Jornalismo On-Line Em Plataformas Móveis: Estratégias De Financiamento

June 13, 2017 | Autor: Thiago Vieira | Categoria: Mobile apps, Mobile plataforms, Folha de S. Paulo, The New York Times
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Ver http://pt.slideshare.net/WAN-IFRA/world-press-trends-larry-kilman-14153751. Acessado em 29 de julho de 2014.
Ver http://www.digitalstrategyconsulting.com/intelligence/2013/10/google_profits_beat_expecations_despite_ad_price_drop_and_motorola_decline.php. Acessado em 29 de julho de 2015.
Ver http://www.buzzfeed.com. Acessado em 29 de julho de 2015.
Ver http://theweek.com/article/index/205465/the-medias-risky-paywall-experiment-a-timeline. Acessado em 29 de julho de 2015.
http://www.nytimes.com/. Acessado em 22 de setembro de 2013.
Ver http://www.ebizmba.com/articles/news-websites. Acessado em 23 de outubro de 2013.
http://www.google.com. Acessado em 12 de dezembro de 2013.
http://www.yahoo.com. Acessado em 12 de dezembro de 2013.
Metáfora sobre os canários que eram levados para minas de carvão na época da Revolução Industrial, quando morriam na presença de gases perigosos. Ver http://www.avedomestica.com.br/cocad/index.php?option=com_content&view=article&id=525:a-histria-dos-canrios&catid=19:diversos&Itemid=81. Acessado em 12 de dezembro de 2013.
Ver http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/06/1298719-em-um-ano-paywall-agrega-audiencia-e-assinaturas-a-folha.shtml. Acessado em 26 de dezembro de 2013.
Ver http://www.portaldosjornalistas.com.br/noticias-conteudo.aspx?id=3094. Acessado em 05 de novembro de 2014.
Tradução do autor. Ver http://www.businessinsider.com/the-new-york-times-now-gets-more-revenue-from-subscribers-than-advertisers-2013-2. Acessado em 8 de fevereiro de 2013.
Tradução do autor.
Os "softwares aplicativos" se distinguem por, de forma geral, lidarem com aspectos não relacionados às máquinas, ao hardware do computador, objetivo este dos "softwares de sistemas".
Ver http://www.acma.gov.au/webwr/_assets/main/lib310665/emerging_business_models.pdf. Acessado em 14 de dezembro de 2014.
Ver http://www.statista.com/statistics/263794/number-of-downloads-from-the-apple-app-store/. Acessado em 20 de julho de 2015.
Ver http://www.statista.com/statistics/270291/popular-categories-in-the-app-store/. Acessado em 20 de julho de 2015.
Ver http://www.appbrain.com/stats/number-of-android-apps. Acessado em 20 de julho de 2015.
Ver http://www.appbrain.com/stats/android-market-app-categories. Acessado em 20 de julho de 2015.
Ver http://www.w3.org/html/. Acessado em 19 de julho de 2015.
Ver http://www.w3.org/Style/CSS/. Acessado em 19 de julho de 2015.
Ver http://www.w3.org/standards/webdesign/script. Acessado em 19 de julho de 2015.
Ver https://secure.php.net/manual/pt_BR/preface.php. Acessado em 19 de julho de 2015.
Ver http://www.asp.net/get-started. Acessado em 19 de julho de 2015.
Ver https://developer.mozilla.org/en-US/Apps/Build/Offline. Acessado em 19 de julho de 2015.
Ver http://www.canalys.com/static/press_release/2012/canalys-press-release-110612-top-app-stores-risk-losing-control-app-discovery.pdf. Acessado em 24 de junho de 2015.
Web aqui sendo entendida como uma série de troca de dados entre agentes de uma rede que funciona sobre a Internet, um sistema global de computadores conectados. Ver http://www.w3.org/standards/. Acessado em 24 de junho de 2015.
Ver https://jquery.com/. Acessado em 24 de junho de 2015.
Ver https://source.android.com/devices/tech/security/overview/app-security.html. Acessado em 24 de junho de 2015.
Este tipo de serviço foi popularizado através do termo computação na nuvem, onde todos os dados e instruções de operação ficam hospedados nos servidores do fornecedor de serviços (a chamada nuvem). Nesta modalidade de serviço para internet, tanto o browser quanto os aplicativos nativos são apenas interfaces gráficas para o acesso e manipulação das informações úteis. Ver http://www.w3.org/wiki/CloudComputing. Acessado em 24 de junho de 2014.
http://www.foursquare.com/. Acessado em 24 de junho de 2014.
Ver http://www.w3.org/2008/webapps/. Acessado em 24 de junho de 2015.
Ver http://www.w3.org/TR/offline-webapps/. Acessado em 24 de junho de 2015.
Ver https://www.comscore.com/Insights/Press-Releases/2013/8/comScore-Announces-Availability-of-US-Mobile-Commerce-Sales-Estimates. Acessado em 24 de junho de 2015.
Sigla para "Software Development Kit", é uma coleção de programas de computador destinados a desenvolver programas para plataformas específicas. São exemplos o Android SDK (https://developer.android.com/sdk/index.html#Other) e o Windows SDK (https://msdn.microsoft.com/pt-br/windows/desktop/bg162891.aspx).
Ver http://venturebeat.com/2014/01/30/google-is-betting-big-on-the-future-but-losing-ground-in-the-present/ e http://fortune.com/2015/06/03/facebook-video-traffic/
Ver http://blogs.wsj.com/cmo/2015/05/28/facebooks-instant-articles-do-speed-up-mobile-content/. Acessado em 28 de maio de 2015.
Ver http://observatoriodaimprensa.com.br/caderno-da-cidadania/facebook_reintroduz_a_censura_no_brasil/. Acessado em 05 de junho de 2015.
Ver http://www.journalism.org/files/2015/07/Twitter-and-News-Survey-Report-FINAL2.pdf. Acessado em 16 de julho de 2015.
Tradução do autor.
Tradução do autor.
