Leibniz e a defesa de Deus no Discurso de Metafísica

June 6, 2017 | Autor: Patrick Carvalho | Categoria: Metaphysics, Leibniz
Share Embed


Descrição do Produto

Leibniz e a defesa de Deus no Discurso de Metafísica Patrick Martins de Carvalho

Para defender o papel de Deus no seu discurso, Leibniz tende primeiro a demonstrar a perfeição de Deus para assim estruturar sua argumentação. Leibniz se baseia na noção de que Deus é um ser absolutamente perfeito1. E, ao admitir que haja na natureza diversos tipos de perfeição e diversos graus de perfeição, se é possível deduzir dessas coisas perfeitas, que a união delas resulta na perfeição de Deus. Como Leibniz bem pontuará em seu livro Sistema novo da natureza e da comunicação das substâncias: “É necessário, então, primeiro dizer que Deus criou primeiramente a alma – ou qualquer outra unidade real desse tipo – de um modo tal que tudo nela surge de sua própria natureza, por uma perfeita espontaneidade em relação a ela mesma e, entretanto, em perfeita conformidade com as coisas fora dela”.2 Isto é, é preciso assumir antes que a existência da autonomia da alma do homem flui perfeitamente por ser criada pela força geradora que é Deus. Primeiro não devemos acreditar que figuras como os números matemáticos ou as formas geométricas tem absolutamente o grau máximo de perfeição porque somente a onisciência e onipotência de Deus implicam uma completude da perfeição. E, Deus sendo absolutamente perfeito, se deduz que de suas ações ele agirá da forma mais perfeita tanto metafisicamente quanto moralmente. Como Leibniz bem pontua em seu texto Discurso de Metafísica3: “[...] Deus, possuindo suprema e infinita sabedoria, age de forma mais perfeita, não só em sentido metafísico, mas também moralmente falando, podendo, relativamente a nós, dizer-se que, quanto mais estivermos esclarecidos e informados sobre as obras de Deus, tanto mais dispostos estaremos a acha-las excelentes e inteiramente satisfatórias em tudo que podemos desejar”, de forma que independente das escolhas de Deus para que determinadas circunstâncias sejam de uma forma ou de outra, Deus está sempre fazendo as coisas da maneira mais perfeita. Leibniz sustenta que, segundo esse princípio, as regras da bondade e da beleza não são arbitrárias. Pois se Deus faz tudo da natureza da forma mais desejável e perfeita

1

LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 77. LEIBNIZ, Sistema novo da Natureza, p. 26 3 LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 77. 2

possível, todas as coisas que Deus criou trazem em si o caráter de Deus 4. Mas, Leibniz atenta para o perigo que achar que as coisas são boas somente pela vontade de Deus, e não por uma regra invisível da própria bondade. Pois pensar assim, destruiria certa arbitrariedade concedida por Deus. Então, as coisas boas, como a justiça e a beleza, assim como as verdades metafísicas, não existem simplesmente pela pura vontade de Deus, mas é consequência direta da completude do seu intelecto perfeito. As coisas boas existem, assim como a ordem do universo, porque existem no interior do corpo metafísico e perfeito de Deus. Como Leibniz deixa claro nesta passagem5: “A mim, pelo contrário, me parecem tão-somente consequências do seu intelecto (a bondade, justiça, perfeição, geometria), o qual seguramente em nada depende de sua vontade, assim como a sua essência também dela não depende”. Decorrentes desses questionamentos quanto ao caráter de Deus em suas obras, Leibniz questiona àqueles que criticam Deus dizendo que ele poderia fazer o mundo de maneira melhor. Pois há quem argumente que as coisas que Deus criou não há toda perfeição possível. Ora, se admite que há perfeição é porque não há erro algum, mas se, do contrário, admite que Deus cria coisas menos perfeitas, se diz que Deus criou algo imperfeito. Isto é, Leibniz diz isso, para posteriormente contrariar essa postura que diz ser “moderna”: “É agir imperfeitamente agir com menos perfeição do que se teria podido” 6. No entanto, para defender sua tese, Leibniz dirá que temos um intelecto extremamente limitado frente à perfeição infinita de Deus, como bem visto nessa passagem7: Julgo, também, haver uma infinidade de passagens da Sagrada Escritura e dos Santos Padres favoráveis ao meu modo de ver, mas não muitas ao desses modernos, que, no meu entender, é desconhecido de toda antiguidade e baseado apenas no diminuto conhecimento que temos da harmonia geral do universo e das razões ocultas da conduta de Deus, fazendo-nos temerariamente admitir a possibilidade de que muitíssimas coisas poderiam ser melhoradas.

