LEAL, S. H. B. S. ; NOVAIS, R.M. ; FERNANDEZ, C. O papel da avaliação da aprendizagem no ensino de química: concepções de uma professora experiente no nível superioração de Professores,. In: II Congresso Nacional de Formação de Professores 2014, Araraquara: Unesp, 2014. v. 1. p. 1-12.

July 8, 2017 | Autor: Carmen Fernandez | Categoria: Avaliação
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II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores

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O PAPEL DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA: CONCEPÇÕES DE UMA PROFESSORA EXPERIENTE DO NÍVEL SUPERIOR DE ENSINO Sérgio Henrique Leal, Carmen Fernandez, Robson Macedo Novais Eixo 6 - Formação de professores para o ensino superior - Relato de Pesquisa - Apresentação Oral O estudo faz uma análise da concepção de uma professora de Química do nível superior de ensino sobre a avaliação da aprendizagem de seus alunos no contexto de uma disciplina introdutória do curso de graduação. A pesquisa foi desenvolvida como um estudo de caso a partir de uma abordagem qualitativa e teve como metodologia o registro audiovisual das aulas ministradas durante o semestre letivo, realização de entrevistas semiestruturadas e preenchimento do instrumento Representação de Conteúdo (CoRe) (Loughran et al., 2006). Os dados obtidos foram transcritos e analisados de acordo com as categorias propostas por Magnusson et al. (1999) para o Conhecimento sobre a Avaliação no Ensino de Ciências, o qual é formado pelas categorias Conhecimento das Dimensões da Aprendizagem em Ciências a serem Avaliadas e Conhecimento dos Métodos de Avaliação da Aprendizagem no Ensino de Ciências. Foi possível observar que a professora apresenta uma concepção adequada de avaliação a partir do referencial teórico adotado, buscando avaliar, desenvolver e aprofundar a capacidade de seus alunos perante os conteúdos trabalhados. Além disso, suas práticas avaliativas são fortemente influenciadas por suas concepções, não sendo possível observar discrepâncias entre o seu discurso e a prática pedagógica implementada em sala de aula. Palavras-chave: ensino de química; avaliação da aprendizagem; concepção docente.

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Ficha Catalográfica

O PAPEL DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM NO ENSINO DE QUÍMICA: CONCEPÇÕES DE UMA PROFESSORA EXPERIENTE DO NÍVEL SUPERIOR DE ENSINO Sérgio Henrique Leal. Universidade Federal do ABC, Santo André, SP ; Robson Macedo Novais; Carmen Fernandez. Universidade de São Paulo, São Paulo, SP.

Introdução Nas últimas décadas, a questão da avaliação tem assumido uma importância cada vez mais crescente no panorama educacional. Embora haja interesse pelas questões e implicações que esse processo envolve, a consideração desta como uma atividade suscetível de investigação científica adquiriu um papel relevante apenas recentemente (Pellegrino, 2012). Além disso, em virtude de seus diferentes sujeitos (aluno, classe, professor, equipe docente) e objetos (aprendizagem, resultados, intervenção docente) bem como suas múltiplas etapas, a avaliação é caracterizada como uma atividade complexa, ultrapassando a mera preocupação técnica e englobando uma série de aspectos, tais como o contexto social, histórico e político. Atualmente, não há dúvidas acerca da importância da avaliação na promoção do desenvolvimento dos estudantes e até mesmo nos processos de qualificação das instituições de ensino, uma vez que não é possível inovar no ensino se a avaliação é estabelecida de maneira equivocada. Hernández (2012) discute a estreita e indissociável relação entre avaliação e aprendizagem, atribuindo grande importância à comunicação eficiente de seus resultados aos alunos (feedback) como um facilitador do aprendizado. Historicamente a avaliação tem sido utilizada no contexto escolar com uma função meramente sancionadora e seletiva, com ênfase no aspecto quantitativo em detrimento do processo percorrido pelo aluno. No entanto, a literatura pedagógica e os próprios princípios das reformas educacionais empreendidas em diferentes países entendem que a avaliação não se limita apenas à valoração dos resultados obtidos pelos discentes, devendo estar relacionada com o processo seguido por estes, levando em consideração o seu progresso pessoal e o processo coletivo de ensino e aprendizagem (Zabala, 1998). Para Magnusson et al. (1999) o Conhecimento sobre a Avaliação no Ensino de Ciências corresponde a um aspecto de elevada importância, devendo integrar o repertório de um professor para que este atue de maneira eficiente no exercício de seu ofício. Esses autores afirmam que um conhecimento consistente acerca da avaliação juntamente com os conhecimentos sobre o currículo, compreensão dos alunos, estratégias instrucionais e objetivos para o ensino são responsáveis por um 1 9938

