Kandinsky, Uma Experiência Multi-Sensorial no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio de Janeiro (CCBB-RJ)

Kandinsky – Tudo Começa num Ponto Exposição CCCB Rio de Janeiro - Maio de 2015 La Emoció, L’Sensació, El Simbòlic, El abstracte, Kandinsky. A Emoção, A Sensação, O Simbólico, O Abstrato, Kandinsky. Tudo começa num ponto, frase expressa por Kandinsky para remeter emoção, paixão, vivências e experiências em sua pátria amada Rússia, seu território de sons, sensações, sentimentos e cores. Ponto que começa com seu nascimento em Moscou, em 1866, e sua formação em torno de sua família bem abastada, rodeado de estudos musicais de instrumentos clássicos como o piano e violoncelo, e nas artes com a pintura e o desenho. Seus estudos em direito e economia o levaram a viagens de sons, sensações e cores ao norte da Rússia. Sensações que permeiam o imaginário do visitante ao adentrar ao pátio do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio de Janeiro. O hall da entrada abriga uma instalação interativa, um envolto circular de painéis maleáveis como véus brancos ocupam a redoma central, local onde o visitante adentra e através de um aparato eletrônico permeia dentro da obra “No Branco”, e compreende o uso e significado de cores básicas como o azul, vermelho e amarelo presente constantemente em suas obras. Ao entrar na coleção de obras artísticas e pictóricas, oriundas em sua maioria do Museu Estatal Russo de São Petersburgo, permeamos por fotos em escala humana, retratos do povo da Sibéria com seus trajes de inverno. As fotos em preto e branco relatam a feição e expressão dos camponeses, já os objetos de arte popular presentes como a roda de fiar, o lukbook (estampas primitivas) e brinquedos levam em si ornamentos multicoloridos que nos dão a pista de que os acessórios e trajes fazem parte de um palheta intensa de cores. Em nosso imaginário, as imagens preto e branco viram coloridas, visualizar uma região de intensas cores e luz, tons de verde presentes no ambiente natural da região e luz que penetra nos olhos as diferentes tonalidades de branco em um local frio e de muita neve. À essa experiência de cores e contato com artigos populares irá mudar o rumo de Kandinsky. Kandinsky em contato com os povos Zyriano, da nação Kómi, onde era possível o contato com xamãs tem claro uma busca espiritual e de sentimentos que o leva a reflexões teóricas e investigação de novas linguagens artísticas. Surge o grupo Cavaleiro Azul formado pelo pintor suíço Paul Klee e principais integrantes Alexej von Jawlensky, Franz Marc, August Macke, Marianne von Werefkin e Kandinsky. Acreditavam que a cor azul era perfeita para elevar-se ao mundo espiritual e a imagem do cavaleiro simbolizava a ruptura com antigos paradigmas no mundo da Arte. Kandinsky representa em suas obras imagens abstratas que sugerem ser desenhos de fluxo de energias, metamorfoses, e figuras circulares. Kandinsky pinta uma nova estética étnica com a presença de elementos simples e descritivos como guerreiros e cavalos, montanhas, pássaros, árvores e figuras de

animais. O artista amadurece a ideia de uma arte que possa criar uma relação direta entre o homem e o divino, a conexão com os espíritos e técnicas ancestrais de cura e visão xamã. Em suas obras e séries de improvisação, podemos perceber a constante presença de manchas circulares, de cores avermelhadas, azuis e um núcleo amarelado. Kandinsky em seus estudos, pontua: “eu tenho usado com frequência a forma circular, não dependente da forma geométrica, mas da minha percepção intensa da força interior do círculo em suas muitas variações”. E sobre as cores Kandinsky sustenta que em primeiro lugar, uma cor quente irradia e se move em direção ao expectador, deslumbrando-o, enquanto a segunda, uma cor fria, gera um afastamento. Em suas construções pictóricas há muitas sonoridades, fruto também de sua participação em obras líricas e teatrais, priorizando uma natureza sinestésica. A forte presença de imagens de santos e veneração ao São Jorge, padroeiro da Rússia, irá permanecer dentro do universo artístico do pintor a criar uma nova maneira de se expressar através da pintura. Kandinsky resolve investigar maneiras e técnicas de expressar experiências e sentimentos utilizando-se da pintura como instrumento. Kandinsky percebe que os movimentos como o naturalismo e o realismo não possibilitavam o contato com a experiência e, numa necessidade de expressar seus sentimentos realiza uma ruptura com o mundo real, o fidedigno, em prol de uma tela que reproduz sensações, movimentos, experiências e vibrações. Estava à procura do sentimento escondido, da memória afetiva, de um som que pudesse ter formas e cores, e com o uso de pinceladas expressivas realiza o movimento abstrato, o qual preenche o vazio de sentimentos de uma tela, traz à tona a experiência, a sensação, o movimento, a vibração e toda sua sensibilidade. Kandinsky no Abstracionismo quebra os padrões de estética, transcende, e se inspira no instinto e com cargas de emoção suas linhas e formas não fazem juz à nenhuma regra e não representam diretamente a imagem real. A imagem é transfigurada, representada e remete outro significado, rompe com a semiótica de Pierce e suas leis, descodifica os signos que por sua vez remete a outro significado. Kandinsky se inspira em elementos musicais e compõe seus quadros com formas geométricas, círculos, quadrados, triângulos e pontos, formando uma arte visual abstrata. Pinta as sensações em forma de música, utilizando ritmos, sílabas, batimentos e acordes. As cores de sua paleta evocam um efeito em dobro: um efeito físico no qual o olhar se encanta pela beleza da composição de cores, de forma a nos remeter uma experiência boa de como degustar um manjar; em outro lado mais profundo, esse efeito causa uma ressonância interior, um efeito espiritual no qual as cores tocam efeitos de anima. A arte de Kandinsky nasce de uma necessidade interior do artista que, de uma maneira enigmática e mística, adquire uma vida autônoma, convertendo-se em um sujeito independente, animado por alimentar um sentimento espiritual. É dessa maneira que Kandinsky atinge os estados d’alma e revoluciona a arte do século XX.