Juan Bautista Alberdi e as críticas aos intelectuais da Geração de 1837 em \'Peregrinación\'.

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JUAN BAUTISTA ALBERDI E A CRÍTICA AOS INTELECTUAIS DA GERAÇÃO DE 1837 EM PEREGRINACIÓN Paulo Montini de Assis Souza Júnior – UFCG

Escrito em 1871 durante a estadia de Juan Bautista Alberdi na Europa, Peregrinación de Luz del Día é um relato satírico e alegórico na qual Alberdi propõe a imaginar como seria se a “Verdade’’, cansada de viver no continente europeu, imigrasse rumo à América do Sul. A partir dessa proposta, Peregrinación desenrola-se como uma série de situações na qual a Verdade (ou Luz do Dia), ao longo de sua estadia no continente sul-americano, envolve-se com algumas figuras locais e até “antigos conhecidos’’ do Velho Mundo, que agora encontram-se na condição de imigrados. Uma série de representações políticas, filosóficas e ideológicas na obra acabam por marcar esta produção de Alberdi, que definia seu próprio livro como “una historia por lo verosímil (...) un libro de política y de mundo por sus máximas y observaciones” (ALBERDI, 1916, p. 2). Um dos nomes mais proeminentes da Geração de 1837 argentina, Alberdi carrega em suas obras os traços de tal vanguarda sobretudo por levar em suas narrativas a grande influência das ideias liberais (que surgiam em larga produção ao longo de todo o século XIX, “importadas” da Europa em sua grande maioria) que começavam a povoar o imaginário dos mais diversos intelectuais latino-americanos do século. Ora, ao entrar em diálogo também com o Romantismo europeu (principalmente por meio de autores como Hegel, por exemplo), Alberdi e a geração de intelectuais rio-platenses de 1837 buscavam desempenhar o protagonismo na condução da nascente Argentina, no intento de construir uma nação e civilizá-la nos moldes “modernos”, preenchendo as lacunas “civilizatórias” do país de acordo com o que “recomendava-se” segundo a mais contemporânea ciência europeia do período1.

Uma boa introdução sobre a influência do romantismo europeu não apenas sobre a Geração de 1837, mas também sobre outros movimentos intelectuais latino-americanos ao longo do século XIX, encontra-se no capítulo Ideas políticas y sociales en América Latina, 1870 – 1930, na obra Historia de América Latina 8. América Latina: Cultura y Sociedad, 1830- 1930, de Leslie Bethell. 1

Os românticos bonaerenses, que se reuniam para discussões no Salón Literário de Marcos Sastre (que criou tal tipo de sociedade em Buenos Aires inspirado nas práticas de sociabilidade literária existentes na Europa), buscavam também a hegemonia política do país, opondo-se frontalmente a política caudilhista que à época tinha seu principal expoente no poder: Juan Manoel Rosas. Tido como um empecilho à modernidade (e uma das grandes provas da barbárie na qual estaria inserida a Argentina) por estes intelectuais, o caudilhismo deveria ser erradicado do país, e uma nova identidade nacional (formada a partir de uma literatura, história e cultura únicas) deveria ser o cerne da política argentina tão imediatamente Rosas caísse. Para tal, dentre outras coisas, a criação de uma constituição liberal, associada ao desenvolvimento de um nacionalismo, consolidaria os ideais dos românticos argentinos para modernizar o país. Neste cenário de intensa renovação intelectual destacam-se a figura de Alberdi e Esteban Echeverría que recorrentemente, em suas obras, idealizavam e exaltavam um passado argentino distinto, criando um “mito” de argentinidade diferenciado dos demais nacionalismos das outras regiões sul-americanas. Crente nas teorias do progresso histórico, Alberdi acreditava que o ato de “civilização” da sociedade argentina seria peça fundamental na criação de um nacionalismo único. Dessa maneira, ele sustenta em Fragmento preliminar ao estudio del Derecho (1837) que nuestros padres nos dieron una independencia material: a nosotros nos toca la conquista de una forma de civilización propria, la conquista del genio americano. Dos cadenas nos ataban a Europa: una material que tronó; otra inteligente que vive aún. Nuestros padres rompieron la una por la espada; nosotros romperemos la outra por el pensamento. Esta nueva conquista deberá consumar nuestra emancipación (ALBERDI, 1998, p. 8).

