#JuntasContraVazamentos: uma análise dos conflitos éticos na campanha publicitária da marca Always

June 15, 2017 | Autor: Thiago Nakano | Categoria: Ética, Redes Sociais, ética E Publicidade
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#JuntasContraVazamentos: uma análise dos conflitos éticos da campanha publicitária da  marca Always  1    Thiago Nakano Alves  Universidade de São Paulo     Resumo  Em  Março  de  2015  a  marca  Always,  em  parceria  com  a  SaferNet,  ONG  que  suporta  crimes  cibertnéticos,  lançou  a  campanha  #JuntasContraVazamentos,  para   lutar  contra  exposição  indesejada  na  internet,  além  de  promover  o  produto  Always  Noites  Tranquilas,  absorvente  especial  para  evitar  vazamentos  noturnos.  A  campanha,  que   tem   Sabrina  Sato  como  garota  propaganda,  convidada  mulheres,  especialmente  adolescentes,   a  se  juntarem  a  causa  postando  selfies  com  o  símbolo  do  movimento.  Foram  criados  também   diversos  vídeos,  sendo  um  deles,  da  Sabrina  Sato  em  um  momento  teóricamente  íntimo,  vazado  de  propósito  como  parte  de  uma  tentativa  de  viralizar  o  conteúdo  ­  e  funcionou:  a  campanha  registrou  mais  de  10  milhões  de  views  nas  redes  sociais,  além  de  grande  adesão  de  consumidoras,  artistas  e  influenciadores.  A  campanha  é  avaliada  a  partir  dos  mecanismos  de  comunicação  e  da  ética  organizacional.  Como   resultado,  é  possível  observar  que  a  campanha  trouxe  a  tona  um  assunto  importante  para  a  sociedade  brasileira,  porém  de  forma  controversa,  chegando  a  usar  o  mecanismo  da  revolta  em  prol da própria campanha, além de reforçar a cultura do estupro, atribuindo a responsabilidade do  crime  a  vítima  e   explorar  o  nu  feminino  de  forma  desnecessária. A  campanha, do ponto de vista  ético  organizacional,  não  pode  ser  considerada  ética,  uma  vez  que  usa  de  uma  causa  social para  promover um produto e sua marca.   Palavras­chave:​  Propaganda, invasão de privacidade, ética organizacional, redes sociais.     Introdução   

"Manda  Nudes" é um termo que começou a popularizar no Brasil em fevereiro de 2015, 

segundo  dados  do  Google  Trends.  A  frase  é  um  pedido  de  envio  de  foto  ou  vídeo  íntimo  entre  duas  (ou  mais)  pessoas,  que  pode  ser  chamado  tambem  de  ​ sexting  ou  sexo  virtual  ­  alavancado  pelo  crescimento  do  número  de  ​ smartphones  e  acesso  a  internet  no  Brasil:  já somos mais de  85  milhões  de  usuários  na  rede,  sendo  que  cerca  de  7  milhões  conectam  apenas  pelo  celular  segundo  estudo do IBGE. É ai então que  surgiu  o  ​ porn revenge2 ​ , ou vingança porno. Antes disso, 

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  Trabalho para avaliação do curso "Ética das Interações Digitais", parte da grade de conteúdo do curso de  pós­graduação DIGICORP/ECA­USP, ministrado pelo professor e pesquisador Ivan Paganotti.     2 Receber ou produzir material íntimo de forma consentida e compartilhar de forma não consentida 

