Joseph Jurt, \"A descoberta do lector. Da estética da recepção a sociologia da recepçao\"

September 15, 2017 | Autor: Joseph Jurt | Categoria: Audience and Reception Studies, Jean Paul Sartre, Comunications, Sociology of Pierre Bourdieu
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A PALAVRA, O ARTISTA E A LEITURA

A PALAVRA, O ARTISTA E A LEITURA Homenagem a Théophile Gautier

Organização

Celina Maria Moreira de Mello Pedro Paulo Garcia Ferreira Catharina Sonia Cristina Reis

Rio de Janeiro 2014

PPG-LEN/UFRJ CLA/UFRJ CNPq

© 2014 Celina Maria Moreira de Mello, Pedro Paulo Garcia Ferreira Catharina, Sonia Cristina Reis e autores Coordenação editorial Karla Melo Márcio-André Ronaldo Ferrito Victor Paes Projeto gráfico e capa Alemterra Graphic Designs Imagem da Capa Obra de Stéphanie Devaux Revisão Pedro Paulo Garcia Ferreira Catharina Victor Paes Comercial Fernando Monteiro

Mello, Celina Maria M. de; Catharina, Pedro Paulo G. F.; Reis, Sonia Cristina A palavra, o artista e a leitura - Homenagem a Théophile Gautier / Celina Maria M. de Mello, Pedro Paulo G. F. Catharina, Sonia Cristina Reis (orgs.) Rio de Janeiro: Confraria do Vento, 2014. 272p.: 140 x 220 mm ISBN: 978-85-60676-64-4 1. Literatura - História. 2. Arte. 3. Linguística. I. Título. CDD: 801

CONFRARIA DO VENTO Av. Treze de Maio, 13 Sala 2010 Cinelândia 20031-007 – Rio de Janeiro/RJ Telefax (21) 2533-3587

www.confrariadovento.com Impresso no Brasil / Printed in Brazil



CDU: 82.0

SUMÁRIO

Apresentação 7 LEITURAS E LEITORES: REPRESENTAÇÕES DA ALTERIDADE

Literatura e cultura escrita. Estabilidade das obras, mobilidade dos textos, pluralidade das leituras Roger Chartier 13 A descoberta do leitor. Da estética da recepção à sociologia da recepção

Joseph Jurt 29

Ler na era digital Jean-Yves Mollier 48 A leitura como metamorfose Edson Rosa da Silva 67 Michel Butor leitor de Eugène Delacroix Márcia Maria Valle Arbex 82

Unificação italiana na canção popular: releituras Flora de Paoli Faria 100 Leituras do Haiti Geraldo Pontes Jr. 129 O período crítico e o aprendizado de língua estrangeira Celso Novaes 145 HOMENAGEM A THÉOPHILE GAUTIER: RELEITURAS DO CÂNONE

Sobre a viagem de Théophile Gautier à Argélia: reflexões sobre o orientalismo

Jean-Yves Mollier 163

Théophile Gautier, crítico de arte romântico, e o realismo Celina Maria Moreira de Mello 178 Théophile Gautier e os impasses estéticos do século XIX Maria Cristina Batalha 202 O escritor e o inscritor em contos de Théophile Gautier: a defesa da arte pela arte

Sabrina Baltor de Oliveira 220

O “sobre a leitura” de Proust. Tese sobre a leitura e o significado das leituras de infância: Théophile Gautier e o Capitão Fracasso Luciana Persice Nogueira 245 Sobre os autores 268

A DESCOBERTA DO LEITOR. DA ESTÉTICA DA RECEPÇÃO À SOCIOLOGIA DA RECEPÇÃO

Joseph Jurt

Os textos e sua gênese, e, por conseguinte, os autores, estiveram muito tempo no centro das abordagens literárias. A importância da leitura e dos leitores, resumindo, a dimensão da recepção foi um pouco negligenciada. Paul Ricoeur destacou a dupla dimensão do texto literário – conjunto consistente e estruturado do ponto de vista do autor e, ao mesmo tempo, aberto às interpretações dos leitores – que suscita dois pontos de vista sobre a crítica literária – o da gênese e o da recepção. O confronto dessas duas dimensões revela-se inevitável, uma vez que o sentido parte do texto, mas se completa na leitura: Uma dialética infinita é posta em movimento, entre a estruturação interna do texto e todas as atividades de desestruturação – sendo que a reestruturação está relacionada à leitura. Esta dialética faz da obra o efeito comum do autor e do leitor. (RICŒUR, 1989, p. 226)

A leitura na teoria sartreana da literatura Jean-Paul Sartre foi um dos primeiros a considerar a leitura como elemento constitutivo da constituição do sentido de uma obra. No