Fragmento, juntamente com outro trabalho de Alberdi, Bases y punto de partida para la organización de la Republica Argentina (1852), acabariam por se tornar os alicerces teóricos da Constituição Argentina de 1853, instituída no país pós-queda do governo rosista2. Para “unificar a juventude argentina’’, os integrantes da Nova Geração criaram a Asociación de la Joven Argentina, uma sociedade político-literária voltada para a “regeneração” social, cultural e política do país. Um dos frutos dessa iniciativa

Juan Manoel Rosas foi derrotado pelas tropas do general Urquiza no dia 3 de fevereiro de 1852, no que ficou conhecido como a batalha de Monte Caseros. Rosas comandava a Argentina desde 1835, exercendo uma política autoritária e censuradora. “Seus adversários o representavam como um absolutista e símbolo maior da barbárie, por verem nele uma perfeita antítese do liberalismo” (DAFLON, 2010, p. 43). 2

foi o Dogma Socialista, produzido em 1839 por Echeverría com colaboração de Alberdi que, junto a outros textos e projetos da Asociación (como periódicos editados por seus membros), expandiu o raio de influência desses liberais nos mais diversos setores da sociedade. A Asociación buscava com suas produções influir sobre a classe dirigente do país e assessorá-la ideologicamente, defendendo a democracia participativa na Argentina, até então sob o governo despótico de Rosas3. A liderança de Echeverría, Alberdi e (a presença) de outros intelectuais, como Juan Maria Gutiérrez e mais tardiamente Domingo Sarmiento, acabaram por marcar a coesão dessa Nova Geração; porém, apesar da identidade do movimento encontrar-se cristalizada, inúmeras rupturas e distanciamentos teóricos, ideológicos e até políticos se fariam presentes nas relações entre os autores dessa vanguarda, fator este que com o decorrer dos anos acirraria os embates literários entre seus integrantes. Não raro, eram comuns as críticas contundentes e ataques pessoais entre os escritores (muitas vezes por meio de artigos lançados em periódicos): na década de 80 do século XIX, Alberdi seria chamado de “traidor da pátria’’ por Sarmiento, por exemplo4. Muitos intelectuais da Geração de 1837 também passaram a repensar suas próprias reflexões e teorias no decorrer de suas produções; o horizonte de ideias de muitos destes escritores foram remodelados, muito em parte ao fluxo (cada vez mais crescente) de novas teorias científicas provenientes da Europa e que, não raro, chocavam-se com os horizontes teóricos anteriores e até contemporâneos. De outro modo, por que Alberdi afirmaria em seus primeiros textos (1834-1842) que os americanos estavam capacitados parar produzir uma sociedade moderna (assentado na teoria do “bom governo”, que criaria leis e bases direcionadas às particularidades sociais e históricas de uma sociedade) e, posteriormente, dizia o contrário, inclusive valendo-se de posições racistas?