conhecimento específico do professor, denominado Conhecimento Pedagógico do Conteúdo ou simplesmente PCK (Shulman, 1986). Sendo assim, as concepções dos professores acerca da avaliação estão diretamente relacionadas às suas concepções de ensino e aprendizagem, tendo influências significativas na representação pelos estudantes sobre a ciência e sua aprendizagem nos diversos níveis de ensino. Além disso, a concepção de avaliação do professor é apontada como a principal causa de resistências às mudanças em suas práticas (Zabala, 1998). Nosso trabalho buscou investigar a concepção de avaliação da aprendizagem de uma professora de Química experiente da Universidade de São Paulo a partir de sua prática em uma disciplina introdutória do curso de graduação. Metodologia Para nosso estudo selecionamos uma professora de Química com mais de 30 anos de experiência no nível superior de ensino e com histórico de bom desempenho perante seus estudantes. Efetuamos o registro audiovisual de suas aulas no contexto de uma disciplina de Química Geral I, pelo qual foi possível observar episódios em que demonstrava sua concepção acerca da avaliação da aprendizagem. Realizamos entrevistas semiestruturadas onde foram apresentados os episódios selecionados, levando-a a refletir sobre aspectos de sua concepção e prática pedagógica (Nilsson, 2008). Tais entrevistas foram constituídas por questões que versavam sobre o tema avaliação no ensino de química e foram baseadas no instrumento de acesso ao Conhecimento Pedagógico do Conteúdo denominado de CoRe (Representação do Conteúdo), sendo elas: Como observa o papel da avaliação no processo de ensinoaprendizagem? Qual valor atribui à avaliação? Como foi o processo avaliativo da disciplina? Como realiza a correção das provas? Qual maneira específica utiliza para avaliar a compreensão ou confusão dos alunos sobre um determinado conteúdo? Avalia a opinião dos alunos acerca da disciplina? Os alunos se auto avaliam? (Loughran et al.,2006). As entrevistas foram integralmente transcritas e a concepção da professora sobre avaliação da aprendizagem analisada sob a luz do referencial teórico proposto por Magnusson et al. (1999). Todos os resultados foram analisados e triangulados entre si, garantindo a confiabilidade das conclusões. Resultados e Discussão O Conhecimento sobre a Avaliação no Ensino de Ciências é constituído por duas categorias: o Conhecimento das Dimensões da Aprendizagem em Ciências a serem Avaliadas e o Conhecimento dos Métodos de Avaliação da Aprendizagem no Ensino de 2 9939

Ciências. A primeira se refere a aspectos da aprendizagem dos estudantes que são efetivamente importantes de serem avaliados dentro de um conteúdo particular, enquanto a segunda está relacionada ao conhecimento sobre os meios a serem empregados na avaliação da aprendizagem dos estudantes. A professora investigada reconhece que existem diferenças no processo avaliativo praticado atualmente quando comparado ao de sua época de estudante, uma vez que no contexto atual o aumento no número de alunos dificulta a realização de uma avaliação mais precisa e um acompanhamento individual dos alunos. Também afirma que para tal processo ser efetivo as avaliações devem ser feitas com maior periodicidade e que nem todas receberiam nota, pois sua principal função seria propiciar a verificação do andamento do processo percorrido pelos alunos. Sua concepção sobre o papel da avaliação fica evidente durante a correção da primeira prova da disciplina, na qual declara que a vantagem da realização de provas e de sua correção junto aos alunos reside em apontar os pontos frágeis de aprendizagem relativos ao conteúdo, pois é justamente aí que se deve investir maior esforço. Ao apresentarmos esse episódio à professora, esta ratificou sua concepção do papel da avaliação dentro do ensino de Química e sobre a importância de corrigir as provas dos alunos: “Não acredito em provas que não sejam corrigidas, pois essa [correção] é uma excelente oportunidade já que o aluno está atento para ver onde errou e nesse momento ele aprende”. Durante a correção demonstra preocupação com as ideias e raciocínios de seus alunos sobre os conteúdos, considerando a forma como se expressam em suas avaliações. Esse aspecto fica evidente durante a entrevista, na qual afirma que “a coerência, a lógica do raciocínio de um aluno na resolução de uma questão é absolutamente fundamental, mesmo que este não chegue ao resultado quantitativo correto”. Outro momento em que demonstra a importância que atribui à avaliação é quando elenca os elementos imprescindíveis no planejamento de sua disciplina, destacando a avaliação como um elemento diagnóstico: “É interessante que no momento em que se está planejando também se planeje a avaliação dos conteúdos a ser realizada, porque você consegue perceber se o teu planejamento foi eficiente ou não, podendo corrigi-lo”. Ainda de acordo com o referencial teórico adotado, o Conhecimento sobre a Avaliação no Ensino de Ciências inclui o Conhecimento dos Métodos de Avaliação da Aprendizagem. Pragmaticamente, essa categoria se refere ao conhecimento sobre os métodos de avaliação, incluindo instrumentos ou procedimentos específicos e abordagens