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seu ensaio fundamental intitulado “O que é a literatura?”, ele define a obra intelectual pelo público ao qual se dirige, recusando-se a levar em conta, como fator determinante, a condição do autor: O meio é uma força propulsora; o público, ao contrário, é uma expectativa, um vazio por preencher, uma aspiração, no sentido próprio e figurado. […] E longe de mim rejeitar a explicação da obra pela situação do homem, uma vez que sempre considerei o projeto de escritura como a liberdade de ir além de uma determinada situação humana e total. (SARTRE, 1970, p. 96)

A obra escrita visando um público existe apenas enquanto possibilidade. Somente a leitura pode dar a vida aos signos abstratos da obra. O efeito calculado pelo artista só se atualiza no momento em que é percebido pelo leitor. No entanto, a noção tradicional de leitura revelou-se inapta para elucidar esse processo; a leitura não é somente a percepção passiva de um objeto dado definitivamente e para o qual poderíamos olhar, sem nenhum investimento pessoal. A leitura é um processo ativo que foi, perfeitamente, apresentado por Sartre: “O leitor inventa tudo em um perpétuo ir além da coisa escrita” (SARTRE, 1970, p. 57). O autor de O que é a literatura? sugere, para este ato de leitura, que constitui o modo de existência da obra de arte, a fórmula feliz da “criação dirigida” (SARTRE, 1970, p. 57): De fato, por um lado, o objeto literário somente possui como substância a subjetividade do leitor [...] Mas, por outro lado, as palavras só estão presentes como armadilhas para suscitar nossos sentimentos e os refletir em nossa direção. [...] Dessa forma, para o leitor, tudo está por fazer e tudo já foi feito; a obra só existe no nível exato de suas capacidades. (SARTRE, 1970, pp. 57-58)

A obra só existe – esta é a tese central de Sartre – após ter sido lida. A leitura – “síntese da percepção e da criação” – requer o texto escrito. Deste modo, escritura e leitura são as duas faces de um mesmo processo.

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O papel do receptor na teoria da comunicação O que, em Sartre, é apenas uma intenção genial é exposto de forma sistemática pela teoria da comunicação elaborada por Karl Bühler e em seguida desenvolvida por Jakobson e Umberto Eco. A teoria da comunicação possui a vantagem de não isolar nenhuma instância, nem o autor, nem o leitor; esse modelo atribui ao leitor ou ao intérprete de uma obra um papel específico na qualidade de receptor de uma mensagem. Longe de querer limitar as relações entre autor, obra e leitor a um simples ato de comunicação, a teoria semiológica esforçou-se para captar a natureza específica da mensagem estética. Esta se destaca, segundo Jakobson, pela predominância da função poética, ou seja, por uma estruturação intencional de todos os níveis do texto. Essa estruturação terá como consequência tornar ambígua a mensagem literária. Portanto, a ambiguidade é, nas palavras de Jakobson, “uma propriedade intrínseca, inalienável, de qualquer mensagem centrada sobre si mesma, em suma, trata-se de um corolário obrigatório da poesia” (JAKOBSON, 1970, p. 238). Consequentemente, a comunicação estética não pode ser unívoca, como a comunicação comum (na qual predomina a função referencial), ela é necessariamente plurívoca. À dialética entre o fechamento da estrutura e a abertura da mensagem estética corresponde, portanto, o caráter dialético da atividade do intérprete. Esta se manifestará ao mesmo tempo enquanto fidelidade e iniciativa. Se uma obra tão famosa como o Don Quixote de Cervantes sobreviveu até hoje, não é devido ao contexto de sua publicação nem ao público imediato ao qual se destinava, mas à sua natureza estruturalmente polissêmica que suscitou a série diacrônica de interpretações sucessivas, sem que nunca pudéssemos esgotar o sentido da obra. “Uma obra é eterna”, segundo Roland Barthes, “não por impor um sentido único a homens diferentes, mas por sugerir sentidos diferentes a um homem único, que fala sempre a mesma língua simbólica através dos tempos múltiplos” (BARTHES, 1966, pp. 51-52).

