LEARNING SET DE REVERSÕES DE DISCRIMINAÇÕES SIMPLES COMBINADAS COM MACACO-PREGO: EXPLORANDO PROCEDIMENTOS PARA A FORMAÇÃO DE CLASSES.

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Universidade Federal do Pará Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Faculdade de Psicologia

Learning Set de Reversões de Discriminações Simples Combinadas com Macaco prego: Explorando Procedimentos para a Formação de Classes. Carlos Rafael Fernandes Picanço

Belém – PA Junho de 2010

Universidade Federal do Pará Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Faculdade de Psicologia

Learning Set de Reversões de Discriminações Simples Combinadas com Macaco prego: Explorando Procedimentos para a Formação de Classes.

Carlos Rafael Fernandes Picanço

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Psicologia como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Formação do Psicólogo. Este trabalho será submetido à publicação em periódico indexado em co-autoria com Romariz da Silva Barros, Thiago Dias Costa e Carlos Barbosa Alves de Souza.

Belém – PA Junho de 2010

Universidade Federal do Pará Instituto de Filosofia e Ciências Humanas Faculdade de Psicologia

Carlos Rafael Fernandes Picanço

Learning Set de Reversões de Discriminações Simples Combinadas com Macaco prego: Explorando Procedimentos para a Formação de Classes.

Banca: ______________________________ Dr. Romariz da Silva Barros (Orientador) ______________________________ Drª. Ana Leda de Faria Brino (Membro) ______________________________ Dr. Grauben Jose Alves de Assis (Membro)

Julgado em: ____/_____ /_______ Resultado:

_____________________________

iv

À majestosa Leide, com muito amor.

v

“Be willing to have it so. Acceptance of what has

happened is the first step in overcoming the consequence of any misfortune”.

William James, 1842-1910.

vi

AGRADECIMENTOS À mamãe e ao papai, Vera Lúcia da Costa Fernandes e Carlos José Batista Picanço, pela vida em família, pelo zelo com as tarefas diárias, dedicação e cuidado na criação dos filhos, incentivo aos estudos, incondicionalidade ao amar... Ao grande amigo Ewelton Yoshio Chiba Yoshidome, pelas idas e vindas ao supermercado, puxões de orelha, batalhas no Civilization, Magic, enfim, pela grande amizade... Aos professores José Carlos Simões Fontes e Carlos Barbosa Alves de Souza, pelo conhecimento compartilhado, pela apresentação e incentivo à participação na Escola Experimental de Primatas. Aos professores Ana Leda de Faria Brino, Paulo Roney Kilpp Goulart, Olavo de Faria Galvão e ao orientador Romariz da Silva Barros, pelo trabalho em grupo e carisma indispensáveis para o desenvolvimento das habilidades que dispus para a realização deste trabalho. Ao técnico Edilson Ferreira Pastana, pela rotina de trabalho que permitiu a coleta de dados e execução deste trabalho. Aos colegas Liane Dahás, Tiago De Man e Ilara Nogueira, pela orientação inicial detalhada e por toda cooperação. Aos colegas da Escola Experimental de Primatas, Sebastião, Lorena, Álvaro, Paula, Yonezawa, Glaucy, Camila, Fabiane, Nicole, Hernando, Dillon, Ingrid, Abraão, Marina, Flávia, Leonardo, pela cooperação no dia-a-dia e risadas pelos corredores. A todos, pela atenção e disposição para conversas durante as minhas inquietações e crises existências. A todos, pelo excelente tratamento, acolhimento, apoio... fico imensamente agradecido.

vii

SUMÁRIO Resumo

xi

Abstract

xii

Introdução

01

Método

05

Sujeitos

05

Estímulos

05

Equipamento

05

Procedimento

06

Pré-treino, mudanças preparatórias com um positivo e um negativo.

08

Fase 1. Sucessivas Reversões com dois positivos e dois negativos.

08

Fase 2. Sucessivas Reversões com três positivos e três negativos.

09

Fase 3. Reversões parciais.

09

Resultados e Discussão

11

Discussão Geral

22

Referências

26

viii

LISTA DE FIGURAS Figura 1. Estímulos utilizados no experimento.

06

Figura 2. Número de tentativas e de acertos até 6ac ao longo das reversões de todo o estudo.

16

Figura 3. Frequência das sequências de escolha dos estímulos na Fase 1 e Fase 2.

17

ix

LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Função e forma de apresentação dos estímulos em sessões de reversão parcial.

10

Tabela 2. Mudanças de função preparatórias.

11

Tabela 3. Ordem das escolhas dos estímulos nas doze tentativas de reinserção de cada par ocultado para cada uma das seis reversões parciais.

19

Tabela 4. Acertos e erros nas 12 tentativas de reinserção do par não revertido nas 24 primeiras tentativas de cada uma das seis reversões parciais.

21

x

LISTA DE SIGLAS ac

Acertos consecutivos.

c-1

Critério 1 para encerramento de sessões, após 6ac.

c-2

Critério 2 para encerramento de sessões, após 6ac. 12 tentativas após 6ac.

c-3

Critério 3 para encerramento de sessões, após 36 tentativas, independentemente do número de acertos consecutivos contabilizados.

DS. 1.1

Tentativa de discriminação simples com um S+ e um S-, duas escolhas.

DS. 1.2

Discriminação simples com um S+ e dois S-, três escolhas.

DS. 1.3

Discriminação simples com um S+ e três S-, quatro escolhas.