Leibniz então argumenta contra essa atitude moderna, argumentando que é um erro imaginar que “não pode existir nada tão perfeito que não deve haver algo mais

4

LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 78. LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 78. 6 Ibid. 7 Ibid. 5

perfeito” 8, pois Leibniz sustenta que não há nada feito por Deus que não mereça ser glorificado.

9

E que o fato de haver coisas menos perfeitas, não implica contradição

alguma. No que se refere ao amor de Deus, Leibniz sustenta o seguinte: “O conhecimento geral desta grande verdade, que Deus age sempre da maneira mais perfeita e mais desejável possível, no meu entender é o fundamento do amor que devemos a Deus sobre todas as coisas, pois aquele que ama busca a sua satisfação na felicidade ou perfeição do objeto amado e das suas ações.”

10

E, para estar em sintonia

com o amor de Deus não basta se forçar a ter paciência para entender a sua conduta, mas é necessário estar completamente satisfeito com as consequências a tudo o que nos sucede, pois tudo acontece sob a vontade e sabedoria infinita de Deus11. Daí a crítica sarcástica de Voltaire a respeito da tese de Leibniz de que vivemos no melhor dos mundos possíveis, como ironiza nessa passagem de Cândido12: Está demonstrado, dizia ele, que as coisas não podem ser de outra maneira: pois, como tudo foi feito para um fim, tudo está necessariamente destinado ao melhor fim. Queiram notar que os narizes foram feitos para usar óculos, e por isso nós temos óculos. As pernas foram visivelmente instituídas para as calças, e por isso temos calças. As pedras foram feitas para serem talhadas e edificar castelos, e por isso Monsenhor tem um lindo castelo; o mais considerável barão da província deve ser o mais bem alojado; e, como os porcos foram feitos para serem comidos, nós comemos porco o ano inteiro: por conseguinte, aqueles que asseveravam que tudo está bem disseram uma tolice; deviam era dizer que tudo está o melhor possível.

Isto é, a tese de Leibniz é de que se Deus é o ser mais perfeito que existe e tudo o que ele faz ele está sempre agindo da maneira mais perfeita e desejável possível, é necessário que nós, seres imperfeitos, busquemos a perfeição do objeto amado, que é Deus. E, sendo assim, é preciso estar satisfeito com tudo o que nos acontece – seja uma coisa boa ou ruim -, pois nada acontece sem que não esteja em harmonia com a vontade e os planos de Deus. Porém, quando Leibniz argumenta a favor do bem criado por Deus, coloca o homem como responsável por guiar suas ações em direção ao bem.

8

LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 79. Ibid. 10 Ibid. 11 Ibid. 12 Ibid. 9

Como exemplificado nessa passagem13: “[...] quanto ao futuro, não é preciso ser quietista, nem esperar, ridiculamente, de braços cruzados, que Deus fará, segundo aquele sofisma denominado pelos antigos lógon áergon, a razão preguiçosa, mas é mister agir segundo a vontade presuntiva de Deus, tanto quanto podemos julgá-la, esforçando-nos o mais possível por contribuir para o bem geral e particularmente para o aprimoramento e perfeição do que nos toca ou nos está próximo e, por assim dizer, ao alcance.” E, sendo Deus digno de se glorificar por ser a mais perfeita das coisas, exige somente “a reta intenção e a ele pertence conhecer a hora e lugar próprios para fazer triunfar os bons desígnios” 14. Ora, é preciso então ter confiança plena nos desígnios de Deus, uma vez que ele faz tudo da melhor maneira possível e sem jamais prejudicar àqueles que o ama. Porém, para Leibniz, é preciso além dessa confiança, aceitar que somos extremamente limitados e finitos e, sendo assim, não nos é possível conhecer as causas das coisas e da ordem do universo15 porque isso ultrapassa o limite do que é possível conhecer um espírito finito. Ora, é nesse sentido que Leibniz, embora ciente da finitude do homem frente a onipotência de Deus, coloca na esfera do homem sua responsabilidade moral. A respeito disso, dirá Rodrigo Andia em seu artigo O Inatismo de Leibniz e o Fundamento da Moral:16 “Se todas as ideias se encontram no interior da alma, é porque elas contêm uma razão maior de ser e oferecem algo que é divino. São elas que possibilitam o conhecimento da moral e da subjetividade humana, e, em outras palavras, é esta relação que se tem entre o plano divino de Deus e as representações virtuais da alma”. De forma que Deus sempre faz as coisas tendo em vista a felicidade dos homens e faz as coisas de acordo com a harmonia geral17, pois é isso que permite um elo entre o homem e a natureza de Deus. Um ponto importante do papel de Deus no Discurso da Metafísica é que para Leibniz a vontade de Deus se divide entre vontades ordinárias e extraordinárias. Porém, disso não se decorre que Deus faça algo errado, pois faz tudo dentro de uma lógica divina. Isto é, tudo que Deus faz está sempre em ordem. Pois até mesmo aquelas coisas que parecem irregulares, estão dentro da ordem particular do