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A estética da recepção A contribuição mais especificamente alemã parece ser a estética da recepção desenvolvida pela École de Constance, cujos pais fundadores foram o romanista Hans Robert Jauss e o anglicista Wolfgang Iser (ISER, 1985; JURT, 1983, 1979). A “aula inaugural” de Jauss, pronunciada em Constance em 1967, foi considerada o manifesto desta nova escola (Literaturgeschichte als Provokation der Literaturwissenschaft, 1970). Essa “aula” foi sem dúvida também inspirada pelo contexto, pelo novo ímpeto que caracterizava esta nova universidade à beira do lago de Constance, destinada na época a tornar-se uma Harvard alemã. O impacto foi enorme na Alemanha; o texto de Jauss foi inúmeras vezes citado; vários congressos foram realizados sobre o tema e, rapidamente, os textos “canônicos” da escola foram publicados em antologias. A influência foi tamanha que a Academia de Ciências da República Democrática Alemã decidiu responder através de um volume organizado por Manfred Naumann, Gesellschaft – Literatur – Lesen. Literaturrezeption in theoretischer Sicht.1 Na Alemanha do início dos anos 1970, não era possível deixar de assumir uma posição frente à estética da recepção. Jauss realizara, assim, um golpe teórico, especialmente ao definir, ele mesmo, sua abordagem como uma mudança de paradigma científico (referindo-se à análise de Thomas S. Kuhn sobre a estrutura das revoluções científicas)2. O grupo da estética da recepção também possuía instrumentos de poder simbólicos muito eficientes: seminários interdisciplinares anuais publicados paralelamente aos debates, com o título Poetik und Hermeneutik3, uma revista de alto nível, próxima das teses da escola, Poetica, e – o que constitui em primeiro lugar uma escola – alunos que ocupavam cátedras importantes por toda a Alemanha. Através do título de sua aula inaugural (a história literária como desafio), Jauss indicava que ele pretendia restaurar a historicidade da literatura, banida pela análise imanente. Ao mesmo tempo, tratava-se, para ele, de se opor ao objetivismo histórico. Em sua Aula, Jauss declarou que desejava substituir a estética da produção tradicional por uma estética da recepção e do efeito. A historicidade do fato literário não residiria na produção, mas na recepção. O fato histórico

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é, para ele, a leitura, a atualização do texto pelo leitor. De acordo com essa visão, trata-se da história das atualizações sucessivas do texto pelo leitor: “A história da literatura é um processo de recepção e de produção estética que se realiza na atualização dos textos literários pelo leitor que lê, pelo crítico que pensa e pelo escritor que produz novamente” (JAUSS, 1970, p. 172). A fim de não limitar a história da recepção a um inventário de reações individuais e puramente psicológicas, Jauss introduz o conceito de “horizonte de expectativa”, que vem da sociologia de Mannheim e é projetado como um sistema de referência transindividual. O momento da leitura é descrito como a fusão do horizonte intratextual e do horizonte de expectativa da época. Este conceito de fusão dos horizontes é tirado de Gadamer (que considera a leitura como um diálogo entre o intérprete e o texto, uma integração do passado no presente, o leitor sendo influenciado pela tradição e, por sua vez, a influenciando). A história da recepção está, portanto, vinculada à história do efeito (Wirkungsgeschichte), sugerida por Gadamer, ao mesmo tempo que se apresenta como uma mudança radical de perspectiva na abordagem literária (estética da recepção vs estética da produção). A proposta de Jauss se insere na tradição da tendência filosófica dominante na Alemanha: a hermenêutica. Esta ressalta a importância do sujeito e da situação histórica no momento do processo de percepção (contra o objetivismo) e eleva a tradição (das interpretações anteriores) para a categoria transubjetiva (contra o subjetivismo). Jauss apresenta a “distância estética” como um critério de avaliação estética dos textos, ou seja, o afastamento entre a obra e o horizonte de expectativa constituído pela tradição de um gênero, a tópica, as metáforas. O afastamento ou a inovação serve de parâmetro para medir o valor estético. Esse parâmetro vem dos formalistas russos; dessa forma concedemos a uma categoria histórica, que é no máximo pertinente para a literatura moderna, uma pertinência universal. Por outro lado, atribui-se ao horizonte de expectativa intraliterária (os sinais do texto) a prioridade diante do horizonte extraliterário. Ao situar as normas na obra, Jauss retorna a uma ontologização da obra que ele havia decidido evitar. Para Jauss, a sociedade está presente externamente ao fato literário, na qualidade de contexto. As repercussões são, para