DS. 2.2

Discriminação simples com dois S+ e dois S-, quatro e três escolhas.

DS. 3.3

Discriminação simples com três S+ e três S-, seis, cinco e quatro escolhas.

DS. 1.3

Discriminações Simples com um S+ e três S-, quatro escolhas.

IET

Intervalo entre tentativas.

S+

Estímulo com função positiva, reforço programado como consequência.

S-

Estímulo com função negativa, extinção e time out programados como consequências.

xi

Picanço, C. R. F. (2010). Learning Set de Reversões de Discriminações Simples Combinadas com Macaco-prego: Explorando Procedimentos para a Formação de Classes. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Psicologia, Universidade Federal do Pará. Belém, Pará. Resumo Pouca pesquisa tem sido desenvolvida sobre a formação de classes por meio do método de reversões repetidas de discriminações simples combinadas, tanto com participantes humanos quanto com não-humanos. O presente estudo relata dados da aplicação desse método com até 6 escolhas (três positivas e três negativas), simultaneamente, com um macaco-prego (Cebus sp). Ao longo das reversões, avaliou-se o efeito de learning set em três variáveis, a) número de acertos processados até que o critério de 6 acertos consecutivos fosse atingido, b) número de tentativas até o critério e c) distribuição da frequência de sequências de acertos. Foram realizados testes de formação de classes por meio de reversões parciais, os quais previam: a) uma reversão com seis estímulos e b) uma reversão com quatro estímulos e então apresentação do par de estímulos remanescente. Os dados indicam a obtenção de learning set de reversões de discriminações simples combinadas. Foram encontradas evidências parciais de formação de classes na análise da primeira resposta de escolha aos estímulos apresentados nas reversões parciais. Os procedimentos que mais parecem ter contribuído para essa demonstração foram: reforçamento somente ao final da cadeia de escolhas de estímulos positivos a cada tentativa e não a cada escolha de um positivo; time out (1-min); reversões parciais. O estudo envolveu refinamentos de procedimento decorrentes do próprio desempenho do sujeito e os dados obtidos permitiram afirmar que o procedimento adotado em sua forma final é promissor. Palavras chave: reversões repetidas de discriminações simples combinadas, learning set, Cebus sp.

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Picanço, C. R. F. (2010). Learning Set of Simple Discrimination on Combined Reversals in Capuchin Monkey: Exploring Procedures to Foster Classes. Dissertation presented to Faculdade de Psicologia, Universidade Federal do Pará. Belém, Pará, Brazil. Abstract Little research has been developed on fostering classes through simple discrimination on combined reversals both with humans and with nonhuman. The present study reports data from applying this method with up to six choices (three positive and three negative), simultaneously, in a monkey (Cebus sp). Over the reversals, the effect of learning set was evaluated taking into account three variables: a) number of correct responses processed until the criterion of six consecutive correct responses has been reached, b) number of trials until the criterion has been reached and c) frequency distribution of correct response sequences. We conducted class formation tests through partial reversals, which hold within: a) a reversal with six stimuli, and b) a reversal with four stimuli and then, provided the criterion, presenting the remaining pair of stimuli. The data indicate the achievement of learning set in simple discrimination on combined reversals. Partial evidence of class formation was found by the analysis of first stimulus choice to the remaining pair presented in partial reversals. The procedures that appear to have contributed most to this demonstration were: reinforcement only at the end of the chain of choices for positive stimuli and not at each choice; effective time out; partial reversals. The present study included procedure refines resulting directly from the subject performance and the data obtained allowed affirming that the procedure adopted in its final form is promising. Key words: simple discrimination on combined reversals, learning set, Cebus sp.

1

Considerando o procedimento de discriminações simples, à medida que diversos exemplares de estímulos vão sendo apresentados, o efeito de learning set é demonstrado quando um número cada vez menor de erros ocorre até a resposta discriminada. Quanto maior o número de exemplares, cada vez menor o número de tentativas necessárias para o aprendizado definido, o que pode levar a desempenhos perfeitos ou quase perfeitos (Harlow, 1949). O efeito de learning set descreve discriminações e reversões de discriminações cada vez melhores, mas não é suficiente para descrever reversões de discriminações aprendidas prontamente sem erros, ou com poucos erros, quando exemplares de estímulos estão arbitrariamente relacionados (e.g., Vaughan, Jr, 1988). No experimento de Vaughan, Jr., (1988), seis pombos experimentalmente ingênuos foram submetidos a um treino de reversões repetidas de discriminações simples sucessivas (“go/ no-go”). Um conjunto de 40 fotos de árvores foi arbitrariamente dividido pelo experimentador em dois subconjuntos de 20 elementos (Subconjuntos A e B). Cada foto era apresentada duas vezes por sessão. Todos os estímulos do Subconjunto A funcionavam como S+, enquanto que todos os estímulos do Subconjunto B funcionavam como S-. Os estímulos eram apresentados em ordem randômica. Quando um estímulo do Subconjunto A (S+) era apresentado, respostas de bicar o estímulo eram reforçadas; quando um estímulo do Subconjunto B (S-) era apresentado, respostas de bicar o estímulo não eram reforçadas. As funções dos estímulos eram revertidas de maneira combinada, ou seja, todos os estímulos do Subconjunto A passavam a funcionar como S- e todos os do Subconjunto B, como S+. Esse procedimento foi repetido muitas vezes ao longo de alguns anos em que se estendeu o estudo, apresentando diferentes números de sessões a cada reversão da função dos estímulos (para detalhes, ver Vaughan, Jr., 1988, Tabela 2). Assim, o

