Kenneth N. STEVENS E Samuel J. KEYSER. Traços primários e seu reforço em consoantes

July 21, 2017 | Autor: W. Ferreira Netto | Categoria: Fonética, Fonologia
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STEVENS, K. N.; KEYSER, S. J. Primary features and their enhancement in consonants. Language, v. 65, n. 1, mar, 1989, p. 81-106. Trad. de Waldemar Ferreira Netto em 2015

Traços primários e seu reforço em consoantes KENNETH N. STEVENS E SAMUEL JAY KEYSER Massachusetts Institute of Technology Entre os traços distintivos das consoantes, distinguimos um conjunto de traços primários que são, perceptivamente, os mais salientes. A força com que um traço primário manifesta-se em um determinado som é influenciada por traços secundários que coocorrem com ele. Os traços [soante], [contínuo] e [coronal] são designados como primários, e essa designação se aplica a todas as oito configurações em que ocorrem. Os traços [anterior] e [lateral] também são designados como primários, mas somente sob condições muito específicas. Examinamos sistematicamente quais combinações de traços secundários dão reforço máximo para as manifestações acústicas dos traços primários. Essa análise aponta para um inventário de onze traços preferidos e para uma lista dos segmentos que ocorrem mais frequentemente nas línguas do mundo, baseados em Maddieson (1984). Esse alinhamento se constitui como um argumento de base para o ponto de vista de que combinações de traços que ocorrem mais frequentemente nas línguas do mundo decorrem do fato de que essas combinações maximizam a distinção perceptiva por meio do mecanismo de reforço do traço. Isso sugere que esses conceitos de reforço e de combinações preferidas de traços são diretamente relevantes para a noção de marca.

1. INTRODUÇÃO. Embora haja um grande número de sons possíveis nas línguas do mundo, sabe-se que um pequeno inventário de sons ocorre repetidas vezes nas línguas. Por exemplo, nas 317 línguas listadas em Maddieson (1984), estão arroladas aproximadamente 500 consoantes diferentes, mas apenas dez ocorrem em 64% das línguas. Essas dez consoantes estão arroladas na Tabela 1, junto da percentagem de línguas nas quais cada uma delas foi observada.1 O propósito deste trabalho é dar uma explicação para a forte preferência desse inventário nuclear de consoantes. nosso argumento é uma extensão da teoria do reforço preposta por Stevens et al. (1986). A teoria do reforço baseia-se em três hipóteses. A primeira é que traços distintivos constituem amaneira apropriada da representação dos sons das línguas do mundo e que os grupos de traços tendem a ser implementados simultaneamente para formar segmentos. A segunda é que as manifestações acústicas de alguns traços distintivos são mais salientes do que outras. Chamamos esse conjunto particular de TRAÇOS PRIMÁRIOS. A terceira é que um traço distintivo específico por ser representado por um som com variação de graus de força , o que, por sua vez, pode ser reforçado por sua co-ocorrência com outros traços. SEGMENTO /m/ /k/ /j/ /p/ /n/ /s/

EM MADDIESON

94 89 85 83 82 77

1

No caso das consoantes [coronal], /t/, /n/, /s/ e /l/, incluímos em nossa contagem segmentos rotulados por Maddieson tanto como alveolar ou dental/alveolar, com o pressuposto de que ambas as designações podem ser vistas como [-distribuído]. Maddieson (em comunicação pessoal, 1988) sugere que a maioria dos segmentos que identificou como dental/alveolar são, provavelmente, apicais e não laminais, O que dá alguma justificativa para classificá-los como coronais. Se os três grupos, alveolar, dental/alveolar e dental se combinarem, então os segmentos resultantes /*t/, /*n/, /*s/ e /*l/ teriam valores mais altos do que vai na lista da Tabela 1.

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/t/ /w/ /l/ /h/

75 75 68 64

TABELA 1. Lista das dez consoantes que ocorrem mais frequentemente nas línguas, segundo Maddieson (1984).

Argumentamos que os segmentos consonantais que predominantes nas línguas são os que se distinguem dos demais pelos traços mais salientes, i.é, pelos traços primários. Os traços remanescentes, ou secundários, para os segmentos predominantes, são selecionados como que para reforçar a força com que os traços primários são implementados, e, assim, maximizar o contraste perceptivo entre os segmentos. A noção de reforço e de contraste perceptivo máximo foi discutida por diversos autores. Jakobson e Waugh (1979, p. 108-9), por exemplo, notaram que traços redundantes podem ter o papel de reforçar uma oposição distintiva. Liljencrants e Lindblon (1972) utilizaram um princípio de distintividade perceptiva máxima para explicar de que maneira um inventário particular de vogais tende a ser distribuído. Esse princípio foi refinado e extendido em uma publicação mais recente de Lindblom (1986)2. Maddieson (1984) discutiu os problemas envolvidos na quantificação da saliência e da distância perceptiva e procurou uma análise racional para a padronização de sons na língua. Nosso objetivo neste ensaio é explorar qual é a extensão possível para explicar a distribuição dos sons preferidos nas línguas do mundo baseados apenas no conceito de reforço e de saliência perceptiva. As observações de Maddieson em seu importante livro, junto com os dados extensivos que ele apresenta, dão um estímulo maior para o presente ensaio. 2. TRAÇOS DISTINTIVOS. Traço distintivo é uma unidade fundamental no quadro teórico que os fonólogos usam para descrever locuções. Sua representação fonológica consiste de uma sequência de unidades discretas e os itens dessa sequência são definidos em termos de categorias discretas. Dessa maneira, essas representações fonológicas são inerentemente categoriais ou quantais, em contraste com a cadeia articulatória dos estados articulatórios e dos movimentos e as ondas sonoras ou suas representações auditivas, que têm formas inerentemente análogas. Diversas propostas foram feitas em relação ao inventario apropriado de traços para descrever distinções fonéticas entre as línguas. Para os propósitos da presente discussão, selecionamos a lista de traços na Tabela 2. Esse inventário é similar ao que foi proposto por Chomsky e Halle (1968) que, por sua vez, é uma modificação dos traços originalmente descritos por Jakobson, Fant e Halle (1952). Alguns dos traços de Chomsky e 2

Outros princípios poderiam ser invocados para explicar a predisposição das línguas para usar segmentos particulares. Um desses princípios sugere que alguns segmentos ocorrem mais frequentemente do que outros porque eles são "mais fáceis de se articular". Até o presente estado do conhecimento, questionamos se "fácil de articular" pode ser uma noção coerente. Considere-se, por exemplo, a visão de que obstruintes tendem a ser surdas por causa das restrições fisiológicas que as tornam mais fáceis de serem articuladas. Um argumento comum é que o aumento da pressão intraoral associado com uma consoante obstruinte causa uma redução na pressão transglotal e, por isso, uma extinção possível do vozeamento. Pode-se notar, entretanto, que para que se ouça uma obstruinte como vozeada, requere-se a vibração das cordas vocais somente na proximidade das fronteiras entre a obstruinte e a soante adjacente, e o vozeamento total da obstruinte não é necessário. Além disso, a produção de obstruintes não vozeada precisa, geralmente, de uma abdução ativa da glote, enquanto que uma obstruinte vozeada não precisa. Em vista dessas observações, pode-se questionar se é possível quantificar a facilidade com que essas duas classes de segmentos são articulados. Ambiguidades similares são evidentes quando se tenta quantificar a relativa facilidade de articulação para outros pares de sons.

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Halle (1968) foram definidos originalmente em termos de atributos articulatórios, ainda que a proposta de Chomsky e Halle (1968) fosse que os traços tivessem correlatos acústicos ou perceptivos. Recentemente, tem havido algum esforço para desenvolver correlatos acústicos e perceptivos, bem como articulatórios, desses traços. Esse esforço tem levado a algumas modificações de alguns dos traços originalmente propostos por Chomsky e Halle (1968). Considerações fonológicas também levaram a alguns ajustes no inventário de traços. VOCÁLICO

NÃO VOCÁLICO

alto {high} baixo {low} posterior {back} arredondado {round} nasal {nasal} spread glottis constricted glottis

soante {sonorant} contínuo {continuant} coronal {coronal} estridente {strident} consoante {consonantal} anterior {anterior} lateral {lateral} distribuído {distributed} voz {voice}

TABELA 2. Lista de traços distintivos cuja referência é feita neste ensaio. Os traços organizam-se em dois grupos: os que estão representados nos sons, quando o trato vogal está relativamente aberto (vocálico), e os que são representados por sons, quando o trato está mais comprimido.