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ele, a consequência da comunicação literária. Por meio do ato de recepção, escreve Jauss, a experiência literária pode entrar na vida prática (Lebenspraxis) do leitor, pré-formar sua visão de mundo e, em seguida, exercer uma influência em seu comportamento. Jauss desconhece que o fato literário é, por si só, um fato social. Para ele, o contato com a obra pode contribuir para ampliar a própria experiência do leitor graças à experiência do outro, mas esta experiência não parece incidir sobre a vida prática (JAUSS, 1984, p. 822). Claude Piché observa, a respeito, com razão: “Por enquanto, só se pode conceber a aplicação “estética” como sendo a experiência que contribui para que o leitor fortaleça ou desloque os cânones reconhecidos da estética, e nada mais” (PICHÉ, 1984, p. 187). O segredo do sucesso da estética da recepção parece residir no radicalismo de uma inovação verbal que é, de fato, uma síntese eclética de elementos já presentes. A estética da recepção é concebida como uma abordagem histórica, mas ela reduz, de fato, a historicidade à história da recepção, deixando de lado a unidade essencial entre produção e recepção; por meio de empréstimos ao formalismo, a estética da recepção isola e privilegia a estética (especialmente através da categoria de “distância estética”) e, desse modo, permanece fiel à concepção de uma (certa) autonomia da estética em relação ao social ou ao psicológico. A estética da recepção não nega o social, mas o reduz a um fator periférico. No ensaio Die Partialität der rezeptionsästhetischen Methode (JAUSS, 1973), o próprio H. R. Jauss reconheceu que o seu conceito de horizonte de expectativa é marcado por sua origem intraliterária e que ele negligencia um pouco as interferências extraliterárias. No entanto, não negaremos que a introdução dos termos de “horizonte de expectativa” e de “distância estética” tenha sido produtiva. Mas as propostas de Jauss permanecem frequentemente no nível da teoria, são teses (ou melhor, hipóteses) que devem ser verificadas à luz de pesquisas empíricas que deveriam ser desenvolvidas em duas direções: por um lado, trata-se de fundamentar a reconstituição do horizonte de expectativa de um determinado momento em uma base documental representativa, até mesmo exaustiva; por outro lado, é importante destacar os condicionamentos extraliterários do processo de recepção.

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Por uma sociologia da recepção Estes foram os dois centros de interesse que nos levaram a nos dedicarmos a um projeto de pesquisa, visando elucidar, mais de perto, o processo da recepção. Esse processo nos parece perceptível, para um período histórico, nos registros escritos deixados pela crítica literária. Por esse motivo, inicialmente, elaboramos um inventário, que pretendia ser exaustivo, de todas as reações provocadas pela obra literária de um autor do período entre as duas guerras mundiais, Georges Bernanos4; também levamos em conta um determinado número de reações suscitadas pelos romances de Gide e de Malraux. Todas essas resenhas foram analisadas usando um gráfico que foi desenvolvido com esta finalidade. Em uma síntese, a seguir, procuramos estabelecer uma classificação significativa das reações, assim como uma listagem dos critérios que informam o julgamento literário. Dessa forma, classificamos as reações, de acordo com as orientações políticas da imprensa, em oito correntes ideológicas (extrema direita, direita, burguesia, católicos moderados, centro literário, esquerda radical, esquerda socialista e esquerda comunista). Nossa análise evidenciou uma grande coerência das reações no âmbito das correntes apresentadas; foi possível constatar que os julgamentos literários são fortemente influenciados por seus respectivos pressupostos ideológicos. Ao examinar a forma das críticas, detectamos dois tipos de reação: por um lado uma critica judicativa, que opera a partir de um modelo, de um ideal (literária, referencial, sociocultural, moral, doutrinal [JURT, 1977, pp. 87-98); a obra é, então, avaliada em sua conformidade com esse ideal; por outro lado, identificamos uma crítica compreensiva – praticada por uma minoria de intérpretes – que pretende compreender a obra mais do que julgá-la; esta crítica não isola alguns aspectos particulares da obra, ela procura, ao contrário, integrar, em sua interpretação, o maior número de elementos do texto5. À luz dos resultados de nossa análise, foi possível verificar os principais pressupostos da estética da recepção, a qual, como vimos, postula um horizonte de expectativa composto quase que exclusivamente por experiências e conhecimentos literários. Essa hipótese não foi confirmada por nossa análise. Os julgamentos dos intérpretes

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não são determinados, em primeiro lugar, por critérios estéticos; os critérios de avaliação são na maioria das vezes de teor extraliterário; os critérios estéticos são utilizados, repetidamente, para corroborar um pré-julgamento ideológico prévio. De acordo com uma segunda hipótese de H. R. Jauss, a crítica literária tende a determinar as normas (estéticas) de uma época e expressa, então, seu desapontamento quando a obra inova e transgride o horizonte de expectativa estabelecido. No entanto, em nossa análise, identificamos uma série de reações que valorizam os traços inovadores e originais das obras literárias. Entretanto, os julgamentos críticos, em sua maioria, são expressos a partir de um horizonte de expectativa conservador, inspirando-se nos modelos já citados. Considerando as valorizações divergentes da inovação, não podemos manter o postulado de um horizonte de expectativa uniforme para uma época em sua totalidade. Conforme afirmou H. R. Jauss em seus primeiros escritos, a estética da recepção não pode substituir uma estética da produção; ela a complementaria ao destacar a presença do leitor no texto e a importância do leitor real para a concretização. Mas não podemos esquecer que o processo dinâmico engloba tanto a produção do texto a partir de suas condições de possibilidade específica, quanto a concretização do sentido a partir dos apelos inerentes ao texto. A concretização é, por sua vez, enquanto produção de sentido, um processo ativo que pode provocar novas produções textuais. A recepção literária transnacional A recepção literária foi, ademais, analisada preferencialmente dentro de um espaço nacional homogêneo6. Se formos além, será principalmente para estudar as relações entre os grandes nomes do cânone, entre Goethe e Racine ou Verga e Zola. Isto também se explica pelo fato de que os estudos literários são marcados até hoje pelo mito do “grande escritor”, mito que os interessados não têm motivo algum para destruir. Desta forma, Anne Boschetti lembrou que o autor de uma obra “original” gozava de um prestígio superior ao de todas as outras categorias (editores,

