LETRAMENTOS DIGITAIS EM ATIVIDADE SINCRÔNICA DE AMBIENTES VIRTUAIS DE ENSINO E APRENDIZAGEM: IMPLICAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO PARA A DOCÊNCIA

May 23, 2017 | Autor: Dulce Márcia Cruz | Categoria: MOODLE, Media Literacy, Online Learning
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Como citar: SOUZA, Terezinha Fernandes Martins; CRUZ, Dulce Márcia. Letramentos Digitais em Atividade Sincrônica de Ambientes Virtuais de Ensino e Aprendizagem: Implicações e Contribuições à Formação para a Docência. Currículo na Contemporaneidade: Internacionalização e Contextos Locais. Atas Digitais do XI Colóquio sobre Questões Curriculares. VII Colóquio Luso-Brasileiro & I Colóquio Luso-Afro-Brasileiro de Questões Curriculares. Centro de Investigação em Educação (CIEd) Instituto de Educação – Universidade do Minho, 2014, p. 1223-1130.

LETRAMENTOS DIGITAIS EM ATIVIDADE SINCRÔNICA DE AMBIENTES VIRTUAIS DE ENSINO E APRENDIZAGEM: IMPLICAÇÕES E CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO PARA A DOCÊNCIA Souza, Terezinha Fernandes Martins1 Cruz, Dulce Márcia 2 Universidade Federal de Mato Grosso/Universidade Federal de Santa Catarina/Universidade Aberta de Portugal 1 Universidade Federal de Santa Catarina 2 [email protected] 1 [email protected] 2

Resumo O estudo tem como objetivo problematizar a noção de letramentos digitais e sua aproximação com a noção de polifonia de linguagens no ciberespaço e suas implicações e contribuições à formação de licenciandos. A análise da noção de polifonia e sua relação com a formação de estudantes na universidade foi feita em um chat, realizado em uma disciplina presencial intitulada Educação e Mídias, para estudantes de licenciatura de uma universidade federal do sul do Brasil. As interações foram acompanhadas durante a sessão online para perceber a dinâmica comunicacional que envolveu as dificuldades e facilidades dos estudantes em resolver as tarefas propostas dentro do ambiente virtual de ensino e aprendizagem concebidas como eventos de letramentos. Os textos produzidos no chat passaram posteriormente por uma análise de conteúdo offline buscando confirmar as ocorrências de indicações de letramentos possibilitadas pela experiência. Os resultados apontam para práticas formativas fundadas na heterogeneidade e hibridismo de linguagens, convergem diferentes letramentos, comportam a multimodalidade de gêneros e interconectam sujeitos, meios e habilidades, em um processo análogo à polifonia de linguagens que povoa o ciberespaço (diversos sujeitos, vozes, discursos, meios, contextos e culturas), e se expressam em modos, tempos e espaços diversos. O estudo contribui com a reflexão sobre os letramentos digitais e seu alcance nos processos formativos para a docência, com o uso das múltiplas linguagens do ciberespaço, em uma perspectiva de apropriação e produção crítica dos estudantes para atuar na cultura digital. Palavras chave: Letramentos digitais. Interações. Linguagens. Ambiente virtual de ensino e aprendizagem. Formação inicial.

Letramentos Digitais 1 Bolsista Prodoutoral Docente Capes 2012/2013. Bolsista Doutorado Sanduiche SWE CNPq 2014/1015.