Tradução do autor.
https://www.youpix.com.br/
https://medium.com/.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
COORDENAÇÃO DE PESQUISA


Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC)
CNPq/UFS

JORNALISMO ON-LINE EM PLATAFORMAS MÓVEIS: ESTRATÉGIAS DE FINANCIAMENTOJORNALISMO ON-LINE EM PLATAFORMAS MÓVEIS: ESTRATÉGIAS DE FINANCIAMENTO
JORNALISMO ON-LINE EM PLATAFORMAS MÓVEIS: ESTRATÉGIAS DE FINANCIAMENTO
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Área do conhecimento: Ciências Sociais Aplicadas
Subárea do conhecimento: Comunicação
Especialidade do conhecimento: Jornalismo e Editoração

Bolsista: Thiago Vieira Pereira
Nº Matrícula: 09140811
Orientadora: Lilian Cristina Monteiro França

Departamento de Comunicação Social
NUCA – Núcleo de Pesquisa em Comunicação e Tecnologia

Relatório Final
Período: janeiro de 2015 a julho 2015.


Este projeto é desenvolvido com bolsa de iniciação científica
PIBIC/CNPq
RESUMO

A migração das empresas de mídia para a internet é uma mudança de paradigma que até o presente não foi bem resolvido pelas mesmas: os grupos de imprensa tem como desafio levar sua audiência a pagar pelo consumo de seu conteúdo. O conflito entre cobrar por informação e a arquitetura abertura da internet levaram à divergências entre estudiosos e empresários, e entre estes últimos e seu próprio público. O impacto do acesso à internet via dispositivos móveis também trouxe novos desafios com a migração dos usuários da Web aberta para mídias sociais e aplicativos fechados. Esta pesquisa analisa os aplicativos de "Folha de São Paulo" e "The New York Times" em plataformas móveis, detalha seu contexto e aponta desdobramentos.


PALAVRAS CHAVES: Plataformas móveis, "The New York Times", "Folha de S. Paulo", aplicativos.























SUMÁRIO


1. PREAMBULO

4
2. INTRODUÇÃO - UM PANORAMA DA SITUAÇÃO ECONÔMICA DA IMPRENSA
4
3. UMA BREVE HISTÓRIA DOS APLICATIVOS EM PLATAFORMAS MÓVEIS
10
4. ANÁLISE DOS APLICATIVOS DE FOLHA DE SÃO PAULO E THE NEW YORK TIMES
11
5. CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE APLICATIVOS MÓVEIS E SITES MOBILE PARA EMPRESAS NOTICIOSAS
13
6. CONCLUSÕES FINAIS
24
7. BIBLIOGRAFIA
28















1. PREAMBULO
Este estudo sobre estratégias de lucro para imprensa em plataformas móveis pode ser considerado uma continuação direta do estudo feito pelo autor de agosto de 2013 a janeiro de 2014, "Paywall: O Sistema De Cobrança Por Acesso a Conteúdos No Webjornalismo" (PEREIRA, 2014). Entendemos que falar sobre a cobrança em plataformas móveis, plataformas estas que são fechadas, sem falar da cobrança por acesso a conteúdos em plataformas abertas (sites na Web) faz o entendimento das estratégias ser pobre, impossibilitando a plena compreensão das motivações e dos desdobramentos das mesmas, bem como a maneira que se relacionam com a cobrança por acesso a conteúdos em plataformas abertas, os chamados paywalls. Portanto, faz-se necessária uma introdução sobre os sistemas de acesso a conteúdo noticioso, bem como uma análise da situação atual da imprensa no Brasil e nos Estados Unidos da América (doravante chamado de "EUA") em termos empresariais e de lucratividade.
2. INTRODUÇÃO - UM PANORAMA DA SITUAÇÃO ECONÔMICA DA IMPRENSA
Na primeira década do século 21, a indústria jornalística se viu em maus lençóis. O livre fluxo de informações que veio junto com o acesso generalizado à internet foi o principal responsável por fazer a circulação dos jornais e revistas impressos, a principal fonte de renda de grande parte dos grupos de mídia tradicionais, declinar.
Entre os anos 2000 e 2010 as empresas donas de jornais viram a circulação e o lucro de seus impressos despencarem, sem que os lucros nos empreendimentos digitais pudessem suprir a queda:
Em todo o mundo, o lucro advindo de propagandas publicadas em jornais impressos representa quase 50% do lucro e ainda é um referencial para medir a saúde de um jornal. Porém, o número de impressões vêm diminuindo significativamente em todos os continentes, exceto na Ásia.
Nos EUA, entre 2001 e 2012, o lucro com publicidade em jornais impressos declinou de US$44,3 bilhões para US$19,5 bilhões. Enquanto entre 2003 e 2012, os lucros com publicidade em jornais digitais apenas aumentaram de US$1,5 bilhão para US$3,4 bilhões.
Ainda nos EUA, 48% dos jornais já possuem um paywall para acesso ao conteúdo no seu site. E dos que não implantaram um ainda, 44% destes planeja fazê-lo no futuro (FIEGERMAN, 2012).
A indústria da jornalística também acabou por sofrer pressão da indústria dos dispositivos portáteis, como tablets e smartphones, junto com os ecossistemas de aplicativos, já que muitos deles têm funções de criar "revistas" personalizadas, a partir de conteúdos disponibilizados gratuitamente na internet (de blogs, videologs, podcasts e afins).
Note-se que parte desses conteúdos gratuitos também são disponibilizados por grupos da imprensa que tem como base histórica empresas de informação pré-internet. Quando a o acesso a rede ainda estava em sua infância, era senso comum que a informação deveria ser disponibilizada gratuitamente, pois (vide MATTOSO):
Não havia base instalada de leitores: no começo dos anos 90, o número de usuários que dispunha de um computador era muito pequeno, comparado ao número de leitores dos jornais impressos. Houveram experiências de vender o conteúdo dos jornais em cd-roms, mas terminaram por não vingar. A esperança vinha da internet, onde a informação seria distribuída a um custo baixo e haveria uma fonte de renda, a seguir.
A publicidade digital cobriria os custos: a ideia de distribuir as notícias a um custo financeiro e logístico muito menor que o da mídia imprensa era algo tentador, mais ainda quando a promessa de que a publicidade digital permitiria distribuir conteúdo gratuitamente, permitindo o crescimento constante da base de leitores, ao mesmo tempo que haveriam ganhos financeiros visíveis. Hoje sabe-se que essa promessa não vingou.
A base de leitores aumentou na mesma proporção que os computadores e o acesso à internet baratearam. Mas os custos de produzir reportagens jornalísticas (incluído aí os custos em recursos humano das redações) não diminuíram na mesma proporção e os lucros advindos da publicidade digital mostraram-se pequenos nesta situação.