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contato com as contingências revertidas no início de uma sessão determinava desempenhos apropriados para os elementos restantes (reversões espontâneas). Esse tipo de resultado documentou a formação de classes de equivalência pelo critério de partição e foi demonstrado em não-humanos pioneiramente por Vaughan, Jr., (1988). É possível que a equivalência documentada tenha implicando desempenhos não diretamente treinados, independentes de generalizações de primeira ordem e implicando relações de controle derivadas entre estímulos arbitrariamente agrupados (e.g., Sidman, Wynne, Maguire, & Barnes, 1989; Tonneau, 2001). Lionello-DeNolf, Canovas, Souza, Barros, e McIlvane (2008), apresentaram dados que favorecem uma relação entre learning set de reversões de discriminações e a formação de classes de equivalência pelo critério de partição: a formação de classes funcionais poderia ser um desdobramento lógico de um continuum de efeitos do learning set de reversões de discriminações. Assim, se um determinado procedimento não produz evidências de learning set de reversões, ele possivelmente não levará à formação de classes de equivalência. Comparativamente ao modelo descritivo de Sidman & Tailby (1982; ver também Sidman, 2000), desde os achados de Vaughan, Jr, (1988), pouca pesquisa tem sido desenvolvida sobre a formação de classes através do método de reversões repetidas de discriminações simples combinadas, tanto com participantes humanos com desenvolvimento atípico (ver, por exemplo, McIlvane, Dube, Kledaras, Iennaco, & Stoddard, 1990; Sidman, Wynne, Maguire, & Barnes, 1989) quanto com não-humanos (Kastak, Schusterman, & Kastak, 2001). Estudos recentes têm tentado reduzir esse lapso, tanto na pesquisa com humanos (Lionello-DeNolf et al., 2008) como na pesquisa com não-humanos (Costa, 2008;

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Costa, Barros, Galvão, & Reis, 2007; Dahás, Brasiliense, Barros, Costa, & Souza, no prelo; Goulart, Galvão, & Barros, 2003. Ver também D‟Amato & Salmon, 1984; Dube, Callahan, & McIlvane, 1993; Dube, McIlvane , Callahan, & Stoddard, 1993; Ferrara, Todorov, Azzi, & Oliveira-Castro, 1983; Reis e Costa, 2002). O estudo de Kastak, Schusterman e Kastak (2001) foi bem sucedido ao documentar a formação de classes por meio do procedimento de reversões repetidas com leões marinhos, mas esse tipo de achado não tem sido amplamente documentado com outras espécies (Goulart, Galvão, & Barros, 2003). Estudos sobre refinamento metodológico para esse tipo de pesquisa com animais (por exemplo, Costa, Barros, Galvão, & Reis, 2007) podem contribuir para a compreensão sobre a formação de classes sob o critério de partição e o fenômeno da equivalência. Recentemente, Costa (2008) conduziu um estudo bem sucedido na obtenção de formação de classes funcionais com dois macacos-prego através do método de reversões repetidas de discriminações simples combinadas. Diferentemente de todos os estudos sobre a formação de classes anteriormente citados, nos quais os exemplares de estímulos das discriminações eram bidimensionais e apresentados sucessivamente (Vaughan, Jr., 1988) ou simultaneamente em pares (Goulart, Galvão & Barros, 2003; Kastak, Schusterman & Kastak, 2001), no estudo de Costa (2008) os exemplares de estímulos foram apresentados todos juntos e em um espaço tridimensional amplo no qual o animal explorava os estímulos (caixas de madeira) em busca de comida. A cada tentativa, seis estímulos eram apresentados aos sujeitos, sendo três com função de S+ e três com função de S-. As posições dos estímulos mudavam de sessão a sessão. Respostas de vasculhar caixas S+ eram reforçadas com o acesso a comida depositada dentro da caixa. Respostas de vasculhar caixas S- encerravam a tentativa afastando as caixas do alcance dos animais. O procedimento permitiu avaliar (1) se o número de

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tentativas até um critério de precisão de desempenho foi se reduzindo à medida que as reversões repetidas foram sendo efetuadas (learning set de reversões de discriminações) e (2) se ocorreram reversões espontâneas às funções discriminativas dos estímulos. Foram encontradas evidências tanto de learning set de reversões quanto de equivalência pelo critério de partições. O objetivo do presente estudo foi adaptar o procedimento desenvolvido por Costa (2008) para ser usado em uma câmara experimental com um painel de respostas semelhante ao dos demais estudos da literatura, que permite a variação dos estímulos tentativa a tentativa, e avaliar o potencial desse procedimento para produzir learning set de reversões de discriminações simples combinadas e classes de equivalência pelo critério de partições.

