Labsol: a produção de figurinos para Ballet / Labsol: the production of ballet costumes

May 27, 2017 | Autor: Douglas Noronha | Categoria: Design, Costume Design, Sustentabilidade
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Labsol: a produção de figurinos para Ballet Labsol: the production of ballet costumes

Douglas Eduardo Noronha Simão Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" [email protected] Claudio Roberto y Goya Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" [email protected] Raul Molina Jeronymo Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" [email protected] Cassio Ivo de Melo Oliveira Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" [email protected] Michael Garcia da Rocha Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" [email protected]

Resumo O presente artigo aborda a concepção e a produção de figurinos neoclássicos de ballet para a Companhia Estável de dança de Bauru. O projeto é resultado de uma parceria entre o Laboratório de Design Solidário (Labsol) do Departamento de Design da Unesp, no campus de Bauru e a Secretaria Municipal de Cultura de Bauru, na qual houveram a concepção de alguns figurinos levando em conta princípios básicos da produção de figurinos para dança, o histórico da Companhia, como também a temática abordada pelo espetáculo “V de Vivaldi”. Palavras-chave: Labsol; Figurinos; Ballet; Design de moda.

Abstract This article discusses the conception and production of neoclassic ballet costumes to Companhia Estável de dança from Bauru. The project results of a partnership between Solidarity Design Lab and the Municipal Secretary of Culture, in which there were

Laboratório de Design Solidário: a produção de figurinos para Ballet

conceptions of some costumes considering the basic principles of the costume productions for dance, the company history, and the theme covered by “V de Vivaldi” show. Key Words: Labsol; Costumes; Ballet, Fashion Design.

Introdução Esse trabalho pretende descrever o processo de criação de figurinos de ballet para um espetáculo da Companhia Estável de Dança da cidade de Bauru. Em comemoração aos cinco anos de existência a companhia irá apresentar um espetáculo chamado “V de Vivaldi”. A companhia solicitou a parceria após conhecer o trabalho do projeto de extensão universitária Laboratório de Design Solidário da Faculdade, Arquitetura, Artes e Comunicação, da Universidade Estadual Paulista, campus de Bauru, através da professora Ana Beatriz Pereira de Andrade. Pretende-se então demonstrar como o design, atrelado a metodologia de projetos em design pode contribuir com o campo de figurinos para dança.

O Labsol – Laboratório de Design Solidário O Labsol, Laboratório de Design Solidário, é um Projeto de Extensão vinculado ao Departamento de Design da FAAC, da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP, Campus de Bauru que tem suas ações embasadas pelos princípios e conceitos do quadripé Economia Solidária, Sustentabilidade, Ecodesign e Design Social. A principal missão do Labsol é desenvolver ações em parceria com comunidades e grupos que tenham como atividade para geração de renda, o artesanato, orientando as técnicas e processos produtivos, agregando valor à sua linha de produção através do design, além de prezar pela identidade cultural, patrimônio histórico da comunidade local e sua inserção no mercado.

Revisão Bibliográfica Para elaborar este trabalho, foram necessárias pesquisas em referenciais teóricos multifacetados. Inicialmente foram resgatados estudos acerca do Laboratório de Design Solidário. A seguir, foi empreendido o estudo acerca da concepção de figurinos e sua relação com o ballet. O processo de criação utilizou da metodologia de projeto de BAXTER (2000) considerando também o quadripé sustentabilidade, ecodesign, economia solidária e design social, focando no processo de produção e de redução no desperdício de materiais a serem descartados.

O Quadripé: Sustentabilidade, Ecodesign, Economia Solidária e Design Social A Sustentabilidade faz referência às condições sistêmicas, e compreende-se por Sustentabilidade a capacidade de utilizar ferramentas e estratégias que conciliem as necessidades de desenvolvimento material e econômico com a preservação do meio ambiente, de forma que a biodiversidade e ecossistemas locais e planetários não sejam comprometidos. O conceito de sustentabilidade ambiental refere-se às condições sistêmicas segundo as quais, em nível regional e planetário, as atividades humanas não devem interferir nos ciclos naturais em que se baseia tudo o que a resiliência do planeta permite e, ao mesmo tempo, não devem empobrecer seu capital natural, que será transmitido às gerações futuras. (MANZINI & VEZZOLI, 2005, p.75). 3º Simpósio Interdesigners