Rosas, por sua vez, sentindo-se ameaçado pelas constantes críticas dos reformistas da Nova Geração, ordena a La Mazorca (organização parapolicial que lhe era subordinada) a perseguição aos “salvajes unitários’’. Echeverría, Alberdi, Mitre e outros partem para o exílio e continuam as publicações da Asociación em Montevidéu, agora sob o nome de Asociación de Mayo. 4 Sobre a relação entre Alberdi e Sarmiento, destacamos uma citação do historiador francoargentino Paul Grossac, que afirma que “Llevado de su apasionado prejuicio contra Sarmiento y el general Mitre, Alberdi desmenuza sus obras, oponiendo una negación á cada afirmación (...) obcecado por el ódio, perde todo discernimiento y hasta toda memoria, pues ciertas objeciones suyas á la esencia del Facundo, no solo frisan em inépcia, sinó que destruyen sus proprios y más celebrados aforismos’’ (BIEDMA, José J; Pillado, José A, 1897, P. 38- 39). 3

Estudar o pensamento de Alberdi significa percorrer esta mudança no próprio modo de pensar do autor que, de alguma maneira ou de outra, em meio a outros tantos intelectuais desta própria geração, definiu parâmetros culturais, ideológicos e políticos da sociedade argentina no século XIX, e que chegou a fazer-se influente ainda em outros países sul-americanos como o Chile e o Uruguai. Partindo dessas percepções, e levando em consideração o uso da narrativa da Geração de 1837 como um instrumento de contestação e representação político/ideológico, procuraremos apontar a maneira pela qual, a partir de Peregrinación, Alberdi critica, utilizando-se de alegorias e sátiras, seus companheiros de geração e os projetos políticos que ou foram propostos por estes ou encontravam-se já em vigor na Argentina pós-rosista. Em Peregrinación de Luz del Día, a Verdade, cansada de viver na Europa em meio a pessoas como Tartufo (personagem da comédia homônima de Moliére, datada de 1664), Basílio (personagem do Barbeiro de Sevilha, do dramaturgo Pierre Beaumarchais) e em uma sociedade personificada pela sua principal rival (a “Mentira”), decide, inspirada pelo livro Paris en Amerique (1863), imigrar para o Novo Mundo e realizar experimentos e estudos sobre “una sociedad que llama tanto la atención del siglo XIX’’ (ALBERDI, 1916, p. 12). Antes de partir para o porto de Bordéus e dar início a sua viagem, opta por vestir-se de mulher (a Verdade não tem sexo) e adotar o nome de Luz do Dia. Já no porto, por ter um nome próximo do espanhol, o agente de imigração a encaminha para a América do Sul, e já no continente realiza seu primeiro encontro, com Tartufo. O Tartufo que está na América do Sul, porém, é o oposto de seu “original’’ europeu, segundo um empregado do porto sul-americano com o qual Luz do Dia conversa: é definido como um liberal “apóstolo’’ da educação e defensor da imigração europeia. Todavia Tartufo é reconhecido por Luz do Dia como sendo um “velho conhecido’’ da Europa (a Hipocrisia), e que agora anda em solo sul-americano disfarçado como um liberal, como deixa a entender a seguinte citação És porque lo soy mas que nunca, que llevo esos vestidos del sacerdote armado de la libertad republicana. Yo seria un imbécil en pretender ocultarme hoy día con disfarces religiosos (...) Yo visto hoy día las armas del siglo en que vivo (...) La libertad, el progresso, la educación, la civilización como yo los tomo y practico, son mi fusil de aguja, mi cañon de acero, mi chassepot, mis balas, explosivas (ALBERDI, 1916, p.16).

Agora com o caráter de “liberal’’ na América do Sul, Tartufo diz que neste “nuevo mundo de creyentes fáciles, de ilusiones, esperanzas y riquezas”, “yo he contribuí do como buen vecino a formar las costumbres y caracteres de mucha parte de

esta sociedade” (ALBERDI, 1916, p. 19). Posteriormente, refletindo sobre o longo diálogo que travara outrora com Tartufo, Luz do Dia chega a conclusão que Aquí he oído (...) que governar es poblar (...) pero poblar es apestar, corromper, embrutecer, empobrecer el suelo más rico y más salubre, cuando se le puebla com las inmigraciones de la Europa atrasada y corrompida. Aunque la Europa sea, lo que hay de más civilizado em la tierra, no es civilizado por esto todo lo que es europeo. La Europa abriga em sus entrañas, bajo el esplendor de sus mismas capitales más brillantes, millares de salvajes y bribones de peor tipo que los peores indígenas de América. Los “Pampas’, están em París; la “Patagonia’, en Londres (ALBERDI, 1916, p. 24).