Este estudo teve como objetivo problematizar a noção de letramentos digitais e sua aproximação com a noção de polifonia no ciberespaço e suas implicações e contribuições à formação de licenciandos tendo em vista que, atualmente, há diversas habilidades e competências relacionadas aos usos das tecnologias e mídias digitais que são praticadas pelos sujeitos em contextos sociais e que também podem estar presentes nas propostas curriculares em contextos educativos do ponto de vista das diversas dimensões da inclusão digital. Como práticas sociais amplas, os letramentos digitais se situam nos processos de convergência de tecnologias e mídias congregando diversos elementos: formas de mediação; sistemas de representação; gêneros do discurso; atitudes ou disposições compartilhadas em eventos coletivos; letramentos diversos praticados por um mesmo sujeito que transita entre contextos culturais e de prática diferentes (BUZATO, 2009). Como construção coletiva e colaborativa, os letramentos digitais comportam trocas, interações, aprendizagens, significados e sentidos construídos socialmente e não são fixos, em decorrência das mudanças sociais, econômicas, científicas, tecnológicas e ideológicas que ocorrem nas sociedades (SOUZA; CRUZ, 2012). O conjunto de formas contemporâneas de comunicação, com a crescente convergência de mídias traz consigo habilidades e competências – os múltiplos letramentos, nos quais há a convergência de sistemas de mídias e novos modos de atuação dos sujeitos em ações de comunicação em ambientes digitais, suportados por computador ou por outras tecnologias da mesma natureza. A sua adoção e implementação na escola e na universidade são necessários para acompanhar tais mudanças (BUCKINGHAM, 2010). Na cultura da convergência há diversas mudanças nos protocolos de produção e consumo de mídias e estas fomentam uma nova abordagem aos letramentos. Os múltiplos suportes possibilitam o fluxo de conteúdos e promovem uma transformação cultural, onde consumidores são incentivados a participar ativamente da produção das narrativas midiáticas, fazer conexões e criar comunidades de conhecimento, através de uma cultura participativa, criativa e criadora. Este processo traz implicações e tendências para a educação, as quais contribuem para a cidadania democrática, pois representa uma significativa mudança nos modos e relações com a cultura, conhecimento, aquisição de novas habilidades de aprender, trabalhar, participar do processo político e se conectar com pessoas de outras partes do mundo (JENKINS, 2009). No contexto das práticas sociais os eventos de letramentos digitais são entendidos neste texto como qualquer situação em um suporte que se torna parte integrante de uma interação entre participantes e dos seus processos interpretativos; regrados e estruturados em qualquer espaço social e em qualquer situação de interação; e como atividades diretamente observáveis (Heath citada por MARINHO; CARVALHO, 2010). Assim, nas práticas de letramentos digitais os eventos comportam sumariamente: a) a situação de interação – os sujeitos e seus objetivos, o referente ou o objeto de interação; b) recursos usados – códigos, tecnologias e mídias digitais; gêneros digitais e seus suportes; c) os modos de relações com os

recursos digitais – as interações evidenciadoras das negociações de significados e de efeitos de sentido que se constituem em torno ou a partir dos recursos e TIC (MARINHO; CARVALHO, 2010). No interior destes eventos de letramentos há a apropriação de habilidades e competências de diversos tipos de letramentos existentes. A apropriação e reapropriação do sistema são produzidos pelo reemprego de procedimentos na prática cotidiana dos sujeitos praticantes, por meio de seus modos de operação, esquemas de ação ou modelos de comportamento e ação ativa como usuários/consumidores/produtores (CERTEAU, 1998). Nestes eventos de letramentos, na apropriação e na produção, com base em Certeau (1998) têm-se: as operações multiformes dos usuários/consumidores/produtores - modos de usar, utilização cotidiana, táticas da arte de fazer; os domínios da ação ou da modalização - habilidades e competências; e os tipos de operações que caracterizam o consumo - práticas de apropriação e produção criativa e crítica. A observação empírica tem mostrado que, a cada semestre letivo, os alunos se surpreendem como as mídias (dentre elas os ambientes virtuais de ensino e aprendizagem - AVEA, como o Moodle), ampliam as possibilidades de melhorar suas práticas como estudantes e como professores. Os AVEAs como espaço de comunicação aberto, fecundo, de caráter plástico, fluido e interativo, integram as práticas sociais dos sujeitos no ciberespaço e se apresentam como possibilidade real e virtual (LÉVY, 1999). Como espaços virtuais próprios da cibercultura, nos AVEAs convergem múltiplos processos de interação social e de polifonia (BAKHTIN, 2011). E as linguagens como polifonia operam pela multiplicidade e heterogeneidade em uma troca e movimento contínuos, abrindo lugar a uma lógica de rede sem fronteiras, às práticas produtivas e de recriação, imprescindíveis à formação de estudantes na universidade.

Formação para a Docência e Eventos de Letramentos Digitais

A partir do cenário descrito acima, foi feita uma análise dos letramentos digitais, das linguagens como polifonia no ciberespaço, e sua relação com a formação de estudantes de licenciatura, tendo como foco um chat, realizado em uma disciplina do curso de licenciatura em Pedagogia, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), utilizando o ambiente virtual de ensino e aprendizagem, o Moodle, na modalidade presencial. A disciplina “Educação e Mídias” é optativa, oferecida pelo Departamento de Metodologia de Ensino do Centro de Educação para as licenciaturas da UFSC. Tem por objetivo a ampliação das habilidades e competências funcionais dos letramentos digitais (técnicos e operacionais) quanto ao uso dos recursos do Moodle bem como das habilidades e competências informacionais (seleção de informações, a interpretação e produção de enunciados, textos e mensagens) construídas coletivamente pelos estudantes. A aula virtual “Aprender com as mídias: Moodle” foi realizada no dia 31 de março de 2014 através e dentro do ambiente Moodle, na disciplina citada. Os estudantes estavam em locais diferentes