a  prática  de  ​ hacking  também  vem  sendo  usada  para  fins  de  violação  a privacidade. Ambos atos,  são  considerados  crimes   e  mesmo  assim,  o  número  de  denúncias  de  vazamento  de  conteúdo  íntimo vem crescendo a cada dia. Só neste ano, a SaferNet já registrou mais de 200 casos.   Entendendo  esse  movimento,  em   março  de  2015 a marca Always, da gigante Procter &  Gamble,  em  parceria  a  SaferNet  ­  ONG  brasileira  que  atua  no  recebimento  e  estudo  de  denúncias  de  crimes  cibernéticos  contra  os  direitos  humanos  ­  lançou  a  campanha  "​ Always  #JuntasContraVazamentos​ "  com  objetivo  de  promover  o  novo  absorvente  íntimo  feminino  Always  Noites  Tranquilas  e  conscientizar  mulheres  e  adolescentes  sobre  o  vazamento  sem  consentimento  de  conteúdo  íntimo  da  rede.  A  campanha  tinha  como  assinatura  "​ Não  deixe  nenhum vazamento tirar o seu sono​ ". Segundo a empresa campanha teria como objetivo de   engajar  a  sociedade  contra  o  vazamento  de  informações  na  internet  através  de  uma  campanha  de  conscientização  que  visa  alertar  sobre  os  riscos  da exposição indesejada nas redes sociais que pode  comprometer   a  confiança e a  auto­estima das nossas consumidoras. Para nos ajudar a  trazer  visibilidade   para  este  tema,  buscamos  o  apoio  e  a  expertise  da  SaferNet  que  atua  na  orientação  sobre  boas  escolhas  online  e   para  a  adoção de comportamentos seguros na web.   (Leonardo   Romero,  porta­voz  da  marca  Always  ​ apud  Clube  de  Criação, 2015)  

  Usando  a  modelo  e  apresentadora  Sabrina  Sato  como  garota  propaganda,  a  marca  publicou  anonimamente  um  vídeo  com  linguagem  e  visual  amador,  teoricamente  íntimo,  simulando  um  vazamento  de  conteúdo  íntimo  e,  cerca  de  três  dias  depois,  revelou  através  de  um  vídeo  manifesto  que  o  vazamento  simulado  era  apenas  para  chamar  a  atenção  sobre  o  tema  e iniciar  o   movimento  ​ #JuntasContraVazamentos​ .  Criada  pela  agência  Leo  Burnett, a campanha ­ focada  no  meio  digital  ­  convidava  o  ​ target  a  se  juntar  a  causa  através  da  publicação  de  ​ selfies  com  o  símbolo  da  campanha   (um  círculo  com  uma  linha  transversal  e  dois  pontos  nas  extremidades  opostas,  simbolizando  um  "0%",  referente  ao  "0%  de  vazamento)  usando  a  ​ hashtag  #JuntasContraVazamentos  em  redes  sociais  como  Facebook,  Twitter,  Instagram  e  SnapChat.  Foram  criados  também   dois  vídeos  com   depoimentos  de  garotas  que  já  haviam  sido  vítimas  desse  tipo  de  vazamento,  postados  no  YouTube,  além  de  um  ​ app  exclusivo  no  Facebook  com  dicas  de  como  evitar  esse tipo  de situacão, orientações de como  agir caso esse tipo de vazamento  aconteça,  dados  estatísticos  da  SafeNet  para  alertar   sobre  o  problema  e  uma  sessão  dedicada  do 

produto  foco  do  lançamento  com  mensagens  publicitárias/ténicas  e  link  externo  para compra no  site da empresa.     A  campanha  gerou  grande  alcançe  na  internet  e  conseguiu  grande  visibilidade  na  mídia,  incluindo  materias  completas   nos  principais  portais  do  Brasil  como  UOL,  Globo,  MSN  e Terra.  Além  disso,  vários  artistas,  influenciadores  e até outras marcas também apoiaram e divulgaram a  causa  nas  redes  sociais,  como  a  cantora  Anitta,  o  blogueiro  Hugo  Gloss  e  a  marca  revista  Claudia.  No  Facebook  e  YouTube,  o  número  de  ​ views  dos  vídeos  da  campanha  passam  dos  10  milhões.  No  Twitter,  Instagram  e  Facebook,  milhares  de  posts  e  ​ selfies  de  usuários  com  a  Hashtag #JuntasContravazamentos.    Conflitos éticos   

