Jornalista-cidadão vs Jornalista-profissional

July 12, 2017 | Autor: Margarida Queirós | Categoria: Citizen Journalism
Share Embed


Descrição do Produto





Jornalista-cidadão vs. Jornalista-profissional

Introdução ao Jornalismo

Professor João Figueira
















1º Semestre, Ano letivo 2012/2013

Ana Margarida Galveia Queirós
Número de aluna 2012103179

Índice


Introdução


Profissionalização do Jornalismo


Jornalista-profissional


A notícia


Liberdade, Ética e Deontologia


O cidadão e os media no processo de democratização da sociedade


A internet como meio


Jornalista-cidadão
Restrições à participação do jornalista-cidadão
Contributos da participação do jornalista-cidadão


Conclusões



Introdução

Quando comparado o conceito ''jornalista-cidadão'', a outros conceitos como ''médico-cidadão'' ou ''advogado-cidadão'', deparamo-nos com uma situação ridícula que pretende que o cidadão execute funções que só alguém formado, respeitado e com enorme bagagem de conhecimentos, tanto técnicos como acadêmicos ou específicos consegue. No entanto, a verdade é que a produção de fatos jornalísticos é agora também feita pelos cidadãos e chegou pela internet – e parece ter vindo para ficar, pois apesar dos cidadãos não terem a formação necessária para produzir uma notícia, esta capacidade deixou de ser um poder só dos jornalistas e dos jornais. Com a internet, o cidadão encontra nos blogs e nas redes sociais uma nova maneira de participar no espaço mediático.
A meu ver, para conseguir falar de um conceito tão atual como este, é necessário pensar no passado. E assim sendo, durante este trabalho irei falar da profissionalização do jornalismo, pois penso ser necessário compreender o que é um jornalista profissional e a história da ocupação que passou a profissão.
De seguida, irei analisar o conceito de notícia, pois é este o objeto prático dos jornalistas e agora, do jornalista-cidadão. Posteriormente, analisarei a função do cidadão e dos media no processo de democratização da sociedade e as funções dos vários códigos que regem a liberdade de expressão e opinião tanto dos jornalistas como dos cidadãos. Depois, estudarei o porque e o como da internet como meio.
Seguidamente tentarei definir o conceito de jornalista-cidadão, e após isto os seus contributos e as suas restrições à participação no espaço mediático. Finalizarei com algumas reflexões pessoais.




