\"Leiria e Ourém: província da Estremadura em 1758\", in «Luz da Serra», Santa Catarina da Serra, Ano XLII, n.º 501 (no original, 521), junho de 2016, p. 14.

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JUNHO

-- histórias da História --

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2016

Leiria e Ourém: província da Estremadura em 1758 No ano de 1936, o território português foi alvo de reformulação no âmbito da divisão administrativa, tendo sido delineadas onze províncias: Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, Douro Litoral, Beira Litoral, Beira Alta, Beira Baixa, Ribatejo, Estremadura, Alto Alentejo, Baixo Alentejo e Algarve. Quarenta anos depois, a Constituição de 1976 não fez qualquer referência às províncias, o que permite deduzir que as mesmas foram suprimidas, pelo que algumas, como a do Ribatejo, tiveram uma duração efémera. De facto, em trabalho editado pelo autor no Jornal de Minde, onde é colaborador, é demonstrado que aquele território nunca existiu sobre a designação mencionada. Na realidade, a área atribuída ao Ribatejo pertenceu, ao longo dos séculos, à província da Estremadura, à da Beira e, a sul, à do Alentejo (vide: SILVA, Vasco Jorge Rosa da Silva, "Alcanena: províncias da Estremadura e Beira (1758)", in Jornal de Minde, Ano LXI, n.º 687, 30 de abril de 2016, p. 4). Estas unidades administrativas remontam ao Portugal medievo. No caso de Leiria e no de Ourém, que aqui importa dissertar, os respetivos territórios estavam inseridos na importante província da Estremadura, desde há séculos, e não na da denominada Beira Litoral, definida, tal como a do Ribatejo, no sobredito ano de 1936. No âmbito do folclore, as regiões leiriense e oureense (ouriense) fazem parte, como salientam os folcloristas, da Estremadura. Vejamos, de seguida, com base em documentação histórica coeva, científica, a inserção das freguesias dos dois concelhos neste espaço geográfico e não no da Beira, com o qual não se identifica. O trabalho tem por suporte as designadas memórias paroquiais de 1758, inquéritos governamentais enviados a todas as freguesias do Portugal de então e aos quais os respetivos clérigos deveriam clarificar, na resposta à primeira questão, em que províncias estavam os territórios por si administrados. Para Leiria, com transcrição do historiador Saul António Gomes: 1. AMOR. O pároco José Luís Carreira, cura, não referiu, em 1758, a que província pertencia o espaço geográfico pelo qual era responsá-

vel. 2. ARRABAL. O cura José Pereira Baptista respondeu, no ano supra, que a «freguezia de que se trata está situada na provincia da Estremadura» (vide: GOMES, Saul António, Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas 8 (Leiria), Viseu, Palimage, 2009, p. 137). 3. AZOIA. O clérigo João Nogueira não registou, a 12 de abril de 1758, qualquer informação relativa à localização provincial da respetiva paróquia (p. 150). 4. BAROSA. Também o cura José Ferreira dos Santos não adiantou, a 15 de abril, resposta alguma relativamente à situação da sua freguesia numa província (p. 162). 5. BARREIRA. O padre António Lopes Saraiva deixou registado, a 30 de março, que a freguesia estava «situada no lugar da Barreyra he provincia da Estremadura» (p. 175). 6. CARANGUEJEIRA. O eclesiástico, não identificado, anotou, no ano de 1758, que a paróquia estava na «provincia da Estremadura» (p. 187). 7. CARVIDE. O cura, não identificado, registou que Carvide estava na «provincia da Estremadura» (p. 200). 8. COIMBRÃO. O padre António Pereira, cura, esclareceu, a 6 de abril, que a sua paróquia ficava na «provincia da , perto do mar». No texto original rasurou Beira Baixa (p. 218). Na Carta Chorographica de Portugal de 1901, a Beira Baixa principiava em Vila de Rei e Sertã. Apesar de as configurações terem sido alteradas ao longo dos séculos, o território de Leiria era (e é) da Estremadura. 9. COLMEIAS. Francisco Pereira Nobre, cura, referiu, a 4 de abril, que a paróquia de Colmeias ficava, claramente, na «Estremadura» (p. 237). 10. CORTES. O padre José Carvalho Pereira, cura, deixou escrito, a 7 de março, que o «lugar das Cortes de Leyria está na provincia da Estremadura» (p. 257). 11. LEIRIA. O eclesiástico responsável pela memória paroquial de Nossa Senhora da Conceição da sé de Leiria, não identificado, anotou: «Nobilita a provincia da Estremadura a este reyno de Portugal com a cidade de Leyria» (p. 390). 12. MACEIRA. O cura, não identificado, respondeu, a 6 de abril de 1758, direta-