ou

atividades

utilizadas

para

aprendizagem.

3 9940

avaliar

dimensões

importantes

da

A professora explica que o processo avaliativo da disciplina foi composto de duas provas teóricas escritas realizadas em sala e sem consulta, sendo que apenas a segunda foi dissertativa. Reconhece que a prova dissertativa tem a vantagem de propiciar que os alunos se expressem espontaneamente, porém, acredita que mesmo no teste objetivo tenha conseguido desenvolver e mobilizar importantes conhecimentos dos alunos, uma vez que para alcançarem a resposta necessitavam elaborar um pensamento mais refinado até sua escolha final, conferindo assim qualidade à prova. Ao questionarmos que maneira específica utiliza para avaliar a compreensão ou confusão dos alunos sobre um conteúdo, descreve a realização de exercícios e discussões, atribuindo grande importância ao processo de questionar os alunos e obter suas respostas, de modo que possa acessar suas compreensões e possíveis concepções alternativas acerca do conteúdo ministrado. A resolução de exercícios em sala é observada após o encerramento de todos os conteúdos ministrados na disciplina. Nesses momentos, a professora indica que alguns alunos respondam às questões propostas na lousa e posteriormente expliquem para os demais alunos. É importante salientar que durante todo o processo ela os auxilia e considera seus diferentes pontos de vista na resolução de uma mesma questão. Questionada acerca da importância dessa atividade no aprendizado de conteúdos de Química, declara que tal estratégia se mostra eficiente na avaliação do conhecimento dos alunos e afirma que gostaria de ter tido mais desses momentos durante a disciplina: “Acho a resolução de exercícios absolutamente fundamental e gostaria de ter intercalado mais exercícios com as aulas [teóricas], quebrar um pouco a minha fala com os exercícios. Nem sempre isso foi possível. O melhor exercício seria a proposição de um problema, no qual o conteúdo visto ajudaria na resolução. Nesse sentido, acredito que o exercício é valioso, pois mostra a aplicação daquele conteúdo”. Entretanto, ressalta que não aumentou o número desse tipo de aula em virtude dos alunos não demonstrarem conhecimento suficiente do conteúdo em sua avaliação diagnóstica no início da disciplina, tornando as aulas teóricas necessárias. Afirma ainda que os exercícios são elaborados em ordem crescente de dificuldade, justificado pelo fato de que ao chegar às questões mais complexas o aluno já desenvolveu uma série de raciocínios por intermédio da resolução das questões anteriores. Entretanto, reconhece que tal ordenamento pode não ser ideal para a construção desse raciocínio de forma generalizada, pois cada estudante apresentará suas especificidades durante essa construção. Finalmente, no que se refere à opinião dos alunos acerca de sua disciplina, declara que a própria Instituição à qual é vinculada realiza uma avaliação semestral junto aos alunos sobre o professor e a disciplina ministrada por este. Vale ressaltar que tanto a disciplina como a professora são bem avaliadas no que se refere à clareza das aulas 4 9941

