La Haine como Cinema Pós-Colonial e Cinema de Exilio

May 25, 2017 | Autor: Gonçalo Gomes | Categoria: Film Studies, Transcultural Studies, Transculturalism
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FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA Mestrado em Cultura e Comunicação Unidade Curricular: Seminário em Cultura Visual e Transculturalidade Gonçalo Gomes – nº 47955 La Haine como Cinema pós-colonial e Cinema de Exílio

A escolha da obra prende-se não unicamente nos factores Culturais, mas igualmente nos símbolos e referências intemporais que creio estarem patentes em La Haine de Mathieu Kassovitz. Identifico o filme como Cinema Pós-Colonial e Cinema de Exílio justamente pelo conflito de culturas presente ao longo de toda narrativa bem como a clara divisão presente entre dois Mundos distintos na cidade de Paris, nesta circunstância, no ano de 1995. A narrativa foca um grupo de três jovens, todos eles de etnias diferentes. Espelhando a realidade dos chamados Banlieues (os subúrbios das grandes cidades, neste caso Paris), Mathieu Kassovitz mostra-nos 24h00 da vida de Vinz(judeu), Hubert(Africano Ocidental) e Saïd(Norte Africano). Havendo, neste caso, uma fronteira muito ténue entre a ficção e o documentário, as questões transculturais e os confrontos entre as diferentes culturas presentes no filme sobressaem de forma mais clara. Os nomes dos actores são os mesmos que coincidem com os dos protagonistas, colocando em evidência o ponto anteriormente referido e sugerindo que estes não podem ser encarados na sua totalidade como personagens, mas sim como símbolos de um conjunto de mensagens que o cineasta pretende transmitir ao espectador, porque em vez do bleu, blanc, rouge (as cores da bandeira francesa) temos o Beur (termo utilizado para identificar pessoas nascidas na Europa mas cujos pais são provenientes do Norte de África), Blanc (representado por um judeu) e o Black (como símbolo de África). Estes símbolos podem ser vistos como peça fulcral e fio condutor de todo o filme. O quarto de Hubert, onde ele ouve música ‘’negra’’ dos Estados Unidos, está repleto de referências ao movimento dos Direitos dos negros, como o gesto do atleta Norte-Americano Tommie Smith nos jogos Olímpicos de 1968 ou ainda Mohammed Ali, que se recusou a lutar pelo seu país. Hubert é a representação da força do Africanos negros em busca de respeito e identidade nos países ocidentais. A etnia judia de Vinz é realçada na sua casa, nos seus sonhos onde dança ao som de música judia e pela representação da sua avó como o estereótipo da típica Judia matriarcal. A postura protectora de Saïd perante a sua irmã e os contactos com a comunidade Árabe enfatizam as diferenças culturais daquele bairro. Todos eles são emigrantes de segunda geração, com ligações ainda muito presentes e fortes à sua cultura mas unidos perante as experiências que partilham sobre aquilo que é crescer em França nas circunstâncias em que se encontram. São a representação dos grupos que se encontram vitimas de opressão da sociedade que por sua vez fazem parte de um grupo ainda maior – a classe masculina desempregada que vive nos bairros sociais. Toda esta natureza representativa faz deles menos personagens ‘’reais’’. Este é um filme de divisões, que deixa bem claro as diferenças presentes em França. A divisão daqueles que têm, dos que não têm, do mainstream e da classe

baixa, da cidade de Paris incrivelmente linda para os banlieues. A certo ponto, os três jovens deslocam-se ao centro de Paris e podemos ver a sua reacção quase alienada, como se estivessem noutro Mundo (será que não estavam?), quando nem tinham saído da sua própria cidade. É o retrato violento da cultura jovem – marcado pela roupa que os ‘’personagens’’ usam, a música presente ( o som de Cut Killer claramente oriundo dos subúrbios, misturado com Edith Piaf, a maior representação, não apenas da música francesa, como também um símbolo da liberté, egalité, fraternité) e a linguagem (um calão utilizado ao longo do filme conhecido como verlan). É um filme onde se privilegia a violência e o espectacular em detrimento do mundano, onda a violência racial funciona como catalisador de um filme que rapidamente se transforma na visão que três amigos, unidos pela exclusão étnica e cultural, apresentam do Mundo em que vivem. Num período (1995) marcado por confrontos entre os habitantes do Banlieues e a policia, é importante perceber se vinte e um anos depois realmente existiram progressos. Dados todos os acontecimentos e o momento que a França (e toda a Europa) atravessa, filmes como este incomodam quem procura a desigualdade e de quem nega a aceitação da multiculturalidade. É o retrato de uma realidade que infelizmente existia há vinte e um anos atrás, deixando uma marca que a França não pode apagar. Porque se existe uma Europa, é aquela que não pertence, mas sim a que deixa e sempre deixou pertencer.

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