mente: «Esta freguesia de Maceira está na provincia da Estremadura» (p. 439). 13. MARRAZES. O padre José da Rosa, cura, na memória paroquial de Arrabalde da Ponte, redigida em 1758, registou que a freguesia estava na «provincia da Estremadura» (p. 429). 14. MILAGRES. O clérigo de Ribeira de Agodim, cura, não identificado, não esclareceu, em 1758, a que província pertencia a respetiva freguesia (p. 448). 15. MONTE REAL. O cura António Duarte da Rosa anotou, a 12 de abril, que está «esta povoa e villa de Monte Real na provincia da Estremadura» (p. 464). 16. MONTE REDONDO. A 10 de abril de 1758, escreveu o cura João da Costa e Silva que a respetiva paróquia estava localizada na «provincia da Estremadura» (p. 478). 17. PARCEIROS. O cura de Parceiros, João Ribeiro, não identificou a província (p. 490). 18. POUSOS. O pároco João Rodrigues Homem, cura, esclareceu, a 11 de abril, que o território pelo qual era responsável ficava na «provincia da Estremadura» (p. 498). 19. REGUEIRA DE PONTES. O eclesiástico, não identificado, anotou que a sua paróquia ficava na Estremadura (p. 515). 20. SANTA CATARINA DA SERRA. O clérigo João Pedro, segundo Vasco Jorge Rosa da Silva (vide: SILVA, Vasco Jorge Rosa da, e VICENTE, Joaquim das Neves, Santa Catarina da Serra: Estudo Histórico e Documental, Santa Catarina da Serra, Junta de Freguesia, 2013, p. 397), ou João Pereira, de acordo com Saul António Gomes, clarificou, a 7 de abril de 1758, que a paróquia estava situada na «provincia da , pertence ao bispado da cidade de Leiria», tendo rasurado «Beira Baixa». Pela Carta Chorographica de Portugal de 1901, a Beira Baixa principiava em Vila de Rei e Sertã. 21. SOUTO DA CARPALHOSA. O vigário José Amado registou, a 31 de março, que ficava «esta freguezia na provincia da Estremadura» (p. 542). Tal como para o caso de Leiria, também para o de Ourém, estudado, de forma inédita, por Vasco Jorge Rosa da Silva, investigador em História, se verifica que os clérigos responsáveis pelas paróquias oureenses (ou-