ministradas, interesse despertado pela forma de ensinar e disponibilidade para esclarecer dúvidas. Afirma que considera o resultado dessa avaliação como um importante feedback de sua atuação, levando em consideração a maioria das críticas feitas pelos estudantes. Ao questionarmos se durante a disciplina ela propicia que os alunos se auto avaliem, nos diz que nunca reservou um espaço formal para esse momento, mas que durante a disciplina os alunos vêm espontaneamente conversar acerca de suas dificuldades buscando sugestões de melhoria, e aponta para a implementação da estratégia de auto avaliação em versões futuras da disciplina. Conclusões O desenvolvimento desse estudo a partir de uma análise detalhada considerando o modelo de avaliação proposto por Magnusson et al. (1999) demonstrou que a professora investigada apresenta considerável grau de desenvolvimento dos constituintes do Conhecimento sobre a Avaliação no Ensino de Ciências, a saber: Conhecimento das Dimensões da Aprendizagem a serem Avaliadas e Conhecimento dos Métodos de Avaliação da Aprendizagem no Ensino de Ciências. Foi possível identificar elementos em seu discurso e prática que fundamentam a avaliação como um instrumento diagnóstico das principais dificuldades dos alunos para que, de posse desse conhecimento, pudesse atuar na superação de tais dificuldades. Exemplo disso é a importância que atribui à correção das provas junto aos alunos, considerado como um momento privilegiado para que estes reconheçam suas dificuldades e possam superá-las. Além disso, considera a avaliação um importante fator a ser observado no planejamento de suas aulas, uma vez que propiciará a reflexão acerca do cumprimento dos objetivos inicialmente propostos, possibilitando a verificação de seus avanços e dificuldades, além de possibilitar a tomada de decisões. Reconhece seu papel no processo avaliativo, buscando estimular os estudantes a uma aprendizagem significativa dos conteúdos químicos, principalmente por intermédio da resolução de exercícios, na qual os alunos têm a possibilidade de se expressarem, interagirem entre si e com a professora e reelaborar seus conhecimentos. Nesse aspecto, o papel da docente reside no estabelecimento da aproximação entre o que os alunos já sabem e o que necessitam saber. Embora apresente em sua prática elementos de uma avaliação formativa, ainda não propicia momentos formais nos quais seus alunos desenvolvam a auto avaliação, aspecto importante para que estes se situem mais eficientemente perante o processo de formação. Entretanto, indica que tal estratégia será implementada em disciplinas futuras. Por outro lado, demonstra interesse no resultado da avaliação dos alunos sobre sua

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disciplina e atuação, refletindo acerca das críticas com vista ao estabelecimento de um processo mais significativo. Diante do exposto podemos inferir que a professora apresenta uma boa concepção de avaliação a partir do referencial adotado, na qual busca avaliar, desenvolver e aprofundar a capacidade de seus alunos. Além disso, suas práticas são fortemente influenciadas por sua concepção de avaliação como elemento formativo, não sendo possível observar discrepâncias entre o seu discurso e a prática pedagógica em sala de aula. Referências Bibliográficas HERNÁNDEZ, R. (2012). Does continuous assessment in higher education support student learning? Higher Education, 64, pp. 489-502. LOUGHRAN, J.; BERRY, A.; MULHALL, P. (2006). Understanding and developing science teachers´ pedagogical content knowledge. Netherlands: Sense Publishers. MAGNUSSON, S.; KRAJICK, J.; BORKO, H. Nature, sources, and development of pedagogical content knowledge for science teaching. In: GESS-NEWSOME, J.; LEDERMAN, N.G. (Org). (1999). Examing pedagogical content knowledge: the construct and its implications for science education. Netherlands: Klumer Academic Publishers. NILSSON, P. (2008). Learning to teach and teaching to learn: primary science student teachers´ complex journey from learners to teachers. Sweden: Linköping University. PELLEGRINO, J.W. (2012). Assessment of Science learning: living in interesting times. Journal of Research in Science Teaching, 49(6), pp.831-841. SHULMAN, L. (1986). Those who understand: knowledge growth in teaching. Educational Researcher, 15(1), pp. 4-14. ZABALA, M.A. (1998). A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed. Agradecimentos: À FAPESP (Processo nº 2011/01604-1) pela concessão da bolsa de estudos.

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