Indiscutivelmente  a  campanha  da Always aborda um tema sério e complexo que afeta a 

vida de dezenas de pessoas ­ especialmente mulheres. Entretanto,  alguns dilemas éticos, do ponto  de  vista  comunicacional,  sugerem  uma  discussão sobre o quanto a campanha ajuda  ou  prejudica,  de fato, a causa. Entre os conflitos éticos que são detectáveis na campanha:     1. Usar  o  vazamento  de um vídeo para promover uma campanha contra vazamento de  informações  pessoais​ :  O  fato  irônico  chama  a  atenção  uma  vez  que  usa  o  mecanismo/motivo  do  problema  para  benefício  da  campanha,  já  que  esse  tipo  de  vídeo,  especialmente  de  famosos,  chama  muito  a  atenção  dos  veículos  de mídia, gerando muito  buzz  nas  redes  sociais.  O  vídeo  divulgado  propositalmente  possuía  uma  estética  completamente  amadora,  sendo  facilmente  percebido  como  de  fato  um  vídeo  vazando  sem  consentimento.  O  público  que  procuraria,  replicaria  e  compartilharia  esse  tipo  de  material  criminoso  não   é  o  ​ target  da  campanha,  sendo  em  sua  maioria  homens,  ou  seja,   esse  individuo  pode  não  ter  sido  impactado  pela  fase  2  campanha,  onde  se  é  relevado  o  propósito  do  vazamento  e,  mesmo  que  tivesse  sido,  a  campanha  tem  um  discurso  totalmente  voltado  as  mulheres,   em  como  se  prevenir,  como  agir  nessas  situações.  Em 

resumo,  essa  mecanica  poderia  estimular  mais  ainda  o  vazamento  e  compartilhamento  desse tipo de material.  

  Imagem 1​  ­ Frame do vídeo teoricamente vazado de Sabrina Sato. Fonte:  http://celebridades.uol.com.br/noticias/redacao/2015/03/04/video­intimo­de­sabrina­sato­e­campanha­publ icitaria­apresentadora­explica.htm 

  2. Não criminalização da ação: ​ A campanha não levanta em nenhum momento um  ponto importantissímo no combate ao vazamento de conteúdo íntimo que é  criminalização desse ato e, mais importante, de que a vítima nunca pode ser penalizada, e  sim o agressor. No Brasil não existe uma lei específica para enquadrar o ​ porn revenge  porém o indivído que o praticar está sujeito aos crimes de difamação e injúria,  dependendo do conteúdo publicado e das mensagens a ele relacionada, conforme artigos  139 e ​ 140​  do Código Penal:   Art.  139  –  Difamar  alguém,  imputando­lhe  fato  ofensivo  à  sua  reputação:  Pena  –  detenção,  de  três   meses  a  um  ano,  e   multa.  Art.  140  –  Injuriar  alguém,  ofendendo­lhe  a  dignidade  ou  o  decoro:  Pena  –   detenção,  de  um  a  seis  meses,  ou  multa.  (Trecho  do   Código  Penal  retirado  do  site  http://bernardocardoso.jusbrasil.com.br/artigos/232809627/manda­nude s em 31/10/2015) 

Nos  casos  onde  a  vítima  é  menor   de  idade,  o  ato  se  agrava  muito,  sendo  considerado  pedofilia e podendo ser enquadrado no Estatuto da Criança e do Adolescente (​ ECA​ ):  

Art.  241­A.  Oferecer,  trocar,  disponibilizar,  transmitir,  distribuir,  publicar ou  divulgar  por  qualquer  meio,  inclusive  por meio  de sistema  de   informática  ou  telemático,  fotografia,  vídeo  ou  outro  registro  que 

contenha  cena  de sexo  explícito ou pornográfica  envolvendo criança ou   adolescente: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.    Art.  241­B.  Adquirir,  possuir  ou  armazenar,  por  qualquer  meio,  fotografia,  vídeo  ou  outra  forma  de registro  que  contenha cena de sexo  explícito  ou  pornográfica  envolvendo  criança  ou  adolescente:  Pena  –  reclusão,  de  1  (um)  a  4  (quatro)  anos,  e  multa.  (Trecho  do   Código  Penal  retirado  do  site  http://bernardocardoso.jusbrasil.com.br/artigos/232809627/manda­nude s em 31/10/2015) 