5

MÉTODO Sujeito. Participou do estudo Bongo (M16), um macaco prego (Cebus sp) macho, adulto (aproximadamente 13 anos no início do procedimento), com extensa história experimental (Brino, Picanço, Barros, Galvão, Sousa & Goulart, em preparação). Bongo vivia em uma gaiola (2,50 x 2,50 x 2,50 m) juntamente com outros macacos da mesma espécie, com livre acesso a água. A alimentação era fornecida uma vez ao dia. Nenhum esquema adicional de privação foi utilizado. As condições de vida em cativeiro, dieta, cuidados veterinários, e os procedimentos de coleta foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (licença # CEPAE PS001/2005-UFPA), em acordo com as normas locais e internacionais sobre o tratamento e manipulação de animais para fins de pesquisa. O biotério onde ficavam alojados os animais é um criadouro de animais silvestres para fins científicos, registrado junto ao IBAMA (número 207419, código da unidade 381201-4). Estímulos. Funcionaram como estímulos 1 seis formas não representativas, bidimensionais, pretas em fundo branco dentro de quadrados com bordas. As figuras foram divididas em dois conjuntos de três (Conjunto 1: A1, B1 e C1; Conjunto 2: A2, B2 e C2; ver Figura 1). Foram apresentadas pelotas de açúcar nos sabores framboesa e banana, conforme a disponibilidade, como consequências para respostas corretas e de acerto. Equipamento. Um microcomputador Pentium Core 2 Duo (2,53-GHz), 2Gb (DDR2), executou o software EAM 4.0.04 (Desenvolvido por Dráusio Capobianco

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Os estímulos serão citados de forma geral, positivos (S+) e negativos (S-), ao longo do texto. Frisamos que sempre que os estímulos do Conjunto 1 eram positivos, os do Conjunto 2 eram negativos e viceversa.

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com financiamento do CNPq) que controlou a apresentação das figuras (em nove possíveis posições de uma matriz 3 x 3, por meio de um monitor LCD de 17” com tela sensível ao toque) e o registro das repostas de escolha do sujeito. O monitor foi acoplado a uma câmara experimental de acrílico e alumínio (60 x 60 x 60 cm) e ficava acessível ao sujeito por uma janela (27 x 33 cm) em uma das paredes da câmara. Um dispensador de pelotas de 190 mg a apresentação de pelotas de comida. Um cronômetro foi utilizado para passagem de telas de time out e intervalo entre tentativas.

Figura 1. Estímulos utilizados no experimento.

Procedimento. A coleta de dados ocorria entre segunda e sexta-feira, em média 4 dias por semana, e iniciava entre 10:00 e 14:00 h. (em média quatro horas antes da alimentação dos animais). O tempo despendido diariamente durante a coleta não excedia 40 min. Todo o procedimento se baseou em treinos de discriminações simples, com estímulos funcionando como S+ e como S-. A cada tentativa, eram apresentadas de duas (no início do estudo) a seis escolhas (ao final), sendo metade das escolhas estímulos

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negativos e a outra metade de estímulos positivos. Todas as escolhas eram apresentadas simultaneamente no display do monitor. A escolha consistia em tocar duas vezes (exigência progressivamente aumentada até oito, para evitar respostas acidentais) qualquer ponto da área que um estímulo ocupava no display. Repetidas reversões da função dos estímulos S+ e S- foram efetuadas sempre que atingido o critério de 6 acertos consecutivos (6ac). As tentativas iniciavam com a apresentação de metade dos estímulos negativos e metade dos estímulos positivos simultaneamente no display (de fundo verde). Quando mais de um estímulo positivo era apresentado, a tentativa era considerada concluída com acerto quando o sujeito escolhia apenas os estímulos positivos, em qualquer ordem. Assim, toques a um estímulo positivo (escolha correta, mas que aqui ainda não contabilizava acerto) produziram somente sua remoção do display e a apresentação de uma pelota de comida, dando oportunidade para a próxima resposta a outro estímulo positivo. Quando apenas um estímulo positivo estava presente (seja porque era o único apresentado ou porque era o remanescente naquela tentativa), toques a ele (agora contabilizando acertos, por ser o último ou o único estímulo positivo apresentado) produziram a remoção de todos os estímulos do display, um intervalo entre tentativas (IET) de aproximadamente 6 s, durante o qual duas pelotas de comida eram apresentadas, uma dispensada no comedouro e outra através do gradeado inferior da câmara (pelota bônus). A qualquer momento de uma tentativa, toques ao estímulo arbitrariamente definido como S- (contabilizando erros) produziram um time out inicialmente (Fase 1) de 12 s e posteriormente (Fases 2 e 3) de 1 min, aproximadamente, apresentado em display preto. O time out era seguido pelo IET, sem apresentação de comida, e pela tentativa seguinte. Desse modo, quando eram apresentados na tela do computador

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6 estímulos (3 S+ e 3 S-) era possível ao sujeito apresentar até 3 respostas de escolha corretas (de maneira a concluir a tentativa com acerto), mas apenas uma errada, uma vez que a tentativa era encerrada contingentemente à primeira escolha errada. Após o IET, seja na condição S+ seja na condição S-, o início da tentativa seguinte era apresentado com os estímulos em posições diferentes. O procedimento incluiu um pré-treino e três fases de treino de reversões, conforme descrito abaixo em ordem histórica. A diferença entre uma fase e outra consistiu no número de estímulos apresentados (Pré-treino, dois estímulos; Fase 1, quatro estímulos; Fase 2, seis estímulos; Fase 3, ora quatro ora seis estímulos). O estudo envolveu outras variações no número de estímulos apresentados no início da tentativa, mas por serem alterações decorrentes diretamente da análise do desempenho do sujeito, serão especificadas e descritas apenas na seção de Resultados e Discussão. Pré-treino, mudanças preparatórias. Discriminação simples simultânea com um S+ e um S- (DS. 1.1). Cada tentativa se iniciava com a apresentação de dois estímulos (um S+ e um S-). Foram apresentadas as seguintes contingências: 1) A1+ e A2-; 2) A2+ e B1-; 3) B1+ e C2-; 4) C2+ e C1-; 5) C1+ B2-; e 6) B2+ e A1-. Cada mudança foi efetuada depois de atingido o critério de aquisição (6 acertos consecutivos, 6ac). Eram programadas 36 tentativas e atingido o critério a sessão era encerrada. O objetivo dessa etapa do procedimento foi avaliar a discriminabilidade dos pares de estímulos, ao mesmo tempo em que cada um dos estímulos era apresentado tanto com função positiva quanto com função negativa. Depois de alcançado o critério de aprendizagem para a sexta discriminação, a Fase 1 foi iniciada. Fase 1.Reversões de discriminações simples simultâneas com dois S+ e dois S(DS. 2.2). Início de tentativa com dois S+ e dois S- (A1, B1, A2 e B2; C1 e C2 não

