José Régio: versos esparsos e inacabados

Share Embed


Descrição do Produto

Enrico Martines

José Régio versos esparsos e inacabados

FICHA TÉCNICA

Título José Régio: versos esparsos e inacabados Autor Enrico Martines Editor Centro de Estudos Regianos Capa e Execução Gráfica Clássica, Artes Gráficas Tiragem 500 exemplares Depósito Legal 414440/16 ISBN 978-989-96471-3-8 Imagem da Capa Desenho autógrafo de José Régio gentilmente cedido pela Biblioteca Pública Municipal do Porto [ BPMP_M-SER-1057_01 ].

Índice

Prefácio: de Régio o resto (por Ivo Castro) ............................................. 5 Nota prévia.............................................................................................. 9 1. Preâmbulo: o Régio que conhecemos............................................... 11 1.1 José Régio, poeta ......................................................................................... 11 1.2 Os volumes póstumos .................................................................................. 24 1.3 José Régio e a poesia: um progressivo afastamento ..................................... 36

2. Publicações poéticas esparsas .......................................................... 43 2.1 Análise do corpus ......................................................................................... 43 2.1.1 Poemas publicados na adolescência........................................................... 43 2.1.2 Poemas publicados na juventude ............................................................... 48 2.1.3 José Régio: publicações esparsas e póstumas ............................................ 49 2.2 Texto dos poemas ........................................................................................ 61 2.2.1 Critérios de edição ...................................................................................... 61 Poemas publicados na adolescência (1916-1919) .............................................. 65 Poemas publicados na juventude (1919-1922) ................................................. 177 José Régio: publicações esparsas (1924-1969) .................................................. 195 Publicações póstumas ....................................................................................... 253

3. Poemas inacabados ......................................................................... 267 3.1 Análise do corpus ....................................................................................... 267 3.1.1 Poemas com título e quadras ................................................................... 270 3.1.2 Poemas sem título .................................................................................... 274 3.1.3 Poemas incompletos................................................................................. 288 3.1.4 Fragmentos ............................................................................................... 309 3.1.4 Poemas explicitamente condenados ........................................................ 310 3.2 Texto dos poemas ...................................................................................... 312 3.2.1 Critérios de edição .................................................................................... 312

Poemas com título e quadras ............................................................................ 315 Poemas sem título ............................................................................................. 335 Poemas incompletos ......................................................................................... 371 Fragmentos ........................................................................................................ 451 Poemas explicitamente condenados ................................................................. 459

Bibliografia de referência .................................................................... 475 1. Obras de José Régio ..................................................................................... 475 1.1 Livros de poesia de José Régio ..................................................................... 475 1.2 Periódicos e outros volumes que contêm poemas esparsos de José Régio .............. 475 1.3 Outras publicações de José Régio consultadas ............................................ 478 2. Obras sobre José Régio ................................................................................ 478 3. Estudos sobre crítica textual ........................................................................ 483 Índice dos poemas ........................................................................................... 487 Publicações poéticas esparsas ........................................................................... 487 Poemas inacabados ........................................................................................... 491 Índice topográfico dos manuscritos ................................................................. 494 Espólio de José Régio, Centro de Memória de Vila do Conde ........................... 494 Manuscritos de Alberto de Serpa, Biblioteca Pública Municipal do Porto ........ 495 Manuscritos do arquivo do Rancho do Monte .................................................. 496

Prefácio: de Régio o resto

Ao contrário de Pessoa, que por pouco morria inédito, José Régio era no fim da vida um poeta conhecido e muito lido, como atestam os seus livros publicados e, mais claramente ainda, as repetidas edições que cada um teve. Enquanto o apreciador da poesia portuguesa de Pessoa apenas conhecia, em 1935, a recentíssima Mensagem e uma contada centena de poemas saídos em jornais e revistas, o apreciador de Régio disfrutava de oito coletâneas poéticas, desdobradas em mais de quarenta edições, doze volumes de ficção e seis de teatro, com dezenas de edições, além de muita outra matéria impressa por diversos sítios. São valores notáveis, medidos tanto na operosidade do autor como no acolhimento que as suas obras tinham por parte dos leitores, justificando novas edições, reedições ou simples tiragens, todas contribuindo por igual para a massa de exemplares consumidos (apesar, ressalve-se, de algum declínio da atenção que a sua obra terá recebido para o fim). A gratificação de se sentir lido, um bem que se esquivou a Pessoa, é fator que talvez possa ser quantificado e ponderado na avaliação das condições produtivas dos escritores portugueses de meados do século passado; dela beneficiou Régio, na companhia de outros como Ferreira de Castro, Namora, Vergílio Ferreira, senhores em vida de bibliografias ativas que teriam feito a inveja de Camilo, bastante atento a esses aspetos da arte. Mas um confronto de outro género se perfila entre Régio e Pessoa, tendo diretamente a ver com este livro. Pessoa, pois que quase não publicou em vida, deixou a maior parte da sua obra não pronta para ser publicada, mas sim necessitando de ser desenhada ao sabor de gerações de editores, mais inspirados uns que outros. Régio, à parte os volumes póstumos que delineou e foram cumpridos com gosto e inteligência por Alberto de Serpa, legatário a que qualquer escritor morto gostaria de deixar os seus manuscritos, foi arquiteto e artífice da obra própria, na pluralidade e na individualidade dos sucessivos volumes. Cingindo-nos à obra poética, de que se distanciou algum tanto nos últimos anos, como com bons argumentos propõe o editor deste livro, dá a impressão de Régio ter publicado tudo aquilo que desejou, e como desejou, não lhe faltando tempo nem oportunidade para finalizar os textos inacabados e para retomar textos que, uma vez saídos na imprensa, por aí se ficaram, sem convite a iniciarem nova vida em uma das 5

