mais destrutivas sobre os bens naturais. Nesse sentido, o pensamento complexo faz com que a importância do jornalismo vá além da simples narração de acontecimentos pontuais, tornando-se fundamental para que entendamos as relações entre eventos e para que o público se torne ativo na tarefa de pensar sobre estratégias de preservação.

Código Florestal brasileiro: breve histórico

Para entendermos a importância da conservação dos ecossistemas brasileiros, precisamos percorrer a história da legislação sobre o tema. A preocupação com a preservação surgiu somente após séculos de exploração descontrolada dos bens naturais da nação. O primeiro Código Florestal brasileiro foi instituído em 1934, durante o governo de Getúlio Vargas (SOUZA, 2011, on-line). Na época, o crescimento urbano exigia uma legislação que conservasse elementos naturais como as florestas nativas e que preservasse recursos naturais, além das áreas de preservação permanente (APPs), dentro de propriedades privadas (o que, mais tarde, se convencionou chamar de reserva legal)[ 3]. Em 1965, a reformulação do Código identificou APPs e estabeleceu limitações do uso de solo e florestas (SOUZA, 2011, on-line). A próxima alteração substancial foi feita em 1998, quando o Código passou a abarcar a Lei de Crimes Ambientais. Em 1999, os deputados governistas propuseram alterações no texto, como a redução da área de reserva legal da

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Mais informações sobre esses conceitos em: SOS FLORESTAS. O que está em jogo. Disponível em: . Acesso em: 31 jul. 2012. www.conecorio.org

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Amazônia e a permissão para atividades extrativistas de pequeno porte. Em 2003, a Câmara dos Deputados arquivou a votação de modificações no Código[4]. Em 2011, o tema voltou à pauta na Casa a partir do projeto apresentado pelo Deputado Federal Aldo Rebelo e aprovado em maio. O texto visava atender reivindicações de produtores rurais, estabelecendo redução de todas as áreas de preservação permanente a 50% e de áreas de atividades agrossilvipastoris e de turismo em APPs exploradas até 2008 (NEVES, 2011, on-line). Ao final do ano, o Senado aprovou o texto do congressista Jorge Viana (PT-AC), alinhado com os interesses do Governo Federal, que buscava balancear exigências de ruralistas e ambientalistas. Em 2012, o texto voltou para a Câmara e foi relatado por Paulo Piau, que priorizou o exercício de atividades econômicas frente à conservação das áreas de preservação. Em maio, a Presidente Dilma Rousseff vetou uma série de artigos do projeto através de Medida Provisória e, atualmente, espera-se a votação do texto em plenário, na Câmara e no Senado (COSTA; MENDES, 2012). Enquanto os representantes do povo ainda discordam sobre a proposta ideal, baseados em interesses distintos, a sociedade civil deve se organizar para acompanhar o debate e lutar pelo interesse comum, a vida. Já a imprensa deve realizar uma cobertura ampla, que ajude a opinião pública a refletir sobre as consequências da aprovação do Projeto de Lei.

Análise das reportagens sobre o Código Florestal no Jornal do Comércio Trazemos o resultado da análise de 12 reportagens do Jornal do Comércio sobre a proposta de alteração do Código Florestal nacional publicadas entre 18 de maio e 30 de novembro de 2011. Como iniciamos o estudo em março de 2012, data em que a discussão foi retomada no Congresso após o recesso parlamentar, restringimos nossa análise ao ano de 2011, época em que o assunto esteve em pauta na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Para tanto, utilizamos a Análise Descritiva, metodologia de abordagem qualitativa, identificada com a Análise Documental. Essa categoria, como define Moreira (2009, p.271), “compreende a identificação, a verificação e a apreciação de documentos para determinado fim”. Tratam-se, geralmente, de fontes secundárias e, na comunicação, o recurso é utilizado 4

Relatório completo da tramitação dos projetos em: CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projetos de Leis e outras proposições. Disponível em: . Acesso em: 20 jul. 2012. www.conecorio.org

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no “no resgate da história de meios de comunicação, personagens ou períodos” (MOREIRA, 2009, p.270). Neste trabalho, verificamos se a cobertura do Jornal do Comércio está identificada com as teorias do Jornalismo Ambiental. Nosso objetivo, portanto, é averiguar se as informações veiculadas pelo periódico correspondem ao interesse público.