Para  os  casos  onde  a   vítima  tem  sua  privacidade  violada  por  uma  ação caracterizada por  hacking  (obtencão  do  material  íntimo  sem  consentimento),  o  ato pode ser enquadrado na  lei  Lei  Carolina  Dieckmann  (Art.  154­A).  Além  das  implicações  Cíveis,  garantido  pela  Constituição  Federal,  a  vítima  pode  também  considerar  o  Marco  Civil,  que  dá  o  suporte  "àqueles que se sentem ofendidos pela circulação de sua imagem na rede"​ .  Mesmo com diversas formas legais de punir o indivído que causa o "vazamento", a marca  Always  não  trabalha   a  criminização  desse  ato,  focando  o  discurso  em  como  superar  ou  evitar  esse tipo de situação,  sendo que para a segunda opção, a marca trouxe uma dica um  tanto  quanto  controversa  que,  ao  invés  de  culpar  o  responsável pelo vazamento, penaliza  a  vítima.  Essa  ideia  pode   ser  facilmente  comparada  com  a   cultura  do  estupro  que  existe  no  Brasil  (e  no  mundo),  onde  a  vítima,   muitas vezes, é acusada de provocar sexualmente  o  abusador,  através  de  vestimentas  ou  por  ter  um  comportamento  considerado  teoricamente  convidativo.  A  dica  apresentada  na  imagem   abaixo,  foi  retirada  da  lista  de  10  dicas  de  como  evitar  o  vazamento  horas  depois  de  sua  publicação  devido  má  repercussão nas redes sociais:  

 

Imagem 2  ­  Foto  tirada  pela usuária  @GustaMociaro e postada no Twitter em crítica a campanha. Fonte:  https://twitter.com/GustaMociaro/status/573145657701228544/photo/1    

Um  dos  comentários  em  um  dos  vídeos  da   campanha  no  YouTube  sugeria  a  criação  da  campanha 

inversa:  

"​ #JuntasContraVazamentos? 

não 

seria 

melhor 

ser, 

#JuntasContraGravações? se não grava não tem o que vazar!​ ". Não.     3.  Relacionar  o  termo   vazamento  de  fotos  com  vazamento  vaginal:  O  dilema  ético  aqui,  talvez  o  mais  polêmico,   se  dá  pelo  fato  da  marca  correlacionar  o  vazamento  de  fotos  e  vídeos  íntimos,  que  é  um  crime,  um  ato  negativo,  com  o  vazamento  vaginal,  causado  por  uma  condição  biológica  e  não  opcional  da  mulher,  reforçando  o  tatu  da  menstruação  feminina.  Relacionar  o  verbo  "vazar"  em  duas  situações  que  estão  extremamente  distantes  apenas  para  gerar  correlação  com  o  produto  levanta  a  discussão  acerca da ética da publicidade. 

Imagem 3​  ­ Frames do vídeo manifesto da campanha Fonte:  http://www.buzzfeed.com/rafaelcapanema/este­e­o­video­mais­patetico­da­campanha­da­always    

4.  Explorar  o  nu  feminino  em  uma  campanha  que  fala  do  vazamento  de  fotos  íntimas:  ​ O  uso  abusivo  da  imagem  nua  da  Sabrina  Sato,  levanta  o  questionamento  da  exploração  do  nu  feminino  na  publicidade,  estimulando  homens  impactados  pela  campanha  de uma  maneira sexual e nada construtiva, mesmo  que o discurso da campanha  tenha  sido  construído  para  a  vítima. Em uma das imagens de divulgação, Sabrina aparece  nua,  deitada,  com  as  partes  íntimas  embaçadas.  Pode­se  fazer  um  paralelo  com  uma  das  fotos  de  Sabrina  em  ensaio  para  a  Playboy  ­  ​ que  mesmo  que  tenha  sido  uma  publicação de intimidade consentida​  ­ reforça a sensualidade na comunicação:    

  Imagem 4​  ­ Comunicação visual da campanha. Fonte:  http://www.leoburnett.com.br/noticias/lbtm­lanca­para­always­campanha­juntascontravazamentos/ 

 

  Imagem 5​  ­ Foto/Reprodução do ensaio da atriz para a Playboy em Maio de 2003. Fonte:  http://www.terra.com.br/exclusivo/pop_fotosgrandes/sabrinasato.htm 

  Em  outra  imagem  Sarina   aparece  nua,  sentada,  cobrindo  as partes íntima pela posição das  pernas  cruzadas.  A  foto  sugere  uma  situação  onde  foi  tirada  em  um  momento   de  intimidade,  já  que  ela  parece  estar  distraída,  usando  o  celular.  Mesmo  posando  para  a  fotos, esse ​ concept​  reforça a publicação de fotos íntimas (com ou sem consentimento):  