(universidade, em casa etc,) e a professora da disciplina fez a mediação on line usando como recurso para comunicação síncrona, o chat (bate papo). Para esta análise, o chat realizado na aula virtual foi considerado como um evento de letramento digital, tendo por base o que propõe Heath citada por Marinho; Carvalho (2010) nas seguintes características: contou com o suporte no ambiente virtual de aprendizagem Moodle, para a interação entre participantes e seus processos interpretativos; foi estruturado e orientado por princípios de planejamento, objetivos de aprendizagem e regras; foram propostas ações e atividades diretamente observáveis; e foram construídos sentidos pelos participantes em seus processos de interação e comunicação. As atividades propostas pela disciplina dentro do evento de letramento chat foram: primeiro momento de interações livres entre os estudantes; fórum com postagem de link do Youtube com temas estudados; envio de mensagens entre estudantes e professora pela Webmail do ambiente; glossário para definição de conceitos e temas estudados por meio de busca na internet; edição de vídeo com apresentação sobre si; elaboração de texto usando a ferramenta Wiki em forma de diário com reflexões acerca da disciplina; e tarefa final com comentários e avaliação da experiência da aula virtual. Fragmentos das interações realizadas durante o chat são apresentados a seguir para ilustrar o desenvolvimento do evento e como foram combinadas as tarefas realizadas pelos estudantes. Então, hoje vamos fazer nossa aula por aqui (professora D.M.C). Sim prof! (estudante L.G.C.V). Como expliquei na aula passada, as tarefas do Moodle estão abertas pra vcs fazerem [...] e o chat vai servir de tira-dúvidas, bem no espírito da conversa que estava rolando aqui antes de eu entrar [...] também vamos refletir sobre o uso do chat e do Moodle no presencial [...] então, já começou a aula, vocês podem ir fazendo as tarefas, voltar aqui pra perguntar, ficar por aqui, como quiserem e acharem melhor [...] alguma duvida inicial? (professora D.M.C). Algum horário pra concentramos de novo no chat pra discussão? (estudante L.G.C.V). Isso vai no ritmo e estilo de cada um [...] eu ficarei por aqui no chat mas também vou entrar nas atividades e ver quem fez o que ou não [...] vocês podem ir e vir, deixar essa janela minimizada (professora D.M.C).

A partir da entrada da professora e de uma conversa inicial sobre as dúvidas, os estudantes tiveram a possibilidade de transitar pela sala de aula virtual e escolher seu percurso de aprendizagem para a realização das atividades propostas no chat. Neste caminho foi possível observar as ações e domínios requeridos aos estudantes nos usos e processos interpretativos dos diversos recursos do Moodle e da internet para as interações e aprendizagens coletivas e colaborativas no uso dos recursos e das linguagens. Na figura 1 pode-se ver uma síntese do início ao final das ações na interface chat, agrupadas em atividades/micro eventos nas quais aconteceram as interações com uso de recursos digitais em ações, domínios e linguagens, onde aconteceram processos interpretativos e observáveis entre os

participantes (Heath citada por MARINHO; CARVALHO, 2010). Destes, analisamos os modos de relações; as negociações de significados e sentidos; as apropriações de habilidades e competências (procedimentos, modos de operação, esquemas de ação) e os domínios da ação (Certeau, 1998) que os estudantes mobilizaram para participar e produzir com tecnologias e mídias digitais.

Figura 1 – Síntese das principais interações relacionadas às atividades de letramento no ambiente