rienses) registaram (aqueles que anotaram) que as respetivas freguesias se localizavam na senecta província da Estremadura, à exceção do de Espite, que, como se irá verificar, escreveu, também, Beira Baixa, o que nos parece incorreto. Para Ourém, com transcrição do autor: 1. ESPITE. Em 1758, fazia parte do termo de Leiria. De Espite desanexaram-se Cercal e Matas. O cura Manuel de Sousa Ferreira registou, a 7 de abril de 1758, que a paróquia ficava «entre Estremadura e Beira Baixa» (vide: SILVA, Vasco Jorge Rosa da, "As Memórias Paroquiais de Ourém: 1758", in Nova Augusta, Torres Novas, Câmara Municipal, 2011, n.º 23, p. 67). Pela Carta Chorographica de Portugal de 1901, a Beira Baixa principiava nos termos de Vila de Rei e Sertã. Tal como se mencionou para o caso leiriense, apesar da alteração secular dos limites das províncias, Ourém era (e é) da Estremadura. 2. FÁTIMA. O clérigo João Pereira, cura, não referiu, a 12 de abril, a que província pertencia a paróquia pela qual era responsável (p. 69). 3. FORMIGAIS. Em 1758, pertencia ao concelho de Tomar. O vigário-geral, Miguel Frazão Furtado, não deixou qualquer informação relativamente ao assunto em apreço. 4. OLIVAL. De Olival desanexaram-se Gondemaria e Urqueira. O eclesiástico João Rodrigues, cura, não identificou, a 10 de junho, a província da sua paróquia (p. 73). 5. OURÉM. De Ourém constituíram-se as freguesias de Atouguia, Nossa Senhora da Piedade e Nossa Senhora das Misericórdias. O cura Luís António Flores, coadjutor da colegiada de Ourém, anotou, em 1758: «Na provincia da Estremadura em trinta e nove graos e quarenta e tres minutos de latitude, e nove, graos, e sincoenta minutos de longitude» (vide: SILVA, Vasco Jorge Rosa da, "Memória Paroquial de Ourém: 1758 [transcrição]", in Nova Augusta, Torres Novas, Câmara Municipal, 2015, n.º 27, p. 261). 6. RIO DE COUROS. O padre José Gaspar de Santo António, cura, escreveu, a 13 de março de 1758, que a respetiva paróquia ficava na «provincia da Estremadura», embora tenha riscado «comarca que dizem da Beira

Baxa» (vide: SILVA, Vasco Jorge Rosa da, "As Memórias Paroquiais de Ourém: 1758", in Nova Augusta, Torres Novas, Câmara Municipal, 2011, n.º 23, p. 77). A província da Beira Baixa tinha início, segundo a Carta Chorographica de Portugal de 1901, em Vila de Rei e Sertã. 7. SEIÇA. De Seiça desanexaram-se Alburitel e Caxarias. O cura Luís Ferreira escreveu com exatidão: «1. Esta freguezia fica em a provincia da Estremadura» (p. 78). Em suma, historicamente nunca existiu qualquer província designada por Ribatejo, antes três, de origem medieval, com os nomes de Estremadura, Beira e Alentejo. Territórios considerados "ribatejanos", como Alcanena e Torres Novas, a título de exemplo, situavam-se, em 1758, sobretudo na província da Estremadura. Também Leiria e Ourém faziam (e fazem) parte da Estremadura.Bibliografia sumária: - BECA, José A. F. de Madureira, Carta Chorographica de Portugal: contendo a divisão administrativa por concelhos e o estado da rede ferroviária e das estradas ordinárias no fim do ano de 1901, Lisboa. GOMES, Saul António, Notícias e Memórias Paroquiais Setecentistas 8 (Leiria), Viseu, Palimage, 2009, pp. 124, 137, 150, 162, 175, 187, 200, 218, 237, 257, 390, 429,

Vasco Jorge Rosa da Silva Paleógrafo e Epigrafista Leiria - Ourém 439, 448, 464, 478, 490, 498, 515, 525 e 542. - SILVA, Vasco Jorge Rosa da Silva, "Alcanena: províncias da Estremadura e Beira (1758)", in Jornal de Minde, Ano LXI, n.º 687, 30 de abril de 2016, p. 4; - SILVA, Vasco Jorge Rosa da Silva, "Fundação da província do Ribatejo: 1936", in Diário de Leiria, Ano 28.º, n.º 5.396, 22 de março de 2016, terça-feira, p. 8; - SILVA, Vasco Jorge Rosa da, "As Memórias Paroquiais de Ourém: 1758", in Nova Augusta, Torres Novas, Câmara Municipal, 2011, n.º 23, pp. 67, 69, 71 e 77-78; - SILVA, Vasco Jorge Rosa da, "Memória Paroquial de Ourém: 1758 [transcrição]", in Nova Augusta, Torres Novas, Câmara Municipal, 2015, n.º 27, p. 261. - SILVA, Vasco Jorge Rosa da, e VICENTE, Joaquim das Neves, Santa Catarina da Serra: Estudo Histórico e Documental, Santa Catarina da Serra, Junta de Freguesia, 2013, p. 397. pub

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