Profissionalização do jornalismo

O jornalismo foi sempre uma profissão pouco prestigiada ao longo dos tempos. Em França, no século XIX escrever na imprensa era como um remédio para as pessoas letradas um profissão vista como um primeiro passo para outras carreiras pois «conferia algum prestígio de uma profissão intelectual, já que requeria cultura literária mas não exigia um período de preparação longo e dispendioso» (Traquina, 2007:61). Ainda por volta de 1900, os jornalistas dos EUA, eram pagos por número de linhas, o que levava a mais sensacionalismo pois estes eram obrigados a ''esticar'' as notícias (quanto maior a notícia, mas dinheiro o jornalista recebia); havia também um sistema de pagamento à semana e um medo do despedimento pois o contracto era verbal; a acrescentar a este clima de instabilidade, os jornalistas trabalhavam muitas horas e tinham poucas férias. Muitos, aceitavam subornos para por exemplo, colocar nomes de produtos ou políticos no meio das notícias.
Em Portugal, a debilidade das liberdades políticas contribuíram como maior fator do fraco desenvolvimento do jornalismo como profissão, onde existiam jornalistas em situação de duplo emprego e em grandes dificuldades. Isto, contribuiu para uma posição de pouco prestígio social e baixos vencimentos, não só no século XIX como no século XX.
Toda esta instabilidade organizacional levava a um deterioramento da profissão, o que fez com que crescessem vontades de promover a profissionalização do jornalismo.
Nos EUA, esta vontade foi promovida com a criação de clubes em várias cidades, na década de 1880, e mais tarde, em 1908, nasceu um clube nacional, o National Press Club. Em Inglaterra foram criadas duas grandes associações: a primeira, em 1884, que muda o nome para «Instituto do Jornalismo» em 1889, e a segunda, em 1906, a National Union of Journalists. França seguiu o mesmo caminho, onde em 1880 proliferaram fraternidades, associações e uniões das quais é exemplo a «Associação dos Jornalistas Parisienses» que foi criada por volta de 1885.
Em Portugal, em 1880 surge a primeira Associação de Jornalistas e Escritores e em 1885 a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do Porto; mais tarde, em 1897, foi criada a Associação da Imprensa Portuguesa e em 1904 a Associação da Classe dos trabalhadores da Imprensa, que seria transformada num sindicato em 1904.
No geral, estes clubes, associações ou sindicatos, eram espaços onde se debatia como diferenciar entre ''profissional'' e ''amador''. Tentavam conseguir um estatuto profissional para os jornalistas, proteger e melhorar as condições de vida dos seus membros (por exemplo, conseguir acordos de salário mínimo para diversas categorias de jornalistas).
Mas, para além destes objetivos, outros dois estão inerentes a profissionalização do jornalismo. Este, serve para (não no sentido negativo do verbo) controlar o comportamento dos jornalistas, de formar a criar mais coesão entre profissionais, para que as organizações jornalísticas e burocráticas aliviem a responsabilidade de criar os seus próprios mecanismos de controlo.
Para o jornalismo existir como profissão, tem que assegurar o controlo sobre a base cognitiva da profissão, ou seja: é exigido um conjunto de conhecimentos ''ocultos'' (ocultos pois só os jornalistas os devem conhecer) e estáveis; ou melhor, aprendidos e consolidados, para que diferentes profissionais ajam da mesma forma independentemente da tarefa. É também necessário que o público aceite estes profissionais como os únicos capazes de fornecer estes serviços. E só assim é estabelecido um monopólio no mercado profissional do jornalismo.
Isto, foi conseguido através dos clubes, associações ou sindicatos de que falei a pouco, mas também através do incentivo a formação académica, por ser este ser o caminho correto de acesso a uma profissão, já que é assim ganho mais rigor para cada profissional. Mas só a formação académica não chega, pois «O jornalismo não pode esperar controlar a educação profissional para atingir a estandardização cognitiva necessária para o profissionalismo. É através da educação profissional formal, do estágio profissional em exercício ou, como é geralmente o caso, da combinação destes (Johnstone et al., 1976, p.65), que os jornalistas vêm a partilhar a base cognitiva ao profissionalismo jornalístico» (Traquina, 1999:95).
O problema, a meu ver, está nos jornalistas sem habilitações académicas, que coloca por exemplo a seguinte questão: será um blogger assim tão diferente de um estagiário sem qualquer formação académica?
Jornalista-profissional

Um jornalista profissional é então um profissional que alia conhecimentos técnicos ou/e académicos, a uma boa técnica de redação.
Segundo o Estatuto dos Jornalistas português, «são considerados jornalistas aqueles que como ocupação principal, permanente e remunerada, exercem funções de pesquisa, recolha, seleção e tratamento de factos, notícias ou opiniões, através de texto, imagem ou som, destinados a divulgação informativa pela imprensa, por agência noticiosa, pela rádio, pela televisão ou por outra forma de difusão electrónica.» e não constitui atividade jornalística «o exercício de funções referidas no número anterior quando desempenhadas ao serviço de publicações de natureza predominantemente promocional, ou cujo objeto específico consista em divulgar, publicitar ou por qualquer forma dar a conhecer instituições, empresas, produtos ou serviços, segundo critérios de oportunidade comercial ou industrial.»
Então, estes, tem uma enorme responsabilidade, e uma responsabilidade especial, já que mais nenhum profissional influência a opinião pública como o jornalista, e por isso não se podem reger por critérios de oportunidade pessoal.
A sua atividade primária é observar, pesquisar e descrever eventos. Devem agir de modo a relatar as notícias com objetividade e procurar relatar os factos da forma mais equilibrada e imparcial possível. Trabalham com fontes (que são muitas vezes os cidadãos) e é da responsabilidade das fontes a veracidade da informação, sendo que o jornalista tem como função saber ''escolhe-las'', tendo também a obrigação de proteger o anonimato das mesmas.
E é através da relação, entre o mecanismo organizacional dado pelo profissionalismo do jornalismo e os mecanismos de controlo da organização ou empresa jornalística, que é formado o ''protótipo'' de jornalista profissional, que está limitado a uma base cognitiva determinando depois a natureza organizacional das notícias.