  Imagem 6​  ­ Imagem/divulgação da campanha presente no App da marca no Facebook. Fonte:  https://www.facebook.com/alwaysbrasil/?sk=app_956076181070969 

 

Ética Organizacional    

A  ideia  de  ética  organizacional  gera  ainda  muita  dicussão  entre  os  estudiosos  e 

pesquisados: afim, existe ética na nas corporacões? Na publicidade?   Na  tese  de  doutorado   com tema "​ Comunicação para o desenvolvimento da ética organizacional:  desafios,  estratégias  e  resultados  em  quatro  organizações  brasileiras​ .",  a  pesquisadora  Ágatha  Paraventi  estuda  os  desafios  da comunicação organizacional no ambito da ética. Em uma de suas  análises,  Paraventi  (2013)  compara  as  diferentes  visões  de  filósofos  e  pesquisadores  acerca  da  questão da ética como ferramenta mercadológica, entre eles Ribeiro (2008) e Passos (2004):      Para  o  professor  e  filósofo  Renato  Jaime  Ribeiro  (2008),  os  motivos  pelos  quais  se  desenvolve  uma  ação  ética  não  devem  ter  como  objetivo  ou motivação um benéfico próprio ou recompensa,  conforme  apresentado  em  entrevista  a  revista  Organicom,  titulada  de  "Ética  ou  o  fim  do  mundo?": 

 

só  chamo   de  ética  a  conduta  em  que  a  pessoa  corre   riscos  porque  escolhe  um  ideal  em  que  acredita.  Dizer   que  a ética é uma vantagem  comparativa  de  certas   empresas  parece  implicar  que,  se  não  houvesse  essa  vantagem,  tais  empresas  não  agiriam  eticamente.  Ora,  se elas  só  agem  eticamente   por  uma  razão  não  ética,  serão  éticas?  (RIBEIRO,  2008, p. 165 ​ apud​  PARAVENTI, Ágatha, 2013, p 233)  

Considerando  a  teoria  de   Ribeiro  (2008),  nenhuma  causa  o  ação  ética  de  uma  empresa,  como  o  objeto  de  estudo  #JuntasContraVazamentos,  deveria  ser  chamada  de  ética,  uma  vez  que  possui  objetivos  mercadológicos  excplícitos  ou  implícitos.  A  Always  vinculou  diretamente  uma  campanha  que  levanta  uma  causa séria com o lançamento de um produto, porém mesmo que não  tivesse  vinculado  esses  dois  objetivos,  não  poderia  ser  considerada  uma  ação  ética,  pois  ainda  assim essa campanha renderia benefícios para marca.     Diferente  de   Ribeiro   (2008),  Passos (2004)  defende que a geração de lucro, consequentemente a  saúde  da  empresa,  por  si  só,  já  trazem  um  papel  ético  na  sociedade   ao  se  analisar  o  fortalecimento da economia, a geração de empregos e a própria prestação de serviços.     

 

Resolução/Conclusão    

A  campanha  #JuntasContraVazamentos,  conforme  citado  anteriormente,  falhou  em 