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comentaristas, professores, tradutores), devido à crença no “gênio criador”, como um dom individual que seria a causa primeira e o princípio explicativo da obra. Por outro lado, os demais agentes culturais também seriam os primeiros a reconhecer implicitamente a superioridade da “criação”, por ver em sua profissão um meio de serem criadores por procuração (BOSCHETTI, 1994, pp. 51-52). Quando analisarmos a recepção de obras literárias, não poderemos nos ater somente à categoria do “grande autor” ou da “grande obra”. Teremos que levar em conta o conjunto dos agentes envolvidos no processo. Assim, não sem razão, foi criticada a “estética da recepção”, que pretendia, em primeiro lugar, avaliar a qualidade estética das obras, por meio da diferença estética entre o produto criado e o horizonte de expectativa, por negligenciar as condições sociais do processo de recepção. Somente explicaremos esse processo se isolarmos um ou outro agente, mas unicamente considerando-os como parte integrante de um conjunto ou de um sistema e que eu defino, com Pierre Bourdieu, como um campo. Se for necessário levar em conta todos os agentes envolvidos no processo da recepção, não deveremos, de forma alguma, negligenciar os fatores específicos que são considerados quando uma obra é recebida em um campo estrangeiro. Foi Yves Chevrel que, em um dos primeiros números dos Cahiers d’Histoire de Littératures Romanes, identificou pertinentemente os traços específicos que caracterizam a recepção crítica de obras estrangeiras. O que diferencia a obra estrangeira é, de acordo com Chevrel, a grande distância que a separa do campo de chegada; o contexto extraliterário deve ser considerado, por exemplo, o estatuto das relações oficiais com a nação de origem. A literatura estrangeira está sempre sujeita a uma explicação, de acordo com um processo que traz o desconhecido (o estrangeiro) ao conhecido (a tradição francesa universalizante). O método mais comum é o simples paralelo; a seguir, os leitores são incitados a descobrir a marca de sua própria literatura, ou afirma-se que tudo já foi dito pela literatura francesa. Yves Chevrel, a esse respeito, transcreve as observações feitas por Zola, em 1897, em La Revue blanche: “Do mesmo modo que, dizem, nosso vinho de Bordeaux torna-se melhor com a viagem às Índias, é certo que algumas de nossas ideias, passando

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pelo gênio do Norte, assumiram uma dimensão e uma intensidade admiráveis” (CHEVREL, 1977). Foi Pierre Bourdieu quem, de forma muito perspicaz, definiu as condições específicas da recepção de obras científicas e literárias estrangeiras. Ele constatou que os textos, frequentemente, circulam sem o seu contexto. Os receptores, inseridos em um campo de produção distinto, os interpretam em função da estrutura de seu campo de recepção. O sentido e a função de uma obra estrangeira seriam dessa forma determinados, ao menos, tanto pelo campo de recepção quanto pelo campo de origem. A função no campo de origem, por um lado, seria frequentemente ignorada, por outro lado, a transferência de um espaço para o outro se daria por meio de uma série de operações sociais, uma operação de seleção, uma operação de tagging e uma operação de leitura; e os leitores muitas vezes aplicam à obra categorias de percepção e problemáticas de seu próprio campo: Os efeitos estruturais que, em prol da ignorância, tornam possíveis quaisquer transformações e deformações criadas para usos estratégicos dos textos e dos autores podem ocorrer sem qualquer intervenção manipuladora. As diferenças entre as tradições históricas são tão marcantes [...] que a aplicação, em um produto cultural estrangeiro, das categorias de percepção e de apreciação adquirida graças à experiência de um campo nacional, pode criar oposições fictícias entre coisas semelhantes e falsas semelhanças entre coisas diferentes. (BOURDIEU, 1990, p. 6)

A referência à nação e à cultura nacional de chegada desempenha um papel relevante no momento da recepção, contudo, houve variações históricas. Esse recurso tornou-se mais importante, a partir do romantismo. A literatura do Século das Luzes definiu-se pelo seu universalismo, embora tal universalismo tenha sido a expressão de uma reduzida camada da população. Pode-se até afirmar que o cosmopolitismo do Século das Luzes era universal apenas na aparência, pois não se tratava realmente de uma troca de ideias e de obras entre parceiros culturais iguais, mas da supremacia do modelo cultural francês, que funcionou graças ao estratagema que consistia em declarar os valores da civilização francesa como sendo universais. Essa supremacia, também, pôde fun-

