LEARNING ANALYTICS, MOOCS E MOBILE LEARNING: TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS NA CIBERSOCIEDADE

June 2, 2017 | Autor: Breno Biagiotti | Categoria: Mobile Learning, Learning Analytics, MOOCs
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XII - Congresso Brasileiro de Ensino Superior a Distância Salvador/BA, 31.08.2015 – 03.09.2015 UNIREDE

LEARNING ANALYTICS, MOOCS E MOBILE LEARNING: TENDÊNCIAS EDUCACIONAIS NA CIBERSOCIEDADE Breno Biagiotti1, Rogério Cid Bastos2, Márcio Vieira de Souza3, Tarcísio Vanzin4, Luiz Palazzo5, Sílvia Regina Quevedo6 1

Universidade Federal de Santa Catarina/Departamento de Pós Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento/[email protected] 2 3

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UFSC/EGC/[email protected] UFSC/EGC/ [email protected]

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Resumo – A cibersociedade oportuniza o uso cada vez mais acentuado das tecnologias em diversas áreas da sociedade. Celulares e tablets se multiplicam exponencialmente e agregam novas utilidades diariamente por meio de seus aplicativos. Através deles temos a oportunidade de ficar conectados o dia todo. Na área da educação essa virtualização ganhou força e as ofertas de cursos por ensino a distância aumentaram exponencialmente nos últimos anos. Além disso, tudo o que fazemos online é monitorado e fica arquivado, gerando uma quantidade enorme de dados, que se forem minerados adequadamente, podem gerar informações úteis. Esse artigo propõe a analisar três assuntos: MOOCs (Massive Open Online Courses), como ferramenta democratizadora do acesso conhecimento; Mobile Learning e as possibilidades tecnológicas para um aprendizado efetivo na rede; Learning Analytics (LA), o uso inteligente de dados gerados pelos alunos (rastros de navegação) para a implementação de melhorias, otimização da compreensão e do processo de aprendizagem em cursos online. Por meio de uma revisão sistemática dos trabalhos mais citados sobre esses assuntos, esse artigo abordará como esse ambiente monitorado da internet, onde todo clique vira um dado, pode ser útil no aperfeiçoamento e na melhoria desses cursos massivos, mostrando que o LA serve como uma ponte entre inovação tecnológica para propósitos de aprendizagem, assim como o mobile Learning. Palavras-chaves: Learning Analytics, educacionais, cibersociedade

MOOCs,

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Mobile

learning,

tendências

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Abstract – The cybersociety favors the use of increasingly sharp technologies in various areas of society. Phones and tablets multiply exponentially and add new uses every day through their applications. Through them we have the opportunity to stay connected all day. In the area of education, virtualization gained visibility and offerings of courses by distance education increased exponentially in recent years. Besides, everything we do online is tracked and filed, generating a huge amount of data, which if properly mined, can generate useful information. This article aims to analyze three issues: MOOCs (Massive Open Online Courses) as democratizing tool to access knowledge; Mobile Learning and the technological possibilities for effective learning in network; Learning Analytics (LA), the intelligent use of data generated by students (navigation track) to implement improvements, optimization and understanding of the learning process in online courses. Through a systematic review of the most cited papers on these issues, this article will address how internet is a monitored environment, where every click turns a given, can be useful in improving and enhancing these massive strokes, showing that LA serves as the one bridge between technological innovation for learning purposes, as well as the Mobile Learning.

Keywords: Learning Analytics, MOOCs , Mobile learning , educational trends , cybersociety 1. Introdução A sociedade atual e sua evolução ao longo dos tempos é um objeto de estudo que fascina os homens. Diversos autores se dedicam a estudar esse fenômeno sociológico, sob os mais diversos prismas, a tal ponto que seria leviano traçar qualquer tentativa do estado da arte dessa questão. Estamos vivendo a era da tecnologia, sem dúvidas. Cada vez mais nos deparamos com os seguintes termos: redes, interatividade, colaboração, virtualização, convergência, conhecimento, informação. Esses são apenas alguns fatores que compõe um escopo mais amplo denominado cibercultura. Para entendermos um pouco mais sobre essa cibersociedade na qual estamos inseridos, e compreendermos essas passagens de uma cultura à outra, Lúcia Santaella propôs um divisão das eras culturais em seis categorias: a cultura oral, a cultura escrita, a cultura impressa, a cultura de massas, a cultura das mídias e a cultura digital (cibercultura). A autora ressalta, entretanto , que “esses períodos culturais não são lineares, como se uma era fosse desaparecendo com o surgimento da próxima. Ao contrário, há sempre um processo cumulativo de complexificação: uma nova formação comunicativa e cultural vai se integrando na anterior, provocando nela reajustamentos e refuncionalizações” (SANTAELLA, 2003, p.25). Já para autores como Manuel Castells (2003) e Pierre Lévy (1999), a cibersociedade deriva diretamente da cultura de massas, inclusive ambas possuem muitos pontos em comum, como veremos mais adiante.