Assim, por exemplo, nosso ponto de vista atual é o de que o traço [+soante] poderia ser definido de maneira que ele seja redundantemente [+voz], já que essa definição leva a um correlato acústico de traço soante mais bem definido e perceptivamente mais razoável. Outra modificação dos traços de Chomsky e Halle (1968) envolve os traços que descrevem a configuração laríngea. A lista na Tabela 2 inclui os traços [constricted glottis] e [spread glottis], bem como o traço [voz].3 Os traços na Tabela 2 estão organizados em duas sublistas que dependem da maneira como são implementados. Os traços arrolados na coluna da esquerda identificam-se como vocálicos. Para esses traços, a manifestação acústica ocorre quando o trato vocal está relativamente sem constrições e a fonte sonora que desencadeia a geração de sons esteja na glote. O espectro do som que é gerado durante o intervalo de tempo em que o trato vocal está relativamente sem constrições caracteriza-se por diversos picos de proeminência ou formantes especialmente na região medial entre 700 e 3000 Hz. Um adicional máximo do espectra (ou espectro máximo) ocorre em frequência baixa com um grau de proeminência que vai depender das configurações globais e velofaríngeas. Para os traços na coluna da direita da Tabela 2, identificados como não vocálicos, a manifestação acústica ocorre se trato vocal tem uma constrição em algum ponto de sua extensão. A fonte sonora pode ser a glote ou pode estar nas proximidades da constrição. Os correlatos acústicos e articulatórios foram discutidos em outras publicações, tais como Fant (1973) e Stevens (1980, 1983). A relação entre a representação discreta na mente do ouvinte e o domínio análogo da articulação do som e das respostas auditivas periféricas consiste de definições de correlatos articulatórios, sonoros e auditivos dos traços distintivos. Ao descrever as relações entre, de um 3

Os traços [constricted glottis] e [spread glottis] foram discutidos em Halle & Stevens (1971). Eles apresentaram um quadro teórico que classifica as obstruintes em planas [-spread glottis, -constricted glottis], aspiradas [+spread glottis, -constricted glottis] e glotalizadas [-spread glottis, +constricted glottis]. Outras abordagenas para classificar as configurações laríngeas também foram propostas (p.ex. Catford, 1977; Ladefoged, 1971), mas sugerimos que as diferenças não são suficientes para influenciar significantemente os argumentos atuais no que se refere ao reforço. Omitimos das considerações os traços [sitff vocal folds] e [slack vocal folds] propostos por Halle e Steven, mas mantivemos o traço [vozeado] para fazer a distinção entre consoantes vozeadas e não vozeadas.

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lado, traços fonológicos e, de outro, entre representações articulatórias, acústicas e auditivas, precisamos introduzir dois conceitos. Primeiro, precisamos do conceito de LIMIAR (threshold). Se uma modificação contínua da articulação ou do som ocorrer a partir de padrões que representem um valor de um traço para padrões que representem outro valor, o padrão da resposta auditiva ou articulatória atinge um ponto em que um novo processo ou mecanismo entra em jogo. Nesse sentido, há um limiar natural ou uma linha divisória entre duas regiões na gama de valores de um parâmetro acústico ou articulatório. (Ver, por exemplo, STEVENS, 1972; STEVENS, 1989). Dessa maneira, por exemplo, o correlato articulatório do traço [-posterior] é que o corpo da língua está numa posição mais frontal no trato vocal, e o correlato acústico é que o segundo formante (F2) está próximo do terceiro (F3). É provável que haja um fenômeno limiar que ocorra quando F2 é deslocado para cima para aproximar-se de F3. Esse fenômeno foi discutido por Chistovich e seus colaboradores (1979) e por Syrdal e Gopal (1986). Quando F2 e F3 estão suficientemente próximos, o ouvinte interpreta os dois picos de proeminência espectral em termos de uma só proeminência com um único centro de gravidade. A separação de F2 e F3 para além de uma distância crítica leva à representação auditiva de duas proeminências distintas. Entendemos que o correlato perceptivo de cada um desses traços pode ser descrito um termos de um fenômeno limiar desse tipo, e que o sistema perceptivo está equipado com quinze ou vinte desses processos limiares que correspondem aos traços-tipo listados na Tabela 2. Uma vez que o limiar tenha sido alcançado, as propriedades acústicas que se manifestam podem estar presentes em vários GRAUS DE FORÇA além do limiar. Assim, seguindo o exemplo já apresentado, F2 pode ser manipulado para mais perto de F3 e a proeminência dos dois picos espectrais pode se tomar ainda mais proeminente. É de se imaginar que o reforço da força da representação acústica e articulatória de um traço tornará essa propriedade perceptivamente mais saliente e mais distinta e aumentará a probabilidade de que seja detectada e que corresponda ao traço identificado. 3. SALIÊNCIA. Começamos com a hipótese de que nem todos os traços distintivos são igualmente salientes de um ponto de vista perceptivo. Ou seja, as propriedades acústicas contrastantes associadas coma presença ou com a ausência de alguns traços apresenta respostas auditivas mais fortes do que os que se associam a outros traços. Por exemplo, considerem-se os pares /t, s/ e /t, t̪/ . Os membros do primeiro par distinguem-se pelo traço [contínuo], enquanto que os membros do segundo par distinguem-se pelo traço [distribuido]. Postulamos que um desses traços seja mais saliente do que o outro — particularmente, que [contínuo] seja mais saliente do que [distribuído]. Há, no domínio acústico-articulatório, uma diferença notável entre as propriedades que caracterizam cada um desses dois traços. Para um segmento [-contínuo], há um ataque abrupto de energia ao longo do intervalo de frequências precedido de um intervalo de silêncio ou de baixa amplitude. Essa resposta acústica levar a uma resposta distintiva no sistema auditivo. Um segmento que é [+contínuo] tem um ataque menos abrupto por duas razões: há energia acústica durante o intervalo que precede a abertura, e ainda que a energia seja fraca ou não esteja presente, o aumento da amplitude na abertura é menos abruto. Por outro lado, o correlato acústico contrastante do traço [distribuido] pode ser entendido como a presença ou a ausência de uma transição breve para a abertura consonantal.4 Nossa intuição é de que se se comparar a diferença no domínio acústico/articulatório por meio de locuções minimamente distintas que envolvem esses traços, se perceberá que o contraste é maior para o traço [continuo] do que para o traço [distribuído]. É por essa razão que supomos [contínuo] ser mais saliente do que 4

Consoantes classificadas como [+ distribuido] são produzidas com uma constrição que é maior do que as definidas como [-distribuído]Uma consequência é que a abertura de uma consoante [distribuído] é uma mudança menos rápida no espectro de como a consoante é aberta. Uma definição do correlato acústico desse traço e, também, o de seu próprio status, ainda está em discussão.

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[distribuído]. Até este momento, não podemos quantificar a saliência de traços individuais em termos dos mecanismos de resposta auditiva. Consequentemente, o poder de persuasão de nossa hipótese depende de outros tipos de dados. Uma evidência para justificar a conclusão relativa aos traços [contínuo] e [distribuído] é que o contraste definido pelo par / t, s / é quase universal em línguas enquanto que o contraste definido pelo par / t, t̪ / é raro. Maddieson (1984) afirma que, do total de 317 línguas que analisou, somente 8% (24 línguas) tem oclusivas alveolares e dentais, enquanto que 84% (266) apresentam /s/ e virtualmente todas as 317 línguas analisadas apresentam uma oclusiva dental ou alveolar. Supomos que uma distribuição como essa possa ser explicada em termos da hipótese da saliência. Em resumo, tomamos contrastes que são universalmente implementados para refletir uma propriedade importante do sistema perceptivo — isto é, que apenas esses contrastantes são perceptivamente mais robustos. 4. OS TRAÇOS PRIMÁRIOS. Postulamos que haja um conjunto de traços distintivos para consoantes que são mais salientes; são os traços [contínuo], [soante] e [coronal]. Chamamo-os de traços primários5, e eles levam a oito combinações possíveis, arroladas na Tabela 3.

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8)

CONTÍNUO

SOANTE

CORONAL

SEGMENTOTIPO

+ + + + -

+ + + + -

+ + + + -

J W S F,H N,L M T P,K

TABELA 3. Os três traços primários e suas combinações.

Há diversas razões para a seleção desse conjunto particular de traços como primários. Para começar, entre os dez e tantos traços que estão representados no som durante um intervalo de construção consonantal ou imediatamente adjacente a ele, cada um desses três traços primários pode ser implementado independentemente da presença ou da ausência de outros traços. Isto é, a geração de propriedades acústicas associadas com cada um dos traços primários não precisa que nenhum outro traço ou traços tenha valores específicos. Os remanescentes, ou traços consonantais SECUNDÁRIOS, entretanto, são mais restritivos em seus valores e podem depender dos valores dos traços primários com os quais eles se combinam. De uma certa maneira, os correlatos acústicos de cada uma dos traços secundários são modulações das propriedades acústicas associadas com os três traços primários. Uma vez que os traços primários estejam presentes, os traços secundários podem agir para modificar a maneira como os traços primários são implementados. Os traços secundários podem, de fato, agir também de sua própria maneira para fazer distinções na língua. Um exemplo de traço secundário é o traço [distribuído] discutido acima. Enquanto consoantes que são [+coronal] podem assumir qualquer valor de [distribuído], isso não é verdadeiro para consoantes velares e uvulares, que são sempre [+distribuído]. Como outro exemplo, observamos que o traço [+estridente] pode ser implementado somente se [-soante] for especificado. Além disso, a maioria dos pontos de vista dos sistemas de traços também precisa que a estridência seja relevante somente para segmentos que são [+contínuo]. Isto é, o 5

A classificação desses traços como primários não está relacionada com outros agrupamentos de traços que foram propostos, como os traços de "classe maior" de Chomsky e Halle (1968), ou traços de uma camada particular, no ponto de vista atual da geometria de traços (CLEMENTS, 1985).