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cionar porque membros de uma elite não francesa haviam internalizado o modelo, ao mesmo tempo em que o instrumentalizaram como sinal de distinção diante de classes inferiores7. É contra esta civilização aristocrática de inspiração francesa, e aparentemente transnacional, que consideravam superficial e alienante, que os intelectuais alemães de origem burguesa opunham sua concepção da Kultur. Foi especialmente Justus Möser quem em 1781, em uma resposta a Frederico II, fez a defesa de uma identidade cultural alemã, em seu ensaio Über die Deutsche Sprache und Literatur, acusando o ideal literário francês de ser exclusivamente aristocrático e louvando Goethe e os autores ingleses por terem integrado, em seus escritos, a dimensão do povo. Em sua opinião, não poderia haver padrões poéticos universais e ele recorria a uma concepção organicista da cultura. Haveria uma cultura específica para cada povo, uma vez que a lei do universo é a variedade e não a uniformidade. Esta concepção organicista da cultura prevalecerá, especialmente em Herder, para quem a individualidade de cada povo se traduz por sua língua e que busca nos textos originais a forma de pensamento, o princípio originário da natureza, seu “Volksgeist”. A concepção organicista da cultura, que podíamos encontrar em Herder e Möser, deveria ter conduzido a um reconhecimento da legitimidade das outras culturas. No entanto, a literatura nacional alemã afirmou-se, já no final do século XVIII, em particular, contra a predominância francesa. Herder via na tragédia francesa somente mentiras e disparates, uma marionete desprovida de espírito, de vida e de verdade. Ao longo do século XIX, haverá críticas recorrentes da orientação da literatura alemã em conformidade com o modelo estrangeiro, sobretudo com as literaturas romanas. Contudo, o nacionalismo literário exclusivo não era a única reação destinada a exceder o cosmopolitismo aristocrático. Um outro modelo expressava-se no conceito da Weltliteratur de Goethe, que estipulava o intercâmbio entre as literaturas, assim como nos escritos de Mme de Staël. Mme de Staël também partia de uma concepção cultural organicista. No entanto, para ela, a ideia da legitimidade de uma literatura nacional implicava no reconhecimento da legitimidade idêntica das literaturas das outras nações. Devia-se reconhecimento ao que era estrangeiro em sua originalidade, referindo-a às condições

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históricas específicas, o que Mme de Staël tentou fazer em sua obra Da literatura considerada em suas relações com as instituições sociais (1800). A partir de tal reconhecimento mútuo, é possível que haja uma troca entre as culturas. Dessa forma, Mme de Staël, segundo Pierre Macherey, foi além do particularismo romântico que afirma a autonomia radical de cada cultura e também do universalismo clássico que confunde todas as culturas em um modelo ideal abstrato. A tese por ela formulada, já no final do século XVIII, era totalmente inovadora: “Só existe identidade cultural dentro da relação cultural que reúne todas as culturas, opondo-as entre si” (MACHEREY, 1988, p. 425). A autonomia literária também se manifestou no campo dos estudos universitários. A literatura que, por certo, havia-se inspirado nas obras da Antiguidade e que havia integrado, ao longo do século XVIII, o empirismo inglês, era considerada universal, mas, no final das contas, essa universalidade era muito galocêntrica e pouco aberta a outras culturas. Em um livro recente intitulado O paradigma do estrangeiro, Michel Espagne conta que somente em 1830 foi criada, em Paris, a primeira cátedra de literatura estrangeira, constituindo, desta forma, por oposição uma “literatura francesa” desprovida de sua pretensão universalista. Para a França do século XIX, o “estrangeiro” era a cultura alemã; e os instrumentos intelectuais por meio dos quais se buscava compreender as culturas estrangeiras provinham da tradição alemã: filologia, historismo, teoria do espírito nacional. Contudo, não se tratava, em hipótese alguma, de uma visão desinteressada da cultura estrangeira, que foi, ao contrário, instrumentalizada em benefício das necessidades nacionais8. O conceito de literatura estrangeira implicava, como observa Michel Espagne, o princípio da diferenciação; a partir de 1879, foi instituída uma cátedra para a literatura da Europa do Sul e, em 1901, foi criada uma cátedra voltada para a língua alemã e a língua inglesa. A referência nacional determinou a recepção da literatura, de ambos os lados, ainda no século XX. Doris Harrer constata esse fato na conclusão de sua tese sobre a recepção da literatura francesa, durante a República de Weimar (Französische Literatur in der Weimarer Republik). Segundo a autora, na Alemanha da República de Weimar, marcada por uma crise de identidade nacional, a literatura francesa tornara-se um modo para a busca de si própria; alguns pretendiam manter uma