O aforismo “governar es poblar’’ tem origem nos próprios textos de Alberdi: é o lema central de seu livro Bases y puntos de partida para la organización de la Republica Argentina que, como já dito anteriormente, serviu de base para a constituição do país pouco menos de vinte anos antes. Em Bases, vemos que para Alberdi a imigração a ser incentivada seria a dos países anglo-saxões, da “Europa do Norte”, pela (suposta) aptidão ao trabalho e superioridade racial. O que ocorria na Argentina da segunda metade do século XIX, porém, não era a vinda de imigrantes desta região. A corrente migratória Europa-Argentina não privilegiava os países do norte europeu: o fluxo migratório, apesar disso, encontrava-se cada vez mais em ascensão, atraindo imigrantes de outras regiões do Velho Mundo. À época da escrita de Peregrinación, a Argentina encontrava-se sob o governo de Domingo Sarmiento (1868-1874) que já planejava como projeto político para o país, em livro datado de 1850, mezclarnos a la población de países más adelantados que el nuestro, para que nos comuniquen sus artes, sus industrias, su actividad y su aptitud al trabajo. El europeo que viene a establecerse entre nosostros, si hace una gran fortuna, esa fortuna no existía antes, la há creado él, la há añadido a la riqueza del país. La tierra que labra, la casa que construye, el establecimiento que levanta, son adquisiciones y progresos para el país (...) la habilidad política de un gobierno americano estaria, pues, em mostrarse no sólo dispuesto a recibir esos millones de huéspedes, sino en solicitarlos, seducirlos, ofrecerles ventajas, abrirles médios y caminhos de establecerse y fijarse en el país (SARMIENTO, 1850, p. 43).

Em 1853, dois artigos da nova Constituição Nacional Argentina (inspirada, ressaltamos mais uma vez, nos escritos da Nova Geração e em Bases de Alberdi) diziam que Artículo 20- Los extranjeros gozan en el territorio de la Confederación de todos los derechos civiles del ciudadano; pueden ejercer su industria, comercio y profesión; poseer bienes raíces, comprarlos y enajernalos; navegar los ríos y costas; ejercer libremente su culto; testar y casarse conforme a las leyes. No están obligados a admitir la ciudadanía, ni a pagar contribuciones forzosas extraordinarias. Obtienen nacionalización residiendo dos años continuos en la

Confederación; pero la autoridad puede acortar este término a favor del que lo solicite, alegando y probando servicios a la República. Artículo 25- El gobierno federal fomentará la inmigración europea; y no podrá restringir, limitar ni gravar con impuesto alguno la entrada en el territorio argentino de los extranjeros que traigan por objeto labrar la tierra, mejorar las industrias, e introducir y enseñar las ciencias y las artes.