Passados quase 10 anos do "boom" de acesso à internet, a situação continuou a se deteriorar. O preço pago pela publicidade digital caiu, os jornais e portais noticiosos, antes dois dos poucos atores a produzir conteúdo, passaram a sofrer com a concorrência de um grande número de agentes, de blogs, passando por mídias sociais, chegando a sites de "conteúdo viral".
Embora o primeiro registro de um grande veículo de mídia cobrando previamente por acesso ao conteúdo seja o do The Wall Street Journal, por ora vamos deixá-lo fora de nosso escopo, pois a cobrança iniciou-se juntamente com a publicação do site, em 1997: o The Wall Street Journal foi o único grande veículo de mídia pré-internet a não fornecer nenhum material noticioso gratuitamente. Em menos de um ano, o site ganhou 200 mil assinantes. Em 2007, Financial Times criou o primeiro "paywall poroso", onde leitores podiam ler dez artigos, antes de serem obrigados se registrarem. Em 2010, o jornal britânico The Times também erigiu um "paywall total", exigindo pagamento prévio para a visualização de qualquer conteúdo produzido pelo jornal.
Mas o grande impulso para a discussão sobre a efetividade dos paywalls no webjornalismo veio em 2011, quando o "The New York Times" decidiu também elaborar um paywall ao redor de seu conteúdo. A ação de "The New York Times" teve um impacto maior por dois motivos:
"The New York Times" tem importância geral e global: o The Wall Street Journal é um jornal com forte foco econômico e político, voltado especialmente para grandes investidores e empresários do ocidente. O The Times é um jornal de temas gerais relevante, mas seu alcance geral é a população da Inglaterra. "The New York Times" tem um público muito mais amplo, já que é um jornal de temas variados, que se propõe a discutir uma ampla gama de temas, que afeta um número maior de leitores; ao mesmo tempo que é um jornal de alcance internacional, sendo o 5º site noticioso mais acessado do mundo, portanto servindo de referência para outros veículos de imprensa no mundo.
"The New York Times" tem um "paywall poroso": Enquanto The Wall Street Journal e The Times têm sistema de paywalls que impedem qualquer visualização de conteúdo, "The New York Times" utiliza um modelo de paywall que dá direito aos não assinantes a visualizar 10 artigos noticiosos ao visitar o site (o número anterior era de 20 artigos), 25 artigos através de sistema de busca (como Google e Yahoo) e um número ilimitado através de links em sites de mídias sociais.
Desde a implementação de seu paywall, "The New York Times" tem sido uma espécie de canário na mina de carvão, seus relatórios financeiros sofrem grande pressão e são alvo de análises minuciosas em vários veículos de análise de mídia (DOCTOR), todos analisando seu desempenho e, de certa forma, torcendo por seu sucesso, ansiando que talvez haja encontrado uma forma de garantir a sobrevivência dos órgãos de imprensa.
A esta altura já entendemos que os paywalls são uma maneira de grupos de imprensa garantirem seus lucros no novo cenário da internet, apesar de seu uso dos ainda precisar de justificação, pois seus resultados positivos não são categóricos para a sustentabilidade dos jornais a longo prazo.
No Brasil, a "Folha de S. Paulo" implantou este modelo de paywall em 21 de junho de 2012. Os usuários podem visualizar livremente 20 artigos por mês, antes de ser exigido um cadastro simples, o que permite visualizar mais 20 artigos no mês. A partir do 41º artigo, é preciso uma assinatura mensal. O jornal colheu lucros no período de 1 ano:
A média mensal de páginas visualizadas passou de 213,8 milhões para 245,9 milhões. Uma variação positiva de 15%.
O número de visitantes do site aumentou 4%, de 19,4 milhões para 20,1 milhões.
A assinaturas totalmente digitais aumentaram 189%.
Apesar destes números positivos, em novembro de 2014, a Folha demitiu 24 jornalistas, demissões atribuídas "a fim de ajustar o seu orçamento ao mau desempenho das receitas publicitárias, fruto da estagnação prolongada da economia brasileira".
No caso de "The New York Times", a aplicação do paywall também trouxe resultados positivos:

No período de fevereiro 2011 a até fevereiro de 2012, o grupo teve prejuízo de US$39,7 milhões, em contraste com o lucro de US$107,7 milhões nos 12 meses anteriores (CHOZICK, 2012).
De fevereiro de 2012 a fevereiro de 2013, houve lucro de US$133 milhões. No período, o número de assinantes digitais aumentou de 406.000 para 640.000. O presidente e diretor executivo, Mark Thompson, afirmou em comunicado de fevereiro de 2012 que "pela primeira vez em nossa história, a receita anual de circulação superou a de publicidade".
Mas também no caso de "The New York Times" foram necessários ajustes financeiros que resultaram em demissões, voluntárias ou não, de 100 jornalistas de sua redação, resultado de baixa performance financeira dos aplicativos para plataformas móveis e anúncios publicitários nativos. O movimento foi feito para preservar a rentabilidade de longo prazo do jornal (BARR, 2014).
Estes não são casos isolados. Nos EUA, mesmo nas companhias de mídias digitais, o crescimento dos lucros com publicidade foi de 1,5% em 2013, contra 3,7% em 2012. Os lucros com publicidade digital estão vazando das empresas que publicam conteúdo para grandes empresas de serviços na internet, como Google e Facebook (DOCTOR, 2015). A situação levou o especialista Ken Doctor a comentar que
[...] A indústria, como um todo, está muito longe de chegar a qualquer nova estabilidade. (...) Na verdade, mesmo nas áreas da indústria tem procurado por um crescimento recente, as tendências são o oposto do que nós esperamos (DOCTOR, 2015).
No Brasil, a quantia gasta com publicidade na internet passou a quantia gasta em jornais no primeiro trimestre de 2012, tornando-se a mídia com a segunda maior receita publicitária do país, perdendo apenas para a TV. Em 2012 foram gastos R$ 4,57 bilhões em publicidade para internet, sendo que deste total R$ 3,82 bilhões foram gastos em publicidade para mecanismos de busca, sendo este o seguimento que mais cresce no mercado. No mesmo período, os gastos com publicidade em jornais foi de R$ 3,38 bilhões, contra R$ 3,36 bilhões em 2011 (FONSECA, RODRIGUES, BODENMÜLLER, VIANA, 2013).
Diante do cenário de migração de receitas para a internet, é natural que os jornais busquem o crescimento do lucro ou a sobrevivência através de empreendimentos que utilizem funcionalidades nativas de plataformas para dispositivos móveis, especificamente através aplicativos.