Jornal do Comércio: breve histórico

O periódico Jornal do Comércio, fundado em 1933, circula em Porto Alegre nos dias de semana. Desde suas primeiras atividades, o veículo segue a mesma linha editorial, direcionando o conteúdo a um público segmentado, identificado com os setores industrial e empresarial gaúchos. A editoria de Economia, portanto, é a mais extensa do jornal, abrangendo temas como consumo, mercados financeiros, políticas econômicas nacionais e internacionais, setores da economia, mercado de trabalho, etc. Em 2011, todas as notícias a respeito da votação do Código Florestal no Congresso apareceram nessa editoria, 11 sob a cartola Agronegócios e uma sob a cartola Meio Ambiente. Diante de tal fato, decidimos estudar se tal classificação reflete a percepção do veículo sobre o tema.

Exposição de resultados

Em nossa análise, identificamos poucos preceitos do Jornalismo Ambiental na cobertura do Jornal do Comércio. Há pluralidade de vozes em grande parte dos textos: as fontes são variadas, e há falas tanto de opositores quanto de defensores da nova legislação. Dois dos três critérios de noticiabilidade mais constatados foram atualidade e continuidade. Enquanto o primeiro demonstra que o veículo se preocupa com fatos ocorridos naquele momento histórico, o segundo diz respeito ao prosseguimento do debate, que precisa ser acompanhado até haver resolução. Mas os aspectos positivos da análise cessam-se quando identificamos que as fontes mais recorrentes são as oficiais ou identificadas com o poder econômico. Os entrevistados mais frequentes nas 12 reportagens foram o Deputado Estadual Heitor Schuch (PSB), representante da bancada ruralista gaúcha, e o Deputado Federal Jorge Viana, governista, relator do Código Florestal no Senado. O terceiro critério de noticiabilidade mais verificado, www.conecorio.org

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portanto, foi importância, relativo à quantidade de autoridades do Executivo e Legislativo envolvidas com o texto. A motivação para a redação da reportagem sempre parte das manifestações de entidades ligadas aos produtores rurais, como na matéria Produtores e empresários comemoram o novo código, de 26 de maio. As opiniões de ambientalistas aparecem em segundo plano e, muitas vezes, descoladas do texto principal. Na reportagem citada acima, o contraponto é apresentado somente no desdobramento Ambientalistas lamentam decisão do plenário. Caso mais grave ocorre na reportagem de 25 de maio, Câmara aprova Código Florestal Brasileiro, em que a repercussão da matéria entre os ambientalistas aparece no pequeno desdobramento Manifestantes lotaram galerias – que, no entanto, traz como única fonte Ronaldo Caiado, um dos líderes da bancada ruralista do Congresso, que ironiza o protesto dos opositores do Projeto de Lei. Através desta análise, criticamos a ausência de critérios de noticiabilidade que explicassem as consequências da legislação para o País, como a anormalidade – que explicaria as mudanças causadas pela priorização das atividades produtivas. Também acreditamos que o jornal deva elaborar coberturas mais complexas, nas quais todos os pontos de vista sejam explicitados com equidade.

Considerações finais

Através deste artigo, constatamos que o Jornal do Comércio não se compromete com o caráter conscientizador do Jornalismo Ambiental. O periódico concentra-se nas opiniões de fontes identificadas com os interesses de produtores rurais e reduz o espaço para posicionamento dos ambientalistas. Sabemos que o Jornalismo Ambiental não pressupõe a neutralidade por se opor a tudo o que traga prejuízos à vida. No entanto, tal prática leva em conta, além da pluralidade de fontes, a equivalência de espaço entre todos os pontos de vista consultados. Somente um jornalismo ciente sobre as diferentes formas de interpretação da realidade é capaz de transmitir informações comprometidas com a preservação da Terra, bem comum a todos os indivíduos. Apontamos, então, que o Jornal do Comércio deva melhor esclarecer a sociedade sobre as problemáticas socioambientais provocadas por uma legislação baseada nos interesses de produtores rurais. Percebemos que o posicionamento editorial do veículo, que se destina aos www.conecorio.org

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leitores envolvidos com atividades empresariais, influencia a composição das reportagens e direciona o posicionamento da cobertura às pretensões de ruralistas. Apesar de acompanharem todo o processo de tramitação da matéria na Câmara e no Senado, as matérias do Jornal do Comércio precisam envolver-se com o pensamento sustentável. O veículo deve empreender uma mudança de paradigma em seus textos a fim de respeitar o interesse público e conscientizar os leitores.

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