13

Ibid. Ibid. 15 LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 80. 16 ANDIA, Rodrigo. O Inatismo de Leibniz e o Fundamento da Moral, p. 207. 17 LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 80. 14

mundo e não poderia ser diferentes, nem mesmo se tentassem forjar algo assim.

18

Como Leibniz bem pontua no Discurso da Metafísica19: Assim, pode-se dizer que, de qualquer maneira que Deus criasse o mundo, este teria sido sempre regular e dentro duma certa ordem geral. Deus escolheu, porém, o mais perfeito, quer dizer, ao mesmo tempo o mais simples em hipóteses e o mais rico em fenômenos, tal como seria o caso duma linha geométrica de construção fácil e de propriedades e efeitos espantosos e de grande extensão.

Adiante, Leibniz tratará dos milagres. Sobre isso, Leibniz argumentará que se tudo está englobado na ordem de Deus, os milagres também estarão na ordem do mundo como qualquer operação natural.20 No entanto, se pode dividir as vontades de Deus em gerais e particulares, de forma que Deus faz tudo segundo sua vontade mais geral e na ordem mais perfeita possível. No entanto, há vontades particulares que agem como exceções no sistema de Deus, embora não se contradiz com a lei mais geral que rege a ordem do universo, pois esta não tem exceção.21 E para essa definição, Leibniz define duas distinções quanto às ações particulares de Deus. Isto é, para ele: “A ação é boa em si”22, o que significa dizer que Deus quer o bem e o ordena às vezes. Assim como se a ação é má em si e, por acidente esta se torna boa, é porque Deus ordena as coisas de tal forma que o mal é recompensado com o bem. De tal forma que existirá mais o bem do que o mal. A respeito desse mal, López Villegas dirá em seu artigo El Origen del mal como privación em la filosofia de G.W. Leibniz: “Portanto, este mundo pode ser destruído ou transformado por meios naturais para punir alguns e recompensar outros. Tudo acontece da melhor maneira possível e as boas ações terão sua recompensa e o mal seu castigo”.23 Para esse argumento, Leibniz dirá que: “Tem-se necessariamente de dizer que Deus a permite (ações más) e não, que ele a quer, embora concorra para ela por causa das leis naturais que estabeleceu e porque sabe tirar daí um bem maior” 24.

18

LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 81. Ibid. 20 Ibid. 21 Ibid. 22 LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 82. 23 LÓPES VILLEGAS, Ana Lucía. El Origen del mal como privación em la filosofia de G.W. Leibniz, p. 151. 24 LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 82. 19

Leibniz reforçará que cada substância é indivisível e o número de substâncias jamais se alteram, embora possam se transformar. 25 Portanto, para distinguir a noção da substância individual das ações de Deus, Leibniz definirá que a substância individual tem em si o poder das ações e a reunião das paixões. E é correto afirmar que quando se atribui um grande número de predicados ao sujeito, de tal forma que não se atribuiria a mais ninguém tais predicados, se tem uma substância individual. De forma que é expressamente necessário que o termo do sujeito contenha o do predicado