3. UMA BREVE HISTÓRIA DOS APLICATIVOS EM PLATAFORMAS MÓVEIS
Um "software aplicativo" é um programa de computador que cumpre determinadas funções para lidar um conjunto específico de questões. Em nosso estudo usaremos os termos "aplicativo" e "app" para designar softwares aplicativos que funcionam dentro de dispositivos móveis, como smartphones e tablets, e são distribuídos aos usuários finais principalmente através de centrais de aplicativos, de forma paga ou gratuita.
Em uma etapa anterior da computação em dispositivos móveis, estes aplicativos vinham instalados de fábrica nos aparelhos e geralmente eram ferramentas de organização pessoal e profissional, incluindo calendários, sistemas de correio eletrônico, informações meteorologias e do mercado de capitais.
Em um momento posterior, os aplicativos para celular eram fornecidos pelas empresas operadoras de telefonia móvel, em sistemas do tipo "jardim fechado", onde os usuários podiam adquirir apenas aplicativos das operadoras das quais eram clientes.
O fato que mudou a maneira como as pessoas adquirem e utilizam aplicativos nos seus dispositivos móveis foi o lançamento da Apple App Store, em julho de 2008, com a abertura para que terceiros pudessem desenvolver aplicativos para aparelhos iPhone. É notório que esta foi uma reação da empresa ao chamado "jailbreak", um processo que permite aos usuários instalar nos smartphones da Apple aplicativos não autorizados na App Store, além de permitir a execução de funções limitadas pela fabricante, como usar o iPhone como um ponto de acesso à internet para notebooks.
Conforme o mercado de smartphones cresceu, outras lojas distribuidoras de aplicativos foram surgindo em outros sistemas operacionais, como o Android Market (que depois viria a se chamar Google Play), para aparelhos com sistema operacional Android e Windows Store, para aparelhos usando Windows Phone e Windows.
Em julho de 2015, o total de downloads de aplicativos na Apple App Store ultrapassou os 100 bilhões, desde seu lançamento. Em setembro do mesmo ano, haviam 1.5 milhão de aplicativos disponíveis na loja. Do total, os apps de Notícias correspondem a 2,32% (31.200 aplicativos).
Em julho de 2015, o número de aplicativos disponíveis na Google Play era superior a 1.619.000. No mesmo mês, o número de downloads acumulados no Google Play era superior a 1.100.000. Na data da submissão deste texto, existem 43.819 aplicativos na categoria Notícias e Revistas na Google Play.
4. ANÁLISE DOS APLICATIVOS DA "FOLHA DE SÃO PAULO" E DO "THE NEW YORK TIMES"
Os aplicativos de "Folha de S. Paulo" são avaliados de formas díspares nas duas plataformas de distribuição. No Google Play, é classificado com note 3,9 de 5, estando nas faixa de 100.000 a 500.000 instalações. Na Apple App Store, a nota do aplicativo é 2 estrelas de 5 (não há informações sobre dados de instalação).
Os aplicativos de "The New York Times" são bem avaliados em ambas as plataformas. Na Google Play, sua avaliação é de 3,8 de 5, constando na categoria de 10.000.000 a 50.000.000 de instalações. Na Apple App Store, o aplicativo tem avaliação de 3,5 estrelas de 5 (não há informações sobre dados de instalação).
Ambos os aplicativos permitem consumo de todo o conteúdo produzido pelos objetos de estudo. Um grande diferencial entre os aplicativos remete à cobrança por acesso ao conteúdo. Ambos os aplicativos são gratuitos, mas há cobrança interna.
No caso de "Folha de S. Paulo", há uma cobrança mensal em um modelo clássico de assinatura, o "Folha Digital", onde mensalmente é cobrado do usuário um valor de R$1,90 no primeiro mês e R$29,90 nos meses seguintes via cartão de crédito ou débito em conta corrente. Esse é o único modo de pagar para consumir conteúdo no aplicativo de "Folha de S. Paulo".
Já "The New York Times" tem uma política de pagamento mais flexível. Primeiro, existem três diferentes planos de assinatura:
NYTimes.Com + Smartphone Apps: dá direito a acesso ilimitado ao conteúdo do site via computadores tipo desktop e smartphones e à edição do dia via desktops. Também dá direito a acesso ao arquivo do jornal (limitado a visualizar 100 artigos por mês).
NYTimes.Com + Tablet Apps: dá direito a acesso ilimitado ao conteúdo do site via computadores tipo desktop e do tipo tablet e à edição do dia via desktops. Também dá direito a acesso ao arquivo do jornal (limitado a visualizar 100 artigos por mês).
All Digital Access: dá direito a acesso ilimitado ao conteúdo do site via computadores tipo desktop e tablet, além de smartphones, e à edição do dia via desktop. Também dá direito a acesso ao arquivo do jornal (limitado a visualizar 100 artigos por mês) e compartilhar o acesso com um membro da família.
Além disso o assinante também pode optar por assinar apenas parte do conteúdo do site:
NYT Opinion: plano em que o assinante pode acessar apenas as colunas de opinião de "The New York Times", além de poder acessar um total de 20 artigos não-opinativos por mês.
Times Premier: plano premium que dá acesso ilimitado a todo conteúdo de "The New York Times" em computadores tipo desktop e tablet, além de smartphones, e à edição do dia via desktop, além de acesso a programas como Times Insider (onde o assinante pode tomar conhecimento do que acontece "por trás das cortinas" na produção das reportagens), Times Talks (espécie de programas de entrevistas onde os jornalistas entrevistas políticos, celebridades e outros), Tbooks (programa onde assinantes recebem dois livros eletrônicos, elaborados a partir de coleções de reportagem e artigos sobre um tema ou caso específico), palavras-cruzadas, compartilhamento de acesso com até dois membros da família e possibilidade de presentear três pessoas com assinaturas com período de 12 meses.
Esta análise parcial permite dizer que há uma continuidade do modelo de cobrança originado na cobrança de assinaturas dos jornais impressos, encontrando flexibilidade apenas em um jornal de nível internacional como o "The New York Times".
Até aqui analisamos estas iniciativas de jornalismo em plataformas móveis sem olhar para os lados e nos perguntarmos se elas são realmente o futuro do jornalismo, se são uma alternativa viável à perda de arrecadação nos impressos. A seguir consideramos fatores externos que podem tornar inviáveis as iniciativas expostas anteriormente.