A notícia

«À pergunta «o que é notícia?» podemos responder que a resposta dos membros da comunidade jornalística não é científica, aparece como instintiva, e permanece quase como tendo uma lógica não explicitada. E, ao contrário de um jogo de cartas como o bridge, não há regras que indiquem que critérios têm prioridade sobre outros; mas os critérios de noticiabilidade existem, duradouros, ao longo dos séculos» (Traquina, 2007:203)
Numa definição muito abrangente, a notícia é o formato de difusão de um acontecimento nos meios jornalísticos.
O acontecimento tem de ser socialmente, politicamente, culturalmente ou economicamente relevante para passar a notícia; e existem também valores notícia (critérios de noticiabilidade), por exemplo: novidade, fator tempo, a falha, o ilegal, as guerras, o escândalo ou a notabilidade - todos estes valores são inalteráveis, mas sofrem mudanças dependendo do tempo histórico que define a importância e o significado dos acontecimentos e também da política editorial da empresa jornalística. Valores notícia que estão como que enterrados nas rotinas jornalísticas e consequentemente, na escolha do que passa de informação a notícia.
E porque, neste trabalho, definir notícia? Porque o jornalista faz notícias, e o jornalista cidadão tende a apresentar e divulgar acontecimentos e por muitas vezes não-notícias.


Liberdade, Ética e Deontologia

Ser jornalista implica a convicção de certos valores, e no geral podemos nomear: a liberdade, a ética e a deontologia. A liberdade, pois existe uma inter-relação obrigatória entre jornalismo e democracia; e só assim a profissão consegue ter independência, e autonomia nas suas relações de trabalho. A ética, ou seja, a associação do jornalismo com a verdade, pois o jornalista deve dedicar-se a defender honestamente o interesse do público. Finalmente, a deontologia, que visa, entre diversas coisas, o combate a censura e sensacionalismo, o respeito a privacidade, o uso de meios leais para a obtenção de informações, a obrigação de relatar os factos com rigor e exatidão, a imposição de assumir responsabilidades por todos os trabalhos e atos profissionais e a necessidade de não discriminar em função de cor, raça, religião, nacionalidade ou sexo.
Cinco conjuntos de leis consolidam a liberdade de expressão e opinião, tanto como dos jornalistas, como dos cidadãos:
Constituição da República Portuguesa
Lei da Imprensa
Lei da Rádio
Estatuto dos Jornalistas
Código Deontológico
Estes, consolidam o pretendido com a profissionalização do jornalismo e entre outras coisas, definem que o jornalista deve ter um vencimento digno e garantido para não ceder a chantagens, que o jornalista deve diversificar e proteger as fontes, que não pode exercer em simultâneo com o jornalismo funções remuneradas de consultadoria de imprensa, relações públicas, publicidade ou marketing e, finalmente, que a informação não pode ser falsa (ou seja, tem que ser verificada), nem pode ser superficial ou tendenciosa.


O cidadão e os media no processo de democratização da sociedade

A liberdade de comunicação e expressão é fator obrigatório na existência da democracia, e a democracia só existe com liberdade de comunicação e expressão. Assim, os media e o cidadão, tem um papel complementar na democratização da sociedade.
Mas, o discurso dos media não é representativo da pluralidade social, porque, apesar dos jornais, rádios ou televisões poderem explorar lados diferentes dos mesmos factos, pode haver pelo menos um ponto de vista ignorado – e isto representa um problema – pois os media não estão a conseguir ouvir, e consequentemente dar o público, o que o público quer.
Este problema é então colmatado pelo cidadão e pela sua vontade de enviar feedback. A Internet proporciona assim o meio ideal para existir um jornalista-cidadão, pois esta proporciona a união entre o Estado, a sociedade e os media.


A internet como meio

Numa entrevista a Jeff Jarvis, dos jornalistas João Pedro Pereira e Pedro Ribeiro no jornal Público, de nome '' No jornalismo, as boas ideias são do público'' :








Como já foi dito, a Internet aparece com um papel de união; para além disso, esta permite uma comunicação individualizada, personalizada, bidimensional e em tempo real. Os indivíduos podem agora partilhar informação num meio como a internet que permite uma interatividade direta entre o jornalista-cidadão e o seu leitor, pois nesta nova plataforma é possível comentar em tempo real.