A imigração para a Argentina, o “povoamento dos desertos’’ do país, vinha ocorrendo de maneira incorreta para Alberdi. O projeto civilizatório que se seguia desde a derrocada de Rosas desagradava o criador do aforismo que foi por muito tempo um dos grandes lemas da Geração de 1837 e que pautou a política governamental argentina ao longo do século XIX. Em Peregrinación, segundo as reflexões de Luz do Dia, ocorreu uma “distorção’’ da política imigratória almejada, e o que via-se era uma “América que da frutos sin trabajo y sin cultivo, será poblada por ociosos y por esclavos, explotados por otros ociosos usurpadores” (ALBERDI, 1916, p. 24). Ao discutir com Fígaro (outro personagem do Barbeiro de Sevilha), a Verdade afirma que a América errou o caminho na busca pela “liberdade interior”, por tê-la alcançado pela espada, e esta não instrui nem educa o povo no governo de si mesmo. O meio para pôr um país no caminho da inteligência e do “costume” da liberdade de si mesmo consistiria, segundo ela (e consequentemente Alberdi), na imigração proveniente da Europa livre e civilizada, anglo-saxã, possuidora da “verdadeira liberdade”. A crítica de Alberdi, mesmo que velada e mascarada por sátiras e situações fantasiosas em Peregrinación, chegam a sair das fronteiras argentinas e se estendem aos demais países do continente, expondo criticamente a organização política da América do Sul; o modelo liberal, da maneira que encontrava-se sendo praticado no continente, não estaria ocorrendo de maneira correta. Em conversa com Luz do Dia, Don Quixote (outro personagem emigrado da Europa) diz que es el más funesto abuso que pueda cometer un pueblo libre el de querer ejercer su libertad por sí mismo, en vez de hacerla ejercer por conducto de su autoridad competente. Yo comprendo que un pueblo debe tener todas las libertades, pero, naturalmente, ha de ser a condición de no ejercer ninguna por sí mismo, y de entregarlas todas a su Gobierno. La libertad representativa, como el gobierno representativo, significa una libertad que se ejerce por apoderado. El apoderado es libre, pero no es libre por su cuenta, sino por cuenta y en provecho del poderdante, que harto tiene con ser el dueño de la libertad que no ejerce. Así nuestro pueblo será el más libre de América por la razón de que será el que menos se moleste en ejercer su propria libertad: el más bien educado para la libertad, por la razón de que no sabrá hablar más palabra que el “sí’’ misterioso, por el cual se encarna su libertad en la libertad soberana de su gobierno (ALBERDI, 1916, p. 77).

A falta de educação política da sociedade latino-americana incomoda Luz do Dia ao ponto de, em discurso sobre as benesses da imigração para a América, a Verdade dizer que La ignorancia del pueblo, en el gobierno de sí mismo es una mina de poder para los gobernantes sin probidad, que son los negreros de sus compatriotas, al favor de esa ignorancia. Es en fuerza de esa ignorancia, que el pueblo cree que elige lo que sus gobernantes le hacen elegir; cree que piensa por él lo que sus gobernantes le hacen pensar; cree que por sí mismo hace todo cuanto hace, y la verdad es que nada hace, sino lo que el gobierno le hace hacer. Cree que es poseedor, y en realidad es poseído; se figura que es soberano y señor de sí mismo, y en realidad es vasallo servil de sus gobernantes. Porque su nombre y su poder son invocados en los actos de sus gobernantes, tal pueblo se considera garantido contra el despotismo, y no se apercibe de que es oprimido sin refugio, porque es oprimido com su propria soberanía y en su proprio nombre; de que su tiranía es indestructible, precisamente porque es tiranizado con su proprio poder o libertad. Sólo en este sentido burlesco puede decir que se gobierna a sí mismo y que es libre um pueblo dotado de tal ignorancia. Y no es outro ni puede ser outro el modo de ser libres de los pueblos que carecen de la inteligencia, de la educación, de la costumbre de gobernasse a sí mismos, en lo cual consiste toda la libertad política (ALBERDI, 1916, p. 117- 118).

Ao fazer esta síntese da política sul-americana, Alberdi dispensa a ideia de que a “ignorância” da população, o triunfo da mentira, a imoralidade, a corrupção e outros malefícios sejam males apenas dos países da América do Sul. De fato, o próprio Alberdi reconhece a presença destes elementos mesmo nas “mais modernas nações europeias’’, a partir do momento em que Dom Quixote sentencia que Los soberanos más civilizados del mundo no vivimos de otro modo entre nosotros mismos, por más que los súbditos vivan en ese orden artificial, que llaman civilización. Los soberanos vivimos en el estado de naturaleza los unos respecto de los otros; sin autoridades ni leyes comunes: en la más soberana libertad (ALBERDI, 1916, p- 84).