26

, e só Deus

pode conhecer todos os predicados que define cada sujeito. A cerca do sujeito como um complexo de predicados que forma uma substância individual Leibniz dirá: 27 [...] podemos dizer que a natureza de uma substância individual ou de um ser complexo consiste em ter uma noção tão perfeita que seja suficiente para compreender e fazer deduzir de si todos os predicados do sujeito a que se atribui esta noção; [...] Igualmente, quando se considera convenientemente a conexão das coisas, pode-se afirmar que há desde toda a eternidade na alma de Alexandre vestígios de tudo quanto lhe sucedeu, marcas de tudo o que lhe sucederá e, ainda, vestígios de tudo quanto se passa no universo, embora só a Deus caiba reconhecê-los todos.

Ademais, para Leibniz, cada substância singular exprime todo o universo, o que significa dizer que nenhuma substância pode ser igual à outra, embora elas tenham em sua essência um atributo que reflete o caráter de Deus. Leibniz dirá: “Pode-se até dizer que toda substância traz de certa maneira o caráter da sabedoria infinita e da onipotência de Deus e imita-o quanto pode” 28 Então há na substância um movimento de encontro a sabedoria divina, por ter em si atributos da perfeição divina, mesmo sendo um corpo finito. Dito isto, Leibniz endossa:29 [...] toda substância é como um mundo completo e como um espelho de Deus, ou melhor, de todo o universo, expresso por cada um à sua maneira, pouco mais ou menos como uma mesma cidade é representada diversamente conforme as diferentes situações daquele que a olha. Assim, de certo modo, o universo é multiplicado tantas vezes quantas substâncias houver, e a glória de Deus igualmente multiplicada por todas essas representações de sua obra completamente diferentes.

25

LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 83. LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 82. 27 LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 82 - 83. 28 LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 83. 29 Ibid. 26

E, portanto, Leibniz fará uma distinção entre o que pode ser constituído como substância e o que não pode. Tudo o que se baseia na noção de tamanho, figura e movimento, assim como tudo aquilo que é relativo as nossas percepções e a natureza exterior a nós, não pode ser admitida como constituinte das substâncias. Pois somente as substâncias tem um princípio de identidade consigo mesma. E por isso a distinção entre as substâncias das almas inteligentes, que conhecem suas ações e preservam o conhecimento que as distingue de todo o resto. Como Leibniz bem pontua: 30 No entanto, as almas e as formas substanciais dos outros corpos são bem diferentes das almas inteligentes, únicas que conhecem as suas ações e, não só nunca perecem naturalmente, mas também conservam sempre o fundamento do conhecimento do que são.

Isto é, o sujeito enquanto uma substância individual inteligente cheia de predicados, tem em si o poder de escolha, por contingência da natureza criada por Deus. Uma vez que Deus faz sempre o melhor, mesmo que o menos perfeito não implique por isso contradição31, o homem é livre para fazer sempre o que considera ser o melhor por uma espécie de decreto divino. De forma que escolher o mal, não é uma deficiência de Deus, mas do homem que tem a liberdade para tal, enquanto ser finito e limitado. A respeito disso dirá Leibniz: 32 Ver-se-ia não ser tão absoluta como a dos números ou da geometria a demonstração deste predicado de César, mas que supõe a sequência de coisas livremente escolhidas por Deus, e que está fundada sobre o primeiro decreto livre divino, que estabelecer fazer sempre o mais perfeito, e sobre o decreto feito por Deus (depois do primeiro) a propósito da natureza humana, ou seja: que o homem fará sempre, embora livremente, o que lhe parecer melhor. Ra, toda verdade assente nestas espécies de decretos é contingente, apesar de certa; porque esses decretos não mudam a possibilidade das coisas e, como já disse, ainda que Deus seguramente escolhesse sempre o melhor, tal não impede o menos perfeito de ser e continuar possível em si, embora não aconteça, porque não é sua impossibilidade, mas sim sua imperfeição que o faz rejeitar.