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Para Santaella (2003) a quebra do paradigma entre a cultura das mídias e a cultura digital foi a convergência. Esse foi o fator predominante que serviu como marco de passagem entre essas duas fases: “É a convergência das mídias, na coexistência com a cultura de massas e a cultura das mídias, estas últimas em plena atividade, que tem sido responsável pelo nível de exacerbação que a produção e circulação da informação atingiu nos nossos dias e que é uma das marcas da cultura digital” (SANTAELLA, 2003, p.28). A autora trata a cibercultura como a cultura do acesso. Nesse novo modelo social, o acesso a dados e informações é muito mais facilitado. Os usuários interagem entre si e vão construindo colaborativamente o conteúdo, gerando um conhecimento, elemento chave de grande valor nesse novo perfil de sociedade. Para Pierre Lévy (1999), esse acesso facilitado ao conhecimento aumenta vertiginosamente a demanda por formação, fazendo com que as universidade transbordem, saturando os meios tradicionais de ensino: “Vemos como o novo paradigma da navegação (oposto ao do curso) que se desenvolve nas práticas de levantamento de informações e de aprendizagem cooperativa no centro do ciberespaço mostra a via para um acesso ao conhecimento ao mesmo tempo massificado e personalizado” (LÉVY, 1999, p.170) Uma das tentativas de ampliar o modelo de aprendizagem colaborativa ou aprendizado distribuído para larga escala são os cursos massivos online. Um MOOC é em princípio um curso online (que pode utilizar diferentes plataformas), aberto (gratuito, sem pré-requisitos para participação e que utiliza recursos educacionais abertos - REAs) e massivo (oferecido para um grande número de alunos). Entretanto, em função da diversidade de cursos, plataformas, métodos pedagógicos, instituições e modelos de negócio que caracterizam o universo dos MOOCs hoje, essas definições deixaram de ser tão cristalinas. Fato é que os MOOCs ainda não se consolidaram, e apesar de serem uma solução para o ensino em larga escala, os aspectos qualitativos e pedagógicos ainda levantam dúvidas que colocam a credibilidade desses cursos em xeque. Lévy (1999), Santaella (2003) e Nicola (2003), estudiosos contemporâneos da cibercultura, convergem na ideia de que o conteúdo precisa ser personalizado e individualizado, pois a audiência agora é segmentada. Esse fator levanta uma questão importante: como capacitar indivíduos massivamente, sem descuidar das particularidades e contextos de cada um? Outra questão importante é o acesso a dispositivos móveis que aumenta vertiginosamente nos últimos anos. Muitas pessoas possuem smartphones ,tablets e notebooks e os utilizam para as mais diversas tarefas cotidianas. O acesso facilitado a rede e a grande oferta de cursos gratuitos forma um cenário sem precedentes no campo da educação. De um lado temos alunos com ferramentas ideais para aprendizagem. De outro, uma gama quase infinita de conteúdos disponíveis na rede. O presente artigo pretende abordar essa atual conjuntura na qual vivemos onde o acesso ao conhecimento é facilitado pelo avanço rápido das tecnologias. A internet está mudando nossas forma de ensino e aprendizagem, mas nós estamos preparados para isso? 3