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traço [+estridente] não pode ser implementado simultaneamente com [+soante] ou com [-contínuo]. Outras razões para o status especial que damos aos três traços primários da Tabela 3 baseia-se no exame de suas manifestações acústicas e perceptivas. Enquanto todos os outros traços parecem basear-se em algum aspecto distintivo da resposta auditiva ao som, os três traços primários parecem intimamente ligados às capacidades fundamentais do sistema auditivo para processar aspectos do processamento temporal e espectral do som. Por exempli, um segmento com o traços [+soante] caracateriza-se pela continuidade da amplitude do espectro em baixas frequências na região do primeiro e do segundo harmônico — uma continuidade de amplitude que se extende para a vogal adjacente sem mudança substancial. Essa propriedade é uma consequência do fato de que não há basicamente nenhuma obstrução para o fluxo do ar nas vias aéreas acima da laringe, e, por isso, as cordas vocais podem continuar a vibrar de uma maneira normal, mantendo sem mudança a amplitude da frequência baixa no som radiado. A implementação do traço [-soante] dá origem a um espectro de amplitude reduzida nas baixas frequências. O correlato acústico do traço [-contínuo] é um aumento (ou queda) abrupto de amplitude de uma gama de frequências (excluindo-se a região de frequência baixa associada com a soância {sonorancy}, precedida (ou seguida) por um intervalo com amplitude relativamente fraca. Sabe-se que o sistema auditivo periférico mostra uma resposta reforçada que segue imediatamente o aumento abrupto na amplitude e uma resposta diminuída {depressed} que também segue imediatamente a diminuição abrupta diminuição da amplitude (SMITH, 1979; DELGUTTE; KIANG, 1984). O correlato articulatório de uma consoante [-contínuo] é o fechamento completo em algum ponto ao longo do linha média do trato vocal. A brusquidão ocorre na abertura ou na implosão desse fechamento.6 Para o traço [+coronal], o correlato acústico é uma amplitude espectral maior nas frequências mais altas do que nas frequências mais baixas, ou, pelo menos, um aumento na amplitude do espectro nas frequências altas em relação à amplitude amplitude da frequência alta no momento imediatamente adjacente. Uma consoante [+coronal] é produzida pela elevação da lâmina língua e pelo posicionamento de alguma parte dela em contato com o palato duro ou com os dentes superiores para formar uma constrição estreita.7 Assim, os três traços primários associam-se com três propriedades básicas que parecem produzir padrões distintivos de resposta no sistema auditivo. Essas propriedades estão ilustradas na Figura 1, em que espectrogramas de duas locuções [ata] e [awa] foram apresentados. Na figura, a combinação dos traços [-soante, -contínuo, +coronal] é ilustrado por [t] e a combinação dos traços [+soante, +contínuo, -coronal], por [w]. Os traços primário indicam (1) se há ou não continuidade na amplitude das frequências baixas, (2) se há ou não uma mudança abrupta na amplitude das frequências altas e (3) se o fluxo da fala está ou não marcada pontualmente por uma região na qual a energia de baixa frequência (como representada no sistema auditivo) destaca-se a partir de seu contexto imediato.

6

Um aumento abrupto na amplitude do espectro é observada normalmente na abertura de uma consoante lateral, que classificamos como [-contínuo], ainda que, para uma lateral posvocálica em inglesa, o traço [-contínuo] não seja sempre implementado. 7 Uma definição precisa do contato que define um segmento [+coronal] é difícil de se formular nesse momento. Como foi indicado na nota de rodapé n. 8, há uma base acústica para classificar as palatais (incluindo /j/) como [+coronal], assim que o correlato articulatório desse traços poderia abarcar esse grupo de segmentos.

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FIGURA 1. Espectrograma da locução [ata] e [awa]. Para [awa] apresentam-se espectrogramas de banda larga e de banda estreita. Esses espectrogramas ilustarm as manifestações acústicas dos três traços primários [contínuo]. [soante] e [coronal]. Os extremos da continuidade são a abruptude do fechamento e da abertura consonantal para [t] e a suavidade das mudanças de amplitude para [w]. A implementação de [+soante] para [w] é vista com mais clareza no espectrograma de banda estreita, em que há continuidade nos harmônicos com frequência baixa sem nenhuma mudança essencial em suas amplitudes. A energia de baixa frequência cai até zero no intervalo de fechamento para [t]. A coronalidade manifesta-se em [t] por uma amplitude maior das frequências altas na explosão {burst} e na parte inicial do vozeamento do que na vogal seguinte. A ausência de energia de nas frequências baixas para [w] é evidência para o traço [-coronal].

Ainda há outra razão para selecionar esses três traços como primários. É que entre os traços que estão disponíveis para marcar contrastes fonéticos durante intervalos consonantais na cadeia da fala, esses três traços são usados distintivamente em uma grande maioria das línguas. O uso distintivo dos traços secundários é menos frequente na língua. Retornaremos a esse ponto posteriormente. O símbolos na coluna mais à direita na Tabela 3 representam o segmento-tipo que se define para cada linha. Nenhuma linha define segmentos específicos, entretanto, cada linha pode ser entendida como a especificação de uma classe de segmento. Por exemplo, a quinta linha é compatível não somente com /n/, mas também com uma dental /n̪ /, como em inglês tenth, uma palatalizada /nj/, como em russo nyet, a lateral em alguma de suas várias manifestações (por exemplo, a laringalizada /l ̠/ ou a retroflexa /l/) ̩̩ e assim em diante. Similarmente, pode-se elaborar cada uma das linhas na tabela. No entanto, não escolhemos os símbolos na coluna mais à direita aleatoriamente. Ao contrário, afirmamos que a combinação de traços representados por aqueles símbolos são, de fato, combinações que, quando estão completamentamente especificadas, maximizam a forma das propriedades que são correlatos acústicos dos três traços primário [contínuo], [soante] e [coronal]. Por enquanto, podemos ver esses símbolos como uma ajuda na identificação de várias combinações de traços que serão discutidos. 5. REFORÇO DOS TRAÇOS PRIMÁRIOS. Agora vamos examinar os traços secundários quando são implementados em combinação com os três traços primários. Particularmente, mostraremos que a força com que cada traço primário ocorre no som é influenciada pela combinação de traços que co-ocorrem com os traços primários. Consideraremos cada um dos traços secundários por vez, de maneira a determinar qual valor dos traços é preferido em termos de seu efeito no fortalecimento de cada traço primário. Um resultado desse exercício é a 7

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especificação de uma número de combinações de traços ou de segmentos que são, de alguma maneira, ótimos, uma vez que eles garantem a representação mais forte do contraste definido por cada um dos traços primários. Apesar de todos os argumentos para o reforço basearem-se em teorias acústicas ou perceptivas, alguns são mais especulativos do que outros. Entretanto, acreditamos que a soma total desses argumentos é suficientemente convincente para garantir considerações sérias do reforço como um princípio linguístico. Nessa discussão, vamos preterir considerações de [anterior] e [lateral] até o final, uma vez que, como veremos, esses traços têm propriedades especiais. Além desses dois traços, não há ordem significativa que prenda os traços secundários. 5.1 VOZ. Comecemos com o traço [voz]. É evidente que os traços [soante] e [voz] estão associadosno sentido de que [+soante] é reforçado por [+voz], enquanto que [-soante] é reforçado por [-voz]. De fato, como já mencionamos no §2, acreditamos que consoantes [+soantes] sejam redundandemente [+voz]. Ainda que o traço [+voz] possa ser implementado junto com o [-soante], como em consoantes oclusivas sonoras ou em fricativas sonoras, o som que resulta tem necessariamente energia em frequência baixa, uma propriedade que elas compartilham com [+soantes], ainda que essa energia de frequência baixa seja mais fraca em uma obstruinte sonora do que em um segmento [+soante]. Consequentemente, transformar um segmento [-soante] em [+voz] tem o efeito de enfraquecer a manifestação acústica do traço [-soante]. Assim, concluímos que o traço [voz] pode ser tomado como o mesmo valor do traço [soante] se o primeiro for implementado com força máxima. Essa conclusão não vale para os traços [contínuo] e [coronal], cuja forma não parece afetar-se pelo valor de [voz]. 5.2. CONSOANTE. O correlato articulatório do traço [+consoante] é uma constrição estreita em algum ponto ao longo do trato vocal. Essa constrição é suficientemente estreita para que, quando a consoante é aberta para a vogal seguinte, haja um movimento rápido de algum dos formante, particularmentes aqueles associados com a parte posterior do trato vocal na constrição. O resultado desse movimento de formante é uma mudança rápida no espectro em alguma parte da gama de frequências. O exame das linhas na Tabela 3 indica que seis das oito combinações são redundantemente especificadas para o traço [consoante]. Por exemplo, a combinação [+contínua, +soante] implica que não há constrição estreita no trato vocal, e assim que essa combinação é redundantemente [-consoante]. Das combinações remanescentes, aquelas que são [+coronal] são redundantemente [+consoante], uma vez que essas combinações implicam uma constrição estreita formada pela lâmina da língua. Da mesma maneira, a combinação [-contínuo, -soante, -coronal] é redundantemente [+consoante]. Da duas combinações remanescentes (linhas 4 e 8 na Tabela 3, identificadas como [-soante, -coronal]), ambos os segmentos [+consoante] e [-consoante] são possíveis. No caso da versão [-contínuo] (linha 4), não temos até agora nenhum bom argumento para selecionar qualquer um dos valores do traço [consoante] em termos de seus efeitos sobre a saliência dos três traços primários. (Uma discussão desse ponto será feita no §6 abaixo). Por outro lado, para a versão [-contínuo] (linha 8), o força dos três traços primários parece ser reforçada pelo traço [+consoante]. Isto é, a ausência de uma mudança rápida no espectro e a ausência de um ruído próximo à abertura no segmento [+consoante] /Ɂ/, leva a uma implementação mais fraca de [-contínuo], [-soante] e [-coronal] do que em consoantes oclusivas produzidas pela formação de constrição no próprio trato vocal. 5.3. DISTRIBUÍDO. O traço [-contínuo] da linha 5 até a 8 da Tabela 3 é reforçado se a duração do fechamento consonantal no trato vocal for mais curta e se a abertura for mais rápida. Esses atributos darão origem a um ataque abrupto de energia acústica na abertura da consoante. Essa necessidade estabelece que as combinações de traços nesses quatro linhas sejam [-distribuído] de maneira a reforçar [-contínuo]; isto é, serão produzidas com uma constrição breve da ponta da língua ou dos lábios. Por outro lado, as combinações na linhas 1 e 2, que são [+contínuo, +soante] são implementadas com uma abertura mais lenta. Esse tipo de abertura é feita ao ser formar 8