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foram apresentados). Neste tipo de tentativa um acerto foi contado apenas quando a escolha dos dois estímulos positivos ocorreu, não importando a ordem. O critério de encerramento da sessão distinguiu essa fase do estudo em Subfases 1.1, 1.2, e 1.3, respectivamente de acordo com os critérios: c-1, encerramento após 6ac; c-2, encerramento 12 tentativas após 6ac; e c-3, encerramento após a apresentação das 36 tentativas programadas, independentemente do número de acertos consecutivos contabilizados. O prosseguimento à Fase 2 se deu em 9 reversões após o último ajuste de procedimento. Fase 2. Reversões de discriminações simples simultâneas com três S+ e três S(DS. 3.3). Início de tentativa com três S+ e três S- (A1, B1, C1, A2, B2 e C2). Neste tipo de tentativa um acerto foi contado apenas quando a escolha (oito toques em cada um) dos três estímulos positivos ocorreu, não importando a ordem. Não houve apresentação de pelota de comida a cada resposta de escolha, mas apenas ao final da tentativa, quando a mesma era concluída com acerto. Respostas a quaisquer dos estímulos negativos produziam um time out de aproximadamente 12 s. A duração do time out foi aumentada para 1 min nesta fase, de forma abrupta, de maneira a garantir sua efetividade. O critério de encerramento após 36 tentativas (c-3) vigorou durante toda esta etapa. A Fase 3 foi iniciada 10 reversões após a última variação paramétrica realizada. Fase 3.Reversões parciais. Esta fase do experimento foi introduzida com o objetivo de avaliar o desempenho do sujeito quando todos os estímulos tinham suas funções revertidas, mas eram apresentados aos poucos. Assim, a cada reversão, apenas quatro (dois do Conjunto 1, A1, B1 ou C1, e dois do Conjunto 2, A2, B2 ou C2) dos seis estímulos eram apresentados nas 24 primeiras tentativas da sessão (DS. 2.2). Desta forma sobravam dois estímulos, um de cada conjunto. Estes dois estímulos eram

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reintroduzidos somente nas 12 tentativas finais da sessão (DS. 3.3). Avaliou-se a precisão de desempenho com um número menor de estímulos (quatro ao invés de seis), bem como quando o par de estímulos omitidos foi reintroduzido no contexto experimental. Foram realizadas seis reversões parciais. Cada sessão consistia em 36 tentativas. Seis tentativas consecutivas concluídas com acerto eram requeridas na primeira etapa da sessão (nas 24 primeiras tentativas quando apenas 4 estímulos eram apresentados) antes da apresentação das tentativas com seis estímulos. Caso esse critério não fosse alcançado, as 12 tentativas restantes com seis estímulos não eram apresentadas. Uma sessão com 36 tentativas DS. 3.3 era apresentada após aquelas 12 tentativas. A função dos estímulos apresentados nas 24 tentativas iniciais e nas 12 tentativas finais nas sessões de reversão parcial pode ser conferida na Tabela 1. Tabela 1. Função e forma de apresentação dos estímulos em sessões de reversão parcial. Reversão

4 Estím. (DS. 2.2)

6 Estim. (DS. 3.3)

1

B1+ C1+ B2- C2-

A1+B1+C1+ A2-B2-C2-

2

A1- C1- A2+ C2+

A1-B1-C1- A2+B2+C2+

3

A1+ B1+ A2- B2-

A1+B1+C1+ A2-B2-C2-

4

B1- C1- B2+ C2+

A1-B1-C1- A2+B2+C2+

5

A1+ C1+ A2- C2-

A1+B1+C1+ A2-B2-C2-

6

A1- B1- A2+ B2+

A1-B1-C1- A2+B2+C2+

4 Estím. (DS. 2.2) = os quatro estímulos apresentados durante as 24 tentativas primeiras tentativas; 6 Estim. (DS. 3.3) = Estímulos apresentados durante as 12 tentativas finais.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram efetuadas, ao todo, 112 sessões ao longo de nove meses. Foram realizadas 94 reversões e 5 mudanças nas funções discriminativas dos estímulos, as quais envolveram a apresentação de 3.918 tentativas no total. Devido a problemas com o controle experimental, foram realizadas 6 “reversões” sem que o critério estabelecido tivesse sido alcançado (sinalizadas ao longo dos resultados) que não foram consideradas nas análises subsequentes. Pré-treino, mudanças preparatórias. Para todas as 5 mudanças a precisão de desempenho estabelecida como critério foi atingida no máximo de 20 tentativas (Tabela 2, coluna “Num. de tent. até 6ac”). Devido à extensa história experimental de Bongo com tarefas de discriminação simples com dupla escolha, tal desempenho já era esperado. Tabela 2. Número de tentativas necessárias para alcançar o critério de 6ac nas Mudanças de função preparatórias. Mudança