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2. Metodologia

Para a elaboração desse artigo realizou-se uma pesquisa teórica de cunho descritivo através de uma revisão sistemática de artigos mais citados sobre Learning Analytics (LA), MOOCs e Mobile Learning. Esses termos foram pesquisados na base de dados Scopus e nos periódicos da Capes. Também usamos como referência estudos recentes como o Horizon report e o Ericsson report, ambos de 2013, que apresentam a tendência no mercado mobile mundial. Além disso, livros e artigos de autores conceituados que tem a cibercultura como principal objeto de estudo e análise para embasar e contextualizar sociologicamente a era que vivemos. 3. A disseminação do conhecimento na cibersociedade De fato a cibercultura vem provocando profundas mudanças na nossa sociedade. O acesso ao conhecimento está mais facilitado, aumentando vertiginosamente o número de pessoas que buscam uma formação e qualificação. O conhecimento se tornou o grande diferencial de inteligência competitiva. Watters (2013) ressalta o aumento da demanda global para ensino superior. Na próxima década a previsão é que existam em torno de 200 milhões de alunos por ano, sendo que grande parte deles vem de países emergentes. Para suportar essa demanda utilizando o método tradicional de ensino presencial, milhares de novas escolas precisariam ser construídas. Nesse contexto, investir em tecnologia e MOOCs passa a ser uma solução rentável e interessante. O rápido crescimento e a visibilidade alcançada pelos MOOCs foi tão expressiva que 2012 foi considerado como “o ano dos MOOCs” (PAPPANO, 2012), tanto pelo número de alunos inscritos, quanto pelo número de grandes instituições de ensino ofertando cursos por meio das plataformas provedoras. Sem uma forma muito definida, cada MOOC possuía suas próprias metodologias e pedagogias. Muitas universidades aderiram essa nova modalidade e reaproveitaram seus recursos educacionais (aulas gravadas, apostilas, áudios) e disponibilizaram tudo online e gratuitamente. Universidades como Harvard e MIT (Massachusetts Institute of Technology) financiaram a plataforma EDX, fortalecendo o boom dos MOOCs ao redor do mundo. Porém essa falta de padronização dos MOOCs começou a gerar críticas da comunidade acadêmica, ao reconhecer que alguns cursos eram meras aulas presenciais gravadas e disponibilizadas na internet. Os MOOCs deveriam ir além disso. Segundo Figueiredo (2012) um MOOC deve ter “capacidade de gerar novas práticas na educação e agregar o potencial de inteligência coletiva da Web 2.0. Com o uso de redes sociais e ferramentas de participação, o conhecimento vai sendo coproduzido por todos os envolvidos e o mais importante fica sendo o contexto, e não o conteúdo”. Esse pensamento vai de encontro com a teoria do Conectivismo,

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proposta por George Siemens e Stephen Downes , que foi apelidada de "teoria de aprendizagem para a era digital". Muitos estudos vem sendo realizados desde então para encontrar uma forma ideal de aplicação e desenvolvimento desses cursos massivos. Diversos MOOCs apresentaram problemas em comum: alta taxa de evasão de alunos (cerca de apenas 10% concluem os cursos), críticas pedagógicas, certificação indefinida, modelo de negócio não consolidado e problemas de acesso a internet. Ficou claro que esses MOOCs foram um grande passo para a democratização do ensino e compartilhamento de conhecimento, mas por ser massivo, o tratamento dado aos alunos era igual, e as individualidades e contextos de cada aluno não eram levados em conta. Portanto sua maior virtude, o poder de alcance, acabou se tornando um empecilho: Como manter práticas pedagógicas atualizadas com esses novos processos de transação de conhecimento? Não se trata aqui de usar as tecnologias a qualquer custo, mas sim de acompanhar conscientemente e deliberadamente uma mudança de civilização que questiona profundamente as formas institucionais, as mentalidades e a cultura dos sistemas educacionais tradicionais e sobretudo os papéis do professor e de aluno. (LÉVY, 2003, p.172)

Pierre Lévy, em seu livro Cibercultura, previu essa problemática mesmo antes do surgimento dos primeiros MOOCs: A EAD explora certas técnicas de ensino a distância, incluindo as hipermídias, as redes de comunicação interativas e todas as tecnologias intelectuais da cibercultura. Mas o essencial se encontra em um novo estilo de pedagogia, que favorece ao mesmo tempo as aprendizagens personalizadas e a aprendizagem coletiva em rede (...) No lugar de uma representação em escalas lineares e paralelas, em pirâmides estruturadas em níveis, organizado pela noção de pré-requisitos e convergindo para saberes “superiores”, a partir de agora devemos preferir a imagem de espaços de conhecimentos emergentes, abertos, contínuos em fluxo, não lineares, se reorganizando de acordo com os objetivos ou contexto, nos quais cada um ocupa uma posição singular evolutiva. (LÉVY, 2003, p.158)