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constrições mais longas, isto é, com o traço [+distribuído].8 No caso dos contínuos nas linhas 3 e 4, veremos mais abaixo que a implementação do traço [estridente] é fundamental e que o status do traço [distribuído] é irrelevante. 5.4. ESTRIDENTE. Uma vez que o traço [+estridente] pode ocorrer somente se o ruído fricativo for geral na constrição, todos os segmentos [+soante] são redundantemente [-estridente], como já notamos acima. Essa regra aplica-se às linhas 1, 2, 5 e 6 da Tabela 3. Entre as consoantes oclusivas (linhas 7 e 8), nosso ponto de vista é que ao acrescentar o traço [estridente] será necessário que o segmento seja complexo, com um componente [+contínuo] e um [-contínuo] (veja CLEMENTS; KEYSER, 1982). Isto é, um segmento que contenha [+estridente, -contínuo] é um africado. Para esse segmento complexo, parece que a força do traço [-contínuo] será enfraquecida, uma vez que a taxa de abertura do fechamento será limitada pelo fato de que uma constrição estreita precisa ser mantida após a abertura. Consequentemente, as combinações de traços para consoantes oclusivas nas linhas 7 e 8 são mais fortemente representadas se estiverem combinadas com [-estridente]. Finalmente, voltamos às linhas 3 e 4, que são [+contínuo, -soante]. A implementação do traço [+contínuo] é claramente fortalecida se o ruído de fricção é de intensidade alta. Essa condição é necessária para a linhas 3 e 4 pelo direcionamento da corrente de ar contra os dentes inferiores ou contra o lábio superior, isto é, pelo traço [+estridente]. 5.5. NASAL. Implementa-se o traço [nasal] com o abaixamento do véu palatino para produzir uma abertura velofaríngea. Além de modificar as propriedades acústicas do sistema, essa abertura permite que a totalidade ou uma parte do ar vindo da glote flua pela cavidade nasal. Quando a porta velofarígea está aberta, não há pressão construída acima da glote enquanto as cordas vocais estiverem vibrando e o resultado é um segmento soante. Durante uma consoante nasal não vozeada (isto é [-soante] em nosso sistema de classifidação), o fluxo de ar é maior do que para um som vozeado e algum ruído de turbulência é gerado nas vias aéreas. O aumento da pressão na cavidade oral permanece pequeno, e, como consequência, o ruído é fraco. A implementação dos traços [contínuo] e [coronal], então, é fraca para consoantes nasais não vozeadas, a menos que um intervalo soante ocorra antes da abertura da consoante. Concluímos que [+nasal] será implementado com [+soante] de maneira a reforçar as manifestaões acústicas de [contínuo] e de [coronal]. No caso de uma consoante soante que é [+contínuo] (linhas 1 e 2 da Tabela 3), a realização da distinção coronal/não coronal requer que as frequências e a largura da banda dos formantes sejam ajustadas para acertar o abaixamento (para [-coronal]) ou o alçamento ([+coronal]) apropriados da forma espectral. Essas formas espectrais são estabelecidas pelo posicionamento de F2 baixo e próximo de F1 para consoantes [-coronal] e pelo posicionamento de F2 e de F3 altos e próximos a F4 para consoantes [+coronal], junto com o 8

Nosso ponto de vista em relação aos glides /w/ e /j/ é que o primeiro é [+anterior, -coronal] e o último é [-anterior, +coronal]. No caso do /w/, entretanto, consideramos que a articulação labial seja primária (com uma constrição velar secundária), e que uma manifestação [+distribuído] seja estabelecida pelo arredondamento. Não obstante, isso não implica que consoantes arredondadas sejam necessariamente [+anterior] ou [+distribuído], uma vez que o arredondamento é comumente considerado como uma articulação secundária. Nossa representação de /j/ como [+coronal] difere da classificação proposta por Chomsky e Halle (1968). Essa modificação se baseia em parte no campo acústico (a proeminência relativa da energia do espectro de frequências altas) e em parte do ponto de vista de que o alçamento da lâmina da língua é feito para produzir esse glide, da mesma maneira que outros segmentos [+coronal]. Deve-se notar aqui que, em algumas formações recentes da geometria de traços (Sagey, 1986), há restrições para a co-ocorrência de alguns traços. Particularmente, propõe-se que os traços [anterior] e [distribuído], nessas formulações, sejam aplicados somente às consoantes que sejam [+coronal]. Na presente discussão, não fazemos essa restrição a priori. Reconhecemos, entretanto, que os traços [anterior] e [distribuído] raramente são distintivos, se forem, para consoantes não coronais, e que eles atuam para reforçar outros traços primários, nessas situações. (Veja, entretanto, a discussão de [anterior].)

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alargamento de alguns fomantes. (Veja a discussão posterior no §6.2.). A nasalização dessas consoantes soantes tende a perturbar o abaixamento ou o alçamento ideal da forma espectral pela mudança de alguns formantes a partir de suas posições extremas (por exemplo, ressonância mais baixa com aumento de frequência) e pelo acréscimo de picos adicionais no espectro. Concluímos que para consoantes [+contínuo, +soante], o traço [coronal] é implementado mais fortemente se for acompanhado pelo traço [-nasal]. Outra razão para favorecer [-nasal] nesse ambiente é que a abertura da porta velofaríngea resultará numa amplitude de frequências altas maior durante a consoante, o que causa, então, uma diminuição menor no declive da energia. O declive da energia é necessário para preservar a natureza não silábica da consoante. Para o par [-contínuo, +soante] nas linhas 5 e 6 da Tabela 3, a situação é um pouco diferente. O único meio pelo qual um fechamento completo pode ser feito na linha média do trato vocal (para implementar o traço [-contínuo]) sem aumento de pressão sobre a glote, é pela abertura da porta velofaríngea ou pela criação de uma passagem para o fluxo aéreo pelos limites laterais tanto do lâmina quanto do dorso da língua. A desobstrução do trato vocal pela abertura do fechamento com a abertura nasal resulta num aumento significativamente maior da amplitude do espectro sobre uma larga gama de frequências do que a abertura de uma consoante lateral. Essa diferença pode ser mostrada tanto teoricamente como observada experimentalmente (pelo menos para coronais laterais e nasais). A mudança abrupta na amplitude do espectro é uma consequência da mudança rápida a partir da saída nasal para a saída oral que segue imediatamente a abertura. Evidentemente, então, a representação de [-contínuo] é reforçada para a versões [+nasal] da combinação dos traços primários nas linhas 5 e 6 da Tabela 3. O reforço da abruptidão da abertura primária provavelmente também reforça a representação do traço [coronal], se [+nasal] estiver implementado. 5.6. TRAÇOS LARÍNGEOS. Vamos nos voltar agora para os traços laríngeos e examinar a interação entre os traços primários e os traços [spread glottis] e [constricted glottis]. Esses traços laríngeos, em conjunto com o traço [voz], são responsáveis pelos sons que são descritos como aspirados, sussurrados {breathy}, glotalizados e laringalizados.9 Ainda que não seja comum que esses traços operem distintivamente na línguas do mundo, é pouco evidente porque isso ecorre dessa maneira do ponto de vista do reforço. Um argumento possível é que os valores positivos desses traços diminuem tanto com [+soante] quanto com [-soante]. Considere-se primeiro a implementação do traço [-soante] com essas configurações laríngeas (linhas 1, 2, 5 e 6 na Tabela 3). Quando há uma constrição estreita no fluxo de ar sobre a laringe, a manutenção da vibração nas cordas vocais é menos segura quando a glote está espandida do que quando está com sua configuração normal. Assim, por exemplo, se o glide [w] for produzido com voz sussurrada, pode-se dizer que o som resultante será menos soante, porque fluxo aéreo maior associado com a voz ssussurrada provavelmente vai gerar queda de pressão através da constrição e gerar turbulência no ponto da constrição. A queda resultante na pressão transglotal tenderá a diminuir a amplitude dos pulsos glotais e, então, enfraquecer a manifestação acústica da soante. A implementação do traço [+constricted glottis] enfraquece a manifestação acústica de [+soante] por uma razão diferente. A constrição da glote leva a pulsos glotais cuja amplitude do primeiro harmônico é reduzida em relação a vozeamento modal, enfraquecendo assim o