diversos  aspectos  que  prejudicaram  o  objetivo  final  da  proposta. Porém, de certa forma, a marca  trouxe  a  tona  uma  discussão  muito  importante  para  o  Brasil  em  tempos  onde  as  vítimas  de  vazamentos  de  fotos  íntimas  cresceram  4x  em  dois  anos,  segundo  a  SaferNet.  O  vazamento  de  imagens  íntimas  atinge  principalmente  mulheres,  que  representam  81%  dos  casos  denunciados.  A  cada  quatro  vítimas,  uma  delas  é  menor  de  idade:  o  perfil  com  maior  número  de  casos  de  vazamento  de  fotos  é   entre  13  e  15  anos,  segundo  dados  também  publicados  pela  SaferNet.  A  empresa  ainda  afirma  que  o  principal  motivo  pelo  qual  mulheres  não  denunciam  esse  tipo  de  crime é a lentidão e a dificuldade para punir o responsável pelo vazamento do material.   Além  da  consequencia  dos  trauma  que  algumas  vítimas  levarão  para  a  vida  toda,  algumas delas  não  conseguem  superar  a  situação  e  acabam  cometendo  suicídio,   como  o  caso  de  uma  adolescente  de  16  anos  do  Rio  Grande  do  Sul  que cometeu suicídio em 2013 após descobrir que  um ex­namorado vazou fotos suas fotos seminua.  Tanto  Always  quando  SaferNet  sabem  o  quão  importante  é  estimular  esse  tipo  de  discussão  e  ambas  possuem  características  muito  positivas  para  endossar  essa  discussão:  A  Always,  por  ser  uma  marca  de  grande  afinidade  e  influência  com  o  público  feminino,  especialmente  o jovem. A  marca  conseguiu  nesses  anos  construir  uma  relação  de  confianca  com  o  target,  sempre  comunicando  e defendendo a auto estima feminina, o cuidado com o corpo e até mesmo a quebra  de  alguns  estereótipos,  como  na  feliz  campanha  #​ LikeaGirl​ .  A  SaferNet,  maior  ONG  brasileira  que  tem  como principal  objetivo defender os Direitos Humanos na Internet, atua  em um  contexto  além  da  violação  de  privacidade:  homofobia,  maus  tratos  a  animais,  racismo,  xenofobia,  neo  nazismo,  entre  outros.  Nesse   contexto,  as  duas  organizações  poderiam  ter  tratado  o  tema  de  forma um pouco diferente. A começar pelo propósito real da campanha. A Always poderia lancar  uma  campanha  exclusiva  para  falar  sobre  o  tema  de   vazamento  de  conteúdo  íntimo  sem  atrelar  literalmente  a   venda  de  um  produto,  encaixando  essa  campanha  em  uma  estratégia  maior  de  awareness.  A  campanha  deveria  ter  um  objetivo  único  e  direto  e  a  marca  ganharia  muito  se  apoderando  de  uma  causa/território  que  nenhuma  outra  marca  havia  trabalhado,  fortalecendo  ainda  mais  o  seu  posicionamento.   Seguindo nessa linha, anunciante e agência poderiam ajustar a 

mecanica  da   comunicação,  explorando  os  canais  digitais  sem  reforçar  os  estereótipos  e  comportamentos  alvos  da   ação,  talvez  trazendo  um  apelo  mais  denso,  mostrando  exemplos  e  casos  mais  extremos,  reforcando  o  quão  sério  é  esse assunto, mobilizando não apenas as vítimas  mas  também  todos  os  envolvidos:  pais,  amigos,  professores  e,  claro,  o  agressor.  Criminalizar  o  porn  revenge  ou  ​ hacking   também  é  fundamental  para  inibir  a  ação  desses  criminosos,  além  de  emponderar  as  vítimas,  sugerindo  que  a  denúncia  seja  feita,  independente  das  falhas  no  sistema  que  vivemos  hoje.  Um  case  que   não  poderia  deixar  de  citar  é  o  da  marca  Avon,  que  tratou  o  assunto  violência  doméstica   de  uma  forma  genial,  extremamente  criativa  e  zero  oportunista:  a  marca  lancou  a  Linha  Avon  180,  que,  segundo  a  marca  "​ É indicada  para  mulheres de  todas as   idades  e  estilos,  que  descobriram  o  quanto  merecem  ser  lindas  e  realizadas.  Uma  maquiagem  invisível que revela tudo  o  que precisa ser visto e acaba definitivamente com marcas profundas". ​ A 

Linha  180  então,  é  uma  linha  de  maquiagem  invisível  que  não  deixa  a  mulher  esconder  as  marcas  da  violencia  doméstica.  A  linha  contava  com  produtos  como  Batom  Antissilêncio,  Base   Proteção,  Pó  Facial  Cicatrizante  e  Hidratante  Transformador.  O  nome  da  coleção  (180)  é  o  número  que  atende  brasileiras  vítimas  de  violência  doméstica.  Infelizmente  essa  ação  não  teve  tanta  repercussão  quanto  a  #JuntasContraVazamento,  porém,  conseguiu  fazer  com  que  pelo  menos  uma  vez  na  vida,  cada  uma  das  revendedoras  Avon  pensassem  no  assunto  da  violência  doméstica ­ além do alcance na internet.   Finalmente, é importante reforçar o quanto as marcas podem mudar o mundo a partir do poder de  alcance  e  influência  que  possuem.  É  um  papel  social  que  cada  marca  ou  empresa  deveria  ter  (considerado  ético  ou  não)  e  não apenas pelos objetivos mercadológicos mas para colaborar para  uma  sociedade  melhor  ​ para  todos​ .  Sociedade  essa  que  sofre  com  milhares de problemas sociais,  e  ainda  assim  é  uma  sociedade  consumidora,  que  é  composta  por  pessoas,  e  não   números  de  vendas.            