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Aliado aos princípios da sustentabilidade, o Ecodesign tem como principal objetivo desenvolver produtos, sistemas e serviços compatíveis com o uso consciente de recursos, mesmo utilizando de recursos não renováveis deve minimizar o impacto ao meio ambiente. Nessa mesma linha, a Economia Solidária "é uma economia de mercado com base associativista e cooperativista, voltada para a produção, consumo e comercialização de bens e serviços, buscando a valorização do ser humano e não do capital, dentro de um processo de democratização econômica" (SINGER, 2002). Trata-se de produzir através de práticas econômicas e sociais não competitivas que valorizam a autogestão, a horizontalidade e o cooperativismo, ou seja, um formato organizacional que beneficia todos os seus integrantes, pois não há relações hierárquicas ou exploração de mão de obra, o que resulta numa igualdade de poder de decisões que reflete no espaço público, pois contribui para a construção de um meio socialmente justo e sustentável. Já o design social leva o design a áreas não atuantes da indústria, ou que não gera interesse da mesma, desenvolvendo melhorias de qualidade de vida a pessoas de baixa renda bem como atender as necessidades dessas pessoas menos favorecidas. O design social deixa de lado o lucro das grandes indústrias, porém desenvolve soluções economicamente viáveis e acessíveis, segundo Pazmino (2007): O trabalho do designer deve valorizar os aspectos sociais, culturais e ambientais da população e desenvolver produtos que satisfaçam as necessidades reais. Respeitar as características das comunidades, das populações marginalizadas, sua cultura, para assim desenvolver produtos que a representem de fato, que sejam adequados a essa realidade, e que satisfaçam as suas necessidades reais. (Pazmino, 2007, p.3)

A Companhia Estável de Dança de Bauru Criada em 21 de setembro de 2011 pela lei nº 6.119 a Companhia Estável de Dança de Bauru conta atualmente com um grupo de 12 bailarinos, com idades entre 14 e 21 anos, todos bolsistas que cumprem uma jornada de 20h semanais de aulas e ensaios. Os bailarinos foram selecionados sob coordenação de Sivaldo de Camargo, professor e coreógrafo responsável pela direção artística da companhia. A companhia destaca-se em Bauru por ser primordial ao incentivo a dança. Desde 2011 a companhia conta com um repertório de 16 coreografias passando desde os estilos Contemporâneos, até Clássicos e Neoclássicos. Em comemoração aos cinco anos da companhia houve o contato com o Labsol para que fosse firmada uma parceria da Secretaria Municipal de Cultura de Bauru, a fim de serem produzidos os figurinos do espetáculo de aniversário da companhia que realizará uma turnê por todo o estado de São Paulo para apresentação do espetáculo.

O figurino de ballet O figurino pode ser definido como um conjunto de elementos que vai desde a roupa, até acessórios, e adereços criados para compor um personagem dentro de um contexto da história que está sendo apresentado, seja como teatro, filme, dança ou televisão. De acordo com Lopes (2010), o figurino carrega uma série de mensagens que consegue conectar o espectador ao espetáculo, além de ajudar na definição do local onde se passa a narrativa, o tempo e a atmosfera. A coreografia do espetáculo será neoclássica. O ballet neoclássico costuma deixar de lado o clássico tutu no figurino dos bailarinos, além de não utilizar de elementos visuais que 3º Simpósio Interdesigners

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compõem um cenário. A fidelidade do figurino de ballet ao tema é essencial para identificação do público, não somente a coreografia. (...) pode-se dizer que um figurino de época mantém-se fiel a determinado período histórico; um figurino realista aproxima-se ao máximo da realidade; um figurino alegórico tem como principais características o excesso e a subjetividade; um figurino regional é característico de determinada cultura, região ou país e um figurino reciclado é feito a partir da reutilização de materiais que seriam jogados no lixo. (Pazmino, 2010, p.10)

A partir disso, pode se assimilar o título do espetáculo “V de Vivaldi” ao barroco por ser o estilo de arte vigente no período em que viveu o músico e compositor Antônio Vivaldi (1678-1741). Durante o barroco era comum à utilização da oposição de tons claros e escuros. A utilização de apenas composições de Vivaldi no espetáculo dá liberdade de se trabalhar com a biografia do compositor italiano, que antes de se tornar compositor, também foi padre e professor de violino (KOLNEDER, 1970).