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Discutimos o traço [voz] separadamente no §5.1. Nosso ponto de vista aqui é que o traço [spread glottis] e [constricted glottis] são traços laríngeos no sentido de que envolvem manipulação direta das configurações laríngeas. A implementação do traço [voz], cujo correlato acústico é a presença ou a ausência da vibração glotal, necessita de manipulação supraglotal apropriada bem como de estruturas laríngeas, especialmente no caso das obstruintes. Nesse sentido, o traço [voze] tem de ser marcado como um traço de modo. O argumento sobre o reforço que forma a base para o presente ensaio, entretanto, não é dependente desse ponto de vista particular em relação aos traços laríngeos.

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caráter soante da consoante. A soância depende principalmente da manutenção da componente fundamental durante o intervalo consonantal até a vogal adjacente. A configuração [+spread glottis] e [+constricted glottis] parece ser neutra em relação à força de implementação do traço [-soante] e, de fato, pode até reforçar esse traço. Isso é, essa configuração laríngea tenderá a inibir o vozeamento e, com isso, enfraquecer a amplitude do espectro de frequências baixas para consoantes. Entretanto, para essas consoantes [-soante] a abertura e a constrição glotal levam a consoantes aspiradas e ejetivas ou glotalizadas, respectivamente. Quando a glote está num desses estados na abertura da consoante, há um intervalo de 10 ms ou mais antes do ataque de vozeamento (CATFORD, 1977), e provavelmente um intervalo ainda maior enquanto o estado da glote muda para uma configuração modal, durante esse tempo há uma mudança no espectro do output glotal. A identificação do lugar de articulação consonantal é auxiliada se o espectro da abertura consonantal for interpretada em relação ao espectro do ataque da vogal seguinte. O espectro do ataque de vozeamento parece auxiliar essa interpretação. Espera-se, então, que, uma mudança no espectro glotal no intervalo que segue imediatamente a abertura consoantal diminua essa interpretação. Consequentemente, esses traços laríngeos enfraquecem a implementação do traço [coronal], o que assegura o exame do espectro consonantal em relação à vogal seguinte (KEWLEY-PORT, 1983, LAHIRI et al., 1984). Em outras palavras, obstruintes são melhor realizadas com uma configuração que não seja nem aberta {spread} nem constrita {constticted}. As exceções são as obstruintes que são produzidas exclusivamente com uma constriução na glote que, por sua vez, parecem ser [-consoante].10 6.1. ANTERIOR COMO UM TRAÇO SALIENTE. O traço [anterior] indica onde a constrição consonantal se localiza no trato vocal. De fato, [anterior] é o único, dentre os traços propostos por Chomsky e Halle (1968), que se refere à localização e não à estrutura articulatória ou ao modo de articulação.11 Para um segmento que seja [-anterior], a cavidade adiante da constrição é suficientemente longa para que sua frequência natural corresponda à segunda ou à terceira ressonância do trato vocal inteiro. Isto é, a ressonância da cavidade frontal está na gama de frequência que tem um papel na identificação da posterioridade das vogais. Para um segmento [+anterior], por outro lado, não há proeminência espectral maior nas frequências médias. Entretanto, o traço [anterior] pode ser fortemente representado no som, entretanto, apenas para consoantes obstruintes, cujo ruído de turbulência é gerado na proximidade da constrição. Essa fonte de ruído forma a excitação para a cavidade acústica adiante da constrição e é apenas fracamente acoplada ao restante do trato vocal. Somente para essa excitação do trato vocal é que a presença ou a ausência de maiores proeminências espectrais de frequências médias que formam a continuidade com picos espectrais nas vogais adjacentes tornam-se fortemente evidentes nos sons. Por outro lado, para uma consoante [+soante], todas as ressonâncias do trato vocal são excitadas pela fonte glotal, incluindo o primeiro formante, e o pico espectral que corresponde ao formante de frequência média torna-se menos proeminente em relação ao formato espetral inteiro. Obtem-se a proeminência, nesse caso, pelo arranjo de dois formantes (F2 e F3, ou F3 e F4) muito próximos entre si.

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Como já notamos no §2, escolhemos definir as soantes como redundantemente [+vozeado]. Consistente com essa difinição, e em constraste com a definição de Chomsky e Halle (1968 e em outros), classificamos /Ɂ/ e /h/ como [-soante]. Entendemos que essa classificação seja consistente com o correlato articulatório de [-soante] que é a formação de uma constrição acima da glote. No caso de /Ɂ/ e /h/, essa contribuição ocorre no nível das falsas cordas vocais. Novamente, entretanto, esses detalhes das definições de um traço particular não podem influenciar a premissa principal desse ensaio, que é relativa com processos de reforço. 11 O traço [anterior] têm uma semelhança muito grande com o traço [difuso] proposto por Jakobson et al. (1952).

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Um pico espectral proeminente característico de uma consoante [-anterior] seria mais saliente se estivesse bem isolado de outros picos espectrais. O correlato acústico de [+coronal] é a presença de energia espectral significativa nas frequências altas. Um pico espectral de frequência média será menos proeminente (no sentido de ser menos bem separado de outros picos) para consoantes [+coronal] do que para cosoantes [-coronal]. Concluímos, então, que há somente duas combinações dos traços primários que permitem o traço [anterior] alcançar saliência forte — as combinações identificadas por [-soante, -coronal], isto é, as combinações na linhas 4 e 8 da Tabela 3.12 A linhas 4 e 8 da Tabela 3, então, estão cada uma delas, reproduzidas na Tabela 4.

(4a) (4b) (8a) (8b)

CONTÍNUO + + -

SOANTE -

CORONAL -

ANTERIOR + + -

SEGMENTO-TIPO F X, H P K, Ɂ

TABELA 4. Combinações de traços primários para os quais o traço [anterior] é saliente

Já discutimos quais combinações de traços primários são mais efetivas no reforço dos três traços primários originais nas diferentes linhas da Tabela 4. Por exemplo, para os traços primários nas linha 4a e 4b, vimos que o traços secundários ótimos incluem [-voz, +estridente], junto com traços laringeais particulares. Em relação ao traço [consoante], entretanto, parece não haver preferência por qualquer valor para reforçar os três traços primários, relacionados na linha 4b. (O traço [consoante] é redundante para [+anterior] na coluna 4a). Sugerimos, entretanto, que haja preferência por [-consoante] no reforço do traço [-anterior] para a classe [+contínuo] de consoantes. Para os segmentos [-soante], o traço [-consoante] implica uma fonte sonora na proximidade da glote, ao passo que [+consoante] implica uma fonte de ruído turbulento na região ao longo do comprimento do trato vocal, tal como perto do palato duro ou do palato mole. Para a última posição de fonte sonora, somente uma ressonância na cavidade frontal na gama de F2, F3 e F4 é excitada por essa fonte, ao passo que quando a fonte está perto da glote, todas essas ressonâncias são excitadas por ela, ainda que a excitação para uma dessas ressonância possa ser mais forte do que para outras. Em qualquer caso, haverá mais do que um pico espectral de frequência média que s contínuo com um pico similar na vogal adjacente para a implementação de [-consoante]. Tomamos que esse atributo seja uma reforço do traço [-anterior] pelo traço [-consoante]. No caso das versões [-contínuo] para as consoantes na Tabela 4, já notamos que o traço [+consoante] para a combinação na linha 8b tem preferência sobre [-consoante]. O valor positivo desse traço também reforça a representação de [-anterior], uma vez que dá condições apropriadas para a geração de um forte estouro {burst} ruidoso de frequência média. 6.2. ANTERIOR COMO TRAÇO DE REFORÇO. Quando o traço [anterior] ocorre com as seis combinações de traços primários diferentes daquelas na Tabela 4, ele pode servir para reforçar esses traços. Consideremos, primeiro, a influência de [anterior] em manifestações de consoantes [+contínuo] (linhas 1 e 2 na Tabela 3). No caso de consoantes [+soante, +contínuo], a fonte de energia acústica advém da vibração normal da glote e não de outros ruídos de 12

Essa conclusão é, em parte, consequência do fato de que /Ɂ/ e /h/ estão classificadas aqui como [-soante] e [-anterior], pela razões discutidas na nota de rodapé 10. Pode-se argumentar que o traço [-anterior] pode, também, alcançar um grau de saliência quando for implementado com [+coronal, +contínuo], uma vez que a estridência da consoante fricativa resultante acentua o pico espectral do ruído na região de frequências médias (a região de F3) comumente associada com [-anterior]. Se esse pico não estiver bem separado de uma proeminência espectral de frequências altas, sugeriríamos que essa implementação de [-anterior] não alcance o status de traço primário.