Lúcia Santaella também alerta para essa mudança de tratamento do indivíduo. Apesar de serem cursos massivos, os usuários não se comportam mais como na época da cultura de massas: Em resumo, a nova mídia determina uma audiência segmentada, diferenciada que, embora maciça em termos de números, já não é uma audiência de massa no sentido tradicional do envio de um número limitado de mensagens a uma audiência homogênea de massa. Devido à multiplicação de mensagens e fontes, a própria audiência torna-se mais seletiva. A audiência visada tende a escolher suas mensagens, assim

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aprofundando sua segmentação, intensificando o relacionamento individual entre o emissor e o receptor. (SANTAELLA, 2003, p.27 apud SABBAH,1985)

Ricardo Nicola, autor do livro Cibersociedade: quem é você no mundo online? corrobora com Lévy e Santaella ao mostrar a necessidade da aprendizagem personalizada: O modelo de difusão tradicional dos meios de comunicação, que corresponde ao broadcasting, transformou-se na rede em um novo modelo, ou seja, o narrowcasting. O primeiro caracteriza-se pela total passividade do público perante o meio; no segundo o usuário é rastreado dentro do sistema e particularizado em seu atendimento (...) A sociedade da informação, que se confrontava com os meios de comunicação de massa, agora se confronta com um meio de comunicação individualizado, que rastreia seu público, seguindo-lhe os passos na navegação pelos sites. Quando rastreado, ao usuário é oferecido acesso aos seus sites preferidos, consolidando uma nova forma de disseminação narrowcasting, que disponibiliza nos PCs as preferências de acordo com o usuário: o chamado Pointcast. (NICOLA, 2003, p.27)

Esse rastreamento ao qual Nicola se refere é um fenômeno recorrente na internet. Estamos constantemente sendo monitorados e tudo o que fazemos deixa registros e gera dados. Castells, em seu livro intitulado A Galáxia da Internet, já alertava para as questões de privacidade e liberdade no ciberespaço: “a Internet não é mais uma esfera livre, mas tampouco realizou a profecia orwelliana. É um terreno contestado, onde a nova e fundamental batalha pela liberdade na Era da Informação está sendo disputada” (CASTELLS, 2001, p.141). Esses dados deixados pelos usuários durante sua navegação são valiosos e empresas como Google e Facebook utilizam muito bem esses recursos, transformando dados em informações, conhecendo o usuário e direcionando produtos e serviços para ele, em uma grande estratégia de marketing. Isso também pode ser feito com os alunos dos MOOCs. Através de seus dados de navegação no ambiente virtual, podemos traçar perfis desses usuários e aprimorar suas experiências de aprendizagem, propondo melhorias durante o curso. Esse é o princípio de funcionamento do LA. 4. Learning Analytics e a busca pela aprendizagem personalizada

Primeiramente precisamos conceituar o que é exatamente LA, para isso utilizamos a definição de George Siemens, mesmo autor da teoria do conectivismo: “Learning Analytics é a medição ,coleta, análise e divulgação de dados sobre os alunos e os seus contextos , para fins de compreensão e otimização da aprendizagem e dos ambientes em que ela ocorre” (SIEMENS, 2011). Esse é um campo de estudo que vem crescendo muito nos últimos anos, despertando o interesse da comunidade 6