Contingência Num. de tent. até 6ac

0

A1+A2-

7

1

A2+B1-

18

2

B1+C2-

9

3

C2+C1-

13

4

C1+B2-

9

5

B2+A1-

20

As discriminações adquiridas com número maior de tentativas ocorreram nas sessões em que um dos estímulos do conjunto 2 era positivo (Mudanças 1, 3 e 5). Isto se

12

deu, possivelmente, pelo fato destas sessões terem seguido, no mesmo dia de coleta, uma sessão com os estímulos do conjunto 1 como positivos. Mesmo com um número maior de tentativas nestas sessões, por se tratar de uma fase preparatória, onde os objetivos eram de assegurar estímulos suficientemente discrimináveis, o desempenho foi considerado suficiente para o prosseguimento experimental. Fase 1.Reversões de discriminações simples simultâneas com dois S+ e dois S(DS. 2.2). Foram realizadas 64 reversões. O critério de encerramento c-1, encerramento após 6ac, esteve em vigor nas 36 primeiras reversões. Discriminações simples com um S+ e dois S- (DS. 1.2) foram apresentadas em blocos de 9 no início das reversões 2 e 3 (Figura 2, Fase 1) no sentido de evitar erros 2 tipo 2, persistentemente cometidos ao longo da primeira reversão realizada. O início deste tipo de tentativa era com um S+ e dois S-. A escolha de um S+ produzia sua retirada, a apresentação de outro S+ em uma posição disponível diferente e uma pelota. A escolha (a segunda, novamente dentre três possibilidades) desse outro S+ produzia um IET, a apresentação de uma pelota de comida, uma pelota bônus e a tentativa seguinte. A condição S- foi idêntica ao tipo de tentativa DS. 2.2. Esta variação de procedimento (DS. 1.2 em blocos de 9 tentativas) ocorreu diretamente em função dos resultados parciais obtidos e foi repetida na segunda reversão para evitar o mesmo tipo de erros na reversão seguinte. A partir de então, apenas tentativas DS. 2.2 foram utilizadas até a reversão número 23. A configuração do procedimento até este momento, entretanto, não produziu reduções consistentes no número de tentativas (learning set) e nem no número de acertos até o critério de 6ac 2

Quando mais de um estímulo positivo era apresentado, havia duas possibilidades de erros: 1) a primeira resposta de escolha era a um S- (erro Tipo 1), ou 2) a primeira resposta de escolha era a um estímulo positivo e então ocorria uma resposta a um estímulo negativo (erro Tipo 2). Em ambos os casos era considerado que a tentativa não foi concluída com acerto. Considerou-se, contudo, relevante a distinção entre erros Tipo 1e Tipo 2 devido à persistência verificada neste último tipo de erro.

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(Figura 2, Fase 1, Subfase 1.1). Em porcentagens, os acertos variaram de 22% a 64,7% e foram na maioria das reversões 25% (20/23) e de 0% a 50%, maioria das reversões >25% (12/23). Esses resultados parciais levaram a não apresentação de pelotas a cada resposta de escolha, mas apenas ao final da tentativa ao longo das reversões seguintes (24 a 64). As variações de critério de encerramento de sessões também foram devido a esses resultados parciais. Analisando as reversões de 24 a 36, sob o critério de encerramento c-1, o reforçamento apenas ao final das tentativas favoreceu mais acertos de uma forma global, que passaram a variar de 38,8% a 72,2%, maioria >50% (9/13), e favorecer menos erros Tipo 2 (variando de 11,1% a 41,6%, maioria 80% (9/12) e foram os maiores e mais estáveis documentados ao longo de todo o experimento. O número de tentativas e de acertos até 6ac (Figura 2, Fase 3) foram também os menores documentados ao longo de todo o estudo. Tomados juntos os dados das Fases 1 e 2, conforme se pode observar nas Figuras 2 e 3, e especialmente o dado da Fase 3, na Figura 2, é possível afirmar que o presente estudo documentou learning set de reversões de discriminações simples combinadas. As variáveis dependentes que melhor evidenciam esse dado são o número de tentativa até 6ac (mostrando redução gradual nas Fases 2 e 3) e a freqüência das sequências de escolha (que mostra que o responder não era controlado por um ou outro encadeamento de respostas corretas, isto é, não houve preferência por uma ou outra sequência). Os procedimentos que mais parecem ter contribuído para essa demonstração foram: reforçamento somente ao final da sessão e não a cada escolha correta; time out; e reversões parciais. Em apenas 6 reversões parciais foram documentados resultados superiores aos obtidos ao longo do extenso treino com apenas D.S. 2.2 (64 reversões) ou apenas D.S. 3.3 (24 reversões). O procedimento adotado na Fase 3 permite, adicionalmente, avaliar se ocorreram reversões espontâneas, ou seja, se a experiência com a reversão das contingências com quatro estímulos, produziu reversão não treinada com o par remanescente dos estímulos ausentes até aquele momento. Esse seria um indício de formação de classes funcionais. Os dados obtidos nas seis reversões parciais,