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entidade alemã em oposição ao estrangeiro, encarnado pela literatura francesa; em contrapartida, críticos próximos da esquerda pretendiam ir além da “essência” alemã adaptando-se ao estrangeiro, também representado pela literatura francesa. Aqueles que, como Walter Benjamin, procuravam entender a literatura francesa enquanto tal se encontravam mais à margem ou distantes dos grupos dominantes da República de Weimar (HARRER, 1987, pp. 182-183). Assim, em um artigo publicado em 1928, Ernst Robert Curtius constatou que cada parceiro deste diálogo franco-alemão utilizava inconscientemente as normas de sua própria cultura como critério de apreciação da cultura do outro. Mas o próprio Curtius não conseguiu fugir dessa forma de percepção. Ele pretendia apresentar em seu livro sobre os precursores da nova França (Die Wegbereiter des neuen Frankreich [1919]) uma imagem diferente da França decadente; mesmo assim, ele recorreu a estereótipos de convenção, ao associar a França a um estado de agregação sólido e a Alemanha a um estado líquido. Em autores como Gide, Romain Rolland, Claudel, Suarès, Péguy, ele vislumbrava os representantes de uma “jovem” França, que correspondia à imagem que a Alemanha tinha de si própria – que representava o porvir. Curtius acreditou ter descoberto naqueles autores um sentimento de valores que teria um “ponto comum” com o dos alemães; ele ressaltava, nesses escritores, as categorias de intensidade da vida e do vivido, um impulso novo que Bergson e Nietzsche pareciam confirmar a partir de uma filosofia vital. Por ocasião de uma recente pesquisa empírica sobre as modalidades sócio-históricas da leitura, Jacques Leenhardt e Pierre Józsa tiveram que se render à evidência que a ideia segundo a qual cada leitor se encontra diante das obras-primas da literatura mundial, em uma situação de leitura idêntica, deveria ser reavaliada: O estudo empírico da leitura mostra, de fato, que a unidade da razão e a unicidade do texto têm um papel secundário no ato da leitura. De acordo com o local e o tempo, a hierarquização das categorias da percepção e da avaliação varia a tal ponto que se torna necessário considerar que o objeto visado no ato da leitura é a própria leitura, mais ainda do que o texto. (LEENHARDT, 1988, pp. 75-76)

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Durante a sua pesquisa empírica, Leenhardt e Józsa sugeriram a leitura de um romance francês (Les Choses, de Pérec) e um romance húngaro (Le cimetière de rouille, de Fejes) para uma amostragem representativa de leitores na França e na Hungria. Os resultados não foram idênticos, longe disso. Na Hungria, para o romance francês, prevaleceu uma leitura moralista e, para o romance húngaro, uma leitura sociológica, política, enquanto que na França, para os dois romances, prevaleceu uma leitura analítica e sociológica. Se a questão política evocada pelos romances transita na Hungria pela identificação, isso comprova, aos olhos dos autores, que o discurso universalista não está à disposição de qualquer um. Em contrapartida, a capacidade de que dispõe, teoricamente, qualquer francês para apreender os problemas em toda a sua complexidade pode parecer como um efeito da prevalência do discurso universalista, na França (LEENHARDT & JÓZSA, 1982, pp. 332-341). A análise da recepção das obras estrangeiras, que é aquela da circulação internacional das obras e das ideias, não é somente um tema acadêmico. No campo das trocas de bens materiais, a globalização parece prevalecer cada vez mais; não é de forma alguma o que ocorre no que se refere às trocas culturais, onde parece haver uma evolução inversa. Os domínios linguísticos, mesmo no âmbito dos Estados-nações se diferenciam cada vez mais. A Europa está dividida por culturas nacionais estritamente separadas e cada país ignora quase que totalmente o que se passa nos países vizinhos, tanto no âmbito do debate das ideias quanto em termos de criação literária, principalmente se eles não pertencerem à mesma área linguística9. É, portanto, primordial analisar de perto os fatores que determinam a transferência (ou a não transferência) de obras e de ideias de um campo nacional para outro; isso facultaria, assim, que fossem esclarecidas as causas de muitos dos mal-entendidos estruturais que caracterizam as relações intelectuais transnacionais e que fosse aberto o caminho para um diálogo racional10. Tradução de Savvas Karydakis

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Notas 1 Ver também a esse respeito Billaz, 1981. 2 Cf. JAUSS, 1969, p. 4 e JAUSS, 1975, p. 327. 3 O grupo Poetik und Hermeneutik tornou-se hoje um objeto central da história intelectual da Alemanha. Na Universidade de Constance, um grupo importante de pesquisadores dedica-se a esse tema; um número especial da revista Internationales Archiv für Sozialgeschichte der deutschen Literatur, tomo 35, 2010 é dedicado à história intelectual do grupo Poetik und Hermeneutik. 4 Este inventário foi publicado em forma de bibliografia: JURT, J.