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acadêmica. Prova disso é a criação de um curso de mestrado sobre estudos cognitivos em educação com foco em LA, na Universidade de Columbia. Em 2013, Haythornthwaite et al. traçaram um panorama sobre as áreas que o LA abrange atualmente em um artigo publicado na revista American Behavioral Scientist. Essa metodologia vem sendo utilizada na análise do aprendizado colaborativo mediado por computadores, na aprendizagem em rede, nas redes sociais e na mineração de dados educacionais. Nota-se o crescente interesse em analisar os aspectos sociais de colaboração e cooperação (característicos da cibercultura) entre alunos e tutores. Muitos artigos sobre LA focam nesses aspectos Sociais, de tal forma que já estão sendo chamados de Social Learning Analytics. Shum e Ferguson (2012), pesquisadores ingleses, tem escrito diversos artigos sobre esse assunto. As ferramentas do LA utilizam a avaliação estatística de fontes ricas de dados, buscando identificar padrões. Esses padrões são usados então para melhor predizer eventos futuros, ajudando a tomada de decisão e melhorando resultados (EDUCAUSE, 2010). Fazer essa análise de dados de um MOOC não é uma tarefa fácil. A quantidade de dados é diretamente proporcional à quantidade de alunos cadastrados, muitas vezes na casa dos milhares. O LA, através da análise dos dados armazenados consegue monitorar a evolução dos alunos e verificar padrões de trajetória que tiveram maior rendimento e retenção ao longo do curso. É possível ver quais os conteúdos mais acessados e que geraram maior interesse e, dessa forma, ajudar a implementar as aulas e melhorar a gestão do curso. A correta análise de dados pode detectar pontos de abandono dos alunos e corrigir essa questão, melhorando a gestão da informação e dos recursos educacionais. Sempre que essas técnicas são utilizadas, o contexto dos alunos é levado em consideração. Esse é o diferencial do LA que busca a aprendizagem personalizada, defendida por Lévy e Nicola, ao desenvolver sistemas de tutoria inteligente, com a utilização de jogos, simulações, graphic novels, testes, exercícios interativos, ou seja, recursos e ferramentas que retenham e estimulem os alunos a continuarem seus estudos. O estudante, ao receber um feedback, um tratamento diferenciado e personalizado, se sente mais confiante e estimulado a continuar o curso. Muitos MOOCs são contínuos, não tem data de início e fim, ou seja, características da educação permanente. As implementações ocorrem sempre que necessárias e com o curso em andamento. Para detectar e corrigir problemas, utilizando LA, não há necessidade de esperar os alunos concluírem o curso e fornecerem seus feedbacks. Esse processo é mais detalhado por Campbell e Oblinger (2007), que projetaram o ciclo de implementação contínua do LA, que consiste em três fases: Captura de dados, processamento de informação e aplicação do conhecimento, conforme podemos ver na figura 1 abaixo:

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figura 1 - Modelo de LA proposto por Campbel e Oblinger (2007)

Esse modelo serve de base para todas as atividade de LA, melhorando as teorias pedagógicas através da inovação, fazendo com que o processo de aprendizagem se adeque às necessidades dos alunos, educadores e administradores (ELIAS, 2011, p.17). A primeira fase do modelo de Campbel e Oblinger (2007) é a captura dos dados. Essa etapa deve ser pensada de tal forma a criar um repositório de qualidade para posterior uso e que assegure a qualidade e a integridade dos dados. Muitos MOOCs podem apresentar dados divididos em diversas fontes como sistemas de gerenciamento de conteúdo (CMS), sistemas de gestão da aprendizagem (LMS), além do próprio Google Analytics, o que requer cuidado para agregrar todo o material. A parte de processamento da informação vem em seguida. Uma equipe devidamente habilitada analisa os dados em busca de padrões, comportamentos diferenciados e elabora correlações com as metas e objetivos propostos pelos criadores do curso. Essa etapa cria um panorama que deixa evidente o que está agradando, o que está dando certo e o que precisa ser melhorado no serviço em geral. Para fazer esse processamento é necessário uma equipe interdisciplinar que domine a análise de dados, estatística, além dos professores e pesquisadores com experiência pedagógica. O terceiro passo seria a aplicação do conhecimento ao criar modelos preditivos baseados em regressão estatística e probabilidade, por exemplo. Nessa etapa são implementadas as estratégias para a melhoria dos cursos. Cada caso tem suas especificidades. A aplicação desses modelos fecham o ciclo de implementação do LA. Convém lembrar, entretanto, que essas técnicas de LA fazem parte de um processo de auto implementação, ou seja, precisam de acompanhamento constante a fim de obter os melhores resultados, validando e intervindo sempre que preciso para aumentar a performance de ensino/aprendizagem dos cursos. 8