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turbulência de uma constrição. A consoante [+coronal] precisa que haja maior amplitude nas frequências altas em relação às da vogal adjacente ou em relação à amplitude das frequências baixas. Consequentemente, a amplitude de alta frequência precisa ser alcançada pela configuração apropriada do trato vocal inteiro, ou seja, por meio de uma localização apropriada das frequências formantes e do ajuste das larguras de banda dos formantes, como já observamos antes. A amplitude de frequência alta significativa realiza-se pelo ajuste das frequências e das larguras de banda do segundo, terceiro e quartos formantes, de tal maneira que o pico do quarto formante domine o espectro. O alçamento da lâmina da língua para fazer uma constrição relativamente longa entre a lâmina da língua e o palato causará um aumento em F2 (normalmente uma ressonância na cavidade posterior da alargada cavidade faríngea atrás da constrição) e em F3 (normalmente uma ressonância da cavidade frontal estreita), e localizará F3 próximo a F4. A largura de banda de F3 será relativamente maior do que a de F2 e de F4 por causa da maior perda para a seção palatal estreita. A configuração resultante de formante dará a forma espectral desejada, na qual o pico do quarto formante é dominante. Esse atributos podem ser visto no espectrograma e no espectra para a locução the yacht na Figura 2a. Essa meta acústica pode ser alcançada somente com um [-anterior] ou uma posição palatal para a lâmina da língua. Se uma posição [+anterior] for usada, a largura da constrição será muito curta para uma aproximação de F3 e F4, enquanto se mantivesse um F2 agudo. Assim, o traço [-anterior] reforçará o força de [+coronal] para a combinação [+soante, +contínuo]. Esse valor para [anterior], que permite uma longa constrição da lâmina da língua, também reforça o traço [+contínuo] uma vez que resulta numa movimento relativamente lento dos formantes quando a constrição da lâmina da língua estiver liberada.

Figura 2. (a) 0 espectrograma da locução the yacht vai apresentado acima. O espectra amostrado em dois pontos da locução (indicados pelas setas) vão apresentados abaixo. O espectro amostrado dentro dos intervalo consonantal mostra o pico proeminente que corresponde a F4 e pode ser contrastado com o espectro na vogal, em que os picos que correspondem a diversos formantes são aparentes. (b) Da mesma maneira que em (a), exceto para a locução que é the watt. Nesse caso, as proeminências que correspondem aos formantes acima de F1 não são evidentes no espectro amostrado no intervalo

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consonantal. Os espectra estão pré-enfatizados e foram suavizados pela transformada discreta de Fourier com uma largura de banda efetiva de 400 Hz.

A força com que o traço [-coronal] é representada no som para segmentos [+soante, +contínuo] é maximizada pelo enfraquecimento da amplitude relativa do som nas frequências altas e pela aumento da amplitude relativa em frequências baixas. Esse objetivo é alcançado pelo alçamento e pela retração do corpo da língua e, também, pela produção de uma abertura longa e estreita dos lábios. A consequência dessa manobra é uma frequência baixa para F1 e para F2, minimizando, assim, as amplitudes dos picos espectrais correspondentes aos formantes mais agudos. Além disso, a largura da banda de F2 será relativamente larga devido às perdas das constrições. O espectrograma e o espectra para alocução the watt na Figura 2b ilustra esse atributo acústico. O estreitamento da abertura dos lábios é o correlato articulatório do traço [+anterior]13e a consequência acústica é uma ausência de energia acústica na faixa das frequências médias onde o segundo e o terceiro formantes normalmente ocorrem nas vogais. O arredondamento dos lábios, com uma constrição labial relativamente longa, dá origem a um movimento lento dos formantes na liberação (abertura) dessas consoantes, reforçando, assim, a manifestação acústica de [+contínuo]. Concluímos que, quando [+anterior] é implementado com [+soante, +contínuo, -coronal] os dois últimos traços são reforçados. Para segmentos que são [+soante, -contínuo] (linhas 5 e 6 na Tabela 3), considerações diferentes entram na seleção de valores ótimos para o traço [anterior]. Para esses segmentos, que são realizados mais efetivamente como consoantes nasais, não há geração de ruído de turbulência na vizinhança da constrição, e o ponto de articulação é marcado principalmente pela maneira como o espectro muda no instante de abertura da oclusão (ou no instante em qua oclusão é formada). Como já vimos, a propriedade acústica que corresponde ao traço [+coronal] é a amplitude do espectro nas frequências altas que é grande em relação à amplitude de frequências altas exatamente depois da vogal adjacente. Provavelmente é na representação auditiva que ocorre essa amplitude reforçada nas frequências altas, e, assim, os efeitos da adaptação que seguem um ataque abrupto de energia têm um papel nessa representação (SMITH, 1979; DELGUTTE; KIANG, 1984). Consequentemente, um aumento abrupto na amplitude nas frequências altas das aberturas consonantais dão imediatamente uma resposta reforçada após a abertura seguida por um decaimento em resposta nos próximos 10-20 ms, marcando assim, a coronalidade da consoante. O aumento na amplitude nas frequências altas do espectro acima de 2000 Hz na abertura de consoante nasal [+coronal] é alcançada mais efetivamente ao refazer uma constrição na posição [+anterior]. Uma constrição na posição [-anterior], isto é, uma posição palatal ou retroflexa, resultaria numa mudança no espectro que é menos dominante nas frequências altas. O aumento na amplitude das frequências altas é a consequência da mudança abrupta da saída sonora do nariz para a boca e a introdução de uma pequena cavidade na frente da constrição. Assim, o traço [+anterior] reforça a realização de [+coronal] para essas consoantes nasais. No caso de consoantes nasais que são [-coronal], um aumento abrupto na amplitude do espectro pode se realizar nas frequências baixas (na vizinhança de 1000 Hz) em oposição às frequências altas pela formação da constrição nos lábios. O aumento será ainda mais abrupto e em frequências mais baixas se for feita uma constrição labial (isto é, [+anterior]) e não uma constrição dorsal (isto é, [-anterior]). Concluímos, então, que [-coronal] da mesma maneira que [-contínuo], é reforçado pela implementação do traço [+anterior] para consoantes nasais. Consideraremos em seguida como o traço [anterior] pode operar para reforçar os três traços primários tal como ocorrem em segmentos que são [-soante, +coronal] (linhas 3 e 7 da Tabela 3). Para essas consoantes, um aspecto importante da implementacão do traço [+coronal] é a geração de ruído de turbulência na vizinhança da constrição. O ruído tanto pode 13

A classificação de /w/ como [+ anterior] foi discutida na nota de rodapé n.8

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ser contínuo como no caso de uma consoante fricativa (linha 3 da Tabela 3) como pode ser na forma de um burst como no caso de uma consoante oclusiva (linha 7 da Tabela 3). O correlato acústico de [+coronal] é um espectro de ruído que tem amplitudes significativas nas frequências altas em relação àquelas das frequências baixas. A amplitude das frequências altas precisa alcançar um valor maior do que o das amplitudes das frequências altas nas vogais adjacentes. A implementacão desse traço para consoantes [-soante] se reforça se a lâmina da língua faz mais contato com o palato na região alveolar do que com uma localidade mais posterior. Essa posição de constrição leva a uma cavidade frontal mais curta e consequentemente a um pico espectral de frequências altas. Consequentemente, prefere-se o traço [+anterior] e não o [-anterior] para a implementacão do traço [+coronal], se este for usado para essas consoantes obstruintes. Parece não haver nenhuma preferência em particular por valores específicos do traço [anterior] em relação à força do traço [contínuo] para essas consoantes coronais. 6.3. LATERAL COMO UM TRAÇO SALIENTE. As laterais têm a propriedade acústica de que a ressonância mais baixa do trato vocal durante o intervalo de constrição é distintivamente mais alta do que para outras soantes como nasais e glides.14 A localização do primeiro formante ocorre provavelmente porque a constrição dar laterais é mais curta do que em glides e porque o volume atrás dessa constrição é menor do que em outras soantes. Esses dois fatores levam à uma ressonância de frequência na faixa de Helmholtz que é mais alta para laterais do que para glides nasais. Assim, em relação às soantes, a diferença entre consoantes laterais e consoantes soantes não laterais é similar à distinção alta/ não alta das vogais. Uma vez que esse traço é saliente para vogais, podemos esperar que esse correlato acústico seja saliente também em consoantes. Por consequência, espera-se que o traço [lateral] seja um dos primeiros na lista dos traços salientes. No entanto, há um ambiente bastante restrito dos traços primários em que o traço [ lateral] é implementado. Esse traço é claramente mais efetivo se implementado com [+soante] de maneira a tornar evidente o primeiro formante no espectro. A frequência mais alta de F1, que precisa de uma constrição relativamente mais curta, é alcançada somente se a constrição se forma com a lâmina da língua, isto é, se [+lateral] for implementada com [+coronal]. Além disso, a lâmina da língua precisa ter contato com o palato na linha média, levando uma implementacão [-contínuo]. Dessa maneira, o contraste definido por [ lateral] é muito saliente apenas quando estiver acompanhado por [+soante, -contínuo, +coronal]. Essa restrição está em contraste com [anterior], cuja saliência precisa dos traços [-soante, -coronal]. 6.4. LATERAL COMO UM TRAÇO DE REFORÇO. Em vista das restrições dos traços primários com os quais [lateral] pode ser implementado, ele assume um papel menor como um traço de reforço. Com a combinação [+soante, -contínuo, +coronal], ele atua como um traço saliente, ao passo que, para a outra única combinação, os traços [-soante, -contínuo, +coronal] são certamente mais fortemente reforçados por [-lateral] do que por [+lateral]. Isto é, uma consoante oclusiva como o /t/ implementa mais fortemente esses traços do que uma consoante lateral surda. 7. RESUMO DOS TRAÇOS PRIMÁRIOS E DE SUAS COMBINAÇÕES. Até esse momento, elaboramos a Tabela 3 para que, em nossas discussões, pudéssemos dar conta do papel de [anterior] e [lateral] como traços salientes quando ocorrem em combinações particulares dos traços primários. A Tabela 5 é idêntica à Tabela 3, com a exceção das colunas 4, 5 e 8, que foram expandidas em duas linhas. As linhas 4a, 4b, 8a e 8b foram mostradas previamente na 14