Georges Bernanos, 1. Essai de bibliographie des études en langue française: tome 1 (1926-1948), 1972; tome 2 (1949-1961), 1975; tome 3 (1962-1971), 1976.

5 Os resultados de nossas pesquisas, muito tempo depois, suscitaram

um debate crítico, por meio de uma análise paralela de VERDRAGER, 2001, 2007; PARISOT, 2001; BERTELLI, 2005.

6 O que também ocorreu quando propusemos trabalhos em vista da constituição de uma sociologia da recepção: JURT, 1979; 1980. Os trabalhos com esta abordagem eram igualmente dedicados ao estudo da recepção no âmbito de um espaço nacional homogêneo. Ver, então, GALSTER, 1986; AHLSTEDT, 1954; ARPIN, 1995. Há, entretanto, igualmente, trabalhos que, partindo de nossas propostas, analisaram a recepção em um espaço estrangeiro. Ottmar Ette (1991) estudou a recepção de José Martí em três espaços: o espaço cubano; o espaço dos cubanos exilados; o espaço estrangeiro. Dois trabalhos abordaram a recepção de Sartre na Alemanha: HÄUßLER, 1989 e RAHNER, 1993. 7 Ver a esse respeito Michel Espagne & Michaël Werner: “A cultura fran-

cesa dos séculos XVIII e XIX, geralmente, passa por ser pouco aberta para o mundo exterior. Historicamente, este egocentrismo fundamenta-se em uma posição dominante no âmbito da Europa. Fortalecida por sua irradiação junto às elites europeias; a cultura nacional, por assim dizer, bastava-se a si própria. A Revolução Francesa imitou, politizando-a, tal atitude, que, como devemos destacar, é amplamente anterior ao despertar dos nacionalismos e confunde-se em grande parte com o universalismo das Luzes” (ESPAGNE & WERNER, 1987, p. 971).

8 “Os professores responsáveis por esta disciplina, ao contrário, têm com frequência a sensação de destacar uma difusão da França, pela Europa;

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a escolha dos autores estrangeiros de que eles se ocupam permanece muito limitada e determinada por considerações puramente nacionais, por necessidades específicas da cultura de chegada [...]. Em contrapartida, o que ocorre é uma instrumentalização variada e complexa das culturas vizinhas, uma instrumentalização que talvez seja inconsciente, mas cujas diversas figuras são suficientemente marcadas para que sejam explicadas, em sequência” (ESPAGNE, 1993, pp. 15-16). 9 Ver o que afirma Roger-Paul Droit a este respeito: “Conversamos por satélite entre dois continentes. Imagens de televisão, mensagens de fax, ordens informatizadas transitam, instantaneamente, entre os dois lados do mundo. Mas são necessários longos anos, por vezes décadas, para que uma obra importante atravesse o rio Reno, a cordilheira dos Alpes ou dos Pirineus, o canal da Mancha ou o mar Mediterrâneo. Ignoramos, com persistência, pensadores importantes dos países vizinhos que nos tocariam intimamente, enquanto somos avisados que um trem descarrilou ou que há casos de vaca louca. Este não é o menor paradoxo do século: as questões, políticas ou financeiras, e também os fatos fúteis ignoram as distâncias e o tempo, enquanto o comércio das ideias é afinal de contas mais limitado e menos intenso do que nos tempos dos cocheiros, das pousadas para muda e das prensas manuais” (Le Monde, 12 de abril de 1991, p. 22). 10 Para um estudo de caso cf. JURT, 2009; 2006. A partir das propos-

tas de Pierre Bourdieu foi constituída uma rede de pesquisas financiada pela comunidade europeia, denominada ESSE, que se dedicou à análise dos processos de recepção transnacionais da literatura e das ideias. Trata-se de determinar os mecanismos de importação e de exportação das obras das duas últimas décadas, em um plano internacional. O ângulo sociológico de percepção, nesse caso, amplia-se para o direito e a economia, uma vez que se trata da troca de bens materiais e simbólicos. Especificamente, trata-se de considerar o contexto da globalização (econômica) e suas consequências para a troca intelectual. Nesse contexto, Gisèle Sapiro organizou e publicou três obras coletivas voltadas para a problemática da recepção vista pelo viés das traduções: Translatio. Le marché de la traduction en France à l’heure de la mondialisation (2008); Les contradictions de la globalisation éditoriale (2009), L’espace intellectuel en Europe: de la formation des Etats-nation à la mondialisation XIXe-XXIe siècle (2009). Nesse contexto, convém mencionar a obra de Gustavo Sorá, Traducir el Brasil. Una antropología dela circulación de ideas (2003).

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