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Convém lembrar que vários fenômenos citados neste artigo, que fazem parte da cibercultura, apesar de toda a tecnologia envolvida, ainda tem o ser humano em um papel de protagonismo. Santaella ressalta: “A cibercultura, tanto quanta quaisquer outros tipos de cultura, são criaturas humanas. Não há uma separação entre uma forma de cultura e o ser humano. Nós somos essas culturas. Elas moldam nossa sensibilidade e nossa mente, muito especialmente as tecnologias digitais, computacionais, que são tecnologias da inteligência, conforme foi muito bem desenvolvido por Levy e De Kerckhove.” (Santaella, 2003, p.30). 5. A revolução mobile Recentemente, o Google realizou mudanças em seu algoritmo de busca que causou grande alvoroço. De tempos em tempos a empresa altera sua busca de algoritmos e provoca grandes mudanças no rankeamento das buscas feitas pelo site. Dessa vez a grande mudança ficou por conta da ênfase nos sites que são responsivos, ou seja, se adaptam a dispositivos móveis. Essa mudança mostra claramente a prioridade que o Google está dando aos sites que funcionem bem em dispositivos móveis. Com o post "You say you want a mobile revolution...", a empresa, através de seu vice presidente, declarou em seu blog oficial: “Começando em 21 de abril, nós estaremos expandindo nossa interface amigável de celulares como um fator de ranking. Essa mudança afetará as buscas em mobile em todas as línguas ao redor do mundo e terá um impacto significativo nos nossos resultados de busca. Consequentemente, usuários acharão mais fácil encontrar resultados relevantes e de alta qualidade que são otimizados para os seus dispositivos.” (Pichai, 2015)

Essa priorização da internet otimizada para uso em dispositivos móveis acarreta em mudanças de comportamento em diversas áreas. Há algum tempo o mobile learning tem atraído um alto grau de atenção de pesquisadores de diferentes áreas que observaram o potencial da aplicação das tecnologias mobile com finalidade de melhorar o aprendizado (Özdamar e Metcalf, 2011, p.1). Esse foco na tecnologia mobile direcionada ao ensino está apenas emergindo. Essa mudança só corrobora o que estudiosos da área vêm nos alertando há tempos. Atualmente estamos percebendo o uso crescente dos dispositivos móveis no nosso dia-a-dia. Segundo o informe Ericsson Mobile Report (2013), o número de smartphones na telefonia móvel cresceria 10 vezes entre 2013 e 2019, alcançando um total de 5,600 milhões subscrições. Esses dados vem de encontro ao que o sociólogo Manuel Castells apresentou em maio de 2015, quando afirmou que 50% da população adulta já usa smartphones, e essa proporção chegará a 80% em 2020. Outro estudo de relevante importância é o Horizon Report (2013) que teve ênfase no ensino superior. Esse documento identificou 6 tecnologias emergentes que deverão ser populares até 2018, além de 6 tendências para os próximos 5 anos. Todo o estudo foi realizado por um grupo composto por 51 especialista em 9

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educação, tecnologia e futuro, além de escritores e pensadores. As tecnologias emergentes citadas nesse relatório são: 1. MOOCs: possibilidade de aprendizado continuado, de nível superior e gratuito; 2. Tablet Computing; portabilidade e variedade de aplicativos que facilitam o aprendizado customizado; 3. Gaming e gamificação - Promove o engajamento do aluno uma vez que desafia seus conhecimentos em uma determinada disciplina. Segundo dados do Market Research Report (2013), a aprendizagem baseada em jogos teve um crescimento de 15,6% entre o período de 2012 a 2016, sendo que os jogos para aplicativos móveis foi um dos fatores que mais contribuíram para esse crescimento. 4. Learning Analytics: uso inteligente dos dados gerados pelo acesso dos alunos para decifrar tendências e padrões que possam melhorar a experiência da aprendizagem; 5. Impressoras 3D: impressoras 3D oferecem uma forma mais barata e rápida de prototipar projetos. Essa ferramenta é largamente utilizada em laboratórios de pesquisa na área da ciência, tecnologia e engenharias; 6. Tecnologia para vestir: integra equipamentos eletrônicos a roupas e acessórios, com potencial para ser usadas no ensino e aprendizagem. As tendências propostas pelo Horizon Report (2013) são provenientes da análise de especialistas para prospectar um cenários futuro da educação. Os temas em evidência são: 1. Educação aberta: Conceitos como conteúdo, dados e recursos abertos, assim como noções de transparência e acesso fácil à informação estão se tornando um valor importante. Muito comumente confundida com educação gratuita, a educação aberta não só é grátis, mas replicável, remixável e sem barreiras ao acesso e à interação. 2. cursos abertos e gratuitos: A popularização dos MOOCs prova que isso já é uma realidade, visto a quantidade crescente de cursos nessa modalidade. 3. habilidades do mundo real: o mercado de trabalho está absorvendo cada vez mais profissionais com conhecimento que não são aprendidos na escola, e sim formas de aprendizagem informal. 4. novas fontes de informação: existe um crescente interesse em usar novas fontes de informação para personalizar e medir a experiência do aprendizado. 5. novo papel do professor: o crescimento e a valorização do aprendizado informal e o aumento na quantidade de recursos de educação têm feito com que as funções dos educadores sejam repensadas. Agora, eles devem se portar muito mais como mentores e conectores de todas as informações disponíveis do que detentores do conhecimento