Ora, embora Deus não seja culpado pelas atitudes vergonhosas dos homens, esses estão, enquanto substâncias, intimamente ligadas ao seu criador, que é Deus. Por 30

LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 85. LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 87. 32 Ibid. 31

isso, Leibniz afirmará que as substâncias criadas dependem de Deus, pois este as conserva e continuamente as produz por uma espécie de emanação.33 Isto é, as substâncias fazem parte do corpo metafísico de Deus que vivem por essa emanação que parte do criador. Pois Deus produz diversas substâncias para as centenas de perspectivas possíveis que se tem das coisas do universo. E, assim, a natureza das coisas e a ordem do universo o são desta forma porque Deus o quer, uma vez que nada escapa a sua onisciência, Deus conhece as causas primeiras das coisas, tudo o que cria está em harmonia com seu pensamento. Isto é, Leibniz pensa em Deus como o ser que contém todas as perfeições e existir é uma delas.

34

E, como para Leibniz a visão de Deus é

sempre verdadeira35, não podemos dizer que nossas percepções são falsas, pois estas sempre são verdadeiras. O que pode ser errado são os nossos juízos, pois estes dependem unicamente de nós e, por isso mesmo, são passíveis de erros e podem nos enganar. De forma que tudo o que nos acontece, todos os fenômenos que agem sobre nós é, para Leibniz, uma consequência do nosso ser

36

,de maneira que tudo o que nos

ocorre tem uma dimensão individual e somente Deus tem o poder de transformar em geral o que parece individual a cada um, como Leibniz bem pontua nessa passagem: “Somente Deus, de quem todos os indivíduos emanam continuamente, e que vê o universo não só como eles vêem, mas também de modo inteiramente diverso de todos eles, pode ser a causa desta correspondência dos seus fenômenos e tornar geral para todos o que é particular a cada um. Doutra forma não haveria possibilidade de ligação”, 37

o que se conclui que uma substância individual não tem a capacidade de agir sobre

outra particular, pois cada substância emana de Deus e se encerra em si mesmo todos os predicados do universo. Do que se decorre que tudo o que pensamos e fazemos não passam de consequências dos nossos pensamentos passados, das nossas percepções e da nossa natureza38 , e que Leibniz explica dizendo que Deus é a verdadeira causa de todas as substâncias39, e nós, por sermos limitados, há diversas forças da natureza que nos ultrapassam. Leibniz dirá nesta passagem a respeito das causas exteriores que parecem haver nas substâncias:40

33

Ibid. LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 98. 35 LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 88. 36 Ibid. 37 Ibid. 38 Ibid. 39 LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 90. 40 LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica, p. 101. 34

Ora, no sentido rigoroso da verdade metafísica, não há causa alguma exterior agindo em nós, a não ser Deus, e somente ele se comunica imediatamente a nós, em virtude da nossa contínua dependência. Donde se conclui que não há qualquer outro objeto externo agindo em nossa alma e excitando imediatamente nossa percepção. Temos assim em nossa alma as ideias de todas as coisas apenas devido à contínua ação de Deus sobre nós, quer dizer, pela razão de todo efeito exprimir a sua causa, e por isso a essência da nossa alma é uma certa expressão, imitação ou imagem da essência, pensamento e vontade da divindade e de todas as ideias compreendidas nela.

De forma que podemos dizer que Deus é a única força externa a ter forças sobre nós, é o único objeto externo e só por ele é que conhecemos todas as coisas.41 Isto é, não é possível que compreendamos a ordem geral das coisas, pois só Deus consegue compreender o mundo em sua plenitude. Por mais que digamos que conhecemos certas coisas da natureza, temos um campo extremamente limitado que nos é permitido dizer que conhecemos de fato sobre a natureza.

Referências bibliográficas ANDIA, Rodrigo. O Inatismo de Leibniz e o Fundamento da Moral. Revista de Iniciaçã Científica da FFC, v. 4, n. 3, 2004. LEIBNIZ, G. W. Discurso de metafísica. Tradução: Marilena de Souza Chauí. São Paulo: Nova Cultural, 1979, (Os pensadores).

LEIBNIZ, G.W. Sistema Novo da Natureza e da Comunicação das substâncias e outros textos. Tradução de Edgar Marques. Coleção Travessias. Belo horizonte: Editora UFMG, 2002. LÓPES VILLEGAS, Ana Lucía. El Origen del mal como privación em la filosofia de G.W. Leibniz, Ver. Filosofía Univ. Costa Rica, XLVIII 149-154, 2010.

41

Ibid.

Lihat lebih banyak...

Comentários

Copyright © 2017 DADOSPDF Inc.