A crença pia na educação popular, muito presente nos textos de Sarmiento, Echeverría e do próprio Alberdi (em seus primeiros escritos), fundamental para o “desenvolvimento” do homem argentino e para o crescimento do país como estes argumentavam, é outro elemento criticado em Peregrinación. Alberdi expõe a trajetória de oscilações ideológicas que marcaram a sua produção a partir do momento em que, em debate com Tartufo (a Hipocrisia), Luz do Dia afirma que a educação, administrada para fins impróprios, pode multiplicar a Tartufo, unidad de perversión, por el número de habitantes de que se compone el país, y hacer poco a poco de todo él, uma personificación colectiva y gigantesca de la mentira, empleada contra sí misma (ALBERDI, 1916, p. 15).

Peregrinación, então, acaba por funcionar como crítica de um panorama político na qual a Argentina (e a América do Sul) estava envolvida. Se a América enquanto um todo, na concepção de Alberdi, vinha prosseguindo um caminho que parecia leva-la não ao avanço e progresso por muito tempo idealizados, a Verdade, porém, crê que “nem tudo é mal na América do Sul’’: Lo certo es que América, con sus defectos y cualidades, no es más que um reflejo de la Europa de más atrás, y nada contiene de bueno y malo, que no sea europeo de origen, de índole y carácter. Así, se ve que su historia y su política, son como la fotografia de su territorio, cruzado de gigantescas cordilleras, em que los abismos tenebrosos, se alternan con las celestes alturas de sus montañas. Al lado del bandido, vive el héroe, y los más nobles y generosos caracteres, se mezclan y confunden com las hienas y osos de cara humana, em esta sociedad, que es el embrión grosero de un mundo llamado a ser la nueva edición corregida y mejorada del mundo antiguo y pasado (ALBERDI, 1916, p. 21).

O sonho de um país civilizado, conquistado pelo progresso material, unificado enquanto nação e parte de um “embrião” de um novo mundo corrigido e melhorado em relação ao anterior parecia, porém, distante para seu autor que, desiludido como a personagem principal de seu livro, exila-se voluntariamente e parte para a Europa, onde falece em 19 de junho de 1884. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALBERDI, Juan Bautista. Bases y puntos de partida para la organización de la Republica Argentina. 1852. Disponível em: http://www.hacer.org/pdf/Bases.pdf ALBERDI, Juan Bautista. Fragmento preliminar al estúdio del derecho. Buenos Aires: Ciudad Argentina, 1998. ALBERDI, Juan Bautista. Peregrinación de Luz del Día: o Viaje y aventuras de la Verdad en el Nuevo Mundo. Buenos Aires: La Cultura Argentina, 1916. ARGENTINA. Constituição (1853). Constitución de la Confederación Argentina. Disponível em: http://www.wipo.int/edocs/lexdocs/laws/es/ar/ar147es.pdf BETHELL, Leslie. Historia de América Latina 8. América Latina: cultura y sociedade, 1830-1930. Barcelona: Editorial Crítica, 1991, p. 1-64. BIEDMA, José J; PILLADO, José A. Alberdi. Diccionario Biográfico Argentino. Buenos Aires: Imprenta de M. Biedma é Hijo, 1897. DAFLON, Cláudio. O conceito de civilização em Juan Bautista Alberdi. Mnemosine Revista, Campina Grande, v. 1, n. 2, p. 41-63, jul-dez. 2010. MARIA, Mariana Marques de. Juan Bautista Alberdi e a Geração Romântica de 1837: um esforço de criação de uma nova concepção de nação argentina. In: IX Encontro Internacional da ANPHLAC, 2010, Goiânia.

SARMIENTO, Domingo Faustino. Argirópolis o la capital de los estados confederados del Río de la Plata. Santiago: Imprenta de Julio Belín y Cia, 1850.

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