Materiais e Métodos Trata-se de um trabalho empírico de caráter prático, onde após revisão bibliográfica, envolvendo áreas como, o design, pesquisa cultural na área do desenvolvimento de figurinos, e tendo como base conceitual a Sustentabilidade, o Ecodesign, a Economia Solidária, e o Design Social utiliza-se a Metodologia do Projeto em Design do Produto (BAXTER, 2011) procurou-se suprir a demanda da companhia e o desenvolvimento de figurinos tendo em vista a temática da apresentação, os materiais tradicionais ao ballet, e a redução de desperdício com tecido para seu possível descarte futuro exercendo princípios da sustentabilidade, além das condições materiais acessíveis. O Labsol trabalha com prospecção passiva, na qual as instituições, associações, ONGs e afins procuram o projeto para que seja feita uma parceria. Após o primeiro contato por parte da Secretaria Municipal de Cultura foi feita uma reunião com o diretor artístico da companhia para que fosse transmitido o tema da coreografia. Em seguida os alunos voltaram para o laboratório para que fossem levantados dados sobre a temática e através das etapas do brainstorming que, de acordo com BAXTER (2011), quanto mais ideias melhor. O brainstorming dentro da metodologia de projeto do produto de Baxter se divide em sete etapas: Orientação, preparação, análise, ideação, incubação, síntese e avaliação.

Resultados e Discussões A Companhia Estável de Dança de Bauru, em junho de 2016, entrou em contato com o Laboratório de Design Solidário, por intermédio da Professora Ana Beatriz Pereira de Andrade para que fosse firmada uma parceria entre o Labsol e a Secretaria Municipal de Cultura de Bauru para que fossem produzidos figurinos para a companhia. O Projeto de extensão já havia trabalhado com figurinos nos anos anteriores com a escola de samba Coroa Imperial na produção de fantasias e carros alegóricos, porém esse foi o primeiro contato com a produção de figurinos para dança. A produção seguiu os mesmos princípios e metodologias, assim como o conceito do quadripé, que foram utilizados nos projetos com a escola de samba e outros projetos. Primeiramente foi apresentado o tema e foram delimitadas as ideias e estilos. Em seguida foi feito o levantamento dos dados sobre a companhia, bem como sobre ballet e figurinos utilizados em coreografias Neoclássicas. Foi determinada a utilização da técnica de estamparia em malhas para dar a impressão de várias peças, porém sendo peça única a fim de se evitar gastos de tecidos e acessórios no descarte. 3º Simpósio Interdesigners

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A partir da temática, partiu-se do princípio de trabalhar com vestes barrocas, acrescentando símbolos para que a comemoração de cinco anos da companhia fosse identificada. Uma vez que o processo será estampa em tecido, foi criada uma malha pentagonal utilizando o número cinco, porém através de signos em referência ao número cinco como o pentágono e a estrela de cinco pontas (Figura 1). Na gola foi pensado em utilizar um “V” em uma tipologia que se adequasse mais ao estilo barroco (Figura 2). Figura 01: O estilo barroco é destacado, utilizando também enchimento nas golas para dar volume.

Fonte: Acervo do Labsol Figura 02: O mesmo princípio de veste barroca, porém com a gola já com o tipo escolhido.