As laterais compartilham essa propriedade com algumas outras consoantes tais como o /r/ inglês e as consoantes uvulares. Escolhemos aqui o termo LATERAL para identificar essa classe de consoantes, reconhecendo que isso possa ser confuso e que um rótulo diferente poderia ser mais apropriado. O termo LÍQUIDA é uma alternativa possível, mas não estamos preparados neste momento para incluir uma discussão das propriedades acústicas que são comuns às líquidas, particularmente à grande variedade de sons de/r/ tais como trills, taps e flaps.

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Tabela 4. Essas linhas refletem o fato que que [anterior] é muito saliente para essas combinações dos traços primários e, assim, os dois valores de [anterior] são mantidos. As linhas 5a e 5b desempenham uma função similar para [lateral]. As células que foram deixadas em branco correspondem a traços que não têm um papel primário.

(1) (2) (3) (4a) (4b) (5a) (5b) (6) (7) (8a) (8b)

CONTÍNUO + + + + + -

SOANTE + + + + + -

CORONAL + + + + + -

ANTERIOR

LATERAL

+ +

+ -

SEGMENTO-TIPO J W S F H N L M T P K

TABELA 5. Traços primários, incluindo [anterior] e [lateral].

8. TRAÇOS DO CORPO DA LÍNGUA E DE ARREDONDAMENTO: TRAÇOS DE REFORÇO PARA CONSOANTES. Os traços relativa à posição do dorso {[body]} da língua e do arredondamento labial são [alto] {[high]}, [baixo] {[low]} e [arredondado] {[round]}. Adiamos considerar esses traços como traços potenciais de reforço até que completássemos a discussão de [lateral] e [anterior] como traços primários, uma vez que os traços do corpo da língua tendem a ser diferentes daqueles que otimizam os traços primários principais [contínuo], [soante] e [coronal]. Novamente, nosso interesse é determinar quais combinações desses traços de arredondamento e do corpo da língua, quando implementados com a combinação dos traços da Tabela 5 (isto é, a versão expandida da Tabela 3), vão potencialmente dar origem á uma manifestação mais forte dos traços primários do som. A implementacão do traço [-anterior] no caso da linha 8 precisa que a constrição seja formada pelo alçamento do corpo da língua para fazer contato com o céu da boca. Essa manobra precisa da implementacão do traço [+alto]. Além disso, a proeminência da frequência média espectral, que é o correlato acústico de [-anterior], será reforçada se o corpo da língua estiver na posição [ + posterior ], uma vez que isso levará proeminência que é mais próxima do centro do conjunto das frequências médias. A posição [+posterior] também reforça o traço [-coronal] porque permite energia espectral nas frequências médias. Além disso, o traço [+arredondado] pode ser implementado com [+alto, +posterior] de maneira a assegurar que a frequência crescente da proeminência espectral da ressonância da cavidade frontal não seja muito baixa. No caso da combinação de traços na linha 4b da Tabela 5, não há preferência forte por qualquer valor em particular dos traços do corpo da língua ou do arredondamento. Todos os traços primários podem ser representados adequadamente por alguma configuração do corpo da língua ou dos lábios tal como determinado por esses traços. Entretanto, dado que essa linha contém o traço [-soante], algumas configurações do corpo da língua que levam a uma constrição relativamente estreita do trato vocal poderiam resultar na geração de ruído de turbulência nessa constrição, e então resultar em uma implementacão de [+consoante] no segmento.15 De qualquer maneira, o traço [-anterior] está bem representado no som.

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As similaridades e as diferenças nas propriedades do segmento /h/ e de seus vizinhos, tais como /ħ, X, x, ç/, não são hem compreendidas. Outros trabalhos são necessários para esclarecer melhora discussão da combinação dos traços na linha 4 da Tabela 5.

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Para a representação dos traços na linha 5 b, [ + lateral] é reforçado se F2 estiver localizado relativamente perto de F1. A combinação desses dois formantes produz um centro perceptivo de gravidade que é mais alto em relação a F1, reforçando, assim, o contraste entre consoantes soantes que têm F1 baixo. O abaixamento do valor de F2 é alcançado com o traço [+posterior]. Com essa mesma combinação na linha 5b, o traço [+coronal] é normalmente alcançado ao se trazer F3 e F4 juntos e próximos, isto é, pelo ajuste da cavidade frontal de ressonância para que seja igual à segunda ressonância da cavidade posterior. Essa coincidência é melhor realizada sem o arredondamento dos lábios e pela localização do corpo da língua numa posição posterior. Um aumento de F3 (para criar proximidade com F4) pode ser alcançado pelo estreitamento do fluxo do ar na região faríngea superior. No caso da combinação dos traços primários nas linhas 1 e 2 da Tabela 5, vemos que o traço [+contínuo] é reforçado pela implementacão do traço [+distribuído] para formar uma constrição mais longa seja nos lábios (linha 2) seja na lâmina da língua (linha 1). A constrição alongada nos lábios é sinônimo do traço [ + arredondado] no caso das consoantes na linha 2, enquanto que a constrição com o corpo da língua é reforçada pelos traços [+alto, -posterior]. Além disso, o contraste entre as versões [-coronal] desses glides é reforçada pela implementacão dos traços [+alto, +posterior] para a linha 2 (ao reduzir a frequência de F2 para trazê-la mais próxima de F1) e [-arredondado] para nasais e consoantes oclusivas. Observamos primeiro que para todos dessas linhas os traços [contínuo] e [coronal] são representados mais fortemente (com os dois valores: positivo e negativo) se não houver constrição estreita no trato vocal diferente da constrição formada pelo corpo da língua ou pelos lábios. a a linha 1 (mantendo F2 e F3 altos tanto quanto possível e trazendo F3 para perto de F4). Voltamo-nos finalmente para o exame da papel dos traços do corpo da língua e do arredondamemto para as linhas 3, 4a, 5a, 6, 7 e 8a na Tabela 5 — isto é, para fricativas coronais e labiais. Por exemplo, uma constrição estreita atrás do pnto de oclusão para uma consoante [-contínuo] pode diminuir a forma abrupta da mudança acústica de sua abertura. No caso de uma consoante obstruinte oclusiva, a constrição secundária limitará o fluxo de ar que produz o transiente inicial e o burst, e para consoantes nasais, a presença de uma constrição adicional causará uma mudança menos abrupta no espectro em algumas regiões de frequência. As obstruintes [+contínuo] nas linha 3 e 4 da Tabela 5 são melhor implementadas sem constrição secundária, uma vez que essa constrição poderia causar um aumento na pressão dentro do trato vocal e levar a um decaimento na amplitude no ruído de turbulência nas constrições labiais ou alveolares. A implementação ótima do traço [contínuo] sem uma constrição secundária também será reforço da manifestação acústica de [coronal] por garantir igualmente um ataque abrupto ou uma geração de ruído suficiente na constrição para realizar as características espectrais necessárias. A quantidade da constrição secundária será minimizada pela implementação dos traços [-alto, -baixo], isto é, evitando-se a palatalização, a velarização ou a faringalização. Para as combinações de traços nas mesmas linha (3, 4a, 5a, 6, 7, 8a), o valor ótimo do traço de arredondamento é [-arredondado]. No caso das combinações nas linha 3, 5a e 7, o traço [+coronal] pode ser enfraquecido pelo arredondamento, desde que uma abertura labial alongada e estreita possa abaixar a frequência natural da cavidade frontal. Para as consoantes oclusivas labiais (linhas 6 e 8a), a forma abrupta da liberação poderia ser enfraquecida pelo arredondamento, e a geração de ruído pela labial fricativa (linha 4a) poderia ser reforçada com [-arredondado] porque a constrição labiodental é necessária para dirigir o fluxo do ar contra o lábio superior. A manipulação acústica do traço [coronal] pode ser reforçada pela seleção apropriada do traço [posterior] nas linhas, 3, 4a, 5a, 6, 7 e 8a. No caso das três consoantes [+coronal] desse grupo, esse reforço é alcançado com [-posterior]. Quando o corpo da língua está uma posição frontal, a frequência de F2 é aumentada, levando a um aumento da amplitude espectral nas frquências altas das vogais que seguem imediamentamente a abertura da consoante. Uma vez que espectro que se inclina para as frequência altas (em relação a seu ambiente imediato) é a 17