5. CONSIDERAÇÕES SOBRE O USO DE APLICATIVOS MÓVEIS E SITES MOBILE PARA EMPRESAS NOTICIOSAS
Os já citados apps fazem uso constante de funcionalidades nativas dos dispositivos móveis tais como GPS, câmera, acelerômetro e outros, além de ter acesso privilegiado a identidade do proprietário, contatos e funcionalidades que necessitam de permissões de segurança, como interações entre dois ou mais aplicativos terceiros.
Sites mobile são construídos da mesma forma que os sites para computadores desktop e notebooks: através de interações entre arquivos HTML (para a marcação e delimitação da informação), CSS (para regrar os aspectos visuais da página), além de arquivos que possibilitem interatividade com o usuário (JavaScript) e com servidores (PHP, ASP e outros).
O adjetivo "mobile" é adicionado a sites que foram especificamente desenvolvidos para dispositivos móveis ou que possuem a característica de serem "responsivos", se adequando de maneira fluida ao dispositivo que carrega a página, seja ele um relógio, smartphone, tablet, etc.
Apesar de os sites mobile demonstrarem grande capacidade de serem facilmente utilizados pelos usuários e fazerem bom uso das capacidades dos dispositivos móveis, existem cenários onde é mais indicado empregar aplicativos nativos para fornecer serviços on-line (SUMMERFIELD):
Não há necessidade de conexão de dados: apesar de uma das novas fronteiras para os desenvolvedores de sites móveis e webapps ser o uso off-line, os aplicativos nativos ainda tem grande vantagem neste campo, já que é de sua natureza que grande parte de suas funcionalidades fique armazenada localmente no dispositivo móvel.
Funções nativas com necessidade de alto processamento de dados: sites mobile podem acessar "funções básicas de telefone celular" (como fazer ligações, enviar SMS, abrir links), mas o acesso à funções nativas de smartphones como GPS, câmera ou solicitar à CPU do aparelho o processamento de altas quantidades de instruções em alta velocidade (caso de videogames) é algo em que os aplicativos mobile ainda fazem com muito mais facilidade.
Alta personalização e notificações: atividades que demandam alta personalização para uso pessoal são melhor satisfeitas por aplicativos nativos, com capacidade de envio de notificações personalizadas.
As desvantagens no uso de aplicativos móveis para fornecer serviços on-line estão, de forma geral, relacionadas aos hábitos dos usuários de dispositivos móveis:
Apenas uma pequena parcela de aplicativos supera a barreira de mil instalações: menos de 20% dos aplicativos disponíveis nas lojas de aplicativos têm mais de 1000 downloads. Uma vez que o custo de desenvolvimento e manutenção de um app é elevado, pode ser economicamente contraproducente oferecer serviços em aplicativos nativos.
Apps são restritos a plataformas e devem se submeter a suas políticas: aplicativos nativos são distribuídos através de lojas virtuais e necessitam enquadrar-se em diversas regras impostas por seus administradores. Seus efeitos podem ser:
Restrição a porções do total de usuários de dispositivos móveis: Somando ao que foi dito no item anterior sobre custos, esta questão pode limitar ainda mais a distribuição de serviços.
Possível censura de atualizações, temas e conteúdos: as regras podem impedir a publicação de conteúdos sexualizados, violentos ou que incitem violência física. Porém os termos são vagos e podem impedir a publicação de apps com temas polêmicos mas que precisam ser debatidos. Durante o processo de atualização, novas versões dos aplicativos podem ser vedadas por motivos diversos.
As lojas virtuais ficam com uma parte dos lucros: de todas as vendas e publicidades exibidas dentro dos aplicativos, uma parte fica com a administradora. No longo prazo, isso pode ter grande efeito negativo sobre as finanças de uma empresa.
É preciso acertar na primeira vez: avaliações e resenhas de apps são permanentes e uma grande quantidade de usuários as consulta antes de instalar um aplicativo. Avaliações negativas podem ter um efeito de longo prazo – 13% dos usuários evitam instalar aplicativos de marcas com quem tiveram más experiências no passado.
Sites otimizados para dispositivos móveis em geral servem melhor a quem busca uma audiência mais ampla e pouco engajada, sendo mais indicado para funções de marketing ou relações públicas. De forma mais específica, sites mobile oferecem as seguintes vantagens:
Facilidade de atualização e publicação para um grande público: sites mobile são construídos localmente e publicados em servidores onde qualquer mudança implementada fica disponível instantaneamente. A limitação imposta por sistemas operacionais também é ultrapassada, uma vez que todos os sistemas operacionais vêm com um browser padrão instalado que pode acessar qualquer site disponível na Web.
Baixos custos de desenvolvimento e manutenção: sites mobile são desenvolvidos utilizando em grande parte ferramentas e linguagens de programação de código-aberto, o que evita pagamento de royalties sobre serviços. Habilidades de manipulação e configuração dessas mesmas linguagens e ferramentas também estão mais disseminadas que as específicas para sistemas operacionais móveis, o que é outro fator de barateamento em desenvolvimento e manutenção.
As desvantagens dos sites mobile estão diretamente ligados à sua dependência perene de conexão à internet e a grandes limitações referentes ao uso de funções nativas dos dispositivos móveis.
Necessidade de conexão constante à internet: atualmente os sites serviços oferecidos em sites mobile necessitam de conexão perene à internet para funcionarem, uma vez que os arquivos que constituem o site não ficam armazenados nos dispositivos. É possível construir sites de modo que elementos de interatividade (JavaScript, jQuery, etc.) e estilo (CSS) fiquem armazenados no cache do navegador – alguns browsers até oferecem opções de guardar o site inteiro para consulta off-line – mas estas soluções não permitem consultas aos bancos de dados, funcionalidade essencial para o funcionamento de grande parte dos sites da Web.
Limitações para acesso a funções nativas: por questões de segurança os sistemas operacionais móveis limitam o acesso das funções nativas por sites e sistemas da web, o que pode acabar prejudicando a experiência de usuários que esperam uma performance similar a dos apps.
Embora a literatura e os especialistas tratem aplicativos nativos e sites mobile como entidades diferentes, com limitações e benefícios que parecem excludentes, na realidade as diferenças não são tão grandes. Com o crescimento do Software Como Serviço (ou SAAS, do inglês Software as a Service), um número crescente de em aplicativos depende totalmente de conexão com a internet para ser útil.