19

especialmente os dados das primeiras tentativas (dentre as 12) quando o par remanescente é introduzido, permitem dizer que não foram encontradas evidências de formação de classes com a quantidade de reversões de discriminações processadas, embora a demonstração de desempenho preciso com o par remanescente a cada nova reversão tenha se tornado cada vez mais rápida. A Tabela 3 apresenta a ordem de escolha dos estímulos nas doze tentativas de reinserção de cada par ocultado para cada uma das seis reversões parciais. Tabela 3. Ordem das escolhas dos estímulos nas doze tentativas de reinserção de cada par ocultado para cada uma das seis reversões parciais. Os dados de cada reversão parcial são apresentados em cada uma das colunas. Os estímulos ocultados durante as primeiras 24 tentativas de linha de base nomeiam as colunas. As células preenchidas em cinza indicam acertos completos na tentativa. A1+A2-

B2+B1-

C1+C2-

A2+A1-

B1+B2-

C2+C1-

B1C1C2

C2A2B2

B1A1C2

C2B2C1

C1A1C2

A2B2C2

B1C1C2

A2C2B1

C2

B2C2A2

C1A1A2

C2A2B2

B1C1A2

C2A2B2

B2

B2C2A2

A1C1C2

C2B2C1

B1C1A1

B2A2C2

A1B1A2

B2C2A2

A1C1A2

B2C2A2

B1C1A2

B2A2C2

A1B1B2

B2C2A2

B1C1A1

C2A2B2

B1A1C1

B2A2C2

B1A1A2

B2C2A2

C1A1B1

A2B2C2

C1A1B1

B2C2B1

B1A1B2

C2B2A2

C1B1A1

C2B2A2

B1C1A1

C2B2A2

A1B1C1

C2B2A2

C1B1A1

C2A2B2

C1B1A1

B2C2A2

A1B1A2

B2C2A2

A1C1B1

C2B2A1

A1B1C1

C2B2A2

B1A1C1

C2A2B2

A1C1B1

C2B2A2

B1A1C1

C2A2B2

C1B1A1

B2C2A2

C1B1A1

B2C2A2

B1A1C1

B2A2C2

C1B1A1

C2B2A2

B1C1A1

C2B2A2

20

Os dados apresentados na Tabela 3 mostram que, embora o sujeito não tenha revertido espontaneamente a discriminação para o par omitido na primeira parte da reversão, a aquisição da discriminação com esse par foi mais rápida (learning set) de modo que, em todas as reversões, as três últimas tentativas da sessão foram concluídas com acerto e nas sessões com 36 tentativas DS. 3.3 apresentadas logo em seguida, o critério de 6ac foi atingido no máximo de 7 tentativas (Figura 2, Fase 3). Em outras palavras, a precisão do desempenho se tornou muito alta e foi crescente em apenas 12 tentativas. Considerando as 72 tentativas processadas nessa situação de reinserção de pares de estímulo ausentes no início de uma reversão parcial, e analisando a precisão do desempenho separadamente na primeira metade e na segunda metade desses blocos de tentativas, é possível verificar que a precisão na primeira metade foi de 52,78% (19 acertos em 36 tentativas) e na segunda metade foi de 88,89% (32 acertos em 36 tentativas). Para uma análise ainda mais minuciosa, foi necessário diferenciar mais dois tipos de erros. Escolhas do estímulo negativo do par reinserido foram chamados de erros “X” e escolhas de estímulos negativos presentes nas 24 tentativas de reversão parcial foram chamados de erros “O”. A Tabela 4 apresenta acertos (C) e erros (X e O) categorizados dessa forma. Organizados dessa forma, os dados possibilitam uma análise específica das respostas de escolha do sujeito ao par reinserido. Esse tipo de análise é importante para avaliar se alguma evidência de reversões espontâneas (e, portanto, de classes de estímulo) foi encontrada. A pergunta subjacente nessa análise é “o que o sujeito fez quando respondeu pela primeira vez aos estímulos reinseridos?3. A primeira resposta

3

A ênfase na primeira tentativa é justificada por ser a única não afetada por reforçamento uma vez que ocorre antes das consequências programadas para acerto ou erro.

21

aos estímulos do par reinserido foi de acordo com as contingências revertidas (reversão espontânea) em quatro das seis reversões (Tentativa 1 da Reversão 2; Tentativa 2 da Reversão 4; Tentativa 5 da Reversão 5 e Tentativa 1 da Reversão 6). Tabela 4. Acertos e erros nas 12 tentativas de reinserção do par não revertido nas 24 primeiras tentativas de cada uma das seis reversões parciais. Acertos (C), Erros (X e O) por tentativa (1 a 12) Par reinserido Reversões

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10 11 12

1

A1+A2-

O

O

X

C

X

C

C

C

C

C

C

C

2

B2+B1-

C

X

C

C

C

C

X

C

C

C

C

C

3

C1+C2-

X

X

O

O

O

O

O

C

O

C

C

C

4

A2+A1-

O

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

C

5

B1+B2-

O

O

O

O

C

C

C

C

C

C

C

C

6

C2+C1-

C

C

X

C

C

C

C

C

O

C

C

C

Embora se possa dizer que quatro respostas corretas em um total de seis ocasiões sejam ainda evidência fraca de reversão espontânea das discriminações com os estímulos omitidos na fase de reversão parcial, essas dados indicam que o procedimento é promissor. Os dados das Reversões 2, 4, 5 e 6 são especialmente animadores porque mostram acerto na primeira vez que o sujeito respondeu a estímulos do par remanescente e quase nenhum erro subseqüente. Esses dados indicam que, não apenas learning set de reversões foi encontrado, mas que também um número maior de reversões parciais levaria a documentar evidências convincentes de reversão espontânea e consequentemente de formação de classes.