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marca de uma consoante [+coronal], um aumento de f2 leva essa propriedade da coronalidade para o início da vogal seguinte, proporcionando assim uma evidência acústica adicional de sua presença. (Ver STEVENS et al, 1986, para mais discussões sobre isso). O argumento oposto pode ser usado para mostrar que [+posterior] pode reforçar a manifestação acústica de [-coronal]. O abaixamento de F2 associado com [+posterior] diminuirá a amplitude espectral que siga imediatamente a liberação de uma consoante, quando esse espectro for comparado com a última ocorrência espectral na vogal. Conscluímos, então, que o traço [-posterior] reforça [+coronal] e [+posterior] reforça [-coronal]. 9. RESUMO DAS COMBINAÇÕES ÓTIMAS DE TRAÇOS. Nós argumentamos que há combinações particulares dos traços secundários que vão resultar na implementacão maximamente forte da combinação dos traços primários na Tabela 5, que é uma extensão da Tabela 3. Dessa maneira, por exemplo, na linha 5a da Tabela 5, a combinação ótima desses traços secundários é a lista apresentada na Tabela 6. Esses traços secundários, combinados com os traços primários [-contínuo, +soante, +coronal, +lateral] na linha 5a da Tabela 5, compreendem o segmento /n/. Esse segmento pode ser identificado na coluna mais à direita da tabela. Não é necessário dizer que, muitos desses traços na Tabela 6 são redundantes em muitas línguas, no sentido de que eles não operam para formar uma distinção. Para alguns desses traços, a redundância é uma consequência automática da definição dos traços (por ex., [+soante] implica [-estridente]). Para outros, como já vimos, o valor do traço é selecionado de modo a reforçar a implementação do traço primário. Preencher com os valores apropriados dos traços acima cada um das linhas restantes da Tabela 5 também vai produzir exatamente os segmentos indicados na coluna da direita. As onze linha na Tabela 5, então, expandem-se em onze combinações de traços, cada uma das quais é ótima em representar o mais saliente ou mais forte dos traços primários. + voz +consoante -distribuído -estridente +anterior +nasal -spread glottis -constricted glottis -alto -baixo -posterior -arredondado TABELA 6. Combinações de traços secundários que se considera reforçarem maximamente os traços primários na Linha 5a da Tabela 5.

Na coluna mais a direita da tabela 7, indicamos a percentagem de língua no inventário de Maddieson (1984) que contém cada um dos segmentos na coluna mais a direita da Tabela 5. No caso das consoantes [+coronal] nas linhas 3, 5a, 5b e 7, incluímos em nossa conta os segmentos rotulados como alveolares ou dental/alveolares por Maddieson, por supormos que essas duas designações podem ser vistas como [-distribuído], tal como discutimos anteriormente na nota de rodapé 1.

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(1a) (2) (3) (4a) (4b) (5a) (5b) (6) (7) (8a) (8b)

SEGMENTO /j/ /w/ /s/ /f/ /h/ /n/ /l/ /m/ /t/ /p/ /k/

% EM MADDIESON 85 75 77 44 64 82 68 94 75 83 89

Tabela 7. Frequência de ocorrência das combinações ótimas de traços.

O que é notável nessas percentagens é que, com exceção de /f/, eles representam os dez segmentos consonantais que ocorrem mais comumente nas 317 línguas arroladas por Maddieson, isto é, os segmentos originalmente listados na Tabela 1. A baixa percentagem de ocorrência de /f/ deve-se provavelmente ao fato de que o ruído de turbulência para uma cosoantes fricativa labial é inerentemente fraco, uma vez que não há ressoador adiante da constrição para amplificar a saída da fonte de ruído. Sugerimos que a frequência de ocorrência dos dez segmentos remanescentes deva-se precisamente ao fato de serem exatamente os segmentos cujas combinações de traços primários estejam maximamente reforçadas. Na Tabela 8, listamos segmentos adicionais que são identificados por Maddieson como ocorrentes em ao menos 34% das línguas de seu inventário. Os itens nessa lista diferem dos segmentos identificados na Tabela 7 exatamente por serem um traço secundário independente. Assim, por exemplo, os segmentos /b, d, g/ na Tabela 8 difere de /p, t, k/ na Tabela 7 pelo traço [voz]. Os segmentos /ŋ/ e /ɲ/são versões [-anterior] de /m/ e /n/, respectivamente, mas com algum ajuste necessário dos traços do corpo da língua. O segmento /Ɂ/ é uma versão [-consoante] de /k/, novamente com alguns ajustes necessários de traços do corpo da língua e laríngeos. O segmento /š/ é uma versão [-anterior] de /s/, com um ajuste de traços de corpo da língua para otimizar a representação de [+contínuo] no som. Finalmente, sugerimos que o segmento /č/ seja simplesmente uma modificação de /k/ com algum ajuste do traço [estridente] para otimizar a representação do aspecto [+contínuo] dessa consoante. Alternativamente, /č/ pode ser considerado uma modificação [-anterior] de /t/, similar à modificação de /s/ para /š/.

(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7) (8)

SEGMENTO /b/ /g/ /ŋ/ /š/ /Ɂ/ /d/ /č/ /ɲ/

% EM MADDIESON 62 55 53 46 46 45 44 34

TABELA 8. Segmentos que ocorrem ao menos em 34% do inventário de Maddieson mas não foram listados na Tabela 7

10. MARCA. Uma preocupação central para fonólogos e foneticistas é a noção de marca. Desde muito tempo que se observa que algumas combinações de traços ocorrem mais 19

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frequentemente do que outras nas línguas do mundo. Algumas observações comuns incluem o seguinte: (1) Vogais posteriores não baixas são normalmente arredondadas. (2) Obstruintes contínuas são normalmente estridentes. (3) Oclusivas coronais são normalmente anteriores. (4) Consoantes não soantes são normalmente surdas. Tais afirmações não explicam, de fato, porque essas observações podem ser melhores do outras formalmente equivalentes; por exemplo: (1) Vogais anteriores não baixas são normalmente arredondadas. (2) Obstruintes contínuas são normalmente vozeadas (3) Consoantes coronais são normalmente palatais. (4) Consoantes não soantes são normalmente retroflexas. Este ensaio pretendeu apontar para uma explicação de porque certas combinações ocorrem muito mais frequentemente do que outras. Sugerimos que essa tendência para agrupamentos de traços particulares caracterizam as línguas do mundo por causa das propriedades de saliência e de reforço que esses agrupamentos exibem. Essa combinações ocorrem porque, do ponto de vista do ouvinte, são maximamente distintivas. Antecipamos que, conforme nossa compreensão dos conceitos de saliência e de reforço se aprofunde, o relacionamento entre eles e a noções de marca discutidas na literatura se tornará mais clara. REFERÊNCIAS CATFORD, A N. Fundamental problems in phonetics. Bloomington: Indiana University Press, 1977. CHISTOVICH, Ludmilla; LUBLINSKAYA, Valentina. The 'center of gravity' effect in vowel spectra and critical distance between the formants: Psychoacoustical study of the perception of vowel-like stimuli. Hearing Research, n. 1, p. 185-95, 1979. CHOMSKY, Noam A; HALLE, Morris. The sound pattern of English. New York: Harper and Row, 1968. CLEMENTS, George N. The geometry of phonological features. Phonology Yearbook, n. 2, p. 225-52, 1985. CLEMENTS, George N.; KEYSER, Samuel Jay. CV phonology: A generative theory of the syllable. (Linguistic Inquiry Monograph Series, No. 9.) Cambridge, MA: MIT Press, 1982. DELGUTTE, Bertrand; KIANG, Nelson. 1984. Speech coding in the auditory nerve, IV. Sounds with consonant-like dynamic characteristics. Journal of the Acoustical Society of America, n. 75, p. 897-907, 1984. FANT, Gunnar. Speech sounds and features. Cambridge, MA: MIT Press, 1973 HALLE, Morris; STEVENS, Kenneth. A note on laryngeal features. Research Laboratory of Electronics Quarterly Progress Report. n. 101, 198-213. Cambridge, MA: MIT, 1973. JAKOBSON, Roman. FANT, Gunnar; HALLE, Morris. Preliminaries to speech analysis. (Acoustics Laboratory Report No. 13.) Cambridge, MA: MIT, 1952. JAKOBSON, Roman; WAUGH, Linda, R. The sound shape of language. Bloomington: Indiana University Press, 1979 KEWLEY-PORT, Diane. 1 983. Time-varying features as correlates of place of articulation in stop consonants. Journal of the Acoustical Society of America, n. 73, p. 322-35, 1983. LADEFOGED, Peter. Preliminaries to linguistic phonetics. Chicago: Chicago University Press, 1971

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