Por exemplo, o aplicativo de descoberta e navegação Foursquare precisa consultar seu banco de dados todas as vezes que um usuário faz uma busca. Nenhuma informação sobre os locais fica armazenada no dispositivo. Cada vez que o usuário necessita fazer uma busca, o aplicativo faz uma requisição pela internet. Outro caso mais relevante é o dos aplicativos de mensagens instantâneas, como WhatsApp e Viber. Tanto para receber quanto para enviar mensagens é necessário estar conectado de forma permanente. Tendo visto as vantagens e desvantagens dos apps e sites mobile, há uma terceira alternativa surgindo no horizonte: os web apps.
Um web app (do inglês, web application, traduzido como aplicação web) é uma abordagem intermediária entre os sites mobile e os aplicativos nativos, que vem ganhando popularidade junto com o SAAS. Um web app é dividido em 3 camadas (ou nós): o browser é a primeira camada (chamada de Camada de Apresentação); em seguida uma segunda camada intermediaria (Camada de Aplicação Lógica) recebe as requisições feitas pelo usuário e as processa utilizando linguagens de programação de conteúdo dinâmico (como PHP, ASP, etc.), recuperando ou manipulando informações do banco de dados (Camada de Armazenamento).
Por ora, as web apps ainda sofrem de uma mesma restrição que os sites mobile: baixa performance. Toda vez que um usuário precisa acessar uma web app, é necessário baixar novamente todos os arquivos para seu funcionamento. Mas grupos de trabalho do World Wide Web Consortiun (W3C) estão trabalhando em como armazenar estes arquivos nos navegadores para que seu desempenho seja aproximado ao de aplicativos nativos.
Estas considerações ganham relevância quando consideramos as implicações dos usos de apps e sites mobile por empresas noticiosas. O uso de aplicativos nativos por parte de empresas jornalísticas tem sido claudicante. Os apps nativos oferecem uma quantidade interessante de possibilidades, mas parecem ser os sites mobile mais adequados para empreendimentos de imprensa.
Frederic Filloux (2015), argumenta como empresas noticiosas podem se valer das funções nativas dos smartphones para entender padrões leitura, delimitar perfis de leitores e fornecer sugestões de conteúdo que se adequem aos gostos dos usuários, para gerar maior engajamento com os aplicativos, o que traria maiores oportunidades de lucro – hipoteticamente.
Filloux (2014), argumenta que o conteúdo sugerido pode abranger todos os diferentes formatos: hard news em textos curtos, reportagens longas e elaboradas, coleções de citações e vídeos de diferentes durações. Após o aplicativo identificar quais conteúdos que mais aprazem o utente, as funcionalidades de localização podem identificar em que locais é mais provável o consumo de notícias. Para uma melhor experiência, esse conteúdo sugerido seria atualizado em segundo plano, para que o leitor possa acessá-lo sem inconveniência.
Mas Filloux (2015) admite em outro momento que embora os aplicativos ofereçam oportunidades de interação e personalização, talvez eles não sejam a melhor opção para empreendimentos jornalísticos na internet. Para o autor, as melhores chances estão na Web, com sites mobile.
Uma das estatísticas mais alardeadas para propagar a vitórias dos aplicativos nativos sobre sites mobile é a de que 86% do tempo das utentes é gasto dentro de apps nativos, deixando apenas 14% para atividades relacionadas a sites mobile. Filloux argumenta que esse afirmação é enganosa.
Examinando de perto dados da empresa Flurry Analitics (FILLOUX, 2015), percebe-se que do total de tempo gasto com apps ativos na amostra analisada, 32% corresponde a videogames, 17% ao uso do Facebook e 9,5% a troca de mensagens instantâneas (aqui incluído o aplicativo de mensagens do Facebook, Messenger). Em seguida os aplicativos de utilidades (agendamento, lembretes, etc.) ocupam 8% do tempo, 4% ao consumo de vídeos no aplicativo YouTube e 4% a entretimentos variados.
Portanto, o número de horas gastas consumindo conteúdo são proporcionalmente pequenas em relação ao total do tempo gasto com o uso de smartphones. Assim, existiria espaço importante para ampliar a presença de uma empresa de imprensa no cenário digital com o uso de sites mobile.
Filloux (2015) argumenta que muitos dos apps mais utilizados em smartphones são de serviços que não poderiam ser construídos fora de um aplicativo nativo, com forte uso das já funções nativas dos smartphones (ou sofreriam grande perda de performance).
Sites mobile, por outro lado, exigem poucos recursos – suas rotinas de funcionamento consistem de ler as instruções em arquivos HTML, juntar os arquivos indicados, anexar imagens, vídeos e áudios às páginas e apresenta-las de forma amigável ao utente. Isso é algo que requer baixo poder de processamento dos dispositivos.
Em relação à escolha entre apps nativos e web apps, Filloux (2015) destaca apenas quatro pontos onde aplicativos nativos seriam superiores a sites mobile ou web apps:
Velocidade/Fluidez: quando o conteúdo foi baixado (talvez em segundo plano, como sugerido anteriormente), aplicativos são muito mais fluidos para acessá-lo.
Notificações: por enquanto apenas aplicativos podem enviar notificações para dispositivos móveis. Se o foco de um empreendimento de imprensa são notícias urgentes, aplicativos são a melhor forma de avisar os usuários.
Compras: aplicativos são mais fluidos para realizar compras e pesquisas afirmam que usuários sentem mais segurança para fazer compras a partir de aplicativos.
Sensores: sites mobile tem dificuldade de lidar com sensores de direção e de localização, portanto dificilmente poderiam exercer monitoramento e gerar perfis adequados a locais, como citado anteriormente.
Como o preço do desenvolvimento de um app de grande escala, compatível com mídia de massa, pode custar (nos EUA) entre US$50 000 e US$100 000, a relação custo-benefício pode ser desastrosa para as finanças. Sem contar as anuidades e taxas sobre transações cobradas pela administração das app stores.
Por fim, Filloux (2015) argumenta que uma solução plausível seria o desenvolvimento de um SDK por um grande agente na Web (o autor sugere o Google), que melhorasse o acesso a conteúdos noticiosos. O autor afirma que isso poderia virar o jogo na indústria. Em breve Filloux (ano) poderá observar algo do tipo em ação.