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6. novo paradigma: A educação caminha para se tornar cada vez mais on-line, híbrida e calcada em modelos colaborativos. Esses relatórios tem em comum a visão de que o mercado mobile está em ampla expansão e a tendência é que os usuários usem seus dispositivos cada vez mais para as mais diversificadas tarefas. Durante 2012 e 2013 a UNESCO publicou uma série de documentos sobre aprendizagem móvel, enfatizando a acessibilidade e a facilitação para a igualdade de acesso à educação em diferentes países. Será que podemos dizer que já vivemos uma revolução mobile? Para Pu, Lin, Song, & Liu (2012), a aprendizagem móvel vem sendo impulsionada pela ampla disseminação dos dispositivos móveis. É uma extensão do e-learning em que os dispositivos móveis e tecnologias sem fio são utilizados para apoiar o processo de aprendizagem. O mobile learning tem como objetivo ampliar ainda mais o paradigma do e-learning, ou seja , a onipresença da aprendizagem, facilitando o aprendizado a qualquer hora e em qualquer lugar. A mobilidade é um fator preponderante que corrobora com a fragmentação, ou seja, uma tendência que vem se apresentando na educação a distância onde "menos é mais". A divisão do conteúdo em pílulas facilita a aprendizagem e é preferível a um curso longo, com muitas horas de duração. Dessa forma o aluno pode acessar essas pequenas partes ao longo do dia, sempre que disponibilizar um tempo. O aumento da oferta de cursos nesse padrão também oferece experiências de aprendizagem mais ricas. O aluno passa da fase do "o que eu quero aprender" convivendo com "o que eu preciso aprender", possibilitando resultados mais assertivos. Isso só é possível por que essa forma de aprendizagem é centrada no aluno. 6. Considerações Finais

Mas afinal, o que os MOOCs, Learning analytics e mobile learning têm em comum? Essas três áreas levam em consideração o contexto dos alunos e promovem a construção do conhecimento através do uso de tecnologia. Mas só a tecnologia não basta. Para Laurillard (2007, p.158) o verdadeiro ponto de virada será quando essas novas tecnologias encontrarem pedagogias que promovam um ensino de alta qualidade, mais eficiente que os métodos tradicionais de ensino. A combinação do formato MOOC e a pedagogia mobile learning deve ser explorada nesse sentido. Essas três áreas estão em plena expansão e ainda há muito a ser estudado. No caso dos MOOCs, muitos são os fatores que precisam ser melhorados e analisados: aspectos demográficos, acesso a internet, performance do acadêmico, engajamento, interação social, perseverança e motivação dos alunos, teorias de aprendizagem e suporte aos alunos, design instrucional dos cursos, ferramentas de colaboração e desenvolvimento de comunidades de aprendizagem, o desafio dos 11

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cursos massivos em relação a diversidade e acessibilidade, são apenas alguns pontos. Para usufruir de todo o benefício que o LA pode oferecer, vale ressaltar a importância de estruturar e armazenar de forma adequada os dados dos cursos criados. LA é por natureza uma metodologia interdisciplinar que envolve profissionais da pedagogia, informática, design, sistemas da informação, engenharia, entre outras. Para alcançar os resultados esperados se faz necessária a criação de uma equipe engajada e preparada para a tarefa, com profissionais da área técnica que trabalhem em sincronia com pedagogos e professores. Além disso, o LA é uma prática contínua que deve ser utilizada constantemente para obter melhores resultados. Para capacitar cada vez mais alunos não basta oferecer o conteúdo gratuitamente e disponibilizar na internet. É preciso saber o que as pessoas querem aprender e usar as tecnologias disponíveis para alcançar o público alvo. Oferecer conteúdo de qualidade, aonde as pessoas estão e na hora que elas podem acessar. Dessa forma o MOOC serve como uma plataforma de disseminação de conteúdo aberto, o mobile learning serve como ponte para o aluno acessar esse conteúdo aonde e quando puder. E o LA serve para analisar e implementar o ensino através dos dados gerados pelos próprios alunos. Esse seria um tripé para uma aprendizagem de qualidade, com o suporte da tecnologia. 7. Referências Bibliográficas

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