Jornalista-cidadão
Restrições à participação do jornalista-cidadão
Contributos da participação do jornalista-cidadão

O jornalista cidadão é um cidadão que pode partilhar o que vê, ouve e perceciona principalmente e talvez unicamente através da Internet. Tem agora uma opinião imediata, que nunca foi alcançada com páginas dos jornais ou revistas dedicadas ao leitor e a sua opinião, pois nestes espaços, das várias opiniões eram selecionadas algumas e só eram publicadas algum tempo depois.
Deixa de existir então, no mundo virtual, uma linha que separa quem faz as notícias de quem as recebe. Então, simplificando, os jornalistas cidadãos são alguém sem formação académica ou técnica, sem qualquer experiência, mas com uma vontade enorme de participar no meio mediático.
Estes, não sofrem qualquer constrangimento, pois ao não trabalharem para nenhuma organização jornalística, não dependem de normas de conduta, mas também não fazem o seu trabalho com base em conhecimentos técnicos, pois não os têm; apesar da informação produzida ser mais democrática, o jornalista cidadão publica informação segundo a sua consciência pessoal, e então esta torna-se pouco objetiva e nada controlada; a informação pode ser ainda carregada de pressões económicas, políticas ou ideológicas, em função de uma qualquer intenção de ascensão pessoal.
No entanto, existem muitos contributos da participação do jornalista cidadão no espaço mediático: cobrem acontecimentos inesperados em localizações inesperadas, simplesmente por estar onde ninguém sabe que é preciso estar; e quando os seus testemunhos não são falsos, dão ao mundo testemunhos emotivos e na primeira pessoa de situações diversas e ainda, oferecem pistas que podem dar lugar a criação de uma informação.
É necessário então, filtrar a informação originada pelos cidadãos para que todo o público tenha acesso a informação verdadeira e verificada. Assim sendo, a grande dificuldade do jornalista cidadão é a verificação da veracidade da informação e também a sua credibilidade, pois estes não estão habilitados para produzir informação, e sim apenas para a enviar para uma redação.
A título pessoal, jornalista cidadão deveria ser um conceito com outro nome, já que deve complementar e ajudar no trabalho do jornalista profissional, e não sobrepor-se a este, por não ter as mesmas faculdades que o profissional.


Conclusão

Penso que existe uma relação benéfica entre ambas as partes, se ambos souberem onde e como atuar.
O jornalista cidadão deve continuar a difundir texto, imagem, som e vídeo para os seus blogs pessoais e para os media tradicionais mas não deve desproteger a sua integridade física, social e psicológica, em função da apuração dos factos, porque não é protegido por qualquer lei e porque não é remunerado neste exercício de cidadania.
O jornalista profissional deve ter em atenção o público que agora se quer fazer ouvir ainda mais, e o jornalismo terá que perceber como melhor aproveitar uma nova tecnologia, a internet, com bastantes vantagens e que veio para ficar.
O jornalismo do cidadão é inevitável e por isso, é benéfico para todos que dele sejam retiradas utilidades. Acredito que, nunca o jornalismo do cidadão se ir sobrepor ao jornalismo profissional, se este continuar a esforçar-se para possuir profissionais rigorosos, isentos e que tenham os valores e constrangimentos da profissão bem estruturados e consolidados.






Bibliografia

TRAQUINA, Nelson. (2007) ''Jornalismo''


SOLOSKI, John ''O jornalismo e o profissionalismo: alguns constrangimentos no trabalho jornalístico'' em ''Jornalismo: Questões, Teorias e ''Estórias'' '' de Nelson Traquina (1999)

''Estatuto dos Jornalistas'' Disponível em http://www.ccpj.pt/legisdata/LgLei1de99de13deJaneiro.htm

TORRES, Cleyton Carlos. ''Jornalismo-cidadão ou jornalismo com colaboração?'' Disponível em http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/jornalismocidadao_ou_jornalismo_com_colaboracao


PEREIRA e RIBEIRO, João Pedro e Pedro. ''Jeff Jarvis: No jornalismo, as boas ideias são do público'' Disponível em http://publico.pt/media/noticia/jeff-jarvis-no-jornalismo-as-boas-ideias-sao-do-publico-1326487


CORREIA, Frederico. ''Jornalismo cidadão – quem és tu?'' Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/correia-frederico-jornalismo-do-cidadao.pdf



CANAVILHAS, Joao Messias. ''Webjornalismo – Considerações Gerais sobre jornalismo na web'' Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/canavilhas-joao-webjornal.pdf

MATTOSO, Guilherme de Queirós. ''Internet, jornalismo e weblogs: uma nova alternativa de informação'' Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/mattoso-guilherme-webjornalismo.pdf

CORREIRA, João Carlos. ''Algumas reflexões sobre a importância da formação universitária dos jornalistas'' Disponível em http://bocc.ubi.pt/pag/correia-joao-formacao-universitaria-jornalistas.html

MARQUES, Sheila Sofia Tomás. ''O Cidadão Jornalista: Realidade ou Ficção'' Disponível em http://www.bocc.ubi.pt/pag/marques-cheila-cidadao-jornalista-realidade-ou-ficcao.pdf


Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.