Colaboração entre Google e jornais Europeus
Por força da lei europeia e do lobby dos grandes jornais europeus, a Google fechou um acordo para investir 150 milhões de euros para apoiar o jornalismo de alta qualidade na região através da tecnologia e da inovação. O plano do Google se concentrará em três áreas:
Desenvolvimento de produtos: será criado um grupo de trabalho para "explorar o desenvolvimento de produtos que contribuam para aumentar receitas, o tráfego e o envolvimento com as audiências".
Apoio à inovação: durante três anos a Google investirá "projetos que apresentem novas abordagens" à área, com rodadas de investimento, semelhantes à injeções de capitais em empresas de tecnologia.
Formação e pesquisa: equipes em Paris, Hamburgo e Londres darão apoio às redações para trabalhar e refinar as habilidades necessárias ao jornalismo on-line.
Não há explicitamente nenhuma intenção do Google em desenvolver novos métodos de publicação de conteúdo em sites mobile com melhor performance. Porém, uma vez que a empresa de buscas anda perdendo mercado publicitário para o Facebook, é possível que haja uma reação à iniciativa dos Instant Articles.
Os Instant Articles são uma iniciativa junto a grandes agentes de imprensa para facilitar o acesso a conteúdos noticiosos dentro dos aplicativos do Facebook. Argumentando que notícias carregadas diretamente nos aplicativos são apresentadas 10 vezes mais rápido que na Web, os Instant Articles são carregados diretamente dentro do aplicativo, evitando inconveniências no acesso aos conteúdos. Testes padronizados garantiram que os Instant Articles realmente são carregados mais rapidamente que os publicados em sites na Web.
A iniciativa também oferece aos parceiros ferramentas que permitem acesso privilegiado à base de dados sobre o comportamento dos usuários e inserção de publicidade – com retenção total do lucro com as mesmas. O Facebook promete ainda possibilidade de inserção de ferramentas de interatividade e multimídia, como enquetes, mapas, vídeos, fotos em alta resolução e acesso a funcionalidades nativas dos dispositivos, como localização, acelerômetro, câmera e outros. A reação dos especialistas foi temerosa, em grande parte.
Caio Túlio Costa foi apocalíptico ao dizer que os "jornais adentram o nono círculo do inferno":
[...]o histórico do comportamento tanto de Mark Zuckerberg na consolidação de seu poder no Facebook quanto o de negócios da empresa com parceiros, sugere que as publicações que aceitaram este experimento precisam ficar de pé, perna e braço atrás. [...] Quando a Zynga incluiu o social game FarmVille no Facebook, em 2009, era tudo maravilha. Como os jornais agora, ela podia comercializar o joguinho diretamente e levava 100% da renda. Logo que o sucesso chegou para a Zynga, e a mesma ajudou o Facebook a ganhar audiência (entre 2009 e 2010 o Facebook ultrapassou a barreira dos mais de 600 mil novos usuários por dia!), o Facebook decidiu lançar sua própria moeda de comercialização interna e logo depois reviu o contrato com a Zynga e dela passou a cobrar comissão pelo que ela própria vendia dentro da plataforma. Ao mesmo tempo, restringiu a distribuição dos posts da Zynga. Exatamente como passou a fazer com todas as marcas e com todos os usuários, obrigando-os a "impulsionar" os próprios posts. Ou seja: todos tiveram que pagar ao Facebook para ser mais vistos no próprio Facebook." (COSTA, 2015)
Enzo Menezes apontou que o conteúdo jornalístico publicado diretamente no site ainda está sujeito às "regras da comunidade" do Facebook, que incluem exclusão de nudez (notoriamente seios de mulheres amamentando) ou violência gratuita. O autor se pergunta:
Uma reportagem policial poderá ser considerada incitação à violência? Uma entrevista com um líder político polêmico seria enquadrada como discurso de ódio? A BBC concordaria em fazer uma crítica de cinema sem fotos de Azul é a Cor Mais Quente? E uma matéria sobre amamentação ou índios na Amazônia? O Facebook, teoricamente, pode levar veículos tradicionais, que prezam pela independência editorial, a uma inédita e perigosa inflexão no conteúdo postado na rede (MENEZES, 2015).
Com um ponto de vista mais otimista (ou conformista), Jeff Jarvis, entende que os jornais não são mais os donos de seus canais de distribuição e precisam estar presentes onde sua audiência habita na internet, ao invés de lutar contra a corrente:
[...] O que deveríamos fazer: ignorar a audiência no Facebook, bater o pé e levar nossas bolas para casa, esperando que os usuários sempre nos sigam para nossas Home Pages? (JARVIS, 2015).
São duas situação que, somadas, deixam as empresas noticiosas em uma situação difícil. É verdade que no histórico do Facebook com seus parceiros é comum que a rede social mude seu posicionamento, preterindo seus parceiros. Por outro lado, a audiência proveniente das mídias sociais (principalmente do Facebook) representa grande parte das visitas a sites de notícias – audiência que pode fazer falta a um grande número de jovens iniciativas.
Este movimento de grandes empresas de mídia publicando diretamente dentro de plataformas terceiras soma-se à publicação de notícias diretamente em aplicativos móveis para levar os consumidores de conteúdo para jardins fechados em oposição à abertura da Web.
6. CONCLUSÕES FINAIS
A edição de setembro de 2010 da Wired trazia a chamada para a antológica matéria "The Web Is Dead. Long Live the Internet", afirmando que a web teria sua importância drasticamente reduzida em favor das lojas de apps e outros sistemas do tipo "jardim fechado". Chris Anderson e Michael Wolff argumentam que ao mesmo tempo que os usuários buscam por serviços mais eficazes e que "entregam mais resultados", empresários e desenvolvedores buscam modelos de negócios mais estáveis.