Fonte: Acervo do Labsol 3º Simpósio Interdesigners

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Após o desenvolvimento dos desenhos finais das peças do figurino, o laboratório entrou em contato novamente com a companhia para que fossem analisadas as propostas. Durante o processo de desenvolvimento do figurino, pedimos para assistir um ensaio da coreografia no palco que será a apresentação do espetáculo “V de Vivaldi”. A experiência serviu para esclarecer os cortes da peça, pensando num maior conforto para os bailarinos e dar liberdade de movimento durante toda a coreografia. Após observação dos movimentos ficou decidido acrescentar uma barra solta na manga para que fossem destacados os movimentos manuais dos bailarinos. Para SOARES (2006): Naturalmente a forma do objeto no espaço se modifica com o corpo e consequentemente o corpo se modifica no espaço com o objeto vestível e não há uma real separação entre espaço, corpo, movimento e figurino, todos fazem parte de uma mesma energia. (SOARES, 2006 p.4) Na primeira reunião com o diretor artístico da Companhia, foi passada a demanda de um figurino com uma temática barroca, com valorização da história do compositor Antônio Vivaldi. No entanto após o desenvolvimento e apresentação dos desenhos, a companhia solicitou alterações, pois houve divergências quanto à interpretação do briefing inicial, uma vez que a ideia deveria ter características como cores monocromáticas e além de utilizar elementos próprios ao período contemporâneo. Após as alterações, o desenho ficou com uma estética menos arcaica, porém com as mesmas simbologias que foram demandadas inicialmente, como foi o caso da letra "V" que seria estampada no peito e a barra na manga. A utilização de cores sóbrias foi uma referência ao período em que Vivaldi viveu. Foi retirada a "gola V" e acrescentada uma gola alta. Nas linhas na parte inferior do "V" foram criadas linhas pontilhadas para remeter a terços, pelo fato do Vivaldi ter sido padre durante juventude (Figura 3). Figura 03: Desenho mais contemporâneo, ainda considerando as características de Antônio Vivaldi.

Fonte: Acervo do Labsol. 3º Simpósio Interdesigners

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Em outra reunião, os figurinos produzidos anteriormente foram apresentados novamente, em conjunto da última concepção. Por atender aos pedidos da companhia, o último modelo elaborado foi aceito. No entanto, novas alterações quanto à manga e o comprimento da calça foram requeridos, conforme consta na Figura 4. Figura 04: Último desenho apresentado a Companhia, destacou-se os tons monocromáticos, além da retirada da manga.

Fonte: Acervo do Labsol

Conclusão O processo de elaboração das peças de figurinos para a Companhia Estável de Dança contribuiu enormemente para ampliar as áreas de atuação do projeto de extensão Labsol, pois não havia precedentes em projetos elaborados pelo Labsol na área de elaboração de figurinos. Apesar do desenvolvimento de fantasias para o carnaval de Bauru, o laboratório ainda não havia tido contato com projetos da Prefeitura da cidade, bem como a elaboração de figurinos para dança específica, como o ballet. O projeto de extensão sempre atua com comunidades de artesãos, no entanto, a ampliação de parcerias com a Prefeitura Municipal de Bauru pode atingir também a população bauruense, tanto no âmbito artístico de apresentações como outras áreas que o design pode se envolver, levando sustentabilidade, o design social, a economia solidária e o ecodesign. A produção ainda está em andamento, o desenho aprovado será enviado para uma estamparia, que estampará digitalmente nos tecidos de malha em peça única para posterior costura e prova dos bailarinos. Após essas etapas haverá a observação da estética visual dos figurinos no palco, podendo ser relatadas algumas necessidades de alteração do figurino.

Referências Bibliográficas 3º Simpósio Interdesigners

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BAXTER, Mike. Projeto de Produto. São Paulo: Blucher, 2000. KOLNEDER, W. Antonio Vivaldi: His Life and Work. Los Angeles: University of California Press, 1970. LOPES, RENATA V. Figurino cenográfico: o acervo do Grupo Divulgação, 2010. Monografia (Especialização de Moda, Cultura de Moda e Arte) Instituto de Artes e Design da Universidade Federal de Juiz de Fora, Juiz de Fora, 2010. Disponível em: http://www.ufjf.br/posmoda/files/2010/09/monop%C3%B3s.pdf MANZINI, E.; VEZZOLI, C. O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis. São Paulo: USP. 2008. PAZMINO, A.V. 2007. Uma reflexão sobre Design Social, Ecodesign e Design Sustentável. In: Anais do I Simpósio Brasileiro de Design Sustentável. Curitiba, 4-6 de setembro de 2007. SOARES, MARILIA V. A influência do figurino na dança: roupa, movimento, espaço e corporeidade. In: Colóquio de moda, 2., 04 a 07 outubro. 2006. Anais do Colóquio de Moda II. Antares: UNICAMP, 2006. p.04.

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