José Régio: versos esparsos e inacabados

coletâneas de poesia que montou. Terem sido esquecidos ou abandonados pelo escritor «na gaveta da sua mesa de trabalho» supõe sem dúvida um juízo seu, talvez não tão matutino como o que Pessoa augurava às suas composições. A presença desse juízo, e a sua adivinhável natureza, derrama sobre esses textos uma penumbra de que Enrico Martines agora os retira com esta edição. Aqui se acham reunidas 121 poesias esparsas, que só tiveram publicação em revistas e jornais, e 79 poesias que o editor designa «inacabadas». Sobre todas elas impende o mesmo juízo autoral, embora não sejam textos ligados por uma natureza comum; aliás, o editor fala da sua «natureza dúplice». Como ele documentadamente explica, o primeiro corpo é formado por poesias éditas, que o poeta não achou dignas de terem segunda edição em livro, ao passo que no segundo corpo se encontram textos que parecem completos (mas a que alguma coisa faltaria, aos olhos do poeta), e bem assim poemas incompletos e simples fragmentos. O traço que une as peças do segundo conjunto ‒ «viram interrompido o processo compositivo de construção que as levaria até aos leitores», daí serem classificadas como inacabadas ‒ poderia talvez atingir mesmo os poemas do primeiro conjunto, pois, apesar de éditos, não concluíram a progressão que levou os restantes poemas canónicos até à sua sede final, o livro coletâneo. Se a constituição deste volume é complexa por reunir peças que tiveram projetos de vida desigualmente cumpridos, uma clara sensação de unidade advém de todas as peças terem sido vítimas de abandono por parte do autor, ou, para dizer de modo menos áspero, de todas terem acabado por ser denegadas ao conhecimento do leitor. Este livro é, de facto, formado pelo resto da poesia de José Régio. Sendo assim, apetece perguntar: Valerá a pena publicar este resto, que Régio rejeitou, ou deixou abandonado no caminho? A pergunta é oportuna, mesmo em termos retóricos, pois dá mote à defesa do método filológico brilhantemente aplicado a estes materiais por Enrico Martines. Quanto ao método em si, bastará anotar que a edição satisfaz, do ponto de vista técnico, as necessidades reveladas por poemas como estes: quando estão impressos e não são acompanhados de anotação ou de manuscrito autoral, o editor apenas intervém para propor a emenda de erros indiscutíveis e para informar sobre as circunstâncias da publicação, por vezes de forma muito pesquisada; quando para um poema existem vários testemunhos, com variantes entre si, a edição escolhe a forma mais recente atribuível ao autor, mas regista todas as outras de modo a revelar o percurso que o texto seguiu nas passagens que deram mais trabalho ao autor. O leitor fica assim habilitado a comparar o antes e o depois dessas passagens e a interrogar-se 6

Prefácio: de Régio o resto

sobre as razões que terão inspirado Régio na modificação do seu texto inicial. É para levantar questões como estas, e para angariar materiais que lhes forneçam respostas globais e para, em fim, melhor conhecer os contornos da produção do texto literário, que estas edições de índole crítica mais eficazes se revelam. Vejam-se, por exemplo, os nutridos aparatos que seguem os poemas da série 103, ou os poemas inacabados; a decifração das anotações peritextuais e genéticas não é fácil, mas a oportunidade de conhecer o poema não só no seu estado último, mas também no detalhe da sua construção, decerto vale a viagem. O interesse pelos restos literários não é novo. Inspirado inicialmente pela curiosidade colecionista e museística, que se encarregou da crucial preservação de documentos escritos e de objetos ungidos pelo contacto com as mãos dos autores, que de outra forma teriam seguido o caminho das trivialidades efémeras, esse interesse tem visado principalmente os materiais autográficos que precedem e enquadram a criação da obra literária (projetos, rascunhos, cópias limpas e emendadas, provas tipográficas, exemplares anotados e corrigidos). Autores como Régio, que deixaram um pouco de isto tudo, são campo fértil para este interesse, que se expande a outros tipos de documentos, como a correspondência trocada entre um autor e seus relativos, ou entre estes a respeito dele, ou como as notas marginais lançadas nas áreas brancas do material impresso, denotando diretamente a reação escrita do leitor, seja ele o próprio autor em clave corretora, seja outrem em clave crítica. Os restos regianos que motivam este livro pertencem a esta categoria de documentos escritos emanados do autor, mas não destinados ao conhecimento do público, ou restringidos a público limitado, ou retirados de acesso a partir de certa altura. Além do seu valor intrínseco, importam pelo incidente de recusa, que muitas vezes diz mais sobre o autor e as suas ideias do que ele gostaria que fosse percebido. É por isso que estes poemas merecem ser lidos de novo, bem editados por um profundo conhecedor da obra de Régio, que aqui demonstra que o filólogo, por amigo do escritor, não se torna por isso seu servo ou cúmplice. Ivo Castro

7

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.