Os usuários estariam se distanciando de serviços baseados nos browsers e requisições entre sites para serviços baseados em apps e requisições máquina-para-máquina:
Você acorda e verificar seu e-mail no seu iPad de cabeceira — isso é um app. Durante o café da manhã você navega no Facebook, Twitter e "The New York Times" — mais três apps. O caminho para o escritório, ouve um podcast em seu smartphone. Um outro app. No trabalho, você percorrer seus feeds RSS em um leitor e tem conversas no Skype e mensageiros instantâneos. Mais apps. No final do dia, você vai para casa, faz o jantar enquanto ouve a Pandora, jogar alguns jogos no Xbox Live e assiste a um filme no serviço de streaming da Netflix. Você passou o dia na Internet — mas não na Web [...]. (ANDERSON, WOLFF; 2010)
Os novos grandes empresários da tecnologia da informação buscam replicar modelos de negócios da era pré-internet:
Desde os primórdios da Internet comercial, a tecnologia eclipsou o conteúdo. O novo modelo de negócio é tentar deixar o conteúdo — o produto, por assim dizer — eclipsar a tecnologia. [Steve] Jobs e [Mark] Zuckerberg estão tentando fazer isso como os magnatas da velha mídia, fazendo um ajuste fino de todos os aspectos de seu produto, proporcionando uma experiência mais concebida, dirigida e polida. A crescente raça de emocionantes serviços de Internet — como Spotify, o serviço de música streaming ardentemente antecipado; e Netflix, que permite aos usuários transmissão de filmes diretamente em suas telas de computador, leitores Blu-ray ou Xbox 360s — também nos puxa para longe da Web. Estamos retornando para um mundo que já existe — um em que perseguimos os efeitos transformadoras da música e do cinema ao invés de nosso breve flerte (relativamente falando) com os efeitos transformadores da Web. Depois de uma longa viagem, podemos estar voltando pra casa. (ANDERSON, WOLFF; 2010)
Quatro anos depois, dados de tráfego sugerem que esta teoria descreve adequadamente o uso da internet por parte dos usuários. O engenheiro de tráfego de dados Craig Labovitz afirmou que
Considerando que o tráfego da internet foi uma vez amplamente distribuído através de milhares de empresas, [...] descobrimos que até 2009 metade de todo o tráfego da internet originou-se em menos de 150 grandes companhias de conteúdo e de distribuição de conteúdo. Em maio de 2014, esse número havia caído por um fator de cinco. Hoje, apenas 30 empresas, incluindo Netflix e Google, contribuam em média por mais de metade do tráfego de internet nos Estados Unidos durante o horário nobre. (NAUGHTON; 2014)
O autor do artigo, John Naughton, reitera que não é o fim daquilo que os evangelistas da internet propuseram: você ainda pode criar um blog, um site independente e disseminar suas ideais. Mas isso mais e mais vai se tornar algo de nicho.
Assim, é possível concluir que os interesses dos consumidores de mídia e seus produtores e distribuidores estão em grande parte alinhados. Portanto as ações das grandes empresas de mídia para fornecer se conteúdo através de canais diretos para sua audiência é algo que tem respaldo na maneira como os usuários consomem mídia e faz parte de um movimento geral por parte dos empresários para aumentar o número daqueles que vivem dentro de seus jardins fechados.
Especialistas assemelhados a Enzo Menezes e Caio Tulio Costa podem ter razão em afirmar que a submissão das empresas de imprensa a canais ondem tem pouco espaço de manobra é algo contraditório à vocação da imprensa de estimular o debate democrático na esfera pública, mas Jeff Jarvis também tem razão quando afirma que a imprensa precisa estar onde sua audiência está.
Estes dois posicionamentos seriam as bases de duas estratégias distintas de comportamento e lucratividade. Uma onde as empresas de imprensa manteriam suas bases e teriam laços fracos com sua audiência dentro de canais controlados por terceiros e outra onde os agentes noticiosos atuariam dentro de um ecossistema gerido por terceiros. É fácil também pensar numa estratégia híbrida onde a imprensa mantém suas bases em sites proprietários e também atua dentro dos citados ecossistemas (qual dos esforços seria secundário, só o tempo diria). Mas um revés constantemente citado na área de planejamento estratégico é se uma dada estratégia formulada pode ser implementada.
De acordo com os dados apresentados anteriormente, levando em conta o comportamento dos consumidores de mídia, dos novos canais e dos agentes que podem interferir no consumo de notícias, somos levados a crer que a estratégia de laços fracos é a mais fácil de ser implementada, mas a que traz menos resultados positivos no longo prazo, pois é a que tem menos possibilidade de influenciar o modo como a audiência consome notícias.
A explicação de Bia Granja, fundadora do site youPix, da sua decisão de mover o futuro conteúdo do site para a plataforma de blogs Medium ajuda a entender essa situação:
A internet democratizou a criação de conteúdo porque, na verdade, ela democratizou a distribuição de conteúdo. De repente, você não precisava de uma soma gigantesca de dinheiro pra poder fazer seu conteúdo chegar às pessoas. Youtube, Facebook, Twitter, Medium… poste seus conteúdos usando essas plataformas e o próprio ecossistema se encarrega de faze-los circular. O conteúdo agora gravita em torno dos usuários/leitores e não o contrário. Ter um site como "página de destino" me parece uma visão meio velha sobre como a gente se relaciona com conteúdo hoje em dia. O usuário comum de internet tem o Facebook e/ou o Twitter em suas listas de favoritos e não o seu site, o UOL ou o Buzzfeed. (GRANJA)
Esta abordagem faz com que os parceiros, por exemplo, do Facebook possam se concentrar na elaboração do conteúdo que seria distribuído posteriormente pela mídia social em questão. Evitando cercear inovações, não opinaremos sobre as chances de sucesso de tai empreitadas, deixando ao leitor formar sua própria opinião diante dos dados e opiniões de especialistas apresentados.
Jeff Jarvis (2015) está certo ao dizer que a imprensa precisa estar onde seu público está, por isso torna-se evidente que haverá um entrelaçamento cada vez maior entre as empresas de mídia e os canais digitais por onde seu conteúdo é distribuído – principalmente as mídias sociais e apps – pois não há nada no horizonte que indique uma mudança de comportamento.
Também é patente que existe uma ameaça às tradicionais empresas de imprensa com os experimentos dos Instant Articles: por ora apenas um seleto grupo de participantes pode publicar seu conteúdo diretamente no Facebook. Haverá um segundo momento em que este programa deverá ser aberto a qualquer empresa de mídia – talvez até a indivíduos – e todo e qualquer conteúdo de mídia poderá ser publicado diretamente dentro do Facebook de forma bastante formatada. Um desenvolvimento lógico é o nascimento da imprensa dentro do site, que – segundo o raciocínio de Costa (2015) – teria seu conteúdo privilegiado em detrimento do conteúdo externo ao site e os usuários não terão necessidade de acessar links noticiosos para fora do Facebook.
Analisados o comportamento dos usuários dos cada vez mais presentes dispositivos móveis, das intenções dos empresários de mídia e tecnologia e dos inovadores de produção de conteúdo, o conjunto destes elementos aponta que o futuro do jornalismo online em plataformas móveis é viver nos jardins fechados das lojas de aplicativos móveis e das mídias sociais.
7. BIBLIOGRAFIA
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