22

DISCUSSÃO GERAL O presente trabalho apresenta a concepção de um procedimento de treino de repetidas reversões de discriminações simples combinadas com seis escolhas. Esse arranjo experimental permite a busca por evidências de learning set de reversões e incorpora o procedimento de reversões parciais (Dube, McIlvane, Callahan, & Stoddard, 1993; Reis & Costa, 2002). O procedimento com seis apresentou a vantagem de evitar relações de controle frequentemente associadas ao contexto de duas escolhas (Beran, Klein, Evans, Chan, Flemming, Harris, Washburn, & Rumbaugh, 2008) e parece não ter implicado controle por sequências de respostas nos momentos finais. Comparado ao estudo de Vaughan, Jr. (1988), o presente estudo aponta um procedimento que preserva as características daquele estudo pioneiro, mas de forma mais exequível pela quantidade menor de reversões necessárias. Esse avanço segue a mesma linha de busca por procedimentos mais eficazes para estudar learning set de reversões já iniciada por Costa (2008), Costa, Barros, Galvão, & Reis (2007) e Dahás et al. (aceito). O procedimento de Costa (2008) foi bem sucedido ao produzir classes funcionais. As características ecologicamente relevantes do procedimento, como o espaço tridimensional amplo que exigia, comparativamente a respostas de toque em monitor sensível, um gasto energético maior durante o forragear do animal em busca das caixas com alimento, e a exigência de uma resposta em um operando diferente (buscar a pelota bônus na extremidade oposta da gaiola viveiro após vasculhar as caixas corretas), e a utilização do reforço específico, parecem ter sido variáveis críticas para a obtenção daqueles resultados. Entretanto, havia limitações no aparato utilizado, quanto

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às (1) possibilidades de arranjos dos estímulos e (2) o número de estímulos utilizados na tarefa. O procedimento de treino apresentado neste trabalho no seu formato final (Fase 3, critério c-3 de encerramento, com time out de 1-min contingente a erros, uma pelota para acertos e uma reversão por dia de coleta), foi suficiente no sentido de assegurar discriminações mais rápidas e com menos tentativas durante as sessões de teste e sessões intermediárias de linha de base. Ele supera as limitações do aparato de Costa (2008). Embora não se tenha obtido a formação de classes, é possível que um maior número de elementos em cada classe planejada, implicando em um número maior de estímulos apresentados simultaneamente, favoreça a formação de classes durante reversões parciais. A partir das variações de critério de encerramento realizadas, parece seguro afirmar que encerramentos de sessões com poucas tentativas após o critério (Fase 2, critério c-1), ou mesmo muitas tentativas, mas com consequência diferencial não significativa para erros (Fase 2, critérios c-2 e c-3, time out ≃12-s), foram aspectos que produziram erros antes de 6ac com maior frequência. Esses resultados corroboram as evidências de De Man (2007), quando discute a origem do que chama de “escores intermediários” (de Man, 2007, pp. 40-41). A utilização de um time out relativamente longo (≃1-min) com a permissão de mais tentativas após 6ac reduziu a frequência de acertos intercalados antes do critério. Estudos posteriores podem avaliar a generalidade desses dados para outras condições experimentais, outros sujeitos e tarefas. Goulart, Galvão e Barros (2003, Experimento 2, com três pares de estímulos), descreveram resultados com variações nas porcentagens de acerto semelhantes às descritas no presente estudo e também enfrentaram dificuldades para o estabelecimento

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da precisão de desempenho planejada para prosseguimento entre fases. Ao repensarem o procedimento (Experimento 3, agora utilizando dois pares de estímulos somente), observaram um aumento considerável das porcentagens de acerto em relação à tarefa com 6 estímulos por sessão. O presente estudo relata evidências correlatas a esses resultados, na medida em que as reversões parciais (com quatro estímulos) foram efetuadas sistematicamente em um menor número de tentativas e com índices de acerto globais maiores do que todos os registrados até aquele momento. Os desempenhos para os dois tipos de tarefas durante as reversões parciais foram similares e melhores para a tarefa com seis estímulos, se considerados em valores absolutos. De alguma forma, apresentar uma tarefa mais simples, com um menor número de elementos, após uma tarefa mais complexa, com um maior número de elementos, parece favorecer o controle de estímulos relevante. Descrevemos o efeito de learning set por meio de três variáveis: a) o número de acertos até 6ac; b) o número de tentativas até 6ac; e c) a distribuição da ordem de escolhas de estímulos. Há estudos que sustentam a hipótese de que o learning set em tarefas de reversões repetidas faça parte dos requisitos para a produção de classes de estímulos equivalentes (e.g., Lionello-DeNolf, Canovas, Souza, Barros, & McIlvane, 2008). No presente estudo, o learning set em cada uma dessas três variáveis seria desejável, respectivamente, porque: a) o mínimo de acertos antes do critério sugere um maior controle comportamental segundo relações de controle planejadas da tarefa; b) quanto mais estável o menor número de tentativas até 6ac, espera-se ser mais frequente um controle discriminativo preciso pelas propriedades relevantes dos estímulos e menos frequente o

desempenho impreciso, baseado em tentativa e erro de forma mais

prolongada no início das sessões; e c) quanto menos o controle de estímulos implicar

25

em preferência de uma ou outra sequência de respostas, mais diversos os pareamentos entre os estímulos seriam, e mais simples seriam as análises das reversões parciais, pois dependeriam de escolhas derivadas e não de sequências de escolhas derivadas. A investigação empírica dessas variáveis se mostra indispensável.

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