As situações de comunicação possibilitaram aos estudantes recorrerem ao referente ou ao objeto de interação (Heath citada por Marinho; Carvalho, 2010) e atuarem por diversos modos e relações com o uso dos recursos digitais, fazendo trocas, negociações de significados e de efeitos de sentidos, a partir dos códigos, gêneros digitais e seus suportes, mobilizando habilidades e competências de letramentos digitais que abarcam complexidade, heterogeneidade, hibridez e instabilidade; diversas linguagens e códigos circulam, coexistem e se entrelaçam; em uma multiplicidade de sujeitos, de vozes, de discursos e de contextos (Buzato, 2009), em uma relação análoga ao processo de polifonia de linguagens. O conteúdo dos diálogos entre os estudantes e a professora durante as interações ilustram as assertivas acima: “bip – o cutucar do face; emoticons – as carinhas, sinais de pontuação, enter; link – marcar o texto, clicar na corrente, copiar e colar em seu navegador, ícone, abrir janela”. E como se observa também nas atividades “fórum do Youtube, envio de mensagens, glossário, vídeo de apresentação, Wiki e outras”, o processo de comunicação e interação entre os estudantes e a professora se deu sem hierarquia entre quem pergunta e quem responde dúvidas, ou seja, os sujeitos e suas vozes e discursos, se entrelaçam, se entrecruzam e se complementam, mostrando um descentramento da função docente, distribuída entre os participantes que se posicionaram como mediadores de aprendizagem dos colegas. A atividade foi marcada pela fluidez, pelo movimento, por trocas e interações possibilitadas pela virtualidade e pelas opções por caminhos diversos de aprendizagem pelos estudantes. Isso ficou evidenciado nas falas dos estudantes sobre a aula virtual pelo ambiente, ressaltando a possibilidade de aprender e ajudar os colegas, pela exploração de ferramentas e recursos ainda desconhecidos, pela apropriação de linguagens e pelas trocas e negociações de significados e sentidos, a partir de códigos e

gêneros digitais já conhecidos em outros espaços virtuais como as redes sociais. Uma atividade dessa natureza concebida como um evento de letramento digital abarca micro eventos de letramentos mediados pelas interações humanas e pelas tecnologias e mídias digitais, em ações e domínios apreendidos e compartilhados entre os participantes na construção de suas aprendizagens.

Considerações Finais

O crescimento e a integração dos recursos disponíveis no ciberespaço e suas aplicações na educação requerem que se leve em conta que nos processos formativos com o uso de ambientes virtuais de aprendizagem, as interações, as ações e domínios dos sujeitos que vivenciam as práticas pedagógicas se dão de modo semelhante ao que fazem em suas práticas sociais cotidianas, e geralmente, ficam à margem do processo de formação para a docência. A prática analisada mostrou que é possível potencializar os letramentos digitais dos estudantes, fazendo uso das diversas linguagens disponíveis no ciberespaço, em diversos meios, modos, tempos e espaços. Todavia, para que suas competências e habilidades se ampliem em uma perspectiva de apropriação e produção crítica para atuar na cultura digital, é necessário que estas práticas sejam contínuas e transversais ao currículo durante o processo de formação para a docência. Os resultados apontam para práticas formativas em uma situação concreta de uso de tecnologias e mídias digitais em AVEAs, que convergem diferentes letramentos, com sujeitos que se expressam em modos e espaços diversos, nos quais as interações e aprendizagens são uma totalidade integrada às suas práticas cotidianas com o uso do computador, da internet, das redes sociais e do conjunto de suportes, interfaces digitais e linguagens a eles relacionados, mobilizando também habilidades e competências de letramentos digitais.

Referências Bakthin, Mikhail. Marxismo e Filosofia da Linguagem: problemas fundamentais do método sociológico da linguagem. São Paulo: Hucitec, 2010. Buckingham, David. Cultura Digital, Educação Midiática e o Lugar da Escolarização. Revista Educação Real. Porto Alegre, vol. 35, n 3, p. 37-58, set/dez, 2010. Disponível em: http://www.ufrgs.br/edu_realidade Buzato, Marcelo El Khouri. Letramento e inclusão: do estado-nação à era das TIC. D.E.L.T.A., São Paulo, vol. 25, n. 1, 2009, p. 1-38. Certeau, Michel de. A invenção do Cotidiano: artes de fazer a invenção do cotidiano. Editora Vozes: Petrópolis, 1994. Jenkins, Henry. Cultura da Convergência. 2 ed. São Paulo: Aleph, 2009.

Lévy, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Ed. 34, 1999. Marinho, Marildes; Carvalho, Gilcinei Teodoro. Letramento: a criação de um neologismo e a construção de um conceito. In Cultura Escrita e Letramento. Marinho, Marildes; Carvalho, Gilcinei Teodoro (Orgs). Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010. Souza, Terezinha Fernandes Martins; Cruz, Dulce Márcia. Letramentos e Práticas Sociais na Convergência de Mídias. Anais Eletrônicos. 4º Simpósio Hipertexto e Tecnologias na Educação – Comunidades e Aprendizagens em Rede. Recife PE, 2012.

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