Referências  UOL.  “Em  dois  anos,  quadruplicam  as  vítimas   de  vazamento  de  fotos  íntimas”.  ​ UOL​ ,  1/11/2015.  Disponível  em:  http://noticias.uol.com.br/ultimas­noticias/agencia­estado/2015/07/06/numero­de­vitimas­de­imagens­inti mas­vazadas­na­web­quadruplica­em­2­anos.htm     UOL. “Perfil com maior  número de casos de vazamento de fotos é entre 13  e 15 anos”. ​ UOL​ , 1/11/2015.  Disponível  em:  http://noticias.uol.com.br/ultimas­noticias/agencia­estado/2015/07/06/perfil­com­maior­numero­de­casos­ de­vazamento­de­fotos­e­entre­13­e­15­anos.htm      FAVORITO,  Fernanda.  “Vazamento  de  fotos  íntimas  leva  a  prisões  pelo  País;  relembre  casos”.  JusBrasil​ ,  1/11/2015.  Disponível  em:  http://fernandafav.jusbrasil.com.br/noticias/130886983/vazamento­de­fotos­intimas­leva­a­prisoes­pelo­p ais­relembre­casos           BRAGA,  Isabella.  “A  violação  do  princípio   da  intimidade  e   privacidade”.  ​ JusBrasil​ ,  1/11/2015.  Disponível em:   http://espaco­vital.jusbrasil.com.br/noticias/3176123/a­violacao­do­principio­da­intimidade­e­privacidade       BERNARDO, Cardoso. “Manda nudes”. ​ JusBrasil​ , 1/11/2015. Disponível em:   http://bernardocardoso.jusbrasil.com.br/artigos/232809627/manda­nudes?ref=topic_feed      PAGANOTTI,  Ivan.  “Ética das  Interações Digitais ­ Aula  IV: Cidadania  e Consumo”. ​ Prezi​ , 1/11/2015.   Disponível em:   https://prezi.com/nopfq3bmxfwa/etica­das­interacoes­digitais­aula­iv­cidadania­e­consumo/      G1. “IBGE divulga números do acesso à internet móvel no Brasil”. ​ G1​ , 1/11/2015. Disponível em:   http://g1.globo.com/jornal­nacional/noticia/2015/04/ibge­divulga­numeros­do­acesso­internet­movel­no­b rasil.html     PIFFER,  Luciana.  “ALWAYS  X  AVON:  A  DIFERENÇA  DE  UMA  CAMPANHA  BEM  FEITA”.  Eletrikka​ , 1/11/2015. Disponível em:   http://eletrikka.com/always­x­avon­a­diferenca­de­uma­campanha­bem­feita/     Clube de Criação. “#JuntasContraVazamentos”. ​ Clube de Criação​ , 1/11/2015. Disponível em:   http://www.clubedecriacao.com.br/ultimas/juntascontravazamentos/    

Brasil Post​ ,. “Mais  de  200 casos de 'sexting' foram denunciados no Brasil em 2014 (PESQUISA)”.  ​ Brasil  Post​ , 1/11/2015. Disponível em:   http://www.brasilpost.com.br/2015/05/19/pesquisa­revenge­porn_n_7312518.html     CRESPO,  Marcelo.   “Sexting  e  Revenge  Porn:  por  que  precisamos  falar  sobre  isso?”.  ​ JusBrasil​ ,  1/11/2015. Disponível em:   http://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/noticias/208779694/sexting­e­revenge­porn­por­que­precisa mos­falar­sobre­isso?ref=topic_feed     PARAVENTI​ ,  Ágatha.  “Comunicação  para  o  desenvolvimento  da  ética   organizacional:  desafios, 

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