Laboratórios cidadãos e a proposta de uma Ciência Comum

May 26, 2017 | Autor: Anne Clinio | Categoria: Comum, Laboratórios cidadão, Ciência Comum
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Laboratórios cidadãos e a proposta de uma Ciência Comum

Anne Clinio*

Apresenta resultados da pesquisa de doutorado em Ciência da Informação intitulada "Novos cadernos de laboratório e novas culturas epistêmicas: entre a política do

Citylab Poltava, Ucrânia Medialab Prado, Madrid

experimento e o experimento da política" na qual abordo a demanda por "novos cadernos de laboratório" e as práticas emergentes dos chamados laboratórios cidadãos, definidos como “espaços que exploram as formas de experimentação e aprendizagem colaborativa que surgiram das redes digitais para impulsionar processos de inovação cidadã”, tais como medialabs, citilabs, hacklabs, maker spaces, onde “pessoas com conhecimentos diversos e diferentes graus de especialização se reúnem para desenvolver projetos Citilabs são laboratórios que favorecem a inovação cidadã sobre temas urbanos através de oportunidades de formação, pesquisa e incubação de iniciativas sociais e empresariais.

juntos” e cujo principal objetivo é “buscar uma transformação social, que contribua com o desenvolvimento cultural, social e econômico de nossos países.” (CIUDADANíA 2.0; MEDIALAB, 2014, s.p.).

Garoa Hacker Space, São Paulo

Os laboratórios cidadãos dialogam com a proposta de uma Ciência Comum (LAFUENTE, ESTALELLA, 2015) que, como o próprio nome indica, adota o paradigma do comum. A Ciência Comum reconhece a importância dos movimentos Open Access e Open Data

Olabi, Rio de Janeiro

como reação à crescente privatização do conhecimento científico por editores comerciais que determinam as formas, os conteúdos e monopolizam a comunicação formal entre os cientistas. No entanto, seus idealizadores consideram que “abrir” o conhecimento científico é insuficiente, pois seus principais beneficiários serão aqueles com capacidade de capitalizar a informação. Atentos à tais limitações, Lafuente e Estalella (2015) advogam por uma Ciência Comum que exige o acesso aberto ao conhecimento científico, mas, sobretudo, postula por novas formas de produção de conhecimento “entre todos e para todos”, através de uma

Maker spaces são espaços dedicados a produção de objetos orientados pela cultura maker de criação de soluções de baixo custo e protótipos além do reparo de usados.

modernização epistêmica (HESS, 2007) na qual a ciência - sua agenda, conceitos e Hacklabs são laboratórios da cultura hacker que oferecem acesso público gratuito e oficinas sobre o uso crítico de tecnologias da informação.

métodos - se abre ao escrutínio e participação de diversos grupos com perspectivas

distintas das elites científicas, mas que são afetados por suas decisões. A inserção de novos atores alteraria a composição social da ciência e promoveria novos modos de produção de conhecimento considerados “mais rico (melhor contrastado) e mais firme (mais justo) e favoreceriam a tomada de decisões “mais robustas” na medida em que “cada novo coletivo incorporado representa um grau menor de exclusão, implica um alargamento das liberdades e, por fim, torna visível uma sociedade expandida mais além dos limites que acreditávamos insuperáveis” (LAFUENTE, 2012a, p. 144). A abordagem alternativa de Lafuente sobre o comum enfatiza a comunidade que sustenta, pois considera que ele emerge da ação de “comunidades de afetados” ou “comunidades de aprendizagem” (LAFUENTE, CORSÍN, 2011), nas quais os cidadãos reagem ao fato de estar em risco pela ação de tecnologias capazes de restringir o seu acesso, privatizando-o, ou utilizá-lo de forma abusiva, destruindo-o. “O procomún (concepção hispânica do comum), os bens comuns, não são um fato objetivo, mas fruto de uma decisão política necessariamente conectada às tecnologias circulantes” (LAFUENTE, 2007, p. 6). Nessa perspectiva, são as comunidades de aprendizagem que transformam o comum em “um objeto epistêmico: um método de investigação, um espaço experimental (literalmente) ou um objeto de conhecimento” (ESTALELLA FERNÁNDEZ, ROCHA, LAFUENTE, 2013, p. 32). Convertido no contexto hispânico em um "domínio experimental", o comum é “figura de inspiração e objeto de intervenção política" (ESTALELLA FERNÁNDEZ, ROCHA, Prototipando soluções

LAFUENTE, 2013, p. 32) de “pesquisas militantes” que adotam metodologias participativas que se diferenciam das formas convencionais de ativismo, pois dão existência a novos procomunes desde uma base empírica. O procomún passa, de uma abordagem como bem substantivo a verbo ativo: procomunizar refere-se a transformar em um bem comum objetos diversos mediante a experimentação cidadã (ESTALELLA FERNÁNDEZ; ROCHA; LAFUENTE, 2013, p. 32). O comum é um método de pesquisa, uma técnica de produção de problemas que torna visíveis as tensões ao seu redor. Nesse sentido, o comum não se refere a recurso dado, mas algo a ser produzido por uma comunidade.

* Doutora em Ciência da Informação, pesquisadora do Laboratório Interdisciplinar em Informação e Conhecimento - wwww.liinc.ufrj.br

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